O Último Papa A Mentira Sagrada Luís Miguel Rocha Curiosidades do Vaticano As mulheres que influenciaram os papas O interior do Palácio Apostólico O Papa implacável que transformou Roma As forças de segurança do Vaticano Os papas assassinados A Filha do Papa A história do Conclave E outros temas que apaixonaram os leitores do autor que mostrou o que está para lá dos altos muros do Vaticano. ISBN 978-972-0-04811-0 Oo 9 789720 048110 04811.10 CVAT_20154134_CP.indd 1 Luís Miguel Rocha Curiosidades do Vaticano Também publicados pela Porto Editora: Luís Miguel Rocha AUTOR DOS BESTSELLERS A MENTIRA SAGRADA E A FILHA DO PAPA Curiosidades do Vaticano Luís Miguel Rocha nasceu na cidade do Porto, em 1976. Foi técnico de imagem, tradutor, editor e guionista, até se dedicar em exclusivo à escrita. Publicou seis títulos: Um País Encantado, O Último Papa, Bala Santa, A Virgem, A Mentira Sagrada e A Filha do Papa. As suas obras estão traduzidas em mais de 30 países. O Último Papa marcou presença no top do The New York Times e vendeu meio milhão de exemplares em todo o mundo. Luís Miguel Rocha morreu a 26 de Março de 2015, em Viana do Castelo. 1 0 O 18/01/16 14:44 6 . Non fare il Portoghese Hanno, o elefante oferecido por D. Manuel I ao Papa Leão X; por Rafael. Em Itália, há uma expressão que reza assim: Non fare il Portoghese (Não faças de português). É uma deturpação de uma história antiga que hoje tem a conotação pejorativa de chico-esperto e mau pagador. Uma espécie de: Paga o que deves. A origem dessa deturpação tem dois “culpados” que, coitados, jamais conheceriam o resultado das suas acções. Os defeitos e os vícios dos homens tratam de conspurcar até as intenções mais nobres. Os protagonistas desta história foram El-Rei Dom Manuel I, pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e de 25 CVAT_20154134_F01_12.indd 25 12/01/16 13:40 Além-Mar em África, Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia, e o Papa Leão X. Em 1513, Dom Manuel I enviou a histórica e muito bem documentada Embaixada ao Papa Leão X, com o objectivo de mostrar a obediência do monarca português à Santa Sé e, ao mesmo tempo, impressioná-la. E conseguiu. Mais de cem pessoas compunham o séquito de representantes de El-Rei, chefiado por Tristão da Cunha, assessorado por Diogo de Pacheco e Diogo de Faria e secretariado por Garcia de Resende. A 12 de Março de 1514 desfilaram pelas ruas de Roma riquezas nunca vistas que despertaram a atenção da população e foram lembradas durante muitos anos. Era uma embaixada faustosa, com todos os participantes luxuosamente trajados. Levavam ao Papa, que os recebeu no dia 20 de Março no Castelo de Sant’Ângelo, pedrarias, tecidos, jóias, moedas de ouro, dois leopardos, um jaguar, papagaios, cavalos persas e Hanno, a grande estrela, um elefante albino que sabia fazer habilidades e se tornou mesmo na mascote de Leão X. O enorme paquiderme ajoelhou-se três vezes perante o Papa, em sinal de reverência, e depois cuspiu água sobre os cardeais, para grande divertimento do pontífice. Este elefante que morreu, na presença de Leão X, dois anos depois, foi sepultado por ordem do Papa no Pátio Belvedere, no Palácio Apostólico. O próprio pontífice escreveu o seu epitáfio. A embaixada de El-Rei Dom Manuel impressionou de tal maneira os romanos e o Papa que este decretou uma lei que isentava os portugueses do pagamento em hospedarias, restaurantes, teatros, entre outras benesses dali em diante gratuitas. O português não era “mau pagador”, mas antes “não pagador”. “Não pagador” por decreto papal, um privilégio concedido apenas aos portugueses. Ora, Leão X, o Papa bon vivant, tão grato e tão benemérito para connosco, esqueceu-se que estava entre latinos. Obviamente que os italianos começaram a fazer-se passar por portugueses (Fare il Portoghese), para obterem os descontos. A partir daí, nasceu uma outra expressão que repreendia quem não pagava as suas contas: Non fare il Portoghese (Não faças de português), porque era sabido que os portugueses beneficiavam da gratuitidade do decreto papal. 26 CVAT_20154134_F01_12_2PCImg.indd 26 07/01/16 17:35 E assim, um privilégio tornou-se em algo pejorativo ao longo dos tempos. Se alguma vez ouvirem um italiano dizer non fare il Portoghese, contem-lhe esta história e dêem-lhe um cascudo, não necessariamente por esta ordem. 27 CVAT_20154134_F01_12_2PCImg.indd 27 07/01/16 17:35