RELATO DO PROJETO EM LEITURA E LITERATURA COM A FAMÍLIA FAMÍLIA E ESCOLA LENDO JUNTAS Maria Cleidimar Fernandes de Brito1 [email protected] Justificativa Este projeto é fruto das minhas intenções de pesquisa, em Letramento Familiar, que concomitantemente convergem para as minhas concepções acerca de ensino, aprendizagem, leitura e literatura. Compreendo que sem a família não há como fomentar, de forma plena, uma cultura leitora e tão pouco suprimir lacunas de natureza familiar e/ou social. Pensando nisso e, também, em engajar as famílias na rotina literária da sala de aula, lancei o desafio com o protejo temático “Família e escola lendo juntas”. Antes mesmo de ingressar na rede municipal de ensino da cidade do Natal/RN, ainda na adolescência, sempre inquietou-me a dissonância do discurso versus teoria, uma vez que, defendia-se a participação da família na escola mas, não havia um planejamento de inserção daquela por parte desta; mesmo havendo esforços por parte do Estado em promover momentos para esse fim com projetos como: “Família na escola”, ou por meio de organizações como os “Amigos da escola”, por exemplo. São ações pontuais e não estruturantes. Eis, ao meu ver, o que falta para efetivar-se de forma plena essa parceria. Na prática o que se observa são ‘muros’ que separam a família da escola e a escola da família; e que por diferentes motivos, ainda não se tem a intensão de rompê-los. Outro paradigma, é o da formação de uma cultura leitora, cujo papel da escola é o de formar leitores proficientes e críticos, mas que as estatísticas mostram o contrário. Pensando em estreitar as discrepâncias e em promover essa união, adotei a literatura como uma das possibilidades de tornar esses discursos menos distantes da realidade. A primeira tentativa foi reunir as famílias para apresentar a ideia do projeto em literatura com seus membros, por conseguinte, obter a adesão de pelo menos parte deles. Ideia aceita, começamos as vivências em sala de aula: Família e escola lendo juntas. Começamos em setembro. Com trabalho diário e constante de diálogo buscamos pô-lo na rotina da família, da sala de aula e da escola; durante esta fase, conseguimos estendê-lo para mais uma classe - apesar da resistência. Além disso, socializamos o projeto com o corpo docente do Centro Municipal de Educação Infantil Maria de Fátima Medeiros Medeiro de Araújo, doravante CMEI Fátima Medeiros, na Zona Norte da cidade do NatalRN, no qual atuo como professora e na condição de pesquisadora, neste ano de 2014. Nesse processo de tentar aproximar, de forma prática, a família da escola e a escola da família, tendo como fio condutor a leitura e a literatura, temos que considerar todos os 1 Professora da Educação Infantil da rede municipal do Natal-RN, com ingresso no ano de 2009. Formada em Letras; atualmente, está cursando mestrado na área de Linguística Aplicada, tendo como objeto de estudo as práticas e ventos de letramento da família. Na intervenção de pesquisa está fazendo encontros com as famílias da escola e produção de Informativo LETRANDO, para valorizar as práticas de escrita das famílias envolvidas nos encontros. Todavia, para este relato, restringir-se-á ao projeto em leitura, em curso: “Família e escola lendo juntas”. Desde 2010, desenvolve ações voltadas para a integração escola-família, no espaço da sala de aula. 1 percalços e avanços, pois não é fácil para as famílias adentrarem nos muros da escola nesta perspectiva de cooperação e tão pouco ocupar o espaço da sala de aula no papel de leitor. Objetivos: 1. Promover um espaço de cooperação e integração entre família e escola, mediados pelas práticas de leitura, literatura e da escrita; 2. Aproximar o discurso da teoria da Escola Nova com as práticas da escola contemporânea, que por sua vez, vivencia conflitos de ordem social e familiar, que esta, por si só, não contempla a solução desses conflitos, tanto da educação quanto da transformação social, como se costuma tratar; 3. Vivenciar trocas de leitura e de escrita, entre escola e família, por meio de empréstimos de livros, rodas de leitura, tarefas para casa com eventos de escrita e leitura colaborativas, entre a(s) criança(s) e um ou mais membros familiares. 4. Experimentar momentos literários e de afetividades com a criança no ambiente familiar, por meio da leitura, além de possibilitar a fomentação de uma cultura leitora em casa, uma vez que a escola também tem esse papel. Metodologias: A ancoragem teórico-metodológica do projeto “Família e escola lendo juntas”, baseia-se em estudos de Paulo Freire; Angela Kleiman; Socorro Oliveira; Brian Street, David Barton, Mary Hamilton & Roz Ivanic; Margaret L. Philips & Heather Sample; Guofang Li, et al. Isto porque, suas teorias se alinham ao que compreendemos por língua e linguagem, práticas e eventos de letramento, interação e relevância da família na formação da criança, considerando que são eventos comunicativos de natureza linguística, cognitiva e social, dentro de uma cadeia discursiva, cuja função maior é a de que os sujeitos possam agir no mundo (letrado) com autonomia, cientes do seu papel social. Dito isto, o relato das vivências em leitura e escrita do projeto estão sendo desenvolvidas em uma turma da Educação Infantil, CMEI Fátima Medeiros, com crianças de faixa etária entre quatro e cinco anos de idade, que ainda não depreendem a leitura do código enquanto palavras e frases, portanto enunciados concretos, mas, por outro lado, leem e interpretam os textos multimodais na rotina da sala de aula; dessa forma, o eixo linguagem e literatura, como norteador para o projeto. A literatura e outras formas de expressão artístico cultural, possibilitam promover uma vivência de cooperação, integração da família na sala de aula e, ao mesmo tempo, de fomentar uma cultura leitora, dentro e fora da escola. As ações nesse intento, deram-se através de três ações básicas, a saber: 1. Reunião realizada em setembro de 2014 para expor a ideia do projeto “Família e escola lendo juntas” Nesse primeiro momento, além de expor os objetivos do projeto com a família, que foram anteriormente escritos no quadro para facilitar a visualização e a compreensão, fizemos um calendário de rodízio de leitores/familiares na sala. O critério adotado foi a disponibilidade de tempo por parte do leitor/familiar. Ele escolheria em que horário entrar e que dia viriam para contar história, ler, ou narrar um fato importante que ele vivenciou e, resgatar as memórias de leitura e de literatura do tempo em que ele era criança. 2 Também, nesse dia, foi colocado que a família teria livre acesso aos livros de literatura infantil disponíveis na sala, como suporte para realizar a “missão”, além de lê-los em casa com sua(s) criança(s) para depois, vir socializá-lo na sala de aula com as outras crianças da turma. Além disso, esses livros poderiam ser emprestados como fonte de prazer e de leitura em casa, sem necessariamente a família ter de lê-lo na sala, como ocorre com um dos nossos alunos que pega livros e devolve sem que para isto tenha que vir, obrigatoriamente, um familiar seu. 2. Participação de membros das famílias lendo na sala de aula Começamos a desenvolver o projeto em letramento familiar, através de um rodízio agendando de leitura para operacionalizar o projeto. Esse agendamento é totalmente flexível, de modo que a família pode reagendar sua vinda à sala. A princípio, pensamos na vinda de dois membros por semana; depois isso foi se adequando à realidade, de modo que, não há um rigor no horário e nem na quantidade de vindas por semana, já que o objetivo primordial é a participação da família dentro do espaço da sala de aula, como fomentadora de uma cultura leitora, ou seja, promotora do hábito da leitura, dentro e fora do espaço escolar. No momento em que a família faz parte da rotina da classe, além de interagir com a turma e possibilitar a troca de diálogo e negociação com ela, percebe um pouco da dinâmica da sala de aula e vivencia os desafios desta. 3. Atividades sistematizadas para casa, envolvendo a criança e um ou mais membros da família Para manter conexão com a rotina de casa, pensamos atividades sistematizada de leitura e de escrita para serem realizadas em tal ambiente. Essas atividades são realizadas tanto pela criança, através do registro em desenho e pintura, da participação oral e da própria assinatura do nome, quanto pela família que lê os enunciados concretos e orienta à(s) criança(s) Além disso, o professor orienta a família sobre a atividade quando esta vem pegar ou deixar a criança na sala de aula. Ainda assim, há dúvidas que no dia a dia são esclarecidas, através do diálogo entre professor, família e a própria criança. Essas atividades envolveram diferentes temas, como: ilustração de poemas de Auta de Souza, poetisa potiguar e patronesse da sala; além da utilização de registros escritos sobre a escolha do nome da criança, brincadeiras do tempo da mãe/pai, discussões acerca dos direitos da criança com a utilização do poema de Ruth Rocha: Direitos da Criança, bem como as Leis Universais dos Direitos da Criança. Em síntese, são atividades diversificadas que tem o intuito de envolver, informar, promover, aguçar e ampliar o senso crítico dos familiares sobre cidadania, memórias e fatos da vida familiar e social. Avaliação: A avaliação é processual. A preocupação primordial está em promover um espaço de cooperação entre família e escola e difundir uma cultura leitora, a partir da educação infantil, dentro e fora dos muros da escola. Outro fato, não menos importante, é o de que o projeto “Família e escola lendo juntas” mexe com o emocional dos envolvidos no processo. Quando um membro da família 3 entra na sala, geralmente, a sua criança gosta de sentar próxima a ele, abraça e faz arguições, no curso da leitura. Nesse momento, ambos compartilham afeto e podem vivenciar um momento nunca antes vivido, pois essa rotina não faz parte do currículo real da educação infantil e nem da realizada na sala de aula brasileira, salvo nas práticas de alguns professores que se têm notícias. Realidade já difundida em outros países, como Canadá, Estados Unidos, França e Austrália, onde há políticas de letramento familiar que se efetivam por meios de centros e programas de inclusão da família. Outrossim, diz respeito ao fato de que esse projeto exige, principalmente do professor, a função de animador. É ele quem deve todos os dias motivar, fazer o chamado aos familiares na porta da sala, para que estes venham e continuem vindo e se percebam como agentes de leitura, dando ao profissional em educação uma percepção prática acerca de sua função social. Observa-se que projetos dessa natureza, desenvolvem nas famílias o senso de responsabilidade e a necessidade de cooperação no processo de educação da(s) criança(s), considerando que ambos, escola e família, precisam compartilhar experiências e responsabilidades, em prol da formação educacional e social dessa(s) criança(s). Por fim, registramos que essa experiência está em curso e que, ao nosso ver, é exitosa. Como encerramento, pretendemos fazer um ‘álbum’ com as algumas atividades desenvolvidas em sala e com a família, em casa; aplicar questionário e entrevistas, considerando o ponto de vista e a avaliação dos membros participantes do projeto. Com isso, ratificar, ou não, as observações prévias sobre a relevância desse tipo de evento de letramento familiar, tanto para os membros envolvidos quanto para à rotina da escola e, sobretudo, para que haja um processo contínuo de formação leitora, dentro e fora da escola. 4