Epidemiologia das fraturas mandibulares em pacientes atendidos

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Epidemiologia das fraturas mandibulares em pacientes atendidos na região de
Araçatuba
Epidemiology of mandibular fractures in patients in the Araçatuba region
Resumo
INTRODUÇÃO: As fraturas mandibulares são as injúrias mais comumente encontradas nos ossos da
face. Possuem etiologia variada, destacando-se os acidentes automobilísticos, ciclísticos, motociclísticos,
as agressões físicas, quedas, dentre outras. PROPOSIÇÃO: O presente estudo avaliou a prevalência de
fraturas mandibulares em pacientes atendidos na região de Araçatuba – SP. MATERIAL E MÉTODOS: Foi
realizada a análise de 4112 prontuários do serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP no período de 1999 a 2005. Os fatores considerados
incluíram idade, sexo, localização anatômica da fratura, etiologia e tratamento. RESULTADOS: A prevalência das fraturas mandibulares foi alta, principalmente em pacientes do sexo masculino e na faixa etária
dos 21 aos 25 anos. As etiologias predominantes foram agressão física e acidente ciclístico. As fraturas
de côndilo foram as mais prevalentes (30,77%) seguidas das fraturas de ângulo (23,69%) e de corpo de
mandíbula (17,54%). CONCLUSÃO: Conclui-se que os dados encontrados são semelhantes aos resultados destacados em estudos epidemiológicos da literatura e o conhecimento destes possibilita a instituição
de medidas preventivas e de tratamentos adequados.
PALAVRAS-CHAVES: Fratura Mandibular; Epidemiologia; Tratamento; Trauma Facial.
Abstract
INTRODUCTION: Mandibular fractures are the injury most commonly found in the facial bones. They have
varied etiology, such as automobile, motorcycle and cycling accidents, physical abuse and falls. PURPOSE:
This study examined the prevalence of mandibular fractures in patients in the region of Araçatuba – SP. MATERIAL AND METHODS: A total of 4,112 records from the Department of Oral and Maxillofacial Surgery
and Traumatology of the Faculty of Dentistry of Araçatuba - UNESP from 1999 to 2005 were analyzed.
The factors considered included age, gender, anatomical location of the fracture, etiology and treatment.
RESULTS: The prevalence of mandibular fractures was high, particularly in males and in the age range
of 21 to 25 years. The predominant etiologies were physical aggression and accidents involving bicycles.
Condyle fractures were the most prevalent type of fracture (30.77%), followed by fractures of the mandibular anagle (23.69%) and those of the mandibular body (17.54%). CONCLUSION: It is concluded that
the results are similar to those found in epidemiological studies in the literature and a knowledge of them
facilitates the implementation of preventive measures and appropriate treatments.
KEY-WORDS: Mandibular fracture: epidemiology; treatment; facial trauma.
REVISTA BRASILEIRA DE CIRURGIA BUCO-MAXILO-FACIAL
V10 N1 P. 39 - 44
Recebido em 11/12/08 Aprovado em 23/02/10
Éllen Cristina Gaetti-Jardim | Mestranda em Estomatologia pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP
Leonardo Perez Faverani | Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial pela Associação Hospitalar
de Baruru e Colégio de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial.
Jéssica Lemos Guilinelli | Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial pela Faculdade de Odontologia
de Araçatuba - UNESP.
Thallita Pereira Queiroz | Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial pela Faculdade de Odontologia
de Araçatuba - UNESP.
Osvaldo Magro Filho| Professor Doutor de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP.
Idelmo Rangel Garcia-Júnior | Professor Doutor de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba - UNESP.
39
Introdução
Epidemiologia das Fraturas Mandibulares em Pacientes Atendidos na Região de Araçatuba
Gaetti-Jardim , et al.
As fraturas mandibulares correspondem em média
de 20% a 50% dos casos de fraturas faciais1. Alguns autores consideram a mandíbula o segundo
osso do crânio mais susceptível à injúria2,3.
40
Anatomicamente localiza-se no terço inferior
da face, que constitui uma região proeminente,
além de ser o único osso móvel do crânio, o que
resulta na diminuição da estabilidade frente ao
trauma. Esses fatos contribuem para a grande
prevalência das fraturas mandibulares 4,5. A atrofia mandibular, a osteoporose e a presença de
processos patológicos bucomaxilofaciais, como
cistos ou tumores6, predispõem a ocorrência do
trauma. Além disso, as inserções musculares
da mandíbula contribuem com o maior deslocamento dos cotos, dificultando a redução da
fratura6,7.
As fraturas mandibulares podem ser causadas por
traumatismos diretos ou indiretos, resultantes de
acidentes automobilísticos, ciclísticos, motociclísticos, de trabalho, práticas desportivas, quedas,
agressões físicas ou mesmo decorrentes de extrações dentárias8.
Dentre as regiões acometidas, as mais prevalentes são o côndilo (32%), a sínfise (29%), o ângulo (20%), o corpo (12,5%), o ramo (3,1%), o
processo alveolar (1,9%) e o processo coronoide
(1,2%)4,9.
Os sinais e sintomas mais comuns das fraturas
incluem sensibilidade intensa à palpação, dor,
restrição ou incapacidade de abertura bucal,
edema, hematoma, assimetria facial, crepitação
óssea, desalinhamento dos fragmentos ósseos,
mobilidade anormal, salivação intensa e hálito6,8,10.
A opção de tratamento mais empregada das fraturas mandibulares consiste na redução e fixação
dos fragmentos ósseos, que devem ser instituídas
tão logo o paciente apresente condições sistêmicas estáveis10. Nesse contexto, deve-se considerar
a idade do paciente, a severidade do caso clínico e
o tempo transcorrido da injúria. Contudo, o trata-
mento conservador, quando bem indicado, é uma
opção segura, confiável e não traumática, principalmente em fraturas condilares11.
Diante do pressuposto, a proposta do estudo foi
avaliar a prevalência e as características das fraturas mandibulares dos pacientes atendidos pelo
serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-MaxiloFacial da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP.
Materiais e Métodos
Foi realizado um levantamento dos prontuários
de pacientes atendidos pelo Serviço de Cirurgia
e Traumatologia Buco Maxilo Facial da Faculdade de Odontologia de Araçatuba no período
de 1999 a 2005. O projeto desta pesquisa foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Faculdade de Odontologia
de Araçatuba-UNESP, obtendo autorização para
a sua realização pelo parecer consubstanciado
32/2006.
Os locais de atendimento incluíram quatro hospitais de Araçatuba e dois hospitais de Birigui, municípios da região noroeste do Estado de São Paulo,
totalizando cerca de 290 mil habitantes (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
2005). As informações contidas nos prontuários
dos pacientes portadores de fraturas mandibulares, referentes à idade, ao sexo, à localização
anatômica, à etiologia e ao tratamento foram
anotadas em fichas elaboradas especialmente
para essa finalidade.
Resultados
Num total de 4112 prontuários analisados, as fraturas faciais foram observadas em 1190 casos, sendo que as fraturas mandibulares corresponderam
a 21,26% dos casos, prevalência menor quando
comparada às fraturas nasais do complexo zigomático-maxilar e do trauma dento-alveolar. Os pacientes do sexo masculino foram os mais frequentes
(76,73%) (Tabela1).
Faixa Etária
Sexo M Sexo F Total
%
Tabela 3. Fator etiológico das fraturas de mandíbula.
Fator etiológico
FM
%
Ac. automobilístico
38
12,25
56
17,79
0-5
9
6
15
4,78
Ac. motociclístico
6-10
11
7
18
5,73
Ac. ciclístico
51
16,21
11-15
15
8
23
7,32
Esportes
15
4,78
16-20
36
12
48
15,29
Queda
53
17,00
21-25
47
10
57
18,15
Agressão
66
20,95
26-30
26
9
35
11,15
Trabalho
6
2,5
31-35
24
4
28
8,92
Animal
4
1,3
35 +
64
26
90
28,62
Outros
9
2,86
Total
232
82
314
100
Não especificado
16
5,1
73,86
26,14
100
0
Total
314
100
%
A faixa etária mais acometida foi a compreendida
entre 21-25 anos para o sexo masculino e de 1620 anos para o feminino. A região anatômica de
maior ocorrência foi o côndilo (30,77%), seguido
do ângulo mandibular (23,69%) e do corpo anterior da mandíbula (17,54%) (Tabelas1 e 2).
Tabela 2. Porcentagem de fraturas de acordo com a região anatômica.
Tipo de Fratura
Prevalência
Corpo anterior
57 (17,54%)
Corpo posterior
35 (10,77%)
Ângulo
77 (23,69%)
Côndilo
100 (30,77%)
Sínfise
40 (12,31%)
Ramo
9 (2,77%)
Coronoide
7 (2,15%)
A etiologia mais prevalente no caso de fraturas
mandibulares foi agressão física (20,95%), seguida
de acidente motociclístico (17,79%), queda (17%) e
acidente ciclístico (16,21%) (Tabela 3).
O tratamento cirúrgico foi realizado em cerca de
65,92% dos casos (207 pacientes), e o tratamento conservador correspondeu a 34,08% dos casos
(107 pacientes) (Tabela 4).
Tabela 4. Tratamentos das fraturas de mandíbula
Tratamento
FM
%
Cirúrgico
207
65,92%
Conservador
107
34,08%
Total
314
100
Discussão
Os resultados do presente estudo estão de acordo com os existentes na literatura, considerando-se
os critérios analisados. No critério de análise referente ao sexo dos pacientes, constatou-se que a
maioria foi do sexo masculino, conforme os relatos
apresentados na literatura4,8,12-22. Tal prevalência se
deve principalmente ao fato de que pacientes do
sexo masculino exercem mais atividades físicas e se
envolvem mais em acidentes de trânsito, assaltos e
agressões18.
O maior índice de fraturas ocorreu em pacientes
com idade entre 21 e 25 anos (18,97%), resultado
este compatível com outros trabalhos encontrados
na literatura em que a maior prevalência ocorreu
na segunda década de vida dos pacientes9,18,22.
Tal fato pode ser atribuído à maior realização de
atividade física por esses pacientes, incluindo brincadeiras, atividades profissionais, sociais e esportivas4,16,18,24.
Diversos outros estudos apontaram os acidentes de
trânsito como a principal causa de fraturas maxilo-
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Tabela 1. Faixa etária e sexo dos pacientes portadores
de fratura de mandíbula atendidos pelo Serviço.
41
Epidemiologia das Fraturas Mandibulares em Pacientes Atendidos na Região de Araçatuba
Gaetti-Jardim , et al.
42
faciais4,9,17-20. Entretanto, neste trabalho as quedas
(17%) e as agressões físicas (20,95%) foram os
fatores etiológicos predominantes4,12,17,19,21. Já os
acidentes de trânsito em geral (automobilísticos,
motociclísticos e ciclísticos) foram responsáveis por
46,25% dos casos, sendo que os acidentes motociclísticos corresponderam a 17,79% das causas
das fraturas, seguido dos acidentes ciclísticos com
16,21% e acidentes automobilísticos (12,25%).
Estes achados podem estar relacionados às condições sócio-culturais e à estrutura urbana da região
de Araçatuba. Outro possível fator relacionado é
o consumo de bebida alcoólica por considerável
parte dos motoristas que receberam atendimento
pelo serviço analisado.
O local de fratura da mandíbula é variável, dependendo dos diferentes fatores etiológicos e do grau
de intensidade do agente etiológico. Assim, acidentes de transporte seriam mais associados com fraturas de sínfise e côndilo e agressões causariam mais
fraturas de corpo e ângulo23. No presente estudo, a
região anatômica de maior ocorrência foi o côndilo
(30,77%), seguido do ângulo mandibular (23,69%)
e do corpo anterior da mandíbula (17,54%). Tal
fato diverge de outros estudos23, mas corroborado
os trabalhos de Horibe; Pereira; Ferreira et al.24 e
Patrocínio2.
Várias são as possibilidades terapêuticas, já que
existe uma divergência entre autores em relação ao
melhor tratamento. Independente do tipo de fratura
e de tratamento, devem ser alcançadas a redução
anatômica através do posicionamento dos dentes
e a reaproximação precisa dos fragmentos ósseos
para um tratamento adequado, cujo objetivo principal é o de manter a função da mandíbula. Em
nosso estudo o tratamento cirúrgico foi realizado
em cerca de 65,92% dos casos (207 pacientes), e
o tratamento conservador correspondeu a 34,08%
dos casos (107 pacientes).
CONCLUSÃO
Diante do exposto, a faixa etária mais acometida foi de 21 – 25 anos com prevalência para o
sexo masculino (76,73%). A agressão física (20,95%)
seguida de acidente motociclístico (17,79%), queda (17%) e acidente ciclístico (16,21%) constituíram
os fatores etiológicos mais prevalentes. Esses dados são semelhantes aos resultados destacados em
estudos epidemiológicos da literatura, e o conhecimento destes possibilita a instituição de medidas
preventivas e de tratamentos adequados.
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Endereço para correspondência
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V10 N1 P. 39 - 44
Recebido em 11/12/08 Aprovado em 23/02/10
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