universidade do extremo sul catarinense – unesc curso de ciências

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS BACHARELADO
LUYZA VERÔNICA ALEXANDRINO
PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA – BRASIL PARA AS TEORIAS:
EVOLUÇÃO E SELEÇÃO NATURAL DE DARWIN: CONTRIBUIÇÕES DE FRITZ
MÜLLER
CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2008
LUYZA VERÔNICA ALEXANDRINO
PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA – BRASIL PARA AS TEORIAS:
EVOLUÇÃO E SELEÇÃO NATURAL DE DARWIN: CONTRIBUIÇÕES DE FRITZ
MÜLLER
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca
Examinadora para obtenção do Grau de Biólogo, no
Curso de Ciências Biológicas Bacharelado da
Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.
Orientadora Profª. Msc. Maristela Gonçalves Giassi
CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2008.
LUYZA VERONICA ALEXANDRINO
PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA – BRASIL PARA AS TEORIAS:
EVOLUÇÃO E SELEÇÃO NATURAL DE DARWIN: CONTRIBUIÇÕES DE FRITZ
MÜLLER
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca
Examinadora para obtenção do Grau de Biólogo, no
Curso de Ciências Biológicas Bacharelado da
Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.
Criciúma, 30 de outubro de 2008.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Matristela Gonçalves Giassi – Mestre – (UNESC) – Orientadora
Profº. Claus Troger Pich – Mestre – (UNESC)
Profº. Cláudio Ricken – Mestre - (UNESC)
À Deus todo poderoso que me dá: força, luz,
proteção, sabedoria e discernimento.
AGRADECIMENTOS
Na busca de reconhecimento das pessoas as quais me ajudaram em todo o
percorrer de minha história de vida, seria impossível mencionar todas, pois como eu poderia
fazer referência e agradecer a todos os que contribuíram, sem mencionar as que fazem parte
da vida destas pessoas: “sem elas isto também não seria possível”.
Agradeço à Deus todos os dias pelas provisões que tem me proporcionado, e neste capítulo
em especial, esclarecerei as graças que tem me concedido.
De forma especial, evidencio a minha família a qual merece a mais profunda
consideração e reconhecimento. Pois foi a que me inclinou à personalidade que mostro ser
hoje, além de minhas escolhas serem completamente discernidas conforme a educação
envolvente que me proveram.
O crescimento é uma experiência profunda, de alguma forma, durante o processo
de crescimento percebemos que quanto mais crescemos mais compreendemos e mais nos
entusiasmamos a crescer e a compreender. Há uma pessoa a qual devo total gratidão ao
desenvolvimento de meu crescimento bem como minha compreensão: Minha Mãe Neide
Costa. Sei que sem as idéias e os ideais desta pessoa em minha vida, meu TCC com certeza
não abrangeria tal tema ou objetivo.
Agradeço cordialmente a ajuda fiel e angelical de minha Fada madrinha Giselda e
ao padrinho Wilson, sem a ajuda financeira destas ilustres pessoas eu não poderia estar
vislumbrando este momento de agradecimento no meu trabalho de conclusão de curso.
À minha orientadora de TCC, Maristela, obrigada por tudo, foi de grande valia a
ajuda e a mão amiga que me proporcionou nestes três semestres de trabalho de conclusão de
curso.
Agradeço ao meu companheiro fiel, Jefferson Martins, o qual me ajudou muito em momentos
de queda. Trouxe-me alegria de viver e vislumbres para nosso futuro juntos.
“Obrigada a todos, que contribuíram e fizeram parte da minha história de vida”.
Ninguém é tão grande que não possa aprender...
e nem tão pequeno que não possa ensinar.
(Voltaire)
RESUMO
Charles Darwin é conhecido mundialmente por suas teorias sobre a evolução das espécies. O
que poucos conhecem é que muito de suas teorias tiveram contribuições de estudos
realizados em Santa Catarina, por meio de um alemão, radicado em Blumenau, chamado
Johann Friedrich Theodor Muller, ou “FRITZ MÜLLER”. De acordo com o objetivo desta
pesquisa, resgatar e evidenciar as contribuições científicas do Brasil e de Santa Catarina para
as teorias evolucionistas de Darwin, mostrou o quanto são valorosas as contribuições do
naturalista alemão e residente em Blumenau, Fritz Müller, para as teorias de Darwin.
Podemos destacar que Müller foi considerado o primeiro pesquisador a criar uma filogenia
séria, tendo como base estudos e observações exaustivas de material vivo de Crustáceos.
Sendo considerado por Darwin um pesquisador em que mais teria confiança, pois provou sua
teoria evolucionista ao descrever o desenvolvimento larvar de crustáceos, bem como as
variadas outras peculiaridades demonstradas por estes indivíduos. Müller foi um grande
observador das diversas formas de interação animal-planta. Pioneiro em realizar excurções
em função de suas pesquisas, foi o primeiro estudioso a notar a grande abundância de cupins
existentes em troncos mortos e no solo, sendo considerado o primeiro termitólogo do Brasil.
Em Itajaí Müller observou várias espécies de borboletas que mimetizavam cores de outras
borboletas que utilizavam este tipo de “cor alerta” para defenderem-se dos predadores, por
assim ser característica de sabor desagradável - Hoje conhecido como “mimetismo
mülleriano”. Darwin mandava publicar na integra as cartas de Fritz Müller, as quais
acompanhadas de um comentário seu, se transformavam em artigos científicos, a maioria
publicada na revista Nature. Suas pesquisas relatam o quanto este homem era apaixonado
pela natureza, o que fica evidente em suas descrições sobre as mais belas paisagens que já
vira aqui no Brasil. Desde que iniciou seus estudos, Müller já mencionava em suas cartas
uma real preocupação com o meio em que vivia. Ainda há muito que se creditar à Fritz
Müller e ao Brasil em termos de contribuição para a Ciência. Esta pesquisa deseja ser o
início deste reconhecimento e o incentivo para que surjam outros destacando e valorizando a
produção científica do Brasil na área.
Palavras-chave: Fritz Müller. Evolução. História da ciência.
LISTA DE FIGURAS
1. Museu Fritz Müller em Blumenau- SC..............................................................................14
2. Chácara de Müller, localiza-se atrás do museu Fritz Müller em Blumenau- SC................15
3. Objetos pessoais de Müller, cadeiras de descanso do estudioso e de sua esposa...............15
4. Fritz Müller: 1886...............................................................................................................16
5. Náplius, indivíduo larval que corresponde ao estágio inicial em toda a grande classe de
crustáceos................................................................................................................................20
6. Fig. 65 - estádio de um jovem Tubícola com tentáculos simples. Aumento de 6x. Sem
opérculo, estádio de Protula- Fig. 66 - com pedúnculo opercular plumosos, estágio de
Filograma- Fig. 67- Com pedúnculo opercular num estádio de Serpula...............................22
7. Rosa, filha mais velha de Fritz Müller................................................................................26
8. Ata com desenho ilustrativo dos diferentes cupins de uma colônia, usado por Müller para
ilustrar uma palestra em 1871.................................................................................................31
9. Ata ilustrativa de traço preciso e beleza gráfica, preparada por Müller, obtida de um de
seus diversos artigos de cupins...............................................................................................32
10. Casas construídas pelas larvas de cupins..........................................................................32
11. Desenho ilustrativo dos corpúsculos de Müller, fonte nutritiva para as formigas que
vivem comensalmente com a embaúba...................................................................................33
12. Ata ilustrativa, anexo em publicação de Fritz Müller em 1881.......................................34
13. À direita a verdadeira Monarca e à esquerda a Viceroy. Ambas com gosto ruins para os
predadores..............................................................................................................................35
14. Leque odorífero da mariposa esfinge................................................................................36
15. Probóscide da mariposa esfinge, com 22 centímetros de comprimento...........................36
16. Abortamento de pêlos: 2- Tíbia e tarso dos dois pares de pernas da pupa habitante de
bromélias. 3- O mesmo de uma espécie aliada próxima, habitando em regatos.....................37
17. Sapo com ovos nas costas, descrito por Müller em 1879.................................................48
18. Mapa encontrado na obra de Alfred Möller, onde ele delineia a região de pesquisa
realizada por Müller................................................................................................................40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................11
1.1 Problema de pesquisa........................................................................................................12
1.2 Objetivos.......................................................................................................................... 13
1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 13
1.2.2 Objetivos Específicos....................................................................................................13
2. METODOLOGIA.............................................................................................................13
3. FRITZ MÜLLER..............................................................................................................16
3.1 Für Darwin: Fatos e argumentos a favor de Darwin.........................................................18
3.1.1 Prova e progresso da evolução: por Fritz Müller...........................................................20
3.1.2 Reconhecimento de Müller por Darwin.........................................................................25
3.2 Notas de um naturalista do Sul do Brasil..........................................................................27
3.3 Fritz Müller e o ambiente..................................................................................................39
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................42
REFERÊNCIAS....................................................................................................................45
ANEXO..................................................................................................................................47
11
1. INTRODUÇÃO
Motivada por teorias que apresenta o homem e outras variadas formas de
vida em evolução e considerando esse fato pouco explorado por acadêmicos e
pesquisadores nacional, pretende-se trazer para reflexão informações poucas divulgadas
da produção científica de Santa Catarina, especialmente as realizados por Müller no
campo da evolução.
De acordo com Murgel (1994), o processo de organização, distribuição e
classificação, dos elementos que fazem parte da realidade diária, são inerentes ao ser
humano desde os primórdios de sua ocupação do planeta, pois garante a compreensão
dos fenômenos da natureza, que o alimenta e lhe dá abrigo. Sendo assim, ao longo de
séculos o homem passou a acumular conhecimento, através de longas observações,
manuseio e experimentação do ambiente a sua volta e todos os fenômenos que nele
ocorrem.
Através de variados procedimentos, o homem criou sistemas de
classificação que evoluíram e deram origem ao sistema de classificação dos seres vivos
utilizado atualmente. Desde o reconhecimento deste tipo de classificação, houve a
necessidade de buscar teorias explicativas para esclarecer certos aspectos difíceis de
encaixar nesta classificação.
Segundo Rauen (2002), há uma busca cada vez mais ativa de resgatar os
trabalhos de cientistas para uma maior compreensão da sua produção e resgate do que já
foi realizado. Assim, este trabalho só foi possível com o auxílio da bibliografia deixada
por pesquisadores que nos precederam e deixaram sua contribuição.
Dentre as teorias de Darwin, destacamos a evolução e seleção natural para
tratar na presente pesquisa, pois são as mais aceitas atualmente, bem como encontra-se
o fundamento principal no livro Für Darwin de Fritz Müller.
No ano de 2009 será comemorado o “Big Year” relativo ao bicentenário do
nascimento de Charles Darwin. Durante todo o ano serão realizados eventos científicos
e de divulgação sobre a evolução das espécies através da seleção natural, os quais irão
evidenciar a referida data, na maioria das nações, por ser o naturalista, o causador de
uma das maiores revoluções de toda a história da Ciência. Sendo assim, será
imprescindível, proporcionar nestes eventos os méritos das contribuições do
naturalizado brasileiro Fritz Müller para as teorias de Darwin.
12
A realização destes eventos será importante pois acarretará um movimento
de divulgação científica, oportunizando maiores reflexões sobre este tema para os
acadêmicos, biólogos e estudiosos interessados.
Na medida em que se pretende discutir sobre as contribuições de Müller
para a evolução de Darwin, discute-se também o processo com o qual interagiram os
pesquisadores. Embora a teoria da evolução e a seleção natural ainda apresentem
controvérsias, estas devem ser compreendidas na sua totalidade. Pois não se pode negar
as contribuições e participação deste grande pesquisador, bem como o resultado de suas
pesquisas às ciências atuais.
A partir de 1865, perdurando até 1882, houve profícua troca de
correspondência entre os dois naturalistas. Estas trocas de correspondências resultaram
em muitos trabalhos científicos, entre 1844 a 1899, num total de 248 trabalhos, em
diversos idiomas: alemão, inglês, latim, francês e português (ZILLIG, 1997).
Dada a relevância dos estudos de F. Müller amplamente descritos nas cartas
de correspondência entre Muller e Darwin, esta pesquisa justifica-se por que coloca o
estado de Santa Catarina e o Brasil no cenário de importantes teorias científicas.
.
1.1 Problema de pesquisa
Para Rauen (2002), toda investigação se inicia por um problema ou uma
questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articuladas a conhecimentos anteriores.
Assim nesta pesquisa tem-se o seguinte problema a ser investigado:
•
Quais as contribuições de Fritz Müller realizadas em Santa
Catarina - Brasil para as teorias evolução e seleção natural de
Charles Darwin?
•
Quais as pesquisas realizadas por Fritz Müller em Santa Catarina
- Brasil que contribuíram para os estudos de Darwin?
13
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Resgatar e descrever as principais contribuições científicas do naturalista
alemão e residente no Brasil Fritz Müller, adicionadas ás pesquisas de Darwin.
1.2.1 objetivos específicos
•
Relatar as contribuições de Fritz Müller realizadas em Santa
Catarina – Brasil para as teorias evolução e seleção natural de
Darwin;
•
Relatar os principais estudos realizados por Fritz Müller, que de
suma
importância
foram
desempenhados
no
Brasil,
e
adicionados ás ciências biológicas;
•
Resgatar o importante personagem da Ciência Universal, Fritz
Müller, através de seus legados, tornando evidente suas
contribuições para a ciência;
•
Mostrar a relação de Müller com o ambiente e a necessidade de
preservação.
2. METODOLOGIA
Neste trabalho foi empregada a pesquisa bibliográfica que, de acordo com
Rauen (2002), tem como objetivo estudar todos os trabalhos disponíveis a respeito do
assunto em questão para a tomada de decisão em todas as fases da pesquisa, pois é
necessário ao pesquisador ter um conhecimento profundo sobre o tema. Destaca-se que
a pesquisa bibliográfica é condição básica para qualquer trabalho. Desta forma não há
qualquer espécie de pesquisas que não faça uso da revisão bibliográfica.
14
Para realização dessa pesquisa, foi consultado o principal livro produzido
por Fritz Müller, Für Darwin, que trata de reflexões sobre as teorias abordadas por
Darwin, bem como os livros de Darwin para comparação. Também foram utilizados
muitos artigos e livros produzidos por estudiosos da obra e vida de Müller,
conterrâneos de Blumenau – SC.
Foram realizadas visitas de estudos ao Museu Fritz Müller (Figuras: 01, 02
e 03) em Blumenau - Santa Catarina, e ao acervo da Biblioteca Municipal, do arquivo
histórico de Blumenau – SC. E ainda alguns dados foram obtidos em DVD sobre a sua
vida.
Foram coletadas informações e materiais com os funcionários do museu
visitado e com a visita à Biblioteca municipal também nos foram dadas valiosas
informações com a responsável pela Biblioteca Sueli Petry. Com ela conseguimos
também livros e artigos sobre Müller publicados em Blumenau dos quais apresentamos
em anexo uma das cartas de Müller à Darwin e também outra de Darwin para Müller.
Figura 01: Museu Fritz Müller em Blumenau- SC.
15
Figura 02: Chácara de Müller, localiza-se atrás do museu Fritz Müller em Blumenau- SC.
Figura 03: objetos pessoais de Müller, cadeiras de descanso do estudioso e de sua esposa.
16
FRITZ MÜLLER
Segundo Zillig (1997), Johann Friedrich Theodor Müller (Fig. 04) nasceu
em uma pequena aldeia da Turíngia, Windischholzhausen, na Alemanha em 31 de
março de 1822, próximo a Erfurt. Doutorado em filosofia fez curso de medicina, mas
não colou grau por não concordar com a formulação do juramento que iria pronunciar,
pois mostrava um conteúdo religioso que batia de frente com suas opiniões sobre a
existência de Deus.
Figura 04: Fritz Müller: 1886. (Fonte: http//www.blumenauonline.com.br).
O alemão imigrou para o Brasil em 1852, naturalizou-se e radicou-se na
Colônia Blumenau, no estado de Santa Catarina, por 34 anos. Sendo 11 anos deste
período ocupado em moradia na cidade de Desterro, atual Florianópolis. Tempo
suficiente o bastante para desenvolver inúmeros trabalhos científicos (ZILLIG, 1997).
A presença desse imigrante permitiu ao meio intelectual de Santa Catarina
viver a contemporaneidade da ciência e da filosofia evolucionista dos centros mais
avançados da Europa (PAULI, 1972). Mesmo assim, pelo fato de ter optado por uma
vida simples e longe dos círculos intelectuais de sua época, Müller é pouco lembrado,
apesar de sua admirável e grandiosa obra. De acordo com Haeckel (1995), o que o torna
mais digno de admiração, além de ser contribuidor das maiores assumidades da ciência,
17
foi sua modéstia infinita, o qual não permitiu que seus conhecimentos tornassem
sucesso com fama bem merecida.
Era um personagem raramente visto em sociedade, fora dos circuitos de
amigos que se interessavam por suas idéias e pesquisas, Mantinha-se
afastado da vida política pública e só por duas vezes tentou interferir nas
polêmicas da imprensa local [...] (HAECKEL, p. 14, 1995).
Com poucos recursos financeiros Fritz Müller produziu excelentes artigos
científicos, que são consultados até hoje. Foi um dos melhores naturalistas de campo do
século XIX no Brasil. Apesar disso, o naturalista é pouco e/ ou “nada” mencionado em
currículos escolares e acadêmicos (FONTES, p. 30, 2007).
Müller teve dez filhos, nove meninas e um menino, o qual faleceu logo após
seu nascimento. Durante os quatro primeiros anos em que viveu em Blumenau ajudou a
construir a colônia, aproveitando a oportunidade de pesquisar a flora e a fauna
deixando-nos um grande legado. Os quais constituídos de fatos importantes através de
minuciosa observação e acurado estudo, que contribuíram para consolidar a botânica e a
zoologia como grandes especialidades das Ciências Biológicas (ZILLIG, 1997). Como
médico atendeu os casos mais urgentes e sempre manteve um relacionamento amistoso
com os índios, pois os mesmos o protegiam contra os animais selvagens enquanto
pesquisava a natureza (ZILLIG, 2006).
Abordando aspectos biológicos, anatômicos, ecológicos e evolutivos,
investigou temas da natureza brasileira e edificou notável obra científica, de interesse
mundial (FONTES, p 24, 2007). Mostrando seu real valor para as ciências biológicas,
foi juiz de paz em Blumenau (SC) e presidente da Câmara de Vereadores. Foi chamado
por Haeckel de “herói da ciência, a imagem da maior simplicidade e modéstia
imagináveis, aliadas à nobreza principesca do espírito” (HAECKEL, p. 16, 1995). Já
Von Ihering considerou-o “o mais notável entre os naturalistas no Brasil, que dedicouse à pesquisa científica”. E o próprio Charles Darwin atribuiu-lhe a condição de
“príncipe dos observadores” (ZILLIG, 1997).
Ao se falar de Fritz Müller, geralmente se explica que ele foi um grande
cientista, pesquisador da natureza, que viveu em Blumenau e, quase que
invariavelmente, se acrescenta: ele se correspondia com Darwin! (ZILLIG.
p. 05 1997).
18
Devido às inconsistências observadas no início das discussões sobre a teoria
evolucionista, a qual é composta por várias teorias principais e independentes, diversos
naturalistas discordavam da validade dessas teorias, fundando escolas adversárias. E por
quase oitenta anos houve profícua “guerra” de idéias até chegar a uma síntese
conclusiva, nos anos 1930 e 1940 (MAYR, 2005).
Sua doutrina teve diversos defensores naturalistas, estudiosos e cientistas
por todo o planeta, que aceitaram e apoiaram através de contribuições, sob a luz dos
pensamentos de Charles Darwin. Eram eles: Thomaz Henry Huxley na Inglaterra, Ernst
Haeckel na Alemanha, Asa Grey nos Estados Unidos e no Brasil o representante foi o
brilhante naturalista alemão Fritz Müller. Foi ele quem possuía material o suficiente
para corroborar com a teoria da evolução, bem como para as várias outras pesquisas
relacionadas à botânica de Charles Darwin (ZILLIG, 1997).
3.1 FÜR DARWIN : FATOS E ARGUMENTOS A FAVOR DE DARWIN
O naturalista Charles Robert Darwin lançou um livro intitulado Origens das
espécies, apresentando aos cientistas, no dia 24 de novembro de 1859, uma esmagadora
massa de provas a favor da evolução biológica. Por meio de minuciosa análise dos
animais que pesquisou em uma viagem a bordo do Beagle durante cinco anos, sob
controle do capitão Fitz Roy, em 1831, chegou a conclusão que a origem das espécies
dá-se por meio das transformações sofridas pelos seres vivos (plantas, animais, fungos e
bactérias) ao longo das gerações, sendo os atuais sobreviventes os descendentes
adaptados de seres vivos que viveram em tempos passados (DARWIN, 2003).
Colocando o fenômeno acima de qualquer dúvida, tornou assim, esta a explicação
científica dominante para a diversidade de espécies na natureza.
Segundo Mayr (2005), a compreensão de mundo antes de Darwin era
contida pela física e a ciência divina. A partir do século XIX quando houve a maior
aceitação das idéias advindas da Biologia, a visão de mundo para as pessoas modificou
a ponto de respingar uma revolução ideológica complexa. Sendo a mais drástica
modificação na visão das pessoas comuns do que havia ocorrido em séculos passados.
19
Darwin foi quem claramente estabeleceu a ciência secular, e certamente foi
um dos grandes pioneiros na transformação da natureza causal de muitos fenômenos
biológicos em um conceito aceitável (MAYR, 2005).
O primeiro contato com o livro Origens de Charles Darwin, fez com que
Müller se tornasse um exímio seguidor e defensor das teorias Darwinianas. Em
Desterro, antiga capital da província de Santa Catarina, hoje Florianópolis, realizou
pesquisas reunindo todos os dados e fatos resultantes. Para tentar expor seus propósitos
e possibilidades, tratou da descrição do desenvolvimento embrionário e larvar de
crustáceos marinhos. Sua maior intenção seria de provar a teoria da evolução proposta
por Darwin (ZILLIG, 1997).
Müller menciona o seu propósito com clareza nas primeiras linhas de seu
livro:
Ao ler o livro de Charles Darwin sobre ‘a origem das espécies’, me pareceu
que um dos caminhos, e talvez o mais seguro, de testar a correlação das
opiniões ali desenvolvidas, seria de se fazer um experimento, o mais
detalhadamente possível, empregando-se um determinado grupo animal.
Num tal experimento, seria de se elaborar uma árvore genealógica [...], o
mais completo possível e elaborar um quadro claro, que possa fornecer um
resultado triplo (ZILLIG, p. 03, 1997).
Fritz Müller idealizou três possibilidades em seu livro, onde estes seriam
identificados como pressupostos básicos para coligar as probabilidades de estudo sobre
as teorias de Darwin a serem provadas (MÜLLER, 1990):
_ A primeira seria a possibilidade de que a utilização dos experimentos
poderia conduzir a uma pesquisa com conseqüências contraditórias às hipóteses de
Darwin.
_ A segunda possibilidade proferia que o experimento poderia ser bem –
sucedido, sendo possível demonstrar em ampla ou limitada escala o desenvolvimento
comprobatório.
_ E por último seria possível e mais provável a conseqüente queda do
experimento diante das dificuldades encontradas para suas conclusões.
O naturalista decidiu então, continuar com os estudos, optando pela
utilização de uma classe. Müller relata em seu livro sobre sua intenção, referindo-se que
precisou limitar sua escolha, optando por àqueles cuja forma principal fosse fácil de se
manter viva em diversas situações (MÜLLER, 1990).
20
Definido então a escolha de utilizar a classe de crustáceos para legar as
proposições da seleção natural, após um longo e detalhado estudo de todas as fases de
desenvolvimento dos animais em pesquisa, Fritz Müller chegou à conclusão de que
seria um conjunto de provas em prol de Darwin, os quais foram publicados em “Für
Darwin”. E no dia sete de setembro de 1864, apenas cinco anos após a publicação do
livro de Darwin, Fritz Müller finalizou um pequeno livro intitulado “Für Darwin”
(Fatos e argumentos a favor de Darwin), expondo seus propósitos e possibilidades
(ZILLIG, 1997).
3.1.1 PROGRESSO DA EVOLUÇÃO: POR FRITZ MÜLLER
Utilizando da exatidão da teoria Darwiniana, aplicou um exímio estudo de
Crustáceos, abordando todos os detalhes possíveis para contribuir com o mesmo no Für
Darwin. O livro apresenta em 4 folhas um total de 67 desenhos de Fritz Müller,
ilustrando diferentes aspectos de interesse para a tese da evolução (ZILLIG, 1997).
Usou as formas variadas deste grupo, pois têm sua origem num mesmo embrião, o
Náuplius (Figura 05).
Figura 05: Náplius, indivíduo larval que corresponde ao estágio inicial em toda a grande classe de
crustáceos. (Fonte: Zillig, 1997)
Fritz Müller ao percorrer o desenvolvimento de um jovem crustáceo, e
perceber as mudanças pelas quais passa ao se afastar da realidade dos pais, causando
21
novas espécies, gênero e famílias novas, notou que este fenômeno pode ocorrer tanto
em estádios prematuros ou em ocasião da maturidade sexual (MÜLLER, 1990).
Fritz Müller observou que os crustáceos, depois de atingirem a idade adulta,
podem revestir caracteres novos, afetando não somente partes
insignificantes, mas mesmo partes muito importantes [...] é provável que as
diferenças entre os novos e os adultos e entre os adultos e os velhos fossem
primitivamente adquiridas por graus insensíveis (DARWIN, p. 205, 2003).
Müller traz como, por exemplo: a adição de novos apêndices e segmentos
no indivíduo, assim como a coincidência das estruturas corporais nas primeiras fases
de vida, pode ser explicada como uma reprodução da história da espécie ao longo do
desenvolvimento até o estágio final de maturidade.
A história de uma espécie será preservada na sua história evolutiva tanto
mais perfeitamente quanto mais longa for a série de estádios jovens pelos
quais ela passe em secções uniformes, e tanto mais realmente quanto menos
o modo de vida do jovem se afaste dos adultos e quanto menos
peculiaridades dos estádios jovens individuais possam ser concebidos como
transferidos para trás, dos períodos prévios de vida, ou como adquiridos
independentemente (MÜLLER, p. 81, 1990).
Prova disso Müller verificou no estádio de um jovem annelida Tubícola
(Figura 06) de tentáculos branquiais simples, onde o mesmo não apresenta opérculo
nos primeiros dias de vida, sendo denominado como estádio de gênero Protula. Logo,
poucos dias mais tarde, um dos filamentos branquiais alarga-se na extremidade num
opérculo clavado, sendo o mesmo classificado num outro gênero, o de Filograna. Três
dias depois, com o brotar de mais um par de filamentos branquiais, o pedúnculo
opercular perde os filamentos laterais, e os vermes tornam a denominar-se Serpula
(MÜLLER, 1990).
22
Figura 06: Fig. 65-estádio de um jovem Tubícola com tentáculos simples. Aumento de 6x. Sem
opérculo, estádio de Protula- Fig. 66- com pedúnculo opercular plumosos, estádio de FilogramaFig. 67- Com pedúnculo opercular num estádio de Serpula. (Fonte: Müller, 1990).
Aqui mostra, espontaneamente, que os primitivos vermes de Protula,
adquiriram a formação de um opérculo para a proteção de seus tubos contra possíveis
inimigos, assim subseqüentemente, seus descendentes perdiam seu últimos filamentos
laterais do opérculo, sendo desenvolvidos como seus antepassados. “É fato de que o
pedúnculo opercular de Serpula seja homólogo de um filamento branquial”
(MÜLLER, p. 78, 1990). Registrando no seu desenvolvimento atual o que os
indivíduos ancestrais daquela espécie viveram com o passar dos tempos de adaptações
com o meio.
No curto período de poucas semanas ou meses, as formas cambiantes do
embrião ou das larvas farão passar diante de nós uma figura mais ou menos
completa, mais ou menos exata, das transformações sofridas pela espécies
no decorrer dos tempos até atingir seu estádio atual (MÜLLER, p. 77,
1990).
Mesmo a ciência da época não tendo ainda contato com a genética
Mendeliana, Müller chegou à uma conclusão superficial de fato muito próxima ao que
o monge morávio Gregor Mendel (1822-1884) descobriu sobre como a hereditariedade
funciona: “O indivíduo reproduz a história primitiva da espécie” (HAECKEL, p.11,
1995). Concluiu certamente ao que de fato Darwin havia mencionado em sua obra:
A seleção natural atua exclusivamente conservando e acumulando as
variações que são úteis a cada indivíduo nas condições orgânicas em que
pode achar-se em todos os períodos da vida. [...] o que deve compreender-se
por um progresso de organização (SIMÕES, p. 88 – 89, 1986).
23
Pela primeira vez firmou-se bases sólidas e se explicou por meio da teoria
da descendência comum uma concepção importantíssima, onde Müller provou que a
coincidência da estrutura corporal nas primeiras fases da vida, constitui um traço
semelhante, comum, em todos os animais da grande classe de crustáceos.
Encontrou subsídios para a explicação da semelhança nas primeiras fase de
vida por meio da transmissão hereditária proveniente de um tronco comum, e
encontrou explicações para diferenças embrionárias no processo de adaptações a
condições específicas de cada espécie com o passar dos tempos e
modificações
geomorfoclimáticas. Müller explica:
O registro histórico preservado na evolução, vai-se mascarando à medida
que o desenvolvimento se aproxima de um caminho cada vez mais reto, a
partir do ovo para o animal adulto, e isto é muitas vezes falseado por meio
da luta pela vida que as larvas de vida livre têm de suportar (MÜLLER, p.
78, 1990).
Para que haja a conversão no desenvolvimento do estágio larval, o
indivíduo deve passar por diversos estádios jovens para outro mais direto, dependendo
ainda de processos acidentais, em animais aparentados, das mais diversas maneiras que
se pode imaginar, em períodos variados para sua conclusão. Ainda, não se pode deixar
de lado o fato de que o desenvolvimento histórico de uma espécie, muito raro, pode
ter-se dado em um fluxo contínuo uniforme, mas sim, períodos de repousos
alternaram-na com períodos de processos rápidos (MÜLLER, 1990).
Quando um mesmo órgão se encontra em muitos indivíduos da mesma
classe, sobretudo nos indivíduos tendo hábitos de vida muito diferentes,
podemos ordinariamente atribuir este órgão a um antepassado comum que o
transmitisse por hereditariedade aos descendentes; podemos, além disso,
atribuir a sua falta, em alguns indivíduos da mesma classe, a um
desaparecimento provindo do não uso ou da ação da seleção natural
(DARWIN, p. 206-207, 2003).
É justo e útil que um animal qualquer obtenha, tão cedo possível, em um
conjunto, vantagens que sustentem sua luta pela vida:
Devido a luta pela vida e ao fato de os indivíduos serem diferentes, algumas
das espécies sobreviverão devido a certas variações que lhes dão uma
superioridade em relação às outras, que serão eliminadas. É a seleção
natural (SIMÕES, p. 72, 1986).
24
Darwin
mencionou
em
sua obra “Origens”,
que as
espécies,
possivelmente, tenham advindo de uma modificação semelhante. Mesmo assim, deve
haver uma causa eficiente para cada particularidade de mudanças nas espécies
(DARWIN, 2003), Simões (1986) relata um comentário de Darwin:
Não acredito numa lei fixa de desenvolvimentos [...] O processo da
modificação deve ser extremamente lento. A mutabilidade de cada espécie é
completamente independente da de todas as outras. O aproveitamento dessa
mutabilidade pela seleção natural e a maior ou menor acumulação de
variações [...] depende de muitas contingências complexas – da
mutabilidade ser de natureza benéfica, do poder de intercruzamento, do
ritmo da reprodução, da lentidão das transformações físicas da região e da
natureza dos outros habitantes (SIMÕES, p. 78, 1986).
De acordo com relatos na obra de Darwin (2003), Frtiz Müller observou no
decorrer de suas pesquisas que várias famílias de crustáceos compreendem algumas
espécies providas de aparelhos respiratórios que garantem a vida fora da água.
Detalhadamente, as espécies possuem caracteres parecidos em sua funcionalidade,
outrora são distintas. A semelhança na estrutura em tantos pontos de conformação,
explica-se por uma transmissão hereditária que vai até um antepassado comum. Müller
concluiu que seria improvável que o antepassado comum fosse provido de um aparelho
adaptado à respiração aérea (DARWIN, 2003), ou seja:
Estas espécies, com efeito, pertencendo a famílias diversas, deveriam diferir
até certo ponto; ora, a sua variabilidade não devia ser exatamente a mesma,
em virtude do princípio de que a natureza de cada variação depende de dois
fatores, isto é, da natureza do organismo e das condições ambientes. A
seleção natural, por conseqüência, deveria atuar sobre elementos ou
variações de natureza diferente [...] (DARWIN, p. 210- 211, 2003).
Dadas tais considerações, Fritz Müller mostrou ser um grande seguidor das
teorias as quais Darwin defendia. Leva-nos ainda a considerar sua real amabilidade para
responder questões tão complexas, ou mesmo abordar um tema tão complicado com
toda facilidade ou “gosto”. Mesmo sendo muito complicado o entendimento de suas
descrições em sua obra Für Darwin, vislumbra-se aqui, neste trabalho de conclusão de
curso, uma melhor possibilidade de se entender estas mentes geniais do passado.
25
3.1.2 RECONHECIMENTO INTELECTUAL DE MÜLLER POR DARWIN
De acordo com Zillig (1997), Darwin providenciou pessoalmente a tradução
da obra de Fritz Müller para o inglês. Reconhecendo nela a primeira, e uma das
melhores contribuições de caráter prático que corroboravam cientificamente com sua
teoria. Darwin menciona em carta:
[...] vejo a publicação de seu ensaio como uma das maiores honras que
jamais me foram conferidas. Nada pode ser mais profundo e surpreendente
que suas observações sobre o desenvolvimento e classificação [...] (ZILLIG,
p. 34, 1997).
Em sua primeira carta a Fritz Müller, enviada em dez de agosto de 1865,
Darwin demonstra real apreço pelo trabalho do naturalista:
O senhor fez um admirável serviço pela causa em que ambos trabalhamos.
Muitos de seus argumentos me parecem excelentes, e muitos de seus fatos,
maravilhosos. [...] Permita-me novamente, agradecer-lhe cordialmente pelo
prazer que tive derivado de seu trabalho e expressar minha sincera admiração
pelas suas valiosas pesquisas (ZILLIG, p. 115, 1997).
Em pouco tempo, o nome de Fritz Müller já estava em bom conhecimento
entre os membros das ciências biológicas da época na Europa, sendo sugerida a
mudança do título da obra “Für Darwin” para “Fats e arguments for Darwin”, por Sir
Charles Lyell (grande pesquisador contribuidor e amigo de Darwin). Em uma carta de
Darwin à Müller, o naturalista demonstra a realidade da dificuldade de entendimento e
valor da obra de Müller como sendo um belo, conciso e didático manual da mecânica
elementar da teoria da evolução (ZILLIG, 1997).
[...] venderam-se uma centena de cópias de seu livro, e ouso dizer que,
agora podem ter vendido cinco centenas [...] estou seguro de que seu livro
alcançou as mãos de uma boa quantidade de homens capazes de entendê-lo:
na verdade, eu sei o que ele contém. Mas ele é muito profundo para o
púbico em geral (ZILLIG, p.43, 1997).
Darwin lhe sugeriu que escrevesse um livro intitulado: “Notas de um
naturalista do sul do Brasil”, o que nunca foi concretizado como livro, pois Müller
subestimava sua capacidade, costumava comparar-se com outras publicações da
26
atualidade da época com inferioridade: “[...] eu não estaria em condições de escrever um
livro assim tão atraente...” (ZILLIG, p. 53, 1997). Porém a idéia da iniciativa do livro
acabou sendo abandonada com o falecimento de sua filha Rosa (Figura 07) em 1878, a
qual iria ajudá-lo a escrever e desenhar suas mais variadas idéias e observações
(ZILLIG, 1997).
De acordo com Zillig (1997), dentre suas filhas, Rosa era a que apresentava
maior habilidade para o desenho, por isso iria ajudá-lo na elaboração e publicação de
um livro que estava preparando. Mas, de acordo com o autor, com a morte de Rosa,
Müller perdeu a vontade de viver e de continuar com seu livro,conforme pode-se
perceber no texto a seguir:
Com a morte de Rosa, toda a alegria e a vontade de viver desapareceram.
Eu coleto, observo, desenho, escrevo sem motivação e vontade, somente
para entregar minha colaboração regular para os nossos “Arquivos do
Museu” (Arquivo do Museu Nacional do Rio de Janeiro) (ZILLIG, p.49,
1997).
Figura 07: Rosa, filha mais velha de Fritz Müller. (Fonte: Zillig, 1997).
Atualmente, na praça Doutor Fritz Müller, em Blumenau, está exposta
uma estátua do naturalista alemão, com a observação de Darwin: “Notas de um
naturalista do sul do Brasil”.
27
3.2 NOTAS DE UM NATURALISTA DO SUL DO BRASIL
Fritz Müller formulou contribuições científicas que revolucionaram o
pensamento biológico do século XIX, publicando vários trabalhos científicos no País
(LÜCKMAN, 2001). Em 1856, descreveu suas observações sobre: anelídeos, planárias,
celenterados, parasitas de crustáceos. Após dez anos no Brasil, publicou seus resultados
e discussões sobre tais observações na revista alemã “Archiv Für Naturgeschite. E assim
como foi para Darwin, foi grande contribuidor e assíduo correspondente do alemão
Ernst Haeckel (1834-1919) criador do conceito Ecologia (ZILLIG, 1997).
Segundo Zillig (2006), em 1864 Darwin esteve acometido por uma
enfermidade, o que levou sua esposa Emma fazer a leitura da obra de Fritz Müller, Für
Darwin, durante os oito meses que ficou de cama. Assim ao perceber a importância da
publicação de Für Darwin e o interesse de Fritz Müller como um grande colaborador
para suas teorias, Darwin teve a iniciativa de enviar a primeira correspondência, ele
menciona sua admiração por Müller em carta: “O senhor tem um maravilhoso poder de
observação, sua opinião me seria mais valiosa do que qualquer outro homem”
(ZILLIG, p. 42, 1997).
A partir de 1865, perdurando até 1882, houve profícua troca de
correspondência entre os dois naturalistas, somente interrompidas com a morte de
Darwin em 19 de abril de 1882, resultando em 58 cartas de Darwin para Fritz Müller,
algumas foram perdidas. Estas trocas de correspondências resultaram em muitos
trabalhos científicos, um total de 248 trabalhos, em diversos idiomas: alemão, inglês,
latim, francês e português – os quais estão disponíveis na obra de seu sobrinho Alfred
Möller, sob o título Fritz Müller – Werke, Briefe und Leben (ZILLIG, 1997).
Uma vez que eles nunca se encontraram pessoalmente, formou-se uma
sólida amizade entre as trocas de cartas. Darwin costumava referir-se carinhosamente,
em suas cartas, a Müller como o “Príncipe dos Observadores” da natureza do Brasil.
Darwin [...] providenciava para que o trabalho de Fritz Müller fosse
difundido e publicado; freqüentemente mandava publicar na integra as cartas
de Fritz Müller que, acompanhadas de um comentário seu, se
transformavam em artigos científicos, a maioria publicada na revista Nature
(ZILLIG, p. 26, 1997).
28
Em uma carta de Charles Darwin a Hermann Müller, irmão de Fritz Müller,
datada de 29 de março de 1867, Darwin menciona o real apreço pelo naturalista: “[...]
tenho o maior respeito por ele como um dos mais hábeis naturalistas vivos, e ele tem me
ajudado de muitas maneiras com extraordinária amabilidade” (ZILLIG, p. 153, 1997).
Freqüentemente Darwin citava à seus interlocutores sobre os elevados
méritos alcançados por Müller, tanto nas ciências biológicas em geral, como ainda e
principalmente nos seus trabalhos em prol do maior avanço nas suas teorias. Darwin
reconheceu assim as contribuições que Müller proporcionou à doutrina da evolução pela
teoria da seleção natural. O próprio Ernest Haeckel (1834-1919), testemunhou o
respeito demonstrado por Darwin à Müller, nas três vezes em que o visitou em sua
propriedade rural, em Dow, Inglaterra (ZILLIG, 1997).
Ernest Haeckel generalizou conceitos introduzidos por Fritz Müller no Für
Darwin, elaborando a Lei da Biogenética Fundamental (1877). Passando a afirmar, que
todas espécies animais em seu desenvolvimento larvar e embrionário recapitulam
sucintamente as transformações percorridas pela sua ancestralidade. Dito assim, “a
ontogenia (descreve a origem e o desenvolvimento de um organismo, desde ovo até sua
forma adulta) recapitularia a filogenia (representação histórica das relações de
parentesco)” (ZILLIG, 2006).
Desde a chegada de Fritz Müller ao Brasil, estendendo até seu último dia de
vida, o naturalista alemão e residente brasileiro, divulgou diversas pesquisas de grande
contribuição para as ciências biológicas no País. As quais, até os dias de hoje, são
utilizadas como fonte de novas pesquisas (FONTES, 2007).
Em 1863, publica na revista Archiv Für Naturgeschichte e também no
Annals and Magzine. of Natural History, o resultado de discussões sobre o
desenvolvimento de camarões contendo mais de 20 desenhos ilustrativos, sendo
considerada a “primeira contribuição de Müller” intitulado: “A metarmofose de
camarões”. Logo no mesmo ano, traduziu para o alemão o livro “A origem das
espécies” de Charles Darwin (ZILLIG, 1997).
Em 1864, Fritz Müller escreveu “Für Darwin” - Fatos e argumentos a favor
de Darwin. A obra consistia em uma análise do ensaio e descrição do desenvolvimento
larvar de crustáceos, onde o maior intuito era de provar a Teoria de Darwin, acentuando
os estudos carcinológicos. Ainda em 1864, publicou um artigo na Annals and Magzine.
29
of Natural History, vol. XIV, intitulado “On the metamorfphoses of the
prawns”(ZILLIG, 1997).
Em 1865, Darwin publicou à integra a carta datada de 10 de outubro de
1865, escrita por Fritz Müller, na Linnean Society Journal – Vol. XXIV, seguida de um
comentário seu, intitulando o artigo: “Notes on some of the climbing plants near
Desterro”(ZILLIG, 1997). Além desta grande contribuição, Darwin mencionou sobre
tal observação em sua obra revisada A origem das espécies, sitando o ilustre
pesquisador como autor da descoberta:
Fritz Müller descobriu pouco depois que os novos caules de um Alisma e de
um Linum - plantas não trepadoras e muito afastadas uma da outra no
sistema natural -são afetados de um movimento de rotação bem nítido, mas
irregular; acrescenta que tem razões para acreditar que esta mesma aptidão
existe em outras plantas (DARWIN, p.263, 2003).
Uma carta de Fritz Müller à Darwin, de 2 de fevereiro de 1867, Müller
abordou a capacidade da Maxillaria tetragona de produzir uma enorme quantidade de
sementes em grandes frutos. As observações referidas pelo naturalista alemão na carta
foram comentadas em uma obra de Darwin, “Animals and plants under Domestication”,
vol. II, página 379:
“Fritz Müller me informou que ele encontrou numa cápsula de Maxillaria,
cujas sementes pesavam 42 ½ grãos ele então dispôs meio grão de sementes
em uma estreita linha e contando o comprimento medido, encontrou o
número de 20.667 sementes em um meio grão, de tal maneira que naquela
cápsula deve ter tido o número de 1.756.440 sementes. A mesma planta
muitas vezes produz meia dúzia de cápsulas”(obs: um grão valendo 50 mg)
(ZILIIG, p.148, 1997).
Este estudo de Müller sobre a inter-relação embaúba - formigas e as
observações sobre o mal desenvolvimento das sementes de flores grandes (relatos em
cartas escritas por Müller) contribuíram para o desenvolvimento e finalização dos
conceitos de Darwin sobre a Fertilização de orquídeas. Neles Darwin mostrou as
variadas formas de visitantes florais e suas respectivas especializações (ZILLIG, 1997).
Em uma correspondência de Darwin à Müller datada de 31 de junho de
1867, Darwin menciona que a carta do alemão, de 2 de junho de 1867, chegara à tempo
para que ele pudesse resumir as descrições de Müller sobre plantas onde o próprio pólen
é tóxico, no capítulo de Esterilidade do “The variation of animals and plants”, sendo
30
considerado por Darwin a parte mais impressionante de todo o capítulo. Parte da carta
de Müller, com uma pequena contribuição à Darwin:
À lista das orquídeas onde o próprio pólen apodrece e se torna marrom
escuro poucos dias após ter sido colocado no estigma, posso agora
adicionar duas outras espécies; uma segunda espécie de Gomeza (crispa?) e
uma Burlingtonia (decora?) (ZILLIG, p. 159, 1997).
Müller foi o primeiro a notar a grande abundância de cupins existentes em
troncos mortos e no solo dos locais pesquisados no País. Foi o primeiro a estudar
largamente os cupins da Mata Atlântica, e da vegetação de Restinga, resultando num
amplo levantamento da fauna termítica da região. Publicou suas conclusões sobre os
diversos aspectos da biologia e anatomia de cupins, grande parte ilustrada por desenhos
perfeitos dos insetos
(Fig. 08, 09 e 10). Foram quatro longos e densos artigos,
verdadeiros tratados da história natural.
Todos publicados no periódico alemão
Jenaische Zeitschrift Medizin und Naturwissenschaft. Sendo Fritz Müller considerado o
primeiro termitólogo do Brasil (FONTES, p. 28, 2007).
O entomólogo paulista Luiz Roberto Fontes, divulgou um artigo na revista
Blumenau em cadernos, intitulado: Fritz Müller- Primeiro termitólogo do Brasil. Nesta
pesquisa, Fontes resgatou o naturalista por meio de suas variadas contribuições como
termitólogo no País, descrevendo os artigos de Müller sobre cupins. São estes os quatro
artigos pioneiros: Contribuições ao conhecimento dos cupins (I,II,III e IV):
I. Os orgãos sexuais dos soldados de Calotermes (1873): Na época se discutia a
possibilidade de ocorrência dos dois sexos nas castas não reprodutoras do
soldado e do operário. Com a publicação de Müller, houve a resposta sobre a
realidade deste fenômeno ao descrever a morfologia externa do abdome terminal
e a anatomia dos órgãos sexuais internos (FONTES, p. 31, 2007).
II. As habitações de nossos cupins (1873): Müller descreveu os padrões de ninhos,
materiais de construção e comportamento construtivo de vários cupins. Para
chegar a tal finalidade, era necessário minuciosa habilidade com o machado ao
cortar os troncos para não afetar à composição do ninho, bem como conseguir
encontrar a rainha (FONTES, p. 32, 2007).
III. As ninfas com brotos alares curtos (1873): Um tema formidável foi esclarecido
por Müller quando mencionou que em cada colônia, além dos reprodutores
31
primários oriundos de revoada, existem reprodutores de substituição, os quais
jamais conheceram a luz do sol. Estes são denominadas “ninfas de brotos alares
curtos” de padrão ninfóide (FONTES, p. 34, 2007).
IV. As larvas de Calotermes rugosus Hag. (1875): neste artigo, Müller apresentou
uma descrição minuciosa da morfologia externa e interna das larvas mais jovens
de duas espécies de Calotermes (as quais, 28 anos após, foram incluídas no novo
gênero Rugitermes, pelo naturalista sueco Nils Holmgren). Na época se discutia
muito sobre o significativo evolutivo das expansões laterais do protórax das
larvas de 1º instar. Müller ao estudar minuciosamente as diminutas larvas de 1º
instar, do cupins-de-madeira-seca, notou que as asas dos insetos surgiram por
meio de expansões dos notos torácicos, ao contrário do que se pensava,
pesquisadores da época acreditavam na origem da asas por meio de brânquias
traqueais (FONTES, p. 35, 2007).
Figura 08: Ata com desenho ilustrativo dos diferentes cupins de uma colônia, usado por Müller
para ilustrar uma palestra em 1871. (Fonte: FONTES, p. 29 1997).
32
Figura 09: Ata ilustrativa de traço preciso e beleza gráfica, preparada por Müller, obtida de um de
seus diversos artigos de cupins. (Fonte: FONTES, p. 33, 2007).
Figura 10: Casas construídas pelas larvas de cupins. (Fonte: Zillig, 1997).
Em realidade, não se credita estas informações originais à Müller, como se a
história da descoberta de cupins e descrição complexa em artigos, nunca tivesse
ocorrido. O que é uma tragédia na ciência, ainda “leva-se mais em conta as referências
33
atuais, sem ao menos a titulação de méritos à Müller” (FONTES, p. 31 2007). Daí uma
das maiores causas de seu esquecimento, ou até mesmo do seu desconhecimento pelos
biólogos, acadêmicos de ciências biológicas e estudantes do ensino médio.
Müller foi pioneiro a desbravar inúmeros grupos botânicos e zoológicos em
nosso País. Divulgou vários trabalhos sobre as numerosas inter-relações de plantas e
animais que Müller observou e pesquisou nas matas tropicais do Vale do Itajaí, Santa
Catarina – Brasil (FONTES, p. 28, 2007).
Um dos exemplos considerado um dos mais “famosos”, é a inter-relação
mutualísca de formigas com Cecrópia sp (Embaúba). Em carta, Müller descreveu a
interação das formigas com o indivíduo vegetal, onde a fonte nutritiva das formigas
eram almofadas marrons com pêlos incrustados tendo bastõezinhos brancos (Figura 11).
Müller chegou à conclusão que os corpúsculos da Embaúba tinham como objetivo criar
atração o suficiente para as formigas protegerem as folhas jovens de outros predadores.
Assim, a colônia de formigas se estabelecia dentro da Cecrópia. A carta foi publicada
no vol. XII da Nature, em 1876, intitulada: “Sobre os sambaquis brasileiros, Hábitos de
formigas, etc” (ZILLIG, 1997).
Figura 11: Desenho ilustrativo dos corpúsculos de Müller, fonte nutritiva para as formigas que
vivem comensalmente com a embaúba. (Fonte: Zillig, 1997).
34
Foi na mata do Vale do Itajaí que Fritz Müller observou várias espécies de
borboletas que mimetizavam cores, para se defender dos predadores. As borboletas
possuíam gosto ruim, não palatável, sendo assim, com cores características de “aviso”,
o predador dispensava tal presa. Publicou na Kosmos, em 1881, um artigo: “Notável
caso de semelhança adquirida entre as borboletas” (Figuras: 12 e 13). A comprovação
dessa tese levou o mundo acadêmico a denominá-la de “mimetismo mülleriano”. Em
função disso, recebeu dois títulos de Doutor Honoris Causa de duas universidades
alemãs (Bonn e Tübingen) (ZILLIG, 1996).
Figura 12: Ata ilustrativa, anexo em publicação de Fritz Müller em 1881. (Fonte: Zillig, p. 105,
1997).
35
Fig. 13: À direita a verdadeira Monarca e à esquerda a Viceroy. Ambas com gosto ruim para os
predadores. (Fonte: http://pt.mongabay.com/rainforests/0306.htm)
De acordo com a nota de Darwin à carta de Müller de 27 de novembro de
1877, o Prof. Butler afirmou que em muitas mariposas exóticas já havia observado um
tufo semelhante a um leque nos machos. Fritz Müller escreve o que veio a ser a primeira
possibilidade de um estudo de grande valor para a Ciência da época, evidenciando
contribuições da América do Sul:
Ontem apanhei pela primeira vez o macho de uma mariposa esfinge que
exalava um forte odor, semelhante ao almíscar; [...] ninguém até agora, tanto
sei, apontou o órgão odorífero [...] Ele é formado por dois pincéis de pêlos
situados na face ventral da base do abdômen, e quando em repouso, é
totalmente escondido pelas escamas (Fig.14) (ZILLIG, p. 209-210, 1997).
36
Figura 14: Leque odorífero da mariposa esfinge. (Fonte: Zillig, p. 210, 1997).
Müller relatou na mesma carta sobre a mariposa esfinge com probóscide que
media 22 centímetros de comprimento (Figura 15), a qual foi descoberta mais tarde por
Darwin, sua relação polinizadora com uma orquídea Angraecun sesquipedale de
Madagascar , sendo encontrada como muito representativa aqui no Brasil (ZILLIG,
1997).
Figura 15: probóscide da mariposa esfinge, com 22 centímetros de comprimento. (Fonte: Zillig, p.
209, 1997).
37
A carta foi lida perante a Sociedade Entomológica de Londres por intermédio do
Pof. Raphael Meldola. A correspondência foi publicada no “Proceeding of the
Entomological Society of London” em 1878, intitulado: “Leque odorífero de uma
Mariposa Esfinge” (ZILLIG, 1997).
Em 1879, Charles Darwin depara-se com uma grande novidade que foi de
enorme valia e ganho capital para a doutrina da evolução. Fritz Müller descreveu suas
observações sobre o abortamento dos pêlos nas pernas (Figura 16) de certas moscas de
caddis (Phryganiden) sobre o uso e desuso de pelos para locomoção, sendo diferente
nas que vivem em rochas e cascatas, bem como as que vivem em bromélias. Darwin
mencionou, em sua correspondência à esta carta, que havia estado intrigado sobre este
exato ponto por muitos anos. Nota-se tal importância em seu comentário à carta de
Müller (21 de janeiro de 1879), quando publicada no Volume XIX da Nature de 1879:
Nunca foi publicado um caso mais surpreendente de tal desaparecimento do
que este aqui dado por Fritz Müller [..] a explanação sugerida por Fritz
Müller bem merece uma cuidadosa consideração de todos aqueles que estão
interessados em tais pontos, e demonstra ser de ampla e extensa aplicação
(ZILLIG, p. 216, 1997).
Figura 16: Abortamento de pêlos: 2- Tíbia e tarso dos dois pares de pernas da pupa habitante de
bromélias. 3- O mesmo de uma espécie aliada próxima, habitando em regatos. (Fonte: Zillig, p. 215,
1997).
Nesta mesma correspondência, Müller, mais uma vez, mostra sua habilidade
na observação quando menciona em carta a descoberta de um anuro (Figura 17) que
habita em folhas de bromélias. Este pequeno sapo (Hylodes?) porta seus grandes ovos
38
nas costas, de tal forma que encobre toda a coluna, dos ombros ao fim do traseiro.
Darwin reconhece tal valor em carta (4 de março de 1879):
Vejo, através de seus artigos, que o senhor está seguindo em frente,
trabalhando muito energicamente e, se o senhor olhar bem, verá que parece
ter descoberto algo totalmente novo e extremamente interessante (ZILLIG, p.
217, 1997).
Figura 17: Sapo com ovos nas costas, descrito por Müller em 1879. (Fonte: Zillig, p. 214, 1997).
Darwin publicou na Nature de 1881 no Vol. XXIII o artigo intitulado:
“Movimentos das Plantas”. Na página 409 do artigo, Darwin demonstra sua
cordialidade com as contribuições de Müller sobre o movimento das plantas. O artigo
teve como base as correspondências de 9 de janeiro, 7 e 28 de fevereiro de 1881:
Fritz Müller, em uma carta de Santa Catarina, Brasil, datada de 9 de janeiro,
me deu alguns notáveis fatos a respeito do movimento das plantas. Ele tem
observado instâncias surpreendentes de plantas aliadas que dispõem suas
folhas verticalmente à noite através de movimentos os mais diferentes; e isto
é de interesse como suporte à conclusão a que chegou meu filho Francis, as
folhas vão dormir de maneira a escapar ao total efeito da radiação (ZILLIG,
p. 220, 1997).
Sobre o movimento das plantas de acordo com a luminosidade, Darwin
mencionou na Nature de 1881, vol. XXIII na página 603:
39
Fritz Müller me remeteu algumas observações adicionais sobre o movimento
das folhas, quando expostas a uma luz intensa. Tais movimentos parecem ser
bem desenvolvidos e diversificados sob o claro sol do Brasil, como é o bem
conhecido repouso ou movimento nictitrópico das plantas em todas as partes
do mundo (ZILLIG, p. 226, 1997).
Devido à grande relevância das contribuições deixadas por este estudioso
catarinense nas Ciências Biológicas Universal, resgatou-se suas obras mais
significativas e nesta pesquisa encontra-se disponibilizada para estudos futuros. Suas
contribuições relatadas em cartas, são, em sua maioria, destinadas à temas que
relacionem a botânica e a interação dos animais com os indivíduos vegetais.
3.3 FRITZ MÜLLER E O AMBIENTE
Pioneiro em inúmeras descobertas sobre a história natural de animais e
plantas, Fritz Müller legou muitos conhecimentos para o domínio científico. Realizando
excursões científicas ao leste do estado de Santa Catarina, Müller delineou um caminho,
onde Alfred Möller ao representar o mapa das excursões de Müller, compôs uma
curiosa representação da cabeça de cupim, um soldado natuso de Cortaritermes
fulviceps (Figura 18). Para o sobrinho de Müller, isto é indicativo da intimidade do
estudioso com o conhecimento da vida natural destes animais (FONTES, p. 41, 2007).
40
Figura 18: Mapa encontrado na obra de Alfred Möller, delineia a região de pesquisa realizada por
Müller. (Fonte: FONTES, p. 41, 2007).
Os dados que Müller descreveu em cartas a partir de suas excursões, podem
ser utilizados como balizadores para avaliar as mudanças na composição faunística e
floristica daquela região devido ao crescente desmatamento, cultivo, introdução de
novas espécies e ou urbanização. Estas informações são ricas fontes de dados que
podem ser usados em estudos para implantação de uma unidade de conservação, uma
vez que desde sua época, Müller já mencionava em cartas sua real preocupação com o
meio em que vivia:
[...] Infelizmente, agora a vegetação perdeu muito de sua primitiva
grandiosidade; as matas virgens quase que desapareceram completamente e
41
muitos de nossos morros são agora cobertos quase que exclusivamente por
arbustos baixos de um insignificante Dodonaea (ZILLIG, p. 65, 1997).
Para desenvolver seu trabalho, como se pode perceber na figura 18, Müller
percorreu uma grande área no estado de Santa Catarina. Nota-se que já em 1865, época
de desenvolvimento de suas pesquisas, Müller descrevia a defasagem que percebia nas
áreas de estudo. Assim a partir de suas informações sobre a região por onde percorreu,
entende-se que existem subsídios suficientes para se propor um estudo comparativo do
que existia na época e do que existe hoje. Este aspecto nos remete às idéias originais de
Müller quanto à importância de preservar locais como aqueles por ele descritos com
grande diversidade de fauna e flora.
Para contribuir com a preservação do planeta, e manter a homeostase e
integridade dos ecossistemas, bem como a vida social humana em consonância com as
sucessões ecológicas naturais, Murgel (1994), observa que deve-se empregar
metodologias instrumentais nas intervenções e pesquisas relacionadas ao ecossistema.
As estratégias para conservação utilizadas em todo mundo, têm impulsionado a
necessidade de criar unidades de conservação como principal mecanismo para preservar
espaços naturais, mantendo equilibrada as diversas inter-relações do meio. Segundo
Benjamin (2001), a proposta de conservação é aqui apresentada com a intenção de
diminuir os efeitos da destruição dos ecossistemas naturais, em conformidade com os
ideais de Müller, de quase dois séculos atrás.
De acordo com as informações acima, fica evidente a necessidade de resgatar
este ambiente pouco lembrado pela academia. Assim, os resultados de trabalhos
realizados por Fritz Müller pode ser um importante meio de comparação bibliográfico
para futuras pesquisas na área.
Pode-se lembrar também que os feitos históricos na maioria de países
desenvolvidos costumam ser resgatados e valorizados como um Patrimônio Nacional.
Pensando assim, porque não uma reserva especial com o nome de Muller, ou ainda
apenas um local de reconhecido valor por ter sido fonte de informações relevantes para
a história da ciência universal?
Contudo a maior relevância para a questão ambiental e para a ciência universal,
deixada por Fritz Müller, está no patrimônio de informações sobre as espécies
estudadas, capacitando todos os homens a entender e conhecer o mundo a sua volta, a
compreendê-lo e respeitá-lo, para poder viver melhor.
42
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou resgatar as contribuições de Santa Catarina - Brasil
para a teoria evolucionista de Darwin, por meios dos trabalhos de Fritz Müller. Para isso
buscou-se nos referenciais disponíveis subsídios que auxiliassem a cumprir este
objetivo e após
mergulhar nos materiais disponíveis pode-se tecer finalizadas
considerações.
As pesquisas sobre este tema ainda são raras, mesmo em Santa Catarina,
local escolhido por Fritz Müller para residir. Os trabalhos existentes concentram-se
principalmente na cidade de Blumenau - SC, local de moradia de Müller, mais
especificamente no Museu Fritz Muller e no acervo da Biblioteca Central, do arquivo
histórico de Blumenau – SC. Encontra-se “Müller” em artigos de conterrâneos de
Blumenau e na biblioteca central da FURB. Materiais semelhantes podem ser
encontrados em Florianópolis, na UFSC – Universidade Federal da Santa Catarina. Nela
existe um grupo interessado em estudar Müller e sua obra, porém pudemos perceber que
não possuem nada a mais que pudesse ter sido acrescentado aos materiais conseguidos
em Blumenau – SC.
Através de um DVD, produzido em Blumenau, foi possível tirar partes
conclusivas para a pesquisa. Este filme foi divulgado pela televisão no horário do Jornal
do Almoço, numa contribuição educativa importante da mídia ao público em geral.
Dos achados podemos considerar que Fritz Muller teve um papel importante
e decisivo para que Darwin pudesse chegar às conclusões a que chegou sobre as Teorias
da Evolução. Os fatos descritos neste trabalho sobre alguns de seus estudos como por
exemplo: os estudos sobre os cupins; estudos sobre camarões; sobre orquídeas
(Maxilária, Gomeza, Burlington e outras); sobre a parceria entre as formigas e a
embaúba; o “mimetismo mülleriano” que ocorre com as borboletas Monarca e Viceroy;
sobre a probóscide da mariposa esfingie; os pelos responsáveis pelo odor da mariposa
esfinge macho; sobre os pelos das pernas de moscas Phryganiden; sobre o sapinho e sua
fecundação; sua preocupação com o ambiente já na sua época – dois séculos atrás e
tantos outros fatos notáveis, que num trabalho de final de curso seria impossível
descrevê-los, são provas incontestes de sua grande participação na História da Ciência
universal. Seus achados extrapolam as teorias de Darwin, trazem à luz conhecimentos
extraordinários e pouco mencionado nos meios acadêmicos.
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Dentre dos 248 trabalhos publicados por Müller, em diversas línguas,
destaca-se apenas os acima citados. Porém, se agregarmos a eles, sua amizade, mesmo
que por correspondência, com Darwin, com Haeckel, suas publicações na Revista
Nature e na Linnean Society Journal, pode-se ver que, apesar de todas as dificuldades
de pesquisa e publicação da época em que viveu, Müller detêm mais produções que
muitos outros nomes que se destacam hoje na ciência, os quais produziram muito menos
que ele.
Os interessados em compreender e estudar as cartas trocadas entre Müller e
Darwin, será feliz em apreciá-las aqueles cujo o perfil seja mais elevado para estudos
relacionados às pesquisas em biologia floral (plantas monomorfas, dimorfas,
incompatibilidade de pólen na fecundação, etc), assuntos de ponto alto discutidos na
botânica da atualidade. As cartas estão todas traduzidas e comentadas no livro do Dr.
Cezar Zillg.
Fritz Müller e sua obra merecem e devem ter destaque entre os acadêmicos,
estudiosos e público em geral devido sua importância e contribuição para os
conhecimentos científicos produzidos pela humanidade ao longo de sua história.
Considera-se também que seu nome e o estado de Santa Catarina e o país,
Brasil, podem e devem constar mais nessa história, que quase sempre escrita com as
dificuldades de um país que consegue produzir, mesmo sendo limitadas para seus
pesquisadores. Outro aspecto importante é o fato de que muito dos originais ainda
podem ser encontrados na cidade de Blumenau, possibilitando ao pesquisador um
acesso direto à fonte, coisa rara em termos de pesquisas no país.
Ao que parece, desde tempos imemoriais, até hoje se convive com esta
condição de pesquisadores e trabalhadores com escasso tempo de dedicação apenas para
à pesquisa. E neste cenário de possibilidades, apresenta-se a sugestão de resgatar os
conhecimentos de Müller sobre a região por ele estudada, para novas investigações, pois
com os registros de seu trabalho, poderiam ser identificadas as alterações ocorridas e,
quem sabe, possíveis vestígios de evolução.
A partir da obra do naturalista Charles Robert Darwin intitulada Origens das
espécies, apresentado aos cientistas, no dia 24 de novembro de 1859, uma grande massa
de provas a favor da evolução biológica por meio da seleção natural. Foi por intermédio
desta apresentação ao meio científico que Fritz Muller, baseado nessas teorias, elaborou
seu principal livro intitulado Für Darwin através de experiências com crustáceos, na
Ilha de Santa Catarina.
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Sabe-se que Müller não pronunciou o juramento no dia de sua formatura no
curso de Medicina na Alemanha, uma vez que a sua opinião batia de frente com o
conteúdo religioso que deveria pronunciar (ZILLIG, 1997). Müller era um ateu, e no dia
em que se deparou com a obra de Charles Darwin, imediatamente se identificou com
suas teorias, que levaram o estudioso a assumir a inclinação que já alimentava ha muito
tempo.
Ao se deparar com uma nova teoria, sobre a origem das espécies, muitos
cientistas da época deixaram de lado o método cartesiano dedutivo e suas crenças
arraigadas sobre um Deus maior. Situação que levou ao cepticismo em massa, e ao
mesmo tempo, quase que a uma guerra de ideologias (MAYR, 2005).
Como se pode imaginar, e encontrar fartamente registrado na história,
existem muitas controvérsias sobre as questões da evolução por falta de explicações
conclusivas, encontramos desde muito tempo as pessoas buscando suas respostas e
suas verdades que na maioria das vezes se encontra em seu Deus.
A fé em Deus tem sido muitas vezes considerada não só como maior, mas
como a mais completa distinção entre homem e animais inferiores. [...] é
impossível sustentar que esta crença seja inata ou instintiva no homem. [...]
a fé num agente espiritual onipresente parece universal e deriva,
aparentemente, de um considerável progresso da razão humana e de um
ainda maior avanço das faculdades de imaginação, curiosidade e
maravilhamento (DARWIN, p. 705, 1974).
De acordo com Charles Darwin, em sua obra “Origens”, as espécies,
possivelmente, tenham advindo de uma modificação semelhante. Mesmo assim, deve
haver uma causa eficiente para cada particularidade de mudanças nas espécies. Esta
particularidade é ainda muito discutida até os dias de hoje. O importante é ressaltar que
as devidas particularidades, bem como a sua origem semelhante, devem benevolência
e originalidade à um Projetista inteligente, um Criador, o qual se importa muito
conosco.
Este trabalho de final de curso veio para trazer algumas reflexões, e o termo
considerações finais aqui, não significa um fim e sim especulações para um novo
começo, que essa produção tende ainda mais a contribuir.
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REFERÊNCIAS
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das unidades de conservação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.
DARWIN, C. R. A origem do homem e a seleção sexual. São Paulo: Hemus, 1974.
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pela existência na natureza. V. 1. Tradução: Dr. Mesquita Paul. Porto Alegre: Lello &
Irmão, 2003.
DARWIN, C. R. Viagem de um naturalista ao redor do mundo. São Paulo: Abril
Cultural, 1871.
FONTES, L. R. Fritz Müller – Primeiro termitólogo do Brasil. BLUMENAU EM
CADERNOS. Tomo XLVIII - N. 05/06 - Maio/ Junho. Diretora: Sueli Petry. Fundação
Cultural de Blumenau, Blumenau - SC, 2007.
HAECKEL, E. H. P. A. Dr. Fritz Müller – Desterro dois necrológios. Traduzido por
Richard Paul Neto. Fundação Casa Doutor Blumenau, Blumenau – SC, 1995.
LÜCKMAN, P. A. Cientistas estudaram biodiversidade de SC. Jornal A Notícia
Verde - Blumenau, SC, Maio de 2001.
MAYR, E. Biologia, ciência única: reflexões sobre a autonomia de uma disciplina
científica/ Ernest Mayr: prefácio Drauzio Varella; tradução Marcelo Leite. Companhia
da Letras, São Paulo - SP, 2005.
MURGEL, S. B. Evolução das espécies: O pensamento cientifico, religioso e
filosófico. São Paulo: Moderna, 1994.
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Hitoshi Nomura. Florianópolis, 1990.
PAULI, E. Sentido catarinense e brasileiro de Fritz Müller. Blumenau: Fundação
Casa Dr. Blumenau, 1972.
RAUEN, F. J. Roteiros de Investigação Científica. Tubarão: Unisul, 2002.
SIMÕES, J. G. Jr. O pensamento vivo de Darwin. Pesquisa de texto e tradução por
José G. Simões Jr. Ediouro, São Paulo – SP, 1986.
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ZILLIG, C. Dear Mr. Darwin: A intimidade da correspondência entre Fritz Müller e
Charles Darwin. São Paulo: Sky/ Anima Comunicação e Design, 1997.
ZILLIG, C. O amigo que Darwin tinha no Brasil. Fundação Casa Doutor Blumenau,
Blumenau- SC, 2006.
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