Aproximação Comercial entre Argentina e a China pode causar impacto negativo nas exportações de Máquina e Implementos Agrícolas Prof. Dr. José Carlos de Lima Júnior Escrito em 20 de janeiro de 2015 Sócio da MARKESTRAT e professor de pós-graduação no PECEGE/ESALQ-USP, FUNDACE-USP, FGV e FAAP [email protected] Um acordo comercial entre a Argentina e a China deveria acender a luz vermelha no Governo Brasileiro da mesma forma que já acendeu na indústria brasileira. Em crise, Argentina torna-se porta de entrada da China na América do Sul. Peso da Argentina: Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a Argentina é o terceiro maior comprador do Brasil, fornecendo receita de US$ 7,4 bilhões entre os meses de janeiro e julho de 2014 – último dado detalhado disponível , o que significa que Los Hermanos contribuíram com quase 7% das exportações brasileiras. A China, primeira colocada, aportou 23,8 bilhões (21,6%), seguido dos EUA, com 12,7 bilhões (11,5%). Entretanto, merece atenção: A China é uma grande importadora de commodities metálicas e agrícolas, portanto compra volume de produtos com baixo grau de industrialização. Na comparação 2014/2013, o comércio para o país cresceu 4%; Nos EUA, 55% das importações são de máquinas mecânicas, aviões e combustível, seguido de 25% de petróleo bruto e café e 20% de ferro, aço e pasta de madeira. Na comparação 2014/2013, houve um incremento de 11%; A Argentina, terceiro comprador, teve queda de 20,4% nas importações de produtos do Brasil. Um valor significativo se considerado que os produtos exportados para o país vizinho são, em maioria, automóveis, tratores, máquinas agrícolas e acessórios para manutenção dos maquinários. Como está a Argentina: Em 2014, a Argentina teve um déficit fiscal crescente. A insegurança política gerou queda nos investimentos estrangeiros e falta de apoio internacional, além de redução nas reservas do Banco Central Argentino. Devido a esse cenário, o país passou a não ter o apoio de dois importantes parceiros comerciais, os EUA e a União Europeia. Para agravar, há de recordar que o calote da dívida pública declarada no ano de 2001 ainda hoje prejudica o país, pois não tem acesso a crédito nos mercados internacionais. Portanto, o país integrante do Mercosul e terceiro maior importador do Brasil enfrentou uma grave crise. E o socorro, que talvez pudesse vir do Brasil, surgiu do Pacífico, com o alinhamento de convênio entre Argentina e China. Acordo Argentina-China: em 2011, o Banco Central Argentino tinha US$ 52 bilhões, valor que hoje está em US$ 30 bilhões. Devido à necessidade de socorro para não paralisar as operações do país, as capitais Pequim e Buenos Aires se aproximaram por meio de um acordo de infraestrutura, o que envolveu a assinatura de 20 convênios e previsão de US$ 7,5 bilhões em investimentos chineses na Argentina. Também foi firmado um swap (troca) no valor de US$ 2,7 bilhões, que é uma transação realizada entre os bancos dos dois países, realizado em moedas diferentes (yuans e peso argentino) e taxas de câmbio idênticas, o que caracteriza uma ação de troca de risco. Impacto do Acordo: um dos artigos do convênio entre os países permitirá, nos próximos cinco anos, acordos comerciais e de investimentos sem a necessidade de nova análise do Parlamento. Portanto, a China que aportará recursos financeiros (de risco) na Argentina em troca de mercado. Destaca-se que a China tem recursos financeiros em volume e à disposição. Essa ação é similar ao que o país asiático fez em Angola e Nigéria, ambos no continente Africano. O fato é que essa ação abre uma porta no mercado da América do Sul, o que pode se tornar um tiro de misericórdia no Mercosul e, em particular, em muitas operações comercias do Brasil. Então, o Brasil...: a Argentina importa, em sua maioria, veículos, máquinas e implementos agrícolas do Brasil. Em 2014/2013, essas compras tiveram queda de 34% em valores, enquanto os equipamentos chineses aumentaram em 14%. Recorda-se que a própria participação da Argentina nas exportações brasileiras já trouxe queda de mais de 20% no primeiro semestre 2014/2013. Em Ribeirão Preto, município paulista, no ano de 2014 foram exportados US$ 6,2 milhões. Queda de 17% se comparado com 2013, período em que o município somou US$ 7,6 milhões com as exportações de máquinas agrícolas. E o destino das exportações ribeirãopretanas tiveram a Venezuela em primeiro lugar, 14,12%, Holanda, 10,8% e Argentina, com 7,16%. O problema é que Venezuela enfrenta uma grave crise devido à queda do petróleo e o país é, assim como a Argentina, um importante destino de máquinas e equipamentos A abertura de mercado deve impactar de forma direta todos os municípios que produzem e exportam máquinas. O fato é que Brasil perde com esse acordo, já que a maioria dos produtos que serão exportados a partir da China para a Argentina com o novo acordo serão, também, veículos e máquinas. Portanto, ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) e ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) têm uma nova fonte de preocupação. E o Governo Made in Brazil: replicando a frase da matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, “[...] O governo brasileiro preferiu não se manifestar. O Ministério do Desenvolvimento disse não conhecer os detalhes do acordo - disponível na página do Senado argentino na internet - e ser essa uma questão do Itamaraty. A diplomacia brasileira silenciou ao ser procurada pelo Estado”1. Ou seja, uma semente que pode impactar negativamente os negócios do Brasil já está plantada e o Estado prefere, em vez de agir, identificar de quem é a responsabilidade. 11 Matéria publicada dia 18 de janeiro de 2015, disponível em http://m.estadao.com.br/noticias/economia,acordo-isola-o-brasil-eabre-a--porta-da-america-do-sul-a-china-,1621419,0.htm