A Relaç Relação entre o (Neo)Patrimonialismo e a Sociedade Civil no Caso Collor Collor Autor:Thales Torres Quintão - PUC – Minas Orientadora: Profª. Msa. Helaine Francisco Sampaio ( Departamento de Ciências Sociais - PUC – Minas) Introdução: O presente trabalho se pauta na temática da relação institucionalizada e normativa, as ditas “gramáticas políticas” de Edson Nunes (2003), A sociologia política brasileira defende que a solidificação do patrimonialismo no Brasil é resultante de diversos fatores, e entre eles está a cultura política antidemocrática dos brasileiros, marcada pelo conservadorismo e autoritarismo, e pela fraca atuação da sociedade civil no que tange os assuntos do Estado. E é justamente por isso que a conjuntura do governo Collor foi escolhida para ser pesquisada. Pois, nesse período houve uma grande mobilização popular contrária as práticas de corrupção lideradas por esse presidente. Diversas entidades civis se organizaram na busca do objetivo da ética na política, que em meados de 1992 ganhou um tom hegemônico. Objetivo: Analisar as conexões e as conjunturas estabelecidas entre as práticas neopatrimonialistas e a atuação da sociedade civil durante a crise política vigente na presidência de Fernando Collor (19901992). O problema geral desta pesquisa trata a maneira como a sociedade civil procurou romper com as práticas neopatrimonialistas. Faz-se necessário indagar se essa possível ruptura estabelecida no governo Collor se concretizou nos anos posteriores. Por fim, é necessário averiguar se o impeachment de Fernando Collor propiciou a emergência de uma nova cultura política no Brasil, ou seja, uma cultura menos permissiva quanto a essas práticas ilegais. Metodologia: A metodologia de investigação aqui desenvolvida se pauta na qualitativa e se enquadra no arquétipo de Pesquisa Documental. O uso de documentos em um trabalho acadêmico possibilita ampliar o entendimento do objeto de estudo cuja compreensão necessita de contextualização histórica e sociocultural. Assim, foi realizada uma análise de discurso dos documentos da sociedade civil no período do Fora - Collor visando demarcar os termos contrários às práticas neopatrimonialistas. Foram analisados os registros da época de três entidades civis _ Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) _ e do Movimento pela Ética na Política (MEP). É necessário pontuar que os dados aqui analisados estão fixados em um mesmo critério temporal, ou seja, todas as fontes de dados são do ano de 1992, mais precisamente dos meses de abril a setembro. Além de examinar e estudar esses documentos históricos, também foi realizado uma análise das entrevistas feitas nos anos 90 com o sociólogo Raymundo Faoro (2008). Conclusões: O impeachment se portou como um marco inicial para a política brasileira. A população tomou ciência que os governantes não podem administrar de maneira arbitrária, e sim que estes possuem responsabilidades legais perante a sociedade. Esse fato incentiva futuras mobilizações sociais e fiscalizações do poder público, tanto pelos atores sociais modernos quanto pela imprensa brasileira. Deve-se ressaltar que a crise política instaurada durante o governo Collor se associa a uma crise de governo. Nessa conjuntura não estava presente a discussão acerca da substituição do regime político vigente, ou então grandes contestações das medidas implementas pelo governo Collor, como as políticas econômicas ditas “neoliberais”. Inclusive foi possível perceber, ao analisar os próprios registros da sociedade civil, que as ações mobilizadoras das entidades civis visavam recuperar a crença e o prestígio das instituições democráticas (Casas Legislativas) quanto ao seu papel político. Percebemos uma diferença de foco e abordagem para as críticas feitas ao governo Collor nos registros da OAB, PNBE e CNBB. Para a OAB o enfoque se volta para o respeito às leis e a Constituição de 1988. Para a CNBB seu foco e especificidade se concentram na crítica à desigualdade social presente no Brasil naquele momento. E por fim, o descontentamento e a desconfiança do PNBE se pautam no modelo econômico neoliberal adotado por Fernando Collor. Porém, a medida que o tempo passava o discurso se centrava na busca pela ética e transparência da política, o que possibilitou a união da sociedade civil em torno de um objetivo comum. Portanto, o Brasil ainda convive com um modelo político arcaico e novo ao mesmo tempo, possuindo um caráter ambíguo. Nosso país possui características híbridas entre o tradicionalismo e a modernidade – as instituições políticas modernas se relacionam com as “práticas cordiais”. Porém, como Faoro (2008) escreve, o impeachment de Collor permitiu descobrir a possibilidade de resistência por parte da sociedade civil quanto aos desmandos dos donos do poder. Referências Bibliográficas: AVRITZER, L.O conflito entre a Sociedade Civil e a Sociedade Política no Brasil pós-autoritário. In: Keith R.; Richard D. (Org.) Corrupção e Reforma Política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000, p. 167-193. CAMPANTE, R. G. Patrimonialismo em Faoro e Weber e a Sociologia Brasileira. DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 46, n.º1, 2003, p. 153-193. FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 2 vol. 4 ed. Porto Alegre: Globo, 1977. __________. A Aventura Liberal numa Ordem Patrimonialista. Revista USP, nº17, pág. 14-29, 1993. __________. A Democracia Traída: entrevistas. Organização e notas Maurício Dias. São Paulo: Editora Globo, 2008. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. 26ª Ed. 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