1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE AGRONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS ESTABELECIMENTO IN VITRO SOB CONDIÇÕES MIXOTRÓFICAS E CRIOPRESERVAÇÃO DE Hancornia speciosa GOMES MARCOS DE CASTRO CARDOSO Orientador: Prof. Sérgio Tadeu Sibov . Dezembro - 2015 2 MARCOS DE CASTRO CARDOSO ESTABELECIMENTO IN VITRO SOB CONDIÇÕES MIXOTRÓFICAS E CRIOPRESERVAÇÃO DE Hancornia speciosa GOMES Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Genética e Melhoramento de Plantas, da Universidade Federal de Goiás, como exigência para obtenção do título de Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Tadeu Sibov Dezenbro - 2015 3 4 TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. 1. Identificação do material bibliográfico: 2. Identificação da Tese ou Dissertação Autor (a): Marcos de Castro Cardoso E-mail: [email protected] Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [x] Dissertação [x]Sim [ ] Tese [ ] Não Vínculo empregatício do autor Agência de fomento: Bolsista CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento Sigla: de pessoal de nível superior País: Brasil UF: GO CNPJ: 00889834/000108 Título: Estabelecimento in vitro sob condições mixotróficas e criopreservação de Hancornia speciosa Gomes Palavras-chave: Mangabeira, sistemas heterotróficos, sistemas mixotróficos, criopreservação, vitrificação Título em outra língua: In vitro establishment under mixotrophic conditions and cryopreservation of Hancornia speciosa Gomes Palavras-chave em outra língua: mangabeira, heterotrophic systems, mixotróficos systems, cryopreservation, vitrification Área de concentração: Genética e Melhoramento de Plantas Data defesa: (dd/mm/aaaa) 18/12/2015 Programa de Pós-Graduação: Genética e melhoramento de plantas Orientador (a): Sergio Tadeu Sibov E-mail: [email protected] Co-orientador (a):* E-mail: *Necessita do CPF quando não constar no SisPG 3. Informações de acesso ao documento: Concorda com a liberação total do documento [ x ] SIM [ ] NÃO1 Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação. O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat. ________________________________________ Assinatura do (a) autor (a) 1 Data: _20_ / _12_ /_2015_ Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo. 5 “A terra fez brotar a vegetação: plantas que dão sementes de acordo com as suas espécies, e árvores cujos frutos produzem sementes de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom.” Gênesis 1:12 A minha amada esposa, Débora Cristina da Silva Lima por permanecer ao meu lado com seu carinho e atenção. DEDICO A minha mãe, Irene de Castro Rosa, por sempre me apoiar e não medir esforços, para que eu alcançasse este objetivo. OFEREÇO 6 AGRADECIMENTOS Acima de tudo, sou grato a Deus por me estender à mão nos momentos de dificuldade, renovar a minha força, me fazer repousar em águas tranquilas, me dar sabedoria para seguir nos caminhos corretos e me proteger até o fim dos meus dias. À saudosa Universidade Federal de Goiás que por meio do Programa de PósGraduação em Genética e Melhoramento de Plantas, me proporcionou a oportunidade de cursar o Mestrado, de receber e compartilhar o conhecimento de seus professores e pelo apoio hábil e humano de seus técnicos administrativos. Ao meu Orientador, Professor Doutor Sérgio Tadeu Sibov, não só por seus ensinamentos, mas pelo seu exemplo de pessoa integra e humana, que sempre soube a hora certa de incentivar e advertir, com sua participação nas revisões, correções, e sugestões que possibilitaram a conclusão deste trabalho. Ao Engenheiro Agrônomo Paulo Faria que com sua paciência e sábios conselhos trouxesse muitas vezes, além de metodologias eficientes, palavras de conforto. Aos colegas do Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da EA/UFG pelas trocas de experiências, pelas conversas descontraídas sobre os mais variados assuntos que tornaram os dias de trabalho no laboratório mais agradáveis e divertidos. A todos os meus familiares que me apoiaram e creditaram que eu era capaz de sobrepujar o desafio de concluir o curso. E aqueles que não foram citados, mas que de alguma maneira caminharam comigo nesta busca. 7 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ................................................................................................. 06 LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. 07 LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS ............................................................................. 10 RESUMO .................................................................................................................... 11 ABSTRACT ............................................................................................................... 12 1 INTRODUÇÃO GERAL.......................................................................... 13 2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 15 2.1 ASPECTOS GERAIS DA ESPÉCIE Hancornia speciosa GOMES........... 15 2.2 CULTURA DE TECIDOS VEGETAIS...................................................... 16 2.3 CULTURA DE TECIDOS DE ESPÉCIES DO CERRADO...................... 20 2.4 SISTEMA DE MICROPROPAGAÇÃO MIXOTRÓFICA........................ 23 2.5 CONSERVAÇÃO DE GERMOPLASMA IN VITRO ............................... 25 3 MICROPROPAGAÇÃO EM SISTEMA MIXOTRÓFICO DE Hancornia speciosa GOMES RESUMO.................................................................................................................... 29 ABSTRACT................................................................................................................. 30 3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 31 3.2 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................ 33 3.2.1 Descontaminação de sementes................................................................. 33 3.2.2 Germinação das sementes......................................................................... 34 3.2.3 Brotação..................................................................................................... 35 3.2.4 Enraizamento e aclimatização.................................................................. 36 3.2.5 Delineamento experimental e análises estatísticas................................. 37 3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 37 3.3.1 Descontaminação de sementes.................................................................. 37 3.3.2 Germinação das sementes......................................................................... 39 3.3.3 Brotação...................................................................................................... 42 3.3.4 Enraizamento e aclimatização.................................................................. 47 3.4 CONCLUSÕES .......................................................................................... 54 4 CRIOPRESERVAÇÃO DE GEMAS AXILARES DE Hancornia speciosa GOMES 8 RESUMO ..................................................................................................................... 55 ABSTRACT ................................................................................................................ 55 4.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 56 4.2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ 58 4.2.1 Delineamento experimental e análises estatísticas................................. 60 4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 60 4.4 CONCLUSÕES .......................................................................................... 63 5 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 64 9 LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 Tratamentos utilizados para indução de brotações in vitro, em segmentos nodais de Hancornia speciosa Gomes.............................. 36 Tabela 3.2 Tratamentos utilizados na indução de raízes, em brotações estabelecidas in vitro a partir do cultivo de segmentos nodais de Hancornia speciosa Gomes................................................................. 37 Tabela 3.3 Taxa (%) de contaminação das sementes de H. speciosa com e sem tegumento, submetidas a diferentes tempos de exposição ao hipoclorito de sódio, após 45 dias de inoculação em meio MS..................................................................................................... 39 Tabela 3.4 Viabilidade de plantas de Hancornia speciosa cultivadas em diferentes tipos de vedação após 150 dias de incubação........................................................................................... 42 10 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Hancornia speciosa: A – Estádio adulto da mangabeira; B e C – Aspecto morfológico do fruto; D - Flores, E – Aspecto das sementes no interior do fruto....................................................................................................... 17 Figura 2.2 Tipos de sistemas de micropropagação in vitro: Heterotrófico - total vedação e adição de sacarose (C12H22O11) ao meio de cultura. Fotomixotrófico - maior eficiência luminosa (fontes PAR – Photossynthetically Active Radiation), frascos ventilados (CO2) e adição de sacarose ao meio de cultura; Fotoautotrófico - maior eficiência luminosa, frascos ventilados, e sem adição de sacarose ao meio (adaptado de Kozai et al., 2005) ................................................................. 26 Figura 3.1 Etapas da inoculação de segmentos nodais de H. speciosa – A – retirada da plântula germinada in vitro do tubo de ensaio em câmara de fluxo laminar; B – remoção das raízes; C – excisão dos explantes com aproximadamente duas gemas laterais; D – remoção das folhas; E – inoculação do explante em meio de cultura suplementado com reguladores de crescimento (AIA e BAP); F – tubo pronto para ser mantido em sala de crescimento............................................................... 37 Figura 3.2 Sementes de H. speciosa inoculadas em meio MS, contaminadas por bactérias, após serem tratadas com solução desinfestante a base de hipoclorito de sódio...................................................................................... 39 Figura 3.3 Germinação in vitro de sementes de H. speciosa: A – emissão de radícula; B – emissão de plântula; C – sistema radicular; D – plântula em desenvolvimento........................................................................................... 40 Figura 3.4 Aspecto visual de mudas de H. speciosa germinadas in vitro: A – sistema fotomixotrófico; B – sistema fotoheterotrófico............................................ 41 Figura 3.5 Teste de regressão quadrática para número de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura MS, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,8296)...................................................................................................... 43 Figura 3.6 Teste de regressão quadrática para número de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,2985)...................................................................................................... 44 Figura 3.7 Teste de regressão quadrática para comprimento de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura MS, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,6793)....................................................................................................... 46 11 Figura 3.8 Teste de regressão quadrática para comprimento de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,3883)................................................................................. 46 Figura 3.9 Segmentos nodais de Hancornia speciosa, inoculados em diferentes meios de cultura e suplementados com diferentes concentrações dos reguladores de crescimento AIA e BAP: A – Brotos em meio WPM e vedação semipermeável; B – Brotos em meio MS e vedação semipermeável; C – broto bem desenvolvido, em meio MS e vedação total; D – Brotos em meio WPM, a esquerda vedação semipermeável e a direita vedação total. Setas indicam a formação de calos...................... 47 Figura 3.10 Raízes de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM, e com vedação semipermeável: A – Raízes de segmentos nodais; B – Raizes de mudas germinadas a partir de semententes....................... 48 Figura 3.11 Teste de regressão quadrática para número de raízes de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIB inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,0276).................................................................................................... 48 Figura 3.12 Teste de regressão quadrática para comprimento das raízes de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIB inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,2398)...................................................................................................... 49 Figura 3.13 Teste de regressão quadrática para comprimento da parte aérea de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIB inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,4894)................................................................................... 50 Figura 3.14 Enraizamento de segmentos nodais de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM, suplementado com diferentes concentrações de AIB e com vedação semipermeável: A – 2 mg.L-1 de AIB; B – 4 mg.L-1 de AIB; C – 6 mg.L-1 de AIB....................................... 51 Figura 3.15 Comparação de diferentes genótipos de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM, suplementado com AIB e com vedação semipermeável: A – 4 mg.L-1 de AIB; B – 6 mg.L-1 de AIB......... 52 Figura 3.16 Aspecto visual de mudas aclimatizadas de H. speciosa: A – 7 dias em casa de vegetação; B – 45 dias em casa de vegetação........................................... 53 Figura 4.1 Esquema da metodologia de criopreservação de explantes de Hancornia speciosa Gomes pela técnica de vitrificação droplet.................................. 59 12 Figura 4.2 Recuperação, Sobrevivência e Regeneração de gemas axilares de Hancornia speciosa Gomes, submetidas ou não ao processo de criopreservação, expostas a diferentes tempos de pré-cultivo em solução de meio WPM + 0,3 M de sacarose: T1 – 24h em pré-cultivo + criopreservação; T2 – 12h em pré-cultivo + criopreservação; T3 – 6h em pré-cultivo + criopreservação; T4 – 24h em pré-cultivo; T5 – 12h em précultivo; T6 – 6h em pré-cultivo.................................................................. 61 Figura 4.3 Explantes de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM: A – Gemas axilares inoculadas depois do descongelamento; B – Calos e primórdios foliares; C – Mudas regeneradas................................................................................................. 62 13 LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS % – Porcentagem ± – Variando entre °C – Grau Celsius ½ MS – Meio Murashige & Skoog (1962) com metade da concentração dos macronutrientes NL – Nitrogênio Líquido AIB – Ácido indolbutílico ANA – Ácido naftalenoacético Atm - Atmosfera BAP – 6-Benzilaminopurina C.A. – Cloro ativo cm2 – Centímetros quadrados DNA – Ácido desoxirribonucleico Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária g - Grama g.L-1 – Gramas por litro GO – Goiás h – horas Hz - Hertz ICB-I/UFG – Instituto de Ciências Biológicas – I, da Universidade Federal de Goiás ITS – Instituto do Trópico Subúmido mg.L-1 – Miligramas por litro mL – Mililitros mm – Milímetros MS – Meio Murashige & Skoog (1962) NaOCl – Hipoclorito de sódio ns – Não significativo pH – Potencial hidrogeniônico PVP – Polivinilpirrolidona UFG – Universidade Federal de Goiás T(n-1) – Tratamento (1, 2, 3, ..., n-1) 14 RESUMO CARDOSO, M. C. Estabelecimento in vitro sob condições mixotróficas e criopreservação de Hancornia speciosa Gomes. 2015. 89 f. Dissertação (Mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas)-Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.1 A espécie Hancornia speciosa Gomes, conhecida também como mangabeira, é uma frutífera nativa do Cerrado, que nos últimos anos vem sofrendo uma acelerada perda de seu habitat, principalmente por ações antrópicas. Por esse motivo, torna-se necessário o desenvolvimento de técnicas para a conservação e uso sustentável deste recurso genético vegetal. O trabalho teve como objetivo estabelecer a espécie in vitro utilizando protocolos de descontaminação de sementes, germinação in vitro e desenvolvimento sob condições mixótróficas - tipo de vedação que permite trocas gasosas entre o meio interno e externo do frasco de cultura. Também foi testado um protocolo de criopreservação de gemas laterais pela técnica de vitrificação droplet. Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da EA/UFG. Sementes de H. speciosa foram divididas em duas categorias: com tegumento e sem tegumento. Após pré-assepsia com detergente e álcool 70%, as sementes foram submetidas a cinco tratamentos com diferentes tempos de exposição a concentrações de hipoclorito de sódio com 0,5% de cloro ativo: 0; 5; 10; 15; 20 e 25 minutos. As sementes foram inoculadas em meio MS. As menores porcentagens de contaminação ocorreram com sementes sem tegumento imersas por, no mínimo, cinco minutos. No experimento seguinte, testou-se a influência do tipo de vedação da germinação e desenvolvimento in vitro de H. speciosa em meio MS. As sementes foram divididas em dois tratamentos com vedações diferentes. Um tratamento com tampas que vedavam totalmente o frasco e o outro tratamento com tampas que permitiam a troca de gases com o meio externo. As avaliações feitas mensalmente durante 150 dias demostraram que nos frascos com tampas que permitiam a troca gasosa o desenvolvimento das plantas foi marcadamente superior nas condições gerais da planta in vitro e na maior sobrevivência quando comparadas com as plantas em frascos com tampas que vedavam totalmente o frasco. Para o desenvolvimento das gemas laterais testou-se o meio de cultura MS ou WPM, ambos suplementados com 2,0 mgL-1 de BAP e a influência da auxina AIA com quatro concentrações: 0,0; 0,5; 1,0 e 1,5 mg/L. Avaliando o número de brotos desenvolvidos e seu crescimento, constatou-se que nenhum tratamento diferiu estatisticamente com relação às dosagens de AIA. Com relação ao tipo de meio, o meio WPM promoveu um maior número de brotos que o MS, mas sem diferenças significativas com relação ao crescimento. Para o enraizamento, microestacas de H. speciosa obtidas in vitro foram submetidas a quatro tratamentos com AIB: 0,0; 2,0; 4,0 e 6,0 mg.L-1. A melhor concentração para a indução de novas raízes foi a concentração de 6 mg.L-1. Com os protocolos de desenvolvimento in vitro estabelecidos, testou-se o processo de vitrificação droplet para a criopreservação de gemas laterais de H. speciosa. Os melhores resultados de sobrevivência e regeneração das gemas laterais ocorreram com um pré-tratamento de 24 h seguido de congelamento rápido em nitrogênio líquido. Palavras-chave: Mangabeira, riopreservação, vitrificação. 1 sistemas Orientador: Prof. Dr. Sérgio Tadeu Sibov. EA-UFG. heterotróficos, sistemas mixotróficos, 15 ABSTRACT CARDOSO, M.C. In vitro establishment under mixotrophic conditions and cryopreservation of Hancornia speciosa Gomes. 2015 89 f. Dissertation (Master in Genetics and Plant Breeding) - College of Agronomy, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015. The Hancornia speciosa Gomes species, also known as mangabeira, is a native fruit of the Cerrado, which in recent years has undergone an accelerated loss of their habitat, mainly by human activities. For this reason, it is necessary to develop techniques for the conservation and sustainable use of this plant genetic resource. The study aimed to in vitro establish the species using seed decontamination protocols in vitro germination and development under mixotrophic conditions - type of cap that allowed gas exchange between the internal and external environment of the culture flask. Also, cryopreservation protocol for lateral buds droplet vitrification technique was tested. The experiments were conducted at the Plant Tissue Culture Laboratory at EA/UFG. H. speciosa seeds were divided into two categories: with and without husk seed coat. After pre-disinfected with detergent and 70% alcohol, the seeds were submitted to five treatments with different times of exposure to sodium hypochlorite concentrations with 0.5% of active chlorine: 0; 5; 10; 15; 20 and 25 minutes. The seeds were inoculated in MS medium. Smaller percentages contamination occurred witn seeds without tegument immersed for at least five minutes. In the following experiment we tested the influence of type of flask seal for germination and growth of H. speciosa in vitro on MS medium. The seeds were divided into two treatments with different seals. A treatment with covers entirely the flask and the other treatment with cap flask that allowing gas exchange with the external environment. The evaluations monthly for 150 days showed that the flasks with caps that allow gas exchange the plant growth was markedly higher in the general conditions of the plant in vitro and increased survival in comparison with plants in flasks with caps which completely covers teh flasks. For the development of lateral buds, the type of culture medium, WPM or MS, was tested. Both were supplemented with 2.0 mg / L BAP and the influence of four concentrations of auxin IAA were tested too: 0.0; 0.5; 1.0 and 1.5 mg.L-1. Assessing the number of developed buds and growth, it was found that no treatment was statistically different with respect to IAA dosages. Regarding the type of medium, the medium WPM was superior to MS in the number of shoots, but without significant differences with respect to growth. For rooting, microcutting H. speciosa obtained in vitro were subjected to four treatments with IBA: 0.0; 2.0; 4.0 and 6.0 mg.L-1. The optimal concentration for inducing new roots was 6 mg.L-1. With the in vitro development of protocols established, we tested the process droplet vitrification for cryopreservation of lateral buds of H. speciosa. The best results of survival and regeneration of lateral buds occurred with a pre-treatment 24 h followed by rapid freezing in liquid nitrogen. Key-words: mangabeira, heterotrophic systems, mixotróficos systems, cryopreservation, vitrification 16 1 INTRODUÇÃO GERAL O Cerrado é considerado um hotspot mundial de biodiversidade (Batalha, 2011). O domínio Cerrado ocupa quase toda área do Brasil Central, com aproximadamente 200 milhões de hectares, em sua maior parte, na região Centro-Oeste. O produtor agrícola, principalmente o familiar, sempre busca novos nichos de mercado, para produzir produtos diferenciados que atendam uma demanda cada vez mais crescente que exige sustentabilidade na produção. Neste contexto, as espécies nativas do Cerrado estão ganhando destaque na economia nacional, pelo seu uso em sistemas agropastoris, na indústria alimentícia, medicinal, madeireira, na recuperação de áreas degradadas, dentre outros. Contudo, a exploração extrativista dessas espécies, na maioria das vezes, implica na utilização do indivíduo como um todo, ocasionando extinção de muitas delas, sem que sejam devidamente estudadas (Silva & Almeida, 1990). A conservação da biodiversidade objetiva proteger o patrimônio genético existente garantindo para o futuro a possibilidade de desenvolver soluções alternativas para problemas que a agricultura possa enfrentar como novas pragas, estiagens, doenças, etc. No entanto, algumas espécies de plantas produzem sementes em épocas específicas do ano e, às vezes, em número reduzido, sendo necessário o armazenamento dessas sementes por longos períodos. Dessa forma, o estudo da longevidade, conservação e germinação de sementes é de suma importância para programas de conservação de recursos genéticos vegetais, recuperação de áreas degradadas, suporte ao paisagismo urbano ou plantio e exploração comercial (Tresena et al., 2010). A espécie Hancornia speciosa Gomes, mais conhecida como mangabeira, se destaca pelo seu potencial econômico, pois o processamento de seus frutos pode subsidiar uma economia baseada na utilização sustentável de recursos naturais do Cerrado. Porém, suas sementes possuem curto período de viabilidade (são recalcitrantes) o que dificulta seu armazenamento. Em geral, a conservação das sementes é prejudicada devido à porcentagem de umidade presente em seu interior, o que pode favorecer a degradação de substâncias e a 17 presença de micro-organismos. Para reduzir os problemas encontrados na conservação convencional de sementes, recorre-se a cultura in vitro de propágulos vegetais (calos, ápices, gemas axilares, brotos, segmentos nodais e outros). Esta técnica de preservação apresenta muitas vantagens, destacando o fato de necessitar de menor espaço para dispor o material, manutenção de material vegetal livre de pragas e patógenos, disponibilidade de material para ser imediatamente propagado, redução dos custos de manutenção, alta taxa de multiplicação independente de condições climáticas e a simplificação e eficiência do processo de intercambio de germoplasma (Eira, 2001; Fortes & Pereira, 2001). O estudo preliminar do comportamento de cada espécie, quando submetidas às condições in vitro, é o que vai possibilitar o estabelecimento de protocolos de propagação. A produção de mudas in vitro irá proporcionar matéria-prima tanto para programas de melhoramento genético, quanto para a conservação ex situ do germoplasma dessa espécie. Este trabalho teve como objetivo, desenvolver protocolos de propagação e conservação in vitro da espécie frutífera Hancornia speciosa Gomes. 18 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ASPECTOS GERAIS DA ESPÉCIE Hancornia speciosa GOMES Hancornia speciosa Gomes, popularmente conhecida como mangabeira, é uma espécie frutífera pertencente ao grupo das Eudicotiledôneas, ordem Gentianales e família Apocynaceae. É uma espécie típica das restingas do litoral nordestino e dos Cerrados do Centro-Oeste (Freire et al., 2011). Em razão do agradável sabor e aroma, o fruto da mangabeira é um dos mais conhecidos do Nordeste do Brasil (Bastos et al., 2007). É espécie arbórea (Figura 2.1) de porte médio, podendo chegar a até 15 m de altura, tronco tortuoso e áspero, com folhas opostas e coriáceas. Suas inflorescências são brancas. Toda a planta exsuda látex que pode ser usado na fabricação de borracha. O fruto é do tipo baga, elipsóide ou arredondado, com 2 cm a 6 cm, exocarpo amarelo, com manchas avermelhadas, podendo apresentar de 2 a 15 sementes discóides, com 7 mm a 8 mm de diâmetro. O peso de cem sementes com 50% de umidade é, em média, de 18 g (Soares et al., 2002). O fruto da mangabeira é rico em vitaminas A, B1, B2 e C, além de ferro, fósforo, cálcio e proteínas. Possui grande potencial de mercado e produção de frutos que não atende à demanda, pois, em sua grande maioria, os frutos são provenientes de atividade extrativista. Sua polpa amarela e adocicada é consumida in natura, como também é industrializada sob a forma de doces, geléias, compotas, vinho, vinagre, suco e sorvete (Lederman et al., 2000). Estudos recentes demonstraram que o extrato das folhas possui efeito antihipertensivo e vasodilatador (Pereira et al., 2012), enquanto o látex possui propriedades anti-inflamatórias (Marinho et al., 2011). A mangabeira é uma planta perenifólia de clima tropical. Apresenta maior desenvolvimento vegetativo nas épocas com temperatura mais elevada. Os solos nos quais se desenvolve são pobres e arenosos, com floração durante o período de agosto a novembro, com pico em outubro. A frutificação pode ocorrer em qualquer época do ano, 19 mas concentra-se principalmente de julho a outubro ou de janeiro a abril (Soares et al., 2002). Figura 2.1 Hancornia speciosa: A – Estádio adulto da mangabeira; B e C – Aspecto morfológico do fruto; D – Flores; E – Aspecto da semente no interior do fruto. Fonte: cerratinga.org e plantasdocerrado.com. 2.2 CULTURA DE TECIDOS VEGETAIS A cultura de tecidos vegetais abrange um conjunto de técnicas mediante em que um explante (células, pequenos fragmentos de tecido ou mesmo um órgão) é cultivado 20 de forma asséptica em meio nutritivo e sob condições controladas de temperatura e luminosidade (Souza et al., 2006). Esta técnica se fundamenta no princípio da totipotência, proposto pelo fisiologista Haberlandt, que em 1902, enunciou que cada célula vegetal possui o potencial genético para regenerar uma planta inteira (Flores, 2006). A multiplicação in vitro, ou micropropagação, segundo Vasil & Hildebrandt, (1965) é um termo usado exclusivamente para referir-se à propagação in vitro a partir de alguma parte específica da planta. Bastos et al. (2007) complementam que este processo vai até o enraizamento e culmina na aclimatização da planta produzida in vitro. Grattapaglia & Machado (1998) afirmam que a micropropagação é o princípio básico de todos os outros procedimentos de cultivo in vitro, pois dela depende o sucesso da técnica. O intuito deste método é obter clones de um genótipo selecionado em um intervalo curto de tempo, num espaço físico reduzido e livre de micro-organismos contaminantes. O primeiro e decisivo passo para efetuar a micropropagação é escolher uma planta matriz que apresente as características de interesse do pesquisador, pois ela será a fonte de todos explantes designados ao processo de propagação in vitro. Deste modo, genótipos superiores poderiam ser multiplicados sem alteração na sua estrutura genética (Bertozzo & Machado, 2010). O tipo de explante, bem como a definição de seu estádio de desenvolvimento, é um dos fatores que determinam a capacidade de resposta in vitro (Freitag et al., 2012). A escolha do explante deve ser voltada para tecidos que apresentem maior proporção de tecido meristemático, ou que sejam tecidos mais jovens, que tenham maior capacidade de expressar a totipotência (Torres et al., 1998). A desinfestação, ou seja, a remoção de contaminantes existentes na superfície do explante proveniente de material de campo ou de casa de vegetação, é uma etapa imprencindível no estabelecimento in vitro (Cid et al., 2010). Substâncias germicidas podem ser empregadas em diversas situações por agirem em diferentes locais da célula microbiana, eliminando ou impedindo o crescimento dos micro-organismos, além de importante efeito residual (Reis et al., 2011). Dentre as substâncias com ação germicida destacam-se: o etanol, os compostos a base de cloro, tais como hipoclorito de sódio e de cálcio, cloreto de mercúrio, ácido clorídrico, peróxido de hidrogênio, alguns ácidos e bases concentrados, isopropanol entre outros (Silva, 2012). Os detergentes são empregados para maximizar o contato das substâncias germicidas com os tecidos (Grattapaglia & Machado, 1998). É aconselhável que o material 21 utilizado na coleta seja previamente esterilizado ou que seja realizada uma assepsia para evitar contaminações (Junghans & Souza, 2009). Espécies de plantas e seus tecidos têm respostas diferentes quando expostas a substâncias descontaminantes, sendo o tempo e a concentração, variáveis relevantes que influenciam nestas respostas. A superexposição aos agentes desinfetantes, no geral, danifica o explante e leva à morte celular, sendo difícil recomendar um procedimento padrão. Assim, é necessário investigar os procedimentos de desinfestação para os diferentes tipos de espécies e tecidos, para que o cultivo in vitro inicie com explantes saudáveis e a cultura desenvolva-se com sucesso (Smith, 2000). Uma vez realizada a desinfestação do explante, em ambiente asséptico, este é inoculado em meio de cultura. A formulação dos meios baseia-se nas exigências das plantas quanto aos nutrientes minerais, com algumas modificações para atender às necessidades específicas nas condições de cultivo in vitro (Caldas et al., 1998; Torres et al., 2001). Os estudos da nutrição de plantas provenientes do âmbito da fisiologia vegetal informam que os elementos que compõem o meio nutritivo da cultura in vitro devem pertencer à categoria dos essenciais, isto é, a planta não se desenvolve na ausência deles (Embrapa, 2006). Grande parte dos pesquisadores utiliza o meio de cultura MS de Murashige e Skoog (1962), cuja formulação é a mais utilizada para diferentes processos de cultura de tecidos, e o WPM (Woody Plant Medium) elaborado por Lloyd & McCown (1981), para a propagação de plantas lenhosas. A principal diferença do meio MS para os demais meios é sua alta concentração de sais, sendo muitas vezes utilizado em diluições (Mantovani & Franco, 1998). Um fator que exerce influência na propagação in vitro é o uso de moléculas sintéticas, chamadas de reguladores de crescimento, na formulação do meio de cultura. A adição destas substâncias visa suprir possíveis deficiências endógenas de hormônios nos explantes (Grattapaglia & Machado, 1998). Os reguladores de crescimento mais usados na cultura de tecidos são as auxinas e citocininas. Skoog & Miller (1957) demostraram que a morfogênese é regulada pela disponibilidade e interação destas classes de reguladores de crescimento, onde a reação do tecido in vitro depende do balanço entre auxinas e citocinina: aumentando a concentração de auxina haveria a formação de raízes; aumentando a de citocinina haveria formação de gemas adventícias; numa relação intermediária haveria a formação de calo, o qual é 22 considerado um tecido indiferenciado, ou pouco diferenciado, podendo ser induzido, tornando-se determinado e, finalmente sofrer diferenciação para formar gemas caulinares ou raízes, conforme o balanço hormonal oferecido. Segundo Pierik (1987) a disponibilidade dos nutrientes, dos reguladores de crescimento e a solidificação do ágar, dependem do pH do meio. Para cada espécie de planta existe uma faixa ideal de pH do meio. Para o cultivo in vitro, geralmente ele é ajustado entre 5,0 a 6,5, mas para espécies arbóreas o adequado é de 5,7 a 5,8, pois nesta faixa há um equilíbrio na disponibilidade de macro e micromutrientes. Quando ajustado a níveis inferiores a 4,5 ou superiores a 7,0, pode haver paralisação do desenvolvimento dos tecidos in vitro (Murashige, 1974). Terminada a inoculação os explantes são transferidos para a sala de incubação/crescimento. Esta sala tem luminosidade e temperatura controladas, pois cada espécie tem faixas ideais que favorecem o seu desenvolvimento. É aconselhável que a sala seja de fácil limpeza, e que os acessos a ela sejam limitados, pois desta maneira a chance de entrada de poeira e contaminação são mais reduzidas (Quisen & Angelo, 2008). Depois de um tempo incubado, o explante começa a manifestar sintomas de deficiência nutricional, caracterizados pelo escurecimento de tecidos, murchamento, folhas amarelas e senescentes. Isso ocorre porque há redução de nutrientes, desidratação do meio e acúmulo de substâncias tóxicas. Sendo assim, é necessário realizar a troca do meio de cultura. Para isso, os explantes retornam para a câmara de fluxo laminar e são repicados e logo depois voltam para a sala de crescimento. Este processo pode se repetir várias vezes para aumentar a vida útil do explante e/ou para multiplicá-lo (Andrade, 2002). De acordo com a finalidade do estudo, em uma situação hipotética em que um explante desenvolva parte aérea e raízes, ele está pronto para o transplantio. Nesta fase ocorre a transferência da planta in vitro para a casa de vegetação, onde é submetida a um processo de aclimatização. Nesta etapa, segundo Moraes et al. (2002), é necessário que a planta esteja em um substrato que lhe propicie boas condições para seu melhor desenvolvimento. A aclimatização é delicada, não só porque representa um estresse para a planta, mas também pelo período de infecção por fungos e bactérias que podem se desenvolver neste estágio (Tombolato & Costa, 1998). Torres et al. (1998), afirmam que há muitas perdas de mudas, na ocasião da aclimatização, pelos seguintes fatores: (i) a planta é retirada de uma condição em que há abundância de nutrientes, para um ambiente onde ela deve buscar seu alimento; (ii) deixa 23 seu estado heterotrófico, pois era suprida por sacarose do meio, e passa para o estado autotrófico, em que retoma as atividades fotossintéticas; (iii) passa de um ambiente com temperatura, iluminação e umidade relativa controladas para outro que demanda um aumento nas taxas de transpiração, o que a deixa vulnerável ao estresse hídrico. Sendo assim, além de se ter uma planta in vitro de boa qualidade é essencial que haja um bom processo de aclimatização. Isso é o que possibilitará a adaptação da planta ao seu novo ambiente. Quanto menos drástica é a mudança de ambiente, melhor será a adaptação. Medidas como: abertura dos frascos ainda na sala de crescimento; envolver as plantas em sacos plásticos vazados e ir retirando-os aos poucos; controlar a temperatura e a irrigação interna da casa de vegetação para manter um ambiente com alta umidade no início do processo, sendo esta umidade gradualmente diminuída com o tempo, são procedimentos que podem garantir uma melhor adaptação da planta desenvolvida in vitro ao ambiente externo (Silva et al., 2011). 2.3 CULTURA DE TECIDOS DE ESPÉCIES DO CERRADO A flora do Cerrado apresenta grande variedade de frutíferas, algumas têm alto valor comercial e crescente demanda do mercado, na forma in natura e processados (Souza, 2000). Segundo Mendonça et al. (2008), o número de espécies de plantas encontradas no Cerrado ultrapassa a casa dos 12.000. Porém, estima-se que cerca de 50% do domínio já foi convertido em áreas de pastagem e agricultura nos últimos anos (Klink & Machado, 2005). No entanto, as espécies nativas são de difícil propagação seminífera, por apresentarem heterogeneidade no processo de maturação dos frutos e sementes com algum tipo de dormência. Estas características comprometem a germinação e a formação de mudas, sendo mais um limitador para a comercialização (Pinhal et al., 2011). Uma classificação foi proposta por Roberts (1973) quanto às características de armazenamento das sementes em duas categorias: ortodoxas e recalcitrantes. Ortodoxas são aquelas que podem ter o seu teor de água reduzido pela secagem até a umidade de 5 a 2% ou menos e, que suportam baixas temperaturas, inclusive as temperaturas subzero empregadas na conservação em longo prazo, sem ter a sua viabilidade comprometida. Já as sementes recalcitrantes são aquelas que não toleram dessecação a níveis abaixo de 12 a 31%, e que não sobrevivem em temperaturas subzero. 24 Pelo fato de grande parte das espécies florestais serem de propagação seminífera, existe a chance de que plantas de genótipos superiores, não transmitam suas características satisfatórias à sua descendência, na ocasião de um cruzamento de polinização aberta (alógamas). Contudo, quando ocorre a autofecundação ou a propagação vegetativa o risco de perdas de características satisfatórias é quase nulo (Ribas et al., 2005). Muitos protocolos usados na cultura de tecidos vegetais são maneiras artificiais de realizar uma propagação vegetativa. O cultivo de plantas germinadas in vitro é uma etapa importante para a aquisição de explantes juvenis que tenham uma resposta morfogenética satisfatória e livres de contaminação. Segundo Lédo et al. (2007) em seu estudo com Hancornia speciosa, os meios de cultura MS (Murashige & Skoog, 1962); MS + 2,0 g.L-1 de carvão ativado; ½ MS (meio de cultura MS com metade da concentração salina); ½ MS + 2,0 g.L-1 de carvão ativado, são eficientes para a germinação in vitro de sementes e formação de plântulas normais, sendo que o meio ½ MS acrescido de 2,0 g.L-1 de carvão ativado proporcionou 100% de germinação e bom desenvolvimento da parte aérea e sistema radicular de plântulas de H. speciosa. Oliveira et al. (2014) estudando a H. speciosa in vitro aferiram o efeito de diferentes meios de cultura na germinação. Sementes desprovidas do tegumento passaram pelo processo de desinfestação em fluxo laminar imersas em álcool 70% e hipoclorito (2,5% de cloro ativo). Posteriormente, as sementes foram distribuídas ao acaso nos tratamentos de T1 - vermiculita, T2 - vermiculita + areia, T3 - vermiculita + areia barrada, T4 - vermiculita + MS, T5 - vermiculita + ½ MS, T6 - areia, T7 - areia barrada, T8 - areia + areia barrada. No que diz respeito à porcentagem de germinação o tratamento T3 foi o que apresentou maior índice (90%). Para o índice de velocidade de germinação os tratamentos T1, T2 e T3 (1,37 a 1,46 dias) foram os de maiores médias e estatisticamente iguais. Em relação ao tempo médio de germinação, os resultados indicaram valores estatisticamente iguais para todos os tratamentos (7,37 a 10,32 dias). Avaliando as respostas morfogenéticas de diferentes explantes cultivados in vitro, Lédo et al. (2005) constataram que a concentração de 1 mg.L-1 de AIA com 0,5; 1 ou 2 mg.L-1 de BAP induz uma boa formação de calos em segmentos caulinares de plântulas de H. speciosa germinadas in vitro e a concentração de 1 mg.L-1 de AIA combinada com 1 ou 2 mg.L-1de BAP promove uma boa formação de calos em segmentos nodais, com a proliferação de brotações adventícias após 45 dias. Avaliando a aplicação exógena de 25 poliaminas em calos de H. speciosa, Fráguas et al. (2009) concluíram que estas substâncias não proporcionam aumento no crescimento de calos e que a oxidação promovida por longos períodos de cultivo in vitro induz aumento nos níveis de putrescina. Pesquisas sobre micropropagação tiveram como objetivo aferir os efeitos dos reguladores de crescimento (auxinas e citocininas) nas plantas, para estimular o crescimento in vitro. Sousa et al. (2007) estudaram os efeitos da benilaminopurina (BAP) nas concentrações 0,0; 1,0; e 2,0 mg.L-1 e ácido indolacético (AIA) nas concentrações 0,0; 0,25; 0,50 mg.L-1, isolados e combinados, para estimular a organogênese. Concluíram que a combinação de 1 mg.L-1 de BAP e 0,5 mg.L-1 de AIA é a que proporciona melhor resposta organogênica dos explantes de mangabeira. Soares et al. (2007) observaram que concentrações de 1,0 ou 2,0 mg.L-1 de BAP promoveram multibrotações em segmentos nodais de H. speciosa e induziu a formação de calos na base dos explantes, e o ácido indolbutírico (AIB) induz, na concentração de 3,0 mg.L-1, a formação de raízes em brotações de H. speciosa in vitro. Estudos relacionados à rizogênese em brotos de H. speciosa tem utilizado auxinas como indutores. Segundo Lemos et al. (2006), adicionar isoladamente AIB, ANA e 2,4-D, nas concentrações de 1,0 e 2,0 mg.L-1, ao meio de cultura MS não foi satisfatório, sendo que o enraizamento ocorreu em apenas dois explantes, após oito semanas de incubação. Pinheiro et al. (2002) alcançaram 18,39% e 15,23% de enraizamento em propágulos de H. speciosa, submetidos ao alongamento e oriundos de explantes basais em meio WPM e ½ MS, respectivamente, suplementado com 0,5 mg.L-1 de ANA combinado com 0,1 mg. L-1 de BAP, na presença de carvão ativado. Contudo, Grigoletto (1997), obteve maiores porcentagens de enraizamento em meio de cultura ¼ Knoop´s (61,5%) e ½ MS (58,5%), suplementado com diferentes tratamentos de AIA e BAP. O aumento da concentração de gás etileno no cultivo in vitro corresponde a um dos principais problemas encontrados na propagação in vitro de H. speciosa, pois essa substância apresenta efeito adverso no desenvolvimento, morfologia e crescimento das plantas, diminuindo a expansão foliar e a regeneração de novos brotos (Biddington, 1992). Pereira Netto & McCown (1999), inferiram que o desenvolvimento de parte aérea de H. speciosa em atmosfera enriquecida com 5 ou 10 μL.L-1 de etileno, resulta em inibição do alongamento de ramos laterais e do ramo principal, e a concentração de 1 μL.L-1 de etileno resulta em redução da ordem de 50% na proliferação de ramos laterais. 26 Trocas gasosas possibilitadas pela abertura dos frascos na ocasião da renovação do meio de cultura, e pelo tipo de vedação utilizada, podem baixar a concentração de etileno dentro dos frascos minimizando os efeitos deletérios no vigor das plantas. Em outros estudos foram realizados com espécies do cerrado, Silveira (2015) inferiu sobre micropropagação in vitro de Eugenia dysenterica em condições mixotróficas, concluindo que o sistema mixotrófico é superior no momento da formação de novos brotos no que se refere ao maior número de brotos, maior número de folhas por broto, e síntese de pigmentos fotossintéticos. Silva (2012) estudou a germinação in vitro de Dipteryx alata VOGEL e Eugenia dysenterica DC., e obteve resultados como sendo o meio ½ MS o mais indicado para germinação in vitro de sementes de E. dysenterica, entretanto, o meio MS completo obteve maiores porcentagens de germinação para sementes de D. alata. Porto (2013) estudou a criopreservação de calos, ápices caulinares e sementes de barbatimão [Sthyphnodendron adstringens (Mart.) coville] e concluiu que é possível criopreservar ápices caulinares e sementes de barbatimão, porém o protocolo para criopreservação de calos precisa de mais estudos. Ribeiro et al. (2009) utilizaram a germinação in vitro como método para fornecer elementos que superassem a dormência em sementes de araticum (Annona crassiflora Mart.). Melhores resultados foram obtidos em meio WPM suplementado com 25-32mg L-1 de GA3. Santos et al. (2006) utilizaram como explantes segmentos nodais provenientes de plantas obtidas por meio de germinação de sementes in vitro de pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.), obtiveram êxito na cultura destes tecidos, diretamente inoculados em meio WPM. 2.4 SISTEMA DE MICROPROPAGAÇÃO MIXOTRÓFICA O sistema de micropropagação possibilita, por meio da repetição de ciclos de cultivo in vitro, a multiplicação de explantes do germoplasma selecionado. Entretanto, cada espécie tem um número máximo de ciclos para evitar desordens genéticas como, por exemplo, a variação somaclonal (Silveira, 2015), isto é, à variação fenotípica de plantas regeneradas de cultura de células ou tecidos in vitro, e que pode ser transitória ou permanente e herdável (Illg, 1990). De maneira geral na micropropragação, as plantas isentas de agentes patogênicos, são mantidas em recipientes (hermeticamente fechados ou não) contendo 27 meio de cultura, acondicionados em salas de incubação com temperatura, luminosidade e umidade controladas (Hartmann et al., 1990). Partindo desta premissa e aplicando algumas modificações na metodologia geral, a micropropagação, segundo Kozai et al. (2005), pode ser conduzida em três sistemas diferentes: Sistema heterotrófico, as mudas são mantidas dentro de frascos totalmente lacrados, sob baixa luminosidade, e os carboidratos exógenos são a única fonte de energia para o vegetal. Sistema fotomixotrófico, as mudas se desenvolvem em frascos ventilados, o meio de cultura recebe carboidratos e ocorre o favorecimento da fotossíntese com a utilização de sistemas de iluminação com maior eficiência luminosa - fontes PAR (Photossynthetically Active Radiation). Sistema mixotrófico, um sistema mixotrófico difere do fotomixotrófico apenas pela ausência de iluminação PAR (Figura 2.2). Sistema fotoautotrófico, onde as mudas crescem dentro de frascos com ventilação, sem nenhuma fonte exógena de carboidrato e dependendo unicamente da fotossíntese (fontes PAR). A ventilação dentro dos frascos no sistema fotomixotrófico reduz o tempo de aclimatização de mudas (Saldanha et al., 2012), pois a ventilação dos frascos estimula os estômatos tornando-os funcionais. Este fato reduz consideravelmente as perdas durante a adaptação das plantas ao ambiente ex vitro na aclimatização. Esta ventilação pode ser feita de várias maneiras como, por exemplo, a não utilização de fitas de vedação das tampas e, membranas semipermeáveis que permitam trocas gasosas sem a entrada de microorganismos (Silveira, 2015). Em termos nutricionais, nas condições fotomixotróficas, células, tecidos, órgãos ou mudas que apresentem clorofila crescem fazendo uso de meio de cultura, contendo ou não açúcar. Os vegetais utilizam os hidratos de carbono não só endógenos, mas exógenos como fonte de energia (Kozai et al., 2005). Hdider & Desjardins (1994) inferiram sobre como o sistema fotomixotrófico age sobre a capacidade fotossintética em mudas micropropagadas de morango (Fragaria x ananassa Duch. cv Kent) em função da concentração de sacarose e membranas comerciais à base de celulose (Sorbarods®). Os autores concluíram que a capacidade fotossintética foi influenciada pelo nível de sacarose no meio de cultura e as maiores taxas de fotossíntese correspondiam às culturas com 0 e 1% de sacarose. 28 PAR: Photosynthetically active radiation Figura 2.2 Tipos de sistemas de micropropagação in vitro: A - Heterotrófico - total vedação e adição de sacarose (C12H22O11) ao meio de cultura; B Fotomixotrófico - maior eficiência luminosa (fontes PAR – Photossynthetically Active Radiation), frascos ventilados (CO2) e adição de sacarose ao meio de cultura; C - Fotoautotrófico - maior eficiência luminosa, frascos ventilados, e sem adição de sacarose ao meio (adaptado de Kozai et al., 2005). 2.5 CONSERVAÇÃO DE GERMOPLASMA IN VITRO O germoplasma, que é o patrimônio genético de uma espécie, é composto pelos parentes silvestres das plantas cultivadas, por variedades locais, também conhecidas como variedades crioulas ou landraces, por variedades obsoletas ou antigas, por linhas avançadas de melhoramento e por variedades elite atuais (Hoyt, 1992). O Brasil é detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta. Para utilizar estes recursos genéticos de forma sustentável é vital que pesquisas busquem meios de conservar o material genético disponível de maneira adequada e por longos períodos de tempo. O objetivo primordial das tecnologias destinadas à conservação de germoplasma é maximizar a preservação da diversidade genética de determinada espécie ou variedade objetivando o uso atual e futuro como fonte de variabilidade (Razdan, 2003). 29 Um dos sistemas de conservação de germoplasma é a conservação in situ, definida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), como: “a conservação dos ecossistemas e dos habitats naturais e a manutenção e a reconstituição de populações viáveis de espécies nos seus ambientes naturais e, no caso de espécies domesticadas e cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características” (Brasil, 2000). Outra forma de conservação é a ex situ, segundo Medeiros (2014), consiste na manutenção de uma representatividade da biodiversidade, fora dos habitats naturais. Segundo Mroginski et al. (1991) a definição de qual método a ser utilizado para a conservação do germoplasma de plantas superiores dependerá do sistema de propagação de cada espécie. Quando plantas apresentam sementes não ortodoxas, que se multiplicam exclusivamente por propagação vegetativa, apresentando intensa heterozigosidade ou elevada segregação, e também espécies arbóreas de grande porte que demoram muitos anos para passar do estádio juvenil à fase adulta reprodutiva, é necessário utilizar métodos alternativos de conservação. Um destes métodos seria a cultura in vitro, na qual se pode obter uma planta completa a partir do cultivo de células, tecidos ou órgãos meristemáticos (Souza et al., 2009). Segundo Simon (2010), Engelmann (2011) e Reed (2013), as técnicas de conservação in vitro apresentam muitas vantagens em relação aos outros sistemas de conservação convencional: Otimização do espaço físico e redução dos custos e mão-de-obra; Manutenção dos genótipos em condições assépticas; Rápida multiplicação de material vegetal em grande escala; Reduzido risco de perda por desastres climáticos e ataques de pragas e doenças; Possibilita um rápido acesso ao germoplasma; Facilidade de intercâmbio do material vegetal. Entretanto a cultura de tecidos in vitro apresenta algumas limitações, segundo Santos (2000) e Carvalho & Vidal (2003), podemos destacar: Necessidade de frequentes subculturas; Risco de perda por contaminação; Possibilidade de variação genética ao longo do cultivo; Necessidade de instalações e mão de obra especializada para a manutenção do germoplasma; Dificuldade de estabelecimento de protocolos de micropropagação. 30 As desvantagens do método in vitro de conservação de germoplasma, podem ser minimizadas utilizando sistemas que limitam o desenvolvimento das plantas, tais como a criopreservação, que consiste na manutenção dazo material vegetal a temperaturas muito baixas de -150ºC (nitrogênio na fase de vapor) ou -196ºC (nitrogênio na fase líquida) e sistema de crescimento mínimo, onde há adição de retardantes osmóticos e hormonais no meio de cultura (Winthers & Williams, 1998; Scherwinski-Pereira & Costa, 2010). O objetivo principal nestes sistemas é realizar a conservação por meio de alterações no ambiente de cultivo, que desaceleram ou suspendam o desenvolvimento do material cultivado, isto sem interferir na viabilidade e na estabilidade genética (Withers & Engelmann, 1998). As plantas têm comportamentos diferentes quando submetidas ao ambiente in vitro, e isto também se aplica a variedades de uma mesma espécie. Sendo assim as pesquisas devem aferir de forma singular cada caso, objetivando otimizar as técnicas de conservação in vitro para resolver problemas que dificultam a utilização de alguns germoplasmas. É necessário estudar sobre a fisiologia, aspectos estruturais e a estabilidade genética do material a ser conservado, para se utilizar técnicas de conservação in vitro mais adequadas, com os melhores resultados possíveis (Razdan, 2003). 2.5.1 Criopreservação A criopreservação é considerada o método ideal para a conservação de germoplasma por permitir o armazenamento de materiais biológicos por tempo indeterminado, mantendo sua estabilidade genética e suas características fenotípicas, usando pouco espaço e requerendo pouca manutenção (Engelmann, 1997). A técnica da criopreservação reduz o metabolismo a níveis muito baixos, no qual todos os processos bioquímicos são significativamente reduzidos e a deterioração biológica é virtualmente paralisada. A criopreservação possui vantagens tais como o pequeno espaço a ser ocupado por um banco de germoplasma, a facilidade de manuseio das condições de armazenamento e, por fim, o baixo custo do processo (Almeida et al., 2002; Kartha, 1985). O principal desafio para a criopreservação é realizar o congelamento sem a formação de cristais de gelo no interior das células. A formação de gelo no meio intracelular causa ruptura do sistema de membranas celulares, resultando em perda da 31 semipermeabilidade e da compartimentação celular em consequência disso, as células entram em colapso (Buzó & Rosa, 2007). A criopreservação pode ser uma alternativa para a conservação de espécies que são atualmente mantidas em coleções de campo, jardins botânicos, reservas naturais ou sistemas de conservação in vitro com plantas em regime de crescimento controlado (Harding et al., 1997). Ainda segundo o Internacional Board for Plant Genetic Resources – IPBGR (1982) a criopreservação é uma técnica indicada para as espécies de propagação vegetativa, espécies com sementes recalcitrantes, germoplasmas raros, de espécies ameaçadas de extinção e de plantas silvestres (Stanwood, 1980, 1985, 1987). A escolha da técnica de criopreservação irá depender do tempo de armazenamento, da espécie, da parte da planta a ser preservada, da disponibilidade de mão de obra e dos recursos financeiros disponíveis. A perspectiva futura é que a criopreservação se torne mais utilizada no armazenamento de materiais vegetais, e consequentemente, na conservação das fontes genéticas vegetais por longo prazo (Engelmann, 2004). No entanto, apesar dos métodos de conservação in vitro serem considerados potenciais, é importante ressaltar que nenhum método de conservação ex situ deve ser visto como substituto para a conservação in situ. Isso por que nenhuma técnica que seja aplicada isoladamente conserva de modo adequado toda a diversidade genética de determinada espécie, ou seja, seu pool gênico (Divakaran et al., 2006). 32 3 MICROPROPAGAÇÃO EM SISTEMA MIXOTRÓFICO DE Hancornia speciosa GOMES RESUMO A micropropagação tem sido utilizada como técnica de propagação vegetativa e também como de conservação ex situ de germoplasma vegetal. Tradicionalmente esta técnica utiliza o sistema heterotrófico que utiliza a sacarose como fonte de energia para o tecido vegetal no meio de cultura e os recipientes que acondicionam o material vegetal são fechados cuidadosamente. Outra vertente da micropropagação é o sistema mixotrófico, que também adiciona sacarose ao meio, mas os recipientes são vedados de maneira a permitir trocas gasosas entre o meio interno e externo, e esta ventilação favorece o desenvolvimento vegetal no ambiente in vitro. O presente trabalho teve como objetivo aprimorar a técnica de propagação in vitro da Hancornia speciosa Gomes, por meio da comparação do sistema heterotrófico com o sistema mixotrófico, visando o estabelecimento de um protocolo de micropropagação, com a seleção da melhor vedação dos frascos (que permite ou não as trocas gasosas), tipo do meio de cultura (MS ou WPM) e concentração de reguladores de crescimento para indução de brotação (BAP e AIA) e rizogênese (AIB). Para a fase de germinação, sementes devidamente desinfestadas foram inoculadas em tubos de ensaio com ou sem troca gasosa em meio MS. Na fase de indução de brotação foi utilizado meio MS e WPM suplementados com 2 mg.L-1 de BAP e 0,0; 0,5; 1,0 e 1,5 mg.L-1 de AIA. Para o enraizamento, foi usado meio WPM suplementado com 2, 4 e 6 mg.L-1 de AIB. Os experimentos foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado em sala de crescimento com temperatura de 25 ± 1ºC em condição luminosa de 45 µmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas. O tipo de vedação de frasco mais favorável para viabilidade de mudas germinadas in vitro foi o que permitiu trocas gasosas. Quanto ao número de brotos o meio WPM foi o que obteve resultados mais satisfatórios, enquanto que para o comprimento do broto não houve diferença estatística entre os meios. O tratamento mais 33 satisfatório para o enraizamento foi a concentração de 6 mg.L-1 de AIB. A aclimatização foi procedida com sucesso, com 80% de sobrevivência após noventa dias de aclimatização. Palavras-chave: Cultura de tecidos, sistema heterotrófico, mangabeira. ABSTRACT The micropropagation has been used as vegetative propagation technique as well as ex situ conservation of plant germplasm. Traditionally this technique uses heterotrophic system that uses sucrose as a source of energy for the plant tissue culture medium in the flasks contained therein and the plant material are carefully closed. Another aspect the micropropagation is mixotrophic system, which also adds to the sucrose medium, but the flasks are sealed so as to allow gas exchange between the internal and external environment, and this ventilation promotes best plant development on in vitro environment. This study aimed to improve the in vitro propagation technique of H. speciosa by comparing the heterotrophic system with mixotrophic system, aiming to establish a micropropagation protocol, with the selection of better sealing of flasks (which allows or no gas exchange), type of culture medium (MS or WPM) and concentration of growth regulators for budding induction (BAP and IAA) and rooting (IBA). For germination stage, properly sterilized seeds were seeded in test tubes with or without gas exchange in MS medium. In budding induction phase, a medium MS and WPM supplemented with 2 mg.L-1 BAP and 0.0; 0.5; 1.0 and 1.5 mg L-1 IAA. For rooting was used WPM medium supplemented with 2, 4 and 6 mg.L-1 IBA. The experiments were conducted in a completely randomized design in a growth chamber at 25 ± 1 ° C temperature in light condition of 45 μmol.m-2.s-1 and photoperiod of 16 hours. The most favorable type of flask seal for viability of in vitro germinated seedlings was thus allowing gas exchange. Regarding the number of shoots the WPM medium was what obtained more satisfactory results, while for the shoot length there was no statistical difference between the mediums. The most satisfactory treatment for rooting was the concentration of 6 mg.L1 IBA. Acclimatization was proceeded successfully, with 80% survival after ninety days of acclimatization. Key words: Tissue culture, heterotrophic system, mangabeira 34 3.1 INTRODUÇÃO A propagação de Hancornia speciosa Gomes, na maioria dos casos, é realizada pela via sexuada, sendo que as sementes devem ser extraídas de frutos maduros e ter a polpa retirada por meio de lavagem com água, pois esta impede a germinação (Barros, 2006). Segundo Soares (2014), o teor de água inicial das sementes é de aproximadamente de 40%. Depois de 33 horas em estufa com circulação de ar e temperatura de 30ºC, a porcentagem de germinação foi de 79%. Após 48 horas, a taxa de germinação decresceu chegando a 13% em 72 horas de secagem. Isso demonstra a característica de recalcitrância das sementes. Em condições controladas, in vitro, sementes da H. speciosa apresentam uma boa taxa germinativa. Segundo Ledo et al. (2007) e Soares et al. (2009), os índices de germinação alcançaram mais de 80% utilizando diferentes meios de cultura, entre eles o meio MS e WPM. Uma vez selecionado um genótipo de interesse e escolhido o sistema de micropropagação para a produção de mudas, tem-se a vantagem da produção de clones em larga escala e, principalmente, livres de patógenos. Martin (1985) já sinalizava vantagens nas chamadas “técnicas de melhoramento in vitro”. Quando bem executadas, resultam em indivíduos uniformes e muito semelhantes aos provenientes de sementes, o que pode elevar significativamente a produtividade quando comparadas a técnicas convencionais de propagação. Contudo, a aplicação da micropropagação convencional em plantas lenhosas ainda é limitada devido ao oneroso custo de produção, atribuído em grande parte às taxas de crescimento relativamente baixas, perdas significativas por contaminação, falta de enraizamento e baixas percentagens de sobrevivência de plantas in vitro após a transferência para ex vitro (Kozai & Kubota, 2001). No sistema heterotrófico de micropropagação, as mudas são acondicionadas em recipientes hermeticamente fechados e com luminosidade baixa. As plantas cultivadas sob este sistema podem parecer normais, entretanto não produzem clorofila ativamente devido à baixa taxa de fotossíntese. Além disso, ocorrem alterações morfológicas ocasionadas pela alta umidade relativa e acúmulo de gases no interior dos recipientes, o que desencadeia a formação de estômatos disformes, hiperhidricidade, folhas reduzidas, morte prematura de explantes, e consequentemente, perdas elevadas na aclimatização (Kozai & Kubota, 2005; Hazarika, 2006). A justificativa para a micropropagação heterotrófica é a tentativa de se evitar ou anular a contaminação do meio de cultura pela 35 vedação total dos frascos e a compensação da baixa fotossíntese pela suplementação exógena de sacarose, muitas vezes em altas concentrações, o que é contestado em vários estudos (Nguyen et al., 1999; Rahman e Alsadon, 2007; Damiani & Schuch, 2009). No sistema mixotrófico, mantém-se a fonte de carbono para melhorar a taxa de transpiração e, consequentemente, a absorção de nutrientes. Adicionando-se a ventilação aos frascos do sistema (Kozai & Kubota, 2005). Quando o recipiente de cultura possui ventilação, a taxa de fotossíntese pode ser aumentada significativamente devido ao aumento das concentrações de CO2. Além disso, a umidade relativa no interior do recipiente é reduzida, o que, por sua vez aumenta a taxa de transpiração (Chun & Kozai, 2001). Diversos fatores podem afetar o potencial germinativo das sementes, dentre eles a presença de micro-organismos, especialmente fungos e bactérias (Corder & Borges Junior, 1999). Os agentes contaminantes muitas vezes inviabilizam a cultura in vitro e são os maiores entraves para a micropropagação, pois toda a fonte de explantes fica comprometida. Para que a planta formada a partir da germinação in vitro possa ser fonte de explante confiável, os métodos de desinfestação devem ser eficazes, proporcionando total ausência de agentes patológicos (Nascimento et al., 2007). O processo de desinfestação utiliza várias substancias com ação germicida, dentre elas se destacam o etanol e os compostos à base de cloro (Couto et al., 2004 e Sousa et al., 1999). O hipoclorito de sódio ou de cálcio vem mostrando grande eficiência na desinfestação de sementes, eliminando fungos e bactérias, assim como a utilização de fungicidas e bactericidas, promovendo aumento no total de plântulas germinadas a partir de sementes tratadas (Nascimento et al., 2007). Cada tipo de tecido, de uma mesma planta, tem uma sensibilidade diferente quando exposto a uma substancia desinfestante. Essa resposta pode variar ainda mais em função da concentração e do tempo de exposição a estas substancias (Montarroyos, 2000). Desta maneira é imprescindível um estudo individualizado de cada espécie para o estabelecimento de protocolos eficazes de desinfestação. Reguladores de crescimento podem ser adicionados ao meio de cultura para suprir as possíveis deficiências dos teores endógenos de hormônios nos explantes (Grattapaglia & Machado, 1998). As auxinas controlam o crescimento e o alongamento celular e as citocininas controlam a citocinese ou divisão celular, estando também intimamente ligadas à diferenciação das células, sobretudo no processo de formação de 36 gemas caulinares (Kerbauy, 2004). O balanço entre estes dois tipos de reguladores controla muitos aspectos da diferenciação e organogênese nas culturas de tecidos de órgãos vegetais (Pasqual, 2001). Estudos sobre a micropropação da H. speciosa pesquisaram sobre a eficiência de diferentes meios de cultura para a germinação in vitro de sementes e formação de plântulas (Lédo et al., 2007; Oliveira et al., 2014). Outros estudos verificaram a ação dos reguladores de crescimento e indução de calos (Lédo et al., 2005; Fráguas et al., 2009). Sousa et al. (2007) observaram que concentrações de BAP podem promover brotações; estudos relacionados à rizogênese utilizaram auxinas como indutores, como se pode encontrar em Lemos et al. (2006), Pinheiro et al. (2002) e Grigoletto (1997). Levando em consideração as mudanças climáticas e a ação antrópica sobre o domínio Cerrado, assim como a necessidade de assegurar a conservação de germoplasma da H. speciosa para programas de melhoramento genético, este trabalho teve como objetivo desenvolver protocolos de micropropagação em sistema mixotrófico, visando a melhor qualidade das mudas produzidas in vitro. 3.2 MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram realizados no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da Universidade Federal de Goiás – UFG, em Goiânia, GO. Sementes de H. speciosa foram removidas de frutos maduros coletados, em outubro de 2013, de exemplares da espécie pertencentes à Coleção de Frutíferas Nativas do Cerrado da Escola de Agronomia da UFG. 3.2.1 Descontaminação de sementes Após a colheita, os frutos foram despolpados em peneira e as sementes lavadas em água corrente. Para a retirada do excesso de mucilagem foi usado um pano de algodão. Em seguida as sementes foram colocadas sobre folhas de papel toalha, onde secaram à sombra, em temperatura ambiente, por 24 horas. As sementes de H. speciosa foram separadas em dois grupos: com tegumento e sem tegumento. O tegumento do segundo grupo foi removido com o auxílio de bisturi. Na pré-assepsia dos dois grupos, as sementes receberam 20 gotas de detergente neutro e permaneceram por 20 min. em água corrente. Em 37 seguida, as sementes de cada grupo foram imersas em álcool 70% por um min. e destinadas aos respectivos tratamentos. Ambos os grupos de sementes foram submetidos a cinco tratamentos em solução com 0,25% de cloro ativo onde permaneceram por 5, 10,15, 20 e 25 minutos. Tratamentos de T1 a T5 utilizaram sementes com tegumento. Tratamentos de T6 a T10 utilizaram sementes sem tegumento. Dentro da câmara de fluxo laminar, as sementes foram submetidas a uma tríplice lavagem em água destilada e autoclavada, sendo inoculadas em meio de cultura MS (Murashige & Skoog, 1962) com 30 g.L-1 sacarose sem adição de reguladores de crescimento. O pH do meio de cultura utilizado foi ajustado para 5,7 – 5,8 antes da adição de ágar (5,5 g.L-1). Foram utilizados tubos de ensaio com capacidade de 50 mL, preenchidos com 17 mL de meio de cultura e autoclavados a 120ºC e 1 atm, por 20 minutos. Após a inoculação das sementes, cada tubo de ensaio foi mantido em sala de crescimento com temperatura de 25 ± 1ºC em condição luminosa de 45 µmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas. Utilizou-se 11 repetições por tratamento e as avaliações sobre a taxa de contaminação foram realizadas quinzenalmente durante 45 dias. 3.2.2 Germinação das sementes As sementes, após coletadas, despolpadas e com o excesso de mucilagem retirado, foram armazenadas sobre papel toalha umedecido e acondicionadas em placas de Petri a uma temperatura de 12°C para a conservação da umidade. No preparo do experimento tiveram o tegumento removido com auxílio de bisturi. Os tratamentos consistiam em dois diferentes tipos de vedação, sendo o primeiro de vedação completa e outro semipermeável que permitia trocas gasosas (mixotrófica), em meio de cultura MS, sendo as sementes desinfestadas em hipoclorito de sódio a 0,25% de cloro ativo por 15 min. O pH do meio foi ajustado para 5,7 - 5,8 antes da adição de ágar (5,5 g.L-1) e os tubos de ensaio autoclavados a 120ºC a 1 atm, por 20 minutos. Após a inoculação das sementes, os tratamentos foram mantidos em sala de crescimento com temperatura de 25 ± 1ºC em condição luminosa de 45 µmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas. No experimento foram utilizadas 40 repetições. Primeiramente foram avaliadas as sementes que iniciaram a emissão de radícula (considerada como germinada) até o período de 30 dias, em seguida, para aferir a taxa de plantas viáveis, foram feitas avaliações mensalmente durante 150 dias observando se a taxa de sobrevivência das plantas e se estas apresentavam alterações morfológicas. 38 3.2.3 Brotação Sementes de H. specisa Gomes foram germinadas in vitro, obtendo-se plântulas assépticas. Este material livre de contaminantes foi usado na obtenção de explantes para a indução de brotações em sistema mixotófico (a vedação do tubo de ensaio permite trocas gasosas). Para estimular a brotação lateral, foram excisados as folhas, raízes e os ápices caulinares, deixando somente duas gemas axilares. Para verificar o efeito da interação entre BAP e AIA, em dois tipos de meio de cultivo (MS e WPM), foi utilizado 2,0 mg.L-1 de BAP e diferentes concentrações de AIA (0,0; 0,5; 1; e 1,5 mg.L-1) nos tratamentos. A combinação destes dois reguladores de crescimento em dois meios de cultura resultou em um total de 8 tratamentos (Tabela 3.1). Tabela 3.1 Tratamentos utilizados para indução de brotações in vitro, de segmentos nodais de Hancornia speciosa Gomes. No de tratamentos T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 Meio de cultura MS MS MS MS WPM WPM WPM WPM Concentrações (mg.L-1) AIA* BAP** 0,0 2,0 0,5 2,0 1,0 2,0 1,5 2,0 0,0 2,0 0,5 2,0 1,0 2,0 1,5 2,0 * Ácido indolacético (AIA) ** 6-benzilaminopurina (BAP) Os explantes de H. speciosa foram inoculados em câmara de fluxo laminar, individualmente, em tubos de ensaio (25 x 150 mm) contendo 17 mL meio de cultura (Figura 3.1). A incubação foi mantida com temperatura de 25 ± 1ºC em condição luminosa de 45 µmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas. Cada um dos tratamentos possuíam 25 repetições, totalizando 200 tudos. Avaliou-se quinzenalmente por 75 dias o número de brotações, o comprimento dos brotos, a presença de raízes nos explantes, e a presença ou não de calos na base. 39 Figura 3.1 Etapas da inoculação de segmentos nodais de H. speciosa. A – retirada da plântula germinada in vitro do tubo de ensaio em câmara de fluxo laminar; B – remoção das raízes; C – excisão dos explantes com aproximadamente duas gemas laterais; D – remoção das folhas; E – inoculação do explante em meio de cultura suplementado com reguladores de crescimento (AIA e BAP); F – tubo pronto para ser mantido em sala de crescimento. 3.2.4 Enraizamento e aclimatização Brotos obtidos in vitro de H. speciosa foram induzidos ao desenvolvimento de raízes. As brotações foram transferidas em câmara de fluxo laminar para tubos de ensaio (25 x 2,3 cm) contendo 50 mL meio de cultura. Os tratamentos consistiram em sistema mixotrófico de vedação, meio WPM, suplementado com diferentes concentrações de AIB (0; 2; 4; e 6 mg.L-1), totalizando quatro tratamentos (Tabela 3.2). Tabela 3.2 Tratamentos utilizados na indução de raízes, em brotações estabelecidas in vitro a partir do cultivo de segmentos nodais de Hancornia speciosa Gomes. No de Tratamentos T1 T2 T3 T4 Descrição Meio WPM + sistema mixotrófico Meio WPM + 2 mg.L-1de ANA + sistema mixotrófico Meio WPM + 4 mg.L-1de ANA + sistema mixotrófico Meio WPM + 6 mg.L-1de ANA + sistema mixotrófico O meio de cultura teve o pH ajustado para 5,7 - 5,8, a incubação foi mantida com temperatura de 25 ± 1ºC em condição luminosa de 45 µmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 40 horas. Com 25 repetições por tratamento, avaliou-se a presença ou não de raízes, o número médio e o comprimento médio de raízes, presença ou não de plântulas e sua altura, aos 30, 45, 60 e 75 dias. Para a aclimatização, foram utilizadas dez mudas com pelo menos cinco centímetros de altura, quatro folhas formadas e comprimento de raízes de pelo menos dois cm. As mudas foram retiradas dos tubos de ensaio, lavadas com água destilada, colocadas em substrato próprio sugerido por Oliveira et al. (2012) e mantidas em estufa por noventa dias. Verificou-se a porcentagem de sobrevivência das mudas após 90 dias de cultivo. 3.2.5 Delineamento experimental e análises estatísticas Em todos os experimentos o delineamento experimental usado foi o inteiramente casualizado em que cada parcela consistiu de um tubo de ensaio com uma semente ou explante. Para o experimento de brotação os tratamentos foram arranjados em um fatorial 4x2 – quatro concentrações de AIA e dois meios de cultura. A normalidade dos dados obtidos para os tratamentos foi testada pelo teste de Lilliefors. Os tratamentos foram comparados por análise de variância ANOVA, seguido por teste Tukey. As concentrações de AIA e AIB foram submetidas a regressão polinomial quadrática. Quando detectadas diferenças significativas entre os tratamentos e entre as interações, as médias foram comparadas entre si, pelo teste t de Student. Todos os testes foram realizados ao nível de significância de 5%. As análises estatísticas foram conduzidas com auxílio do software Biostat 5.0 (Ayres et al., 2007). 3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.3.1. Descontaminação de sementes No experimento de descontaminação, o procedimento para todos os tratamentos das sementes com tegumento, apresentou baixa eficácia. Independentemente do tempo de exposição ao cloro ativo, o índice de contaminação por bactérias superou 27%. Nos tratamentos em que houve a remoção do tegumento a porcentagem de contaminação não ultrapassou 9,09%, o que evidência uma influência do tegumento na contaminação das 41 sementes in vitro. Acredita-se que um dos fatores que possa ter influenciado no alto índice de contaminação são a pilosidade e a mucilagem residual do tegumento das sementes de H. speciosa. Nas sementes sem tegumento, os tratamentos utilizados não diferiram estatisticamente entre si, quando analisados pelo teste de Tukey (Tabela 3.3). Quando presente a contaminação, foi exclusivamente por bactérias, fato este reforçado pela testemunha que apresentou somente este tipo de agente contaminante (Figura 3.2). Tabela 3.3 Taxa (%) de contaminação das sementes de H. speciosa com e sem tegumento, submetidas à diferentes tempos de exposição ao hipoclorito de sódio (0,25% de cloro ativo), após 45 dias de inoculação em meio MS. Tegumento Com Sem Tempos de exposição ao hipoclorito de sódio (minutos) 0 5 10 15 20 25 100 Aa 54,55 Ba 36,36 Ba 54,55 Ba 31,82 Ba 27,27 Ba 100 Aa 9,09 Bb 9,09 Bb 0,00 Bb 9,09 Bb 0,00 Bb Médias seguidas de mesma letra maíuscula na linha não diferem entre si, pelo teste Tukey a 5% de significância. Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si, pelo teste t de Student, a 5% de significância. Figura 3.2 Sementes de H. speciosa inoculadas em meio MS, contaminadas por bactérias, após serem tratadas com solução desinfestante à base de hipoclorito de sódio (0,25% de cloro ativo). Silva (2012), em seu estudo sobre descontaminação de sementes de Eugenia dysenterica DC testou, em dois grupos de sementes: com tegumento e sem tegumento, sete tratamentos, sendo quatro doses de cloro ativo e três doses de casugamicina (fungicida/bactericida sistêmico). Concluiu que o processo de desinfestação se mostrou ineficiente para todos os tratamentos das sementes com tegumento, pois independentemente 42 das concentrações de cloro ativo e casugamicina, o índice de contaminação por fungos e/ou bactérias foi de 100%. Já a menor taxa de contaminação (6,66%), foi obtida no tratamento da semente sem tegumento imersa por 20 min. em hipoclorito de sódio na concentração de 2,5% de cloro ativo. Pereira et al. (2008), constataram que a retirada do tegumento de sementes de Abarema cochliacarpos (B.A. Gomes) Barneby e J.W.Grimes foi fundamental para a redução da porcentagem de contaminação, havendo uma redução de 81,1% da contaminação do tratamento controle com tegumento para o melhor tratamento sem tegumento. Fick et al. (2007), constataram que a retirada do tegumento das sementes de Cordia trichotoma (Vell.) Arrabida ex Steudel (louro-pardo) foi essencial para o sucesso da germinação in vitro, já que a presença do tegumento promoveu 100% de contaminação. Retirando-se o tegumento a taxa de contaminação diminuiu consideravelmente, cerca de 90% a 100%. 3.3.2. Germinação das sementes Os resultados demonstraram que em ambos os tratamentos, T1 (vedação completa) e T2 (permite trocas gasosas), as sementes de H. speciosa apresentaram uma alta porcentagem de germinação, cerca de 90% das sementes emitiram a radícula (Figura 3.3). Para este item de avaliação, não houve diferença significativa entre os tratamentos T1 e T2, os quais apresentaram taxas de 90% e 87,5% de germinação respectivamente. 43 Figura 3.3 Germinação in vitro de sementes de H. speciosa: A – emissão de radícula; B – emissão de plântula; C – sistema radicular; D – plântula em desenvolvimento. Em relação ao desenvolvimento de plantas, foi possível observar que após 120 dias de cultivo todas as plantas germinadas no tratamento T1 começaram a apresentar senescência foliar e/ou amarelecimento dos tecidos. Entretanto, no tratamento T2, 88% das plantas permaneceram com tecidos verdes e com suas folhas, as quais estavam mais expandidas. Embora não tenha sido realizada análise estatística, através das análises visuais observou-se que as plantas do tratamento T2 demonstraram um maior crescimento (sendo limitadas pelo comprimento do tubo de ensaio) quando comparadas com as plantas do tratamento T1 (Figura 3.4). 44 Figura 3.4 Aspecto visual de mudas de H. speciosa germinadas in vitro, após 90 dias de inoculação: A – sistema mixotrófico; B – sistema heterotrófico. A última avaliação feita aos 150 dias, sobre as sementes que germinaram, mostrou que no tratamento T1 nenhuma planta estava viável (0%), pois das 36 plantas que germinaram, 36 apresentaram senescência, 7 estavam com amarelecimento e 29 estavam mortas, enquanto que tratamento T2 das 35 plantas germinadas, 4 (12%) apresentaram senescência (Tabela 3.4). O ambiente fechado do sistema heterotrófico favorece o acúmulo do gás etileno. Este gás é um fitohormônio responsável pela abscisão de folhas, frutos e flores o qual é produzido em maior quantidade nas folhas jovens em desenvolvimento, do que nas folhas completamente expandidas (Taiz & Zeiger, 2006). O etileno, mesmo em pequenas concentrações, pode ser fisiologicamente ativo e desencadear vários processos, dentre esses a abscisão foliar (Kerbauy, 2004). 45 Tabela 3.4 Viabilidade de plantas de Hancornia speciosa cultivadas em diferentes tipos de vedação após 150 dias de incubação. Senescência Amarelecimento Morte Senescência Amarelecimento Morte Plantas germinadas em tubos fechados 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 1 13 28 36 0 0 7 18 0 0 0 0 Plantas germinadas em tubos com trocas gasosas 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 0 0 2 4 0 0 0 0 0 0 0 0 150 dias 36 7 29 150 dias 4 0 0 Soares et al. (2009) verificaram o efeito de meios de cultura WPM, WPMx2 (com o dobro da concentração de sais), WPM/2 (com metade da concentração de sais), MS e MS/2 (com metade da concentração de sais), suplementados com 30,0 g L-1 de sacarose), concentrações de GA3 (0,0; 0,2 e 0,4 mg.L-1) e pH (4,8; 5,8 e 6,8) na germinação in vitro de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes). Apesar da não significância estatística, os autores aferiram uma pequena superioridade dos meios de cultura WPM e MS/2, ambos proporcionando 100% de germinação. Quanto ao efeito do GA3 a concentração de 0,2 mg L-1 favoreceu a germinação e não houve diferenças estatísticas para as faixas de pH testadas, sendo alcançado uma taxa de germinação de 100% com o pH de 5,8. Silveira (2015) em seu trabalho de comparação do sistema heterotrófico de propagação in vitro de Eugenia dysenterica (Mart.) DC. com um sistema mixotrófico, utilizou explantes inoculados em tubos de ensaio com ou sem troca gasosa em meio WPM suplementado com concentrações variadas de ANA e BAP. A autora inferiu que o sistema mixotrófico é superior no momento da formação de novos brotos no que se refere ao maior número de brotos, maior número de folhas por broto, e síntese de pigmentos fotossintéticos. 3.3.3 Brotação Para a variável número de brotos, na análise do fatorial 4 concentrações de AIA x dois tipos de meios (MS e WPM) não houve significância para o efeito dos meios (p = 0,2911) nem na interação dos dois fatores (0,2054). Porém, a análise detectou diferenças significativas entre os tratamentos (p = 0,0106). Entretanto, quando as concentrações foram avaliadas pela regressão polinomial, não houve diferença estatística entre as concentrações 46 de AIA em nenhum dos meios testados: MS (p = 0,8296) e WPM (p = 0,2985) (Figuras 3.5 e 3.6). Porém, comparando-se somente os tratamentos T1 (MS + 2,0 mg.L-1) e T5 (WPM + 2,0 mg.L-1), sem a presença de AIA, verifica-se pelo teste t que o meio WPM é o mais indicado para estimular a brotação (p = 0,0302). Figura 3.5 Análise de regressão quadrática para número de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura MS, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,8296). 47 Figura 3.6 Análise de regressão quadrática para número de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,2985). Soares et al. (2010) em seus estudos com Hancornia speciosa Gomes, afirmam que as citocininas promoveram a proliferação de brotações em todos os seus tratamentos testados, sendo a 6-benzilaminopurina (BAP) com a concentração de 2,0 mg.L-1 a que obteve melhor média de 1,8 brotos por explante. Morales et al. (1999) inferiram que em macieira, cv. gala RW1, para o número de brotos, a presença do BAP no meio MS, favoreceu uma maior formação de brotações. Na pesquisa de Bezzera et al. (2014) sobre o efeito da citocinina na multiplicação de brotos de Mimosa caesalpiniifolia Benth (Fabaceae), a curva de resposta apresentou-se ascendente até a concentração de 17,76 μmol/L de BAP em meio WPM, atingindo o ápice de brotações, seguido pelo declínio quando os explantes são submetidos a concentrações superiores à supracitada. Para a variável comprimento de brotos, na análise do fatorial 4x2 também não houve significância para o efeito dos meios (p = 0,5478) nem na interação dos dois fatores (0,6140). Porém, a análise detectou diferenças significativas entre os tratamentos (p = 0,0001). Entretanto, da mesma forma para número de brotos, quando as concentrações foram avaliadas pela regressão polinomial, também não houve diferença estatística em nenhum dos meios testados: MS (p = 0,6793) e WPM (p = 0,3883) (Figuras 3.7 e 3.8). O mesmo resultado ocorreu na comparação dos tratamentos T1 (MS + 2,0 mg.L-1) e T5 48 (WPM + 2,0 mg.L-1), sem a presença de AIA, verifica-se pelo teste t que não há diferença estatística entre os meios (p = 0,0646). Reis (2011) em seu estudo de indução de brotações em microestacas de H. speciosa, utilizou segmentos caulinares contendo até duas gemas laterais inoculados em meio de cultura WPM, suplementado com diferentes concentrações de BAP (0,0; 1,0; 2,0; 3,0 e 4,0 mg.L-1), ANA (0,0; 0,5; 1,0 e 1,5 mg.L-1) e sacarose à 3%. O autor concluiu que a concentração de 3 mg.L-1 de BAP possibilita a obtenção de brotações mais desenvolvidas, porém induz também a formação de calos na base dos explantes e à adição de ANA ao meio de cultura é dispensável na multiplicação in vitro de microestacas de mangabeira. Soares et al. (2007) relataram que os maiores comprimentos médios das brotações, em explantes caulinares de mangabeira, 3,17; 3,0 e 2,87 cm, foram verificados nos tratamentos com 1,0; 2,0 e 3,0 mg.L -1 de BAP, respectivamente. Acima dessas concentrações houve uma tendência de redução do tamanho dos brotos formados. Após 15 dias de incubação várias repetições nos tratamentos que possuíam concentrações de AIA, apresentaram a formação de calos na base do explante. No final da avaliação aos 75 dias, os tratamentos que apresentaram maior número de calos foram os que tinham 1,5 mg.L-1 de AIA e 2 mg.L-1 de BAP ( T4, T8, T12, T16) mostrando que na medida em que se elevava a concentração de AIA também se elevava a incidência de calos não só na quantidade, mas também no tamanho deles (Figura 3.9). A formação de calos na base do explante, seja este do tipo segmento nodal ou ápice caulinar, é muito frequente em espécies lenhosas (Soares et al., 2007). Segundo Grattapaglia & Machado (1998) a formação de calos na base dos explantes pode ser atribuída às quantidades excessivas de auxina e sacarose, podendo ainda comprometer a rizogênese e o crescimento de partes aéreas. 49 Figura 3.7 Análise de regressão quadrática para comprimento de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura MS, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,6793). Figura 3.8 Análise de regressão quadrática para comprimento de brotos de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIA inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,3883). 50 Figura 3.9 Segmentos nodais de Hancornia speciosa, inoculados em diferentes meios de cultura e suplementados com diferentes concentrações dos reguladores de crescimento AIA e BAP: A – Brotos em meio WPM e vedação que permite trocas gasosas; B – Brotos em meio MS e vedação que permite trocas gasosas; C – broto bem desenvolvido, em meio MS e vedação total; D – Brotos em meio WPM, a esquerda vedação semipermeável e a direita vedação total. Setas indicam a formação de calos. 3.3.4 Enraizamento e aclimatização Os tratamentos de enraizamento de H. speciosa, estimularam a formação de raízes (Figura 3.10). Após trinta dias iniciou-se a fase de elongamento, observando-se raízes mais espessas em comparação com raízes de plantas com semente (Figura 3.11). Quanto ao número médio de raízes, houve diferença estatística significativa entre as concentrações de AIB (p = 0,0276), sendo 6 mg.L-1 a concentração que apresentou o resultado mais satisfatório com 9,35 raízes por explante, seguida da concentração de 4 mg.L-1 com 6,57 raízes por explante e da concentração de 2 mg.L-1 com 2,72 raízes por explante (Figura 3.12). 51 Já para o comprimento médio da raiz não houve diferença significativa entre os tratamentos (p = 0,2398), sendo que a média das concentrações 6, 4, e 2 mg.L-1 de AIB, foram respectivamente 4,83, 4,85 e 2,21 cm de comprimento (Figura 3.13). Figura 3.10 Enraizamento de segmentos nodais de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM, suplementado com diferentes concentrações de AIB e com vedação semipermeável: A – 2 mg.L-1 de AIB; B – 4 mg.L-1 de AIB; C – 6 mg.L-1 de AIB. 52 Figura 3.11 Raízes de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM, e com vedação que permite trocas gasosas: A – Raízes de segmentos nodais; B – Raízes de mudas germinadas a partir de sementes. Figura 3.12 Análise de regressão quadrática para número de raízes de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIB inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,0276). 53 Figura 3.13 Análise de regressão quadrática para comprimento das raízes de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIB inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,2398). Todos os três tratamentos apresentaram a formação de parte aérea e não houve diferença estatística entre eles (p = 0,4894), as concentrações 2, 4 e 6 mg.L-1 de AIB obtiveram médias de 3,9, 9,6 e 6,7 cm, respectivamente (Figura 3.14). Em se tratando de rizogênese in vitro de espécies lenhosas o AIB é utilizado com maior frequência devido à estabilidade maior no espectro de ação e menor fitotoxidez ao explante (Proebsting, 1984). Segundo Wang & Anderson (1988), o AIB é a auxina sintética mais comumente utilizada na indução de enraizamento. Em geral as espécies arbóreas, respondem com baixas taxas de enraizamento a tratamentos in vitro (Kozai & Kubota, 2005). Certas espécies, principalmente as lenhosas, enraízam com dificuldade ou não enraízam, mesmo na presença de auxinas (Rohr & Hanus, 1987). O que não foi observado no presente estudo, pois o tratamento de maior média de número de raízes (T3 com 6 mg.L-1 de AIB) com 9,35 raízes por explante, se aproximou bastante do número de raízes encontrado nos estádios iniciais de plantas desenvolvidas a partir de sementes, as quais tem em média 11 raízes por planta. Provavelmente o enraizamento satisfatório dos explantes ocorreu devido ao genótipo da planta matriz e/ou aos níveis endógenos de auxinas dos explantes que podem ter contribuído para ativar esse processo morfogenético. 54 Figura 3.14 Análise de regressão quadrática para comprimento da parte aérea de Hancornia speciosa Gomes, em função da concentração de AIB inoculados em meio de cultura WPM, com vedação que permite trocas gasosas (p = 0,4894). A formação de raízes adventícias em partes aéreas é essencial para o transplantio nas condições ex vitro e pode estar relacionada a diversos fatores como as condições de crescimento da planta, idade fisiológica, posição do explante na planta matriz, regulador de crescimento utilizado, potencial genético da planta, concentração endógena de fitohormônios nos explantes e outros fatores como meio nutritivo, estado físico do meio de cultura, pH e condições de incubação (Assis & Teixeira, 1998). Um fato que reforça a hipótese do potencial genético e/ou dos níveis endógenos de auxinas nos explantes, foi à resposta de diferentes genótipos de H. speciosa a uma mesma concentração de AIB (4 e 6 mg.L-1). Na ocasião da montagem do experimento de enraizamento, uma planta servia de matriz para, em média três explantes. Sendo assim eles tinham o mesmo genótipo. Ao final do experimento havia diferenças visuais evidentes no enraizamento, as quais podem ser atribuídas exclusivamente ao genótipo dos indivíduos, já que as condições ambientais eram as mesmas para todas as repetições do experimento (Figura 3.15). 55 Figura 3.15 Enraizamento de diferentes genótipos de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM, suplementado com AIB e com vedação que permite trocas gasosas: A – 4 mg.L-1 de AIB; B – 6 mg.L-1 de AIB. Na aclimatização das dez mudas obteve-se 80% de sobrevivência após noventa dias (Figura 3.16). Plantas que realizam mais fotossíntese tendem a ter um bom aspecto nutricional, uma vez que o estímulo das trocas gasosas entre o ambiente externo e interno pelo sistema de membranas favorece a absorção eficaz de nutrientes pelas plantas a partir do meio de cultura (Arigita et al., 2010). Os estômatos possuem considerável importância nessas alterações, pois o movimento de água contido nos espaços intercelulares para a atmosfera ocorre quase que completamente por difusão do vapor de água por meio deles, cujo principal mecanismo de controle é a resistência estomática (Taiz & Zeiger, 2004). Além dos estômatos, a presença de cerosidade, na superfície de folhas formadas in vitro, também possui papel regulatório sobre a elevada transpiração foliar das plantas micropropagadas (Lamhamedi et al., 2003). 56 Figura 3.16 Aspecto visual de mudas aclimatizadas de H. speciosa: A – 7 dias em casa de vegetação; B – 45 dias em casa de vegetação. Segundo Shin et al. (2014), o sucesso da aclimatização está relacionado à adição de CO2 nos frascos de cultura, assim como a presença de carboidratos de reserva presentes nos sistemas fotoautotróficos e fotomixotróficos. Em seu estudo sobre a aclimatização de um híbrido de Doritaenopsis ssp., os autores concluíram que dos três sistemas estudados, heterotrófico, fotomixotrófico e fotoautotrófico, os dois últimos foram superiores na aclimatização, com altas nas concentrações de pigmentos fotossintéticos, amido e demais enzimas relacionadas à síntese de clorofila como a PEP-carboxilase. Tendo em vista os resultados obtidos, a concentração de 6 mg.L-1 de AIB seria a mais recomendada para realizar a rizogênese in vitro da Hancornia speciosa Gomes cabendo mais estudos, principalmente em clones, para uma especificidade na dosagem. 57 3.4 CONCLUSÕES O tratamento mais indicado para a desinfestação de sementes de H. speciosa é o que utiliza 0,25% de cloro ativo com o tempo de exposição mínimo de 5 minutos, com remoção do tegumento. Para a germinação in vitro de H. speciosa, a utilização da vedação semipermeável dos recipientes é a mais indicada, pois produz mudas mais vigorosas. Em relação à indução de brotações em H. speciosa, a suplementação com AIA é dispensável e os tratamentos que apresentam maiores médias em relação à quantidade de brotos foram aqueles com meio de cultura WPM com 2,0 mg.L-1 com vedação semipermeável. É satisfatório para o enraizamento a concentração de 6 mg.L-1 de AIB, por produzir maior quantidade de mudas para aclimatização. 58 4 CRIOPRESERVAÇÃO DE GEMAS AXILARES DE Hancornia speciosa GOMES RESUMO Técnicas de criopreservação utilizam temperaturas ultrabaixas (-196oC) para suspender a atividade metabólica dos tecidos vegetais estendendo a sua viabilidade por um período indefinido. Sendo assim, esta é uma estratégia promissora na conservação ex situ à longo prazo, para o armazenamento de germoplasma vegetal. A técnica de vitrificação droplet tem sido empregada para a conservação de diversas espécies tropicais recalcitrantes, pois permite um congelamento e descongelamento ultrarrápidos. Objetivou-se desenvolver protocolos de criopreservação de gemas axilares de Hancornia speciosa Gomes utilizando a técnica de vitrificação droplet. Brotações de H. speciosa desenvolvidas in vitro tiveram as gemas axilares separadas com o auxílio de um bisturi. Esses explantes foram utilizados para o experimento de vitrificação, a fim de inferir sobre a influência do tempo de imersão em solução de pré-cultivo (24, 12, e 6 horas) seguida ou não pela imersão em nitrogênio líquido (NL), na recuperação, sobrevivência e regeneração dos tecidos. Foi observado que o tempo de 24 horas em solução de pré-cultivo, permite uma maior porcentagem de regeneração a partir de gemas axilares após a criopreservação. Palavras-chave: vitrificação droplet, conservação ex situ, mangabeira ABSTRACT Cryopreservation techniques use ultra low temperatures (-196oC) to suspend the metabolic activity of plant tissue extending its viability for an indefinite period, so this is a promising strategy in ex situ conservation in the long run, for the storage of plant germplasm. The droplet vitrification technique has been employed for the storage of several tropical 59 recalcitrant species therefore allows ultrafast freezing and thawing. The objective was to develop protocols for axillary buds cryopreservation of H. speciosa using the droplet vitrification technique. Axillary buds of H. speciosa explants grown in vitro were separated with a scalpel. These explants were used for vitrification experiment in order to infer the effect of immersion time in the pre-culture solution (24, 12, and 6 hours), followed or not by immersion in liquid nitrogen (NL), the recovery, survival and regeneration of tissues. It was observed that the time of 24 hours in pre-culture solution enables a higher percentage of regeneration from axillary buds after cryopreservation. Key words: droplet vitrification, ex situ conservation, mangabeira 4.1 INTRODUÇÃO A criopreservação é definida como a conservação de material biológico em nitrogênio líquido a -196ºC, ou em sua fase de vapor, a -150ºC (Santos, 2002). A temperatura em que é realizada a criopreservação é conhecida como “temperatura criogênica”. Nesta temperatura, extremamente baixa, os gases encontram-se liquefeitos à pressão atmosférica, onde todas as reações químicas, biológicas e as atividades intra e extracelulares estão suspensas (Castro et al., 2011). A criopreservação é considerada o método ideal para a conservação de germoplasma, por permitir o armazenamento de materiais biológicos por tempo indefinido, mantendo sua estabilidade genética e suas características fenotípicas, usando pouco espaço e requerendo pouca manutenção (Engelmann, 1997; Carvalho & Vidal, 2003). A criobiologia alcançou grande progresso nos últimos anos sendo desenvolvidos com sucesso protocolos de criopreservação para numerosas espécies de plantas de propagação vegetativa, cereais, gramíneas, plantas ornamentais, frutíferas tropicais e temperadas, entre outras (Santos, 2002). Para cada grupo, usa-se uma técnica diferente, tendo em vista o tipo de material a ser criopreservado. Um exemplo pode ser dado por sementes ortodoxas, as quais, pelo fato de resistirem à desidratação, podem ser criopreservadas sem qualquer tratamento, o que não vale para a maioria dos materiais empregados em experimentação (calos, meristemas e sementes recalcitrantes), os quais possuem quantidade elevada de água no meio celular. 60 O grande desafio para a criopreservação é realizar o congelamento sem a formação de cristais de gelo no interior das células. A formação de gelo no meio intracelular causa ruptura do sistema de membranas celulares, resultando em perda da semi-permeabilidade e da compartimentação celular em consequência disso, as células entram em colapso (Buzó & Rosa, 2007). Segundo Carvalho & Vidal (2003), os métodos de criopreservação podem ser desdobrados nas seguintes etapas: pré-crescimento, crioproteção, resfriamento, armazenamento, descongelamento e regeneração. O pré-crescimento consiste em uma fase preparatória, onde se fornece à cultura condições para tolerância ao congelamento. Envolve suplementação de compostos osmoticamente ativos ao meio, além de outras substâncias; a crioproteção é a aplicação de um ou mais compostos que permitam à célula tolerar as mudanças físicas e químicas relacionadas ao congelamento e descongelamento; o resfriamento (congelamento) pode ser feito de forma lenta ou rápida. O armazenamento é feito em botijões ou tanques criogênicos contendo nitrogênio, mantendo as espécies a (-196ºC) na fase líquida, ou (-150ºC) na fase de vapor; o descongelamento, etapa tão importante quanto à fase de resfriamento, deve ser realizado rapidamente para assegurar que nenhum gelo na célula descongele com possibilidade de se recristalizar; a regeneração consiste em reestabelecer o crescimento após a criopreservação e também é uma das fases críticas. Deve-se permitir a retomada dos processos metabólicos interrompidos pelo congelamento com o mínimo distúrbio osmótico e físico. De modo geral, os métodos de criopreservação são classificados quanto ao modo de congelamento dentro de dois grupos: lento utilizando-se temperatura controlada, ou rápido utilizando vitrificação. Desde o estabelecimento do primeiro protocolo de vitrificação proposto por Sakai & Oiyama (1990), vários outros métodos foram propostos, dentre eles vitrificação droplet e encapsulamento-desidratação. Com isso, vários tipos de tecidos agora podem ser criopreservados com maior eficiência. O tratamento com agentes crioprotetores é de extrema importância, pois suprimem o dano causado pelo congelamento ajudando a manter a resistência às injúrias resultantes do processo. Contudo, independente do método empregado, a adição de um agente crioprotetor representa um fator chave para o sucesso da criobiologia, sendo indispensável sua presença (Castro et al., 2011), principalmente se tratando de materiais que possuem quantidade de água elevada no interior celular. Em geral, o mais utilizado é o 61 DMSO, embora haja indícios que esta substância tenha efeitos fisiológicos deletérios quando inserido em concentrações maiores que a célula permite (Fahy, 1986). Entre as vertentes da criopreservação a vitrificação droplet é uma técnica derivada da técnica de congelamento de gotículas desenvolvido por Kartha et al. (1985), para o congelamento de brotos de mandioca, em que os brotos são colocados em gotas de meio crioprotector e refrigeradas lentamente com gelo ou em congelador programável. O diferencial desta técnica é a possibilidade de atingir altas taxas de refrigeração/aquecimento devido ao pequeno volume de meio contendo crioprotetor em que os explantes são colocados. 4.2 MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram realizados no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da Universidade Federal de Goiás – UFG, em Goiânia, GO. Sementes de H. speciosa Gomes foram removidas de frutos maduros coletados, em outubro de 2013, de exemplares da espécie pertencentes à Coleção de Frutíferas Nativas do Cerrado da Escola de Agronomia da UFG. Os frutos foram despolpados e, em câmara de fluxo laminar, as sementes foram desinfestadas com hipoclorito de sódio (0,25% de cloro ativo) durante 15 minutos, em seguida lavadas com água destilada e autoclavada em abundância e inoculadas em meio WPM (Lloyd & Mccown, 1980), suplementado com 30 g de sacarose, 5,5 g L-1 ágar e pH ajustado em 5,75 antes da autoclavagem à 120ºC, durante 20 minutos. A partir das plantas obtidas pela germinação in vitro, segmento nodais de mangabeira foram excisados e multiplicados em meio WPM, suplementado com 2 mg.L-1 BAP (6 benzilaminopurina), e geleificado com 5,5 g L-1 de ágar. O pH do meio foi ajustado em 5,75 antes da autoclavagem. Após crescimento in vitro, gemas axilares foram extraídas para os testes de criopreservação. A temperatura da sala de crescimento durante a fase de micropropagação ou de cultivo das gemas axilares foi de 25°± 1°C, com fotoperíodo de 16h e condição luminosa de 45 µmol.m-2.s-1. As gemas axilares (3 mm2) foram excisadas com auxílio de um bisturi e em seguida foram submetidas a diferentes tempos de exposição (6, 12 e 24 horas) a solução de pré-cultivo (meio MS, suplementado 0,3 M de sacarose). Decorrido este intervalo, as gemas axilares foram submetidas à solução de carregamento por 20 minutos, composta de 62 2 M de glicerol + 0,4 M de sacarose dissolvido em meio MS, seguido pela imersão em plant vitrification solution 2 (PVS2) a 0ºC, onde permaneceram por 15 minutos. A PVS2 é composta de 3,26 M de glicerol + 2,42 M de etileno glicol + 1,9 M de dimetilsufóxido + 0,4 M de sacarose, todos dissolvidos em meio MS líquido (Sakai, et al., 1990). A criopreservação foi realizada conforme a técnica de vitrificação droplet (Panis, et al., 2005) a qual, antes da imersão em nitrogênio líquido (NL), as gemas são acomodadas em tiras de papel alumínio (1,5 × 0,5 cm), sobre uma superfície gelada. Nos tratamentos T1 (24h), T2 (12h) e T3 (6h) as gemas axilares ficaram imersas em NL por, no mínimo 30 minutos. Nos tratamentos T4 (24h), T5 (12h) e T6 (6h) as gemas não foram submetidas ao NL. Na sequência, as gemas axilares de todos os tratamentos ficaram imersas na solução de descarregamento composta de 0,4 M de sacarose dissolvido em meio MS. Todas as soluções tiveram o pH ajustado em 5,75 e foram filtro-esterilizadas (Figura 4.1). Após o descongelamento, as gemas axilares foram inoculadas em tubos de ensaio contendo 17 mL de meio WPM com 2 mg L-1 de BAP, 5,5 g L-1 ágar e pH 5,75. As gemas foram mantidas em sala de crescimento por 30 dias. Foram avaliadas a retomada de crescimento das gemas e a formação de calos. Figura 4.1 Esquema da metodologia de criopreservação de explantes de Hancornia speciosa Gomes pela técnica de vitrificação droplet. 63 3.2.5 Delineamento experimental e análises estatísticas O delineamento experimental usado foi o inteiramente casualizado em que cada parcela consistiu de um tubo de ensaio com duas gemas axilares. A normalidade dos dados obtidos para os tratamentos foi testada pelo teste de Lilliefors. Os tratamentos foram comparados por análise de variância ANOVA, seguido por teste Tukey. As análises estatísticas foram conduzidas com auxílio do software Biostat 5.0 (Ayres et al., 2007). 4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O pré-cultivo das gemas axilares em 0,3 M de sacarose por 24 horas alcançou maior porcentagem de sobrevivência ao processo de criopreservação com 52%, quando comparado aos demais, 12 horas com 30% e 6 horas com 20% (Figura 4.2). No tratamento controle como não houve a imersão das gemas axilares em nitrogênio líquido a principal variável que afetou a sobrevivência foi à toxixidade das substâncias crioprotetores. Sendo observado que os tratamentos controle não diferiram estatisticamente entre si, com porcentagens de sobrevivência de 64%, 60% e 60%, respectivamente para T4, T5 e T6. Quanto à regeneração entre os tratamentos que passaram pelo processo de criopreservação o de maior porcentagem foi o T1 (24h) com 32%, seguido de T2 com 12% e T3 com 10% (Figura 4.2). Depois da criopreservação a recuperação não ocorreu em 48% das gemas do tratamento T1. Nos tratamentos T2 e T3 as porcentagens de não recuperação foram respectivamente de 70% e 80% (Figura 4.3). A sobrevivência dos explantes pode ser atribuída ao efeito benéfico da absorção de sacarose no decorrer do pré-cultivo que promove tanto a redução do conteúdo de água dos explantes por desidratação (efeito osmótico) quanto à redução do ponto de congelamento da água presente nos tecidos (Panis et al., 1996). Além disso, a sacarose aumenta a proteção das membranas celulares durante o resfriamento (Carpentier et al., 2010; Quain et al., 2009). De acordo com Burrit (2008), os açúcares solúveis, glicose e frutose, exercem um importante papel na estabilização da bicamada fosfolipídica e de proteínas em condições de baixas quantidades de água. Mesmo sem o processo de criopreservação houve perdas nos tratamentos controle, isso pode ser explicado pelo fato dos crioprotetores serem potencialmente tóxicos 64 (Fuller, 2004) e as substâncias que compõem a PVS2, principalmente o DMSO, podem levar à morte celular, especialmente se a imersão ocorre em temperaturas superiores a 0ºC ou se o período de exposição for muito prolongado (Fuller, 2004; Panis, 2005). O précultivo e a etapa de carregamento podem influenciar na tolerância do explante a exposição ao PVS2 (Sakai & Engelmann, 2007). Figura 4.2 Recuperação, Sobrevivência e Regeneração de gemas axilares de Hancornia speciosa Gomes, submetidas ou não ao processo de criopreservação, expostas a diferentes tempos de pré-cultivo em solução de meio WPM + 0,3 M de sacarose: T1 – 24h em pré-cultivo + criopreservação; T2 – 12h em pré-cultivo + criopreservação; T3 – 6h em pré-cultivo + criopreservação; T4 – 24h em précultivo; T5 – 12h em pré-cultivo; T6 – 6h em pré-cultivo. 65 Figura 4.3 Explantes de Hancornia speciosa Gomes, inoculados em meio de cultura WPM: A – Gemas axilares inoculadas depois do descongelamento; B – Calos e primórdios foliares; C – Mudas regeneradas. O choque osmótico provocado pelas soluções de carregamento, PVS2 e descarregamento, principalmente pela longa exposição ao PVS2 somado ao efeito do précultivo em alta concentração de sacarose, podem promover efeitos deletérios nos explantes (Halmagyi & Pinker, 2006; Raba‟a et al., 2012). Essa redução da sobrevivência dos explantes após períodos maiores de pré-cultivo também foi observada por Coste et al., (2012); Shatnawi & Johson, (2004). Matsumoto et al., (1994) observaram que plantas de wasabi pré-cultivadas por três dias em 0,3-0,7M de sacarose também apresentavam redução na sobrevivência após a criopreservação. Santos (2013), em seu estudo sobre criopreservação por meio da técnica de vitrificação droplet, concluiu que a porcentagem de sobrevivência de ápices caulinares de H. speciosa a um pré-cultivo de 24 horas alcançou 90% e não diferiu estatisticamente de um período de 48 horas. Sartor et al., (2012), em estudo sobre a criopreservação de gemas de H. speciosa, concluiu que o encapsulamento-desidratação e a vitrificação não foram meios adequados de crioproteger as gemas de mangabeira, já que não houve regeneração. A relativa baixa taxa de sobrevivência das gemas axilares alcançada no presente estudo pode ser atribuída ao tamanho do explante utilizado (3 mm2), pois maior massa favorece o acumulo de água, que na etapa de criopreservação, se transforma em cristais de gelo. Segundo Bekheet et al., (2007), o tamanho do explante pode influenciar na disponibilidade de água livre no interior do tecido. 66 É importante destacar que a concentração ideal dos crioprotetores e o tempo de exposição a eles podem variar entre as espécies e até mesmo entre variedades da mesma espécie. Wang et al., (2000) observaram regeneração de 40% em brotos do híbrido LN33 (Vitis L. x Vitis vinifera L.) com a concentração de 1 M de sacarose na osmoproteção. Entretanto, Marković et al., (2013) utilizando Vitis vinifera L. cv., constatou regeneração de 37,1% fazendo uso de 1 M de sacarose. Por este motivo, antes de se aplicar um protocolo de criopreservação é necessário avaliar qual a concentração ideal de crioprotetores e tempo de exposição para a espécie/variedade de interesse. Como a H. speciosa possui polinização aberta, não autofecunda e não é domesticada, deve-se considerar que a espécie possui grande variabilidade genética, o que também pode ter influenciado na variação encontrada para a tolerância à criopreservação. 4.4 CONCLUSÕES O pré-cultivo das gemas axilares de mangabeira por 24 horas, em meio MS com 0,3 M de sacarose proporciona a sobrevivência dos explantes criopreservados pela técnica de vitrificação droplet. 67 5 REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. de A. C.; MORAIS, A. M.; CARVALHO, J. M. F. C.; GOUVEIA, J. P. G. Crioconservação de sementes de mamona das variedades nordestina e pernambucana. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.6, n. 2, p.295-302, mai./ago. 2002. ISSN 1807-1929. ANDRADE, S. R. M. 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