evolução histórica da hemodiálise e dos acessos vasculares para a

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Evolução histórica da hemodiálise e dos acessos vasculares para a assistência ao doente renal
crônico1.
Historical evolution of hemodialysis and vascular access for chronic kidney disease care.
Evolución histórica de la hemodiálisis y el acceso vascular para el cuidado de la enfermedad
renal crónica.
Xavier Aline de Sousa, Oliveira Ana Karenina Rassi 2, Brasileiro Marislei Espíndula3. Evolução
histórica da hemodiálise e dos acessos vasculares para a assistência ao doente renal crônico.
Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial online] 2012 jan-jul 4(4) 1-15. Available from: <http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>.
Resumo
Objetivo: Descrever a evolução histórica da hemodiálise desde 1830 até a atual situação dos
pacientes portadores de IRC submetidos a hemodiálise. Materiais e Métodos: estudo do tipo
bibliográfico, exploratório e descritivo
com levantamento na literatura disponível em
bibliotecas convencionais e virtuais. Resultados: Desde 1913, os estudos sobre o rim artificial
começaram a tomar forma, nas mãos de Jonhn Abel e posteriormente Willem Kolff.
Experiências que foram extremamente importantes para o tratamento da doença renal crônica.
Hoje, com
os avanços tecnológicos na
fabricação das máquinas de hemodiálise e,
principalmente, com o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas de acesso vascular, milhares de
pessoas se beneficiam da terapia renal substitutiva na ausência de um órgão vital como o rim.
Conclusão: Antigamente, o diagnóstico de IRC quase sempre significava morte ao paciente,
pois não existia um tratamento adequado para esta patologia. Entretanto, com a evolução e
surgimento da hemodiálise e o adequado acesso vascular, o paciente portador de IRC possui
uma sobrevida maior e uma qualidade de vida melhor proporcionada pelo tratamento, apesar
das limitações impostas pela doença.
Descritores: Hemodiálise, acesso vascular, renal crônico.
Objective: To describe the historical development of hemodialysis from 1830 to the current
situation of pacients with CRF undergoing Hemodialysis. Materials and Methods: bibliografhical
Study, exploratory and descriptive review of the literature available in conventional and virtual
librariesin. Results: Since 1913, studies on the Kidney artificiail began to take shape in the
1
Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em Nefrologia 7, do Centro de Estudos de
Enfermagem e Nutrição/Pontifíca Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, 2012.
2
3
Enfermeiras, especialistas em Nefrologia. e-mail: [email protected], [email protected]
Doutora – PUC-Go, Doutora em Ciências da Saúde – UFG, Mestre em Enfermagem, docente do CEEN, e-mail:
[email protected]
2
hands of Abel and later Jonhn Willem Kolff. Experiences that were extremely important for the
treatment of Kidney disease crônica. Hoje, with technological advances in the manufacture of
hemodialysis machines, and especially with the development of surgical techiques for vascular
access, thousands pf people benefit from renal replacement therapy in the absence of a vital
organ like the Kidney. Conclusion: Previously, the diagnosis of CRF almost always meant death
to the patient, for there was na appropriate treatment for this disease. However, with the
evolution and emergence of hemodialysis vascular access and adequate, the patients with CRF
have a higher survival and a better quality of life provied by the treatment, despite the
limitations imposed by the disease.
Keywords: Hemodialysis vascular access, chronic renal failure
Resumen
Objetivo: Describir la evolución histórica de hemodiálisis desde 1830 hasta la situación actual
de los pacientes con IRC sometidos a hemodiálisis. Material y métodos: estudio bibliográfico, la
revisión exploratoria y descriptiva de la literatura disponible en las bibliotecas convencionales y
virtuales. Resultados: Desde 1913, los estudios sobre la artificiail riñón comenzó a tomar
forma en las manos de Abel y después Jonhn Willem Kolff. Experiencias que son sumamente
importantes para el tratamiento de la enfermedad renal crônica.Hoje, con los avances
tecnológicos en la fabricación de máquinas de hemodiálisis, y especialmente con el desarrollo
de técnicas quirúrgicas para el acceso vascular, miles de personas se benefician de la terapia
de reemplazo renal en ausencia de un órgano vital como el riñón. Conclusión: Con
anterioridad, el diagnóstico de la IRC, casi siempre significaba la muerte para el paciente,
porque no había un tratamiento adecuado para esta enfermedad. Sin embargo, con la
evolución y la aparición de acceso vascular en hemodiálisis y adecuada, los pacientes con IRC
tienen una mayor supervivencia y una mejor calidad de vida proporcionada por el tratamiento,
a pesar de las limitaciones impuestas por la enfermedad.
Palabras clave: Acceso vascular en hemodiálisis, insuficiencia renal crónica.
1 Introdução
O interesse em pesquisar
sobre a evolução histórica da hemodiálise e dos acessos
vasculares para a assistência ao doente renal crônico surgiu ao observar, através de
pesquisas, que a doença renal (DRC) é de elevada morbidade e mortalidade. A incidência e a
prevalência da doença renal em estágio terminal tem aumentado progressivamente, a cada
ano, em “proporções epidêmicas”, no Brasil e em todo o mundo. “A doença renal crônica é
uma deterioração progressiva da função renal, a qual termina fatalmente em uremia (excesso
de uréia e outros resíduos nitrogenados no sangue) e suas complicações, a menos que realize
a dialise ou um transplante renal”.1
3
Assim, os tratamentos disponíveis para a doença renal em estágio terminal são: diálise
peritoneal, hemodiálise e transplante renal. Esses tratamentos substituem parcialmente a
função renal, aliviam os sintomas da dor e preservam a vida do paciente; porém, nenhum é
curativo. Atualmente no Brasil, existem 48.871 pacientes em hemodiálise conforme o censo da
Sociedade Brasileira de Nefrologia em 2007.2
O tratamento através da dialise é de extrema importância dentro da configuração geral
dos serviços de saúde, no Brasil, e é de forma específica, demandado por uma fração
significativa da população. A estes pacientes é dispensada toda uma atenção terapêutica,
psicossocial e nutricional, procurando dar condições de melhoria no que concerne a sua autoestima e reintegrá-los ao mercado de trabalho. A diálise, tanto sanguínea, como a peritoneal,
são recursos para a manutenção da vida, no caso da falência de órgãos de purificação do
sangue e excreção de substâncias nocivas a saúde, tais como uréia, creatinina, sódio, potássio
e, enfim, os componentes da urina, geradas diariamente pelo funcionamento normal do
organismo humano.3
Considera se que a história da hemodiálise tenha começado quando, em 1830, um
físico Inglês chamado Thomas Graham, verificou que, separando dois líquidos com substâncias
dissolvidas numa membrana celulósica, estabelecia troca entre elas. Conforme a Associação de
Doenças Renais do Norte de Portugal – ADRNP4, “nesta experiência ou fenômeno, o físico a
chamou de “Diálise” e as membranas, com estas características, de “semipermeáveis”. Ainda
de acordo com a ADRNP4, surgiram problemas técnicos que demonstravam estas experiências:
1. Fragilidade das membranas que provocam rupturas frequentes;
2. Não existia a heparina, pois aconteciam acidentes, como a coagulação do sangue
consecutivamente;
3. Materiais mais grossos e as possibilidades precárias
de esterilização provocavam
sistemáticas infecções.
Em 1913 na América, Jonh Abel idealizou e utilizou em cães sem rins o primeiro “rim
artificial”. Tinha a composição de uma série de tubos de celulose mergulhados em soro
fisiológico, por onde circulava o sangue dos cães.5
Na segunda guerra mundial, em 1917, a visão de doentes com Insuficiência Renal
Aguda levou o Alemão Georg Haas a mudar o protótipo do “rim artificial” de Jonh Abel.
Aumentou mais a área das membranas, conseguindo assim, esterilizar todos os componentes
do circuito extra corporal com etanol.6
Em 1926, aventurou-se a utilizar a diálise pela primeira vez em seres humanos. Esta
primeira experiência consistiu em retirar ½ litro de sangue do doente (o volume necessário
para preencher o circuito), e ao fazê-lo, circular pelos tubos por meia hora, banhados com soro
4
e reinfundi-lo novamente no paciente. Não foi obtido qualquer resultado positivo. Neste
período, Howell e Holt descreveram a heparina e começaram a produzi-la, porém só em 1927,
Georg Haas realizou a primeira hemodiálise heparinizada.7
Durante certo período foram feitas tentativas, como, por exemplo, com intestinos de
galinha, para encontrar materiais mais adequados. Em meados de 1936, quando se iniciou a
comercialização de celofane, o mesmo veio dar uma contribuição para a melhoria da diálise.
Neste mesmo ano foi possível aplicar a diálise no ser humano com alguma segurança. 8
Durante a segunda guerra mundial (1940), o médico holandês Willem Kolff construiu
um “rim artificial”, consistido em um tubo de 40 metros de celofane, enrolado num cilindro que
rodeava um tanque, onde se continha uma solução. O sangue do doente circulava dentro do
tubo e a cada rotação do cilindro mergulhava no tanque. 9
Por meados do ano de 1943, Kolff, conforme a ADRNP10, utilizou pela primeira vez este
“rim artificial” num paciente com insuficiência renal aguda. Este método de diálise foi igual ao
que fez inicialmente, por Georg Haas; 0,5 litros de sangue do doente que circulava no “rim
artificial” e que de seguida era reinfundido novamente. O rim de Kolff tinha uma inovação: o
sistema de propulsão do sangue no circuito (com adaptação de uma bomba de água de um
automóvel) permitiu pela primeira vez que fosse utilizada num doente a diálise continuamente.
O maior problema é que cada vez que fazia este tratamento, era necessária uma nova
artéria e uma nova veia. O doente que fez esta “experiência” veio a falecer no 26° dia após
este tratamento. Ainda de acordo com a ADRNP , o ano de 1945 marcou a sobrevivência do
primeiro paciente de Kolff. Com uma insuficiência renal aguda, conseguiu alcançar a
durabilidade de uma sessão de hemodiálise de 11 horas e no futuro recuperou a sua função
renal.
Nos meados dos anos 5011, a hemodiálise ainda era considerada experimental. Muitos
problemas iniciais subsistiam:
1.
O celofane ser mais resistente do que a celulose, ainda era frágil e praticamente
nada se conhecia das suas características dialíticas;
2.
A heparina não podia ser utilizada à vontade;
3.
Recentemente o plástico tinha sido introduzido, certas estruturas eram de borracha
(metal ou vidro), certas peças eram reutilizadas, pois não havia a industrialização e
a esterilização era deficiente;
4.
A estrutura dos dialisadores implicava volumes grandes para preencher, que por
seu lado obrigava, antes de iniciar os tratamentos, enche-los com sangue de
doadores, consequentemente com riscos;
5
5.
Também se conhecia pouco sobre o que era uma diálise eficaz e mesmo sobre os
principais problemas que diziam respeito à insuficiência renal crônica;
6.
O acesso vascular ainda não era permanente.
Somente em 1960, através de Scribner e Quinton, revelou-se o “Shunt” arteriovenoso
externo permanente. A partir de então, foi possível fazer os tratamentos múltiplas vezes.
Possibilitou-se, também, fazer uma avaliação regular aos mecanismos íntimos da hemodiálise
como também tecnológicos no que diz respeito aos dializadores. Contudo, o shunt tinha as
suas deficiências, como infecções e coagulações.12
Ainda em 1960 o primeiro doente com insuficiência renal crônica foi tratado em
hemodiálise regular, de uma a duas vezes por semana. Entre 1960 e 1964, desenvolveram-se
os dialisadores “Coil” (tubo celofane enrolado em espiral) e do tipo Kill (Placas de celofane
paralelas). Por volta de 1965, conforme ADNP13 não se deve “esquecer que aqui não são
referidos os milhares que morreram por falta de tratamento e outros pelo desconhecimento
médico”.
Em 1966, outro grande passo foi dado. De acordo com a ADRNP13: Cimino e Brescia
criaram
cirurgicamente
a
fístula
arteriovenosa
interna,
que
consiste
numa
pequena
comunicação, inferior a 0,5 cm, direta, entre uma veia e uma artéria. Deste modo, uma
quantidade razoável de sangue arterial é desviada para a circulação venosa dessa região. Só
existindo uma diferença, ao contrário do Shunt, enquanto este pode ser usado de imediato, a
fístula precisa de “amadurecer” e só deverá ser puncionada depois de três a quatro semanas
após a sua confecção.14
A FAV ideal, descrita por Ryan e Dennis, é aquela que proporciona um trajeto longo e
superficial, possibilita vários pontos de punção, com distância adequada entre eles, economiza
vasos para construções futuras de fístulas, permite conforto ao paciente em relação a posição
do local de inserção de agulhas e oferece boa taxa de permeabilidade e índice baixo de
complicações.15
A equipe de Enfermagem, ao puncionar a FAV do doente renal crônico, precisa fazer a
assepsia no local a ser colocado as agulhas com solução antisséptica, álcool 70%. Além do
mais, ao retirar as agulhas é indicado a realização de compressão manual, com material
estéril em cima do local da punção. Os curativos,neste local, devem ser levemente
compressivos.16
O enfermeiro é o profissional de saúde que atua mais próximo do paciente através da
assistência e do cuidado. Sendo assim, tem um papel fundamental na
prática de ação
educativa em pacientes renais crônicos, pois com a ajuda da equipe de enfermagem o paciente
se permite descobrir maneiras de viver dentro dos seus limites, de forma que não seja
6
contrária ao seu novo estilo de vida e consiga conviver com a doença e com o tratamento
hemodialítico, sem diminuição da qualidade de vida.17
2 Objetivos
2.1 Geral
Identificar os principais avanços no tratamento da doença renal crônica, enfatizando
a importância da evolução histórica da hemodiálise e dos acessos vasculares como
forma de melhorar o tratamento ao doente renal crônico submetido à hemodiálise.
2.2 Específicos
Conhecer junto a literatura pertinente, quais os principais fatores que contribuíram
para a melhoria do tratamento a doença renal crônica, desde a invenção de Willem
Kolff (primeira máquina de hemodiálise) até os dias atuais.
Destacar a importância da técnica cirúrgica da FAV, de Cimino e Brescia, para a
realização das sessões de hemodiálise.
Descrever a importância da atuação do Enfermeiro na assistência ao doente renal
crônico submetido à hemodiálise.
Enfatizar os cuidados que a Equipe de Enfermagem deve ter para a manutenção da
FAV funcionante.
3 Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, exploratório e descritivo.
O estudo bibliográfico se baseia em literaturas estruturadas, obtidas de livros e artigos
científicos
provenientes
de
bibliotecas
convencionais
e
virtuais.
O
estudo
descritivo-
exploratório visa a aproximação e familiaridade com o fenômeno-objeto da pesquisa, descrição
de suas características, criação de hipóteses e apontamentos, e estabelecimento de relações
entre as variáveis estudadas no fenômeno18.
“Os estudos descritivos, assim como os exploratórios, favorecem, na pesquisa mais
ampla e completa, as tarefas da formulação clara do problema e da hipótese como tentativa de
solução”19.
Após a definição do tema foi feita uma busca em bases de dados virtuais em saúde,
especificamente na Biblioteca Virtual de Saúde - Bireme. Foram utilizados os descritores:
hemodiálise, acesso vascular, doente renal crônico. O passo seguinte foi uma leitura
exploratória das publicações apresentadas no Sistema Latino-Americano e do Caribe de
7
informação em Ciências da Saúde - LILACS, National Library of Medicine – MEDLINE e Bancos
de Dados em Enfermagem – BDENF, Scientific Electronic Library online – Scielo, no período de
2002 a dezembro de 2011.
Para o resgate histórico utilizou-se livros e revistas impressas que abordassem o tema e
possibilitassem relatos pertinentes sobre a evolução histórica da hemodiálise e dos acessos
vasculares para a assistência ao doente renal crônico; bem como as principais consequências
decorrentes da evolução desse fato para o moderno tratamento dialítico atual.
Realizada a leitura exploratória e seleção do material, principiou a leitura analítica, por
meio da leitura das obras selecionadas, que possibilitou a organização das idéias por ordem de
importância e a sintetização destas que visou a fixação das idéias essenciais para a solução do
problema do estudo.
Após a leitura analítica, iniciou-se a leitura interpretativa que tratou do comentário feito
pela ligação dos dados obtidos nas fontes ao problema da pesquisa e conhecimentos prévios.
Na leitura interpretativa houve uma busca mais ampla de resultados, pois ajustaram o
problema do estudo a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa iniciou-se a tomada de
apontamentos que se referiram à anotações que consideravam o problema do estudo,
ressalvando as idéias principais e dados mais importantes.
A seguir, os dados obtidos foram discutidos com o suporte de estudos provenientes de
revistas científicas e livros, para a construção do relatório final.
4 Resultados e Discussão
Pesquisar sobre a evolução histórica da hemodiálise e dos acessos vasculares para a
assistência ao doente renal crônico não é uma prática recente.
Dados históricos revelam que na obra de Hipócrates (Epidemia I e II) existem relatos
que permitem identificar claramente doentes com patologia renal, apesar de que na época
pouco se sabia sobre o funcionamento dos rins. Porém, o conceito de rim como um órgão com
função específica surgiu com o médico grego Areteu da Capadócia, que o identificou como
secretor da urina, a partir do sangue.
Os estudos de Galeno, médico dos gladiadores, seguidor de Hipócrates, possibilitaram
um grande avanço nas áreas da Anatomia, Fisiologia e Terâpeutica. Ele foi o autor da primeira
descrição da vasculatura renal e do aparelho urinário. Dentro deste contexto histórico, o
médico inglês Richard Bright foi considerado o maior clínico inglês do século XIX. Descobriu
várias formas de nefrite crônica e publicou o livro, em 1827, “Mémorias sobre as doenças dos
Rins”. Na época da Segunda Guerra Mundial, o médico holandês Willem Kolff foi o pioneiro na
8
construção da primeira máquina de hemodiálise, que possibilitou iniciar o tratamento dos
doentes renais e incentivou vários estudos e avanços para o moderno tratamento da doença
renal crônica nos tempos atuais. Podemos citar, ainda, a criação da técnica cirúrgica da FAV,
por Cimino e Brescia, através de uma anastomose interna, como um grande achado no
tratamento do doença renal crônica. Através do surgimento desta técnica, os pacientes renais
crônicos passaram a contar com um acesso vascular permanente.
Assim, pode-se perceber que com o passar do tempo ocorreu uma evolução nas
máquinas utilizadas nas sessões de hemodiálise, bem como nos acessos vasculares
utilizados durante as sessões. Este fato está diretamente relacionado com as mudanças
que ocorreram na sociedade através dos tempos e com as grandes descobertas científicas
na área da saúde.
Através das buscas nas Bases de Dados Virtuais em Saúde, tais como LILACS, MEDLINE
E SCIELO, e outras revistas eletrônicas tais como CEEN, Revista Latino-americana de
Enfermagem utilizando os descritores: acesso vascular em hemodiálise, insuficiência renal
crônica encontrou-se 14 artigos publicados, excluindo-se aqueles anteriores a 2002. Foram,
portanto, incluídos neste estudo 11 publicações. Após a leitura exploratória dos mesmos, foi
possível identificar a visão de diversos autores sobre a evolução histórica da hemodiálise e dos
acessos vasculares para a assistência ao doente renal crônico. Os resultados deste estudo
foram divididos em cinco categorias:
1. Identificar os principais avanços no tratamento da doença renal crônica, enfatizando
a importância da evolução histórica da hemodiálise e dos acessos vasculares como
forma de melhorar o tratamento ao doente renal crônico submetido à hemodiálise
Considerando os treze artigos utilizados, dois autores consideram que o avanço
tecnológico e científico na área da nefrologia ao longo do tempo foi de primordial importância
para o surgimento do moderno tratamento dialítico contemporâneo.
Afirma
Sodré20
que
os
estudos
da
função
renal
foram
importantes
para
o
desenvolvimento do diagnóstico precoce, monitoramento terapêutico, análise de progressão
das doenças renais, e prognóstico destas e de outras patologias. Azevedo21 considera que, nas
últimas décadas, depois de ultrapassadas as enormes dificuldades iniciais, assistiu-se a um
formidável progresso no tratamento da doença renal crônica, através de inovações constantes
na diálise e nos acessos vasculares.
2. Conhecer junto a literatura pertinente, quais os principais fatores que contribuíram
para a melhoria do tratamento a doença renal crônica, desde a invenção de Willem
Kolff (primeira máquina de hemodiálise) até os dias atuais
9
Entre os artigos escolhidos para a realização deste trabalho, dois autores acham que a
invenção do rim artificial, por Willem Kolff, foi essencial para prolongar (e proporcionar
qualidade) a vida das pessoas portadoras de insuficiência renal crônica que precisam fazer
hemodiálise.
Considera Tuoto22 que “Kolff, médico holandês, é considerado o pai dos órgãos
artificiais. Inventou a máquina de hemodiálise (rim artificial), a qual mantém vivos mais de
um milhão de pacientes em todo o mundo”. Nas palavras de Moura 23 “as máquinas de
hemodiálise modernas possuem vários sensores que tornam o procedimento seguro e
eficaz’’.
3. Destacar a importância da técnica cirúrgica da FAV, de Cimino e Brescia, para a
realização das sessões de hemodiálise
Após a análise dos artigos coletados, foi possível identificar que dois autores estão em
consenso quanto ao fato de que o acesso vascular permanente de escolha para hemodiálise é
a Fístula arteriovenosa, pois constitui a maneira mais segura e durável (com o devido cuidado)
de acesso.
Pelas considerações de Garcia24, conclui-se que a FAV pode ser classificada em direta
(anastomose entre uma artéria e uma veia próprias do paciente) e indireta (com inserção de
uma prótese de
PTFE entre a artéria e a veia). A autora complementa, ainda, que a FAV
preferencial é aquela realizada em membro superior, envolvendo a artéria radial e a veia
cefálica, como descrita por Cimino e Breschia. Branco25 enfatiza:
Os cuidados ao cliente em hemodiálise devem ser feitos pelo enfermeiro com
especialidade nessa área, pois é um cliente debilitado, com baixa resistência
imunológica e por isso, susceptível a diversas complicações, como por exemplo, a
infecção da FAV.
4. Descrever a importância da atuação do Enfermeiro na assistência ao doente renal
crônico submetido à hemodiálise
Baseado no conteúdo dos artigos utilizados para a confecção deste estudo, dois
autores consideram que a Enfermagem é a arte de cuidar. É uma ciência que possui
conhecimentos próprios, baseada em uma teoria científica visando a saúde e o bem -estar
das pessoas nos diversos aspectos: psicológicos, espirituais, sociais e físicos. Fujii 26
considera “que o enfermeiro é, sem dúvida, o profissional mais capacitado para assistir ao
paciente e sua família durante o tratamento dialítico, auxiliando-os na compreensão da
doença e nas formas de tratamento disponíveis”.
A autora Furtado27 acredita que:
10
O cuidado em enfermagem forma um acolhimento e um vínculo efetivo com o paciente
que está chegando, via de regra, para ficar. Após essa interação, o enfermeiro precisa
desenvolver suas atividades técnicas com qualidade e segurança, com base emm um
conhecimento científico aprofundado na área.
5. Enfatizar os cuidados que a Equipe de Enfermagem deve ter para a manutenção da
FAV funcionante
Pela análise dos artigos selecionados, três autores consideram que o enfermeiro é
essencial para a manutenção da FAV funcionante. Dantas e Melo28 acredita que “a FAV com
transposição da veia basílica apresenta bons índices de maturação e desenvolvimento,
demonstrando constituir um acesso vascular adequado para hemodiálise”.
O autor Nascimento29 conclui que:
É dever da Equipe de Enfermagem, ao puncionar a FAV do paciente renal crônico, fazer a
assepsia do local a ser colocado a agulha com álcool a 70%. A Equipe deve respeitar,
também, a distância de três centímetros entre a anastomose cirúrgica e a agulha arterial e
recomenda-se que ao retirar as agulhas seja feita a realização de compressão manual,
com material estéril em cima do local da punção, e que o curativo realizado seja
levemente compressivo.
Finalizando, a autora Marques30 Considera que:
O Enfermeiro tem um papel fundamental na manutenção da FAV, além de orientar os
pacientes renais crônicos quanto aos cuidados que devem ter com a FAV e as
consequências que a falta da mesma podem causar. Os cuidados que a Equipe de
Enfermagem deve ter com os pacientes renais são muito importantes para o sucesso do
tratamento, visto que é cada vez maior o número de pessoas que apresentam lesão renal
crônica e necessitam de tratamento dialítico.
5 Considerações finais
Os pacientes portadores de insuficiência renal crônica, que se encontra em esquema de
hemodiálise clássica (três vezes por semana por um período de quatro horas), apresentam
perdas significativas, tais como: da saúde, do vigor físico, da liberdade, da capacidade, do
emprego e de laços sociais.
Dentro deste contexto, podemos destacar a importância da evolução da hemodiálise e
dos acessos vasculares como forma de proporcionar um tratamento adequado para os
pacientes, pois os rins são de primordial importância para o balanço sadio da química interna
dos nossos corpos, e na falta destes, podemos contar, tanto os pacientes quanto os
profissionais envolvidos no tratamento, com o expressivo avanço tecnológico e científico de
máquinas sofisticadas, além de técnicas de acessos vasculares avançadas.
Assim, a hemodiálise é um dos maiores avanços da medicina. Os rins são os únicos
órgãos que podem ser substituídos, ainda que não perfeitamente, por uma máquina. As
máquinas de hemodiálise passaram por várias transformações (desde a sua criação) e
atualmente são extremamente modernas e seguras. Os principais dispositivos destes
11
equipamentos são: monitor de pressão, temperatura, filtros capilares, condutividade do
dialisato, volume de ultra filtração, detector de ar e fluxo de sangue. Possuem, ainda, um
sistema digitalizado (a dosagem das substâncias para a composição da solução é feita
automaticamente), alarmes e sensores (qualquer substância estranha no sangue do paciente,
a máquina trava e toca o alarme), bomba, perfil, linha arteriovenosa (uma linha azul e outra
vermelha) e um cata bolhas que evita que o ar entre na corrente sanguinea – fabricados com
tecnologia de ponta. Possuem, ainda, agulhas (esterelizadas, descartáveis – servem para dar
passagem do sangue para a linha e para o capilar), banho do dialisador (a solução de diálise
contém solutos que entram em equilíbrio com o sangue durante o processo dialítico), entre
outros.
Além disso, a criação da fístula arteriovenosa foi extremamente importante para o
sucesso do tratamento, pois garante um fluxo de sangue maior no local da punção, além de
ser um acesso vascular permanente. Podemos citar, ainda, a criação do sistema de osmose
reversa da água utilizada no tratamento dialítico como essencial para a qualidade das sessões
de hemodiálise. Este sistema separa a água de seus contaminantes, tais como: sólidos
dissolvidos, colídes, sólidos suspensos, bactérias, vírus e matéria orgânica, garantindo a
qualidade da água e evitando danos para os pacientes.
Porém todo esse avanço torna-se inócuo se não for acompanhado por algumas
características que fazem toda a diferença, tais como: atenção, respeito, fornecimento de
informações, bom atendimento, além de empatia com o sofrimento alheio.
Podemos concluir, que o apoio da equipe de enfermagem é de primordial importância
para estes pacientes durante o tratamento. Para tanto, é preciso que exista perfeita integração
e treinamento entre os componentes da equipe e desta com os demais profissionais de saúde.
O enfermeiro nefrologista deve ser tolerante e solícito, sensível e simpático, deve compartilhar
sentimentos, manter a humildade e compaixão, para proporcionar aos pacientes portadores de
insuficiência renal crônica o conforto necessário para aceitar o tratamento que melhorará sua
qualidade de vida.
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