Aula 03 - Unigran

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Psicologia - Denise Matos - UNIGRAN
Aula 03
PSICOLOGIA DA SAÚDE
Olá!
Nesta aula vamos discutir sobre: 1) Psicologia
da saúde; 2) Saúde e doença; e 3) Saúde mental.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
A) Entender o conceito e atuação da Psicologia
da Saúde;
B) Discutir sobre a saúde e a doença;
C) Compreender alguns conceitos em saúde mental.
Boa aula!
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FONTE: www.papodepsicologo.com/2010/05/psicologia-da-saude-uma-velha-nova.html
A psicologia da saúde é uma área recente, sendo iniciada a partir da década de 70,
com investigações com intuito de compreender a inter-relação entre comportamento e saúde.
Seu desenvolvimento foi impulsionado pela falha do modelo médico em explicar a saúde e
doença, a complexidade do atendimento em saúde e demanda do atendimento multidisciplinar,
preocupação com a qualidade de vida, utilização das teorias psicológicas na compreensão das
doenças e do comportamento dos indivíduos doentes, entre outros (RANGÉ, 2001).
Nesse sentido, quatro tendências básicas contribuíram para moldar a Psicologia da
saúde, como a expectativa média de vida que aumentou em mais de 20 anos durante o século
XX; as principais causas de morte são doenças evitáveis, pois são devidas a comportamentos
que comprometem a saúde e que é controlado por fatores psicológicos e sociais; o
afastamento do modelo médico, pela dificuldade em explicar porque o mesmo conjunto de
risco desencadeava a doença e outras vezes não, além de desconsiderar o relacionamento
médico e paciente na eficácia do tratamento; promover saúde e prevenir doenças são práticas
enfatizadas pela psicologia, com a modificação dos comportamentos de risco, que reduz os
custos com tratamentos (STRAUB, 2004).
A psicologia da saúde busca compreender o papel das variáveis psicológicas
envolvidas na manutenção da saúde, no desenvolvimento de doenças e comportamentos
associados à doença. Outro aspecto importante é na prevenção de doenças e auxílio no manejo
e enfrentamento das mesmas (RANGÉ, 2001).
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A psicologia da saúde foi criada em 1978 e, quatro anos depois, Joseph Matarazzo
publicou em um periódico os quatro objetivos deste campo:
- Estudar cientificamente as causas e origens de doenças, especialmente as origens
psicológicas, comportamentais e sociais da doença, investigando por que as pessoas tem
comportamentos que comprometem sua saúde (por exemplo, fumar e sexo sem proteção);
- Promover a saúde, com o estabelecimento de comportamentos que promovam a
saúde, tais como a prática de exercícios regulares;
- Prevenir e tratar doenças, com programas para parar de fumar, perder peso, lidar
com estresse ou minimizar fatores de risco, além de auxiliar os doentes, na adaptação e
adesão ao tratamento;
- Promover políticas de saúde pública e aprimoramento da saúde pública, na educação
e práticas de políticas para melhorar os serviços de saúde (STRAUB, 2004).
“Psicologia da saúde é o conjunto de contribuições educacionais, científicas
e profissionais específicas da Psicologia, utilizadas para a promoção da saúde,
prevenção e tratamento de doenças, identificação da etiologia e diagnóstico (de
problemas) relacionados à saúde, doença e disfunções, para a análise dos sistemas
de atenção à saúde e formação de políticas de saúde” (MATARAZZO, 1980 apud
RANGÉ, 2001).
Até agora discutimos sobre alguns conceitos da Psicologia da Saúde.
Abaixo, apresentaremos alguns aspectos sobre o desenvolvimento dessa área
no Brasil.
Ao longo do seu curso, você já teve percebido que cada dia mais
a valorização de intervenções primárias, secundárias ou terciárias em saúde, pressupõe a
necessidade de se compreender e intervir sobre estes contextos do indivíduo ou grupos,
expostos às diferentes moléstias ou outras condições de agravo à
saúde.
A Psicologia da Saúde tem sido considerada como um
campo de trabalho da Psicologia que nasce para dar resposta a uma
demanda sócio-sanitária. Os marcos de iniciação da intersecção
entre conhecimentos psicológicos aplicados à área da saúde iniciamse na década de 50, anteriores por tanto à própria regulamentação da profissão de psicólogo
neste país, datada de 1961 (SEBASTIANI, 2003).
No início dos anos 60, a Psicologia é reconhecida oficialmente
como profissão no Brasil, e também em outros países da América Latina,
iniciam-se atividades voltadas a atenção à saúde da população com a
participação de psicólogos, já expandindo seu campo de atuação para
além das clássicas delimitações do modelo clinicalista e da atividade
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estritamente dedicada a então chamada “Saúde Mental”, conforme Antunes (2004).
A década de 70 é marcada pelo grande avanço dos trabalhos na área da Psicologia
no Brasil e pela enorme proliferação de cursos universitários para formação de Psicólogos.
Em consonância a essa evolução observamos ser ampliado significativamente a
presença de psicólogos em Hospitais Gerais e o surgimento, em vários países das Américas,
de núcleos de formação em Psicologia da Saúde (SEBASTIANI, 2003).
Na década de 80 passamos a vivenciar um momento de extrema produtividade no
campo da Psicologia da Saúde, como destaca Sebastiani (2003). Tanto no Brasil quanto
em outros países das Américas um número cada vez maior de psicólogos recém formados
procura a área de Psicologia da Saúde para desenvolver seus trabalhos. Essa década também
foi marcada por grandes investimentos e crescimento da área.
Almeida e Malagris (2011) destacam que, a partir dos anos 90, o Psicólogo da
Saúde, parece encontrar gradativamente a vocação interdisciplinar de sua especialidade e a
ser um agente de fomento a essa postura, ocupando inclusive cargos de liderança em diversas
entidades científicas com cunho transdisciplinar, marcando sua presença em entidades
e eventos de outras especialidades na área da saúde. Coloca-se igualmente presente nos
diversos fóruns que se instalam derivados de delicadas questões determinadas pelos avanços
tecnológicos das Ciências da Saúde, participando ativamente dos debates acerca dos temas
afetos a Bioética.
Nestes quase 50 anos de história, e particularmente nos últimos 25 de lutas e
investimentos, não resta a menor dúvida de que crescemos e continuamos a crescer, seja
como ciência ou profissão (ALMEIDA; MALAGRIS, 2011). No entanto, embora tenhamos
dados bastante positivos, seria por demasiado ingênuo pensar, que nosso espaço profissional
está conquistado e consolidado. Como indicam Almeida e Malagris (2011), caminhamos lado
a lado em nosso fazer e pensar com as mazelas e incongruências da realidade de saúde de
nossas sociedades.
Mas, o que se entende por saúde?
FONTE: petfarmaciaunifor.blogspot.com
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O termo saúde é originado do alemão e
corresponde a um estado de integridade do corpo.
Atualmente, ao ouvir a palavra saúde, pensamos na
ausência de doenças, definição que é incompleta.
Uma pessoa pode estar livre de doenças e mesmo
assim não desfrutar de uma vida de saúde. A
Organização Mundial da Saúde definiu este termo
como um completo bem estar físico, mental e social,
e não simplesmente como a ausência de doenças ou
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enfermidades (STRAUB, 2004).
Nesse sentido, a saúde é um estado positivo e multidimensional, englobando a saúde
física, psicológica e social. A saúde física corresponde a ter um corpo livre de doenças,
possuir hábitos relacionados a um estilo de vida que aumente a saúde física (dieta, exercícios,
sono adequado, evitar abusos de drogas, minimizar riscos à saúde). A saúde psicológica
corresponde a pensar de maneira clara, ter boa autoestima e senso geral de bem-estar,
incluindo criatividade, habilidades de resolução de problemas e estabilidade emocional. A
saúde social inclui boas habilidades interpessoais, relacionamentos significativos e apoio
social frente a crises, relacionando-se com fatores socioculturais (status socioeconômico,
educação, etnicidade, cultura e gênero) (STRAUB, 2004).
Tendo em vista que o conceito de saúde depende da concepção que se possui do ser
humano e sua relação com o ambiente, o que varia conforme a cultura. A cultura e transmissão
de valões ocorrem atualmente pelos meios de comunicação. Pela mídia, questões de saúde
passaram a ser compartilhadas por todos os segmentos da sociedade. Assim, saúde e doença
são categorias com uma carga histórica, cultural, política e ideológica. Então, é possível
compreender o processo de saúde/doença como um fenômeno coletivo, num processo histórico
e multideterminado, o que exige uma atuação integrada à saúde e interdisciplinaridade
(GIOIA-MARTINS; ROCHA JÚNIOR, 2001).
É importante apontar que a psicologia da saúde se distingue da psicologia clínica,
pois compreende o comportamento no contexto de saúde e doença. Uma das maneiras de
explicar o conceito de doença é segundo três modelos, o psicossomático, o biopsicossocial e
o epidemiológico. O modelo psicossomático considera a doença como resultante de conflitos
emocionais específicos e não resolvidos pelo sujeito. Esta é uma concepção mentalista
que explica este conceito com base em fatores psicológicos, enfatizando a relação mentecorpo com influência da psicanálise. Já o modelo biopsicossocial examina os fatores
comportamentais que são preditivos da doença ou saúde. Estuda a identificação de variáveis
culturais e sociais que influem nos programas de intervenção e na adesão ao tratamento. E
o modelo epidemiológico com o estudo qualitativo da distribuição e fatores implicados na
saúde e doença (KERBAUY, 2002).
Uma contribuição importante da Psicologia da Saúde se relaciona com a promoção
da saúde, prevenção e auxílio no tratamento de doenças. Muitos dos comportamentos que
interferem na saúde são desenvolvidos na infância e adolescência, tais como os hábitos
alimentares e práticas de atividades físicas. Especificamente, na adolescência se iniciam a
maior parte dos comportamentos que aumentam o risco de doenças, como uso e abuso de álcool
e drogas e vida sexual sem proteção. A Psicologia da Saúde contribui com o desenvolvimento
de programas de promoção de saúde e prevenção (RANGÉ, 2001).
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Os psicólogos da saúde abordam o estudo da saúde e
doença pelas seguintes perspectivas:
- do curso de vida, com atenção na maneira como
aspectos da saúde e doença variam com a idade;
- sociocultural, incluindo a maneira como os fatores
sociais e culturais, como variações étnicas em práticas
alimentares e crenças sobre as causas das doenças, afetam a
saúde;
- de gênero, compreendendo as diferenças entre homens e mulheres no risco
de doenças e quais comportamentos comprometem ou contribuem para a saúde;
- biopsicossocial, que reconhece as forças biológicas, psicológicas e sociais
como atuantes em conjunto para determinar a saúde e vulnerabilidade de uma pessoa
às doenças (STRAUB, 2004).
Pensando que uma das atribuições da Psicologia
da saúde é de promover e manter práticas de saúde,
além de prevenir e tratar doenças, entende-se que essa
área se apropria do conhecimento de outros campos da
ciência psicológica, como clínica, do desenvolvimento,
comunitária e social. Além disso, também tem como intuito
compartilhar o entendimento que aspectos biopsicossociais
fazem parte do processo de saúde e adoecimento.
Outro aspecto importante de ser considerado, nesse contexto saúde/doença, é a
história da saúde mental compreende as várias interpretações do que é loucura, determinada
por concepções de saúde de cada período histórico. Entender sobre doença mental segundo
enfoque psicológico é considera-la como produto da interação de condições de vida social
e a trajetória de cada indivíduo, bem como aspectos emocionais. Além disso, condições
externas, como poluição, estresse, criminalidade, são determinantes ou desencadeadores de
doença mental ou propiciadores e promotoras de saúde mental, ou seja, da possibilidade de
realização pessoal nos mais diversos aspectos da capacidade do sujeito (GAUER et al., 2008,
BOCK et al., 1999).
Para Michel Foucault, um filósofo francês, contribuiu para compreensão histórica
do que é doença mental, pesquisando em documentos históricos. No Renascimento, século
16, o dito como louco vivia solto e era expulso das cidades, era visto como aquele que tem
conhecimentos esotéricos e que poderia revelar verdades secretas. A loucura significava,
então, um desvio da moral e de conduta, como oposta à razão. Eram raros internações nesses
casos e, quando ocorriam, o cuidado era o mesmo dispensado aos outros doentes, como
sangrias, purgações, ventosas e banhos (BOCK et al., 1999).
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Entre os séculos 17 e 18, a definição de loucura
não dependia de conhecimentos médicos, mas da percepção
de instituições como igreja, justiça e família, com noções
de que estava atrelada à transgressão da lei e moralidade.
Em 1656, o Hospital Geral foi criado em Paris,
era um local de internação de uma categoria heterogênea
de pacientes, agrupados em: devassos (doentes venéreos),
feiticeiros (profanadores), os libertinos e os loucos. O Hospital Geral era uma instituição
assistencial e não havia tratamento, era um local de exclusão e segregação dessa população
(BOCK et al., 1999).
A partir do século 16, estabeleceu-se um critério científico na psiquiatria e surgiu
como especialidade psiquiátrica na segunda metade do século 18 (GAUER et al., 2008).
Nessa época, a loucura passou a ser vista como algo que ocorria dentro do homem,
como se ocorresse uma perda da natureza humana. No início do século 19, foi criada a primeira
instituição destinada à exclusão dos tidos como loucos, já que era injusto aos demais serem
obrigados a conviver com estes doentes. A cura da loucura ocorreria com uma liberdade
vigiada e isolamento (BOCK et al., 1999).
Com a psiquiatria moderna, Charcot procurou descrever os sintomas histéricos e
entendia o trauma como de natureza sexual, advindo de ideias e sentimentos inconsciente.
Freud foi aluno de Charcot e, para a psicanálise, tanto nos sujeitos saudáveis como nos loucos
existem as mesmas estruturas de personalidade e conteúdos, que são os responsáveis pelos
distúrbios. Essas estruturas são os tipos de personalidade neurótica e psicótica. A neurose
é composta por sintomas que expressam simbolicamente o conflito psíquico originado na
infância. Psicose é a perturbação que o sujeito apresenta na relação com a realidade, sendo
que o indivíduo é regido por seus impulsos e desejos, sem preocupar-se com consequências
ou com a realidade (GAUER et al., 2008, BOCK et al., 1999).
Acima, observamos brevemente os marcos históricos no desenvolvimento dos
conceitos em saúde mental. A seguir, vamos enfatizar os modelos de assistência à saúde
mental no Brasil.
O modelo de cuidado aos doentes mentais
no Brasil surgiu num contexto histórico de internação
hospitalar. Até o século 19, os loucos eram incorporados
ao cenário urbano e não contidos num hospital e tratados
segundo sua condição social e econômica. Em meados
do século 19, esses loucos passaram a ser confinados
aos hospitais e considerados doentes, precisando de
tratamento, vigilância e isolamento (DEVERA; COSTAROSA, 2007).
FONTE: www.meuclub.net
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Já no século 20, esse cuidado aos doentes mentais passou a ser asilar, fundamentado
em práticas psiquiátricas, com o avanço de hospitais psiquiátricos e colônias agrícolas
que tentariam tratar e reeducar pelo trabalho, num ambiente calmo e regrado. No final da
década de 50, esses locais estavam superlotados, os pacientes eram maltratados e viviam
em condições precárias, com pouca atuação do poder público para melhorar esse panorama.
Após o golpe militar de 1964, foram implantados hospitais particulares e um processo de
formulação crítica e prática de questionamentos sobre esse modelo de hospital psiquiátrico
(DEVERA; COSTA-ROSA, 2007).
Nos anos 70, teve início a reforma psiquiátrica no Brasil, no momento do surgimento
do movimento sanitário (com objetivo de modificar a gestão de saúde e prevenção). Essa
reforma é um processo social e político complexo, que englobou diversas esferas políticas,
acadêmicas e sociais. Assim, passou-se de um modelo de internação hospitalar à implantação
de uma rede extra-hospitalar, com a implantação de serviços de atenção diários, com cuidados
biopsicossociais (DEVERA; COSTA-ROSA, 2007).
Como podemos entender o que é a saúde mental?
A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição única para
saúde mental. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de
vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a capacidade de um indivíduo
de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir
a resiliência psicológica. Entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que
a ausência de transtornos mentais.
“Saúde Mental é o conjunto de ações de promoção, prevenção e tratamento
referentes ao melhoramento ou à manutenção ou à restauração da Saúde Mental de uma
população.” (Saraceno, 1999).
Em saúde mental, a psicologia contribui com algumas
práticas profissionais específicas, seja de forma isolada ou em equipe.
Uma contribuição do psicólogo nos atendimento em saúde
mental se refere a noções de cuidado, não apenas como atenção ao
outro, mas com efetiva construção de um vínculo entre profissional
e paciente. Pela história de assistência à doença mental, a família
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sempre ficou afastada desse doente e ele, afastado de qualquer convívio social. Mudar esse
panorama ainda não é fácil, visto uma série de preconceitos que esses pacientes enfrentam e
ideias errôneas que a sociedade ainda possui sobre eles. Outro problema é a ideia de delegar
cuidado, em que a família e sociedade depositam unicamente na equipe de profissionais o
cuidado e convívio dos doentes mentais (VIANNA; PEREIRA, 2009).
Para Vianna e Pereira (2009), cuidar não significa isolar do convívio familiar e social,
mas ressalta a capacidade de conviver e aceitas as diferenças. Na saúde, cuidar significa um:
“encontro intercessor entre um trabalhador de saúde e um usu¬ário, no qual
há um jogo de necessidades/direitos. Neste jogo, o usuário se coloca como alguém que busca uma intervenção que lhe permita recuperar, ou produzir, graus
de autonomia no seu modo de caminhar a sua vida. Coloca neste processo o seu
mais importante valor de uso, a sua vida, para ser trabalhada como um objeto carente de saúde” (MERHY, 1998, p. 4 apud VIANNA; PEREIRA, 2009).
Os profissionais devem auxiliar na redução dessa barreira entre doentes mentais e
sua família e sociedade, reduzindo riscos de recaída de sintomas, fornecer informações claras,
ensinar habilidade de manejo de sintomas e facilitar a comunicação entre esses protagonistas.
Afastar-se do modelo biomédico para uma abordagem biopsicossocial engloba promover
mudanças na formulação de políticas de saúde mental, na prática de todos os profissionais
envolvidos, no status social dos médicos (SARACENO, 1999).
Atender segundo a abordagem biopsicossocial é reconhecer o papel dos pacientes,
da família, comunidade e de outros profissionais como geradores dos recursos no tratamento
da doença mental e promovendo a saúde mental, considerando ainda os muitos aspectos
que podem estar envolvidos nesse contexto. Como exigência ética, é importante que os
profissionais de saúde pensem numa reabilitação psicossocial, num processo de reconstrução
dos exercícios de cidadania, com a valorização das habilidades do sujeito, a postura dos
profissionais e sociedade frente ao doente mental (SARACENO, 1999; VIANNA; PEREIRA,
2009).
Pensando em atender as expectativas
do modelo biopsicossocial, Bock et al. (1999)
apresentam alguns conceitos relevantes em
promoção da saúde mental. Para a autora, quando
pensamos em doença, logo pressupomos uma cura.
Nas doenças mentais, essa cura depende do modelo
explicativo usado como referencial e de tratamento.
Mais que cura, quando falamos em doença devemos
sempre pensar também em prevenção e, no caso de
doenças mentais, significa criar estratégias para evitar que ocorram. Para isso, devem ser
realizadas ações no âmbito social e interferir em condições de trabalho ou de vida que possam
propiciar o aparecimento de uma doença mental. Há também que se considerar a dedicação nas
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pesquisas que visam esclarecer a interferência de fatores biológicos, fisiológicos e genéticos
em conjunto com aspectos emocionais e situacionais no entendimento dessas doenças.
Mas, para se trabalhar com promoção de saúde mental é preciso sempre considerar
o sujeito como um homem em sua totalidade, ou seja, dotado de características biológicas,
psicológicas e sociais, buscando o bem-estar físico, mental de social. Assim:
“Nessa perspectiva, significa pensar na pobreza, que determina condições de vida
pouco propícias à satisfação das necessidades básicas dos indivíduos, e, ao mesmo tempo, pensar na violência urbana e no direito à segurança; no sistema educacional, que reproduz a competitividade da nossa sociedade; na desumanização
crescente das relações humanas, que levam à “coisificação” do outro e de nós
próprios. E pensar tudo isto significa pensar na superação das condições que desencadeiam ou determinam a loucura. Como cidadãos, é preciso compreender que
a saúde mental é, além de uma questão psicológica, uma questão política, e que
interessa a todos os que estão comprometidos com a vida” (BOCK et al., 1999).
Em síntese:
Nesta aula, discutimos sobre Psicologia da
Saúde, como uma área de atuação que visa contribuir
com a promoção da saúde, prevenção de doenças e
em outros aspectos relacionados à saúde e doença.
Além disso, discutimos sobre os conceitos
de saúde, como um estado multidimensional e
influenciado por inúmeros fatores. O conceito de
doença também leva em conta modelos explicativos, que incluem aspectos psicológicos,
biológicos, sociais e culturais, além de questões epidemiológicas.
Estudamos ainda sobre aspectos relevantes ao entendimento dos conceitos em
saúde mental. Para isso, foi preciso compreender que o conceito de doença mental sofreu
influência da época histórica e social em cada momento. O cuidado à saúde mental
também foi determinado pela época histórica, primeiramente com uma segregação
social e com os hospitais psiquiátricos, que contribuíram para o momento atual, de que
cuidar dos doentes mentais é responsabilidade da equipe de saúde, isentando a família
e a sociedade de sua atuação.
A psicologia muito tem contribuído para o entendimento e tratamento desses
pacientes, com a mudança de um enfoque médico, para uma abordagem biopsicossocial.
Contribui para a compreensão de causas emocionais e sociais, além de
sintomas e comportamentos desviantes. Além do tratamento, a psicologia se preocupa
com a prevenção e a promoção de saúde.
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