Rotinas do Pré-Natal Caso Clínico: Paciente de 28 anos, G2P0A1, com gravidez de 7 semanas, comparece à consulta de pré-natal. Queixa-se apenas de náuseas e vômitos ocasionais. Nega fatores relevantes na história pessoal e familiar. Na história ginecológica relata ciclos regulares de 28/4 dias. Na história obstétrica há relato de abortamento espontâneo, de gravidez de 8 semanas, há 6 meses e sem necessidade de curetagem. Exame físico sem alterações, compatível com gestação inicial. Baseado no caso descrito acima, pergunta-se: 1) Quais seriam as orientações relativas ao tratamento e prevenção das náuseas e vômitos apresentados pela paciente? a) Iniciar o uso de antieméticos, para controlar o quadro clínico. b) Orientar a paciente a suspender a alimentação até a melhora do quadro. c) Orientar a paciente a comer pequenas quantidades, de 3 em 3 horas, evitando alimentos gordurosos e aumentando a ingestão de líquidos. d) Realizar a prevenção medicamentosa com administração de ácido fólico. 2) Devido à história de abortamento na gestação anterior, quais exames deveriam ser solicitados? a) Estudo genético do casal. b) Pesquisa de trombofilias congênitas e adquiridas. c) Pesquisa de infecções congênitas. d) Não é necessário pedir qualquer exame no momento. Respostas: Pergunta 1: C As náuseas e vômitos estão entre as queixas mais comuns na gravidez, atingindo 50% a 80% das gestantes.1 Geralmente iniciam-se entre 4 e 6 semanas, com pico entre 8 e 12 semanas e resolução até 16 semanas. A abordagem inicial deve ser feita por meio de medidas dietéticas como: Intervalo curto entre as refeições (2 a 3 horas) Ingestão de, pelo menos, 2 litros de água por dia Escolha de alimentos leves e pouco condimentados Não misturar sólidos com líquidos durante a refeição Realizar o desjejum com carboidratos simples (ex: biscoito de água e sal) As medicações antieméticas devem ser reservadas para casos mais graves, ou na falha da abordagem dietética. O ácido fólico, utilizado na prevenção de defeitos de fechamento do tubo neural, não tem efeito na redução da ocorrência de náuseas e vômitos. Pergunta 2: D O abortamento ocorre em até 20% das gestações clinicamente reconhecidas. Cerca de 70% dos abortamentos precoces, em gestações com menos de 10 semanas, são de origem genética.2 O estudo genético do casal, a pesquisa de trombofilias e pesquisa de infecções congênitas fazem parte da investigação do abortamento de repetição, mas só devem ser realizados a partir da terceira perda consecutiva, ou quinta alternada, o que ocorre em aproximadamente 1% dos casais. Rotinas de Pré-Natal Índice: 1. Época e número de consultas 2. Exame Físico 3. Exames complementares 3.1 Tipagem Sanguínea 3.2 Hemograma 3.3 VDRL 3.4 HBsAg 3.5 Anti-HIV 3.6 Sorologia para toxoplasmose 3.7 Rastreamento do Diabetes Gestacional 3.8 Urina Rotina e Urocultura 3.9 Cultura para Estreptococos Beta hemolítico 4. Ultrassonografia 5. Sinais de alerta Rotinas do Pré-Natal A realização de consultas médicas prévias ao parto, com o objetivo de melhorar a saúde das gestantes e diminuir a mortalidade materna e neonatal, foi proposta nas primeiras décadas do século XX e rapidamente se tornou uma das práticas de saúde mais difundidas em todo mundo. No entanto, muitas das práticas adotadas rotineiramente carecem de fundamentação cientifica. A presente revisão tem por objetivo abordar de forma prática, as principais intervenções que devem ser realizadas em um pré-natal de risco habitual. 1. Época e número de consultas A primeira consulta deve ser realizada o mais precocemente possível. Idealmente a paciente deveria procurar o médico antes mesmo da gravidez, para a realização de aconselhamento pré-concepcional, quando devem ser abordadas práticas preventivas como a prescrição do ácido fólico e de imunizações, orientações sobre nutrição e hábitos saudáveis de vida, bem como tratamento de doenças prévias. O Ministério da Saúde recomenda que sejam realizadas pelo menos seis consultas em um pré-natal sem intercorrências, sendo uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre.3 Outros protocolos, como o publicado pelo National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE), no Reino Unido, recomenda a realização de sete consultas para multíparas e 10 para nulíparas.4 A prática mais comum na maioria dos serviços consiste em realizar consultas a cada quatro a cinco semanas até 34 semanas de gestação, quinzenais até 38 e semanais até o final da gestação. Não existe alta do pré-natal, as consultas devem ser realizadas até que a paciente entre em trabalho de parto. Se a gravidez atingir 41 semanas, a paciente deverá ser encaminhada para a maternidade, uma vez que estudos mostram que a mortalidade fetal aumenta após essa idade gestacional, mesmo em gestações sem intercorrências. 2. Exame Físico Na primeira consulta deverá ser realizado o exame clínico completo, com exame das mamas, exame ginecológico, e coleta de citologia se a última tiver sido realizada há mais de um ano. Nas consultas subsequentes, o exame poderá ser mais objetivo, contemplando pelo menos a medida do peso, pressão arterial, altura uterina (acima de 12 semanas), ausculta fetal (acima de 12 semanas), realização da palpação abdominal – manobras de Leopold (acima de 28 semanas) e pesquisa de edema. O exame de toque vaginal rotineiro não traz benefícios em pacientes assintomáticas.4 Este pode ser realizado em consultas alternadas até 30 semanas e em todas as consultas a partir dessa data. 3. Exames complementares Os exames solicitados no pré-natal de risco habitual têm por objetivo identificar condições, passíveis de intervenção, que possam melhorar o prognóstico materno e fetal. O quadro 1 lista os exames básicos a serem pedidos na rotina de pré-natal. QUADRO 1. Roteiro para solicitação de exames no pré-natal de risco habitual. Período 1ª Consulta ou 1º Trimestre Exame Grupo Sanguíneo e Fator Rh Coombs Indireto (se Rh negativo) Hemograma Glicemia de jejum VDRL HbSAg Anti-HIV Toxoplasmose IgG e IgM Urina rotina e Urocultura 2º Trimestre (entre 24 e 28 semanas) Teste de tolerância à glicose com 75g de dextrosol Toxoplasmose IgG e IgM (se susceptível) Coombs Indireto (se Rh negativo) 3º Trimestre (entre 34 e 38 semanas) Hemograma VDRL Anti-HIV HbSAg Urina rotina e Urocultura Toxoplasmose IgG e IgM (se susceptível) Coombs Indireto (se Rh negativo) Cultura para estreptococos β hemolítico 3.1 Tipagem Sanguínea O objetivo da pesquisa do antígeno D do grupo Rh é prevenir a aloimunização materna. Aproximadamente 13% dos casais são incompatíveis quanto ao fator Rh (mãe RhD negativo e pai RhD positivo). Nos casais incompatíveis faz-se necessária a solicitação do teste de Coombs indireto, para pesquisar a presença de anticorpos contra as hemácias. Caso o teste de Coombs seja negativo, ele deverá ser repetido no segundo trimestre (24 a 28 semanas) e ao final da gestação. Se o teste de Coombs for positivo em qualquer momento da gestação, a paciente deverá ser encaminhada para o acompanhamento especializado. Após o parto, naquelas mulheres RhD negativo, com Coombs indireto negativo, que derem a luz uma criança RhD positivo, deverá ser realizada a aplicação da imunoglobulina anti-RhD para prevenir a sensibilização materna. A eficácia da imunoglobulina anti-RhD em prevenir a aloimunização é da ordem de 98%. É boa prática, a aplicação da imunoglobulina anti-RhD nas pacientes Rh negativo, com marido Rh positivo e Coombs indireto negativo, também durante a gestação, com 28 semanas. Tal rotina diminui a taxa de sensibilização pós-parto para 2% nas mulheres que receberam a imunoglobulina apenas após o parto, e 0,2% naquelas que receberam com 28 semanas e no pós-parto. 5, 6 FLUXOGRAMA 1. Pesquisa do fator RhD no Pré-Natal Gestante Rh (D) negativo Sim Coombs Indireto Positivo? Acompanhamento Especializado Não Pai Rh(D) Positivo ou desconhecido Pai Rh(D) negativo desconhecido Coombs Indireto com 28 semanas Positivo Acompanhamento habitual Habitual Acompanhamento Especializado Negativo Profilaxia antenatal Disponível? Não Aplicar Imunoglobulina Rh(D) após o parto se RN Rh(D) positivo e Coombs negativo Sim Aplicar Imunoglobulina anti Rh(D) com 28 semanas e após o parto se RN Rh(D) positivo. (Após a aplicação de imunoglobulina, o Coombs ficará fracamente positivo). 3.2 Hemograma A anemia é doença muito prevalente entre as gestantes, atingindo em média 42% das grávidas em todo mundo, com prevalência maior em países subdesenvolvidos. Na América Latina a prevalência estimada é de 31% das gestantes.7 Na maioria dos casos, a deficiência de ferro é o principal fator etiológico que corresponde até 95% das anemias leves e por isso, diante de uma grávida com anemia leve, pode-se realizar o tratamento de prova, sem necessidade de continuar a propedêutica. A suplementação de ferro em gestantes sem anemia é um assunto mais controverso, pois apesar de os estudos mostrarem que tal prática é efetiva em manter a hemoglobina acima de 10mg/dL, não se evidenciou melhora nas taxas de mortalidade materna e fetal. Além disso, a suplementação de ferro está associada a efeitos colaterais, principalmente no trato gastrointestinal. Por isso, diversos autores sugerem que a suplementação de ferro em gestantes não anêmicas possa ser feita de forma intermitente (1 ou 2 vezes por semana) ao invés de diária. Dessa forma, o efeito benéfico da reposição do ferro é mantido, com diminuição dos efeitos colaterais.8 FLUXOGRAMA 2. Avaliação da hemoglobina materna, prevenção e tratamento da anemia Hemoglobina ≥ 13,5mg/dL 11 - 13,5mg/dL 9 - 11mg/dL < 9mg/dL Observar Profilaxia Tratar como anemia ferropriva Investigar outras causas de anemia 30 a 60mg de Fe elemento ao dia ou semanalmente 120 a 240mg de Fe elemento ao dia 3.3 VDRL Estima-se que no Brasil ocorram 900.000 casos novos de sífilis por ano e que 4% das gestantes atendidas na rede pública sejam acometidas. Até 40% dos recém-nascidos de mães com sífilis vão apresentar acometimento grave. Daí a importância da pesquisa da sífilis congênita através do teste de VDRL que deve ser realizado na primeira consulta de pré-natal e no 3º trimestre. Em pacientes com titulação baixa (< 1:8) é necessária a confirmação do diagnóstico com um teste treponêmico específico como o FTA-ABS. Se a titulação for mais alta (≥ 1:8), não há necessidade da confirmação.9 O tratamento deve ser realizado com penicilina benzatina 2.400.000 UI em 3 doses, com intervalo de uma semana. Após o tratamento, o acompanhamento deve ser realizado com VDRL mensal por 6 meses e trimestralmente após essa data até sua negativação. Se houver queda de 2 ou mais títulos após o tratamento, considera-se que esse tenha sido efetivo. FLUXOGRAMA 3. Rastreamento e tratamento da sífilis na gravidez VDRL Negativo Repetir no 3º trimestre e após o parto < 1:8 ≥ 1:8 FTA-ABS penicilina benzatina 2.400.00 UI, 3 doses Negativo Positivo VDRL Falso Positivo Investigar doenças autoimunes 3.4 HBsAg A hepatite B tem altas taxas de transmissão vertical. Até 90% dos filhos de mulheres com infecção ativa pelo vírus da hepatite B serão portadores crônicos do vírus. Destes, 25% morrerão por complicações da doença hepática cirrose e carcinoma hepático.9 Não existe prevenção da transmissão vertical durante a gravidez, mas a identificação das mães portadoras permite que os recém-nascidos recebam a vacina e a imunoglobulina após o parto, o que diminui a soroconversão em até 95%. A amamentação e a via do parto não influenciam as taxas de transmissão. 3.5 Anti-HIV A prevalência do vírus HIV entre as gestantes no Brasil é de 0,42%, segundo pesquisa publicada em 2004. 10 As taxas de transmissão vertical do vírus são da ordem de 25% se não for feito nenhum tratamento. Com a adoção do tratamento antirretroviral durante o pré-natal e parto, acompanhados da suspensão da amamentação e da profilaxia para o RN, as taxas de transmissão são reduzidas cerca de 1%. O exame deve ser realizado na primeira consulta de pré-natal e no terceiro trimestre. Caso o exame seja positivo, a paciente deve ser encaminhada o mais rápido possível para tratamento especializado. 3.6 Sorologia para toxoplasmose A toxoplasmose é uma doença muito prevalente, com as taxas de sorologia positiva variando de 43 a 84% no Brasil.10 A incidência na gravidez é estimada entre 0,2% a 1%. A taxa de transmissão vertical aumenta com a época da primo infecção materna, sendo de 15% no primeiro trimestre, 30% no segundo e 60% no terceiro. Já o risco de complicações fetais diminui se a transmissão vertical ocorrer em idades gestacionais mais avançadas. A pesquisa da infecção materna é feita através da pesquisa dos anticorpos IgG e IgM. A interpretação dos testes é sumarizada no quadro 2. QUADRO 2. Interpretação da sorologia para Toxoplasmose IgG IgM Interpretação Conduta Negativo Negativo Susceptível Orientações sobre MHD. Repetir a sorologia trimestralmente. Positivo Negativo Imune Abandonar o acompanhamento. Negativo Positivo Infecção aguda Pesquisar sintomas e possível contato ou Falso positivo Iniciar do IgM vertical. profilaxia da transmissão Repetir a sorologia em 3 semanas. Positivo Positivo Infecção aguda Iniciar ou IgM residual vertical. profilaxia da transmissão Solicitar teste de avidez de IgG. MHD: medidas higieno-dietéticas A paciente susceptível não deve ser negligenciada. Além da repetição trimestral dos testes, ela deve ser lembrada em todas as consultas da importância da prevenção através das medidas higieno-dietéticas que são: Não comer carne crua ou mal-passada; Não comer ovo cru; Higienizar bem verduras e legumes se for ingeri-los crus; Evitar contato com terra (jardinagem, etc), ou usar luvas e lavar bem as mãos após a manipulação. Uma observação interessante é que como não existe toxoplasmose em peixes, a ingestão de carne de peixe crua, como ocorre nas comidas japonesas, não é proscrita para as gestantes susceptíveis. Sempre que o IgM for positivo há suspeita de infecção aguda. Nesse caso a profilaxia da transmissão vertical deve ser iniciada com a espiramicina, 1g de 8 em 8 horas, o mais rapidamente possível, pois a infecção fetal ocorre na maioria das vezes no início da infecção materna. Simultaneamente, inicia-se a propedêutica complementar para confirmar ou afastar a infecção aguda. No caso apenas de IgM positivo, deve-se repetir a sorologia em 3 semanas. O IgG surge na circulação materna duas semanas após o surgimento do IgM e portanto, no caso de infecção aguda, ambos os anticorpos estarão positivos no segundo exame. Na possibilidade de apenas o IgM permanecer positivo, ou se ambos estiverem negativos, trata-se de um falso positivo do IgM e a profilaxia poderá ser suspensa. Quando ambos os exames se mostram positivos, além da infecção aguda, tem-se que pensar também na condição conhecida como IgM residual, situação onde o referido anticorpo permanece positivo por longos períodos, mesmo após a infecção aguda (até 2 anos). Para afastar a possibilidade de IgM residual, deve-se solicitar o teste de avidez de IgG, que se superior a 50%, indicará que a infecção ocorreu há mais de 16 semanas. Se for inferior a 30%, a infecção provavelmente ocorreu em tempo inferior a 16 semanas. Utilizando o teste de avidez realizado no primeiro trimestre e o cálculo da idade gestacional, pode-se inferir se a infecção ocorreu durante a gestação ou se foi prévia à gestação e a profilaxia pode ser suspensa. Nos casos de infecção aguda confirmada, a paciente deve ser encaminhada a serviço de referência para acompanhamento e verificação da necessidade de tratamento fetal. 3.7 Rastreamento do Diabetes Gestacional O diabetes gestacional acomete cerca de 8% das grávidas, podendo chegar até a 18%, dependendo do teste de rastreamento utilizado.11,12 A busca pelo diagnóstico do diabetes gestacional é de fundamental importância, pois, além de se tratar de doença muito prevalente, quando não tratada, está associada a altas taxas de complicações maternas e perinatais. Diversos protocolos já foram pesquisados para o rastreamento dessa doença. Nessa revisão utilizaremos o preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) que é baseado no da Organização Mundial da Saúde (OMS), por ser o mais disseminado no nosso meio. Pelo protocolo do MS o rastreamento deve ser feito em duas etapas, na primeira consulta de pré-natal (glicemia de jejum) e entre 24 e 28 semanas (glicemia pós dextrosol). O achado de exames alterados deve ser seguido de orientações dietéticas para a mãe e do seu pronto encaminhamento para serviço de referência. O fluxograma 4 ilustra os passos do rastreamento do diabetes mellitus gestacional (DMG). FLUXOGRAMA 4. Rastreamento do Diabetes Gestacional (protocolo adaptado do Ministério da Saúde) Glicemia de Jejum (1ª consulta) < 90 90 - 109 ≥ 110 Glicemia 2h pós 75g de Dextrosol (24 – 28 semanas) Glicemia 2h pós 75g de Dextrosol (Imediatamente) Repetir Glicemia de Jejum < 110 < 140 = Normal ≥ 140 = DMG < 140 ≥ 110 = DMG ≥ 140 = DMG O estudo HAPO (Hyperglicemia and Adverse Pregnancy Outcome), foi um grande estudo multicêntrico que mostrou que mesmo em pacientes que não se enquadravam no diagnóstico tradicional do DMG, mas que apresentavam hiperglicemia na gravidez, houve maior ocorrência de resultados adversos.12 A desvantagem do protocolo adotado nesse estudo é que ele classifica um maior número de mulheres como sendo diabéticas (17,8%), Por outro lado, essas pacientes com hiperglicemia gestacional se beneficiariam de acompanhamento mais rigoroso com obstetra e endocrinologista e de controle dietético maior. Acreditamos que o protocolo adotado pelo MS ainda é o mais adequado para o nosso meio. 3.8 Urina Rotina e Urocultura O principal objetivo de avaliar a urina da grávida é identificar as pacientes portadoras de bacteriúria assintomática. Fora do período gestacional, habitualmente não se trata a bacteriúria assintomática; mas durante a gestação, pelas modificações fisiológicas impostas pela gravidez, as portadoras de bacteriúria assintomática têm alto risco de desenvolver uma infecção sintomática não complicada ou até mesmo uma pielonefrite. Além disso, o tratamento da bacteriúria assintomática mostrou-se efetivo na redução das taxas de parto pré-termo e baixo peso ao nascer.13 O achado de mais de 100.000 unidades formadoras de colônia por ml na urocultura é indicativo de bacteriúria assintomática e deve ser tratado. As drogas de escolha são: ampicilina, amoxacilina, cefalosporinas e nitrofurantoína. Após o tratamento deve ser realizada urocultura de controle e uroculturas mensais até o final da gestação devido ao alto risco de recorrência. Lembramos que em caso de ocorrência de três ou mais episódios de infecção não complicada na gestação, ou a partir do segundo episódio de pielonefrite, é necessário manter a quimioprofilaxia diária até o final da gravidez. Tal quimioprofilaxia pode ser realizada com a nitrofurantoína, 100mg, 1 comprimido ao dia. 3.9 Cultura para Estreptococos Beta hemolítico A infecção pelos estreptococos do grupo B é causa importante de sepse neonatal precoce, acometendo 5 a 6 recém-nascidos a cada 1.000 nascidos vivos, com taxas de mortalidade de 5% para nascidos a termo e de até 25% para pré-termo. 13 Estima-se que 10 a 30% das mulheres apresentem colonização assintomática por estreptococos do grupo B. Os filhos destas têm risco 25 vezes maior de desenvolver a sepse neonatal precoce. Em função desse risco aumentado, o Center for Diseases Control (CDC), órgão responsável pelo monitoramento e controle de doenças infecciosas nos EUA, recomenda desde 1996, o rastreamento da colonização por estreptococos do grupo B na gestação. Esse rastreamento é feito com a coleta de swabs do introito vaginal e do reto, com semeadura do material em meio de cultura específico. Pacientes com rastreamento positivo devem receber a profilaxia na hora do parto. A profilaxia deve ser feita com a penicilina cristalina, 5.000.000 UI EV, iniciada pelo menos 4 horas antes do parto. Se o parto não ocorrer nas próximas 4 horas, doses de repique devem ser realizadas, com a penicilina cristalina EV 2.500.000 UI. Em situações onde a prevalência da colonização pelos estreptococos do grupo B é baixa, ou quando o rastreamento não está disponível, a profilaxia da sepse neonatal pode ser realizada levando em considerações os fatores de risco descritos no quadro 3. QUADRO 3. Indicações para a profilaxia intraparto da sepse neonatal precoce pelo estreptococos do grupo B É importante lembrar que no caso de cesariana eletiva, fora do trabalho de parto e com membranas íntegras, não é necessário realizar a profilaxia, mesmo que a cultura seja positiva. 4. Ultrassonografia A ultrassonografia foi um dos maiores avanços no acompanhamento obstétrico nas últimas décadas. Seu uso, no entanto, deve ser parcimonioso, pois a realização excessiva de exames encarece a assistência pré-natal e não traz benefícios nem para a mãe nem para o feto. A ultrassonografia deve ser realizada em períodos específicos para melhorar a detecção de determinadas condições, como o risco de cromossomopatias ou do parto pré-termo. O quadro 4 indica os melhores momentos para a realização de exames ultrassonográficos na gestação. QUADRO 4. Períodos e objetivos da ultrassonografia na gestação Período Exame Objetivo 7a9 US obstétrica endovaginal Verificar a viabilidade embrionária; semanas Afastar gravidez ectópica Diagnosticar gravidez gemelar e avaliar corionicidade Datação da gravidez 12 a 14 US obstétrica para TN Avaliar risco de cromossomopatias 20 a 24 US morfológica Avaliar a morfologia fetal semanas US endovaginal Medir o colo uterino para avaliar o risco semanas de parto pré-termo 32 a 36 US obstétrica Avaliar crescimento fetal e vitalidade semanas US: Ultrassonografia; TN: Translucência nucal Em uma gestação de evolução normal, os exames mencionados acima são mais do que suficientes para assegurar o bem estar fetal. Na vigência de intercorrências maternas ou fetais, outros exames podem e devem ser realizados, seguindo a necessidade de cada caso. 5. Sinais de alerta Envolver as mães no cuidado com a evolução da gestação é fundamental. Além das orientações sobre alimentação, vacinação e hábitos de vida (entre outras), as pacientes devem ser orientadas sobre alguns sinais de alerta que devem motivar uma consulta com seu obstetra (Quadro 5) QUADRO 5. Principais sinais de alerta na gestação Sinal Observação Sangramento vaginal Anormal em qualquer época da gravidez Cefaléia Esses sintomas, principalmente no final da gravidez, Escotomas visuais podem sugerir pré-eclâmpsia. Epigastralgia Edema excessivo Contrações regulares Sintomas indicativos de início do trabalho de parto Perda de líquido Diminuição da movimentação Pode indicar sofrimento fetal fetal Febre Pode indicar infecção Referências: 1. American College of Obstetrics and Gynecology. ACOG (American College of Obstetrics and Gynecology) Practice Bulletin: nausea and vomiting of pregnancy. Obstet Gynecol 2004; 103(4):803-15. 2. Branch DW, Gibson M, Silver RM. Clinical practice. Recurrent miscarriage. N Engl J Med 2010; 363(18):1740-7. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco: Normas e Manuais Técnicos. Cadernos de Atenção Básica - Série A, nº 32. Brasília- DF. 2012. 4. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. National Collaborating Centre For Women’s and Children’s Health. Commissioned by the National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Antenatal Care. 2008. [Acesso em 19 maio 2013]. Disponível em: http://publications.nice.org.uk/antenatal-care-cg62. 5. Schimidt LC, Corrêa Jr MD, Loures LF. Atualizações na profilaxia da Isoimunização Rh. FEMINA 2010; 38(7):345-52. 6. Schimidt LC, Lobato MM, Corrêa Jr MD, Cabral ACV, Faria MA. Genotipagem RhD fetal não invasiva no acompanhamento de gestantes RhD negativo. FEMINA 2011; 39(7):337-44. 7. Goonewardene M, Shehata M, Hamad A. Anaemia in pregnancy. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol 2012; 26(1):3-24. 8. Peña-Rosas JP, De-Regil LM, Dowswell T, Viteri FE. 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