UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS BACHARELADO LUYZA VERÔNICA ALEXANDRINO PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA – BRASIL PARA AS TEORIAS: EVOLUÇÃO E SELEÇÃO NATURAL DE DARWIN: CONTRIBUIÇÕES DE FRITZ MÜLLER CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2008 LUYZA VERÔNICA ALEXANDRINO PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA – BRASIL PARA AS TEORIAS: EVOLUÇÃO E SELEÇÃO NATURAL DE DARWIN: CONTRIBUIÇÕES DE FRITZ MÜLLER Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Biólogo, no Curso de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora Profª. Msc. Maristela Gonçalves Giassi CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2008. LUYZA VERONICA ALEXANDRINO PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA – BRASIL PARA AS TEORIAS: EVOLUÇÃO E SELEÇÃO NATURAL DE DARWIN: CONTRIBUIÇÕES DE FRITZ MÜLLER Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Biólogo, no Curso de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Criciúma, 30 de outubro de 2008. BANCA EXAMINADORA Profª. Matristela Gonçalves Giassi – Mestre – (UNESC) – Orientadora Profº. Claus Troger Pich – Mestre – (UNESC) Profº. Cláudio Ricken – Mestre - (UNESC) À Deus todo poderoso que me dá: força, luz, proteção, sabedoria e discernimento. AGRADECIMENTOS Na busca de reconhecimento das pessoas as quais me ajudaram em todo o percorrer de minha história de vida, seria impossível mencionar todas, pois como eu poderia fazer referência e agradecer a todos os que contribuíram, sem mencionar as que fazem parte da vida destas pessoas: “sem elas isto também não seria possível”. Agradeço à Deus todos os dias pelas provisões que tem me proporcionado, e neste capítulo em especial, esclarecerei as graças que tem me concedido. De forma especial, evidencio a minha família a qual merece a mais profunda consideração e reconhecimento. Pois foi a que me inclinou à personalidade que mostro ser hoje, além de minhas escolhas serem completamente discernidas conforme a educação envolvente que me proveram. O crescimento é uma experiência profunda, de alguma forma, durante o processo de crescimento percebemos que quanto mais crescemos mais compreendemos e mais nos entusiasmamos a crescer e a compreender. Há uma pessoa a qual devo total gratidão ao desenvolvimento de meu crescimento bem como minha compreensão: Minha Mãe Neide Costa. Sei que sem as idéias e os ideais desta pessoa em minha vida, meu TCC com certeza não abrangeria tal tema ou objetivo. Agradeço cordialmente a ajuda fiel e angelical de minha Fada madrinha Giselda e ao padrinho Wilson, sem a ajuda financeira destas ilustres pessoas eu não poderia estar vislumbrando este momento de agradecimento no meu trabalho de conclusão de curso. À minha orientadora de TCC, Maristela, obrigada por tudo, foi de grande valia a ajuda e a mão amiga que me proporcionou nestes três semestres de trabalho de conclusão de curso. Agradeço ao meu companheiro fiel, Jefferson Martins, o qual me ajudou muito em momentos de queda. Trouxe-me alegria de viver e vislumbres para nosso futuro juntos. “Obrigada a todos, que contribuíram e fizeram parte da minha história de vida”. Ninguém é tão grande que não possa aprender... e nem tão pequeno que não possa ensinar. (Voltaire) RESUMO Charles Darwin é conhecido mundialmente por suas teorias sobre a evolução das espécies. O que poucos conhecem é que muito de suas teorias tiveram contribuições de estudos realizados em Santa Catarina, por meio de um alemão, radicado em Blumenau, chamado Johann Friedrich Theodor Muller, ou “FRITZ MÜLLER”. De acordo com o objetivo desta pesquisa, resgatar e evidenciar as contribuições científicas do Brasil e de Santa Catarina para as teorias evolucionistas de Darwin, mostrou o quanto são valorosas as contribuições do naturalista alemão e residente em Blumenau, Fritz Müller, para as teorias de Darwin. Podemos destacar que Müller foi considerado o primeiro pesquisador a criar uma filogenia séria, tendo como base estudos e observações exaustivas de material vivo de Crustáceos. Sendo considerado por Darwin um pesquisador em que mais teria confiança, pois provou sua teoria evolucionista ao descrever o desenvolvimento larvar de crustáceos, bem como as variadas outras peculiaridades demonstradas por estes indivíduos. Müller foi um grande observador das diversas formas de interação animal-planta. Pioneiro em realizar excurções em função de suas pesquisas, foi o primeiro estudioso a notar a grande abundância de cupins existentes em troncos mortos e no solo, sendo considerado o primeiro termitólogo do Brasil. Em Itajaí Müller observou várias espécies de borboletas que mimetizavam cores de outras borboletas que utilizavam este tipo de “cor alerta” para defenderem-se dos predadores, por assim ser característica de sabor desagradável - Hoje conhecido como “mimetismo mülleriano”. Darwin mandava publicar na integra as cartas de Fritz Müller, as quais acompanhadas de um comentário seu, se transformavam em artigos científicos, a maioria publicada na revista Nature. Suas pesquisas relatam o quanto este homem era apaixonado pela natureza, o que fica evidente em suas descrições sobre as mais belas paisagens que já vira aqui no Brasil. Desde que iniciou seus estudos, Müller já mencionava em suas cartas uma real preocupação com o meio em que vivia. Ainda há muito que se creditar à Fritz Müller e ao Brasil em termos de contribuição para a Ciência. Esta pesquisa deseja ser o início deste reconhecimento e o incentivo para que surjam outros destacando e valorizando a produção científica do Brasil na área. Palavras-chave: Fritz Müller. Evolução. História da ciência. LISTA DE FIGURAS 1. Museu Fritz Müller em Blumenau- SC..............................................................................14 2. Chácara de Müller, localiza-se atrás do museu Fritz Müller em Blumenau- SC................15 3. Objetos pessoais de Müller, cadeiras de descanso do estudioso e de sua esposa...............15 4. Fritz Müller: 1886...............................................................................................................16 5. Náplius, indivíduo larval que corresponde ao estágio inicial em toda a grande classe de crustáceos................................................................................................................................20 6. Fig. 65 - estádio de um jovem Tubícola com tentáculos simples. Aumento de 6x. Sem opérculo, estádio de Protula- Fig. 66 - com pedúnculo opercular plumosos, estágio de Filograma- Fig. 67- Com pedúnculo opercular num estádio de Serpula...............................22 7. Rosa, filha mais velha de Fritz Müller................................................................................26 8. Ata com desenho ilustrativo dos diferentes cupins de uma colônia, usado por Müller para ilustrar uma palestra em 1871.................................................................................................31 9. Ata ilustrativa de traço preciso e beleza gráfica, preparada por Müller, obtida de um de seus diversos artigos de cupins...............................................................................................32 10. Casas construídas pelas larvas de cupins..........................................................................32 11. Desenho ilustrativo dos corpúsculos de Müller, fonte nutritiva para as formigas que vivem comensalmente com a embaúba...................................................................................33 12. Ata ilustrativa, anexo em publicação de Fritz Müller em 1881.......................................34 13. À direita a verdadeira Monarca e à esquerda a Viceroy. Ambas com gosto ruins para os predadores..............................................................................................................................35 14. Leque odorífero da mariposa esfinge................................................................................36 15. Probóscide da mariposa esfinge, com 22 centímetros de comprimento...........................36 16. Abortamento de pêlos: 2- Tíbia e tarso dos dois pares de pernas da pupa habitante de bromélias. 3- O mesmo de uma espécie aliada próxima, habitando em regatos.....................37 17. Sapo com ovos nas costas, descrito por Müller em 1879.................................................48 18. Mapa encontrado na obra de Alfred Möller, onde ele delineia a região de pesquisa realizada por Müller................................................................................................................40 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................11 1.1 Problema de pesquisa........................................................................................................12 1.2 Objetivos.......................................................................................................................... 13 1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 13 1.2.2 Objetivos Específicos....................................................................................................13 2. METODOLOGIA.............................................................................................................13 3. FRITZ MÜLLER..............................................................................................................16 3.1 Für Darwin: Fatos e argumentos a favor de Darwin.........................................................18 3.1.1 Prova e progresso da evolução: por Fritz Müller...........................................................20 3.1.2 Reconhecimento de Müller por Darwin.........................................................................25 3.2 Notas de um naturalista do Sul do Brasil..........................................................................27 3.3 Fritz Müller e o ambiente..................................................................................................39 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................42 REFERÊNCIAS....................................................................................................................45 ANEXO..................................................................................................................................47 11 1. INTRODUÇÃO Motivada por teorias que apresenta o homem e outras variadas formas de vida em evolução e considerando esse fato pouco explorado por acadêmicos e pesquisadores nacional, pretende-se trazer para reflexão informações poucas divulgadas da produção científica de Santa Catarina, especialmente as realizados por Müller no campo da evolução. De acordo com Murgel (1994), o processo de organização, distribuição e classificação, dos elementos que fazem parte da realidade diária, são inerentes ao ser humano desde os primórdios de sua ocupação do planeta, pois garante a compreensão dos fenômenos da natureza, que o alimenta e lhe dá abrigo. Sendo assim, ao longo de séculos o homem passou a acumular conhecimento, através de longas observações, manuseio e experimentação do ambiente a sua volta e todos os fenômenos que nele ocorrem. Através de variados procedimentos, o homem criou sistemas de classificação que evoluíram e deram origem ao sistema de classificação dos seres vivos utilizado atualmente. Desde o reconhecimento deste tipo de classificação, houve a necessidade de buscar teorias explicativas para esclarecer certos aspectos difíceis de encaixar nesta classificação. Segundo Rauen (2002), há uma busca cada vez mais ativa de resgatar os trabalhos de cientistas para uma maior compreensão da sua produção e resgate do que já foi realizado. Assim, este trabalho só foi possível com o auxílio da bibliografia deixada por pesquisadores que nos precederam e deixaram sua contribuição. Dentre as teorias de Darwin, destacamos a evolução e seleção natural para tratar na presente pesquisa, pois são as mais aceitas atualmente, bem como encontra-se o fundamento principal no livro Für Darwin de Fritz Müller. No ano de 2009 será comemorado o “Big Year” relativo ao bicentenário do nascimento de Charles Darwin. Durante todo o ano serão realizados eventos científicos e de divulgação sobre a evolução das espécies através da seleção natural, os quais irão evidenciar a referida data, na maioria das nações, por ser o naturalista, o causador de uma das maiores revoluções de toda a história da Ciência. Sendo assim, será imprescindível, proporcionar nestes eventos os méritos das contribuições do naturalizado brasileiro Fritz Müller para as teorias de Darwin. 12 A realização destes eventos será importante pois acarretará um movimento de divulgação científica, oportunizando maiores reflexões sobre este tema para os acadêmicos, biólogos e estudiosos interessados. Na medida em que se pretende discutir sobre as contribuições de Müller para a evolução de Darwin, discute-se também o processo com o qual interagiram os pesquisadores. Embora a teoria da evolução e a seleção natural ainda apresentem controvérsias, estas devem ser compreendidas na sua totalidade. Pois não se pode negar as contribuições e participação deste grande pesquisador, bem como o resultado de suas pesquisas às ciências atuais. A partir de 1865, perdurando até 1882, houve profícua troca de correspondência entre os dois naturalistas. Estas trocas de correspondências resultaram em muitos trabalhos científicos, entre 1844 a 1899, num total de 248 trabalhos, em diversos idiomas: alemão, inglês, latim, francês e português (ZILLIG, 1997). Dada a relevância dos estudos de F. Müller amplamente descritos nas cartas de correspondência entre Muller e Darwin, esta pesquisa justifica-se por que coloca o estado de Santa Catarina e o Brasil no cenário de importantes teorias científicas. . 1.1 Problema de pesquisa Para Rauen (2002), toda investigação se inicia por um problema ou uma questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articuladas a conhecimentos anteriores. Assim nesta pesquisa tem-se o seguinte problema a ser investigado: • Quais as contribuições de Fritz Müller realizadas em Santa Catarina - Brasil para as teorias evolução e seleção natural de Charles Darwin? • Quais as pesquisas realizadas por Fritz Müller em Santa Catarina - Brasil que contribuíram para os estudos de Darwin? 13 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Resgatar e descrever as principais contribuições científicas do naturalista alemão e residente no Brasil Fritz Müller, adicionadas ás pesquisas de Darwin. 1.2.1 objetivos específicos • Relatar as contribuições de Fritz Müller realizadas em Santa Catarina – Brasil para as teorias evolução e seleção natural de Darwin; • Relatar os principais estudos realizados por Fritz Müller, que de suma importância foram desempenhados no Brasil, e adicionados ás ciências biológicas; • Resgatar o importante personagem da Ciência Universal, Fritz Müller, através de seus legados, tornando evidente suas contribuições para a ciência; • Mostrar a relação de Müller com o ambiente e a necessidade de preservação. 2. METODOLOGIA Neste trabalho foi empregada a pesquisa bibliográfica que, de acordo com Rauen (2002), tem como objetivo estudar todos os trabalhos disponíveis a respeito do assunto em questão para a tomada de decisão em todas as fases da pesquisa, pois é necessário ao pesquisador ter um conhecimento profundo sobre o tema. Destaca-se que a pesquisa bibliográfica é condição básica para qualquer trabalho. Desta forma não há qualquer espécie de pesquisas que não faça uso da revisão bibliográfica. 14 Para realização dessa pesquisa, foi consultado o principal livro produzido por Fritz Müller, Für Darwin, que trata de reflexões sobre as teorias abordadas por Darwin, bem como os livros de Darwin para comparação. Também foram utilizados muitos artigos e livros produzidos por estudiosos da obra e vida de Müller, conterrâneos de Blumenau – SC. Foram realizadas visitas de estudos ao Museu Fritz Müller (Figuras: 01, 02 e 03) em Blumenau - Santa Catarina, e ao acervo da Biblioteca Municipal, do arquivo histórico de Blumenau – SC. E ainda alguns dados foram obtidos em DVD sobre a sua vida. Foram coletadas informações e materiais com os funcionários do museu visitado e com a visita à Biblioteca municipal também nos foram dadas valiosas informações com a responsável pela Biblioteca Sueli Petry. Com ela conseguimos também livros e artigos sobre Müller publicados em Blumenau dos quais apresentamos em anexo uma das cartas de Müller à Darwin e também outra de Darwin para Müller. Figura 01: Museu Fritz Müller em Blumenau- SC. 15 Figura 02: Chácara de Müller, localiza-se atrás do museu Fritz Müller em Blumenau- SC. Figura 03: objetos pessoais de Müller, cadeiras de descanso do estudioso e de sua esposa. 16 FRITZ MÜLLER Segundo Zillig (1997), Johann Friedrich Theodor Müller (Fig. 04) nasceu em uma pequena aldeia da Turíngia, Windischholzhausen, na Alemanha em 31 de março de 1822, próximo a Erfurt. Doutorado em filosofia fez curso de medicina, mas não colou grau por não concordar com a formulação do juramento que iria pronunciar, pois mostrava um conteúdo religioso que batia de frente com suas opiniões sobre a existência de Deus. Figura 04: Fritz Müller: 1886. (Fonte: http//www.blumenauonline.com.br). O alemão imigrou para o Brasil em 1852, naturalizou-se e radicou-se na Colônia Blumenau, no estado de Santa Catarina, por 34 anos. Sendo 11 anos deste período ocupado em moradia na cidade de Desterro, atual Florianópolis. Tempo suficiente o bastante para desenvolver inúmeros trabalhos científicos (ZILLIG, 1997). A presença desse imigrante permitiu ao meio intelectual de Santa Catarina viver a contemporaneidade da ciência e da filosofia evolucionista dos centros mais avançados da Europa (PAULI, 1972). Mesmo assim, pelo fato de ter optado por uma vida simples e longe dos círculos intelectuais de sua época, Müller é pouco lembrado, apesar de sua admirável e grandiosa obra. De acordo com Haeckel (1995), o que o torna mais digno de admiração, além de ser contribuidor das maiores assumidades da ciência, 17 foi sua modéstia infinita, o qual não permitiu que seus conhecimentos tornassem sucesso com fama bem merecida. Era um personagem raramente visto em sociedade, fora dos circuitos de amigos que se interessavam por suas idéias e pesquisas, Mantinha-se afastado da vida política pública e só por duas vezes tentou interferir nas polêmicas da imprensa local [...] (HAECKEL, p. 14, 1995). Com poucos recursos financeiros Fritz Müller produziu excelentes artigos científicos, que são consultados até hoje. Foi um dos melhores naturalistas de campo do século XIX no Brasil. Apesar disso, o naturalista é pouco e/ ou “nada” mencionado em currículos escolares e acadêmicos (FONTES, p. 30, 2007). Müller teve dez filhos, nove meninas e um menino, o qual faleceu logo após seu nascimento. Durante os quatro primeiros anos em que viveu em Blumenau ajudou a construir a colônia, aproveitando a oportunidade de pesquisar a flora e a fauna deixando-nos um grande legado. Os quais constituídos de fatos importantes através de minuciosa observação e acurado estudo, que contribuíram para consolidar a botânica e a zoologia como grandes especialidades das Ciências Biológicas (ZILLIG, 1997). Como médico atendeu os casos mais urgentes e sempre manteve um relacionamento amistoso com os índios, pois os mesmos o protegiam contra os animais selvagens enquanto pesquisava a natureza (ZILLIG, 2006). Abordando aspectos biológicos, anatômicos, ecológicos e evolutivos, investigou temas da natureza brasileira e edificou notável obra científica, de interesse mundial (FONTES, p 24, 2007). Mostrando seu real valor para as ciências biológicas, foi juiz de paz em Blumenau (SC) e presidente da Câmara de Vereadores. Foi chamado por Haeckel de “herói da ciência, a imagem da maior simplicidade e modéstia imagináveis, aliadas à nobreza principesca do espírito” (HAECKEL, p. 16, 1995). Já Von Ihering considerou-o “o mais notável entre os naturalistas no Brasil, que dedicouse à pesquisa científica”. E o próprio Charles Darwin atribuiu-lhe a condição de “príncipe dos observadores” (ZILLIG, 1997). Ao se falar de Fritz Müller, geralmente se explica que ele foi um grande cientista, pesquisador da natureza, que viveu em Blumenau e, quase que invariavelmente, se acrescenta: ele se correspondia com Darwin! (ZILLIG. p. 05 1997). 18 Devido às inconsistências observadas no início das discussões sobre a teoria evolucionista, a qual é composta por várias teorias principais e independentes, diversos naturalistas discordavam da validade dessas teorias, fundando escolas adversárias. E por quase oitenta anos houve profícua “guerra” de idéias até chegar a uma síntese conclusiva, nos anos 1930 e 1940 (MAYR, 2005). Sua doutrina teve diversos defensores naturalistas, estudiosos e cientistas por todo o planeta, que aceitaram e apoiaram através de contribuições, sob a luz dos pensamentos de Charles Darwin. Eram eles: Thomaz Henry Huxley na Inglaterra, Ernst Haeckel na Alemanha, Asa Grey nos Estados Unidos e no Brasil o representante foi o brilhante naturalista alemão Fritz Müller. Foi ele quem possuía material o suficiente para corroborar com a teoria da evolução, bem como para as várias outras pesquisas relacionadas à botânica de Charles Darwin (ZILLIG, 1997). 3.1 FÜR DARWIN : FATOS E ARGUMENTOS A FAVOR DE DARWIN O naturalista Charles Robert Darwin lançou um livro intitulado Origens das espécies, apresentando aos cientistas, no dia 24 de novembro de 1859, uma esmagadora massa de provas a favor da evolução biológica. Por meio de minuciosa análise dos animais que pesquisou em uma viagem a bordo do Beagle durante cinco anos, sob controle do capitão Fitz Roy, em 1831, chegou a conclusão que a origem das espécies dá-se por meio das transformações sofridas pelos seres vivos (plantas, animais, fungos e bactérias) ao longo das gerações, sendo os atuais sobreviventes os descendentes adaptados de seres vivos que viveram em tempos passados (DARWIN, 2003). Colocando o fenômeno acima de qualquer dúvida, tornou assim, esta a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Segundo Mayr (2005), a compreensão de mundo antes de Darwin era contida pela física e a ciência divina. A partir do século XIX quando houve a maior aceitação das idéias advindas da Biologia, a visão de mundo para as pessoas modificou a ponto de respingar uma revolução ideológica complexa. Sendo a mais drástica modificação na visão das pessoas comuns do que havia ocorrido em séculos passados. 19 Darwin foi quem claramente estabeleceu a ciência secular, e certamente foi um dos grandes pioneiros na transformação da natureza causal de muitos fenômenos biológicos em um conceito aceitável (MAYR, 2005). O primeiro contato com o livro Origens de Charles Darwin, fez com que Müller se tornasse um exímio seguidor e defensor das teorias Darwinianas. Em Desterro, antiga capital da província de Santa Catarina, hoje Florianópolis, realizou pesquisas reunindo todos os dados e fatos resultantes. Para tentar expor seus propósitos e possibilidades, tratou da descrição do desenvolvimento embrionário e larvar de crustáceos marinhos. Sua maior intenção seria de provar a teoria da evolução proposta por Darwin (ZILLIG, 1997). Müller menciona o seu propósito com clareza nas primeiras linhas de seu livro: Ao ler o livro de Charles Darwin sobre ‘a origem das espécies’, me pareceu que um dos caminhos, e talvez o mais seguro, de testar a correlação das opiniões ali desenvolvidas, seria de se fazer um experimento, o mais detalhadamente possível, empregando-se um determinado grupo animal. Num tal experimento, seria de se elaborar uma árvore genealógica [...], o mais completo possível e elaborar um quadro claro, que possa fornecer um resultado triplo (ZILLIG, p. 03, 1997). Fritz Müller idealizou três possibilidades em seu livro, onde estes seriam identificados como pressupostos básicos para coligar as probabilidades de estudo sobre as teorias de Darwin a serem provadas (MÜLLER, 1990): _ A primeira seria a possibilidade de que a utilização dos experimentos poderia conduzir a uma pesquisa com conseqüências contraditórias às hipóteses de Darwin. _ A segunda possibilidade proferia que o experimento poderia ser bem – sucedido, sendo possível demonstrar em ampla ou limitada escala o desenvolvimento comprobatório. _ E por último seria possível e mais provável a conseqüente queda do experimento diante das dificuldades encontradas para suas conclusões. O naturalista decidiu então, continuar com os estudos, optando pela utilização de uma classe. Müller relata em seu livro sobre sua intenção, referindo-se que precisou limitar sua escolha, optando por àqueles cuja forma principal fosse fácil de se manter viva em diversas situações (MÜLLER, 1990). 20 Definido então a escolha de utilizar a classe de crustáceos para legar as proposições da seleção natural, após um longo e detalhado estudo de todas as fases de desenvolvimento dos animais em pesquisa, Fritz Müller chegou à conclusão de que seria um conjunto de provas em prol de Darwin, os quais foram publicados em “Für Darwin”. E no dia sete de setembro de 1864, apenas cinco anos após a publicação do livro de Darwin, Fritz Müller finalizou um pequeno livro intitulado “Für Darwin” (Fatos e argumentos a favor de Darwin), expondo seus propósitos e possibilidades (ZILLIG, 1997). 3.1.1 PROGRESSO DA EVOLUÇÃO: POR FRITZ MÜLLER Utilizando da exatidão da teoria Darwiniana, aplicou um exímio estudo de Crustáceos, abordando todos os detalhes possíveis para contribuir com o mesmo no Für Darwin. O livro apresenta em 4 folhas um total de 67 desenhos de Fritz Müller, ilustrando diferentes aspectos de interesse para a tese da evolução (ZILLIG, 1997). Usou as formas variadas deste grupo, pois têm sua origem num mesmo embrião, o Náuplius (Figura 05). Figura 05: Náplius, indivíduo larval que corresponde ao estágio inicial em toda a grande classe de crustáceos. (Fonte: Zillig, 1997) Fritz Müller ao percorrer o desenvolvimento de um jovem crustáceo, e perceber as mudanças pelas quais passa ao se afastar da realidade dos pais, causando 21 novas espécies, gênero e famílias novas, notou que este fenômeno pode ocorrer tanto em estádios prematuros ou em ocasião da maturidade sexual (MÜLLER, 1990). Fritz Müller observou que os crustáceos, depois de atingirem a idade adulta, podem revestir caracteres novos, afetando não somente partes insignificantes, mas mesmo partes muito importantes [...] é provável que as diferenças entre os novos e os adultos e entre os adultos e os velhos fossem primitivamente adquiridas por graus insensíveis (DARWIN, p. 205, 2003). Müller traz como, por exemplo: a adição de novos apêndices e segmentos no indivíduo, assim como a coincidência das estruturas corporais nas primeiras fases de vida, pode ser explicada como uma reprodução da história da espécie ao longo do desenvolvimento até o estágio final de maturidade. A história de uma espécie será preservada na sua história evolutiva tanto mais perfeitamente quanto mais longa for a série de estádios jovens pelos quais ela passe em secções uniformes, e tanto mais realmente quanto menos o modo de vida do jovem se afaste dos adultos e quanto menos peculiaridades dos estádios jovens individuais possam ser concebidos como transferidos para trás, dos períodos prévios de vida, ou como adquiridos independentemente (MÜLLER, p. 81, 1990). Prova disso Müller verificou no estádio de um jovem annelida Tubícola (Figura 06) de tentáculos branquiais simples, onde o mesmo não apresenta opérculo nos primeiros dias de vida, sendo denominado como estádio de gênero Protula. Logo, poucos dias mais tarde, um dos filamentos branquiais alarga-se na extremidade num opérculo clavado, sendo o mesmo classificado num outro gênero, o de Filograna. Três dias depois, com o brotar de mais um par de filamentos branquiais, o pedúnculo opercular perde os filamentos laterais, e os vermes tornam a denominar-se Serpula (MÜLLER, 1990). 22 Figura 06: Fig. 65-estádio de um jovem Tubícola com tentáculos simples. Aumento de 6x. Sem opérculo, estádio de Protula- Fig. 66- com pedúnculo opercular plumosos, estádio de FilogramaFig. 67- Com pedúnculo opercular num estádio de Serpula. (Fonte: Müller, 1990). Aqui mostra, espontaneamente, que os primitivos vermes de Protula, adquiriram a formação de um opérculo para a proteção de seus tubos contra possíveis inimigos, assim subseqüentemente, seus descendentes perdiam seu últimos filamentos laterais do opérculo, sendo desenvolvidos como seus antepassados. “É fato de que o pedúnculo opercular de Serpula seja homólogo de um filamento branquial” (MÜLLER, p. 78, 1990). Registrando no seu desenvolvimento atual o que os indivíduos ancestrais daquela espécie viveram com o passar dos tempos de adaptações com o meio. No curto período de poucas semanas ou meses, as formas cambiantes do embrião ou das larvas farão passar diante de nós uma figura mais ou menos completa, mais ou menos exata, das transformações sofridas pela espécies no decorrer dos tempos até atingir seu estádio atual (MÜLLER, p. 77, 1990). Mesmo a ciência da época não tendo ainda contato com a genética Mendeliana, Müller chegou à uma conclusão superficial de fato muito próxima ao que o monge morávio Gregor Mendel (1822-1884) descobriu sobre como a hereditariedade funciona: “O indivíduo reproduz a história primitiva da espécie” (HAECKEL, p.11, 1995). Concluiu certamente ao que de fato Darwin havia mencionado em sua obra: A seleção natural atua exclusivamente conservando e acumulando as variações que são úteis a cada indivíduo nas condições orgânicas em que pode achar-se em todos os períodos da vida. [...] o que deve compreender-se por um progresso de organização (SIMÕES, p. 88 – 89, 1986). 23 Pela primeira vez firmou-se bases sólidas e se explicou por meio da teoria da descendência comum uma concepção importantíssima, onde Müller provou que a coincidência da estrutura corporal nas primeiras fases da vida, constitui um traço semelhante, comum, em todos os animais da grande classe de crustáceos. Encontrou subsídios para a explicação da semelhança nas primeiras fase de vida por meio da transmissão hereditária proveniente de um tronco comum, e encontrou explicações para diferenças embrionárias no processo de adaptações a condições específicas de cada espécie com o passar dos tempos e modificações geomorfoclimáticas. Müller explica: O registro histórico preservado na evolução, vai-se mascarando à medida que o desenvolvimento se aproxima de um caminho cada vez mais reto, a partir do ovo para o animal adulto, e isto é muitas vezes falseado por meio da luta pela vida que as larvas de vida livre têm de suportar (MÜLLER, p. 78, 1990). Para que haja a conversão no desenvolvimento do estágio larval, o indivíduo deve passar por diversos estádios jovens para outro mais direto, dependendo ainda de processos acidentais, em animais aparentados, das mais diversas maneiras que se pode imaginar, em períodos variados para sua conclusão. Ainda, não se pode deixar de lado o fato de que o desenvolvimento histórico de uma espécie, muito raro, pode ter-se dado em um fluxo contínuo uniforme, mas sim, períodos de repousos alternaram-na com períodos de processos rápidos (MÜLLER, 1990). Quando um mesmo órgão se encontra em muitos indivíduos da mesma classe, sobretudo nos indivíduos tendo hábitos de vida muito diferentes, podemos ordinariamente atribuir este órgão a um antepassado comum que o transmitisse por hereditariedade aos descendentes; podemos, além disso, atribuir a sua falta, em alguns indivíduos da mesma classe, a um desaparecimento provindo do não uso ou da ação da seleção natural (DARWIN, p. 206-207, 2003). É justo e útil que um animal qualquer obtenha, tão cedo possível, em um conjunto, vantagens que sustentem sua luta pela vida: Devido a luta pela vida e ao fato de os indivíduos serem diferentes, algumas das espécies sobreviverão devido a certas variações que lhes dão uma superioridade em relação às outras, que serão eliminadas. É a seleção natural (SIMÕES, p. 72, 1986). 24 Darwin mencionou em sua obra “Origens”, que as espécies, possivelmente, tenham advindo de uma modificação semelhante. Mesmo assim, deve haver uma causa eficiente para cada particularidade de mudanças nas espécies (DARWIN, 2003), Simões (1986) relata um comentário de Darwin: Não acredito numa lei fixa de desenvolvimentos [...] O processo da modificação deve ser extremamente lento. A mutabilidade de cada espécie é completamente independente da de todas as outras. O aproveitamento dessa mutabilidade pela seleção natural e a maior ou menor acumulação de variações [...] depende de muitas contingências complexas – da mutabilidade ser de natureza benéfica, do poder de intercruzamento, do ritmo da reprodução, da lentidão das transformações físicas da região e da natureza dos outros habitantes (SIMÕES, p. 78, 1986). De acordo com relatos na obra de Darwin (2003), Frtiz Müller observou no decorrer de suas pesquisas que várias famílias de crustáceos compreendem algumas espécies providas de aparelhos respiratórios que garantem a vida fora da água. Detalhadamente, as espécies possuem caracteres parecidos em sua funcionalidade, outrora são distintas. A semelhança na estrutura em tantos pontos de conformação, explica-se por uma transmissão hereditária que vai até um antepassado comum. Müller concluiu que seria improvável que o antepassado comum fosse provido de um aparelho adaptado à respiração aérea (DARWIN, 2003), ou seja: Estas espécies, com efeito, pertencendo a famílias diversas, deveriam diferir até certo ponto; ora, a sua variabilidade não devia ser exatamente a mesma, em virtude do princípio de que a natureza de cada variação depende de dois fatores, isto é, da natureza do organismo e das condições ambientes. A seleção natural, por conseqüência, deveria atuar sobre elementos ou variações de natureza diferente [...] (DARWIN, p. 210- 211, 2003). Dadas tais considerações, Fritz Müller mostrou ser um grande seguidor das teorias as quais Darwin defendia. Leva-nos ainda a considerar sua real amabilidade para responder questões tão complexas, ou mesmo abordar um tema tão complicado com toda facilidade ou “gosto”. Mesmo sendo muito complicado o entendimento de suas descrições em sua obra Für Darwin, vislumbra-se aqui, neste trabalho de conclusão de curso, uma melhor possibilidade de se entender estas mentes geniais do passado. 25 3.1.2 RECONHECIMENTO INTELECTUAL DE MÜLLER POR DARWIN De acordo com Zillig (1997), Darwin providenciou pessoalmente a tradução da obra de Fritz Müller para o inglês. Reconhecendo nela a primeira, e uma das melhores contribuições de caráter prático que corroboravam cientificamente com sua teoria. Darwin menciona em carta: [...] vejo a publicação de seu ensaio como uma das maiores honras que jamais me foram conferidas. Nada pode ser mais profundo e surpreendente que suas observações sobre o desenvolvimento e classificação [...] (ZILLIG, p. 34, 1997). Em sua primeira carta a Fritz Müller, enviada em dez de agosto de 1865, Darwin demonstra real apreço pelo trabalho do naturalista: O senhor fez um admirável serviço pela causa em que ambos trabalhamos. Muitos de seus argumentos me parecem excelentes, e muitos de seus fatos, maravilhosos. [...] Permita-me novamente, agradecer-lhe cordialmente pelo prazer que tive derivado de seu trabalho e expressar minha sincera admiração pelas suas valiosas pesquisas (ZILLIG, p. 115, 1997). Em pouco tempo, o nome de Fritz Müller já estava em bom conhecimento entre os membros das ciências biológicas da época na Europa, sendo sugerida a mudança do título da obra “Für Darwin” para “Fats e arguments for Darwin”, por Sir Charles Lyell (grande pesquisador contribuidor e amigo de Darwin). Em uma carta de Darwin à Müller, o naturalista demonstra a realidade da dificuldade de entendimento e valor da obra de Müller como sendo um belo, conciso e didático manual da mecânica elementar da teoria da evolução (ZILLIG, 1997). [...] venderam-se uma centena de cópias de seu livro, e ouso dizer que, agora podem ter vendido cinco centenas [...] estou seguro de que seu livro alcançou as mãos de uma boa quantidade de homens capazes de entendê-lo: na verdade, eu sei o que ele contém. Mas ele é muito profundo para o púbico em geral (ZILLIG, p.43, 1997). Darwin lhe sugeriu que escrevesse um livro intitulado: “Notas de um naturalista do sul do Brasil”, o que nunca foi concretizado como livro, pois Müller subestimava sua capacidade, costumava comparar-se com outras publicações da 26 atualidade da época com inferioridade: “[...] eu não estaria em condições de escrever um livro assim tão atraente...” (ZILLIG, p. 53, 1997). Porém a idéia da iniciativa do livro acabou sendo abandonada com o falecimento de sua filha Rosa (Figura 07) em 1878, a qual iria ajudá-lo a escrever e desenhar suas mais variadas idéias e observações (ZILLIG, 1997). De acordo com Zillig (1997), dentre suas filhas, Rosa era a que apresentava maior habilidade para o desenho, por isso iria ajudá-lo na elaboração e publicação de um livro que estava preparando. Mas, de acordo com o autor, com a morte de Rosa, Müller perdeu a vontade de viver e de continuar com seu livro,conforme pode-se perceber no texto a seguir: Com a morte de Rosa, toda a alegria e a vontade de viver desapareceram. Eu coleto, observo, desenho, escrevo sem motivação e vontade, somente para entregar minha colaboração regular para os nossos “Arquivos do Museu” (Arquivo do Museu Nacional do Rio de Janeiro) (ZILLIG, p.49, 1997). Figura 07: Rosa, filha mais velha de Fritz Müller. (Fonte: Zillig, 1997). Atualmente, na praça Doutor Fritz Müller, em Blumenau, está exposta uma estátua do naturalista alemão, com a observação de Darwin: “Notas de um naturalista do sul do Brasil”. 27 3.2 NOTAS DE UM NATURALISTA DO SUL DO BRASIL Fritz Müller formulou contribuições científicas que revolucionaram o pensamento biológico do século XIX, publicando vários trabalhos científicos no País (LÜCKMAN, 2001). Em 1856, descreveu suas observações sobre: anelídeos, planárias, celenterados, parasitas de crustáceos. Após dez anos no Brasil, publicou seus resultados e discussões sobre tais observações na revista alemã “Archiv Für Naturgeschite. E assim como foi para Darwin, foi grande contribuidor e assíduo correspondente do alemão Ernst Haeckel (1834-1919) criador do conceito Ecologia (ZILLIG, 1997). Segundo Zillig (2006), em 1864 Darwin esteve acometido por uma enfermidade, o que levou sua esposa Emma fazer a leitura da obra de Fritz Müller, Für Darwin, durante os oito meses que ficou de cama. Assim ao perceber a importância da publicação de Für Darwin e o interesse de Fritz Müller como um grande colaborador para suas teorias, Darwin teve a iniciativa de enviar a primeira correspondência, ele menciona sua admiração por Müller em carta: “O senhor tem um maravilhoso poder de observação, sua opinião me seria mais valiosa do que qualquer outro homem” (ZILLIG, p. 42, 1997). A partir de 1865, perdurando até 1882, houve profícua troca de correspondência entre os dois naturalistas, somente interrompidas com a morte de Darwin em 19 de abril de 1882, resultando em 58 cartas de Darwin para Fritz Müller, algumas foram perdidas. Estas trocas de correspondências resultaram em muitos trabalhos científicos, um total de 248 trabalhos, em diversos idiomas: alemão, inglês, latim, francês e português – os quais estão disponíveis na obra de seu sobrinho Alfred Möller, sob o título Fritz Müller – Werke, Briefe und Leben (ZILLIG, 1997). Uma vez que eles nunca se encontraram pessoalmente, formou-se uma sólida amizade entre as trocas de cartas. Darwin costumava referir-se carinhosamente, em suas cartas, a Müller como o “Príncipe dos Observadores” da natureza do Brasil. Darwin [...] providenciava para que o trabalho de Fritz Müller fosse difundido e publicado; freqüentemente mandava publicar na integra as cartas de Fritz Müller que, acompanhadas de um comentário seu, se transformavam em artigos científicos, a maioria publicada na revista Nature (ZILLIG, p. 26, 1997). 28 Em uma carta de Charles Darwin a Hermann Müller, irmão de Fritz Müller, datada de 29 de março de 1867, Darwin menciona o real apreço pelo naturalista: “[...] tenho o maior respeito por ele como um dos mais hábeis naturalistas vivos, e ele tem me ajudado de muitas maneiras com extraordinária amabilidade” (ZILLIG, p. 153, 1997). Freqüentemente Darwin citava à seus interlocutores sobre os elevados méritos alcançados por Müller, tanto nas ciências biológicas em geral, como ainda e principalmente nos seus trabalhos em prol do maior avanço nas suas teorias. Darwin reconheceu assim as contribuições que Müller proporcionou à doutrina da evolução pela teoria da seleção natural. O próprio Ernest Haeckel (1834-1919), testemunhou o respeito demonstrado por Darwin à Müller, nas três vezes em que o visitou em sua propriedade rural, em Dow, Inglaterra (ZILLIG, 1997). Ernest Haeckel generalizou conceitos introduzidos por Fritz Müller no Für Darwin, elaborando a Lei da Biogenética Fundamental (1877). Passando a afirmar, que todas espécies animais em seu desenvolvimento larvar e embrionário recapitulam sucintamente as transformações percorridas pela sua ancestralidade. Dito assim, “a ontogenia (descreve a origem e o desenvolvimento de um organismo, desde ovo até sua forma adulta) recapitularia a filogenia (representação histórica das relações de parentesco)” (ZILLIG, 2006). Desde a chegada de Fritz Müller ao Brasil, estendendo até seu último dia de vida, o naturalista alemão e residente brasileiro, divulgou diversas pesquisas de grande contribuição para as ciências biológicas no País. As quais, até os dias de hoje, são utilizadas como fonte de novas pesquisas (FONTES, 2007). Em 1863, publica na revista Archiv Für Naturgeschichte e também no Annals and Magzine. of Natural History, o resultado de discussões sobre o desenvolvimento de camarões contendo mais de 20 desenhos ilustrativos, sendo considerada a “primeira contribuição de Müller” intitulado: “A metarmofose de camarões”. Logo no mesmo ano, traduziu para o alemão o livro “A origem das espécies” de Charles Darwin (ZILLIG, 1997). Em 1864, Fritz Müller escreveu “Für Darwin” - Fatos e argumentos a favor de Darwin. A obra consistia em uma análise do ensaio e descrição do desenvolvimento larvar de crustáceos, onde o maior intuito era de provar a Teoria de Darwin, acentuando os estudos carcinológicos. Ainda em 1864, publicou um artigo na Annals and Magzine. 29 of Natural History, vol. XIV, intitulado “On the metamorfphoses of the prawns”(ZILLIG, 1997). Em 1865, Darwin publicou à integra a carta datada de 10 de outubro de 1865, escrita por Fritz Müller, na Linnean Society Journal – Vol. XXIV, seguida de um comentário seu, intitulando o artigo: “Notes on some of the climbing plants near Desterro”(ZILLIG, 1997). Além desta grande contribuição, Darwin mencionou sobre tal observação em sua obra revisada A origem das espécies, sitando o ilustre pesquisador como autor da descoberta: Fritz Müller descobriu pouco depois que os novos caules de um Alisma e de um Linum - plantas não trepadoras e muito afastadas uma da outra no sistema natural -são afetados de um movimento de rotação bem nítido, mas irregular; acrescenta que tem razões para acreditar que esta mesma aptidão existe em outras plantas (DARWIN, p.263, 2003). Uma carta de Fritz Müller à Darwin, de 2 de fevereiro de 1867, Müller abordou a capacidade da Maxillaria tetragona de produzir uma enorme quantidade de sementes em grandes frutos. As observações referidas pelo naturalista alemão na carta foram comentadas em uma obra de Darwin, “Animals and plants under Domestication”, vol. II, página 379: “Fritz Müller me informou que ele encontrou numa cápsula de Maxillaria, cujas sementes pesavam 42 ½ grãos ele então dispôs meio grão de sementes em uma estreita linha e contando o comprimento medido, encontrou o número de 20.667 sementes em um meio grão, de tal maneira que naquela cápsula deve ter tido o número de 1.756.440 sementes. A mesma planta muitas vezes produz meia dúzia de cápsulas”(obs: um grão valendo 50 mg) (ZILIIG, p.148, 1997). Este estudo de Müller sobre a inter-relação embaúba - formigas e as observações sobre o mal desenvolvimento das sementes de flores grandes (relatos em cartas escritas por Müller) contribuíram para o desenvolvimento e finalização dos conceitos de Darwin sobre a Fertilização de orquídeas. Neles Darwin mostrou as variadas formas de visitantes florais e suas respectivas especializações (ZILLIG, 1997). Em uma correspondência de Darwin à Müller datada de 31 de junho de 1867, Darwin menciona que a carta do alemão, de 2 de junho de 1867, chegara à tempo para que ele pudesse resumir as descrições de Müller sobre plantas onde o próprio pólen é tóxico, no capítulo de Esterilidade do “The variation of animals and plants”, sendo 30 considerado por Darwin a parte mais impressionante de todo o capítulo. Parte da carta de Müller, com uma pequena contribuição à Darwin: À lista das orquídeas onde o próprio pólen apodrece e se torna marrom escuro poucos dias após ter sido colocado no estigma, posso agora adicionar duas outras espécies; uma segunda espécie de Gomeza (crispa?) e uma Burlingtonia (decora?) (ZILLIG, p. 159, 1997). Müller foi o primeiro a notar a grande abundância de cupins existentes em troncos mortos e no solo dos locais pesquisados no País. Foi o primeiro a estudar largamente os cupins da Mata Atlântica, e da vegetação de Restinga, resultando num amplo levantamento da fauna termítica da região. Publicou suas conclusões sobre os diversos aspectos da biologia e anatomia de cupins, grande parte ilustrada por desenhos perfeitos dos insetos (Fig. 08, 09 e 10). Foram quatro longos e densos artigos, verdadeiros tratados da história natural. Todos publicados no periódico alemão Jenaische Zeitschrift Medizin und Naturwissenschaft. Sendo Fritz Müller considerado o primeiro termitólogo do Brasil (FONTES, p. 28, 2007). O entomólogo paulista Luiz Roberto Fontes, divulgou um artigo na revista Blumenau em cadernos, intitulado: Fritz Müller- Primeiro termitólogo do Brasil. Nesta pesquisa, Fontes resgatou o naturalista por meio de suas variadas contribuições como termitólogo no País, descrevendo os artigos de Müller sobre cupins. São estes os quatro artigos pioneiros: Contribuições ao conhecimento dos cupins (I,II,III e IV): I. Os orgãos sexuais dos soldados de Calotermes (1873): Na época se discutia a possibilidade de ocorrência dos dois sexos nas castas não reprodutoras do soldado e do operário. Com a publicação de Müller, houve a resposta sobre a realidade deste fenômeno ao descrever a morfologia externa do abdome terminal e a anatomia dos órgãos sexuais internos (FONTES, p. 31, 2007). II. As habitações de nossos cupins (1873): Müller descreveu os padrões de ninhos, materiais de construção e comportamento construtivo de vários cupins. Para chegar a tal finalidade, era necessário minuciosa habilidade com o machado ao cortar os troncos para não afetar à composição do ninho, bem como conseguir encontrar a rainha (FONTES, p. 32, 2007). III. As ninfas com brotos alares curtos (1873): Um tema formidável foi esclarecido por Müller quando mencionou que em cada colônia, além dos reprodutores 31 primários oriundos de revoada, existem reprodutores de substituição, os quais jamais conheceram a luz do sol. Estes são denominadas “ninfas de brotos alares curtos” de padrão ninfóide (FONTES, p. 34, 2007). IV. As larvas de Calotermes rugosus Hag. (1875): neste artigo, Müller apresentou uma descrição minuciosa da morfologia externa e interna das larvas mais jovens de duas espécies de Calotermes (as quais, 28 anos após, foram incluídas no novo gênero Rugitermes, pelo naturalista sueco Nils Holmgren). Na época se discutia muito sobre o significativo evolutivo das expansões laterais do protórax das larvas de 1º instar. Müller ao estudar minuciosamente as diminutas larvas de 1º instar, do cupins-de-madeira-seca, notou que as asas dos insetos surgiram por meio de expansões dos notos torácicos, ao contrário do que se pensava, pesquisadores da época acreditavam na origem da asas por meio de brânquias traqueais (FONTES, p. 35, 2007). Figura 08: Ata com desenho ilustrativo dos diferentes cupins de uma colônia, usado por Müller para ilustrar uma palestra em 1871. (Fonte: FONTES, p. 29 1997). 32 Figura 09: Ata ilustrativa de traço preciso e beleza gráfica, preparada por Müller, obtida de um de seus diversos artigos de cupins. (Fonte: FONTES, p. 33, 2007). Figura 10: Casas construídas pelas larvas de cupins. (Fonte: Zillig, 1997). Em realidade, não se credita estas informações originais à Müller, como se a história da descoberta de cupins e descrição complexa em artigos, nunca tivesse ocorrido. O que é uma tragédia na ciência, ainda “leva-se mais em conta as referências 33 atuais, sem ao menos a titulação de méritos à Müller” (FONTES, p. 31 2007). Daí uma das maiores causas de seu esquecimento, ou até mesmo do seu desconhecimento pelos biólogos, acadêmicos de ciências biológicas e estudantes do ensino médio. Müller foi pioneiro a desbravar inúmeros grupos botânicos e zoológicos em nosso País. Divulgou vários trabalhos sobre as numerosas inter-relações de plantas e animais que Müller observou e pesquisou nas matas tropicais do Vale do Itajaí, Santa Catarina – Brasil (FONTES, p. 28, 2007). Um dos exemplos considerado um dos mais “famosos”, é a inter-relação mutualísca de formigas com Cecrópia sp (Embaúba). Em carta, Müller descreveu a interação das formigas com o indivíduo vegetal, onde a fonte nutritiva das formigas eram almofadas marrons com pêlos incrustados tendo bastõezinhos brancos (Figura 11). Müller chegou à conclusão que os corpúsculos da Embaúba tinham como objetivo criar atração o suficiente para as formigas protegerem as folhas jovens de outros predadores. Assim, a colônia de formigas se estabelecia dentro da Cecrópia. A carta foi publicada no vol. XII da Nature, em 1876, intitulada: “Sobre os sambaquis brasileiros, Hábitos de formigas, etc” (ZILLIG, 1997). Figura 11: Desenho ilustrativo dos corpúsculos de Müller, fonte nutritiva para as formigas que vivem comensalmente com a embaúba. (Fonte: Zillig, 1997). 34 Foi na mata do Vale do Itajaí que Fritz Müller observou várias espécies de borboletas que mimetizavam cores, para se defender dos predadores. As borboletas possuíam gosto ruim, não palatável, sendo assim, com cores características de “aviso”, o predador dispensava tal presa. Publicou na Kosmos, em 1881, um artigo: “Notável caso de semelhança adquirida entre as borboletas” (Figuras: 12 e 13). A comprovação dessa tese levou o mundo acadêmico a denominá-la de “mimetismo mülleriano”. Em função disso, recebeu dois títulos de Doutor Honoris Causa de duas universidades alemãs (Bonn e Tübingen) (ZILLIG, 1996). Figura 12: Ata ilustrativa, anexo em publicação de Fritz Müller em 1881. (Fonte: Zillig, p. 105, 1997). 35 Fig. 13: À direita a verdadeira Monarca e à esquerda a Viceroy. Ambas com gosto ruim para os predadores. (Fonte: http://pt.mongabay.com/rainforests/0306.htm) De acordo com a nota de Darwin à carta de Müller de 27 de novembro de 1877, o Prof. Butler afirmou que em muitas mariposas exóticas já havia observado um tufo semelhante a um leque nos machos. Fritz Müller escreve o que veio a ser a primeira possibilidade de um estudo de grande valor para a Ciência da época, evidenciando contribuições da América do Sul: Ontem apanhei pela primeira vez o macho de uma mariposa esfinge que exalava um forte odor, semelhante ao almíscar; [...] ninguém até agora, tanto sei, apontou o órgão odorífero [...] Ele é formado por dois pincéis de pêlos situados na face ventral da base do abdômen, e quando em repouso, é totalmente escondido pelas escamas (Fig.14) (ZILLIG, p. 209-210, 1997). 36 Figura 14: Leque odorífero da mariposa esfinge. (Fonte: Zillig, p. 210, 1997). Müller relatou na mesma carta sobre a mariposa esfinge com probóscide que media 22 centímetros de comprimento (Figura 15), a qual foi descoberta mais tarde por Darwin, sua relação polinizadora com uma orquídea Angraecun sesquipedale de Madagascar , sendo encontrada como muito representativa aqui no Brasil (ZILLIG, 1997). Figura 15: probóscide da mariposa esfinge, com 22 centímetros de comprimento. (Fonte: Zillig, p. 209, 1997). 37 A carta foi lida perante a Sociedade Entomológica de Londres por intermédio do Pof. Raphael Meldola. A correspondência foi publicada no “Proceeding of the Entomological Society of London” em 1878, intitulado: “Leque odorífero de uma Mariposa Esfinge” (ZILLIG, 1997). Em 1879, Charles Darwin depara-se com uma grande novidade que foi de enorme valia e ganho capital para a doutrina da evolução. Fritz Müller descreveu suas observações sobre o abortamento dos pêlos nas pernas (Figura 16) de certas moscas de caddis (Phryganiden) sobre o uso e desuso de pelos para locomoção, sendo diferente nas que vivem em rochas e cascatas, bem como as que vivem em bromélias. Darwin mencionou, em sua correspondência à esta carta, que havia estado intrigado sobre este exato ponto por muitos anos. Nota-se tal importância em seu comentário à carta de Müller (21 de janeiro de 1879), quando publicada no Volume XIX da Nature de 1879: Nunca foi publicado um caso mais surpreendente de tal desaparecimento do que este aqui dado por Fritz Müller [..] a explanação sugerida por Fritz Müller bem merece uma cuidadosa consideração de todos aqueles que estão interessados em tais pontos, e demonstra ser de ampla e extensa aplicação (ZILLIG, p. 216, 1997). Figura 16: Abortamento de pêlos: 2- Tíbia e tarso dos dois pares de pernas da pupa habitante de bromélias. 3- O mesmo de uma espécie aliada próxima, habitando em regatos. (Fonte: Zillig, p. 215, 1997). Nesta mesma correspondência, Müller, mais uma vez, mostra sua habilidade na observação quando menciona em carta a descoberta de um anuro (Figura 17) que habita em folhas de bromélias. Este pequeno sapo (Hylodes?) porta seus grandes ovos 38 nas costas, de tal forma que encobre toda a coluna, dos ombros ao fim do traseiro. Darwin reconhece tal valor em carta (4 de março de 1879): Vejo, através de seus artigos, que o senhor está seguindo em frente, trabalhando muito energicamente e, se o senhor olhar bem, verá que parece ter descoberto algo totalmente novo e extremamente interessante (ZILLIG, p. 217, 1997). Figura 17: Sapo com ovos nas costas, descrito por Müller em 1879. (Fonte: Zillig, p. 214, 1997). Darwin publicou na Nature de 1881 no Vol. XXIII o artigo intitulado: “Movimentos das Plantas”. Na página 409 do artigo, Darwin demonstra sua cordialidade com as contribuições de Müller sobre o movimento das plantas. O artigo teve como base as correspondências de 9 de janeiro, 7 e 28 de fevereiro de 1881: Fritz Müller, em uma carta de Santa Catarina, Brasil, datada de 9 de janeiro, me deu alguns notáveis fatos a respeito do movimento das plantas. Ele tem observado instâncias surpreendentes de plantas aliadas que dispõem suas folhas verticalmente à noite através de movimentos os mais diferentes; e isto é de interesse como suporte à conclusão a que chegou meu filho Francis, as folhas vão dormir de maneira a escapar ao total efeito da radiação (ZILLIG, p. 220, 1997). Sobre o movimento das plantas de acordo com a luminosidade, Darwin mencionou na Nature de 1881, vol. XXIII na página 603: 39 Fritz Müller me remeteu algumas observações adicionais sobre o movimento das folhas, quando expostas a uma luz intensa. Tais movimentos parecem ser bem desenvolvidos e diversificados sob o claro sol do Brasil, como é o bem conhecido repouso ou movimento nictitrópico das plantas em todas as partes do mundo (ZILLIG, p. 226, 1997). Devido à grande relevância das contribuições deixadas por este estudioso catarinense nas Ciências Biológicas Universal, resgatou-se suas obras mais significativas e nesta pesquisa encontra-se disponibilizada para estudos futuros. Suas contribuições relatadas em cartas, são, em sua maioria, destinadas à temas que relacionem a botânica e a interação dos animais com os indivíduos vegetais. 3.3 FRITZ MÜLLER E O AMBIENTE Pioneiro em inúmeras descobertas sobre a história natural de animais e plantas, Fritz Müller legou muitos conhecimentos para o domínio científico. Realizando excursões científicas ao leste do estado de Santa Catarina, Müller delineou um caminho, onde Alfred Möller ao representar o mapa das excursões de Müller, compôs uma curiosa representação da cabeça de cupim, um soldado natuso de Cortaritermes fulviceps (Figura 18). Para o sobrinho de Müller, isto é indicativo da intimidade do estudioso com o conhecimento da vida natural destes animais (FONTES, p. 41, 2007). 40 Figura 18: Mapa encontrado na obra de Alfred Möller, delineia a região de pesquisa realizada por Müller. (Fonte: FONTES, p. 41, 2007). Os dados que Müller descreveu em cartas a partir de suas excursões, podem ser utilizados como balizadores para avaliar as mudanças na composição faunística e floristica daquela região devido ao crescente desmatamento, cultivo, introdução de novas espécies e ou urbanização. Estas informações são ricas fontes de dados que podem ser usados em estudos para implantação de uma unidade de conservação, uma vez que desde sua época, Müller já mencionava em cartas sua real preocupação com o meio em que vivia: [...] Infelizmente, agora a vegetação perdeu muito de sua primitiva grandiosidade; as matas virgens quase que desapareceram completamente e 41 muitos de nossos morros são agora cobertos quase que exclusivamente por arbustos baixos de um insignificante Dodonaea (ZILLIG, p. 65, 1997). Para desenvolver seu trabalho, como se pode perceber na figura 18, Müller percorreu uma grande área no estado de Santa Catarina. Nota-se que já em 1865, época de desenvolvimento de suas pesquisas, Müller descrevia a defasagem que percebia nas áreas de estudo. Assim a partir de suas informações sobre a região por onde percorreu, entende-se que existem subsídios suficientes para se propor um estudo comparativo do que existia na época e do que existe hoje. Este aspecto nos remete às idéias originais de Müller quanto à importância de preservar locais como aqueles por ele descritos com grande diversidade de fauna e flora. Para contribuir com a preservação do planeta, e manter a homeostase e integridade dos ecossistemas, bem como a vida social humana em consonância com as sucessões ecológicas naturais, Murgel (1994), observa que deve-se empregar metodologias instrumentais nas intervenções e pesquisas relacionadas ao ecossistema. As estratégias para conservação utilizadas em todo mundo, têm impulsionado a necessidade de criar unidades de conservação como principal mecanismo para preservar espaços naturais, mantendo equilibrada as diversas inter-relações do meio. Segundo Benjamin (2001), a proposta de conservação é aqui apresentada com a intenção de diminuir os efeitos da destruição dos ecossistemas naturais, em conformidade com os ideais de Müller, de quase dois séculos atrás. De acordo com as informações acima, fica evidente a necessidade de resgatar este ambiente pouco lembrado pela academia. Assim, os resultados de trabalhos realizados por Fritz Müller pode ser um importante meio de comparação bibliográfico para futuras pesquisas na área. Pode-se lembrar também que os feitos históricos na maioria de países desenvolvidos costumam ser resgatados e valorizados como um Patrimônio Nacional. Pensando assim, porque não uma reserva especial com o nome de Muller, ou ainda apenas um local de reconhecido valor por ter sido fonte de informações relevantes para a história da ciência universal? Contudo a maior relevância para a questão ambiental e para a ciência universal, deixada por Fritz Müller, está no patrimônio de informações sobre as espécies estudadas, capacitando todos os homens a entender e conhecer o mundo a sua volta, a compreendê-lo e respeitá-lo, para poder viver melhor. 42 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa buscou resgatar as contribuições de Santa Catarina - Brasil para a teoria evolucionista de Darwin, por meios dos trabalhos de Fritz Müller. Para isso buscou-se nos referenciais disponíveis subsídios que auxiliassem a cumprir este objetivo e após mergulhar nos materiais disponíveis pode-se tecer finalizadas considerações. As pesquisas sobre este tema ainda são raras, mesmo em Santa Catarina, local escolhido por Fritz Müller para residir. Os trabalhos existentes concentram-se principalmente na cidade de Blumenau - SC, local de moradia de Müller, mais especificamente no Museu Fritz Muller e no acervo da Biblioteca Central, do arquivo histórico de Blumenau – SC. Encontra-se “Müller” em artigos de conterrâneos de Blumenau e na biblioteca central da FURB. Materiais semelhantes podem ser encontrados em Florianópolis, na UFSC – Universidade Federal da Santa Catarina. Nela existe um grupo interessado em estudar Müller e sua obra, porém pudemos perceber que não possuem nada a mais que pudesse ter sido acrescentado aos materiais conseguidos em Blumenau – SC. Através de um DVD, produzido em Blumenau, foi possível tirar partes conclusivas para a pesquisa. Este filme foi divulgado pela televisão no horário do Jornal do Almoço, numa contribuição educativa importante da mídia ao público em geral. Dos achados podemos considerar que Fritz Muller teve um papel importante e decisivo para que Darwin pudesse chegar às conclusões a que chegou sobre as Teorias da Evolução. Os fatos descritos neste trabalho sobre alguns de seus estudos como por exemplo: os estudos sobre os cupins; estudos sobre camarões; sobre orquídeas (Maxilária, Gomeza, Burlington e outras); sobre a parceria entre as formigas e a embaúba; o “mimetismo mülleriano” que ocorre com as borboletas Monarca e Viceroy; sobre a probóscide da mariposa esfingie; os pelos responsáveis pelo odor da mariposa esfinge macho; sobre os pelos das pernas de moscas Phryganiden; sobre o sapinho e sua fecundação; sua preocupação com o ambiente já na sua época – dois séculos atrás e tantos outros fatos notáveis, que num trabalho de final de curso seria impossível descrevê-los, são provas incontestes de sua grande participação na História da Ciência universal. Seus achados extrapolam as teorias de Darwin, trazem à luz conhecimentos extraordinários e pouco mencionado nos meios acadêmicos. 43 Dentre dos 248 trabalhos publicados por Müller, em diversas línguas, destaca-se apenas os acima citados. Porém, se agregarmos a eles, sua amizade, mesmo que por correspondência, com Darwin, com Haeckel, suas publicações na Revista Nature e na Linnean Society Journal, pode-se ver que, apesar de todas as dificuldades de pesquisa e publicação da época em que viveu, Müller detêm mais produções que muitos outros nomes que se destacam hoje na ciência, os quais produziram muito menos que ele. Os interessados em compreender e estudar as cartas trocadas entre Müller e Darwin, será feliz em apreciá-las aqueles cujo o perfil seja mais elevado para estudos relacionados às pesquisas em biologia floral (plantas monomorfas, dimorfas, incompatibilidade de pólen na fecundação, etc), assuntos de ponto alto discutidos na botânica da atualidade. As cartas estão todas traduzidas e comentadas no livro do Dr. Cezar Zillg. Fritz Müller e sua obra merecem e devem ter destaque entre os acadêmicos, estudiosos e público em geral devido sua importância e contribuição para os conhecimentos científicos produzidos pela humanidade ao longo de sua história. Considera-se também que seu nome e o estado de Santa Catarina e o país, Brasil, podem e devem constar mais nessa história, que quase sempre escrita com as dificuldades de um país que consegue produzir, mesmo sendo limitadas para seus pesquisadores. Outro aspecto importante é o fato de que muito dos originais ainda podem ser encontrados na cidade de Blumenau, possibilitando ao pesquisador um acesso direto à fonte, coisa rara em termos de pesquisas no país. Ao que parece, desde tempos imemoriais, até hoje se convive com esta condição de pesquisadores e trabalhadores com escasso tempo de dedicação apenas para à pesquisa. E neste cenário de possibilidades, apresenta-se a sugestão de resgatar os conhecimentos de Müller sobre a região por ele estudada, para novas investigações, pois com os registros de seu trabalho, poderiam ser identificadas as alterações ocorridas e, quem sabe, possíveis vestígios de evolução. A partir da obra do naturalista Charles Robert Darwin intitulada Origens das espécies, apresentado aos cientistas, no dia 24 de novembro de 1859, uma grande massa de provas a favor da evolução biológica por meio da seleção natural. Foi por intermédio desta apresentação ao meio científico que Fritz Muller, baseado nessas teorias, elaborou seu principal livro intitulado Für Darwin através de experiências com crustáceos, na Ilha de Santa Catarina. 44 Sabe-se que Müller não pronunciou o juramento no dia de sua formatura no curso de Medicina na Alemanha, uma vez que a sua opinião batia de frente com o conteúdo religioso que deveria pronunciar (ZILLIG, 1997). Müller era um ateu, e no dia em que se deparou com a obra de Charles Darwin, imediatamente se identificou com suas teorias, que levaram o estudioso a assumir a inclinação que já alimentava ha muito tempo. Ao se deparar com uma nova teoria, sobre a origem das espécies, muitos cientistas da época deixaram de lado o método cartesiano dedutivo e suas crenças arraigadas sobre um Deus maior. Situação que levou ao cepticismo em massa, e ao mesmo tempo, quase que a uma guerra de ideologias (MAYR, 2005). Como se pode imaginar, e encontrar fartamente registrado na história, existem muitas controvérsias sobre as questões da evolução por falta de explicações conclusivas, encontramos desde muito tempo as pessoas buscando suas respostas e suas verdades que na maioria das vezes se encontra em seu Deus. A fé em Deus tem sido muitas vezes considerada não só como maior, mas como a mais completa distinção entre homem e animais inferiores. [...] é impossível sustentar que esta crença seja inata ou instintiva no homem. [...] a fé num agente espiritual onipresente parece universal e deriva, aparentemente, de um considerável progresso da razão humana e de um ainda maior avanço das faculdades de imaginação, curiosidade e maravilhamento (DARWIN, p. 705, 1974). De acordo com Charles Darwin, em sua obra “Origens”, as espécies, possivelmente, tenham advindo de uma modificação semelhante. Mesmo assim, deve haver uma causa eficiente para cada particularidade de mudanças nas espécies. Esta particularidade é ainda muito discutida até os dias de hoje. O importante é ressaltar que as devidas particularidades, bem como a sua origem semelhante, devem benevolência e originalidade à um Projetista inteligente, um Criador, o qual se importa muito conosco. Este trabalho de final de curso veio para trazer algumas reflexões, e o termo considerações finais aqui, não significa um fim e sim especulações para um novo começo, que essa produção tende ainda mais a contribuir. 45 REFERÊNCIAS BENJAMIN, A. H. et.al. Direito ambiental das áreas protegidas: o regime jurídico das unidades de conservação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. DARWIN, C. R. A origem do homem e a seleção sexual. São Paulo: Hemus, 1974. DARWIN, C. R. A Origem das Espécies, no meio da seleção natural ou a luta pela existência na natureza. V. 1. Tradução: Dr. Mesquita Paul. Porto Alegre: Lello & Irmão, 2003. DARWIN, C. R. Viagem de um naturalista ao redor do mundo. São Paulo: Abril Cultural, 1871. FONTES, L. R. Fritz Müller – Primeiro termitólogo do Brasil. BLUMENAU EM CADERNOS. Tomo XLVIII - N. 05/06 - Maio/ Junho. Diretora: Sueli Petry. Fundação Cultural de Blumenau, Blumenau - SC, 2007. HAECKEL, E. H. P. A. Dr. Fritz Müller – Desterro dois necrológios. Traduzido por Richard Paul Neto. Fundação Casa Doutor Blumenau, Blumenau – SC, 1995. LÜCKMAN, P. A. Cientistas estudaram biodiversidade de SC. Jornal A Notícia Verde - Blumenau, SC, Maio de 2001. MAYR, E. Biologia, ciência única: reflexões sobre a autonomia de uma disciplina científica/ Ernest Mayr: prefácio Drauzio Varella; tradução Marcelo Leite. Companhia da Letras, São Paulo - SP, 2005. MURGEL, S. B. Evolução das espécies: O pensamento cientifico, religioso e filosófico. São Paulo: Moderna, 1994. MÜLLER, F. Fatos e argumentos a favor de Darwin. (Für Darwin). Tradução por Hitoshi Nomura. Florianópolis, 1990. PAULI, E. Sentido catarinense e brasileiro de Fritz Müller. Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau, 1972. RAUEN, F. J. Roteiros de Investigação Científica. Tubarão: Unisul, 2002. SIMÕES, J. G. Jr. O pensamento vivo de Darwin. Pesquisa de texto e tradução por José G. Simões Jr. Ediouro, São Paulo – SP, 1986. 46 ZILLIG, C. Dear Mr. Darwin: A intimidade da correspondência entre Fritz Müller e Charles Darwin. São Paulo: Sky/ Anima Comunicação e Design, 1997. ZILLIG, C. O amigo que Darwin tinha no Brasil. Fundação Casa Doutor Blumenau, Blumenau- SC, 2006.