A gota d’água para a fadiga *Gilberto Ururahy O estresse crônico desgasta. Com a repetição constante da reação do estresse, o organismo mina suas reservas energéticas e luta cada vez mais para se adaptar. É nesse momento que surge a fadiga. Existem dois tipos de fadiga: a aguda, que é normal após uma atividade física, uma mudança, uma noitada etc., que precisa apenas de um bom repouso para uma rápida recuperação; e a fadiga crônica, relacionada a esforços repetidos do cotidiano e com efeitos duradouros, como desgaste emocional e dores generalizadas. Os sintomas da fadiga crônica são: Fadiga física: diminuição da energia e enfraquecimento, com predisposição às doenças decorrentes, em função da queda da imunidade; dores musculares generalizadas; mudanças nos hábitos alimentares e alterações no peso corporal. Fadiga emocional: tédio, sentimento de desmotivação, de impotência, sensação de sufocamento, falta de prazer e acessos de choro súbito e incontrolável. Fadiga mental: atitudes negativas em relação ao cotidiano e a si próprio, sentimento de incompetência, de incapacidade, inferioridade e indiferença por tudo. A síndrome da fadiga crônica foi identificada na década de 80, nos EUA, Japão e em países europeus, onde acometeu milhares de pessoas. Durante muito tempo se pensou que era provocada pelo vírus epstein-barr – tese que já foi abandonada. Na Europa, os especialistas preferem explicar essa fadiga pelo estresse crônico, depressão e pelas alterações do relógio biológico. A particularidade da síndrome da fadiga crônica é que ela decorre, com frequência, de um estado infeccioso. Ressentir a fadiga é um sinal de alarme para as defesas do organismo. O melhor, nesse caso, é evitar a depressão com atividades prazerosas, como o repouso e o lazer, e também se distanciar o máximo possível de agentes estressores. Vale aqui um pequeno parêntese sobre outra característica do estresse: a cumulatividade. Nem sempre a reação de estresse vivenciada no momento é decorrente do agente estressor atual. Quantas vezes ouvimos a expressão: “Essa foi a gota d’água”. De fato, por efeito cumulativo, o estresse, em determinado momento, transborda. No campo profissional, nós nos deparamos com frequência com pessoas que vivem intensamente em seus cotidianos a fase de esgotamento. Como a sobrecarga no trabalho é intensa e os esforços para responder às exigências do meio ambiente surgem na mesma proporção, o profissional é conduzido a uma situação de saúde que os norte-americanos batizaram de burn out. Trata-se de um quadro de esgotamento das reservas do organismo, que ocorre quando todo o combustível é consumido. A sobrecarga no trabalho, representada pelo excesso de solicitações, pelas responsabilidades da função, somada a uma vida desequilibrada, está na origem do problema. De repente, a busca da excelência torna-se patológica. Além da fadiga, de certos estados ansiosos e depressivos, de alterações de adaptação, comuns no cotidiano, o burn out é uma forma aguda de malestar, identificado, sobretudo, em profissionais estratégicos das empresas. Normalmente, atinge indivíduos brilhantes, com carreiras promissoras. Os desgastes do estresse são cada vez mais evidentes e notados em várias culturas. Vão do burn out dos americanos, ao karoshi dos japoneses, que vem a ser a morte súbita por esgotamento, passando pelo mal-estar que abate os europeus. São perigos que ameaçam nosso equilíbrio, dos quais devemos nos prevenir através do conhecimento do próprio corpo. Um mal-estar é, na verdade, uma mensagem do corpo agredido, que pode vir sob a forma de uma somatização. É um aviso de que algo não está bem. O cérebro emocional ou o sistema psiconeuroimunológico é uma espécie de “médico interior”, que nos acompanha o tempo todo. Desregulado, permite que a doença se instale. Mas, quando colocado em ordem, faz prevalecer sua propriedade curativa. À parte as prescrições de um especialista, é importante tomar a iniciativa pessoal para ativar e estimular o cérebro emocional, induzindo positivamente o organismo para a cura. A pessoa portadora de fadiga crônica, desmotivada, sem energia para nada, tenderá a buscar a ajuda de estimulantes para manter-se “ligado”. Esse recurso, porém, a mantém inativa e em permanente cansaço. São as condições ideais para que o sedentarismo se instale no seu corpo.