ISSN 1676-7683 Dezembro/2010 Sistemas de Produção 19 Produção de Batata no Rio Grande do Sul Editor técnico Arione da Silva Pereira Pelotas, RS 2010 Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Clima Temperado Endereço: BR 392 Km 78 Caixa Postal 403, CEP 96010-971- Pelotas, RS Fone: (53) 3275-8199 Fax: (53) 3275-8219 - 3275-8221 Home page: www.cpact.embrapa.br E-mail: [email protected] Comitê de Publicações da Unidade Presidente: Ariano Martins de Magalhães Júnior Secretária- Executiva: Joseane Mary Lopes Garcia Membros: Marcia Vizzotto, Ana Paula Schneid Afonso, Giovani Theisen, Luis Antônio Suita de Castro, Flávio Luiz Carpena Carvalho, Christiane Rodrigues Congro Bertoldi e Regina das Graças Vasconcelos dos Santos Suplentes: Beatriz Marti Emygdio e Isabel Helena Vernetti Azambuja Supervisão editorial: Antônio Luiz Oliveira Heberlê Revisão de texto: Ana Luiza Barragana Viegas Normalização bibliográfica: Regina das Graças Vasconcelos dos Santos Editoração eletrônica e Arte da capa: Sérgio Ilmar Vergara dos Santos Fotos da capa: 1a edição 1a impressão (2010): 50 exemplares Todos os direitos reservados A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Clima Temperado Produção de batata no Rio Grande do Sul / Editor técnico Arione da Silva Pereira – Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2010. 95 p. – (Embrapa Clima Temperado. Sistema de Produção, 19). ISSN 1676-7683 1. Batata – Produção. 2. Brasil – Rio Grande do Sul. I. Pereira, Arione da Silva, ed. II. Série. CDD 635.21098165 Autores Arione da Silva Pereira Eng. Agrôn., Ph.D., Fitomelhoramento, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Carlos Alberto Barbosa Medeiros Eng. Agrôn., Ph.D., Nutrição Mineral, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Carlos Reisser Júnior Eng. Agrôn., D.Sc., Agrometeorologia, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Caroline Marques Castro Eng. Agrôn., D.Sc., Recursos Genético pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] César Bauer Gomes Eng. Agrôn., D.Sc., Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Cláudio José da Silva Freire Eng. Agrôn., M.Sc., Economia Rural, pesquisador aposentado da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. Dori Edson Nava Eng. Agrôn., D.Sc., Entomologia, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Ivan Rodrigues de Almeida Geógrafo, D.Sc., Recursos Naturais e Geoprocessamento, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] João Carlos Medeiros Madail Economista, M.Sc., Economia Rural, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Júlio Daniels Eng. Agrôn., Ph.D. em Fitopatologia, pesquisador aposentado da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. Marcos Silveira Wrege Eng. Agrôn., D.Sc., Agrometeorologia, pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo, PR, [email protected] Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno Eng. Agrôn., Ph.D., Fitopatologia, pesquisador do Iapar/ Polo de Curitiba, Curitiba, PR [email protected] Odone Bertoncini Eng. Agrôn., Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Transferência de Tecnologia/ Escritório de Negócios de Canoinhas, SC, [email protected] Silvio Steinmetz Eng. Agrôn., Ph.D., Agrometeorologia, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Apresentação Constituindo o terceiro alimento básico do mundo, a batata desempenha um papel muito importante para a dieta da humanidade, em especial aos pobres e famintos. Segundo dados do Anuário da Agricultura Brasileira de 2010, o Rio Grande do Sul contribuiu em 2009 com 11% da oferta nacional de batata (378 mil toneladas). No entanto a sua produtividade (16,4 t ha-1) contribui negativamente para a média do país (24,2 t ha-1). Assim, é muito importante que a cadeia gaúcha da batata evolua mais rapidamente que a nacional. É necessário que os produtores de batata do estado adotem tecnologias que contribuam significativamente para evolução de suas lavouras. Neste sentido, este documento visa subsidiar com informações sobre o zoneamento de cultivo, escolha e preparo da área, cultivares, sementes, tratos culturais, doenças, pragas, colheita, classificação e armazenamento dos tubérculos, à cadeia produtiva do Rio Grande do Sul. Waldyr Stumpf Junior Chefe-Geral Embrapa Clima Temperado Sumário Introdução e importância econômica .............................. 13 Zoneamento do cultivo de batata ................................... 17 Escolha e preparo da área .............................................. 31 Escolha da área........................................................ 31 Preparo do solo ....................................................... 31 Calagem e adubação ................................................ 32 Cultivares .................................................................... 39 Cultivares de película vermelha ................................. 39 Cultivares de película amarela ................................... 43 Sementeiro e forçamento de brotação ............................ 49 Sementeiro ............................................................. 49 Forçamento da brotação ........................................... 50 Plantio e tratos culturais ............................................... 53 Plantio ................................................................... 53 Tratos culturais ....................................................... 54 Doenças ...................................................................... 55 Causadas por bactérias ............................................. 55 Murchadeira .................................................... 55 Canela -preta, talo-oco ou podridão-mole ............ 57 Sarna comum .................................................. 58 Causadas por fungos ............................................... 58 Requeima ou preteadeira ................................... 58 Pinta Preta ou Alternaria ................................... 60 Podridão seca .................................................. 61 Rizoctoniose .................................................... 62 Causadas por vírus ................................................... 63 Enrolamento da Folha ....................................... 63 Mosaico .......................................................... 64 Causadas por nematoides ......................................... 66 Pragas Nematoide-das-galhas ....................................... 66 Nematoide-das-lesões ....................................... 66 ........................................................................ 69 Larva-alfinete Pulgões .......................................................... 69 .................................................................. 71 Mosca-minadora Traça ...................................................... 73 ..................................................................... 74 Cigarrinha ............................................................... 76 Lagarta-rosca .......................................................... 77 Vaquinha-da-batatinha.............................................. 79 Demais pragas ......................................................... 80 Colheita, classificação e armazenamento ........................ 87 Colheita ................................................................. 87 Classificação e armazenamento ................................. 87 Custo de produção ....................................................... 89 Referências ................................................................. 93 Leitura recomendada .................................................... 93 Introdução e Importância Econômica Arione da Silva Pereira João Carlos Medeiros Madail A história da cultura da batata no Rio Grande do Sul remonta à época da colonização alemã, que trouxe consigo o hábito do consumo. O estado já foi o maior produtor brasileiro de batata, mas atualmente é o quarto, superado por Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Nos últimos dez anos (2000-2009), a sua produção foi reduzida de 390 mil toneladas (15% da produção nacional) para 378 mil toneladas (11% da produção nacional), enquanto a área plantada diminuiu de 39.206 ha (25,0% da área nacional) para 23.015 ha (16,5% da área nacional) (AGRIANUAL, 2010). A produtividade de 16,4 t ha-1 está bastante abaixo da produtividade do país que é de 24,2 t ha-1, mas, em termos relativos, evolui mais (65,6%) que o país (40,7%). A evolução da produtividade da batata no estado foi principalmente devido à mudança da geografia da bataticultura gaúcha. Os dados das principais microrregiões produtoras de batata, que são responsáveis por mais de 70,8% da produção estadual, estão apresentados na Tabela 1. 14 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Tabela 1. Área colhida, produção e produtividade média de batata de 2008 nos principais municípios produtores do Rio Grande do Sul. Microrregião Município 3.800 2.000 60.000 30,00 Vacaria São Francisco de Paula São José dos Ausentes Bom Jesus Muitos Capões Vacaria Lagoa Vermelha Produção (t) 94.100 1.500 400 380 370 37.500 10.500 9.100 7.650 25,00 26,25 23,95 20,68 Pelotas São Lourenço do Sul Canguçu 1.300 1.000 19.500 8.800 15,00 8,80 Passo Fundo Ibiraiaras 900 18.500 20,55 Restinga Seca 360 6.960 19,33 Subtotal 12.010 272.610 22,70 Total do Rio Grande do Sul 23.785 385.145 16,19 Silveira Martins Área colhida (ha) Produtividade média (t ha-1) 24,76 Fonte: SECRETARIA DA AGRICULTURA, PECUÁRIA, PESCA E AGRONEGÓCIO. Agricultura RS em destaque – Produtos selecionados. Batata inglesa. http://www.saa.rs.gov.br/uploads/1270059901Batata_Inglesa.pdf 24 de dezembro de 2010. Atualmente, a microrregião de Vacaria contribui para mais da metade da produção do RS, apresentando uma produtividade superior à nacional. Por outro lado, a tradicional microrregião de Pelotas reduziu dramaticamente a área de produção e a sua produtividade manteve-se muito baixa, notadamente no município de Canguçu. Mesmo com a produção voltada principalmente ao autoconsumo e abastecimento de suas comunidades, a bataticultura desta e outras microrregiões não mencionadas precisa evoluir sob pena de reduzir ainda mais a sua participação. Neste sentido, é necessário que sejam incorporadas novas tecnologias, especialmente sementes de boa qualidade, aos sistemas de produção, para aumentar a produtividade e a qualidade do produto, ou, então, que sejam adotados sistemas de produção alternativos, tal como o sistema orgânico ou Produção de batata no Rio Grande do Sul. ecológico, como alguns produtores já estão fazendo. Mas, este sistema não é tema desta publicação. Para as demais microrregiões do estado, a adoção de tecnologias que permitam o aumento da produtividade e da qualidade da produção também é importante, para garantir competitividade e sustentabilidade da cadeia gaúcha da batata. Assim, o objetivo desta publicação é contribuir para a melhoria dos sistemas convencionais de produção de batata no estado. 15 16 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Zoneamento do Cultivo de Batata Carlos Reisser Júnior Ivan Rodrigues de Almeida Marcos Silveira Wrege Silvio Steinmetz As indicações de regiões de cultivo de batata no Rio Grande do Sul determinam inconsistências em muitos dos resultados, quando analisados em conjunto. As ferramentas de geoprocessamento disponíveis permitem realizar análises espaciais que integram diferentes parâmetros de recursos naturais, entre eles os climáticos (temperatura, precipitação, radiação) e os biológicos de crescimento de uma cultura. A modelagem que essas ferramentas produzem auxilia a identificar e classificar regiões que mais se assemelham à condição real de um setor produtivo. O clima é um dos insumos naturais mais importantes na determinação da aptidão e desenvolvimento de uma cultura, sendo a disponibilidade de água e a temperatura os fatores fundamentais da produção e do sucesso econômico. Um zoneamento climático, que utiliza novos recursos de espacialização, permite que dados pontuais de temperatura sejam extrapolados sobre modelos de elevação do terreno (relevo), realçando regiões homogêneas e eliminando ambiguidades fronteiriças. As regiões climáticas indicadas como aptas ao cultivo da batata no Rio Grande do Sul nesta circular baseiam-se na espacialização da temperatura do ar por meio de base de dados unificada. 18 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Os parâmetros climáticos de restrição e ótimos de desenvolvimento da cultura foram baseados em Carvalho Dias (1993), que apresenta os valores de 10 ºC a 14 ºC como temperaturas mínimas favoráveis à tuberização e acúmulo de reservas, e temperaturas máximas diurnas de 18 ºC a 25 ºC como limitantes à tuberização e produção. Os valores de temperatura mínima definidores do risco de geada foram estabelecidos a partir de temperatura mínima inferior a 3 ºC, e serviram para definir os períodos inicial (outono) e final (primavera) de ocorrência deste fenômeno. Um parâmetro, relacionado com o solo e levado em consideração, é o de inaptidão de regiões com altitudes menores do que 6 m acima do nível do mar, por, normalmente, serem regiões alagáveis ou com solos hidromórficos, inadequados ao cultivo da solanácea. Como a região Sul permite três épocas de cultivo, estas foram consideradas como cultivo de primavera (safra), cultivo de verão e cultivo de outono (safrinha), conforme os principais meses de plantio e colheita (Tabela 1). Tabela 2. Calendário agrícola da cultura da batata para a região Sul do Brasil. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2010. Safra Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Plantio Ago Set X Out Nov Dez X Primavera Colheita X X Plantio X X X Verão Colheita X X Plantio X X X Outono Colheita X X Na Figura 1 é mostrado o zoneamento do cultivo de primavera ou safra do Rio Grande do Sul. Esta safra pode ser efetuada praticamente em todas as regiões, com exceção do centro e centro-oeste, que são locais mais quentes no estado. O litoral também apresenta restrições, porém estas se Produção de batata no Rio Grande do Sul. relacionam ao tipo de solo, que normalmente são sujeitos a alagamentos ou hidromórficos inadequados ao cultivo da batata. Inexistindo estas condições adversas, o cultivo é adequado. 48°0'0"W PA R AGU AI 23°0'0"S 49°0'0"W 24°0'0"S 50°0'0"W 25°0'0"S 51°0'0"W 26°0'0"S 52°0'0"W Itaguajé Nova Londrina MATO GROSSO SÃO PAULO Marilena Terra Rica Colorado PorecatuPrimeiro de Maio DO SUL ParanavaíInajá Jaguapitã Sertaneja Loanda Cambará Querência do Norte Guairaçá Lobato Astorga Uraí Jacarezinho RolândiaCambé Amaporã Assaí IcaraímaTapira Abatiá Trópico de Capricórnio Trópico de Capric órnio Maringá Carlópolis Rondon Floraí Londrina Vila AltaIvaté Congonhinhas Marialva Apucarana XambrêUmuarama Cianorte IbaitiTomazina Tapejara Sapopema Altônia JapiraWenceslau Braz Peabiru Fênix Faxinal Curiúva Iporã Arapoti Ortigueira Goioerê ArarunaCampo Mourão Guaíra Palotina VentaniaJaguariaívaSengés Mamborê Luiziana Iretama Imbaú Terra Roxa Piraí do SulDoutor Ulysses Tupãssi Ubiratã RoncadorCândido de Abreu Marechal Cândido Rondon Reserva Tibagi Pitanga Toledo Corbélia Adrianópolis Castro LaranjalPalmital Santa Helena Cerro Azul Turvo IvaíIpiranga CascavelGuaraniaçu Bocaiúva do Sul Missal Prudentópolis Goioxim Ponta GrossaItaperuçu Itaipulândia Nova Laranjeiras Guaraqueçaba Céu Azul Imbituva Campo Largo Guarapuava São Miguel do Iguaçu Matelândia Catanduvas Cantagalo Antonina Palmeira Irati Quedas do Iguaçu Candói Morretes Paranaguá Foz do Iguaçu Realeza Rio Azul Lapa Araucária Guaratuba Pinhão Planalto Verê Chopinzinho Mallet São Mateus do Sul Cruz Machado AmpéreCoronel Vivida Mangueirinha GaruvaItapoá Canoinhas Mafra Piên Bituruna Joinville Palma SolaPato Branco Clevelândia Porto União Dionísio CerqueiraCampo Erê Palmas ItaiópolisRio NegrinhoAraquari Calmon GuaraciabaSaltinho Abelardo Luz Papanduva Água DoceCaçador Lebon Régis Blumenau Ilhota DescansoCaibiMaremaPassos Maia Santa Cecília IbiramaIndaialGaspar Irani Fraiburgo MondaíPalmitos Chapecó Taió Apiúna ItajaíPorto Belo TangaráCuritibanos Derrubadas Iraí Concórdia Brusque Ponte Alta Nonoai ItáAratiba Campos Novos Biguaçu NA Novo MachadoCrissiumal Vargem Otacílio Costa TI Seberi AngelinaFlorianópolis N E AlecrimTuparendi Erval Seco Ronda AltaErechim Barracão G Correia Pinto R Palhoça Bom Retiro A Santo Cristo Santa Rosa Sarandi Lagoa Vermelha Painel Palmeira das Missões AnitápolisPaulo Lopes Sertão Giruá EsmeraldaCapão AltoLages Urubici Pirapó Chapada Pontão Catuípe Garopaba Passo Fundo Garruchos Santo Ângelo São Joaquim Orleans Imaruí Ijuí Condor Carazinho Muitos CapõesVacaria São Luiz Gonzaga Panambi Marau Santo Antônio das Missões TrevisoTubarãoLaguna Paraí Bom Jesus Cruz AltaIbirubá IbirapuitãCasca Bossoroca Jaguaruna Ipê São Borja Jóia AraranguáIçara Itacurubi EspumosoSoledade Guaporé JaquiranaCambará do Sul Tupanciretã JacuizinhoBarros Cassal Caxias do Sul Maçambara Santiago FarroupilhaSão Francisco de PaulaJacinto Machado Itaqui Manoel Viana JariJúlio de Castilhos LagoãoProgresso Torres Gramado Quevedos Sinimbu Estrela São Francisco de Assis Rolante Itati Três Cachoeiras Agudo Mata Jaguari Venâncio Aires Portão Taquara Maquiné Candelária Alegrete Santa Maria TaquariTriunfo Xangri-lá Uruguaiana Gravataí Osório Cacequi Restinga Seca Rio Pardo Santa Margarida do SulSão Sepé Butiá Guaíba ViamãoSanto Antônio da Patrulha Barra do Quaraí Cachoeira do Sul Quaraí São Jerônimo Rosário do SulSão Gabriel Palmares do Sul Pantano Grande Barra do Ribeiro Encruzilhada do Sul Santana do Livramento Caçapava do Sul Tapes Dom Feliciano UR Mostardas Lavras do SulSantana da Boa Vista Camaquã UG Dom Pedrito UA CristalLagoa dos Patos I CanguçuSão Lourenço do SulTavares BagéHulha Negra Pinheiro MachadoPiratini Turuçu Pelotas AceguáCandiota Cerrito São José do Norte Pedras Altas ZONEAMENTO PARA BATATA Capão do Leão 1a. Safra Herval Arroio GrandeRio Grande 27°0'0"S 53°0'0"W 28°0'0"S 54°0'0"W 29°0'0"S 55°0'0"W 30°0'0"S 56°0'0"W 31°0'0"S AT LÂ N NO inapto 20/ago - 20/set 01/ago - 10/set 01/set - 10/out 10/ago - 20/set 20/set - 15/dez Jaguarão Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul Escala: 1:2.000.000 0 12,5 25 Santa Vitória do Palmar LEGENDAS: 34°0'0"S - lagoas e lagunas !. 56°0'0"W 50 75 100 Quilômet ros Sistema de projeção policônica projetad a Latitude original: 0º Equ ador Longitude original: 54º WGr. Da tum SAD 69 - municípios Embrapa 2009 Chuí - divisão estadual 57°0'0"W Fonte: Divisão estadual: I BGE (2001 ) Modelo digita l de elevação: WEBE R et al. (2004) Dado s climáticos dos Estados do Paraná (IAPAR); San ta Cat arina (EPAGRI) e Rio Grande do Sul (FEPA GRO/8ºDISME-INMET/EMBRAPA) 55°0'0"W 32°0'0"S ZONEAMENTO PARA BATATA Lagoa Mirim 33°0'0"S 33°0'0"S 32°0'0"S OC EA 31°0'0"S TI CO 30°0'0"S 29°0'0"S 28°0'0"S 27°0'0"S 26°0'0"S 25°0'0"S 24°0'0"S 23°0'0"S 57°0'0"W 54°0'0"W 53°0'0"W 52°0'0"W 51°0'0"W 50°0'0"W 49°0'0"W 48°0'0"W Figura 1. Zoneamento para cultivo de primavera da cultura da batata na região Sul do Brasil. Pelotas – RS, 2010. Elaboração: Marcos Silveira Wrege 19 20 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Os plantios mais precoces podem ser efetuados em regiões mais quentes (Figura 1), onde o risco de geadas é menor e onde a colheita é feita antes da ocorrência de períodos de temperatura do ar elevada. Os plantios mais tardios, por sua vez, são feitos em locais mais altos, de temperatura mais baixa, para não serem afetados pelas geadas mais tardias. Na Figura 2 são mostrados os locais da região Sul onde é permitido o cultivo de verão. Estes locais caracterizam-se por maior altitude, sendo praticamente os únicos em todo o Brasil, que oferecem condições climáticas favoráveis ao cultivo nesta época do ano. Os cultivos nestas áreas apresentam algumas vantagens em relação a outras regiões de produção do país, tais como elevada produtividade e reduzida infestação de insetos vetores, que é importante para produção de batata semente de boa qualidade. Produção de batata no Rio Grande do Sul. 48°0'0"W I GU A PA R A 23°0'0"S 49°0'0"W 24°0'0"S 50°0'0"W 25°0'0"S 51°0'0"W 26°0'0"S 52°0'0"W 27°0'0"S 53°0'0"W Itaguajé Nova Londrina MATO GROSSO SÃO PAULO Marilena Terra Rica Colorado PorecatuPrimeiro de Maio DO SUL ParanavaíInajá Jaguapitã Sertaneja Loanda Cambará Querência do Norte Guairaçá Lobato Astorga Uraí Jacarezinho Cambé Rolândia Amaporã Assaí Icaraíma Tapira Abatiá Trópico de Capricórnio Trópico de Capricórnio Maringá Carlópolis Rondon Floraí Londrina Vila AltaIvaté Congonhinhas Marialva Apucarana Umuarama Xambrê Cianorte IbaitiTomazina Tapejara Sapopema Altônia Japira Wenceslau Braz PeabiruFênix Faxinal Curiúva Iporã Arapoti Ortigueira Goioerê Araruna Campo Mourão Guaíra Sengés Palotina Ventania MamborêLuiziana Iretama Imbaú Jaguariaíva Terra Roxa Piraí do SulDoutor Ulysses Tupãssi Ubiratã RoncadorCândido de Abreu Marechal Cândido Rondon Reserva Tibagi Pitanga Toledo Corbélia Adrianópolis Castro LaranjalPalmital Santa Helena Cerro Azul Turvo IvaíIpiranga CascavelGuaraniaçu Bocaiúva do Sul Missal Goioxim Prudentópolis Ponta Grossa Itaperuçu Itaipulândia Nova Laranjeiras Guaraqueçaba Céu Azul Imbituva Campo Largo Guarapuava São Miguel do Iguaçu Matelândia Catanduvas Cantagalo Antonina Palmeira Irati Quedas do Iguaçu Candói MorretesParanaguá Foz do Iguaçu Realeza Rio Azul Lapa Araucária Guaratuba Pinhão Chopinzinho Planalto Verê Mallet São Mateus do Sul Cruz Machado AmpéreCoronel VividaMangueirinha Garuva Itapoá Piên Mafra Canoinhas Bituruna Joinville Palma Sola Pato Branco Clevelândia Porto União Dionísio CerqueiraCampo Erê Palmas Itaiópolis Rio NegrinhoAraquari Calmon GuaraciabaSaltinho Abelardo Luz Papanduva Água DoceCaçador Lebon Régis BlumenauIlhota DescansoCaibiMarema Passos Maia Santa Cecília Ibirama Indaial Gaspar Irani Fraiburgo MondaíPalmitos Taió Chapecó Apiúna ItajaíPorto Belo Tangará Curitibanos Derrubadas Iraí Brusque Itá Concórdia A Ponte Alta Biguaçu Nonoai IN Aratiba Campos Novos Vargem Novo MachadoCrissiumal T Seberi Otacílio Costa Angelina Florianópolis EN Alecrim Tuparendi Erval Seco Ronda Alta Erechim Barracão G Correia Pinto R Palhoça Bom Retiro A Santo CristoSanta Rosa Sarandi Lagoa Vermelha Painel Palmeira das Missões Anitápolis Paulo Lopes Sertão Lages Giruá Pontão Esmeralda Urubici Pirapó Capão Alto Chapada Catuípe Garopaba Passo Fundo Garruchos Santo Ângelo Imaruí São Joaquim Orleans Ijuí Condor Carazinho Muitos CapõesVacaria São Luiz Gonzaga Panambi Marau Santo Antônio das Missões Treviso TubarãoLaguna Bom Jesus Cruz Alta Ibirubá IbirapuitãCasca Paraí Bossoroca Jaguaruna Ipê São Borja Jóia Araranguá Içara Itacurubi EspumosoSoledade Guaporé Jaquirana Tupanciretã Cambará do Sul Caxias do Sul Jacuizinho Barros Cassal Maçambara Santiago Farroupilha São Francisco de Paula Jacinto Machado Itaqui Manoel Viana JariJúlio de Castilhos LagoãoProgresso Torres Gramado Quevedos São Francisco de Assis Sinimbu Estrela Rolante Itati Três Cachoeiras Agudo Mata Jaguari Venâncio Aires Portão Taquara Maquiné Candelária Alegrete Santa Maria TaquariTriunfo Xangri-lá Uruguaiana Gravataí Cacequi Osório Restinga Seca Rio Pardo Santa Margarida do SulSão Sepé Butiá Guaíba Viamão Santo Antônio da Patrulha Barra do Quaraí Cachoeira do Sul Quaraí Rosário do SulSão Gabriel São Jerônimo Palmares do Sul Pantano Grande Barra do Ribeiro Encruzilhada do Sul Santana do Livramento Caçapava do Sul Tapes Dom Feliciano UR Mostardas Lavras do SulSantana da Boa Vista Camaquã UG Dom Pedrito UA CristalLagoa dos Patos I CanguçuSão Lourenço do SulTavares Hulha Negra Bagé Pinheiro MachadoPiratini Turuçu Pelotas Aceguá Candiota Cerrito São José do Norte Pedras Altas ZONEAMENTO PARA BATATA Capão do Leão 28°0'0"S 54°0'0"W 29°0'0"S 55°0'0"W 30°0'0"S 56°0'0"W 31°0'0"S ÂN AT L NO Herval Arroio GrandeRio Grande Jaguarão 33°0'0"S inapto ZONEAMENTO PARA BATATA Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul 01/out - 15/dez Lagoa Mirim Escala: 1:2.000.000 0 12, 5 25 Santa Vitória do Palmar LEGENDAS: - lagoas e lagunas !. - municípios 34°0'0"S Chuí 56°0'0"W 50 75 100 Quilômet ros Sistema de projeção policônica projetada Latitude original: 0º Equador Longitude original: 54º WGr. Datum SAD 69 Embrapa 2009 - divisão estadual 57°0'0"W 32°0'0"S 2a. Safra 33°0'0"S 32°0'0"S OC EA 31°0'0"S TIC O 30°0'0"S 29°0'0"S 28°0'0"S 27°0'0"S 26°0'0"S 25°0'0"S 24°0'0"S 23°0'0"S 57°0'0"W Fonte: Divisão est adual: IBGE (2001) Modelo digital de elevação: WEBE R et al. (2004) Dados climáticos dos Estados do Paraná (IAPAR); S anta Catarina (EPAGRI) e Rio Grande do Sul (FEPAGRO/ 8ºDISME-INMET/EMBRAPA) 55°0'0"W 54°0'0"W 53°0'0"W 52°0'0"W 51°0'0"W 50°0'0"W 49°0'0"W 48°0'0"W Figura 2. Zoneamento para cultivo de verão da cultura da batata na região Sul do Brasil. Pelotas – RS, 2010. Elaboração: Marcos Silveira Wrege 21 22 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Na Figura 3 é mostrado o zoneamento da batata para o outono ou safrinha. Pode se observar que as áreas aptas ao cultivo são menores do que no cultivo de primavera, visto que as regiões mais quentes não apresentam condições climáticas adequadas ao desenvolvimento da cultura. Esta safra é feita somente nas regiões mais altas da metade sul e na metade norte do estado, que são as indicadas para o cultivo. Nesta safra o cultivo mais precoce deve ser feito nas regiões indicadas como mais frias, enquanto que os cultivos mais tardios devem ser feitos nas regiões mais quentes. Como no cultivo de primavera, o centro e o oeste do estado não são aptos ao cultivo de batata. Produção de batata no Rio Grande do Sul. 48°0'0"W Itaguajé Nova Londrina SÃO PAULO Marilena Terra Rica Colorado PorecatuPrimeiro de Maio ParanavaíInajá Jaguapitã Sertaneja Loanda Cambará Querência do Norte Guairaçá Lobato Astorga Uraí Jacarezinho Rolândia Cambé Amaporã Assaí Icaraíma Tapira Abatiá Trópico de Capricórnio Trópico de Capricórnio FloraíMaringá Carlópolis Rondon Londrina Vila Alta Ivaté Congonhinhas Marialva Apucarana XambrêUmuarama Cianorte Tomazina Ibaiti Tapejara Sapopema Altônia JapiraWenceslau Braz Peabiru Fênix Faxinal Curiúva Iporã Arapoti Ortigueira Goioerê ArarunaCampo Mourão Guaíra Sengés Palotina MamborêLuiziana Iretama Imbaú Ventania Jaguariaíva Terra Roxa Piraí do Sul Doutor Ulysses Tupãssi Ubiratã RoncadorCândido de Abreu Marechal Cândido Rondon Reserva Tibagi Pitanga Toledo Corbélia Adrianópolis Castro Laranjal Palmital Santa Helena Cerro Azul Turvo IvaíIpiranga CascavelGuaraniaçu Bocaiúva do Sul Missal Prudentópolis Goioxim Ponta GrossaItaperuçu Itaipulândia Nova Laranjeiras Guaraqueçaba Céu Azul Imbituva Campo Largo Guarapuava São Miguel do Iguaçu Matelândia Catanduvas Cantagalo Antonina Palmeira Irati Quedas do Iguaçu Candói Morretes Paranaguá Foz do Iguaçu Realeza Rio Azul Lapa Araucária Guaratuba Pinhão Chopinzinho Planalto Verê Mallet São Mateus do Sul Cruz Machado AmpéreCoronel VividaMangueirinha Garuva Itapoá Piên Canoinhas Mafra Bituruna Joinville Palma SolaPato Branco Clevelândia Porto União Dionísio CerqueiraCampo Erê Palmas Itaiópolis Rio NegrinhoAraquari Calmon Guaraciaba Saltinho Abelardo Luz Papanduva Água DoceCaçador Lebon Régis BlumenauIlhota DescansoCaibiMaremaPassos Maia Santa Cecília IbiramaIndaialGaspar Irani Fraiburgo MondaíPalmitos Taió Chapecó Apiúna ItajaíPorto Belo TangaráCuritibanos Derrubadas Iraí Brusque ItáConcórdia A Ponte Alta Biguaçu Nonoai IN Aratiba Campos Novos Vargem Novo MachadoCrissiumal T Seberi Otacílio Costa Angelina Florianópolis EN AlecrimTuparendi Erval Seco Ronda AltaErechim Barracão G Correia Pinto Palhoça Bom Retiro AR Santo CristoSanta Rosa Sarandi Lagoa Vermelha Painel Palmeira das Missões AnitápolisPaulo Lopes Sertão Giruá Esmeralda Capão AltoLages Urubici Pirapó Chapada Pontão Catuípe Garopaba Passo Fundo Garruchos Santo Ângelo Imaruí São Joaquim Orleans Ijuí Condor Carazinho Muitos CapõesVacaria São Luiz Gonzaga Panambi Marau Santo Antônio das Missões TrevisoTubarãoLaguna Bom Jesus Cruz AltaIbirubá IbirapuitãCascaParaí Bossoroca Jaguaruna Ipê São Borja Jóia Içara Itacurubi Araranguá EspumosoSoledade Guaporé JaquiranaCambará do Sul Tupanciretã JacuizinhoBarros Cassal Caxias do Sul Maçambara Santiago Farroupilha São Francisco de PaulaJacinto Machado Itaqui Manoel Viana JariJúlio de Castilhos LagoãoProgresso Torres Gramado Quevedos Sinimbu Estrela São Francisco de Assis Rolante Itati Três Cachoeiras Agudo Mata Jaguari Venâncio Aires Portão Taquara Maquiné Candelária Alegrete Santa Maria Taquari Xangri-lá Uruguaiana Triunfo Gravataí Osório Cacequi Restinga Seca Rio Pardo Santa Margarida do Sul São Sepé Butiá Guaíba ViamãoSanto Antônio da Patrulha Barra do Quaraí Cachoeira do Sul Quaraí Rosário do Sul São Gabriel São Jerônimo Palmares do Sul Pantano Grande Barra do Ribeiro Encruzilhada do Sul Santana do Livramento Caçapava do Sul Tapes Dom Feliciano UR Mostardas Lavras do SulSantana da Boa Vista Camaquã UG Dom Pedrito UA CristalLagoa dos Patos I Canguçu São Lourenço do Sul Tavares BagéHulha Negra Pinheiro MachadoPiratini Turuçu Pelotas AceguáCandiota Cerrito São José do Norte ZONEAMENTO PARA BATATA Pedras Altas Capão do Leão 3a. Safra Herval Arroio GrandeRio Grande inapto PA R A GUA I MATO GROSSO DO SUL 23°0'0"S 49°0'0"W 24°0'0"S 50°0'0"W 25°0'0"S 51°0'0"W 26°0'0"S 52°0'0"W 27°0'0"S 53°0'0"W 28°0'0"S 54°0'0"W 29°0'0"S 55°0'0"W 30°0'0"S 56°0'0"W 31°0'0"S ÂN AT L NO Jaguarão 20/jan- 10/fev 32°0'0"S 32°0'0"S OC EA 31°0'0"S T IC O 30°0'0"S 29°0'0"S 28°0'0"S 27°0'0"S 26°0'0"S 25°0'0"S 24°0'0"S 23°0'0"S 57°0'0"W ZONEAMENTO PARA BATATA Escala: 1:2.000.000 20/fev - 10/mar (zona marginal) 0 12,5 25 Santa Vitória do Palmar LEGENDAS: 34°0'0"S - lagoas e lagunas !. - municípios 56°0'0"W Chuí 55°0'0"W 50 75 100 Quilômet ros Sistema de projeção policônica projetada Latitude original: 0º Equador Longit ude original: 54º WGr. Datum SAD 69 - divisão estadual 57°0'0"W 33°0'0"S 33°0'0"S Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul Lagoa Mirim 01/fev- 20/fev 54°0'0"W Embrapa 2009 53°0'0"W 52°0'0"W 51°0'0"W 50°0'0"W 49°0'0"W 48°0'0"W Figura 3. Zoneamento para cultivo de outono da cultura da batata na região Sul do Brasil. Pelotas – RS, 2010. Elaboração: Marcos Silveira Wrege 23 24 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Com relação às condições hídricas do estado, as Figuras 4, 5 e 6 mostram as regiões com diferentes disponibilidades de água. Na média, somente no período de cultivo da safra de verão é que aparecem deficiências hídricas em algumas regiões da metade sul do Rio Grande do Sul. Apesar deste período ser o de menor disponibilidade hídrica no solo, devido à alta evapotranspiração, pode ser observado na Figura 4 que, nos locais indicados para o cultivo nesta época, não existem deficiências de água durante o ciclo de desenvolvimento da cultura visto ser estes onde o saldo de água é positivo entre 100 mm até 300 mm no período de três meses. Esta informação indica que para esta região o uso de irrigação é necessário somente devido à ocorrência de períodos secos, pequenas estiagens, apresentando um risco moderado de falta de água para a cultura. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 4. Diferença entre a precipitação e a evapotranspiração do trimestre dezembro, janeiro e fevereiro, para a região Sul do Brasil (período de 1976-2005). Pelotas-RS, 2010. Elaboração: Marcos Silveira Wrege 25 26 Produção de batata no Rio Grande do Sul. No cultivo de outono ou safrinha, a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração, apesar de possuir valores mais elevados de saldo de umidade do que no verão, ocorre em uma época em que o solo vem de um período de maior consumo hídrico, o de verão (Figura 5). Consequentemente, o solo apresenta menor armazenamento de água, possibilitando que, conjuntamente, os períodos de estiagens possam ser mais severos, além de a cultura se encontrar em uma fase de emergência, o que pode comprometer a densidade de plantas na lavoura. Como consequência destes fatores, o uso de irrigação é mais justificado, sendo esta a safra com maior probabilidade de necessidade de irrigação para a batata. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 5. Diferença entre a precipitação e a evapotranspiração do trimestre março, abril e maio, para a região Sul do Brasil (período de 19762005). Pelotas-RS, 2010. Elaboração: Marcos Silveira Wrege 27 28 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Da mesma forma que no cultivo de outono ou safrinha, o cultivo de primavera também apresenta valores positivos da diferença entre precipitação e evapotranspiração, mais elevados do que no verão (Figura 6). Porém, como no início do ciclo da cultura, o armazenamento de água no solo é maior, pois no inverno é alta a probabilidade de excesso hídrico no solo, a probabilidade de ocorrência de déficit hídrico durante o ciclo da cultura é menor, podendo haver problemas de falta de umidade somente no fim do ciclo de desenvolvimento da cultura. Portanto, a irrigação nesta época de cultivo não é tão necessária quanto a de outono. Apesar dos valores da diferença entre precipitação e evapotranspiração serem médios para um período de três meses, eles indicam que quanto maiores os saldos da diferença, menores as probabilidades de deficiência hídrica para a região nestes períodos e, por consequência, é menor a necessidade de investimento em irrigação. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 6. Diferença entre a precipitação e a evapotranspiração do trimestre setembro, outubro e novembro, para a região Sul do Brasil (período de 1976-2005). Pelotas-RS, 2010. Elaboração: Marcos Silveira Wrege 29 30 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Escolha e Preparo da Área Carlos Alberto Barbosa Medeiros Cláudio José da Silva Freire Escolha da área O plantio em áreas onde foram cultivadas em anos anteriores solanáceas tais como fumo, pimentão, tomate, entre outras, deve ser evitado. Na escolha da área deve-se se dar preferência a solos profundos e leves, como os areno-argilosos. Para os plantios de primavera a exposição solar do terreno não é tão importante, no entanto, nos plantios de outono deve-se dar preferência à exposição leste-norte. Nessa época de plantio, a escolha de áreas arejadas, com boa circulação de ar, pode auxiliar no controle de doenças. Preparo do solo Um bom preparo do solo, além de facilitar o plantio, tem grande influência na emergência das plantas, bem como na formação e produção de tubérculos. A profundidade de aração deve estar em torno de 20 cm, a fim de permitir um melhor desenvolvimento das raízes. A lavração deve ser feita cerca de 90 dias antes do plantio, para enterrar restos de cultura e/ou vegetação espontânea. As demais operações para concluir o preparo do solo devem ser feitas um pouco antes do plantio, devendo ser considerada a necessidade de uma segunda aração, ou apenas de 32 Produção de batata no Rio Grande do Sul. gradagens. Dependendo das condições de compactação da camada arável, uma alternativa é a utilização de subsolador como primeira operação, regulado para trabalhar a uma profundidade de 30 cm a 35 cm. Calagem e adubação Amostragem do solo Como a batata possui um sistema radicular relativamente superficial, deve-se amostrar o solo na profundidade de 0 cm a 20 cm. A amostra de solo enviada ao laboratório deve ser representativa da área. Para tanto, a área deve ser dividida em blocos homogêneos, segundo o tipo, a textura, a profundidade e a cor do solo; a topografia, o grau de erosão, a drenagem e a cobertura vegetal do terreno, entre outros aspectos. Existindo uma porção da área adubada ou que já tenha recebido calcário anteriormente, esta deverá ser amostrada em separado. De cada bloco homogéneo deverá ser coletada uma amostra, composta de diversas subamostras (de 10 a 15). A área deve ser toda percorrida em ziguezague, coletando-se as subamostras, com auxílio de um trado ou de uma pá de corte. Quando for utilizada pá de corte, esta deverá ser introduzida no solo até a profundidade indicada, de modo a fazer uma cova em formato de cunha. Com a pá, corta-se uma fatia de solo com 2 cm a 5 cm de espessura. Desta, eliminam-se as bordas, conservando-se a porção central, que deve ser colocada num balde. Mistura-se bem o material das subamostras e retiram-se cerca de 500 g para enviar ao laboratório. Calagem Apesar de a batata ser considerada planta tolerante à acidez do solo, diversos trabalhos mostram a existência de resposta positiva ao uso de calcário, provavelmente associado a fatores indiretos, como a redução dos efeitos danosos de altas concentrações de alumínio e de manganês trocáveis, bem como o aumento da disponibilidade de fósforo. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Na região Sul do Brasil, a batata é cultivada em solos predominantemente ácidos, pobres em cálcio e em magnésio e com altos teores de alumínio e de manganês. Em função disso, recomenda-se o uso de calcário dolomítico. Para a cultura da batata, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o uso do calcário deve visar a elevar o pH em água do solo a 5,5. Valores maiores de pH podem aumentar a incidência de sarna comum nos tubérculos, principalmente quando ocorrem fortes estiagens O efeito da calagem na correção da acidez do solo atinge o ponto máximo, em geral, 3 a 12 meses após a aplicação do calcário. Após quatro a seis anos, o pH começa a diminuir devido à lixiviação natural dos cátions e às reações acidificantes do solo. Assim, novas aplicações de calcário devem ser feitas após esse período, mediante nova amostragem de solo. Em geral, as necessidades de corretivo, após o período mencionado, são bem inferiores aos valores iniciais. Se a amostragem do solo for realizada após um a dois anos da aplicação do calcário, a recomendação de nova calagem, pelo método SMP, pode não ser válida, pelo fato de que a fração mais grosseira do corretivo pode ainda estar reagindo com o solo. No caso de ser aplicada inicialmente somente uma fração da dose recomendada, deve-se ter o cuidado para que a soma das doses parciais não ultrapasse a recomendação inicial, no período de quatro a seis anos. Como as recomendações de calagem são baseadas em PRNT 100%, a dose a ser aplicada no solo deve ser corrigida com base no PRNT do material que vai ser utilizado, do seguinte modo: Quantidade a ser aplicada (t ha-1) = recomendação (t ha-1) x 100/PRNT do calcário Incorporação Para a batata, o calcário deve ser incorporado na profundidade de 20 cm. Quando a recomendação for superior a 5 t ha-1 deve-se aplicar a metade da dose, a seguir lavrar, aplicar o restante, lavrar e gradear. Para quantidades inferiores a esta dose, uma boa incorporação tem sido obtida 33 34 Produção de batata no Rio Grande do Sul. com uma gradagem seguida de aração e outra gradagem. Quando o calcário é incorporado apenas na camada superficial do solo, pode ocorrer uma “supercalagem”, o que pode agravar deficiências de micronutrientes e o problema da sarna comum, além de limitar o desenvolvimento radicular, com reflexos negativos na produtividade. Aplicação do calcário na linha de plantio Podem ser usadas doses significativamente menores de calcário, aplicado na linha de plantio, desde que o mesmo apresente uma granulometria menor (calcário ‘filler’). Alguns resultados têm demonstrado que a aplicação de 300 kg ha-1 proporciona um maior acréscimo na produtividade. Para aplicação na linha o calcário deve ser finamente moído, com partículas menores que 0,15 mm de diâmetro e com um PRNT mínimo de 90%. Recomendação de adubação de N, de P e de K As quantidades de fertilizantes recomendadas para a cultura da batata são expressas por área, no entanto os fertilizantes devem ser aplicados concentrados na linha de plantio. A interpretação dos resultados de análise do solo para fósforo e potássio “extraíveis”, adotada pela Rede de Laboratórios de Análise de Solo e de Tecido Vegetal, – ROLAS – no RS e SC, é apresentada, respectivamente, nas Tabelas 3 e 4. Os valores de P e de K são interpretados em cinco faixas. Com relação ao P “extraível”, foram estabelecidas quatro classes de solos, conforme o teor de argila do solo (Tabela 3). Para o K “extraível” foram estabelecidas três classes de solos, conforme o valor da CTCpH 7 (capacidade de troca de cátions a pH 7) (Tabela 4). Produção de batata no Rio Grande do Sul. Tabela 3. Interpretação dos resultados de análise de solo para fósforo “extraível” (Mehlich) – mg/dm3 – para os solos e condições do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Interpretação Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Classes de solo conforme o teor de argila1 1 2 3 4 2,0 3,0 4,0 7,0 2,1 – 4,0 3,1 – 6,0 4,1 – 8,0 7,1 – 14,0 4,1 – 6,0 6,1 – 9,0 8,1 – 12,0 14,1 – 21,0 6,1 – 12,0 9,1 – 18,0 12,1 – 24,0 21,1 – 42,0 12,0 18,0 24,0 42,0 1 Teores de argila: 1= >60%, 2= 60 a 41%, 3= 40 a 21%, 4= £20% Fonte: Sociedade (2004). Tabela 4. Interpretação dos resultados de análise de solo para potássio “extraível” (Mehlich) para os solos e condições do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Interpretação do teor de K no solo Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto >15,0 ?30 31 – 60 61 – 90 90 – 180 >180 Fonte: Sociedade (2004). CTCpH 7.( cmolc/dm3) 5,1 – 15,0 mg de K/dm3 ?20 21 – 40 41 – 60 61 – 120 >120 ?5,0 ?5 16 – 30 31 – 45 46 – 90 >90 35 36 Produção de batata no Rio Grande do Sul. As quantidades de P2O5 e de K2O recomendadas na adubação de préplantio para a cultura da batata constam na Tabela 5. Tabela 5. Recomendação de adubação fosfatada e potássica de pré-plantio. Interpretação do teor de P ou de K no solo Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Expectativa de rendimento (t/ha) Fósforo Potássio >20 >20 20 20 kg de P2O5 / ha kg de K2O / ha 280 360 180 220 220 280 160 180 160 200 140 160 120 140 120 140 80 100 120 140 Fonte: Sociedade (2004). Na safra de outono e com o uso de cultivares precoces, a dose de fertilizante nitrogenado deve ser reduzida em 10% a 20%, enquanto que as quantidades recomendadas de P2O5 e de K2O devem ser aumentadas em 20%, principalmente, quando se tratar de lavoura irrigada. Quando o cultivo for feito em solos arenosos ou com teores de matéria orgânica inferior a 2,5%, deve ser aplicado 15 a 20 kg de bórax por hectare. Com relação à adubação nitrogenada, a estimativa de sua necessidade é determinada em função do teor de matéria orgânica do solo. Da recomendação apresentada na Tabela 6, sugere-se que metade seja aplicada no plantio, e o restante, aproximadamente, 30 dias após a emergência, por ocasião da amontoa. Em relação à adubação nitrogenada, deve ser observado que, mesmo dentro das doses recomendadas, algumas cultivares em determinadas épocas de plantio podem apresentar excesso de desenvolvimento vegetativo, em detrimento da produção de tubérculos. Nesse caso, uma redução da quantidade de nitrogênio a ser aplicada deve ser considerada. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Tabela 6. Recomendação de adubação nitrogenada para a cultura da batata, em função do teor de matéria orgânica do solo e da expectativa de rendimento. Teor de matéria orgânica no solo (%) 2,5 2,6 – 5,0 >5,0 Adubação nitrogenada Expectativa de rendimento (t/ha) 20 >20 kg de N/ha 120 160 100 140 80 120 Fonte: Sociedade (2004). Sempre que o produtor tiver disponibilidade da matéria orgânica, seu uso é desejável em substituição parcial ou total da adubação mineral, desde que economicamente viável. As quantidades a serem aplicadas devem ser calculadas considerando-se o teor em N, P e K do material utilizado e os respectivos índices de conversão. São vários os produtos que podem ser utilizados, sendo os principais representados por estercos e por resíduos de culturas. Para a aplicação de uma mesma quantidade de nutrientes, por sua menor concentração, usa-se maior quantidade de esterco em relação ao adubo mineral. Além disso, grande parte dos nutrientes do esterco encontra-se na forma orgânica, necessitando ser mineralizado para se tornarem disponíveis às plantas. Verifica-se que todo o potássio aplicado na forma orgânica comporta-se como mineral desde a aplicação, uma vez que este nutriente não faz parte de nenhum composto orgânico estável. Com relação ao fósforo, verifica-se que cerca de 60% estão disponíveis para o primeiro plantio, e 20% para o segundo. Quanto ao nitrogênio, os índices são de 50% e 20% para o primeiro e segundo plantios, respectivamente. A partir do terceiro plantio, a totalidade do N, P2O5 e K2O já se encontra mineralizada. 37 38 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Para se obter uma maior eficiência do fósforo e para se evitar perdas de nitrogênio por volatilização, os materiais orgânicos devem ser incorporados ao solo. Dificilmente as necessidades nutricionais da batata são total e adequadamente supridas somente com o uso de materiais orgânicos, pois a concentração de N, de P e de K, nesses materiais, difere muito das proporções comumente necessárias. Para se evitar a adição de nutrientes em quantidades superiores às exigidas, recomenda-se calcular a dose de adubo orgânico tomando-se por base o nutriente cuja necessidade for suprida com a menor dose. Cultivares Arione da Silva Pereira Caroline Marques Castro O que mais importa na escolha de uma cultivar é as suas características de mercado (mercado fresco e/ou processamento) e o seu potencial de produção. Além disso, a adaptação ecológica e a tecnológica são importantes para o custo, o manejo e a qualidade da produção. Dentre as cultivares de maior interesse ao Rio Grande do Sul, incluem-se as de película vermelha e as de película amarela: Foto: Arione da Silva Pereira Cultivares de película vermelha ‘Asterix’ (Cardinal x SVP Ve 709) Origem: Holanda, HZPC (1991). Figura 7. Tubérculos da cultivar Asterix. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Características: ciclo de desenvolvimento tardio; tubérculos de formato longo, película vermelha moderadamente sensível ao esverdeamento, polpa amarela, e teor médio-alto de massa seca; suscetível à requeima, ao vírus Y e ao vírus do enrolamento da folha; dormência relativamente longa. Uso preferencial: fritura (palitos). Características de distinção: potencial produtivo e aptidão à fritura de palitos. Foto: Arione da Silva Pereira 40 Baronesa’ (Loman OP) Origem: Brasil, IPEAS (1955). Figura 8. Tubérculos da cultivar Baronesa. Características: ciclo de desenvolvimento médio; tubérculos com formato oval-alongado, película vermelha com sensibilidade mediana ao esverdeamento, polpa creme, teor médio de massa seca; moderadamente resistente à pinta preta e ao vírus Y, suscetível à requeima e ao vírus do enrolamento da folha; dormência relativamente curta, mas com forte dominância apical. Uso preferencial: cozimento, para preparo de salada e outros pratos afins. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira Características de distinção: potencial produtivo e estabilidade de produção, mesmo sob níveis moderados de fertilidade atinge boa produtividade ‘BRS Ana’ (‘C1750-15-95’ x ‘Asterix’) Origem: Brasil, Embrapa (2007). Figura 9. Tubérculos da cultivar BRS Ana. Características: ciclo de desenvolvimento tardio; tubérculos de formato ovalado, película vermelha pouco sensível ao esverdeamento, polpa branca, e teor médio-alto de massa seca; moderadamente suscetível à requeima, ao vírus Y e ao vírus do enrolamento da folha, e boa tolerância à seca; dormência mediana. Uso preferencial: fritura (palitos), exceto no inverno, quando é mais apropriada para cozimento. Características de distinção: potencial produtivo, aparência de tubérculo, teor de matéria seca e rusticidade, conferida pela menor exigência em fertilizantes, de tolerância moderada à seca. 41 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira 42 ‘Macaca’ Origem: Brasil, presumivelmente do IPEAS. Figura 10. Tubérculos da cultivar Macaca. Características: ciclo de desenvolvimento curto; tubérculos de formato redondo-achatado, película vermelha intensa pouco sensível ao esverdeamento, polpa branca, teor médio-baixo de massa seca; suscetível à requeima, mas alguma vezes apresenta reação de imunidade, suscetível à pinta preta e ao vírus do enrolamento da folha, alta resistência ao vírus Y; dormência curta. Uso preferencial: cozimento, especialmente para o preparo de purê. Características de distinção: ciclo de desenvolvimento e dormência dos tubérculos. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira Cultivares de película amarela ‘Agata’ (‘BM 52.72’ x ‘Sirco’) Origem: Holanda, Agrico (1990). Figura 11. Tubérculos da cultivar Agata. Características: ciclo de desenvolvimento curto; tubérculos de formato oval, película amarela e pouco sensível ao esverdeamento, polpa amarela e teor baixo de massa seca; suscetível à requeima e à pinta preta, pouco suscetível ao vírus Y e moderadamente suscetível ao vírus do enrolamento da folha; dormência curta. Uso preferencial: cozimento. Características de distinção: aparência de tubérculo, potencial produtivo e dormência dos tubérculos. 43 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira 44 ‘BRS Clara’ (‘White Lady’ x ‘Catucha’) Origem: Brasil, Embrapa (2010). Figura 12. Tubérculos da cultivar BRS Clara. Características: Ciclo de desenvolvimento médio; Tubérculos de formato longo, película amarela com fraca a média sensibilidade ao esverdeamento, polpa creme e teor mediano de massa seca; alta resistência à requeima, moderadamente resistente à pinta preta, suscetível ao vírus Y e vírus do enrolamento da folha; dormência média-curta. Uso preferencial: cozimento (salada e outros pratos afins). Características de distinção: aparência de tubérculo, resistência à requeima, manejo da brotação. Foto: Arione da Silva Pereira Produção de batata no Rio Grande do Sul. ‘BRS Eliza’ (‘Edzina’ x ‘Recent’) Origem: Brasil, Embrapa (2002). Figura 13. Tubérculos da cultivar BRS Eliza. Características: ciclo de desenvolvimento médio; tubérculos de formato oval, película amarela e lisa, com fraca sensibilidade ao esverdeamento, polpa amarela, e baixo teor de massa seca; alta resistência à requeima e à pinta preta, suscetibilidade ao vírus Y e ao vírus do enrolamento da folha, e muita suscetibilidade a canela preta e podridão mole; dormência média, com dominância apical. Uso preferencial: cozimento (purê). Características de distinção: potencial produtivo, aparência de tubérculo, resistência à requeima e à pinta preta. 45 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira 46 ‘Catucha’ (‘2CRI-1149-178’ x ‘C-999-263-70’) Origem: Brasil, EPAGRI – Embrapa (1995). Figura 14. Tubérculos da cultivar Catucha. Características: ciclo de desenvolvimento médio; tubérculos de formato oval-alongado, película amarela, sensível ao esverdeamento, polpa amarela, e teor alto de massa seca; alta resistência à requeima e moderada à pinta preta, suscetível ao vírus Y e ao vírus do enrolamento da folha; dormência média. Uso preferencial: fritura (palitos, exceto no inverno). Características de distinção: potencial produtivo, resistência à requeima e rusticidade, conferida pela menor exigência em fertilizantes, de tolerância moderada à seca. Foto: Arione da Silva Pereira Produção de batata no Rio Grande do Sul. ‘Cristal’ (‘CRI-420-12-60’ x ‘C-368-8-60’) Origem: Brasil, Embrapa (1996). Figura 15. Tubérculos da cultivar Cristal. Características: ciclo de desenvolvimento médio; tubérculos de formato oval-alongado, película amarela medianamente sensível ao esverdeamento, e polpa amarela, médio teor de massa seca; alta resistência à requeima, à pinta preta e ao vírus Y, suscetível ao vírus do enrolamento da folha; dormência média, com dominância apical. Uso preferencial: fritura (palitos). Características de distinção: aparência de tubérculos, resistência à requeima e à pinta preta. Informações sobre sementes das cultivares nacionais: Escritórios de Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia: Escritório de Negócios de Canoinhas, SC [Fone: (47) 3624-0127; e-mail: [email protected]] e Escritório de Negócios de Capão do Leão, RS [Fone: (53) 3275-9291; email: [email protected]]. 47 48 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Sementeiro e Forçamento de Brotação Arione da Silva Pereira Odone Bertoncini Júlio Daniels Sementeiro Sementeiro é uma pequena lavoura de multiplicação de “sementes” feita pelo produtor de batata consumo, com o objetivo de viabilizar o uso de semente de qualidade, para redução do custo da semente da lavoura de consumo e da melhoria da sanidade da lavoura. Esta prática resulta em sensíveis ganhos de produtividade na lavoura. Para implantar o sementeiro o produtor precisa adquirir cerca de 20% da semente que planta habitualmente ou que pretende plantar, quando multiplica apenas uma vez. Caso queira multiplicar a semente duas vezes antes de fazer a lavoura de batata consumo, o produtor precisa adquirir 5% da necessidade. Para suprir uma lavoura de 1 ha de batata consumo, no caso de fazer um sementeiro de uma multiplicação, o produtor precisa adquirir 400 kg de batata-semente certificada, enquanto no caso de efetuar semente de duas multiplicações, o produtor necessita comprar 100 kg de batata-semente certificada para iniciar o sementeiro. O sementeiro deve ser localizado em área distante de lavouras de produção de batata para consumo, ou separado destas, por obstáculos 50 Produção de batata no Rio Grande do Sul. naturais tais como matas, morros etc.; e em solo ainda não cultivado com batata ou, sabidamente, não infestado por bactéria causadora de murchadeira. Os principais cuidados com o sementeiro são: controle dos pulgões, que são os principais vetores das viroses; erradicação das plantas anormais ou com sintomas de doenças, retirando do campo as plantas juntamente com todos os tubérculos; controle das doenças fúngicas da parte aérea; colheita antecipada, antes da seca natural da rama. Forçamento da brotação Para o plantio de batata consumo no outono (fev./mar.), as sementes da maioria das cultivares quando manejadas adequadamente, não exigem maiores tratos para se dispor de material em boas condições de brotação. Por outro lado, para o plantio de batata consumo na primavera (ago./set.), em geral, é necessária a aplicação de tratamento químico para forçar a brotação, entretanto para grande parte das cultivares, a dormência não é superada. Neste caso, a estratégia é efetuar cultivos de primavera em primavera. No caso da multiplicação de batata-semente para uso próprio (sementeiro) da maioria das cultivares, é importante o forçamento da brotação, pois aumenta o número de hastes por caseira e, consequentemente, o número de tubérculos produzidos. Dentre os tratamentos utilizados incluem-se: o ácido giberélico, na concentração de 5 a 10 partes por milhão (ppm) (1 g para 100 a 200 L de água), aplicado por imersão ou em pulverização; o bissulfureto de carbono, na dosagem de 15 a 25 cm3 por m3 de câmara hermética. Ambos são aplicados cerca de duas semanas antes do plantio. O uso do bissulfureto de carbono envolve riscos que devem ser prevenidos por meio de consulta prévia com técnico ou produtor experiente. No caso da cultivar Agata, que é muito sensível ao tratamento de Produção de batata no Rio Grande do Sul. bissulfureto de carbono, a dosagem máxima a ser utilizada deve ser de 10 cm³ por m³ de batata a ser forçada, com a película bem suberizada. A cultivar Macaca brota naturalmente, não necessitando de tratamento químico. 51 52 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Plantio e Tratos Culturais Arione da Silva Pereira Júlio Daniels Plantio Época: existem três principais épocas de plantio no Rio Grande do Sul: o plantio de fim de inverno (15 de agosto a 15 de setembro), fim de verão (15 de fevereiro a 15 de março) e, no caso da região dos Campos de Cima da Serra, o plantio mais comum é de outubro a dezembro. Profundidade: deve-se plantar em sulcos de 5 cm a 10 cm de profundidade, onde já foi misturado o adubo. Tapa-se o tubérculo-semente com 10 cm a 15 cm de terra. Espaçamento: conforme o equipamento utilizado para o plantio e tratos culturais, adapta-se o espaçamento entre linhas, que é em média de 0,75 m. Dependendo do tamanho da semente e do destino da produção (consumo ou semente), o espaçamento na linha vai de 0,25 m a 0,35 m. O número de tubérculos por caixa ou saco varia de acordo com o tipo de semente (Tabela 7). O número de tubérculos necessário para o plantio de um hectare varia de acordo com o espaçamento entre e dentro da linha (Tabela 8). 54 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Tabela 7. Tipo, peso médio e número médio de tubérculos por caixa ou saco de 30 kg. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2010. Tipo I II III IV Malha (mm) 51-60 41-50 31-40 23-30 Peso médio dos tubérculos (g) 136 68 37 16 Número médio de tubérculos p / caixa ou saco 220 440 800 1.800 Tabela 8. Número de tubérculos necessários para plantar 1 ha. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2010. Espaçamento entre linhas 0,70 m 0,75 m 0,80 m 0,25 m 57.143 53.333 50.000 Espaçamento na linha 0,30 m 47.619 44.444 41.667 0,35 m 40.819 38.095 35.714 Tratos culturais Capina: deve ser feita após 20-30 dias da emergência ou quando as plantas atingirem 20 cm a 30 cm de altura. Em áreas muito infestadas por invasoras deve-se realizar o controle químico. Amontoa: é feita pouco depois da capina, com equipamento conveniente e disponível na propriedade, numa altura média de 15 cm. Em geral, cumpre três funções: capina mecânica, incorporação de fertilizantes de cobertura e formação do camalhão. Doenças Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno César Bauer Gomes Causadas por bactérias Murchadeira: causada por Ralstonia solanacearum Smith, é a principal doença bacteriana da batata e o maior problema para os produtores de batata-semente. Os principais sintomas são o murchamento e o secamento de uma ou de mais hastes, com posterior morte da planta (Figura 16). Os tubérculos infectados, ao serem cortados, exsudam pus bacteriano, uma excreção de coloração creme. Um teste simples para identificação do patógeno consiste em colocar em um copo transparente com água, um pedaço do tecido vascular de haste ou tubérculo – a ocorrência de exsudação confirma a presença da bactéria (Figura 17). O controle da murchadeira deve ser feito preventivamente, plantando-se batata-semente livre do patógeno, em áreas também livres. A água de irrigação não deve estar contaminada com a bactéria. A rotação com gramíneas (aveia, milho, sorgo, etc.), reduz a população do patógeno no solo. Como a bactéria sobrevive no sistema radicular de plantas daninhas, como mariapretinha, picão-preto, entre outras, o controle ineficiente destas após a colheita da batata diminui bastante o efeito benéfico da rotação de culturas e a bactéria continua sobrevivendo na área, mesmo com a ausência da batata. Foto: Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 16. Planta com sintomas de murcha bacteriana. Foto: Carlos Alberto Lopes 56 Figura 17. Teste do copo. Fluxo bacteriano exsudando de haste de batata com murcha bacteriana. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno Canela -preta, talo-oco ou podridão-mole: é causada por um complexo de bactérias pectolíticas (Pectobacterium spp), que possuem um grande número de hospedeiros e estão amplamente disseminadas nos solos cultiváveis. Portanto é uma doença que ocorre frequentemente em lavouras de batata, sendo muito dependente das condições ambientais favoráveis (calor e umidade). O principal sintoma é o apodrecimento da haste, com característica coloração negra, geralmente iniciando pela base junto ao solo, e posterior murchamento e morte da planta (Figura 18). Os tubérculos infectados desenvolvem, em condições propícias, uma podridão mole característica, exalando um odor fétido e, quando colhidos úmidos e armazenados em más condições, podem sofrer grandes perdas no depósito. Para o controle devem-se usar sementes sadias, evitar o plantio em solos mal drenados (acabar com o “pé de arado”), fazer rotação de culturas com gramíneas, realizar a colheita em dias secos e armazenar a batata em locais bem ventilados. Evitar excesso de machucaduras nos tubérculos na colheita e transporte e usar sacaria nova e caixaria devidamente sanitizada com formol a 3%. Figura 18. Planta de batata infectada por canela preta com a presença típica de apodrecimento de hastes com coloração preta. 57 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Sarna comum: causada por Streptomyces scabies (Thaxter) Waksman & Henrici, também é altamente disseminada nos solos cultiváveis. Os sintomas são observados nos tubérculos e se manifestam através de lesões pequenas e Foto: Arione da Silva Pereira 58 Figura 19. Tubérculos de batata com sintomas de ataque de sarna comum. Causadas por fungos Requeima ou preteadeira: causada por Phytophthora infestans (Mont.) de Bary, é a principal doença fúngica da batata. Em condições de temperatura amena e muita umidade, pode destruir completamente uma lavoura em poucos dias. Os sintomas consistem em lesões pardas escuras nas folhas (Figura 20), de tamanho e forma irregulares, que progridem para os pecíolos e hastes, podendo atingir, inclusive, os tubérculos. O patógeno pode ser visto na parte inferior das folhas, na forma de um mofo cinza esbranquiçado. No Brasil, sobrevive somente em tubérculos e em plantas vivas (soqueira), uma vez que ainda não foi relatada ocorrência de estruturas de resistência (oósporos) capazes de sobreviver no solo, na ausência do hospedeiro em fase vegetativa. Para o controle da doença, Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira além do uso de cultivares resistentes (Figura 21), eliminação de plantas voluntárias em outras lavouras e amontoados de descartes e tubérculossemente sadios, devem-se iniciar aplicações com fungicidas quando as plantas atingirem 10 cm a 15 cm de altura e sempre que as condições climáticas favorecerem o desenvolvimento do patógeno. A calda bordalesa, bem como os produtos à base de oxicloreto de cobre, maneb, mancozeb, chlorothalonil, captan, dimetomorfe, cimoxanil ou metalaxil (Tabela 9) são eficientes no controle da doença. Os três últimos são sistêmicos e, Cimoxanil ou Metalaxil apresentam a vantagem de ter efeito curativo quando aplicados até dois dias após o início da infecção, mas devem ser utilizados esporadicamente, em épocas altamente favoráveis à doença. Sempre que possível deve-se alternar os produtos utilizados. Lembrar que os produtos de contato têm efeitos estritamente preventivos e não têm eficiência depois que o fungo já entrou nos tecidos das plantas. Vale ressaltar dois aspectos quanto ao controle químico: mesmo usando produtos chamados sistêmicos, utilizar volume de calda que permita cobertura máxima das plantas, e nunca empregar subdosagens sob pretexto de economia. Figura 20. Lesão de requeima em folíolo de batata, com a presença conspícua do crescimento esbranquiçado do agente causador. 59 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira 60 Figura 21. Clones de batata com diferentes graus de severidade de requeima: a) resistente; b) moderadamente resistente; c) suscetível. Pinta Preta ou Alternaria: causada por Alternaria solani Sor. e A.grandis Simmons, é uma doença que ocorre, geralmente, em plantas adultas (maduras), iniciando as infecções pelas folhas mais velhas (inferiores). As lesões começam com pequenas pontuações, que se desenvolvem em manchas zoneadas, necróticas, concêntricas, com margens limitadas pelas nervuras (Figura 22). A doença é favorecida por clima quente e úmido. Em ataques intensos as lesões podem coalescer, secando a folha completamente. Os tubérculos raramente são infectados, mas quando isso acontece apresentam lesões deprimidas e necróticas. Para o controle, além de cultivares resistentes e da rotação de culturas, deve-se aplicar preventivamente fungicidas à base de Chlorothalonil, Iprodione e Mancozeb (Tabela 9). Nos casos em que o controle com esses fungicidas não for eficiente, deve-se aplicar Tebuconazole ou Difenoconazole. Foto: Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 22. Planta de batata altamente atacada por pintapreta, evidenciando as lesões típicas com anéis concêntricos e coloração marromoliváceo. Foto: Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno Podridão seca: causada por Fusarium spp., é uma doença importante em tubérculos armazenados. A infecção ocorre através de ferimentos nos tubérculos e no local de inserção do estolão. Os sintomas são evidenciados por áreas escuras, com presença de mofo de cor branca, rosa ou violeta (Figura 23). Com a evolução da doença, as áreas atacadas vão ressecando até o tubérculo se tornar totalmente mumificado. Para o controle, recomenda-se colher em dias secos, evitar ferimentos nos tubérculos e manter a ventilação nos depósitos. Os tubérculos-semente podem ser tratados com thiabendazole por meio de pulverização, antes de serem encaminhados para o armazenamento. Figura 23. Tubérculos de batata com típicos sintomas de podridão seca interna, podendo ser observado o crescimento de micélio do agente causador. 61 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Rizoctoniose: causada por Rhizoctonia solani Kühn, é uma doença muito importante, embora nem sempre reconhecida. Os brotos podem ser mortos antes da emergência causando falhas na plantação, ou ocorre o desenvolvimento de mancha de cor marrom nas hastes (Figura 24), abaixo do solo, podendo a lesão interromper a circulação da seiva para os tubérculos e raízes, resultando em enrolamento das folhas, que pode ser confundido com o causado por infecção virótica, e formação de tubérculos aéreos. Os estolões também podem apresentar lesões ou serem mortos, e os tubérculos mostram manchas escuras, denominadas de “mancha de asfalto” ou “piche” (Figura 25), constituídas pelas estruturas do fungo (esclerócios). O desenvolvimento do fungo é favorecido por baixas temperaturas e alta umidade. Os escleródios presentes nos tubérculossemente constituem a principal fonte de inóculo, mas o fungo pode persistir em alguns solos. Para o controle, recomenda-se rotação de culturas com gramíneas e utilização de tubérculo-semente livre da enfermidade e com brotação uniforme e vigorosa. Evitar o plantio muito fundo e em terrenos muito frios (temperatura do solo abaixo de 18 oC) para que os brotos tenham rápida emergência e escapem do ataque do fungo. Foto: Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno 62 Figura 24. Hastes de batata com cancros de rizoctoniose na base e a presença de micélio de cor acastanhada por sobre as lesões. Foto: Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 25. Sintoma de crosta preta ou “piche” na epiderme de tubérculos de batata infestados pelo agente causador. Causadas por vírus Enrolamento da Folha: causada pelo vírus do enrolamento da folha da batata (Potato leafroll virus - PLRV), é a principal virose da batata no Brasil. O principal sintoma é o enrolamento das margens dos lóbulos foliares para cima, no sentido da nervura principal (Figura 26). Além disso, ocorre, quase sempre, uma clorose generalizada da planta e uma acentuada redução do crescimento. Em algumas cultivares de batata as bordas das folhas apresentam uma coloração arroxeada. O efeito da infecção na redução da produtividade é variável segundo a cultivar. Na ‘Baronesa’, é superior a 70%, em relação aos tubérculos graúdos (mais de 55 mm de diâmetro) e de cerca de 50%, quando considerada a produção total comercializável. Essa doença se dissemina através dos tubérculossemente infectados e dos pulgões. As fontes de inóculo (reservatórios de vírus) são constituídas pelas plantas infectadas de espécies cultivadas (batata, tomateiro etc.) ou silvestres (erva-moura, figueira-do-inferno etc.). O controle é feito através do plantio de tubérculos sadios, erradicação das plantas infectadas, combate aos pulgões, isolamento das lavouras e destruição de soqueiras (plantas espontâneas) de batata. 63 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Arione da Silva Pereira 64 Figura 26. Planta com enrolamento das folhas causado por vírus do enrolamento da folha da batata - PLRV. Mosaico: diversos vírus da batata podem causar o Mosaico. O mais comum e importante é o vírus Y da batata (Potato virus Y - PVY). Os sintomas variam com a estirpe do vírus, a cultivar de batata e o ecossistema em que a planta esta sendo cultivada (Figura 27). O sintoma do Mosaico pode ser classificado como leve ou severo, e consiste em áreas de coloração mais clara ou amarelada na folha, intercaladas com a coloração verde normal. O vírus, também, pode induzir nas folhas, rugosidade, encarquilhamento, necrose das nervuras e queda, além de clorose generalizada e redução do crescimento da planta. O controle é semelhante ao utilizado para o PLRV, diferindo em relação ao combate aos pulgões, que não funciona, por ser este um vírus de relação não persistente com os vetores. Foto: Arione da Silva Pereira Produção de batata no Rio Grande do Sul. Figura 27. Planta de batata com mosaico causado por vírus do Y da batata – PVY. Tabela 9. Alguns produtos utilizados no controle de doenças fúngicas da batata. * Nome Técnico Modo de ação Classe toxicológica1 Captan Clorotalonil Cimoxanil Difenoconazole Dimetomorfe Iprodiona Mancozeb Metalaxil Oxicloreto de cobre Tebuconazole Thiabendazole Preventivo Preventivo Preventivo/Curativo Curativo Preventivo/Curativo Preventivo Preventivo Preventivo/Curativo Preventivo I a III* I a III* I a III* I III IV III III IV Curativo Preventivo 5 III III Tolerância2 (mg/kg) 10,00 0,10 0,10 0,10 0,03 0,02 0,01 0,05 (4) 0,10 5,00 Intervalo de segurança3 (dias) 14 7 7 7 14 30 7 7 7 30 (6) variável com o produto comercial I = extremamente tóxico; II = altamente tóxico; III = medianamente tóxico; IV = pouco tóxico. 2 Em tubérculos usados para consumo (limite máximo de resíduo- mg/kg do produto comercial) 3 Período entre a última aplicação e a colheita. 4 Informação não disponível na literatura consultada 5 Aplicação nos tubérculos-semente. 6 Não determinado devido ao modo de uso. Fonte: AGROFIT (BRASIL, 2011) 1 65 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Causadas por nematoides Nematoide-das-galhas: Meloidogyne spp. causa os maiores prejuízos na cultura da batata nas condições brasileiras. Este pequeno verme (<1,00 mm) parasita as raízes das plantas causando galhas (pequenos engrossamentos) e provocando danos conhecidos como “verrugas” ou “pipocas”, que podem atingir até 100% dos tubérculos, inutilizando-os para a comercialização (Figura 28). No Brasil, as espécies que mais ocorrem são M. incognita, M. javanica e M. arenaria, e, em menor frequência, M. hapla. Dentre as cultivares disponíveis no mercado nacional, praticamente não existem materiais com resistência genética às espécies mais frequentes. Assim, a principal medida de controle constituise no plantio de tubérculos sadios (livre de nematoides) em áreas não infestadas. Foto: César Bauer Gomes 66 Figura 28. Tubérculos de batata com pipoca causada por Meloidogyne spp. Nematoide-das-lesões: Pratylenchus penetrans é considerada a espécie mais importante do nematoide-das-lesões no Brasil por ter uma ampla gama de espécies vegetais hospedeiros e causar danos na cultura. No entanto, outras espécies como P. brachyurus, P. coffeae e P. zeae Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: César Bauer Gomes também atacam batatas, sendo os dois primeiros os mais frequentes. Plantas de batata severamente atacadas por Pratylenchus spp. podem exibir necroses nas raízes, além de manchas circulares castanho-púrpuro de forma irregular nos tubérculos infectados (Figura 29), os quais podem se tornar impróprios para comercialização e suscetível a podridões causadas por fungos e bactérias. Entretanto quando as manchas são pequenas, os sintomas podem ser confundidos com as lenticelas (aberturas naturais). Assim como para o nematoide-das-galhas, o plantio de material sadio em área não infestada constitui-se na principal medida de controle. Quando já se sabe da ocorrência do nematoide-das-lesões e/ou do nematóide-das-galhas, no local de plantio, é importante saber quais espécies estão presentes na área, para tomada de decisão quanto às medidas de manejo destas pragas. O emprego de espécies vegetais não hospedeiras do nematoide, em esquemas de rotação de culturas, constituise em uma das medidas de controle mais efetivas e economicamente viáveis. No entanto, pode-se utilizar o controle químico destas pragas, especialmente quando as áreas estão pesadamente infestadas. Embora a aplicação destes produtos seja efetiva na supressão dos patógenos, estes produtos são altamente tóxicos ao homem e ao meio ambiente. Figura 29. Tubérculos de batata com nematoide causado por Pratylenchus spp. 67 68 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Pragas Dori Edson Nava Numerosos insetos-praga podem se alimentar tanto do sistema radicular e da parte aérea da batata (Solanum tuberosum L.). Os danos causados podem ser diretos, quando os insetos se alimentam do tecido vegetal, provocando uma redução da área fotossintética e da produção tanto qualitativa como quantitativa. Também podem ocasionar danos indiretos, quando transmitem fitopatógenos causadores de doenças viróticas, bacterianas ou fúngicas. A seguir são apresentados os principais insetos responsáveis por causar perdas na batata, descrevendo-se sua bioecologia e danos, bem como as técnicas de manejo disponíveis para o seu controle. Larva-alfinete, Diabrotica speciosa (Germar) (Coleoptera: Chrysomelidae) Descrição e biologia Conhecida popularmente por larva alfinete, vaquinha ou patriota, é uma das principais pragas da cultura. Os adultos são besouros de corpo ovalado, coloração geral verde, cabeça marrom, com aproximadamente 5 mm a 6 mm de comprimento, caracterizado pela presença de seis manchas amarelas nos élitros (Figura 30). Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Heraldo Negri de Oliveira 70 Figura 30. Adulto de Diabrotica speciosa. As fêmeas colocam em média 400 ovos, distribuídos em massas de cerca de 30 ovos cada. A oviposição é realizada nas rachaduras do solo, próximo das plantas. Os ovos medem cerca de 0,5 mm de diâmetro e são globulosos e de coloração amarelada. O período de incubação varia de 7 a 14 dias, dependendo da temperatura. Ao eclodir, as larvas alimentam-se de estolões e tubérculos, sendo que nestes últimos constroem galerias, depreciando-os para o consumo e indústria. A duração da fase larval também é variável com a temperatura, sendo de 12 a 30 dias. Quando próximas da pupação podem medir em média 1 cm de comprimento e constroem câmaras pupais, onde se abrigam por aproximadamente 12 dias. Após um período que varia de 22 a 50 dias, emergem os adultos. Danos A vaquinha é uma espécie polífaga, que danifica tanto a parte aérea quanto os tubérculos. Os adultos chegam às lavouras de batata a partir da emigração das lavouras de milho, feijão e soja, entre outras, e se Produção de batata no Rio Grande do Sul. alimentam dos folíolos, porém não causam maiores danos à produção, uma vez que as infestações ocorrem após as plantas terem desenvolvido boa massa foliar. Os danos mais significativos são causados pelas larvas que se alimentam dos tubérculos, reduzindo o seu valor comercial. Controle Deve ser realizado de forma preventiva, com aplicação de inseticidas nos sulcos por ocasião da amontoa, com produtos registrados (Tabela 10). Pulgões, Macrosiphum euphorbiae (Thomas) e Myzus persicae (Sulzer) (Hemiptera: Aphididae) Descrição e biologia Foto: Dori Edson Nava Os pulgões, também chamados de afídeos, são pequenos insetos que sugam a seiva das plantas. As duas principais espécies que atacam a batata são Macrosiphum euphorbiae e Myzus persicae (Figura 31). Figura 31. Pulgão no estágio de ninfa. 71 72 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Na espécie M. euphorbiae, tanto os indivíduos ápteros quanto os alados são de coloração verde, sendo a cabeça e o tórax amarelados e as antenas escuras. Na forma áptera, os pulgões são maiores que os alados que medem aproximadamente 3 mm a 4 mm de comprimento. M. persicae mede cerca de 2 mm de comprimento, sendo que as formas ápteras apresentam coloração verde-clara, e as alada, verde geral. A cabeça, antenas e tórax são pretos. De uma maneira geral, o desenvolvimento ocorre em 10 dias e as ninfas passam por quatro ecdises. A reprodução se dá por partenogênese telítoca, sendo que cada fêmea origina em média 80 indivíduos. Danos Os danos causados consistem na sucção de seiva, podendo injetar saliva tóxica; entretanto, as perdas ocorrem somente quando a população da praga é elevada. O principal dano se refere ao fato de os pulgões serem vetores de vários vírus como o Y (PVY), mosaico A (mosaico leve) e, principalmente, o vírus de enrolamento das folhas (degenerescência da batata semente). Controle Para o controle, deve-se antes realizar o monitoramento, usando quatro bandejas d´agua com interior de cor amarela sobre o solo, por hectare. Também, pode-se realizar a contagem de pulgões em 100 folhas por hectare, duas vezes por semana. Quando forem encontrados mais de 20 pulgões alados nas bandejas ou 30 pulgões ápteros por folha em cada observação, deve-se realizar o controle com produtos registrados (Tabela 10). Recomenda-se também espalhar sobre o solo palha de arroz, que reflete os raios ultravioletas, fazendo com que os pulgões alados não pousem nas plantas. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Além dessas recomendações, devem ser preservados os inimigos naturais, como joaninhas e o bicho-lixeiro, usando-se inseticidas seletivos. Mosca-minadora, Liriomyza ssp. (Diptera: Agromyzidae) Descrição e biologia Foto: Heraldo Negri de Oliveira Trata-se de uma importante praga da batata na região Sul do Brasil, especialmente nas épocas de temperaturas elevadas e de seca prolongada. Em diversos locais tem sido mencionada a espécie Liriomyza huidobrensis Blanchard, entretanto, para o Rio Grande do Sul, a espécie que ocorre não é conhecida. Esse díptero é de coloração preta, sendo que a fêmea mede cerca de 1,5 mm e o macho um pouco menos. A postura é realizada no interior do tecido vegetal, numa quantidade que pode variar de 500 a 700 ovos. O período de incubação varia de dois a oito dias, dependendo da temperatura. As larvas são cilíndricas, ápodes e de cor branca, alimentando-se do mesófilo foliar. A fase de larva varia de 7 a 15 dias. As pupas ocorrem nas folhas, no caule e principalmente no solo, permanecendo nesse estágio de 9 a 15 dias. Os adultos vivem entre 10 e 20 dias. O ciclo completo do inseto varia de 21 a 28 dias. Figura 32. Presença de minas nas folhas, causadas por larvas da mosca-minadora. 73 74 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Controle O controle químico de adultos e larvas pode ser realizado com inseticidas de diferentes grupos químicos (Tabela 10). Devido à pequena duração do ciclo biológico e à intensidade de aplicações de inseticidas, deve-se optar sempre por rotacionar aqueles inseticidas com modos de ação diferentes, evitando assim o desenvolvimento da resistência da praga a esses produtos. Na escolha dos inseticidas deve-se optar pelos seletivos aos inimigos naturais e a outros insetos que não se encontram no nível de controle. Não há nível de controle estabelecido, devendo-se realizar as aplicações assim que for constatada a presença da praga nas lavouras. Após a colheita, o agricultor deve incorporar os restos culturais, pois estes abrigam as pupas e larvas da mosca-minadora, servindo de fonte para a disseminação do inseto. Traça, Phthorimaea operculella (Zeller) (Lepidoptera: Gelechiidae) Descrição e biologia A mariposa possui hábito noturno, permanecendo durante o dia refugiada nas folhas da batata ou na vegetação vizinha. Os adultos possuem coloração geral acinzentada, medindo de 10 mm a 12 mm de envergadura (Figura 33). As asas anteriores apresentam pequenas manchas irregulares escuras, ornadas com pelos nas bordas, sendo as asas posteriores de coloração acinzentada. Os adultos vivem de 10 a 15 dias, podendo ser encontrados durante todo ano, tanto no campo como nos armazéns. Cada fêmea coloca em média 300 ovos individualizados, próximos das nervuras da superfície inferior das folhas, nos pecíolos, gemas e brotações novas dos tubérculos. Os ovos são de coloração branca, lisos e globosos. Após cinco dias, as lagartas eclodem e minam as folhas, onde se alimentam do mesófilo foliar. As lagartas no último ínstar chegam a medir 12 mm de comprimento e possuem coloração rosada no dorso. No final da fase larval, Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Heraldo Negri de Oliveira saem do substrato e procuram um local para pupar, construindo uma proteção com fios de seda. A duração do período ovo-adulto é de cerca de 30 dias a 25 0C. Figura 33. Lagarta de Phthorimaea operculella alimentando-se do tubérculo de batata. Danos Causam danos primeiramente nas folhas e ramos e com a morte da planta, passam a atacar os tubérculos. Nas folhas, as larvas se alimentam do mesófilo e nos tubérculos constroem galerias. Trata-se de uma importante praga, pois as perdas além de ocorrerem nas lavouras também ocorrem em tubérculos armazenados. Controle Podem ser utilizadas várias medidas para prevenção como: a) plantio de sementes sadias; b) preparo adequado do solo a fim de evitar formações de torrões, que servirão de abrigo para os adultos da traça; c) plantio na profundidade adequada à época; d) realização da amontoa, pois esta é uma importante barreira física dificultando o acesso de adultos e lagartas da traça aos tubérculos, devendo ser feita sem a formação de fendas; e) uso de irrigação por aspersão, a fim de diminuir as rachaduras no solo, 75 76 Produção de batata no Rio Grande do Sul. dificultando assim o acesso da traça aos tubérculos; f) eliminação de solanáceas, consideradas plantas hospedeiras; g) colheita na época certa, separação e eliminação de tubérculos infectados durante a lavagem e a classificação; h) armazenamento em locais limpos desinfetados e protegidos, pois a traça encontra condições favoráveis em armazéns sujos e mal manejados; i) limpeza e desinfestação com pulverizações e expurgos; j) armazenamento dos tubérculos em câmaras frias a 100C. A preservação e a manutenção dos inimigos naturais contribuem também para manter a população da praga em baixa densidade populacional. O controle químico pode ser realizado no campo ou nos armazéns, com inseticidas recomendados (Tabela 10). Cigarrinha, Empoasca ssp. (Hemiptera: Cicadellidae) Descrição e biologia Os adultos são insetos que medem aproximadamente 3 mm de comprimento e são de coloração verde-pálida e verde-prateada. A postura endofítica é realizada preferencialmente ao longo das nervuras da folha. Cada fêmea coloca em torno de 60 ovos. As ninfas são de coloração verde mais clara e têm o hábito de se locomover lateralmente. A duração do período de ovo-adulto é de aproximadamente 21 dias. Danos O ataque das cigarrinhas às lavouras de batata é esporádico e parece ser favorecido pelo clima úmido. A infestação na lavoura é desuniforme. Vivem na parte abaxial dos folíolos, alimentando-se da seiva da planta. Também injetam saliva tóxica, causando a paralisação do crescimento, o encarquilhamento e a necrose dos folíolos e das folhas. As plantas atacadas morrem prematuramente. As cigarrinhas podem transmitir alguns vírus, embora sua ocorrência seja rara. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Controle Deve ser realizado a partir da constatação das cigarrinhas nas lavouras. Para tal, recomenda-se observar a sua presença na parte inferior dos folíolos ou utilizar redes entomológicas, bem como armadilhas amarelas. Os inseticidas recomendados para o controle estão listados na Tabela 10. Lagarta-rosca, Agrotis ipsilon (Hufnagel) (Lepidoptera: Noctuidae) Descrição e biologia A. ipsilon é a espécie mais frequentemente encontrada causando danos em batata. Os adultos são mariposas de aproximadamente 40 mm de envergadura, cujas asas anteriores são marrons com algumas manchas pretas, e as posteriores, semitransparentes. As fêmeas podem colocar até mil ovos, realizando posturas em rachaduras no solo ou diretamente no colo das hastes das plantas de batata. O período de incubação varia de cinco a sete dias. As lagartas apresentam coloração pardo-acinzentada escura, atingindo até 45 mm durante seu desenvolvimento. Possuem atividade noturna e durante o dia permanecem enroladas (Figura 5) e refugiadas sobre resto de vegetais ou sob os primeiros centímetros do solo. A duração do período ovo-adulto é de aproximadamente 35 dias. Ocorre especialmente em solos arenosos, com boa drenagem e aeração. Culturas que antecedem a batata, como pastagens e gramíneas, têm influência na incidência dessa lagarta, pois são hospedeiras da mesma. 77 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Foto: Heraldo Negri de Oliveira 78 Figura 34. Lagarta de Agrotis ipsilon enrolada sobre o solo. Danos Essas lagartas cortam os talos das plantas e danificam os tubérculos mais superficiais, realizando perfurações. Cada lagarta pode destruir quatro plantas com 10 cm de altura. Controle Pode-se realizar o controle químico com a aplicação de granulados sistêmicos, como o carbofuran ou aldicarb, e a pulverização de metamidófos, acefato, clorpirifós etil ou piretroides (Tabela 10). A aplicação de granulados nos sulcos de plantio deve ser feita de modo que a proteção dos tubérculos seja completa. Se for líquida, em função da amontoa deve ser realizada antes que as folhas superiores encubram as inferiores causando um “efeito guarda-chuva”, direcionando o jato do pulverizador para a base das plantas, logo após o aparecimento dos primeiros sintomas de ataque. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Vaquinha-da-batatinha, Epicauta atomaria (Germar) (Coleoptera: Meloidae) Descrição e biologia Foto: Heraldo Negri de Oliveira Trata-se de um inseto polífago que se alimenta de várias solanáceas e plantas hortícolas. O adulto é um besouro que mede de 10 a 15 mm de comprimento, de coloração cinza e pontos pretos distribuídos sobre os élitros (Figura 35). A postura é realizada no solo, em grupos de 50 a 80 ovos e as larvas não causam danos aos tubérculos. Figura 35. Adulto de Epicauta atomaria alimentando-se de folhas de batata. Danos Alimentam-se de folhas deixando apenas as nervuras e quando a população é grande podem causar desfolha total. Controle O controle mais utilizado é o químico (Tabela 10). 79 80 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Demais pragas Além das pragas já mencionadas, outros insetos podem causar dano eventualmente em regiões localizadas, sendo portanto considerados de importância secundaria. Dentre esses se destacam as lagartas [Spodoptera eridania (Cramer), Spodoptera fugiperda (J.E. Smith)], os besouros [Phyrdenus muriceus (Germar), Conoderus scalaris (Germar), Epitrix ssp., Dyscinetus planatus (Burm.)], a cochonilha-branca [Pseudococcus maritimus (Ehrhorn)] e a formiga “lava-pé” [Solenopsis saevissima (F. Smith)]. Além desses insetos, o ácaro-branco [Polyphagotarsonemus latus (Banks)] também pode causar danos. Tabela 10. Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle das principais pragas da cultura da batata. Produção de batata no Rio Grande do Sul. 81 82 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Produção de batata no Rio Grande do Sul. 83 84 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Produção de batata no Rio Grande do Sul. 85 Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Coordenação-Geral e Afins/DFIA/DAS. 86 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Colheita, Classificação e Armazenamento Arione da Silva Pereira Júlio Daniels Colheita A colheita deve ser efetuada em condições de baixa umidade, deixando-se os tubérculos de 2 h a 3 h, no máximo, expostos ao sol. Nesse momento devem-se eliminar os tubérculos podres, defeituosos ou muito lesionados. É importante que os tubérculos cheguem bem secos ao local de armazenamento. Evitar causar danos excessivos nos tubérculos, que ocorrem no processo de colheita mecânica e no manuseio da catação, e que resultam em perdas por apodrecimento no armazenamento, principalmente quando o objetivo é a produção de tubérculo-semente. Acostumar-se com o hábito de lavar e higienizar os equipamentos de colheita e a caixaria/sacos de catação, para minimizar os efeitos nocivos de podridões. A colheita deve ser feita duas semanas depois de tratadas com dessecantes (herbicidas) ou após as plantas secarem naturalmente, de modo que os tubérculos apresentem a película bem firme. Classificação e armazenamento Antes do armazenamento, deve ser feita uma desinfestação prévia do armazém, caixas, sacos, instrumentos, meios de transporte etc., com solução de 3% de formol. O armazém deve ter boa ventilação e os 88 Produção de batata no Rio Grande do Sul. tubérculos não podem receber luz direta se forem para o consumo, por isso provoca o esverdeamento. Para a classificação de tubérculos-semente, usar peneiras apropriadas. Quando os tubérculos-semente estiverem prontos para plantio, isto é, com brotos de 2 mm a 3 mm em espera no galpão, ficar atento para a infestação de pulgões que chegam aos brotos por meio de lufadas de vento, abrindo a possibilidade de infecção do lote com viroses. Custo de Produção João Carlos Medeiros Madail A competitividade na agricultura depende, entre outras razões, de uma boa gestão de custos de produção, ou seja, do melhor ou do máximo uso dos fatores de produção, cada vez mais escassos no meio rural. Maior produtividade com menor custo deve ser a meta dos agricultores que atuam numa estrutura de mercado de “concorrência perfeita”, onde se defrontam um grande número de empresas, sem grandes diferenças entre os produtos oferecidos, com quase nenhuma interferência extrapreço. Frequentemente os agricultores se defrontam com a redução de preços dos produtos agropecuários no mercado, associada à elevação dos custos de produção, seja pelo aumento dos encargos financeiros, elevação da carga tributária e dos encargos sociais, fatores agravados pela elevação dos preços dos insumos básicos, alguns dos quais importados. Para contornar a situação, os produtores estão buscando cada vez mais modelos administrativos que busquem a redução dos custos de produção, identificando gargalos dentro do sistema com o propósito de intervenção direta naqueles pontos considerados comprometedores do melhor desempenho da cultura. A batata é um dos alimentos básicos da população brasileira, produzida em 90 Produção de batata no Rio Grande do Sul. todos os estados por produtores de estratos empresarial e familiar, suscetível a fortes oscilações de preços no decorrer do ano, em função da oferta versus demanda. A Tabela 12 contém os custos variáveis de produção de batata praticados na região sul do Rio Grande do Sul, pelos produtores de base empresarial e a Tabela 11, os custos dos produtores de base familiar. O diferencial entre os dois sistemas está nas operações, na produtividade e no resultado final, em que, no sistema familiar os produtores alcançam preços de R$ 15,58 e R$ 10,12 por saca de 50 kg, respectivamente, nas safras de primavera e outono, enquanto que no empresarial são obtidos R$ 20,48 e R$ 19,72, para as mesmas safras. 70,00 70,00 40,00 70,00 40,00 40,00 5,00 70,00 40,00 70,00 40,00 70,00 40,00 70,00 70,00 33,75 41,00 69,59 95,69 10,00 89,00 R$ / cx. 30 kg R$ / saco R$ / saco R$ / litro R$ / litro Ureia Inseticidas Fungicidas Espalhante adesivo R$ / litro Ácido giberélico R$ / g Total C. Administração 1% sobre o custo CUSTO TOTAL (R$ / ha) Receita (R$ / ha) Resultado (R$ / ha) Custo total (R$ / sc 50 kg) Preços médios recebidos (R$ / sc 50 kg) Resultado (R$ / sc 50 kg) Valor unitário HM Tp 75 cv + arado 3 discos HM Tp 75 cv + gr. 28 discos Dia homem HM Tp 75 cv + arado Dia homem Dia homem Hora homem HM Tp 75 cv Dia-homem Transp. + aplicação manual HM Tp 75 cv HM Tp 75 cv HM Tp 75 cv + disco rotativo Dia homem D / M – Transporte caminhão Especificação A - OPERAÇÕES Aração Gradagem Indução da brotação Abertura de covas Plantio manual Aplicação de fertilizante Aplicação de ureia Gradagem leve Aplicação de ureia Sulcamento Aplicação de agroquímicos Colheita – arranquio Colheita – cata manual Transporte interno B - INSUMOS Sementes Fertilizante 07-11-09 Descrição 1,0 1,0 2,5 5,0 3,0 35,0 30,0 3,0 3,0 1,0 2,0 2,0 1,0 2,0 1,0 1,0 1,5 16,0 2,5 15,0 1,0 10,00 89,00 6.729,02 67,29 6.796,31 12.250,00 5.453,69 19,42 35,00 15,58 102,50 347,95 287,07 2.450,00 1.012,50 210,00 210,00 40,00 140,00 80,00 40,00 10,00 70,00 40,00 105,00 640,00 175,00 600,00 70,00 Safra de primavera 350 sc / ha Qtde. Valor Tabela 11. Custo de produção de batata – sistema familiar, sul do RS, 2010. Embrapa clima Temperado, Pelotas, RS, 2010. 1,0 - 2,5 5,0 10,0 35,0 30,0 3,0 3,0 2,0 5,0 1,0 2,0 1,0 1,0 1,5 16,0 2,5 15,0 1,0 7.389,85 73,90 7.463,75 10.500,00 3.036,25 24,88 35,00 10,12 10,00 102,50 347,95 956,90 2.450,00 1.012,50 210,00 210,00 140,00 200,00 40,00 10,00 70,00 40,00 105,00 640,00 175,00 600,00 70,00 Safra de outono 300 sc / ha Qtde. Valor Produção de batata no Rio Grande do Sul. 91 Especificação A – OPERAÇÕES Calagem HM Tp 67 cv + distr. calcário 2,3 m³ (1/5 ) Aração HM Tp 96 cv + arado 3 discos Gradagem HM Tp 96 cv + gr. 28 discos Indução brotação Dia homem Plantio/Fertiliz./Insetic. solo HM Tp 67 cv + plant. 2 linhas Gradagem leve D / h – tração animal Aplicação de ureia Dia-homem Transp. + aplicação manual Sulcamento D / h – tração animal Aplicação de agroquímicos HM Tp 67 cv + pulv. B arra, tranq. 400 L Colheita – arranquio HM Tp 67 cv + disco rotativo Colheita – cata manual R$ / saco Irrigação Homem-dia Irrigação mec. HM Tp 96 cv Transporte interno D / M – Transporte caminhão B - INSUMOS Calcário Dolomítico R$ / tonelada (1/5) Sementes R$ / cx. (30 kg) Fertilizante 07-11-09 R$ / saco Ureia R$ / saco Inseticidas R$ / litro Fungicidas R$ / litro Espalhante adesivo R$ / litro Ácido giberélico R$ / g Total C. Administração 1 % sobre o custo CUSTO TOTAL (R$ / ha) Receita (R$ / ha) Resultado (R$ / ha) Custo Total (R$ / sc 50 kg) Preços médios recebidos (R$ / sc 50 kg) Resultado (R$ / sc 50 kg) Descrição 2,0 30,0 40,0 4,0 6,0 6,5 1,0 1,0 100,0 0 70,0 0 33,7 5 41,0 0 69,5 9 95,6 9 10,0 0 89,0 0 - 1,0 3,0 3,0 1,0 4,0 0,5 1,0 1,0 16,0 8,0 450,0 6,0 6,0 3,5 200,00 2.100,00 1.350,00 164,00 417,54 621,99 10,00 89,00 9.122,53 91,22 9.213,75 15.750,00 6.536,25 20,48 35,00 14,52 70,00 210,00 210,00 40,00 280,00 20,00 40,00 40,00 1.120,00 560,00 675,00 240,00 420,00 245,00 Safra de primareva 450 sc / ha Qtde. Valor 70,0 0 70,0 0 70,0 0 40,0 0 70,0 0 40,0 0 40,0 0 40,0 0 70,0 0 70,0 0 1,5 0 40,0 0 70,0 0 70,0 0 Valor unitário 30,0 40,0 4,0 6,0 17,0 1,0 - 3,0 3,0 4,0 0,5 1,0 1,0 16,0 8,0 400,0 4,0 4,0 3,5 2.1 00,0 0 1.3 50,0 0 1 64,00 4 17,54 1.6 26,7 3 10,00 9.4 33,2 7 94,33 9.5 27,6 0 14.0 00,0 0 4.4 72,4 0 23,82 35,00 11,18 2 10,00 2 10,00 2 80,00 20,00 40,00 40,00 1.1 20,0 0 5 60,00 6 00,00 1 60,00 2 80,00 2 45,00 Safra de outono 40 0 sc / ha Qtde. Valor Tabela 12. Custo de produção de batata – sistema empresarial, sul do RS, 2010. Embrapa clima Temperado, Pelotas, RS, 2010 . 92 Produção de batata no Rio Grande do Sul. Produção de batata no Rio Grande do Sul. Referências AGRIANUAL 2010: anuário da agricultura brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, 2010. 520 p. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AGROFIT: Sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: <http:// extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. 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