Electrónica II – Amplificadores de Potência Introdução Os amplificadores são normalmente compostos por vários andares em cascata: • entrada e intermédios operam com pequenos sinais. • ao andar de saída é solicitada uma potência suficientemente elevada para excitar a carga (por ex: altifalante, tubo de raios catódicos, antenas de emissores, servomotores, ...) • o andar de saída deve ter uma resistência de saída baixa para permitir a máxima entrega de potência à carga. • este tipo de andares tem por objectivo um elevado rendimento com baixa distorção (Distorção harmónica total normalmente inferior a 1%. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 1 Electrónica II – Amplificadores de Potência Introdução • Uma eficiência elevada implica poucas perdas por dissipação. • A potência dissipada no amplificador é limitada pela máxima temperatura da junção Colector-Base (150º e 200º para Silício). • Os transístores utilizados são transístores de potência e são necessários cuidados especiais em relação às suas propriedades térmicas. • O modelo de pequenos sinais nem sempre é aplicável. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 2 Electrónica II – Amplificadores de Potência Classes de funcionamento Classe A - A corrente flúi durante todo o período do sinal de entrada (ângulo de condução do transístor 360º) Classe B – A corrente flúi durante aproximadamente meio período do sinal de entrada (ângulo de condução do transístor ≈180º) Morgado Dias Electrónica II 9/2006 3 Electrónica II – Amplificadores de Potência Classes de funcionamento Classe AB - A corrente flúi durante mais de meio período do sinal de entrada (ângulo de condução do transístor entre 180º e 360º) Classe C – A corrente flúi durante menos de meio período do sinal de entrada (ângulo de condução do transístor inferior a 180º e 360º). Neste caso é necessário um circuito adicional para recuperar o sinal pretendido. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 4 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe A O seguidor de emissor polarizado por Q2 tem: IE1=I+iL. A corrente de polarização I tem que ser maior do que a maior corrente negativa para a carga ou Q1 entra ao corte. A equação de saída é: Vo=vi-vBE1 Morgado Dias Electrónica II 9/2006 5 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe A A figura mostra a característica de transferência do circuito. O limite inferior é dado pela entrada de Q1 ao corte ou pelo limite da polarização. O valor de I≥|-VCC+VCE2sat|/RL garante que a excursão do sinal não fica limitada pela corrente de polarização. Característica de transferência do circuito Morgado Dias Electrónica II 9/2006 6 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe A Desprezando os valores VCEsat, se I estiver correctamente escolhido a saída pode variar entre ±VCC (a). Se I for escolhida para permitir a corrente máxima negativa de VCC/RL obtém-se (c). Em (d) está representada a potência instantânea que é dada por pD1=vCE1iC1 Morgado Dias Electrónica II 9/2006 7 Electrónica II – Amplificadores de Potência Eficiência do amplificador de classe A η= A eficiência de um andar de saída é dada por: Porms Ps Para o circuito, com uma entrada com forma de onda sinusoidal, Porms (potência de saída eficaz) é dada por: (Vp / 2 ) 2 Vp 2 onde Vp é o valor de pico da sinusóide. Porms = RL = 2 RL Não considerando a potência consumida pelos elementos de polarização, a potência fornecida ao circuito é: Ps = 2VCC I Logo o rendimento é dado por: O rendimento máximo é obtido quando Vp=VCC=IRL. Nessa situação o rendimento é de 25%. Vp 2 η= 4 IRLVCC Dado que este valor é baixo (para evitar distorção) esta classe não é muito utilizada em aplicações de potência Morgado Dias Electrónica II 9/2006 8 Electrónica II – Amplificadores de Potência Eficiência do amplificador de classe A Considerando o circuito da figura a funcionar em classe A pode analisar-se a relação de potência: Ps = PD + Porms + PDC onde Ps é a potência fornecida pela fonte de alimentação do circuito, PD é a potência dissipada no transístor, Porms é a potência eficaz fornecida pelo amplificador à carga e PDC é a potência DC dissipada nas resistências. 2 Vcc VCC 2 VCC 2 PDC = I C R L = ( ) .R L = 2 RL 4 RL RL a potência dissipada é: PD = Ps − Porms − PDC o seu valor máximo será obtido quando Porms for nula. 2 PDmáx = Ps − PDC Morgado Dias 2 vo vi 2 V V V = CC − CC = CC 2 RL 4 RL 4RL Electrónica II 9/2006 9 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe B • Com vi=0 nenhum dos transístores conduz e vo é nulo (a tensão de polarização VBE é nula). • Se vi excede 0.5V QN conduz e fornece corrente à carga, enquanto QP está ao corte. • Se vi baixa de -0.5V QP conduz e QN está ao corte. Em ambos os casos o circuito funciona como um seguidor de emissor. vo=vi-vBE O circuito funciona como um push-pull: QN fornece corrente à carga e QP recebe corrente da carga. Os transístores NPN e PNP são complementares (parâmetros semelhantes). Morgado Dias Electrónica II 9/2006 10 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe B A figura mostra a característica de transferência do circuito. • Existe uma gama de valores de vi em torno de zero para os quais ambos os transístores estão ao corte. • Esta situação dá origem à distorção de crossover que, num amplificador de áudio implica ruído. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 11 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe B Influência da situação de não condução de ambos os transístores na saída do amplificador. Distorção de crossover. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 12 Electrónica II – Amplificadores de Potência Eficiência do amplificador de classe B Ignorando o efeito da distorção de crossover, a potência eficaz entregue à carga é: 2 2 Porms = (Vp / 2 ) Vp = RL 2 RL A potência fornecida ao circuito por cada uma das fontes de tensão é dada por: onde Im é a corrente média do circuito. Ps = VCC I m Como neste circuito quando não há condução dos transístores não há consumo, é necessário calcular o valor médio da corrente a partir da forma de onda sinusoidal, sendo que cada transístor apenas conduz em menos de meio ciclo. π 1 Im = I p senα .dα ∫ 2π 0 Morgado Dias Ip 1 π Im = I p [cos α ]0 = 2π π Electrónica II 9/2006 13 Electrónica II – Amplificadores de Potência Eficiência do amplificador de classe B Onde Ip=Vp/RL. Portanto para as duas fontes obtém-se: sendo o valor máximo fornecido pelas fontes obtido 2 Vp Ps = VCC π RL Psmáx quando Vp=VCC de: η= A eficiência máxima, obtida quando Vp=VCC, é de: η máx = Electrónica II 2 Porms πVp = Ps 4VCC e a eficiência do circuito em classe B é dada por: Morgado Dias 2 VCC = π RL π 4 9/2006 ≅ 78,5% 14 Electrónica II – Amplificadores de Potência Dissipação de potência no amplificador de classe B 2 Vp Vp 2 PD = VCC − π RL 2 RL PS=PD+Porms ou PD=PS-Porms ou seja: Cada transístor dissipa metade da potência. Para que o circuito funcione em segurança é necessário calcular a potência máxima a que cada um pode estar sujeito. O máximo da expressão de PD pode ser calculado através do ponto onde a derivada se anula: ∂PD 2VCC Vp = − ∂V p πRL RL Igualando a zero obtém-se: Vp 2VCC = RL πRL Vp = 2VCC π Portanto quando Vp toma este valor os transístores estão a dissipar a máxima potência. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 15 Electrónica II – Amplificadores de Potência Dissipação de potência no amplificador de classe B Substituindo o valor anterior na expressão de PD obtém-se o seu valor 2 2 máximo: ou por transístor: VCC 2VCC PDmáx = 2 PDmáx = 2 π RL π RL Morgado Dias Electrónica II 9/2006 16 Electrónica II – Amplificadores de Potência Outras configurações para o amplificador de classe B Redução de crossover. É possível obter redução de crossover através de realimentação. Neste caso a zona em que nenhum transístor conduz é reduzida para ±0.5V/Ao, sendo Ao o ganho DC do amplificador operacional. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 17 Electrónica II – Amplificadores de Potência Outras configurações para o amplificador de classe B Funcionamento com uma única fonte de alimentação. É possível utilizar amplificadores em classe B com uma única fonte de alimentação. O funcionamento é idêntico sendo as fórmulas anteriores válidas desde que se considere a alimentação simples como 2VCC. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 18 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe AB A distorção de crossover pode ser eliminada através da polarização adequada dos transístores. Basta garantir que a tensão de polarização é suficiente para manter sempre um transístor na zona activa directa. Um amplificador nesta classe funciona de forma muito semelhante ao de classe B, com a diferença de que para vi pequeno ambos os transístores conduzem e que, em termos de potência, em classe AB há sempre alguma dissipação nos transístores. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 Electrónica II – Amplificadores de Potência Amplificador de classe AB A figura mostra a característica de transferência do circuito. A distorção de crossover foi eliminada. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 20 Electrónica II – Amplificadores de Potência Polarização do amplificador de classe AB A figura mostra a polarização dos transístores em classe AB utilizando díodos ou transístores ligados como díodos. Neste último caso obtém-se junções com características muito semelhantes. Se os díodos estiverem em contacto térmico com os transístores pode-se obter uma compensação de temperatura entre as tensões de polarização e os VBEs dos transístores. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 21 Electrónica II – Amplificadores de Potência Polarização do amplificador de classe AB Um aumento de temperatura dá origem a um decréscimo VBE de cerca de 2mV/ºC se a corrente de colector for mantida constante. Se VBE for mantido constante (sem compensação de temperatura) a corrente de colector aumenta. O aumento da corrente de colector leva a um aumento da dissipação de potência que por sua vez leva a um aumento da corrente de colector. Existe aqui um efeito de realimentação positiva que pode dar origem a um fenómeno chamado thermal runaway, que pode levar à destruição do transístor. A utilização do contacto térmico e a escolha dos díodos apropriados previne este problema. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 22 Electrónica II – Amplificadores de Potência Polarização do amplificador de classe AB – Multiplicador de VBE Uma forma alternativa de polarização está representada na figura. Desprezando a corrente de base de Q1, a corrente em R1 e R2 é a mesma: VBE1 IR = R1 então VBB é: VBB = I R ( R1 + R2 ) = VBE1 (1 + R2 ) R1 ou seja VBE é multiplicado por um factor que pode ser escolhido para polarizar o circuito como for pretendido. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 23 Electrónica II – Amplificadores de Potência Polarização do amplificador de classe AB – Multiplicador de VBE Outra forma de polarização passa por colocar um potenciómetro para estabelecer a corrente de colector pretendida. Esta solução também pode ser utilizada para obter estabilização térmica, em especial se R1=R2 e Q1 estiver em contacto térmico com os outros transístores. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 24 Electrónica II – Amplificadores de Potência Transístores de potência Os transístores de potência dissipam valores elevados de potência que é convertida em calor, fazendo subir a temperatura da junção. No entanto a junção não deverá exceder um valor máximo TJmax, caso contrário o transístor poderá ficar danificado. Para dispositivos em silício TJmax anda na gama de 150ºC a 200ºC. Um transístor em estado estacionário a dissipar PD watts tem uma variação da temperatura em relação ao ambiente de: TJ − TA = θ JA PD onde TJ é a temperatura da junção, TA é a temperatura ambiente e θJA é a resistência térmica entre a junção e o ambiente. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 25 Electrónica II – Amplificadores de Potência Transístores de potência A relação descrita pela equação anterior é idêntica à lei de Ohm como esta representado na figura. A dissipação de potência corresponde à corrente, a resistência térmica à resistência e a diferença de temperatura à diferença de potencial. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 26 Electrónica II – Amplificadores de Potência Dissipação de potência em função da temperatura A especificação fornecida pelo fabricante para um transístor de potência inclui normalmente TJmax à temperatura ambiente (tipicamente 25ºC) e a resistência térmica. A figura mostra o comportamento da potência dissipada máxima em função da temperatura ambiente. No caso de a temperatura de funcionamento ser superior a máxima potência dissipada deve ser calculada a partir da expressão: PDmáx = TJ max − T A θ JA Morgado Dias Electrónica II 9/2006 27 Electrónica II – Amplificadores de Potência Encapsulamento do transístor e dissipação de calor A resistência térmica entre a junção e o ambiente pode ser expressa da seguinte forma: θ JA = θ JC + θ CA onde θJC é a resistência térmica entre a junção e o encapsulamento e θCA é a resistência térmica entre o encapsulamento e ambiente. O fabricante pode reduzir θJC colocando o transístor num encapsulamento metálico de grandes dimensões e colocando o colector em contacto com este. O projectista não tem controlo sobre θJC mas pode ter sobre θCA. Esta resistência pode ser reduzida, facilitando a transferência de calor para o ambiente, por exemplo aparafusando o transístor ao chassis ou a uma placa metálica que funcione como dissipador. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 28 Electrónica II – Amplificadores de Potência Encapsulamento do transístor e dissipação de calor Se um dissipador de calor for utilizado então a resistência térmica entre o encapsulamento e o ambiente é dado por: θ CA = θ CS + θ SA onde θCS é a resistência térmica entre o encapsulamento e o dissipador e θSA é a resistência térmica entre o dissipador e o ambiente. θCA pode ser tornado suficientemente baixo em função da escolha do dissipador. O equivalente eléctrico do processo de condução térmica está representado na figura. E é dado pela equação: TJ − T A = PD (θ JC + θ CS + θ SA ) Morgado Dias Electrónica II 9/2006 29 Electrónica II – Amplificadores de Potência Encapsulamento do transístor e dissipação de calor O fabricante fornece habitualmente informação sobre a variação de PDmax em função de TC e o valor de θJC. Para cada transístor a máxima dissipação de potência a TC0 é muito superior à obtida para TA0. Normalmente tem-se TC0≤TC≤TJmax e a dissipação de potência máxima é obtida para TJ=TJmax. PDmáx = TJ max − TC θ JC Morgado Dias Electrónica II 9/2006 30 Electrónica II – Amplificadores de Potência Variações da configuração de Classe AB Existem diversas variações na configuração da classe AB. A figura mostra a utilização de dispositivos compostos, neste caso pares Darlington. Neste caso existe uma queda de tensão adicional de VBE que tem de ser compensada pelo multiplicador de VBE. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 31 Electrónica II – Amplificadores de Potência Variações da configuração de Classe AB Protecção de curto circuito. O circuito apresenta protecção de curto circuito para a situação em que o andar amplificador está a fornecer corrente. A resistência RE1 é escolhida de forma que, se a corrente de Q1 for demasiado elevada, a queda de tensão VRE1 será suficiente para colocar Q5 à condução. Nesta situação uma grande parte da corrente de base de Q1 será desviada para o colector de Q5, fazendo Q1 regressar a uma corrente mais baixa. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 32 Electrónica II – Amplificadores de Potência Variações da configuração de Classe AB Protecção térmica. O circuito apresenta protecção térmica de forma a ligar um determinado transístor no caso de a temperatura de referência ser excedida. O transístor Q2 está normalmente desligado. Quando a temperatura sobe, a combinação do coeficiente positivo de temperatura do díodo zener e o coeficiente negativo de temperatura de VBE1 faz subir a tensão no emissor de Q1 e na base de Q2. Se o circuito estiver bem configurado, nesta situação Q2 entra em funcionamento absorvendo através do seu colector a corrente de polarização do amplificador e desligando-o. Morgado Dias Electrónica II 9/2006 33