Documentos ISSN 0102-0110 Março, 2006 SEMINÁRIOS NÚCLEO TEMÁTICO DE BIOTECNOLOGIA – 2005 169 ISSN 0102 0110 Março, 2006 Recursos Genéticos e Biotecnologia Documentos 169 SEMINÁRIOS NÚCLEO TEMÁTICO DE BIOTECNOLOGIA – 2005 Coordenador Seminários NTBio Luis Pedro Barrueto Cid Brasília, DF 2006 Exemplares desta edição podem ser adquiridos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Serviço de Atendimento ao Cidadão Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final) – Brasília, DF CEP 70770-900 – Caixa Postal 02372 PABX: (61) 3348-4739 Fax: (61) 3340-3666 www.cenargen.embrapa.br e.mail:[email protected] Comitê de Publicações Presidente: Mauro Sergio Folle Secretário-Executivo: Maria da Graça Simões Pires Negrão Membros: Arthur da Silva Mariante Maria de Fátima Batista Maurício Machain Franco Regina Maria Dechechi Carneiro Sueli Correa Marques de Mello Vera Tavares de Campos Carneiro Supervisor editorial: Maria da Graça S. P. Negrão Normalização Bibliográfica: Maria Iara Pereira Machado Editoração eletrônica: Maria da Graça S. P. Negrão 1ª edição 1ª impressão (2006): Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo o em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610) S 471 Seminários Núcleo Temático de Biotecnologia – 2005 / Luis Pedro Barrueto Cid, Coordenador Seminários NTBio. -- Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2006. 22 p. -- (Documentos / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 0102 - 0110; 169). 1. Biotecnologia – núcleo temático – seminários. 2. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. I. Barrueto Cid, Luis Pedro. II. Série. 631.5233 – CDD 21. Editor Luis Pedro Barrueto Cid Biólogo, M.Sc., Ph.D., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília DF. APRESENTAÇÃO Recursos, SAAD, relatórios, renovação de projetos, manutenção, prestação de contas e, muitas outras coisas que nem sempre achamos agradáveis de fazer. Mas, nas Segundas feiras, às 10 h, temos um bom momento de aproximação com o mundo da ciência, onde a criatividade, o debate, o raciocínio encontram o seu ponto forte. Além disso, é um momento em que podemos conhecer o trabalho dos colegas, firmar colaborações, estreitar as relações pessoais. Portanto, é com grande prazer que apresento o resumo do conjunto de seminários proferidos durante o ano de 2005. No seu segundo ano de existência do Ciclo de Seminários da Biotecnologia, conseguimos dar regularidade as apresentações com a aquisição de um Datashow, graças a recursos recebidos pelo treinamento de pessoal, gentilmente realizado pelos colegas João B. Teixeira, Pedro Barrueto, Elibio Rech e Francisco Aragão. Ressalto ainda a figura do coordenador dos seminários, o colega Pedro Barrueto, a quem agradeço pela forma com que aceitou e tem conduzido este desafio. Mauro Carneiro Gestor do NTBio SUMÁRIO ABORDAGENS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS FÚNGICAS EM CACAU (THEOBROMA CACAO). .................................................................. 20 CAROTENÓIDES EM ALIMENTOS\................................................................................................................................................................................. ASPECTOS QUÍMICOS E TECNOLÓ-GICOS, IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA. ................................................................... 10 EMBRIOGÊNESE SOMÁTICA DE CAFÉ PARA FINS DE CLONAGEM E TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA............................................................... 11 ENDEREÇAMENTO DE PROTEÍNAS PARA CLOROPLASTOS E MITOCÔNDRIAS\..................................................................................................... O MODELO THI1. ............................................................................................................................................................................. 17 ESTUDOS DA REPRODUÇÃO VEGETAL VISANDO O DOMÍNIO DA APOMIXIA, CLONAGEM DE PLANTAS ATRAVÉS DE SEMENTES. ....................................................................................................................................................................................................... 13 ESTUDOS ULTRAESTRUTURAIS, MOLECULARES E BIOQUÍMICOS DA INTERAÇÃO Carica papaya X Colletotrichum gloesporioides X Cryptococcus magnus ..................................................................................................................................................................................... 21 EVOLUÇÃO MOLECULAR IN VITRO\ .............................................................................................................................................................................. ESTRATÉGIA PARA A SELEÇÃO DE MOLÉCULAS INSETICIDAS................................................................................................ 22 Introdução ....................................................................................................................................................................................................................... 7 MELHORAMENTO DE BANANEIRA E TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA .................................................................................................................... 14 MUTAÇÃO SUGARY EM MANDIOCA\ ............................................................................................................................................................................. UMA NOVA CLASSE MANDIOCA ..................................................................................................................................... 15 NOVOS GENES PARA ANTIGAS CULTURAS\ ............................................................................................................................................................... UTILIZAÇÃO DE RGAS COMO MARCADORES MOLECULARES PARA INTROGRESSÃO DE RESISTÊNCIAS EM AMENDOIM.19 PROTEOMA E SECRETOMA DE XANTHOMONAS CAMPESTRIS PV. CAMPESTRIS NA INTERAÇÃO COM A PLANTA HOSPEDEIRA. ..................................................................................................................................................................................................... 9 REGENERAÇÃO DE PLANTAS DE MANDIOCA VIA ALGINATO DE CÁLCIO........................................................................................................... 18 REGENERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE BRAQUIÁRIA...................................................................................................................... 16 RNA NÃO CODANTE, UMA QUEBRA NO DOGMA CENTRAL DA BIOLOGIA MOLECULAR..................................................................................... 12 TUBERIZAÇÃO IN VITRO DE MANDIOCA (MANIHOT ESCULENTA CRANTZ). .................................................................................................................. 23 SEMINÁRIOS NÚCLEO TEMÁTICO BIOTECNOLOGIA – 2005 DE Luis Pedro Barrueto Cid INTRODUÇÃO ll Ciclo de Seminários do Núcleo Temático de Biotecnologia – NTBio. Apresentamos uma síntese dos seminários de 2005 do NTBio. A publicação dos resumos, em sua maioria, visa difundir de forma concisa, porém, clara a nossa produção de conhecimentos. Gerar conhecimentos para o crescimento sustentável do agronegócio é nossa missão, assim o dinheiro publico que recebemos é transformado em conhecimento, um recurso sutil e pouco tangível, mas altamente valioso e gerador de poder e riqueza dentro desse novo paradigma que é a biotecnologia, que visa reduzir o impacto do homem no meio ambiente, melhorar a qualidade de vida das pessoas, bem como, aumentar a eficiência do agronegócio. Por outro lado, o seminário é o crisol onde o conhecimento borbulha, aprimorase, depura-se e forja-se. Neste cenário, o rigor científico patrulha a fragilidade conceptual e não deixa a duvida ou erro represar-se, mas, pratica-se a tolerância, a camaradagem profissional e a perspicácia intelectual como exercício salutar do fluir das idéias e foi exatamente isso, o que empolgou a nosso auditório, registrando-se no final do ciclo em torno de 500 participantes. Nossos seminários tem se desenvolvido a um ritmo continuado a pesar de nossas dificuldades financeiras, no âmbito da captação de recursos, mas, refletem nossa vocação e nosso entusiasmo pela pesquisa, isto é, por essa espécie de jogo cientifico de "tentativa e erro", dentro da perspectiva de viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável. Pedro Barrueto Coordenador Seminários NTBio PROTEOMA E SECRETOMA DE XANTHOMONAS CAMPESTRIS PV. CAMPESTRIS NA INTERAÇÃO COM A PLANTA HOSPEDEIRA. Angela Mehta (Ph.D.) Projeto: Proteoma de Xanthomonas campestris pv. campestris na interação com a planta hospedeira. A podridão negra, causada por Xanthomonas campestris pv. campestris, é uma doença de grande importância econômica no Brasil e no mundo, pois atinge diversas culturas como repolho, brócolis, couve, entre outras crucíferas. Embora alguns genes de X. campestris envolvidos na patogenicidade tenham sido reportados, pouco se conhece sobre a expressão diferencial global desta bactéria na interação com a planta hospedeira ou em condições controladas. O objetivo deste estudo foi analisar a expressão diferencial de proteínas de X. campestris pv. campestris na interação com a planta hospedeira (repolho). Folhas jovens de Brassica Oleracea foram infiltradas com uma suspensão de bactéria e 6 dias após a infiltração, a bactéria foi recuperada para extração de proteínas. As proteínas foram analisadas através de eletroforese bidimensional (2-DE) e visualizados após a coloração com nitrato de prata. A bactéria cultivada em meio complexo (NYG) foi utilizada como controle. A análise dos mapas obtidos revelou um total de 300 a 350 proteínas por gel, sendo que os tamanhos variaram de 10 a 100 KDa e o pI de 4 a 8. A comparação dos mapas da bactéria in vivo e cultivada em NYG revelou 17 proteínas diferencialmente expressas na condição in vivo e 20 na condição controle (NYG). Algumas proteínas diferenciais observadas foram analisadas através de espectrometria de massa e identificadas utilizando o Programa Mascot. Foi realizada também a determinação da atividade de algumas enzimas hidrolíticas extracelulares de X. campestris pv. campestris in vivo, envolvidas na degradação da parede celular das células hospedeiras, incluindo xilanases, αarabinofuranosidases e celulases. CAROTENÓIDES EM ALIMENTOS: ASPECTOS QUÍMICOS E TECNOLÓ-GICOS, IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA. Delia B. Rodriguez Amaya1 (Ph.D.) Os carotenóides são corantes naturais que apresentam funções biológicas em relação a saúde humana tais como atividade pró-vitamínica A; redução do risco de doenças degenerativas como câncer, doenças cardiovasculares, catarata e degeneração macular; e fortalecimento do sistema imunológico. O Brasil possui uma variedade notável de alimentos carotenogênicos. Uma boa parte desta riqueza natural já foi analisada, inclusive produtos processados e alimentos preparados, proporcionando o banco mais extenso de dados confiáveis sobre carotenóides no mundo. Os principais carotenóides encontrados em alimentos são o β-caroteno, α-caroteno, β-criptoxantina, luteína, licopeno e violaxantina. Os primeiros cinco são também os mais encontrados no sangue humano. Juntamente com a zeaxantina, são os carotenóides já demonstrados como benéficos à saúde humana. Os carotenóides β-caroteno, αcaroteno e β-criptoxantina são pró-vitaminas A. A luteína e a zeaxantina são os carotenóides implicados na redução do risco de degeneração macular (principal causa de cegueira no idoso) e catarata. Mais eficiente que o β-caroteno como antioxidante, o licopeno mostrou ação contra o câncer, a evidência sendo mais forte em relação ao câncer de próstata, estômago e pulmão. A possível atuação de violaxantina em relação às doenças ainda não foi demonstrada. Os alimentos variam largamente na sua composição qualitativa e quantitativa de carotenóides. Existe também variação na composição de um dado alimento devido aos fatores como variedade ou cultivar, estágio de maturação, clima ou localização geográfica, parte da planta utilizada, e técnica de produção. Por serem moléculas altamente insaturadas, os carotenóides são susceptíveis a isomerização e oxidação, as condições para as quais ocorrem durante o preparo doméstico, processamento industrial e estocagem dos alimentos. Calor, luz e ácidos promovem a isomerização dos carotenóides trans, como são normalmente encontrados na natureza, para a forma cis, com ligeira perda de cor e atividade biológica. A oxidação, principal causa de degradação dos carotenóides, depende da disponibilidade de oxigênio, tipo de carotenóide e de seu estado físico. É estimulada pela luz, calor, metais, enzimas oxidativas e peróxidos, e é inibida por antioxidantes. Por outro lado, o processamento pode aumentar a bio-disponibilidade dos carotenóides. 1 Departamento de Ciência de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, C.P. 6121, 13083-862 Campinas, SP. EMBRIOGÊNESE SOMÁTICA DE CAFÉ PARA FINS DE CLONAGEM E TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA João Batista Teixeira (Ph.D.) Projeto: Avaliação da resposta embriogênica e produção de mudas de dez híbridos de café via embriogênese somática. Com os sucessivos retrocruzamentos e autofecundações na busca da uniformidade genética de uma nova variedade, os caracteres de interesse acabam por segregar nas gerações avançadas. Assim, a alternativa passa a ser o lançamento de variedades híbridas, que possam reunir diferentes caracteres de interesse, além de apresentar algum grau de heterozigose. Entretanto, para isso é essencial dispor de uma metodologia eficiente de clonagem via embriogênese somática para produção de mudas em larga escala, a qual apresenta as seguintes vantagens: grande número de embriões podem ser produzidos por g de células; a muda de embrião somático é muito semelhante à de semente; as pesquisas encontram-se bastante adiantadas; o comportamento no campo não difere de plantas derivadas de sementes. O processo vem sendo ajustado e melhorado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, mas já apresenta no momento uma alta eficiência. Cada folha inoculada resulta em torno de 60 segmentos, dos quais de 15 a 100% vão produzir pelo menos um setor embriogênico. Os 10 calos embriogênicos produzidos pesam em média 0,5 g, que, em cultivo em meio de multiplicação líquido, vai resultar em 16 g de células após três meses de cultivo. Cada grama em meio de regeneração tem produzido em média 20.000 embriões. Assim, as 16 g vão produzir ao final do processo, considerando uma eficiência de 50% em cada fase, em torno de 75.000 mudas. Os testes de campo tem mostrado uma alta uniformidade das plantas, o que demonstra a viabilidade do processo. RNA NÃO CODANTE, UMA QUEBRA NO DOGMA CENTRAL DA BIOLOGIA MOLECULAR. Natália Florêncio Martins (Ph.D.) Projeto: BIEM – Bioinformática a serviço da EMBRAPA O dogma central da biologia molecular descreve que o DNA é transcrito em RNAm que por sua vez é traduzido numa sequencia de aminoácidos para formar uma proteína. Neste cenário o RNA executa um papel acessório, de transferência de informação. Contudo o RNA não é usado meramente como um intermediário na produção de proteínas. Existem outros tipos de RNAs, conhecidos como não codante (ncRNA), cuja função não é ser traduzido em proteína. Exemplos de RNA não codantes tRNA, rRNA, RNAs. Esta apresentação revisa os conceitos importantes e as novas descobertas destas moléculas intrigantes. Mostra os métodos experimentais e computacionais para detecção de RNA não codantes. ESTUDOS DA REPRODUÇÃO VEGETAL VISANDO O DOMÍNIO DA APOMIXIA, CLONAGEM DE PLANTAS ATRAVÉS DE SEMENTES. Vera Tavares de Campos Carneiro (Ph.D.) Projeto: Estudos da reprodução vegetal visando o domínio da apomixia, clonagem de plantas através de sementes. Apomixia é um modo de reprodução assexual de angiospermas que gera progênie geneticamente idêntica à planta-mãe. O embrião se desenvolve autonomamente, de gametófito feminino não reduzido. Trata-se portanto de um modo natural de clonagem de plantas por sementes. Nossa equipe vem estudando elementos da apomixia de Brachiaria visando domínio do processo para desenvolver estratégias tecnológicas de fixação de genótipos. Foram identificados genes de expressão na megasporogênese e megagametogênese de ovários de plantas sexuais e apomíticas. Método de transformação foi otimizado com alterações na cultura de tecidos usados em experimentos de biobalística, determinação de promotores heterólogos de maior expressão, condições de bombardeamento e seleção de explantes transformados. Foi evidenciada pseudogamia em plantas apomíticas por análises morfológicas e verificada a formação de endosperma triplóide. Plantas sexuais de B. brizantha que tiveram o número de cromossomos duplicado pela aplicação de colchicina, tornandose tetraplóides, mantiveram características da sexualidade como a estrutura do gametófito feminino que, de modo geral, é diferenciada em plantas apomíticas. Iniciouse o estabelecimento de técnicas de cultura de tecidos para obtenção de haplóides e fertilização in vitro. Foram estabelecidas condições de cultura in vitro de anteras de diferentes genótipos e, mantidos os calos derivados. Explantes da flor feminina como pistilo, ovário e óvulo foram avaliados no estudo da polinização e fertilização in vitro e definidos meios nutritivos para germinação dos grãos de pólen e crescimento do tubo polínico na ausência e presença de explante feminino. Marcadores moleculares foram desenvolvidos com estratégia de microsatélites. Apomixia foi detectada em outras espécies de plantas tropicais e nativas. MELHORAMENTO DE BANANEIRA E TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA Kazumitsu Matsumoto (Ph.D.) Projeto: Melhoramento genético da bananeira Banana é uma importante fruta, tanto social quanto economicamente. Entretanto existem relativamente poucos cultivares geneticamente melhorados. Isto deve ser causada, pelo menos alguma parte, por sua natureza de partenocarpia. Para superar o problema, têm sido desenvolvidos vários métodos de melhoramento além do aperfeiçoamento do método convencional de hibridação por polinização cruzada. Em comparação com o método convencional, foram então revisados métodos de indução de mutação, hibridação por fusão de protoplastos e transformação genética. Dentro da transformação genética, foram ainda detalhados métodos por biolística, Agrobacterium e eletroporação. O método de hibridação por polinização cruzada foi, até no momento, o que deu mais sucesso, criando várias novas variedades. Entretanto, sua aplicação é restrita para alguns cultivares, não podendo aplicar aos cultivares de banana para exportação que é do grupo Cavendish. Para o melhoramento dos cultivares do grupo Cavendish, os métodos de transformação genética podem ser de mais promissores. MUTAÇÃO SUGARY EM MANDIOCA: UMA NOVA CLASSE MANDIOCA Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho (Ph.D.) Projeto: Análise de expressão gênica em mutantes espontâneos na rota metabólica de sacarose/amido e carotenóides em raiz de reserva de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Um tipo distinto de raiz de reserve de mandioca é conhecido na Comunidade Indígena Brasileira, pelo menos há mais de 500 anos. No entanto esta planta não é cultivada para exploração comercial e nem como fonte de genes para o melhoramento genética da cultura da mandioca. Através de nossos estudos de coleta no centro de origem e domesticação da mandioca na Amazônia Brasileira, da caracterização bioquímica, genética e molecular, identificamos varias variantes de rupturas na rota metabólica de sínteses de amido nesta diversidade que são de grande importância para o melhoramento da cultura da mandioca. Entre elas destacam-se as identificações de mutações espontâneas na rota metabólica sacarose-amido originando a mutação sugary em mandioca com elevados teores de açúcar livre (principalmente glicose) e três variantes na estrutura da amilopectina (amido tipo glicogênio, amido seroso, amido não convencional). Técnicas de genômica funcional, biologia molecular convencional e bioquímica usadas indicaram que o gene que codifica para a enzima de ramificação subunidade I não é expresso no mutante amido tipo glicogênio e que cerca de 4 genes são responsáveis pelo fenótipo sugary em raiz de reserva de mandioca, o que estabelece uma nova classe de mandioca. REGENERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE BRAQUIÁRIA. Glaucia Barbosa Cabral (M.Sc.) Projeto: Transformação genética de Braquiária A necessidade de desenvolvimento de uma metodologia eficiente de transformação genética de braquiária para ser utilizada com finalidades de suporte em melhoramento, gerando plantas transgênicas estáveis com alta eficiência, foi o fator indutor deste trabalho. Assim, no desenvolvimento deste projeto, estão sendo desenvolvidas ações em todos os níveis que possam contribuir para a melhoria final da transformação genética, desde a manutenção in vitro de plantas, passando pela cultura de tecidos e transformação. Neste trabalho, estão sendo, então, desenvolvidas metodologias de regeneração in vitro de plantas de B. brizantha e de B. decumbens de reprodução apomítica e sexual. Plântulas foram obtidas a partir de calos embriogênicos e de segmentos basais. O sistema de embriogênese indireta da planta apomítica partindo de sementes maduras foi otimizado, atingindo 80% de regeneração de plantas no total de sementes inoculadas. Foi desenvolvida metodologia para cultura de células embriogênicas de braquiária, que estão sendo mantidas em repicagens periódicas. Foi construído e testado vetor de transformação, contendo promotores específicos para monocotiledôneas, que está sendo utilizado na construção de vetor binário para o sistema Agrobacterium tumefasciens. Foram conduzidos testes de susceptibilidade e co-cultivo de Brachiaria spp. à Agrobacterium spp. Variáveis físicas da técnica de biobalística foram estabelecidas e plantas transgênicas de braquiária foram obtidas por este método. O resultado final foi que existe agora a possibilidade de utilização para a transformação de vários explantes, com ótima eficiência embriogênica ou organogênica, e de regeneração de plantas, além do avanço na identificação das variáveis de impacto na transformação, que juntos com o desenvolvimento de vetores de transformação mais apropriados à braquiária tornam mais próxima a obtenção de metodologia de transformação de braquiária de alta eficiência. ENDEREÇAMENTO DE PROTEÍNAS PARA CLOROPLASTOS E MITOCÔNDRIAS: O MODELO THI1. Juliana Dantas de Almeida (Ph.D.) THI1 é provavelmente uma proteína bifuncional, já que está envolvida na biossíntese de tiamina e na estabilidade do DNA organelar, notadamente o mitocondrial. Interessantemente, a biossíntese de tiamina ocorre em compartimentos distintos em plantas (cloroplastos) e em leveduras (mitocôndrias). A proteína THI1 de Arabidopsis thaliana é codificada por um único gene. Uma análise detalhada do N-terminal da proteína revelou a presença de duas sequências de direcionamento adjacentes: um peptídeo de trânsito cloroplástico e uma região capaz de formar uma α-hélice anfifílica, tipicamente encontrada em pré-sequências de direcionamento mitocondriais. Com o objetivo de avaliar se a localização final de THI1 apresenta algum tipo de regulação temporal ou espacial, foram obtidas plantas transgênicas de A. thaliana expressando THI1 fundida a GFP ("green fluorescent protein"). Análises dessas plantas por meio de microscopia confocal revelaram que THI1 está presente majoritariamente em cloroplastos e raramente em mitocôndrias. Ao contrário do que acontece em A. thaliana, em cana de açúcar foram encontrados pelo menos três isoformas/parálogos de thi1. O alinhamento da seqüência de aminoácidos dessas isoformas com a THI1 de A. thaliana revelou alta similaridade, inclusive na seqüência de direcionamento. Com o objetivo de avaliar o padrão de direcionamento dessas isoformas de cana de açúcar, foram obtidas construções gênicas contendo ou a seqüência de direcionamento completa ou o peptídeo de trânsito cloroplástico ou a pré-seqüência mitocondrial, fundidas a GFP sob o comando do promotor 35S. A expressão transiente dessas construções em epiderme de cebola revelou que no caso da presença da seqüência de direcionamento completa ou o peptídeo de trânsito, o direcionamento ocorreu apenas para os cloroplastos. No caso das construções contendo somente a seqüência de direcionamento mitocondrial a GFP permaneceu difundida no citoplasma. REGENERAÇÃO DE PLANTAS DE MANDIOCA VIA ALGINATO DE CÁLCIO L. Pedro Barrueto Cid (Ph.D.) Projeto: Análise de expressão gênica em mutantes espontâneos na rota metabólica de sacarose/amido e carotenóides em raiz de reserva de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Aproveitando a existência de mutantes naturais, no projeto sobre agrobiodiversidade da mandioca na Amazônia em execução no Cenargen, os estudos têm estado focalizados na rota metabólica da síntese do amido e carotenóide, presente na raiz. Estes estudos estão sendo executados com auxílio de varias técnicas, envolvendo genômica funcional, biologia molecular e bioquímica. A cultura de tecido em relação a estes estudos tem sido um complemento eficaz porque tem permitido conservar in vitro estes diferentes genótipos elites, em lugar de, um dispendioso campo experimental. Mas, a rápida dinâmica de crescimento in vitro destes materiais tem obrigado, a constantes repicagem dos mesmos, redobrando os esforços de mão-de-obra e consumo de reagentes. Por tanto, foi levantada a hipótese, de que, o armazenamento destes genótipos poderiam ser feito por algum tempo, via sementes sintéticas. Para tanto, gemas axilares de plantas in vitro de diferentes genótipos de nossa coleção de mutantes, foram encapsuladas em alginato de cálcio envolvendo diferentes tratamentos, e mantidas, por 30 dias em placa Petri, com meio SP, 15 °C e no escuro. Após deste período, as gemas encapsuladas foram transferidas para tubos de ensaios com o mesmo meio e deixadas em presença de luz e temperatura de 27 °C. Nestas condições, foi verificado que altos porcentagem de conversão de plantas foram obtidos (70%-80%), indicando que o alginato não teve um efeito deletério sobre as gemas. Tais resultados abrem boas perspectivas de exploração para novos ensaios, testando outras variáveis visando aprimorar o armazenamento de mandioca com alginato. NOVOS GENES PARA ANTIGAS CULTURAS: UTILIZAÇÃO DE RGAS COMO MARCADORES MOLECULARES PARA INTROGRESSÃO DE RESISTÊNCIAS EM AMENDOIM. Soraya C. M. Leal-Bertioli (Ph.D.) Projeto: Desenvolvimento de ferramentas genéticas para o uso de espécies silvestres de Arachis em programas de pré-melhoramento de amendoim. O amendoim, Arachis hypogaea, é uma leguminosa cultivada nos trópicos em cerca de 4.8 milhões de hectares, em mais de 90% dos casos, por pequenos produtores. Surgiu na América do Sul, a partir de um evento de hibridização de uma espécie com genoma “A” e uma espécie com genoma “B”. A planta resultante, o amendoim tetraplóide, ficou geneticamente isolado dos parentes diplóides. Conseqüentemente, esta espécie tem baixa diversidade genética e fontes limitadas de resistência. Faz-se necessário, então, transferir genes de resistência das espécies silvestres para a cultivada, pulando a barreira de fertilidade através da criação de híbridos tetraplóides e do desenvolvimento de marcadores moleculares baseados em regiões análogas em genes de resistência (RGAs) para auxiliar o melhoramento assistido. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia possui o maior banco de germoplasma de espécies silvestres de Arachis do mundo, a partir das quais foram isolados RGAs (Bertioli et al., 2003). Para transforamação dos mesmos em marcadores moleculares foram utilizados os seguintes métodos: Southern blot (utilizando RGAs como sonda, Guimarães et al., 2005), PCR (utilizando RGAs para desenhar primers específicos) e AFLP-display (Linden et al., 2004), uma técnica semelhante ao AFLP, em que um primer é específico para os motivos de RGAs. No total, 38 marcadores foram desenvolvidos e genotipados em uma população de mapeamento de genoma AA, para a qual, um mapa já foi desenvolvido (Moretszohn et al., 2005). Com bioensaios espera-se poder relacionar estes RGAs com resistênciaa nematóides. ABORDAGENS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS FÚNGICAS EM CACAU (THEOBROMA CACAO). Lucilia Helena Marcellino (Ph.D.) Projeto: Estudos moleculares e ultraestruturais da interação entre endofíticos, Crinipellis perniciosa e Theobroma cacao O cacau é uma commodity de grande importância para o Brasil. Esta cultura é atacada por doenças fúngicas que podem levar a perda de até 90% da lavoura tendo conseqüências sociais, econômicas e ecológicas importantes. Dentre estas doenças estão a Vassoura-de-Bruxa causada pelo fungo Crinipellis perniciosa, a Podridão Parda causada por Phytophthora spp. e Monilíase causada pelo fungo Moniliophthora roreri. No intuito de entender e buscar soluções para o controle destas doenças, diversas linhas de pesquisa estão sendo conduzidas enfocando aspectos moleculares dos patógenos, hospedeiros e a interação entre eles. No nosso laboratório, iniciamos a análise proteômica do patosistema Crinipellis/Cacau em diferentes tempos de infecção. Identificamos populações protéicas que são expressas durante o curso da infecção. Além disto, clonamos o gene de osmotina. A osmotina é uma proteína potencialmente expressa quando da infecção por patógenos e possui propriedades antifúngicas. A análise deste gene pode oferecer maior entendimento sobre a interação cacau/patógeno. Adicionalmente, foi feita a busca de componentes naturais contra o fungo. Neste aspecto, identificamos novas substâncias capazes de inibir o crescimento de micélios de Phytophthora e Crinipellis além de inibir a germinação de esporos de Crinipellis. Atualmente estamos avaliando o papel dos endofíticos na resistência da planta ao patógeno no âmbito do projeto “Estudos moleculares e ultraestruturais da interação entre endofíticos, C. perniciosa e T. cacao”. Assim, iniciamos o isolamento e teste de endofíticos com potencial de oferecer resistência tanto a Crinipellis quanto Phytophthora. É nossa expectativa obter conhecimento sobre as respostas de resistência da planta ao patógeno sob este novo enfoque. ESTUDOS ULTRAESTRUTURAIS, MOLECULARES E BIOQUÍMICOS DA INTERAÇÃO Carica papaya X Colletotrichum gloesporioides X Cryptococcus magnus Guy de Capdeville (Ph.D.) Projeto: Rede de Pesquisa em Sanidade Vegetal: análise e mitigação dos riscos na importação e exportação de produtos agrícolas Estão sendo estudados microrganismos antagônicos para controle da antracnose do mamão em pós-colheita. Foram coletados da microflora epifítica de folhas e frutos de mamão 167 isolados de microorganismos fúngicos e bacterianos. Tais isolados foram testados "in vitro" e "in vivo" para sua efetividade em controlar a antracnose do mamão em pós-colheita. Foram realizados estudos ultraestruturais, moleculares e bioquímicos desta interação tripla para tentar entender os modos e mecanismos de ação destes agentes de controle de forma a gerar subsídios para o estabelecimento de uma estratégia de controle ambientalmente amigável para o controle de doenças póscolheita de frutos. De posse destas informações tornar-se-á possível desenvolver um produto comercial que possa ajudar no combate a enfermidades pós-colheita de frutos de Carica papaya. EVOLUÇÃO MOLECULAR IN VITRO: ESTRATÉGIA PARA A SELEÇÃO DE MOLÉCULAS INSETICIDAS. Maria Cristina Mattar da Silva (Ph.D.) Projeto: Estratégias moleculares aplicadas à prospecção de genes para o controle de insetos-praga. Evolução de moléculas in vitro é uma metodologia que vêm sendo aplicada recentemente em importantes problemas ligados à agricultura. A nossa linha de pesquisa tem empregado esta metodologia para obter genes com atividade nova ou melhorada para controle de pragas de impacto econômico para agricultura. Neste contexto, os genes que codificam para proteínas com potencial bioinseticida, tais como as toxinas Bacillus thurigiensis (Bt) e os inibidores de α-amilases, isolados de feijão comum, foram fragmentados e recombinados seguindo protocolos básicos de DNA shuffling. Os produtos da aplicação de DNA shuffling combinados com a técnica de Phage Display possibilitaram a criação de bibliotecas combinatórias composta por biomoléculas de formas variantes, apresentadas na superfície de fagos filamentosos. Cada membro da biblioteca apresenta uma forma distinta que determinará a capacidade de interação deste com a molécula alvo. Partindo das bibliotecas de genes variantes para diferentes toxinas Cry e de variantes para inibidores de α-amilases foram identificadas moléculas mostrando afinidade pelas proteínas receptoras (BBMV) ou pelas enzimas α-amilases do intestino das larvas do bicudo do algodoeiro e da largarta-do-cartucho do milho, duas importantes pragas das plantas de algodão. Alguns genes variantes para diferentes toxinas Cry foram selecionados em ensaios in vivo quanto ao efeito letal sobre as larvas de Anthonomus grandis e/ou Spodoptera frugiperda. Os resultados preliminares validam a estratégia de evoluir moléculas in vitro para selecionar genes ativos e específicos com o objetivo final de aplicação em programas de melhoramento de plantas, a fim de conferir-lhes resistência a inseto-pragas. TUBERIZAÇÃO IN VITRO DE MANDIOCA (MANIHOT ESCULENTA CRANTZ). Ricardo Daniel Medina21 O fenômeno de tuberização de raiz de mandioca tem sido pouco pesquisado. Informações sobre a biologia, a bioquímica e a fisiologia do mesmo aguardam ser exploradas. Isto gera a necessidade de definirmos um modelo controlado de formação de raiz de reserva para estudos avançados. O objetivo deste trabalho foi determinar os fatores que afetam este processo em mandioca e estabelecer um modelo in vitro que servirá como ferramentas para estudos bioquímicos e moleculares. Procedimentos de cultura de tecidos e anatomia vegetal foram utilizados. Foram analisados fatores intrínsecos (genótipo e posição de nós) como extrínsecos (tratamentos com concentração diferente de sacarose e reguladores de crescimento vegetal). Os estudos morfológicos e anatômicos revelaram a diferenciação de dois tipos de raízes. Uma que tem a função de absorção (raiz fibrosa) e outra que apresenta características de uma raiz de reserva (raiz tuberosa). Embora esta ultima não tenha semelhança à raiz de reserva de planta cultivada em campo, a mesma diferenciou tecidos de parêmquima competentes para sintetizar e armazena amido. A formação deste tipo de raiz foi afetada significativamente pelo genótipo e distribuição das gemas no caule original. Alem do mais, as mesmas, produziram o rendimento ótimo com determinada concentração de sacarose e combinações de reguladores de crescimento. Estudos bioquímicos e moleculares serão desenvolvidos para caracterizar estes dois tipos de raízes em mandioca. 2 Instituto de Botánica del Nordeste (IBONE), Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Corrientes, Argentina.