REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA INTERNA www.rbmi.com.br Artigo Original Sistema Renina Angiotensina e a associação com a Doença Hepática Gordurosa Não-Alcoólica: Uma revisão Renin-Angiotensin System and the association with Nonalcoholic Fatty Liver Disease: A Review Matheo Augusto Morandi Stumpf , Alexandre Bueno Merlini, Polliane Arruda, Caroline Saad Vargas Instituição Proponente: Divisão de Gastroenterologia do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais e Departamento de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa Artigo recebido em: 07/05/2015 Aceito para publicação: 12/06/2015 Autor para correspondência: E-mail: [email protected] (Matheo Stumpf) RESUMO Introdução: Devido o aumento da prevalência da obesidade em diversos países, o número de pacientes que sofrem com a doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA) também vem aumentando. Já está bem estabelecida a relação entre a DHGNA e a síndrome metabólica, principalmente quanto à resistência insulínica que tem papel fundamental na fisiopatologia daquela doença. Há indícios que o sistema renina-angiotensina também participe da patogenia da DHGNA. Objetivo: Realizar uma revisão sistemática da literatura sobre estudos que avaliaram a associação entre sistema renina-angiotensina e DHGNA. Métodos e Resultados: Estudo descritivo onde foi utilizado o portal de periódicos Pubmed. Foram utilizadas as seguintes palavras como descritores, em inglês: renin-angiotensin system, fatty liver e nonalcoholic fatty liver disease. De um total de 102 referências, foram selecionadas 12 que tratavam do tema proposto. Discussão: Diversos estudos apontam para uma associação entre o sistema renina-angiotensina e a DHGNA. Alguns estudos experimentais revisados neste artigo demonstram que o uso de inibidores deste sistema podem vir a se tornarem fármacos potencialmente utilizados no tratamento da DHGNA. Conclusão: O sistema renina-angiotensina parece ter fundamental importância na progressão da REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 DHGNA para esteato-hepatite e fibrose. Ressalta-se que mais estudos devem ser feitos para sua avaliação, principalmente quanto ao uso de fármacos inibidores do sistema renina-angiotensina que pecam pela falta de ensaios clínicos. PALAVRAS-CHAVE: sistema renina-angiotensina; esteatose hepática; terapêutica. ABSTRACT Introduction: Due to the increased prevalence of obesity in many countries, the number of patients suffering from nonalcoholic fatty liver disease (NAFLD) has also increased. It is well established the relationship between NAFLD and metabolic syndrome, especially the insulin resistance which plays a key role in the pathophysiology of that disease. There is evidence that the renin-angiotensin system also participates in the pathogenesis of NAFLD. Objective: Perform a systematic review of the literature on studies that evaluated the association between NAFLD and renin-angiotensin system. Methods and Results: Descriptive study where was used the Pubmed journals portal. The following words were used as descriptors, in english: renin-angiotensin system, fatty liver and nonalcoholic fatty liver disease. A total of 102 references, were selected 12 that addressed the theme. Discussion: Several studies point to an association between the reninangiotensin system and NAFLD. Some experimental studies reviewed in this paper demonstrate that the use of inhibitors of this system are likely to become potential drugs that can be used for treating NAFLD. Conclusion: The renin-angiotensin system seems to have a fundamental importance in the progression of NAFLD to steatohepatitis and fibrosis. It is emphasized that more studies should be made for evaluation, especially in the use of inhibitors of the renin-angiotensin system drugs that sin by the lack of clinical trials. KEYWORDS: renin-angiotensin system; fatty liver; therapeutics. INTRODUÇÃO A obesidade tem se tornado cada vez mais prevalente no mundo graças ao estilo de vida, sedentarismo e à má dieta. Nos Estados Unidos, 17,1% das crianças e adolescentes estão em sobrepeso e 32,2% dos adultos são obesos1. Sabe-se que esta doença traz consigo diversas comorbidades como o diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica e a doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA)2. A DHGNA tem, atualmente, uma alta prevalência no mundo. Alguns estudos sugerem que 20% dos adultos possuem DHGNA, enquanto nas crianças esta porcentagem chega a 13%, aumentando conforme idade e grau de obesidade2. Ela é hoje conhecida como um amplo espectro de doenças, tendo em seu campo desde a REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 esteatose hepática até a progressão para importante opção de tratamento para esteato-hepatite, fibrose e cirrose3. pacientes com este tipo de desordem hepática. Esta doença é caracterizada por um aumento do depósito de gordura no fígado e MÉTODOS E RESULTADOS está fortemente associada à diabetes mellitus tipo 2, obesidade, dislipidemia e resistência Trata-se de um estudo descritivo, insulínica. O diagnóstico de DHGNA requer sobre uma revisão sistemática da literatura uma acumulação de gordura no fígado sobre a correlação entre SRA e a DHGNA superior a 5-10% em peso, em abstinência do utilizando o portal de periódicos Medical consumo alcoólico (menos de 20 g por dia). A Literature Analysis and Retrieval System biópsia hepática é o padrão-ouro para Online (MEDLINE) da National Library of quantificação da esteatose, mas não é feita Medicine. rotineiramente. Opta-se por exames de Assim, em 27 de abril de 2015, foi imagem, principalmente a ultrassonografia acessado o portal de periódicos e utilizadas as que tem bom custo-benefício e fácil acesso4. palavras-chave, em inglês, nas seguintes Deve-se sempre suspeitar de DHGNA numa combinações: "Renin-angiotensin system" e pessoa com sobrepeso ou obesa, com níveis "Fatty liver", "Renin-angiotensin system" e de AST (aspartate aminotransferase) e ALT Nonalcoholic fatty liver disease". (alanina aminotransferase) elevadas5. Foram obtidas um total de 102 referências. Há diversas evidências que apontam Após este processo, realizou-se a associação entre a DHGNA e a síndrome leitura dos resumos destes artigos, sendo metabólica. A associação com a hipertensão é então selecionados 12 referências, todas na particularmente importante, sugerindo que a língua inglesa, sendo a base para esta revisão fisiopatologia de ambas as doenças estão de literatura2-13. interligadas. Diversos artigos apontam que Após a leitura completa destes 12 pacientes em uso de inibidores do sistema artigos selecionados, foi elaborada a Tabela 1 renina-angiotensina (SRA), para controle da que apresenta uma síntese das referências, pressão arterial, apresentam melhores níveis contendo: autores, ano de publicação, local de função hepática6,7. onde foi realizado, tipo de estudo, objetivo e Assim, o objetivo principal deste estudo é fazer uma revisão sistemática da literatura sobre a associação existente entre o SRA e a DHGNA, buscando demonstrar que o uso de fármacos inibidores do SRA são uma conclusão. REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 Tabela 1: Dados principais dos estudos selecionados para análise Autores, ano de publicação e local onde foi realizado Tipo de Estudo Objetivos Conclusão NeuschwanderTetri BA, 2007, Estados Unidos Revisão da literatura Revisar a fisiopatologia da DHGNA, sua prevalência, história natural e tratamento O entendimento da fisiopatologia da DHGNA permite novas opções terapêutica Toblli et al., 2008, Argentina Modelo animal murino prospectivo Avaliar a terapia de inibidores do SRA em ratos com síndrome metabólica Bloqueadores do SRA diminuíram a resposta inflamatória hepática quando comparados ao grupo que não recebeu tratamento e ao que recebeu anlodipino Fogari et al., 2012, Itália Comparativo prospectivo Comparar os feitos da losartana ou anlodipino sozinhos ou combinados à estatina no grau de esteatose hepática em pacientes hipertensos com DHGNA Ambos os medicamentos reduziram a hipertensão. A losartana sozinha e, depois associada à estatina, diminuíram o grau de esteatose e o tecido adiposo visceral. Morris et al., 2013, Estados Unidos Revisão da literatura Descrever o papel da Ang-II no desenvolvimento e progressão da DHGNA Mais estudos são necessários para se compreender totalmente como a angiotensina II interage com diversos tecidos Paschos et al., 2012, Grécia Revisão da literatura Revisar os estudos que utilizaram inibidores do SRA no combate à DHGNA Estudos em modelo animal são promissores, mas faltam estudos com seres humanos Georgescu EF, 2008, Romênia Revisão da literatura Revisar o uso dos agentes bloqueadores do SRA como terapêutica na DHGNA A quantidade de dados de estudos com seres humanos é limitada de mais para dizer que os inibidores do SRA são os mais eficientes contra a DHGNA, embora já tenha sido comprovado por modelos animais que esta terapêutica é benéfica Kishina et al., 2014, Japão Modelo animal murino prospectivo Investigar o uso do alisquireno, um inibidor direto da renina, na fibrose hepática e na esteatohepatie não-alcoólica O grupo tratado com alisquireno diminuiu a progressão da fibrose hepática, inibiu a ativação de células estreladas, diminuiu o estresse oxidativo e os níveis de citocinas Mâcedo et al., 2014, Brasil Revisão da literatura Discutir a importância do SRA no desenvolvimento e prevenção de doenças hepáticas Inibidores do SRA são uma nova estratégica no tratamento e prevenção de doenças hepáticas Hirose et al., 2007, Japão Modelo animal prospectivo Avaliar o uso do olmesartan, um bloqueador do receptor de angiotensina tipo 1, na esteatohepatite não-alcoólica O medicamento teve um papel importante ao impedir a progressão da doença Harrison AS, 2006, Estados Unidos Revisão da literatura Discutir as novas opções de tratamento para a DHGNA Evidências sugerem um benefício no uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina e bloqueadores do receptor de angiotensina, porém mais estudos na área devem ser feitos Lee et al., 2013, Taiwan Modelo animal murino prospectivo Investigar a utilização do alisquireno na esteato-hepatite O fármaco avaliado diminuiu a esteatohepatie e a fibrose no grupo onde foi utilizado Revisar a farmacoterapêutica disponível para a DHGNA Monoterapias para a DHGNA parecem ter baixa efetividade; há a necessidade de se realizar grandes ensaio clínicos para avaliar melhor os resultados de determinados medicamentos, como os bloqueadores do SRA Nakajima N, 2012, Japão Revisão da literatura REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 expresso no coração, rins, vasos, fígado e DISCUSSÃO adipócitos, enquanto o AT2 é mais expresso 1) Patogenia da DHGNA no período fetal. Convém ressaltar que o AT2 A DHGNA ocorre devido ao excesso tem um papel na modulação do AT1 de armazenamento hepático de triglicerídeos, (geralmente efeitos opostos para manter a entretanto na ausência de uso abusivo de homeostasia), álcool, hepatotoxicidade ou outra doença apoptose6,7,9. hepática conhecida como hepatites diferenciação celular e ou O AT2 medeia todas as maiores ações doenças autoimunes7. A clássica "two-hits da Ang II como regulação da pressão arterial, hypothesis" continua sendo uma importante retenção de sal e água, secreção hormonal, maneira de se explicar o mecanismo desta proliferação e migração celular. A Ang II doença e de sua progressão. Nela, o "first hit" ainda pode ser metabolizada por outras seria a própria esteatose com acúmulo enzimas e originar fragmentos como a Ang III sobretudo de triglicerídeos nos hepatócitos (Ang 2-8), Ang IV (Ang 3-8) e a Ang 1-75,6. causada pela resistência insulínica; o "second A Ang III é formada pela clivagem da Ang II hit", viria do estresse oxidativo e produção de pela aminopeptidase A e tem ações similares citocinas levando a uma reação inflamatória e à Ang II. Ang III pode ser metabolizada pela posterior fibrose que pode levar à cirrose7,8. aminopeptidase M e se transformar em Ang Portanto, o progresso da DHGNA para a IV5,9. Ações da Ang IV são mediadas pelo esteato-hepatite depende muito da resistência receptor AT4 que regula o fluxo sanguíneo, à insulina, esta estando anormal na maioria inibe reabsorção de sódio no túbulo renal e dos pacientes obesos6. estimula a angiogênese. Ang 1-7 é gerada tanto pela Ang I quanto pela Ang II e, 2) O Sistema Renina - Angiotensina geralmente, tem ação oposta à Ang II, O SRA circulante compreende uma promovendo vasodilatação, anti-inflamação, cascata enzimática que culmina na formação de angiotensina (Ang) II a partir de angiotensinogênio9. primeira Além do SRA circulante, há o SRA etapa, local, identificado em vários tecidos, cuja do ativação exerce várias ações: crescimento angiotensinogênio em Ang I pela renina, que celular, diferenciação, apoptose, geração de é liberada pelas células justaglomerulares espécies reativas do oxigênio, inflamação, renais. Depois a enzima conversora de fibrogênese e secreção hormonal. O AT1, angiotensina converte a Ang I em Ang II. localizado nos hepatócitos, nas células do Esta, por sua vez, atua nos receptores AT1 e ducto biliar, nas células estreladas hepáticas, AT2, associados à proteína G5. O AT1 é miofibroblastos, portanto, consiste A anti-fibrose e anti-coagulação6,9. na quebra endotélio, células de REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 Kupffer, controla todas as ações da Ang II a reativas de oxigênio (estresse oxidativo) nível hepático2,5,6. parece ter papel importante na progressão da A provável interação entre o SRA e a DHGNA para a esteato-hepatite6,7. DHGNA ocorre a nível de receptores de insulina, causando maiores níveis de 4) O SRA e as citocinas 9 resistência insulínica . Ainda pode ocorrer aumento na produção de citocinas, Considerando que a obesidade e a síndrome metabólica são condições que diminuição na secreção de insulina por uma condizem com um estado inflamatório interação com as células β-pancreáticas e crônico, é de se esperar que os níveis de interações com os hepatócitos6. citocinas, especialmente interleucinas (IL-6 e IL-8), TNF-α (fator de necrose tumoral-alfa) e β1 (fator de transformação de 3) O SRA e a resistência à insulina TGF- A resistência insulínica é um marcador crescimento beta 1), estejam elevados. O importante da síndrome metabólica e do TNF-α é um antagonista da adiponectina e diabetes mellitus tipo 2, sendo caracterizada contribui para a resistência à insulina. Além por diminuição da ação da insulina mesmo disso, está intimamente relacionado à danos com concentração mitocondriais que fazem a progressão de uma plasmática2. Esta resistência contribui para a esteato-hepatite para a cirrose, ativando a DHGNA de diversas formas. A principal fibrogênese. A Ang II também aumenta maneira para isso acontecer é que a Ang II produção de TGF- β1, estimulando síntese de aumenta a produção intracelular de espécies proteínas, inibindo a degradação da matriz e reativas do oxigênio. aumentando produção da integrina, o que faz o aumento de sua Com isso, há um aumento destes com que isso seja extremamente fibrogênico. produtos que fazem inibição do transporte do Foi observado também que a Ang II GLUT-4 para a membrana, aumentando a suprarregula a IL-6, podendo iniciar a resistência à insulina5,6. Então, com um efeito ativação da insulina menor, há aumento na lipólise no inflamação hepática2,6. de monócitos, aumentando a tecido adiposo, aumentando os níveis de gordura que serão pegos pelo fígado para a 5) O SRA e o Pâncreas ocorrência de esterificação ou oxidação. Além Uma resistência insulínica crônica do mais, o aumento da resistência à insulina associada aumenta de hiperinsulinemia, pode causar danos ao triglicerídeos, bem como sua exportação pâncreas2,5. Com isto inicia-se um ciclo (aumento do VLDL - lipoproteína de muita vicioso, pois estes danos acabam por agravar baixa densidade). O aumento das espécies a resistência à insulina e a síndrome a produção hepática com hiperglicemia e REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 metabólica. A Ang II age a nível de células β- O SRA também tem um papel central pancreáticas de duas maneiras. A primeira, na progressão da DHGNA para a fibrose. O por um efeito de vasoconstrição local, acaba aumento de citocinas e quimiocinas provoca a por diminuir o fluxo sanguíneo destas células, ativação das células estreladas hepáticas, que reduzindo seu número e seu metabolismo. O acabam por gerar Ang II de novo, formando segundo mecanismo diz respeito à formação um ciclo. A Ang II promove a diferenciação de mais espécies reativas do oxigênio. A Ang destas II estimula a formação de radicais livres, estimulando levando a um dano tecidual, piorando o contração. quadro de hiperglicemia e de resistência do suprarregula inibidores de metaloproteinase-1 paciente. Quimiocinas como a MCP-1 e aumenta síntese de colágeno e sua (proteína monócito) deposição na matriz extracelular. A ativação quimioatraente para células AT1 para a proliferação Além no miofibroblastos, do mais, endotélio celular a Ang II também podem ser induzidas pela Ang II, do causando a migração de monócitos para as neoangiogênese. ilhotas pancreáticas5,6,7. suprarregula citocinas pró-inflamatórias e A vascular e Ang II causa também estimula mais migração de células estreladas, favorecendo uma fibrose hepática5,6. 6) O SRA e o Fígado O fígado tem a função primária de processar quilomícrons remanescentes e ácidos graxos livres advindos da dieta e da 7) Tratamento da DHGNA relacionada ao SRA lipólise do tecido adiposo, respectivamente6,7. O SRA está tão atrelado à DHGNA Na obesidade, os níveis de ácidos graxos que, nos últimos anos, diversos estudos têm livres estão elevados. Isso pode ser explicado usado os inibidores do SRA como forma de através da pouca ação da insulina que não tratamento desta doença e também de suas consegue inibir a lipólise no tecido adiposo formas mais progressivas, como inflamação e devido ao estresse oxidativo da Ang II5, já fibrose8,10,11,12. Os fármacos mais utilizados comentado anteriormente. Além disso, a Ang são os inibidores da enzima conversora de II tende a aumentar a taxa de secreção de angiotensina e os antagonistas do receptor de VLDL, aumentando os ácidos graxos livres a angiotensina. Por mais que os mecanismo de nível plasmático e a resistência à insulina, ação e tempo de meia-vida sejam diferentes sendo que tudo isso está associado à nestes hipertensão, dislipidemia, à própria DHGNA, demonstrado a mesma eficácia no tratamento ou da DHGNA3,9,11. seja, metabólica5,7. componentes da síndrome grupos, diversos estudos têm Um estudo10 em modelo animal utilizando ratos Wistar fez uso do olmesartan REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 para avaliar sua resposta no combate à DHGNA. Foi medicamento demonstrado reduziu a que o progressão da CONCLUSÃO esteatose, a ativação das células estreladas, a Como a prevalência da obesidade vem expressão de TGF- β1 e TNF-α (assim como crescendo nos últimos anos, é de se esperar o grau de estresse oxidativo). que Outros artigos3,4 compararam suas comorbidades apresentem a prevalência também elevada. A DHGNA é utilização entre losartan e anlodipino em uma patologia comum, sendo importante pacientes que sofriam de DHGNA. Foi estudos ligados à sua terapêutica e também à observado que o grupo em uso da losartana elucidação teve melhores resultados quanto à parâmetros fisiopatologia. inflamatórios, diminuindo o tecido adiposo e a esteatose. de outras vias de sua Já está estabelecido que o SRA tem um papel na fisiopatologia da DHGNA. Neste Estudos8,12 também avaliaram o uso de caso, inibidores do SRA desempenham uma um inibidor direto da renina, o alisquireno, terapêutica importante no combate e na em foram progressão desta doença. Entretanto, há falta positivos assim como os anteriores3,4,10. A de ensaios clínicos realizados para se avaliar a vantagem no uso efetividade camundongos. Os resultados do alisquireno seria o destes tratamentos quando bloqueio tanto intra quanto extra-celular da comparados a outros que acabam se focando produção de Ang II8. em eliminar o excesso de gordura no fígado Há uma tendência da literatura em (estatinas, por exemplo). Os poucos estudos utilizar os antagonistas AT1 no lugar dos com humanos que foram realizados são inibidores da enzima. Isso se remete ao fato limitados, mas em associação com os estudos de que aqueles fármacos acabam por ser mais em animais, permitem concluir que os seletivos e acabam por permitir a função inibidores do SRA, de maneira geral, são fisiológica da Ang II nos AT2, que não efetivos. Eles ajudam a combater a progressão possuem relação com a fisiopatologia da da DHGNA7,11. insulínica, Os antagonista AT1 mais DHGNA, diminuem adequando a resistência desequilíbrios na utilizados e mais eficazes para tratamento da inflamação e na fibrogênese, ao reduzir a esteatose são o telmisartan, losartan e formação de citocinas e quimiocinas. candesartan7. Por mais que os inibidores direto da resistência renina tenham insulínica e melhorado o a estresse oxidativo8,12, a falta de estudos em seres humanos limita seu uso na prática clínica13. REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(2): 42-51 6. Paschos REFERÊNCIAS 1. Ogden CL, Carroll MD, Curtin LR, P, Tziomalos K. 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