AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ANALGESIA E SEDAÇÃO EM PACIENTES QUEIMADOS TRATADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE CENTRO DE TRATAMENTO ESPECIALIZADO João Paulo Maximiano Favoreto; Josiane Festti; Cintia Magalhães Carvalho Grion, email: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/ Departamento de Clínica Médica Área: Ciências da Saúde / Sub-área: Medicina Palavras-chave: Anestesia; analgésicos; queimados. Resumo O tratamento da dor é no paciente queimado é um aspecto importante nas fases iniciais e para evitar a cronificação e suas mudanças fisiológicas além de ajudar no manejo desse tipo de paciente. Foi desenvolvido um estudo longitudinal retrospectivo. A população de estudo foi de pacientes internados nos leitos da Unidade de Terapia Intensiva Centro de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital Universitário de Londrina (HU). Foram coletados dados dos pacientes queimados internados no período de maio de 2011 a dezembro de 2013. A amostragem foi de 178 indivíduos em que 129 (72,47%) eram homens e 49 (27,53%) eram mulheres com média de 42 anos. O estudo demonstrou a grande utilização de medicamentos analgésicos para o tratamento da dor no paciente queimado com mediana de tempo de uso entre 3 e 23 dias. Foi observado que as possibilidades relacionadas às classes dos medicamentos foram amplamente utilizadas, inclusive concomitantemente. A avaliação das práticas de analgesia demonstrou a utilização de variadas classes de medicamentos no tratamento da dor no paciente queimado. Dentre as classes vale-se ressaltar a utilização dos medicamentos opioides, sedativos neurolépticos e analgésicos comuns. Introdução e objetivo A mortalidade por queimaduras é estimada em 5% a 8,4% para queimaduras em geral e até 55% para queimaduras em mais de 30% da superfície corpórea (MILLER SF et al, 2006; RICHARDSON P & MUSTARD L, 2009; PHAM T N et al, 2009). O grande queimado é um paciente complexo pela sua grande variação de incidência na população, variando em todas as idades e etnias. As queimaduras são provocadas por vários mecanismos como fogo, água aquecida, produtos químicos e descargas elétricas variando em sitio e profundidade (PRAXEDES MG et al 2010; ANDERSON TA & FUZAYLOV G, 2014). 1 Os agentes anestésicos têm sido utilizados com segurança em pacientes com grande queimadura. A seleção dos agentes depende do estado das vias aéreas e as características do paciente. Os efeitos das drogas dependem da distribuição, transformação e excreção, e de mudanças na população de receptores. Existe a destruição periférica dos receptores que leva ao mecanismo da dor, porém a lesão parcial dos nervos leva a um estado de condução de pulso constante. Em geral ocorre uma resposta bifásica correspondente ao choque e a fase hipermetabólica (GATTINONI L et al, 1995). Por tanto esse trabalho tem como finalidade descrever as práticas de analgesia e sedação de pacientes vítimas de queimaduras e tratados em unidade de terapia intensiva do centro de tratamento especializado. Procedimentos metodológicos O projeto principal vinculado a esse subprojeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa local sob o parecer CEP nº 001/2011. Realizado como estudo longitudinal retrospectivo amostragem de conveniência de todos os pacientes queimados internados consecutivamente no Hospital Universitário/ Universidade Estadual de Londrina (HU/UEL), na Unidade de Terapia Intensiva Centro de Tratamento de Queimados (UTQ), no período de estudo. Inclusão de pacientes queimados internados na UTQ/HU/UEL no período de maio de 2011 a dezembro de 2013 sendo o critério de exclusão pacientes menores que 18 anos e dados insuficientes no prontuário. Resultados e discussão A amostragem foi de 178 indivíduos em que 129 (72,47%) eram homens e 49 (27,53%) eram mulheres com média de 42 anos. Dessa amostragem foi dividido entre acidente de trabalho e doméstico sendo caracterizado o agente causador da lesão como elétrica e térmica. Em relação às comorbidades do paciente, foram encontrados que 48,31% não apresentavam nenhum tipo de comorbidade, porem 15,73% eram etilistas e 6,74% apresentavam diabetes mellitus. A sedação e analgesia dos pacientes foram avaliadas pela quantidade de dias de uso de medicamentos (Tabela 1). Com relação a associação de medicamentos, a terapia dupla foi aplicada em 27 pacientes, tripla em 36 pacientes, 4 medicamentos foram utilizados em 48 pacientes, 5 medicamentos em 26 pacientes, 6 medicamentos em 35 pacientes e em 6 casos foi necessária a combinação de 7 medicamentos. A combinação mais comum foi o uso de um opioide associado a 2 analgésicos comuns, um sedativo e um neuroléptico. A introdução de medicamentos opioides, neurolépticos e depressores de AMPc visam o bloqueio da dor em nível central e periférico. Os opioides têm a capacidade de bloquear os receptores opoides µ, delta, kappa e ORL1 ligados 2 a proteína G levando a seu efeito inibidor da dor. Os anti-inflamatórios não esteroidais tem a capacidade de bloquear a inflamação periférica pela inibição da ciclooxigenase do tipo 1 e 2 influenciando a liberação de prostaglandinas e leucotrienos. No sistema nervoso central têm a capacidade de inibir a atuação da prostaglandina E que atua inibindo a glicina. Esse peptídeo tem o efeito inibidor da dor (RICHARDSON P, 2009). A dipirona possui mecanismos ainda não esclarecidos sobre analgesia. Sua atuação tem a característica de diminuição de AMPc nas terminações nervosas e possível atuação em receptores canabinoides (QUEIROZ TP et al, 2013). Tabela 1 – Sedativos e analgésicos utilizados nos pacientes queimados do estudo Medicamento N de Pacientes Mediana de Dias Intervalo interquartilico Diazepam 75 19 12 – 30 Midazolan 97 14 6 – 23 Propofol 75 9 5 – 17 Dexmedetomidina 3 3 1–3 6,5 – 20,5 Haloperidol 30 13,5 7 – 23 Morfina 153 14 8,5 – 29 Metadona 39 16 7 – 26 Fentanil 91 15 15 – 33,5 Dipirona 163 23 5,5 – 19,5 Paracetamol 74 10,5 3 – 14 Tramadol 63 9 Os neurolépticos (haloperidol) são agentes importantes na sedação pela sua atuação antagonista dopaminérgica nos sintomas de náuseas, vômitos e constipação intestinal presentes em pacientes em uso de opioides (TANAKA PP & MOSS J, 2008). Conclusão As vias distintas de inibição da dor por esses mecanismos têm um papel fundamental no tratamento do paciente queimado. O sinergismo existente entre essas classes de medicamentos é de grande utilidade, pois o uso dos medicamentos opioides pode desencadear tolerância, o que dificulta o manejo do paciente pela necessidade de doses cada vez mais elevadas, e efeitos colaterais (RICHARDSON P, 2009). Agradecimentos Agradeço a oportunidade a minha orientadora e meus colegas que ajudaram na construção desse trabalho. 3 Referências ANDERSON TA, FUZAYLOV G. Perioperative anesthesia management of the burn patient. Surg Clin North Am, v.94, n.4, p.851-61, 2014. BARRETTO MGP et al. Estudo comparativo entre tratamento convencional e tratamento com heparina tópica para a analgesia de queimaduras. Rev. Assoc. Med. Bras, v.56, n.1, p. 51-5, 2010. GATTINONI L et al. A trial of goal-oriented hemodynamic therapy in critically ill patients. SvO2 Collaborative Group. N Engl J Med, v.333, n.16, p.1025-32, 1995. LATARJET J, CHOINÈRE M. Pain in burn patients. Burns, v.21, n.5, p.344-8, 1995. MILLER SF et al. National Burn Repository 2005: a ten-year review. J Burn Care Res, v.27, n.4, p.411-36, 2006. PHAM TN. Epidemiology and outcomes of older adults with burn injury: an analysis of the National Burn Repository. J Burn Care Res, v.30, n.1, p.30-6, 2009 QUEIROZ, TP et al. Dipirona versus paracetamol no controle da dor pósoperatória. Rev Odontol UNESP, v.42, n.2, p.78-82, 2013. RICHARDSON P, MUSTARD L. The management of pain in the burns unit. Burns, v.35, n.7, p.921-36, 2009. TANAKA PP, MOSS J. O papel dos antagonistas periféricos dos opióides no tratamento da dor e nos cuidados perioperatórios. Rev. Bras. Anestesiol, v.58, n.5, p. 533-547, 2008. 4