CRDA - CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM KÁTIA DOS SANTOS FORCIONE RODRIGUES LIMA DISLEXIA: PRÁTICAS PARA O TRABALHO DO EDUCADOR São Paulo 2009 CRDA - CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM KÁTIA DOS SANTOS FORCIONE RODRIGUES LIMA DISLEXIA: PRÁTICAS PARA O TRABALHO DO EDUCADOR Monografia apresentada como parte dos requisitos para aprovação no Curso de Especialização Lato Sensu em Distúrbios de Aprendizagem e submetida ao Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem – CRDA, sob orientação da Profª. Ms. Lucilla da Silveira Leite Pimentel. DEDICATÓRIA AO MEU MARIDO NEWTON, COMPANHEIRO E INCENTIVADOR INCONDICIONAL NA MINHA BUSCA POR CONHECIMENTO, OBRIGADA PELO APOIO, SUPORTE E CONFIANÇA, SEM OS QUAIS NÃO CONSEGUIRIA TRILHAR ESTE CAMINHO. AO MEU FILHO VITOR, PELA COMPREENSÃO DA MINHA AUSÊNCIA, MESMO QUANDO ESTAVA EM CASA PESQUISANDO E ESTUDANDO. AGRADECIMENTOS Agradeço à Professora Maria Del Carmen Prada Holler, do CRDA, que sempre partilhou seus conhecimentos sobre Distúrbios de Aprendizagem, com intuito único de fazer com que mais pessoas possam aprofundar-se neste assunto e proporcionar uma vida melhor àqueles alunos e adultos portadores de um ou alguns distúrbios de aprendizagem. À minha orientadora Profª. Ms. Lucilla Pimentel, pela atenção, carinho e incentivo durante o curso e na elaboração deste trabalho. “A PALAVRA PROGRESSO NÃO TERÁ QUALQUER SENTIDO ENQUANTO HOUVER CRIANÇAS INFELIZES” Albert Einstein Disléxico RESUMO Este trabalho explana de maneira detalhada o Distúrbio de Leitura, conhecido como Dislexia. Parte de um breve histórico deste distúrbio de aprendizagem numa linha do tempo, mostrando as descobertas ao longo de mais de um século entre diversos autores e de diferentes áreas do conhecimento. Especifica também, as comorbidades que podem ou não estar associadas a este distúrbio e as Leis que amparam o portador de Dislexia. A partir do embasamento teórico de três autores - Sally Shaywitz, Antonio Manuel Pamplona de Morais e Corine Roth Smith - assinalam-se alguns sinais da Dislexia, qual o papel do educador junto ao aluno disléxico e práticas pedagógicas que facilitem seu trabalho. Complementa-se com uma análise interpretativa a partir de uma pesquisa quantitativa sobre o educador e sua postura diante do aluno disléxico. Por fim, enfatiza-se a importância do educador para o sucesso acadêmico do aluno disléxico, assim como destaca a relevância de o educador entender o que é e como agir frente à Dislexia. Palavras-chave: aluno, educador, Dislexia, distúrbio de aprendizagem, prática pedagógica. ABSTRACT This work explains in a detailed way the Disturbance of Reading, known as Dyslexia. It begins with an abbreviated history of this learning disturbance in a time line, showing the discoveries throughout more than a century transmitted between diverse authors and of different areas of the knowledge. It also specifies the comorbidades that may or may not be associated with this disturbance and the laws that protect the person that suffers from Dyslexia. Based on the three authors' theoretical support - Sally Shaywitz, Antonio Manuel Pamplona de Morais and Corine Roth Smith - this work explains some signs of Dyslexia, the educator's role along with the dyslexic student, and pedagogical practices that facilitate his/her work. Using quantitative research, this work is reinforced with an interpretative analysis of the educator and his/her attitude in relation to the dyslexic student. Finally, it emphasizes the educator's importance for the dyslexic student's academic success, as well as highlighting the importance of the educator understanding what Dyslexia is and how to deal with it. Key-words: student, educator, Dyslexia, learning disturbance, pedagogical practice. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I – DISLEXIA: MAPEANDO O DISTÚRBIO 1 Conceito 2 Histórico 3 Distúrbio sim, dificuldade não 4 Comorbidades 4.1 Discalculia 4.2 Disgrafia 4.3 Disortografia 4.4 TDAH 5 Sinais de Dislexia nas diferentes fases da infância e escolarização 11 11 13 19 20 21 24 25 27 29 CAPÍTULO II – LEI A FAVOR DO DISLÉXICO 1 Leis vigentes 2 Lei específica sobre Dislexia 34 34 37 CAPÍTULO III – A DISLEXIA E O EDUCADOR 1 Embasamento teórico 1.1 Sinais de Dislexia 1.2 Aspecto pedagógico 2 O papel do educador 39 39 41 42 44 CAPÍTULO IV – A PESQUISA 1 Percurso Metodológico 2 Cenário e atores 3 Análise Interpretativa 47 47 48 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55 REFERÊNCIAS 57 APÊNDICE APÊNDICE I – QUESTIONÁRIO 59 60 ANEXO ANEXO I – LEI 12.524/07 62 63 INTRODUÇÃO A inquietação ante a Dislexia foi o impulso motivador deste trabalho, pois este tema gera insegurança ao educador em suas práticas pedagógicas. É importante que este distúrbio de aprendizagem seja difundido em esferas distintas, principalmente na área da Educação, para que o educador possa identificar sinais da Dislexia, encaminhar a profissionais que possam diagnosticá-la e aprenda a trabalhar de maneira efetiva, resultando no sucesso acadêmico do aluno disléxico. No processo de formação acadêmica, na maioria das vezes, o assunto é discutido de maneira genérica e simplista, mas para esta autora, despertou-a para buscar suas próprias respostas, por meio de leitura em artigos e livros sobre distúrbios de aprendizagem e, posteriormente, especificamente sobre Dislexia. Nesta busca, ficou nítido que existe uma linha tênue entre problemas de “ensinagem”, falta de conhecimentos específicos por parte dos educadores naquilo que diz respeito a distúrbios de aprendizagem, e daqueles sujeitos que apresentam uma disfunção cerebral, que os impede de produzir uma leitura esperada para sua idade cronológica e escolaridade, podendo ser os disléxicos. A Dislexia está relacionada ao distúrbio de leitura, única e exclusivamente, porém, uma criança que não consegue ler, não pode ser considerada disléxica. É importante saber que distúrbio de aprendizagem não é modismo, no qual a educação se apóia quando não consegue atingir seus próprios objetivos, pois muitas vezes é notório que, devido às falhas no atual sistema educacional, passou-se a denominar crianças que apresentam dificuldades para ler como disléxicas. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é de investigar como os professores se sentem frente à sua prática pedagógica em relação ao aluno disléxico em sala de aula. 9 METODOLOGIA Este trabalho evidencia primeiramente, sob a forma dissertativa e de maneira detalhada, o conhecimento científico literário sobre a Dislexia, desde a origem da palavra, as comorbidades que podem estar associadas, os sinais durante a escolarização e as leis que favorecem o aluno disléxico. Dando prosseguimento à pesquisa bibliográfica, que foi sustentada pela fundamentação teórica de três autores - Sally Shaywitz, Antônio Manuel Pamplona de Moraes e Corine Roth Smith - e visando elucidar a inquietação desta autora frente ao papel do educador, pormenoriza-se o que o educador pode de fato fazer em sala de aula, para promover o sucesso escolar do aluno disléxico. Para a apresentação desta monografia foram expostos os seguintes temas, abordados em 4 capítulos: I – “Dislexia – mapeando o distúrbio”, discutindo-se conceitos e comorbidades; II – “Lei a favor do disléxico”, momento do trabalho que trata das leis educacionais que fazem referência ao distúrbio; III – “A Dislexia e o educador”, analisando-se questões de ordem pedagógica no trato da Dislexia; IV – “A pesquisa”, descrição e análise interpretativa dos dados nela obtidos. Nas considerações finais, deu-se destaque ao que efetivamente o educador pode fazer para promover o sucesso escolar do aluno disléxico. RESULTADOS Para complementar os dados teóricos foi feita uma pesquisa quantitativa, por meio de uma amostragem, constituída de um questionário, sobre o conhecimento do educador em relação à Dislexia e como se sentem ao trabalhar com o aluno disléxico. O mesmo foi entregue a 15 professoras do Ensino Fundamental I, de uma escola particular da zona Sul de São Paulo. O resultado permitiu apresentar uma análise interpretativa quanto ao despreparo do educador em relação ao aluno disléxico. 10 CAPÍTULO I – DISLEXIA: MAPEANDO O DISTÚRBIO Para que seja possível compreender mais detalhadamente este assunto, o mesmo será segmentado em tópicos que o explicitam desde a origem da palavra, sua descoberta, outros distúrbios que podem estar associados e quais são os sinais que podem colocar em alerta os educadores. 1 Conceito A palavra Dislexia é derivada do grego dis (dificuldade) e lexia (linguagem), sendo definida como uma falta de habilidade na linguagem que se reflete na leitura (Associação Nacional de Dislexia, 2005; IANHEZ, 2001). Entretanto, o portador de Dislexia não apresenta distúrbios a nível sensorial, físico, emocional e mental ou desvantagens sócio-econômicas culturais ou instrucionais que possam ser causa de sua dificuldade de aprender a ler. Caso exista alguma das variáveis acima como causa desta dificuldade, então, provavelmente, não se trata de Dislexia. O que ocorre é uma lacuna entre a habilidade de aprendizagem e o sucesso escolar. O indivíduo disléxico possui um funcionamento peculiar do cérebro para o processamento da linguagem. Para a compreensão deste distúrbio é importante pontuar algumas características relacionadas ao funcionamento e desenvolvimento do cérebro, região do corpo cercada de muitos enigmas, mas que em relação à Dislexia já possui muitos estudos científicos que permitem assegurar seu funcionamento específico. A definição mais recente de Dislexia foi feita pelo grupo de BRADY et al, em 2003: Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência correta na leitura e por dificuldade na habilidade de decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa. 11 O DSM IV – Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (2002) publicado em 1994, pela Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association) em Washington - é a principal referência de diagnóstico para os profissionais de saúde mental. Neste manual a definição do distúrbio é assim descrita: A característica essencial do Transtorno de Leitura consiste em um rendimento de leitura (isto é, correção, velocidade, ou compreensão da leitura, medidas por testes padronizados administrados individualmente) substancialmente inferior ao esperado para idade cronológica, a inteligência medida e a escolaridade do indivíduo. A perturbação da leitura interfere significativamente no rendimento escolar ou em atividades da vida cotidiana que exigem habilidades de leitura (DSM-IV, 2002). O CID 10 – Classificação Internacional de Doenças da OMS (Organização Mundial de Saúde) e da ONU (Organização das Nações Unidas) tem a seguinte classificação para o distúrbio: Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares: transtornos nos quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas do desenvolvimento. O comprometimento não é somente a conseqüência da falta de oportunidade de aprendizagem ou de um retardo mental, e ele não é devido a um traumatismo ou doenças cerebrais. Transtorno específico de leitura: a característica essencial é um comprometimento específico e significativo do desenvolvimento das habilidades da leitura, não atribuível exclusivamente à idade mental, a transtornos de acuidade visual ou escolarização inadequada. A capacidade de compreensão da leitura, o reconhecimento das palavras, a leitura oral e o desempenho de tarefas que necessitem da leitura podem estar todas comprometidas. Este transtorno se acompanha freqüentemente de dificuldades de soletração, persistindo comumente na adolescência, mesmo quando a criança haja feito alguns progressos na leitura. As crianças que apresentam um transtorno específico da leitura têm freqüentemente antecedentes de transtornos da fala ou linguagem. O transtorno se acompanha comumente de transtorno emocional e de transtorno do comportamento durante a escolarização (CID 10, 1993). Em relação aos distúrbios específicos do aprendizado, e em especial na Dislexia do desenvolvimento (déficit de leitura que ocorra por algum tipo de disfunção cerebral, antes mesmo de o sujeito adquirir a leitura), a troca de informações entre as áreas médica, neuropsicológica e pedagógica é fundamental para promover a interdisciplinaridade e, conseqüentemente, ampliar nosso 12 conhecimento acerca dessa e das demais disfunções, prática habitual da ciência do século XXI. O órgão responsável pela aprendizagem é o cérebro. A aprendizagem, capacidade de processar, armazenar e usar a informação é, portanto, uma função cerebral. No caso da leitura, processo altamente complexo, estão envolvidos tanto aspectos neurológicos como sensoriais, psicológicos, sócio-culturais, sócioeconômicos e educacionais, dentre outros. Portanto, um único profissional não basta para analisar esses vários aspectos e fornecer diagnóstico preciso e seguro. A Dislexia do desenvolvimento é uma disfunção do sistema nervoso central, frequentemente de origem constitucional, caracterizada pela dificuldade na aquisição ou no uso da leitura e/ou escrita, que acomete crianças com inteligência normal, sem déficits sensoriais, com instrução supostamente adequada e na ausência de problemas físicos ou emocionais significativos. 2 Histórico Com o intuito de desmistificar que Dislexia está relacionada a modismo, entende-se ser necessário elencar dados, datas e autores ligados à área médica, desde a sua descoberta no final do século XIX até chegarmos a definições mais recentes, de 2006. Para a compreensão da Dislexia é essencial ressaltar a contribuição inicial da descoberta do médico francês Pierre Broca (1861, apud SHAYWITZ, 2006, p. 60). Ele definiu a região frontal esquerda do cérebro (especificamente o giro frontal inferior – conhecida como área de Broca), sendo a responsável pela fluência da fala, e que uma lesão (afasia) nesta região acarreta uma perda da fala, mas com a capacidade de entender a linguagem. 13 Figura 1 – Localização da linguagem expressiva e receptiva fonte: http://www.freewebs.com/osnossospeterpan/etw5t6w.bmp O lado esquerdo do cérebro, com as duas áreas principais associadas à linguagem em destaque: Área de Broca (linguagem expressiva) e Área de Wernick (linguagem receptiva) Carl Wernick (apud SHAYWITZ, 2006, p. 61), neurologista alemão, usou uma combinação de perspicazes observações clínicas e de raciocínio dedutivo para indicar que os danos à área localizada ao longo da parte superior do lobo temporal (a região cerebral atrás da parte superior da orelha - conhecida como área de Wernick) produziam outra espécie de afasia. O paciente fala com facilidade, mas não entende a linguagem e se exprime de maneira incoerente. Estas descobertas abriram as portas para que pudéssemos aprender como o cérebro lê. Para ler, devemos entrar no sistema de linguagem, em nível neural, isso significa que a leitura depende dos circuitos cerebrais já preparados para linguagem (SHAYWITZ, 2006). Especialistas intrigados com a perda da capacidade de leitura por indivíduos que sofreram lesões (Dislexia adquirida) passaram a pesquisar e a identificar as áreas que se comprometeram, correspondendo-as com a perda da leitura. No entanto, indivíduos que não sofreram nenhum dano cerebral, mas que também apresentavam dificuldade na leitura, abriram possibilidades para estudos o qual identificamos hoje como Dislexia (Dislexia do desenvolvimento). 14 Desde o final do século XIX médicos já percebiam crianças com esta disfunção, e foram à busca do por que pessoas brilhantemente inteligentes e rápidas nos jogos possuíam grande dificuldade, e até mesmo incapacidade, para ler. A evolução dos estudos específicos sobre a Dislexia passa por diversas áreas, em épocas diferentes como se pontuará a seguir: • Os neurologistas relatavam que seus pacientes com lesão adquirida não conseguiam ler, ou seja, existia uma cegueira de texto, apesar da visão, do intelecto e da fala estarem intactos. Denominou wortblindheit, literalmente cegueira verbal (Kussmaul, 1889, apud SHAYWITZ, 2006, p. 26). • Hinshelwood (1904, oftalmologista que apud SHAYWITZ, trabalhou 2006, incessantemente p. com 26-27) a foi um dificuldade inesperada ao aprender a ler. De sua perspectiva prática, a dificuldade na leitura é algo isolado e circunscrito, refletindo uma disfunção cerebral local e não generalizada. Uma criança disléxica tem de ter pontos fortes no que diz respeito à cognição (processo de adquirir conhecimentos) e não apenas problema nas funções de leitura, denominado de cegueira verbal congênita. • O neurologista Samuel Torrey Orton (1920, apud HOUT; ESTIENNE, 2001, p. 18) usou o termo “strephosymbolia” que significa “símbolos torcidos”, para designar crianças que invertiam letras e números durante a leitura. Ele acreditava que esta inversão, durante a leitura, era resultado da indefinição na dominância lateral, quando houvesse lateralidade cruzada ou a inexistência de uma lateralidade definida e estas eram as causas do espelhamento dos símbolos gráficos e dos atrasos da linguagem, inclusive as gagueiras. • Halgreen (1950, apud CONDEMARIN; BLOMQUIST, 1988, p. 29) fez um estudo com 276 crianças disléxicas e com um grupo de não disléxicas. Chegou à conclusão que 80% dos casos de crianças disléxicas 15 apresentavam algum familiar que também tinha alguma dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita, considerando a Dislexia como causa genética, mas sua conclusão foi considerada um erro lógico. • Critchley (1950, apud HOUT; ESTIENNE, 2001, p.20) elaborou um conjunto de premissas para diferenciar a Dislexia. 1. As dificuldades para ler e escrever persistem até a idade adulta. 2. Observa-se dificuldade de leitura nos demais membros da família, o que leva a supor o caráter hereditário do distúrbio. 3. As trocas são: visuais, auditivas, omissões, inversões, etc. 4. As dificuldades que a criança tem na leitura e na escrita não aparecem de forma isolada, mas juntas com outras dificuldades: interpretação de símbolos musicais, código Morse, sinais estenográficos, etc. • Boder (1973, apud HOUT; ESTIENNE, 2001, p. 25) classifica em: 1. Dislexia Disfonética ou Fonológica (dislexia auditiva). Caracterizada por uma dificuldade na leitura oral de palavras pouco familiares. Os disléxicos lêem bem as palavras que conhecem, ou seja, que memorizaram visualmente, mas não lêem nem escrevem palavras que encontram pela primeira vez; as adivinham, a partir do contexto e de indicações como a letra inicial ou a extensão da palavra, e cometem muitos erros de substituição semântica. 2. Dislexia Diseidética (dislexia visual). Os disléxicos diseidéticos caracterizam-se por apresentarem uma leitura lenta, trabalhosa, mas correta, baseada na decodificação fonética. A dificuldade na leitura é caracterizada por um problema de ordem visual. O leitor lê através de um processo extremamente elaborado de análise e de síntese fonética. Lêem palavras familiares ou não, mas apresentam dificuldade em palavras irregulares. 3. Dislexia Mista: apresenta as características dos dois subtipos anteriores. 16 • Quirós (1975, apud MORAIS, 1996, p. 36) mostra em seus estudos que a Dislexia específica em evolução, supõe um quadro com perturbações perceptivo-cognitivas, que significa dificuldades na percepção simbólica tanto em nível de palavras visualizadas como em nível de palavras ouvidas, dificultando a aquisição da leitura e da escrita. • Johnson e Myklebust (1983, apud HOUT; ESTIENNE, 2001, p. 107) diferenciam em dois tipos: 1. Dislexia auditiva: dificuldade em distinguir semelhanças e diferenças entre sons; em perceber sons no meio de palavras; em análise–síntese, memória e seqüência auditivas. Possuem acuidade auditiva normal. 2. Dislexia visual: dificuldade em memória e análise-síntese visual, em discriminação visual de detalhes, em perceber as palavras escritas, em respeitar as seqüências viso-espacial etc. 3. A aprendizagem não é unicamente auditiva ou visual, mas em alguns momentos existe certa autonomia de um sistema em relação ao outro. • Lyon G. Reid (1995, apud SHAYWITZ, 2006, p. 40) define Dislexia como "dificuldade de decodificar uma palavra”: Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico de origem constitucional caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a outras dificuldades acadêmicas cognitivas; não são resultados de distúrbios de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se manifesta por várias dificuldades em diferentes formas de linguagem freqüentemente incluindo, além das dificuldades com 1 leitura, uma dificuldade de escrita e de soletração.[grifo da autora ] A nova definição, citada anteriormente, amplia esta noção referindo-se especificamente ao reconhecimento correto das palavras (identificando as verdadeiras palavras) e as habilidades de decodificação (pronunciando logatomas – 1 De acordo com a definição do DSM, Dislexia é um transtorno de leitura, que pode estar associado ou não a outros distúrbios. 17 unidades lógicas). Também reconhece a soletração pobre como uma característica da Dislexia. A soletração está intimamente relacionada com a leitura não só porque os sons estão ligados às letras, mas porque as palavras estão literalmente colocadas em código ao invés de meramente decifradas (SHAYWITZ, 2006). Com a ampla divulgação da Dislexia, oftalmologistas, neurologistas e lingüistas intensificaram suas pesquisas a fim de identificar a dinâmica do processo de leitura e escrita, fortalecendo a definição e, conseqüentemente, a forma de atuação frente a esse distúrbio. Pela facilidade e pela fluidez, a linguagem verbal tem tudo a ver com o porquê de a leitura ser algo tão difícil para as crianças disléxicas. Embora tanto a fala quanto a leitura dependam da mesma partícula (fonema) há uma diferença fundamental: falar é natural e ler não é. Aqui reside o ponto crucial deste distúrbio. Ler é algo que se adquire, uma invenção do homem que se deve aprender de forma consciente. E é a própria naturalidade da fala que faz a leitura ser algo tão difícil. 18 LEITURA Decodificação Compreensão Identificação de palavras (a) Significado DISLEXIA Sistema de linguagem Leitura Discurso Compreensão Sintaxe Semântica Fonologia Decodificação (b) Figura 2 – O paradoxo da Dislexia Fonte: SHAYWITZ, 2006, p. 51. (a) Dois componentes importantes para a leitura: decodificação e compreensão. (b) Uma deficiência fonológica interfere na decodificação, mas as capacidades superiores, necessárias para a compreensão, permanecem intactas. Atualmente diversas áreas do conhecimento (psicologia, psicopedagogia, neurologia, pedagogia, fonoaudiologia, entre as de maior destaque) estão envolvidas na busca por conhecimento específico frente à Dislexia. Elas trabalham de forma multidisciplinar e interdisciplinar com objetivo único de alinharem conhecimentos e práticas que sirvam de suporte para os educadores, assim como, garantam uma melhora significativa na qualidade de vida do disléxico, por ser a leitura um processo complexo (SHAYWITZ, 2006). 3 Distúrbio sim, dificuldade não Como citado no início deste capítulo, dificuldade não tem a mesma conotação que distúrbio, ainda que a utilização destes termos seja feita erroneamente como se fossem sinônimos. A dificuldade frente à aprendizagem tem tempo certo para surgir com começo, meio e fim, podendo ser gerada a partir de fatores diversos, tais como: 19 mudança de escola, de professora, de casa, de cidade, perda de pessoas queridas, situações familiares que não agradam a criança (separação dos pais, alcoolismo, agressões diversas). Todas são causas exteriores que afetam a emoção da criança e, consequentemente, seu rendimento escolar. Da mesma forma, algumas desordens de caráter físico também contribuem para este quadro, como problemas visuais, auditivos e alimentares, entre outros. Detectado o problema gerador do baixo rendimento escolar e buscando-se estratégias para solucioná-lo, a dificuldade desaparece, confirmando a tese de que dificuldade é diferente de distúrbio. Já o distúrbio é um termo que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso de audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e, presumivelmente, devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo: alteração sensorial, dificuldade mental, distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo: diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto destas condições ou influências. Ressalta-se mais uma vez que a Dislexia não tem cura, porém com práticas educativas que visem à adequação às necessidades específicas de cada caso, existe a melhora significativa na qualidade de vida do portador, na vida acadêmica e fora dela. 4 Comorbidades Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. Paulo Freire O termo comorbidade é formado pelo prefixo latino cum, que significa contigüidade, correlação, companhia, e pela palavra “morbidade”, originada de morbus, que designa estado patológico ou doença. Assim, deve ser utilizado apenas 20 para descrever a coexistência de transtornos ou doenças, e não de sintomas. Para haver comorbidade, é importante a relação e a continuidade temporal entre dois transtornos (ou mais), que podem surgir simultaneamente ou um preceder o outro. A criança ou adulto disléxico pode apresentar somente este distúrbio de aprendizagem ou alguns outros poderão estar associados também. Os distúrbios que comumente podem aparecer em combinação com a Dislexia são: discalculia, disgrafia, disortografia, déficit de atenção e hiperatividade. Existem casos de crianças que além da Dislexia possuem todas as comorbidades citadas. (DSM IV, 2002). É importante destacar que não existe uma obrigatoriedade ou um padrão em relação às comorbidades, pois cada caso é único. Os estudos apontam a presença desta ou daquela comorbidade em crianças com diagnóstico de Dislexia, mas pontuam que não é imperativa a presença dos mesmos. Para maior clareza, seguem os aspectos gerais dos referidos distúrbios. 4.1 Discalculia A Matemática recebe uma carga de amor e ódio por grande parte das pessoas. O meio termo é difícil de ser encontrado. Na área da educação é comum encontrarmos muitos profissionais que possuem aversão à referida disciplina. O que se verifica de fato é uma dificuldade em relação à aritmética, que é uma parte da Matemática relacionada aos raciocínios lógicos, perceptivos e sensoriais (tamanhos, formas, espaço, dimensão e quantidade). A incapacidade de compreensão dos números e das operações denomina-se discalculia. Os disléxicos que apresentam a discalculia como comorbidade têm dificuldades para adquirirem rapidez e fluência em simples cálculos: adição, subtração, multiplicação, divisão e na tabuada, mas eles poderão ter, não obstante, boa habilidade em Matemática. Este fato acontece porque não há áreas do cérebro 21 que só se ocupam especificamente da leitura e soletração. As áreas usadas para a linguagem escrita são usadas também para outros materiais simbólicos, incluindo números, fórmulas, gráficos, diagramas, espaço-tempo, etc. Assim, se há um problema nessas partes do cérebro, será afetado o processamento eficiente de qualquer material simbólico, linguagem e matemática incluídas, significa que as falhas em uma área de aprendizagem podem estar freqüentemente vinculadas a falhas em outras áreas. Segundo SMITH e STRICK (2001) na discalculia as habilidades que podem estar comprometidas são: Linguísticas - incapacidade para compreender ou nomear termos, operações ou conceitos matemáticos e transpor problemas escritos para símbolos matemáticos. Perceptivas - reconhecer ou ler símbolos numéricos ou aritméticos e agrupar objetos em conjuntos. Atentivas - não copiam corretamente cifras ou números, observar os sinais das operações (não diferenciam + de x). Matemáticas - dificuldade em seguir etapas, contar objetos e aprender a tabuada de multiplicação. Nestes casos é importante a estimulação da aprendizagem que propicie o desenvolvimento das habilidades de manipular, seriar, classificar, transportar, juntar e copiar, processo esse chamado de pensamento pré-operacional e operacional, segundo PIAGET (1999). Este tipo de estimulação é importante para o desenvolvimento das referidas habilidades para qualquer criança, com ou sem distúrbio de aprendizagem. A linguagem escrita e a linguagem Matemática possuem algumas semelhanças: ambas são linguagens representadas por símbolos que apresentam pequena ou nenhuma relação com as situações e eventos que eles descrevem. 22 Portanto, o uso da letra a ou do número 4 constitui uma representação simbólica em ambos os exemplos, e que pouco ou nada tem a ver com a representação concreta. Os dois símbolos (letras / números) têm estruturas e requerem uma ordem e seqüência para serem usados eficientemente, ambos requerem facilidade verbal para uma aprendizagem fluente e sua conseqüente memorização. Encontram-se dois subgrupos de disléxicos que apresentam como comorbidade a discalculia (SMITH e STRICK, 2001): 1. Aqueles que compreendem os conceitos, mas são incapazes de representá-los no papel, isto é, eles sabem que processo ou operação usar, mas não conseguem fazê-lo com precisão quando lhes é solicitado a representação escrita (daí a importância de diferentes tipos de avaliações, que possam valorizar esta habilidade, deixando de priorizar somente a escrita). 2. Aqueles que têm pouca ou nenhuma idéia do por que os números ou símbolos são usados, ou seja, não compreendem os conceitos subentendidos em Matemática. Os resultados das pesquisas em Dislexia e Matemática variam consideravelmente e uma estimativa conservadora, baseada em estudos iniciais (SMITH e STRICK, 2001), sugeria que quase 60% dos disléxicos têm alguma dificuldade em Matemática, dois terços dos disléxicos encontram-se na faixa etária entre 8 a 14 anos, 11% dos disléxicos são excelentes em Matemática e 29% tem bom desempenho. Existem casos em que a criança pode apresentar somente a discalculia, pois este é um distúrbio independente, porém a incidência é muito pequena em relação aos demais distúrbios e em especial à Dislexia. É bom lembrar que nem todo disléxico apresenta discalculia e vice-versa, porém existe uma relação considerável entre ambos. 23 No campo da investigação muito se tem estudado sobre Dislexia, porém em relação à discalculia os achados são poucos2. 4.2 Disgrafia Também chamada de forma mais simplória como “letra feia”. Geralmente ocorre devido à dificuldade de recordar a grafia correta para representar um determinado som (seja ele lido, ouvido ou elaborado mentalmente). Em geral, o disgráfico apresenta baixo desempenho em cópias ou escrita espontânea devido à produção ilegível e, em casos mais severos, ininteligíveis. Neste caso, quando existe a necessidade de produção escrita, a criança pode ser confundida como portadora de alguma patologia neurológica, porém na realidade possui inteligência na média ou acima para poder responder corretamente qualquer questão. Não há relação entre este distúrbio e rebaixamento de QI. Por estar relacionada à má organização de espaço temporal, tanto na discalculia como na Dislexia, é comum serem percebidas as seguintes características nas produções escritas de um disortográfico, entre elas (SMITH e STRICK, 2001): • possui ritmo lento ao escrever, corrigindo-se com o intuito de “retocar” aquilo que percebe ter errado, porém o faz de forma inadequada, apresentando um resultado insatisfatório, pois acaba produzindo um amontoado de letras; • utiliza de maneira inadequada os espaços entre as palavras e o próprio espaço do papel; • não respeita as margens da folha; • sua escrita pode ser ascendente ou descendente; 2 Nas investigações da autora, referente à Discalculia, constatou-se que em todo material consultado, os autores dedicam um ou dois capítulos a livros destinados aos distúrbios de aprendizagem e em relação às comorbidades, porém um livro específico sobre Discalculia não foi encontrado durante a elaboração deste trabalho. 24 • a grafia das letras é deformada e muito irregular, devido à falta de pressão na pegada do lápis (movimento de pinça), ou pode ocorrer o outro extremo, quando possuem um traçado demasiadamente forte que acaba vincando o papel; • a organização do caderno inexiste, assim como sua própria orientação espacial. 4.3 Disortografia De acordo com o DSM-IV de 2002, a disortografia é um transtorno de aprendizagem que compromete o rendimento acadêmico, no caso de crianças e adolescentes, e profissional, no caso de adultos, visto que a escrita é muito presente em quase todos os contextos sociais. Ela só pode ser diagnosticada de fato ao final do período de alfabetização, como sendo um transtorno da expressão escrita (DSMIV, 2002) ou disortografia (CID 10, 1993). Mais uma vez, cabe ressaltar que não pode ser justificada por condição neurológica, outra condição médica geral ou déficit sensorial. Para ser disortografia é importante levar-se em conta que as habilidades de escrita estão “acentuadamente abaixo do esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência medida e a escolarização apropriada à idade do indivíduo”. (DSM-IV, 2002) Os transtornos causados por este distúrbio são percebidos na aprendizagem da ortografia, gramática e redação, apesar de o sujeito possuir uma inteligência normal, saúde e órgãos sensoriais intactos, bem como instrução adequada. (CAPOVILLA; MACEDO, 2005, pg. 219). Características da disortografia são assinaladas por esses mesmos autores: • dificuldade em expressar idéias pelo código escrito; • uso restrito de vocabulário; 25 • junções e separações de palavras de maneira inadequada; • apoio excessivo na oralidade; • trocas de letras que se assemelham visualmente por “espelhamento”; • substituição entre letras auditivamente semelhantes; • omissões ou acréscimos de letras e sílabas. Figura 3 – Redação de aluna de 6º ano com disortografia Fonte – acervo pessoal da autora (2007) Abaixo, reprodução na íntegra do texto (Fig. 3) produzido por uma aluna portadora de Disortografia. INTENÇÃO DE ESCRITA Era uma vez uma menina chamada Andréia. ESCRITA DA ALUNA Uma veis a menina chamada Andréia Ela acordou muito feliz e foi correndo Ela acordou hoje de manha Ela a cordou tomar café. muta feliz. Foi correndo para o café da manhã foi corendo para o café 26 INTENÇÃO DE ESCRITA E disse: na quinta aula tem Português. ESCRITA DA ALUNA edice no quinta aula tem portugues E o irmão dela falou: eo irmão dela falo- -Como você gosta de Português? como você gosta de português? - É porque a professora tem o - È Porque a Profa tem o mesmo nome qui mesmo nome que o meu! o meu! Eu vou adorar a aula. e eu vou adora a ula Aí a professora Andréia disse: -Tudo bem? ai profa andréia tudo Bem tudo Vamos gente a aula começou. kamo gete a aula comeso u Fizeram um texto e ela adorou. fiserão um texto e ela adoro E foram para a casa deles e ela ficou E fo para casa de e ela ficou muito com muito contente. 4.4 tem te. TDAH O Transtorno do Déficit de Atenção – Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de base genética, que se caracteriza por sintomas de desatenção, acompanhada ou não de hiperatividade e impulsividade, resultante de um desenvolvimento não adequado e causando dificuldades na vida diária. Pode ser chamado também de DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção) ou DDAH (Distúrbio de Déficit de Atenção – Hiperatividade) (WAJNSZTEJN, 2005). As crianças que sofrem de TDAH formam, aproximadamente, 3 a 5% da população escolar mundial (SMITH; STRICK, 2001). Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association), existe uma lista de sintomas deste transtorno que devem estar presentes no indivíduo e o diagnóstico é de alçada médica. 27 Abaixo segue uma lista de sintomas, sendo que, em cada uma delas, o indivíduo deve ter pelo menos 6 deles (SMITH; STRICK, 2001): Desatenção: • com freqüência deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras; • com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; • com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra; • com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares e tarefas domésticas; • com frequência reluta em envolver-se em tarefas ou atividades ou evita-as; • com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; • com frequência perde coisas (como brinquedos, tarefas escolares, livros, material escolar); • distrai-se facilmente com visões e sons irrelevantes; • com frequência apresenta esquecimento em tarefas diárias. Hiperatividade e Impulsividade: • com frequência retorce as mãos e os pés, remexendo-se na carteira; • com frequência levanta da cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; • corre e sobe demasiadamente nos objetos em situações nas quais isso é impróprio; • tem grande dificuldade para brincar em silêncio; • com frequência está a “mil por hora” ou age como se “impulsionado por um motor”; • fala excessivamente; • com frequência dá respostas precipitadas antes das questões terem sido completadas; • com frequência tem dificuldade em esperar sua vez; • com frequência interrompe ou intromete-se nos assuntos de outros. 28 Muitas pessoas confundem o TDAH com a Dislexia. Alguns até usam os dois termos indiscriminadamente. Mas o TDAH e a Dislexia são disfunções completamente diferentes. Enquanto a Dislexia é uma disfunção cuja base é a linguagem, e que afeta a leitura, o TDAH é um problema que reflete dificuldades para distribuir, focar e sustentar a atenção. Entre 12 e 24% dos indivíduos disléxicos tem como comorbidade o TDAH. (SHAYWITZ, 2006). 5 Sinais de Dislexia nas diferentes fases da infância e escolarização É importante destacar que a precocidade da identificação de alguns sinais de Dislexia são perceptíveis desde a pré-escola e, de acordo com SHAYWITZ (2006), o primeiro sinal de um problema de linguagem (e de leitura) pode ser o início tardio em começar a falar. A seguir, serão elencadas algumas orientações, direcionadas especificamente aos educadores, com a finalidade de fornecer-lhes mais uma ferramenta, que possam auxiliá-los a identificar características que sugiram investigação específica, segundo SHAYWITZ (2006). Na pré-escola observar as seguintes características e/ou dificuldades quando a criança começar a falar: • problemas de aprendizagem de rimas infantis comuns ( quando o aluno não consegue decorar uma rima simples – “Um dois, feijão com arroz” ); • falta de interesse pelas rimas; • palavras mal pronunciadas; persistência da chamada linguagem de bebê; • dificuldade em aprender e lembrar o nome das letras, cores e números; • deficiência em saber o nome das letras de seu próprio nome. 29 1º e 2º anos • deficiência em entender que as palavras podem ser divididas em partes (guarda-chuva), e que depois esta palavra pode ser dividida em duas palavras (com significados distintos) e por fim em sons; • incapacidade de aprender a associar letras e sons, incapaz de fazer a correspondência do grafema B ao som “B”; • erros de leitura que não demonstram conexão alguma dos sons com as letras (ler a palavra casa como pote); • incapacidade de ler palavras simples de uma só sílaba ou de pronunciar mesmo as palavras mais simples (pó, pá, meu, dói, ai, deu); • reclamações sobre o quanto é difícil ler, podendo sair do local ou esconderse na hora da leitura; • histórico de problemas de leitura presentes em pais e irmãos. Nesta fase, também devem ser observados indícios de pontos fortes, nos processos de pensamento, além daqueles de fala e leitura: • curiosidade; • grande imaginação; • capacidade de descobrir como as coisas acontecem; • forte envolvimento com idéias novas; • boa compreensão do ponto essencial das coisas; • boa compreensão de novos conceitos; • maturidade surpreendente; • grande vocabulário para sua faixa etária; • satisfação ao resolver quebra-cabeças e problemas; • talento para construção de modelos; • excelente compreensão de histórias que lhe são lidas ou contadas. 30 A partir do 3º ano: Em relação à fala: • pronúncia incorreta de palavras longas, desconhecidas ou complicadas; • ruptura de palavras – omite ou confunde a ordem das partes de uma palavra (escola por secola, salada por sadala); • discurso não fluente, contendo pausas ou hesitações freqüentes; • uso de linguagem imprecisa, utilizando termos como coisa, negócio em vez de utilizar o nome correto do objeto (disnomia – incapacidade para recordar nomes próprios); • incapacidade de encontrar a palavra correta, confundindo palavras que tenham sonoridade semelhante, mas com sentido diverso (frito por grito); • necessidade de tempo maior para elaborar uma resposta oral ou incapacidade de dar uma resposta verbal de maneira rápida ao ser questionado; • dificuldade de lembrar partes isoladas de informação verbal (memória imediata) como datas, nomes, números de telefones, listas aleatórias. Em relação à leitura: • progresso muito lento na aquisição das habilidades de leitura; • falta de estratégias para a leitura de palavras novas; • problemas ao ler palavras desconhecidas (novas ou não familiares) que devem ser pronunciadas em voz alta; tentativa de adivinhar a palavra ao lêla; falhas na organização dos sons das palavras quando as pronuncia; • inabilidade para ler palavras funcionais, como por exemplo: em, na, e, aquela; • medo acentuado em ler em voz alta; quando o faz apresenta uma leitura contaminada por substituições, omissões, e palavras mal pronunciadas, além de um ritmo pouco fluente, lento, entrecortado e trabalhoso; não tem inflexão e parece a leitura de uma língua estrangeira; 31 • desempenho desproporcionalmente fraco em testes de múltipla escolha, além de não conseguir finalizá-los no tempo estabelecido; • substituições de palavras de mesmo significado quando não consegue pronunciar, como: blusa por roupa; • dificuldade de leitura e conseqüente incompreensão dos enunciados dos exercícios de Matemática; • escrita (à mão) confusa, com ortografia desastrosa, mas grande facilidade ao utilizar o editor de textos, possuindo rapidez para digitar; • extrema dificuldade para aprender uma língua estrangeira; • falta de entusiasmo em relação à leitura; evita ler livros ou até mesmo uma frase; quando pode, faz escolha por textos que sejam pequenos, tenham letras maiores e muitas figuras (características esperadas para alunos de anos anteriores); • com o decorrer do tempo pode aumentar a precisão da leitura, porém ainda continua a ser sem fluência e trabalhosa; • auto-estima em declínio, presença de sofrimentos nem sempre visíveis; • histórico familiar com as mesmas características em relação à aprendizagem, leitura e ortografia. Mesmo apresentando estas características relacionadas a problemas fonológicos, há indícios de habilidades nos processos de pensamento de alto nível: • excelentes habilidades de pensamento: contextualização, raciocínio, imaginação e abstração; • capacidade de entender “o todo”; • capacidade para ler e compreender palavras já aprendidas relativas a uma determinada área de interesse; • vocabulário de alto nível, em relação à sua idade e escolaridade, no que diz respeito às palavras que ouve; • compreensão acima da média, daquilo que lhe foi lido; • excelência em áreas que não dependam de leitura, como artes visuais, computação, ou em áreas que não exijam relacionar a fatos imediatos, filosofia, biologia, neurociências. 32 Ao trabalhar com alunos disléxicos (ou alunos portadores de outros distúrbios), deve-se sempre verificar aquilo que ele tem preservado em relação a suas habilidades específicas, valoriza-las e incentiva-los a desenvolvê-las muito mais. Desta forma é possível sair do quadro de insucesso ou fracasso escolar e resgatar sua auto-estima, fazendo-o acreditar e perceber que tem capacidade para outras tarefas, e não fixar-se somente numa inabilidade devido ao distúrbio. 33 CAPÍTULO II – LEI A FAVOR DO DISLÉXICO O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele. Immanuel Kant Em relação à Dislexia, é importante saber que existem Leis específicas que contemplam os portadores deste distúrbio. Para a promoção do sucesso escolar dos disléxicos, além da necessidade de conhecimento e capacitação específicos por parte daqueles que estão envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, é importante saber o que a Lei diz ou não em relação a este distúrbio. As Leis educacionais não fazem referência específica à Dislexia, porque sempre se referem aos portadores de necessidades educacionais especiais, ou seja, são generalizadoras. Estão inclusos neste grupo aqueles que apresentam incapacidade física e mental, independente do grau de comprometimento em relação ao ensinoaprendizagem, assim como os superdotados. Em todas as Leis, legislação e diretrizes educacionais existem considerações gerais em relação à inclusão escolar, sendo este um direito de qualquer cidadão. 1 Leis vigentes De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96 art. 32 §1 - cabe ao Ensino Fundamental o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo. Dentre os vários problemas encontrados no sistema educacional, a inclusão de crianças portadoras de necessidades educacionais especiais, é a que apresenta uma das maiores preocupações. 34 A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em torno de 10% da população mundial tem necessidades especiais, no Brasil estima-se cerca de 15 milhões de pessoas. O Estado brasileiro tem como compromisso educar a todos sem qualquer discriminação ou exclusão social e prover acesso ao Ensino Fundamental para os educandos, em idade escolar, sendo este um direito público. Tanto a LDB quanto a Constituição Federal apresentam artigos beneficiários a estudantes com necessidades especiais. Alguns deles são: Emenda LDB – ENTEC/ SEESP Artigo 2º da LDB “A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Artigo 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – Elaborar e executar sua proposta pedagógica. V – Prover meios para recuperação dos alunos de menor rendimento. Artigo 23 – A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. Artigo 24 – Avaliação contínua e cumulativa, prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período. No seu artigo 4º, inciso III, a LDB diz que o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. O quadro dos distúrbios de aprendizagem absorve uma diversidade de necessidades educacionais, destacadamente associadas a: • problemas psicolingüísticos (Dislexia e disfunções correlatas); 35 • psicomotores, motores, cognitivos (atenção, concentração, percepção, memória) hiperatividade; • fatores ambientais e socioeconômicos, como as privações de caráter sociocultural e nutricional. Os avanços do dispositivo da Lei 9.394/96 são: • o atendimento educacional é gratuito, portanto a oferta do atendimento especializado, no âmbito da rede oficial de ensino, não pode ser cobrada; • pessoas em idade escolar que são consideradas “educandos com necessidades especiais” incorrem num enfoque pedagógico, ou mais, precisamente, um enfoque psicopedagógico, em se tratando do atendimento educacional; • o corpo e a alma dos educandos são de responsabilidade de todos os que promovem a formação escolar. O artigo 58 da LDB, no entanto, mistura um pouco os enfoques clínico e pedagógico ao conceituar a educação especial “como modalidade de educação escolar, oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Ainda neste artigo, o legislador diz que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial”. Os pareceres e a Resolução manifestos pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) são exemplos de legislação. Em geral, para ter força jurídica, são homologadas pelo Ministro da Educação e Desporto que as respaldam para aplicação na organização da educação nacional. Dentro de todas as perspectivas de um sistema educacional inclusivo e com sucesso em resultados, devemos nós, como educadores, rever posições do que a Lei nos possibilita e a distância entre a realidade vivida pelas escolas, principalmente as públicas. Assim, procurar conhecimentos que levem à formação de crianças e jovens sem nenhuma real exclusão. 36 2 Lei específica sobre Dislexia A Lei nº 12.524, de 3 de Janeiro de 2007, de autoria da Deputada Maria Lucia Prandi, do Partido dos Trabalhadores, é específica para os disléxicos (Anexo 1). Dispõe sobre a criação do Programa Estadual para a Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação. Esta lei foi promulgada nos termos do artigo 28, § 8°, da Constituição do Estado de São Paulo, discorre o seguinte: Artigo 1º - Fica o Poder Executivo obrigado a implantar o Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação, objetivando a detecção precoce e acompanhamento dos estudantes com o distúrbio. Parágrafo único - A obrigatoriedade de que trata o “caput” refere-se à aplicação de exame nos educandos matriculados na 1ª (primeira) série do Ensino Fundamental, em alunos já matriculados na rede quando da publicação desta lei, e em alunos de qualquer série admitidos por transferência de outras escolas que não da rede pública estadual. Artigo 2º - O Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação deverá abranger a capacitação permanente dos educadores para que tenham condições de identificar os sinais da dislexia e de outros distúrbios nos educandos. Artigo 3º - Caberá às Secretarias da Saúde e da Educação a formulação de diretrizes para viabilizar a plena execução do Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação. Artigo 4º - O Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação terá caráter preventivo e também proverá o tratamento do educando. Artigo 5º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta das dotações orçamentárias próprias. Artigo 6º - O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de sua publicação. Artigo 7º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, aos 2 de janeiro de 2007. RODRIGO GARCIA, Presidente. Publicada na Secretaria da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, aos 3 de janeiro de 2007. Marco Antonio Hatem Beneton, Secretário Geral Parlamentar. Se anteriormente a LDB não fazia uma distinção entre distúrbios de aprendizagem e educandos portadores de necessidades educacionais especiais, a lei 12.524 visa preencher esta lacuna, não somente em relação à Dislexia, mas também aos demais distúrbios de aprendizagem, como descrito em seu artigo 2º. 37 Esta lei acena para um futuro progresso em relação à inclusão, explicita as necessidades do ser humano, seus direitos e o favorece nas oportunidades que o Estado, a Família e a Escola devem promover para o seu desenvolvimento pleno. É importante que exista sempre uma fundamentação teórica que sustente esta prática inclusiva. 38 CAPÍTULO III – A DISLEXIA E O EDUCADOR Fui totalmente desestimulado em meus dias de escola. E nada é mais desencorajador do que ser marginalizado em sala de aula, o que nos leva a sentirmo-nos inferiores em nossa origem humana. Winston Churchill Dando prosseguimento ao conhecimento específico sobre Dislexia, neste capítulo serão abordados tópicos que podem auxiliar o educador a compreender melhor o distúrbio, assim como, apropriar-se de práticas que facilitem seu trabalho pedagógico frente ao aluno disléxico. 1 Embasamento teórico Três autores fundamentaram esta monografia pela importância de suas idéias para a compreensão da Dislexia: Sally Shaywitz, Antonio Manuel Pamplona de Moraes e Corinne Roth Smith. Sally Shaywitz é neurocientista, doutora em Medicina, professora de pediatria e co-diretora de Estudos de Aprendizagem e da Atenção na Universidade de Yale (EUA); é membro do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos; estuda a leitura e escreve frequentemente em publicações científicas. Esta autora é referência unânime em todo e qualquer trabalho relacionado à Dislexia, pois estuda este distúrbio há duas décadas, e continua pesquisando, sempre com o objetivo de fazer com que leigos, profissionais e disléxicos possam compreender a Dislexia. Antonio Manuel Pamplona de Morais é Psicólogo pela USP (Universidade de São Paulo) e Mestre em Psicologia da Educação pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Por ser psicólogo clínico e prestar assessoria a escolas (há quase 30 anos), realizando avaliações de crianças e treinamentos de professores, possui vasto conhecimento em relação aos distúrbios de aprendizagem. 39 Corinne Roth Smith é PhD da Universidade de Syracuse (EUA), onde desempenha as funções de fundadora e diretora do Laboratório de Ensino Psicoeducacional (centro que desenvolveu abordagens não padronizadas de avaliação de crianças com dificuldades extraordinárias de aprendizagem e disfunções comportamentais), professora de Liderança e Ensino e Doutora assistente de Educação. É famosa por seu livro-texto, pioneiro no tema sobre deficiências de aprendizagem, "Learning Disabilities: The Interaction of Learner, Task and Setting"3, já em sua quarta edição em Inglês. A Drª. Smith é também conhecida por seu livro de ajuda aos pais, "Learning Disabilities - A – Z” (Dificuldades de Aprendizado, de A à Z), já traduzido e editado em português (2001), escrito em parceria com a escritora Lisa Strick. O enfoque do livro – Dificuldade de Aprendizagem, de A à Z - refere-se à importância de se estimular os pontos fortes da criança em vez de se concentrar nas dificuldades. Apresenta estratégias valiosas no trabalho com crianças e oferece recursos que satisfazem as necessidades de pais e professores. Mais importante, as autoras expõem casos reais e oferecem “insights” valiosos em relação a essas crianças. É possível constatar o quanto este distúrbio de aprendizagem é motivo gerador de confusões por parte do principal elemento de formação dos alunos, o professor. Sabe-se que toda a responsabilidade recai justamente sobre ele, porém este nem sempre possui condições adequadas para lidar com o aluno disléxico, além de não possuir conhecimento específico sobre o mesmo. Em relação à falta de conhecimento específico, é essencial considerar a formação do educador. Somente boa vontade e afeto, por parte dele, não são suficientes para promover o sucesso escolar do aluno disléxico; contribuem de maneira positiva e são importantes, porém não privilegiam todos os aspectos necessários para garantir os avanços e conquistas deste aluno. 3 Tradução livre da autora desta monografia: Deficiências de aprendizado: interação entre aprendiz, tarefa e ambiente (sem título em português). 40 Diante deste panorama, assinalam-se aqui aspectos importantes, os quais podem auxiliar o professor tanto na percepção primária de que algo está em descompasso com seu aluno em relação aos demais, assim como práticas em sala de aula que possam melhorar as condições de aprendizagem deste aluno. Vale destacar que nem sempre será possível recorrer às Leis naquilo que se refere a diagnósticos e terapias, pois na rede pública as dificuldades para marcar consultas e a falta de profissionais que sejam especialistas em distúrbios de aprendizagem retardam o diagnóstico, independente daquilo que é garantido por lei. Na rede privada, mesmo para aquelas famílias que dispõem de certa condição econômica e planos particulares de saúde, o custo de uma avaliação multiprofissional pode variar de R$ 600,00 (seiscentos reais) a R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), ou seja, também não serão todos os alunos que estejam no grupo de risco que poderão passar por tal avaliação. Salienta-se uma vez mais que não cabe ao educador o diagnóstico, pois este é de alçada médica, mas caberá a ele fazer o papel diferencial na vida de seu aluno e contribuir com informações precisas e adequadas ao especialista. 1.1 Sinais de Dislexia Os três autores que fundamentam este trabalho contribuem de maneira direta e dinâmica para que o educador seja capaz de identificar sinais da Dislexia. Algumas características comuns que o educador pode observar, segundo SHAYWITZ (2006): • problemas em reconhecer, ler ou escrever palavras isoladas; • dificuldade em estruturar trabalhos escritos, como redações; • problemas com ortografia; • inversão de letras; • dificuldade de memória a curto prazo; 41 • dificuldade em revisar ou identificar erros; • compreensão auditiva inferior à média; • problemas com organização; • dificuldade em escrever à mão; • baixo limiar de atenção quando escuta; • problemas com discriminação visual; • problemas com percepção espacial; • dificuldade em lembrar nomes; • lentidão em fazer tarefas escolares; • pouca noção de tempo; • dificuldade em distinguir certos sons entre vogais e consoantes; • confusão com símbolos e com o alfabeto; • problemas em lembrar a rotina diária; • compreensão inferior de leitura. 1.2 Aspecto pedagógico Aspectos que devem ser praticados pelos educadores, de acordo com SMITH e STRICK (2001): Na sala de aula • permitir assentos preferenciais (próximo ao professor, próximo ao quadro negro); • providenciar cópias de anotações (podem ser oferecidas pelo professor ou por outro aluno); • manter sempre o contato visual, certificando-se que o aluno está olhando diretamente para você; • permitir uso de gravador para registro de aulas expositivas; • permitir o uso de calculadoras; • providenciar o acesso a um computador; 42 • permitir atividades alternativas (pedir que o aluno prepare um vídeo ao invés de um relatório escrito); • sublinhar, ou salientar de outro modo, textos e exercícios para que os estudantes localizem melhor o material mais importante; • oferecer instruções tanto oralmente (certificar-se que ele está ouvindo e prestando atenção naquilo que está sendo dito) quanto por escrito; • oferecer fácil acesso a tabuadas, listas de fórmulas, mapas (ao invés de exigir que o aluno memorize); • designar parceiros de estudos; • realizar pré-leitura do material escrito (discutir os conteúdos dos textos distribuídos previamente); • não solicitar que faça leitura em voz alta (somente se o aluno explicitar esta vontade), principalmente diante do grupo; • utilizar atividades lúdicas para introduzir novos conceitos ou reforça-los; lançar mão deste recurso sempre que possível, pois permitirá que o aluno disléxico mostre sua capacidade de aprender através de outras habilidades, que não a de leitura. Avaliações • permitir ambientes alternativos (o estudante poderá realizar a avaliação em outra sala, que não possua elementos distratores, assim como solicitar que alguém faça a leitura dos enunciados, um por vez, esperando que registre sua resposta, para somente então seguir com a leitura. Se possuir um grau severo de Dislexia, este leitor – coordenadora professora assistente poderá fazer o registro escrito da resposta do aluno, sendo fiel àquilo que foi dito por ele, inclusive se estiver incorreto); • estender ou abandonar o limite de tempo para a execução da avaliação; • reformular as questões de uma maneira mais resumida e simples; • permitir que responda oralmente as questões ao invés de fazê-lo por escrito; • elaborar avaliações com respostas curtas ou aceitar respostas resumidas e diretas; 43 • reduzir o número de questões. Deveres de casa • dar as tarefas de casa por escrito com regularidade, ao invés de exigir que copie da lousa ou que ouça aquilo que deverá fazer; • permitir que os textos sejam lidos ou gravados para o aluno; • reduzir a quantidade de material a ser lido (o professor pode destacar as passagens mais importantes); • permitir que o aluno assista ao filme ao invés de ler o livro (quando possível); • permitir que o aluno dite seu trabalho a um “escriba” (geralmente os pais ou irmão mais velho), ou solicitar que ofereça oralmente; • reduzir número de questões que deverão ser respondidas; • não reduzir a nota ou descontar pontos por erros de ortografia (somente se for avaliação exclusiva de ortografia). 2 O papel do educador O educador possui papel de destaque na vida acadêmica de todos educandos, mas em relação àqueles que apresentam um ou alguns distúrbios de aprendizagem ele é vital na promoção do sucesso escolar destes. De acordo com Morais (1996), existem atitudes em relação às práticas do educador, assim como em relação às suas próprias expectativas, que devem ser muito bem definidas ao trabalhar com o aluno disléxico. Dentre elas, destacam-se: • compreender que apesar de todo esforço por parte do aluno, muitas vezes ele não conseguirá corresponder às expectativas, mas não por “preguiça” ou “má vontade”; • respeitar suas dificuldades; • respeitar seu ritmo e não envolvê-lo em situações de competição com os demais colegas (somente se o aluno assim o desejar); 44 • não colocá-lo em situações geradoras de ansiedade (pedir que leia em voz alta diante da sala, solicitar que escreva na lousa frases ditadas); • não compará-lo com os demais alunos; • conversar separadamente com o aluno, explicando-lhe que sabe sobre seu distúrbio e que poderá sempre auxilia-lo, estabelecendo assim um clima de sinceridade, onde o aluno sentirá que tem apoio e que pode ficar mais tranquilo sobre suas possíveis ações, frente ao distúrbio; • desenvolver sua auto-estima, identificando suas áreas de interesse e estimulá-las; • compensar sua limitação em relação à leitura, reforçando as demais áreas que possui considerável desenvoltura; • reforçar de maneira positiva (elogios) todo e qualquer esforço em relação ao seu desempenho escolar, ainda que tenha ocorrido de maneira discreta, visando desenvolver a autoconfiança do aluno; • focalizar sempre as capacidades e habilidades e nunca o contrário; • ter em mente que Dislexia não é uma doença, mas um modo peculiar de funcionamento dos centros neurológicos de linguagem (disfunção cerebral), por isso não existe tratamento medicamentoso; não tem cura e existe uma predisposição genética; • os bons ou maus vínculos são preditivos de sucesso ou fracasso, principalmente na vida acadêmica do disléxico, portanto os vínculos afetivos e estratégias que privilegiem a maneira de aprender deste aluno são extremamente importantes para garantir seu sucesso; • encoraje a independência provendo compreensão e apoio; • forneça elementos para que possa expressar sua criatividade; • ensine-o a usar sua intuição; explique de que forma você a utiliza para ajudar a si mesmo; • lembre-se: o disléxico é persistente e não teimoso, possui a capacidade intelectual preservada. Os três autores reforçam o quanto é importante valorizar as habilidades que o educando possui e não fixar-se somente no distúrbio. Pontuam, ainda, que sem um conhecimento específico, por parte dos educadores, a inclusão do aluno disléxico 45 não ocorre. No próximo capítulo será mostrado como o educador sente-se frente a este aluno. 46 CAPÍTULO IV – A PESQUISA 1 Percurso Metodológico O presente trabalho de pesquisa está voltado para questões relacionadas ao conhecimento por parte do educador em relação à Dislexia; reconhecida como distúrbio de aprendizagem que está presente em sala de aula, desperta e instiga no educador o desejo de não só compreende-la para reconhecer seus sinais, como também, para lidar com o aluno(a) disléxico(a) no seu dia-a-dia. Esta monografia foi conduzida em duas etapas. A primeira consistiu na identificação de autores que serviram de embasamento teórico, feito por meio de uma revisão bibliográfica. Da experiência da autora com colegas (da área de Educação) e relatos ocasionais, constatou-se que os educadores deparam-se freqüentemente com equívocos relacionados à natureza da Dislexia, e também inadequações nas questões que não estão ligadas ao distúrbio, mas sim a inúmeros fatores que podem contribuir para o insucesso de uma criança frente à leitura. Este embasamento teórico contribuiu para o amadurecimento da fundamentação teórica deste trabalho, possibilitou à autora aprofundar-se na compreensão sobre Dislexia e foi imprescindível na sustentação da análise dos dados de pesquisa. Em uma segunda etapa, correspondente à pesquisa de campo na abordagem quantitativa, foi efetuado o levantamento de dados contemplando as percepções de 15 educadores do Ensino Fundamental I frente aos conhecimentos sobre o distúrbio, sua prática com os alunos portadores e a fundamentação didático-pedagógica na inteiração cotidiana em sala de aula. Para tal, elegeu-se como instrumento de pesquisa um questionário objetivo com o intuito de conhecer, no universo de atores pesquisados, a percepção básica sobre a Dislexia, a natureza do trabalho realizado e dados complementares, tais como formação, tempo de docência e área de atuação. Este questionário encontra-se no Apêndice I, ao final deste trabalho. 47 Do resultado das respostas por parte das 15 educadoras, do Ensino Fundamental I, de uma escola da rede privada procedeu-se, então, a análise e discussão frente aos autores que fundamentam a pesquisa. 2 Cenário e atores A seguir a constatação a partir dos dados obtidos com as respostas do grupo pesquisado. Dentre as 15 professoras que responderam o questionário, é importante destacar que: 1) Todas trabalham em uma mesma instituição de rede privada. A estrutura da instituição é de médio porte (400 alunos, de Educação Infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental II), com até 25 alunos por turma, sendo que nas salas da Educação Infantil, juntamente com 1ºs e 2ºs anos, em todas há uma professora assistente. Todas possuem jornada parcial de trabalho. 2) Todas possuem nível superior, sendo que oito são pós-graduadas e uma possui o título de Mestre. 3) Onze delas são Pedagogas, uma é formada em Letras, outra em Normal Superior e outras duas não especificaram sua formação. 4) Seis lecionam há mais de 10 anos. Três lecionam entre 5 e 10 anos. Três lecionam entre 2 e 5 anos e três lecionam há menos de 2 anos. 5) Todas já ouviram falar sobre Dislexia. 6) Dez professoras tiveram como fonte de informação, a respeito do que é Dislexia, livros sobre o tema. Três outras, tomaram conhecimento durante sua formação na Faculdade e somente duas buscaram esta informação na Internet. 7) Todas tem interesse em saber mais sobre Dislexia. 8) Todas discordam que “Dislexia é modismo”. 9) Em relação à definição de Dislexia, sete professoras responderam acertadamente que nenhuma afirmação estava correta, cinco assinalaram a opção “uma característica de quem não sabe ler e escrever” e três não possuíam opinião formada. 48 10) Somente uma professora possui aluno disléxico em sala de aula. 6,25% Sim Não 93,75% Gráfico 1 – Quantidade de professoras que possuem aluno disléxico 11) Esta mesma professora, que possui um aluno disléxico, respondeu que não é fácil trabalhar numa sala onde exista aluno com este distúrbio. 0,00% Sim Não 100,00% Gráfico 2 - Facilidade para trabalhar com aluno disléxico 49 12) Houve unanimidade entre as professoras ao responderem positivamente em relação à capacidade de aprender do aluno disléxico. 0,00% Sim Não 100,00% Gráfico 3 – Capacidade do aluno disléxico em aprender 13) A maioria das professoras se sente despreparada para trabalhar com o aluno disléxico. 12,50% Sim Não 87,50% Gráfico 4 – As professoras no trabalho com aluno disléxico 50 14) As mesmas professoras que se sentem despreparadas para trabalhar com o aluno disléxico (87,5%), responderam que a instituição na qual trabalham não garante qualquer apoio pedagógico para que possam trabalhar de forma diferenciada junto a este aluno, porém 12,5% responderam o contrário. 12,50% Sim Não 87,50% Gráfico 5 – Posição da instituição em relação à inclusão ao aluno disléxico 3 Análise Interpretativa O desenvolvimento do pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir... O pensamento se desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu. (Rubem Alves) Os resultados da pesquisa quantitativa sugerem as seguintes considerações: • Todas as educadoras demonstraram que sabem o que é distúrbio de aprendizagem, assim como, compreendem que este aluno é tão capaz quanto os demais de aprender, indo ao encontro do que Morais (1996) explicita sobre o papel do educador: este deve saber sobre as dificuldades de seus alunos. 51 • Especificamente em relação ao conhecimento sobre Dislexia, mais da metade das professoras soube responder (Dislexia é...), porém mesmo assim, sentem-se inseguras e/ou despreparadas para trabalhar com o aluno disléxico. Uma característica de quem não sabe escrever 12,50% 0,00% 12,50% Uma característica de quem não sabe ler Característica de que não sabe ler e escrever Nenhuma afirmação está correta 75,00% Não tenho opinião formada a respeito Gráfico 6 – Conhecimento sobre Dislexia • É importante registrar que todas as professoras trabalham na mesma instituição, porém não foram unânimes ao responder se ela garante algum apoio pedagógico específico que permita ao educador trabalhar de forma diferenciada junto ao aluno disléxico (vide o gráfico 5). A relevância desta questão está na interpretação de que a prática pedagógica diferenciada não é compreendida de forma clara para o educador. Ao mesmo tempo em que 87,5% afirmam que não possuem nenhum apoio por parte da instituição, os 12,5% restantes afirmam que recebem este apoio. Se todas trabalham na mesma instituição, existe um equívoco quanto à compreensão, por parte das professoras, daquilo que é ou não específico ao trabalho junto ao aluno disléxico. • As educadoras sentem-se despreparadas e ansiosas em relação ao desenvolvimento de seus alunos disléxicos. 52 Segundo Morais (1996) muitas vezes este aluno não corresponderá às expectativas do educador, portanto é imprescindível ter este ponto muito claro quando se lida com disléxicos, pois a ansiedade atrapalha todo e qualquer trabalho pedagógico, sendo o aluno disléxico ou não. Se o educador possuir conhecimentos específicos sobre Dislexia, mas não conseguir colocá-la em prática no dia-a-dia, não está garantido que o aluno disléxico seja incluído de fato, passando à inclusão teórica, perpetuando o insucesso tanto do aluno, quanto do trabalho do educador. Já o educador que se sente despreparado diante do aluno disléxico, se num primeiro momento for orientado a respeito das características positivas que seu aluno possui (habilidades nas diversas áreas, assuntos de seu interesse – tão bem pontuados por Smith e Strick, 2001), assim como, quais os pontos que lhe geram ansiedade e maior dificuldade, é possível que o processo ensino-aprendizagem ocorra, devido às práticas pedagógicas específicas utilizadas por parte do educador. A conclusão possível, a partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, remete à complexidade do tema e confirma que o mesmo representa um grande desafio para o educador. Tal desafio, real e concreto, remete-se ao despreparo do educador frente a este e aos demais distúrbios de aprendizagem. Além disso, outro fator importante está relacionado ao papel da escola no que tange à inclusão. Muitas escolas possuem um discurso inclusivo, quando na verdade promovem somente a integração do aluno em sala de aula e param neste ponto. É necessário muito mais do que efetuar a matrícula, este sim o primeiro passo. É importante saber o quanto os educadores sabem e sentem-se preparados para trabalhar com o aluno disléxico. Cabe à escola fazer este levantamento, inclusive quando necessário, promover cursos de capacitação para aqueles ligados diretamente aos alunos 53 disléxicos. Também lhe cabe a orientação específica em relação a cada um deles, pois como é perceptível, cada qual apresentará dificuldades específicas, por conta da presença ou não das comorbidades. Para finalizar esta linha de raciocínio, diante dos resultados obtidos na pesquisa, pontua-se que o conhecimento específico é vital e deve ser aliado ao trabalho de equipe, que alcance todos aqueles que estão envolvidos na educação do aluno disléxico (direção, coordenadores,educadores polivalentes e especialistas), visando sempre o sucesso escolar do mesmo. Salienta-se que somente um aspecto (conhecimento específico sobre Dislexia ou somente conhecimento a respeito do distúrbio do aluno) será insuficiente para que o ensino-aprendizagem ocorra de maneira progressiva, consistente e com sucesso. Por fim, ressalta-se o seguinte trinômio, que garantirá o sucesso escolar do aluno disléxico: conhecimento específico + SUCESSO conhecimento das peculiaridades ESCOLAR do aluno disléxico DO ALUNO + DISLÉXICO práticas pedagógicas possíveis e inclusivas 54 CONSIDERAÇÕES FINAIS A maior lei da natureza, da vida e da educação é exteriorizar o interior e interiorizar o exterior, elevando os dois processos à harmoniosa síntese. Froebel Durante a pesquisa teórica e diante das respostas dos educadores infere-se que compreender o tema é muito complexo de fato, pois são inúmeros os aspectos que estão envolvidos em relação ao aluno disléxico. Parafraseando a citação de Froebel, no início desta página, compreende-se também que para existir uma síntese harmoniosa, entre o que o aluno disléxico pode produzir e o que o educador espera dele, existe um caminho a ser percorrido, principalmente por parte do educador, pois este possui papel vital na vida do disléxico. Caberá ao educador conduzi-lo no caminho do sucesso acadêmico. Aos demais profissionais, cada qual com sua importância (neuropediatra, psicopedagogo, fonoaudiólogo, entre outros), é importante saber trabalhar em parceria com este educador, porém o trabalho maior recairá sobre este educador compromissado com seu aluno. Encerra-se este trabalho, pontuando-se questões que não podem ser esquecidas: • o aluno disléxico não é preguiçoso e tão pouco gosta de fracassar na vida acadêmica; • ele sente satisfação em fazer suas tarefas bem feitas e quando isso não ocorre, não quer dizer que não o fez porque simplesmente não quis; • o reforço positivo, em relação àquilo que consegue fazer bem, só poderá resultar em sentimentos positivos para o disléxico (autoconfiança); • na educação, todos somos desafiados o tempo todo; superar desafios nada mais é do que transpor aquilo que julgávamos impossível ou difícil, 55 resultado de persistência e dedicação, característica latente no aluno disléxico. Por fim, na realização deste trabalho, foi possível à pesquisadora compreender um pouco mais sobre a Dislexia, o aluno disléxico e o educador deste. Contudo, tem consciência que muito mais precisará compreender e estudar, mas só pode chegar a esta tomada de consciência através da manutenção de sua inquietação inicial e a partir dos conhecimentos adquiridos na elaboração deste trabalho. 56 REFERÊNCIAS BRADY, Susan et alli. Annals of Dyslexia vol. 53, 2003. Acesso em: 26/ jan./ 2007. Disponível em: <www.dislexia.org.br/material/artigos/artigo014.html> BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº. 9.394/96. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, n.248, 23 dez. 1996. CAPOVILLA, Alessandra G. S. e CAPOVILLA, Fernando C. Alfabetização: Método fônico. 3ª edição. São Paulo: Memnon, 2004. _________. Avaliação e intervenção em habilidades metafonológicas e de leitura e escrita. Coleção: Temas de Psicopedagogia, livro 5. São Paulo: Memnon, 2003. _________. Problemas de leitura e escrita. 4ª edição. São Paulo: Memnon, 2004. CAPOVILLA, Fernando C. MACEDO, Elizeu C. Temas em Neuropsicolinguística. São Paulo: Tecmedd, 2005 CID 10 Classificação de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 1993. CONDEMARIN, Mabel; BLOMQUIST, Marlys. Dislexia: manual de leitura corretiva. Tradução: Ana Maria Neto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. DSM-IV-TR-TM. Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. FRANK, Robert. A vida secreta da criança com dislexia. Tradução: Tatiana Kassner. São Paulo: M.Books, 2003. HOUT, Anne Van; ESTIENNE, Françoise. Dislexias: descrição, avaliação, explicação, tratamento. Tradução: Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2001. IANHEZ, Mª Eugenia e NICO, Mª Ângela. Nem sempre é o que parece. São Paulo: Alegro, 2001. 57 MORAIS, Antônio Manoel Pamplona. Distúrbios da aprendizagem, uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: EDICON, 1996. PIAGET, Jean. Martins,1999. A linguagem e o pensamento da criança. São Paulo: SÁNCHEZ, Jesús-Nicasio Garcia. Dificuldades de aprendizagem e intervenção psicopedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2004. SHAYWITZ, Sally. Entendendo a dislexia. Tradução: Vinicius Figueira. Alegre: Artmed, 2006. Porto SMITH, Corine; STRICK, Lisa. Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Tradução: Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed, 2001. SNOWLING, Margaret; STACKHOUSE, Joy. Dislexia, fala e linguagem. Tradução: Magda França Lopes. Porto Alegre: Artmed, 2006. SOUZA, Paulo N. Pereira; SILVA, Eurides Brito. A nova LDB. Como entender e aplicar. São Paulo: Pioneira, 1997. WAJNSZTEJN, Alessandra Caturani; WAJNSZTEJN, Rubens. Dificuldades escolares: um desafio superável. São Paulo: Ártemis Editorial, 2005. 58 APÊNDICE 59 APÊNDICE I – QUESTIONÁRIO Eu, Kátia S.F.R. Lima, pós-graduanda do curso de especialização em Distúrbios de Aprendizagem do CRDA – Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem (São Paulo – Capital), solicito que você responda este questionário, para que eu possa concluir minha pesquisa de campo referente ao meu trabalho de conclusão do curso (TCC). O objetivo desta pesquisa consiste em mensurar o conhecimento que os profissionais da área de educação possuem em relação à Dislexia. Esclareço que não será necessária sua identificação. Antecipadamente, agradeço sua colaboração. 1) Tipo de instituição que trabalha: ( ) Pública/Estadual 2) ( ) Pública/Municipal ( ) Privada Sua formação: ( ) Magistério ( ) Curso Superior ( ) Pós-Graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado 3) Se você tem nível superior, especifique: ( ) Pedagogia 4) ( ) Normal Superior ( ) de 5 a 10 anos ( ) mais de 10 anos Já ouviu falar em Dislexia? ( ) Sim 6) ( ) Outros Tempo em que atua em sala de aula: ( ) até 2 anos ( ) de 2 a 5 anos 5) ( ) Letras ( ) Não Se respondeu sim à pergunta anterior, assinale qual foi sua fonte de informação: ( ) TV ( ) Internet ( ) Livro ( ) Faculdade ( ) Outros 60 7) Você tem interesse em estudar/conhecer mais sobre Dislexia? ( ) Sim 8) Você concorda com a seguinte frase: “Dislexia é modismo”. ( ) Sim 9) ( ) Não ( ) Não Dislexia é: ( ) uma característica de quem não sabe escrever ( ) uma característica de quem não sabe ler ( ) uma característica de quem não sabe ler e escrever ( ) Nenhuma afirmação está correta ( ) Não tenho opinião formada a respeito 10) Na sua sala de aula, tem algum aluno com diagnóstico de Dislexia? ( ) Sim. Quantos? ________ ( ) Não 11) Se respondeu sim à questão anterior, responda: É fácil trabalhar numa sala que tenha aluno disléxico? ( ) Sim ( ) Não 12) O aluno disléxico tem capacidade para aprender? ( ) Sim ( ) Não 13) Você se sente preparada para trabalhar com o aluno disléxico? ( ) Sim ( ) Não 14) A instituição em que você trabalha segue alguma orientação para lidar com este aluno e promover a inclusão de fato? ( ) Sim ( ) Não 61 ANEXO 62 ANEXO I – LEI 12.524/07 Lei 12.524/07 (Originada a partir do PL Nº 321, DE 2004) Dispõe sobre a criação do Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA: Artigo 1º - Fica obrigado o Poder Executivo a implantar, em 90 dias, o Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação, objetivando a detecção precoce e acompanhamento dos estudantes com o distúrbio. Parágrafo único - A obrigatoriedade de que trata o caput deste artigo referese à aplicação de exame nos educandos matriculados na 1ª série do Ensino Fundamental, em alunos já matriculados na rede, com o advento desta lei, e em alunos de qualquer série admitidos por transferência de outras escolas que não da rede pública estadual. Artigo 2º - O Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação deverá abranger a capacitação permanente dos educadores para que tenham condições de identificar os sinais da dislexia e de outros distúrbios nos educandos. Artigo 3º - Caberá às Secretárias de Saúde e de Educação a formulação de diretrizes para viabilizar a plena execução do Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação, sendo obrigada a criação de equipes multidisciplinares com os profissionais necessários à perfeita execução do trabalho de prevenção e tratamento. Parágrafo único – A equipe multidisciplinar responsável pelo diagnóstico deverá ter obrigatoriamente um (a) profissional das áreas de Psicologia, Fonoaudiologia e Psicopedagogia. SPL - Código de Originalidade: 515039 070504 1248 63 Artigo 4º - O Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Oficial de Educação terá caráter preventivo e também proverá o tratamento do educando. Artigo 5º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão por conta de dotações orçamentárias próprias. Artigo 6º - O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta lei em até 30 (trinta) dias a contar de sua entrada em vigor. Artigo 7º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação. Justificativa Dislexia é derivada de dis = distúrbio e lexia que significa linguagem (grego) ou leitura (latim). Portanto, dislexia é um distúrbio da linguagem e/ou leitura. Talvez por soar como nomenclatura de uma doença, o termo dislexia causa medo especialmente entre os pais que, por falta de informações, muitas vezes acreditam ser o fim do mundo ter um filho disléxico. Pesquisas realizadas em vários países mostram que cerca de 10 a 15% da população mundial é disléxica. Ao contrário do que muitos acreditam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição sócioeconômica ou baixa inteligência. É uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda mudanças no padrão neurológico. Por tudo isso, a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento pós-diagnóstico mais efetivo, direcionado às particularidades de cada indivíduo. Os sintomas que podem identificar a dislexia, antes de um diagnóstico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem. Identificado o problema de rendimento escolar ou sintomas isolados, que podem ser percebidos na escola ou mesmo em casa, deve-se procurar ajuda especializada. SPL - Código de Originalidade: 515039 070504 1248 64 Cabe à uma equipe multidisciplinar, formada por psicóloga, fonoaudióloga e psicopedagoga clínica, iniciar uma minuciosa investigação. Essa equipe deve garantir maior abrangência do processo de avaliação, verificando a necessidade do parecer de outros profissionais, como oftalmologista e neurologista. A identificação do distúrbio não parte da dislexia. Ao contrário, chega-se a ela a partir da exclusão de qualquer outra possibilidade. Caso outro problema seja detectado, deve haver o encaminhamento para o tratamento adequado. Quando a dislexia é identificada começa, então, um acompanhamento cujos métodos irão variar de acordo com os diferentes graus do distúrbio (leve, moderado e severo), podendo levar até cinco anos. Crianças disléxicas que têm o distúrbio identificado precocemente, e dão início ao tratamento, apresentam menor dificuldade ao aprender a ler. Isto evita problemas no rendimento escolar, que levam meninos e meninas a desgostarem de estudar, terem comportamento inadequado e atrasos na relação idade/série. Apesar do Poder Público permanecer de olhos fechados para esta realidade, a dislexia está diretamente relacionada à evasão escolar e à sensação de fracasso pessoal. Atualmente, a imensa maioria da rede educacional pública e particular não está capacitada para este desafio. Daí a importância de criarmos em nossas escolas um programa efetivo, que capacite professores a identificar estes distúrbios, crie equipes multidisciplinares para realizar uma avaliação precisa e garanta o acompanhamento profissional necessário. Dessa forma, estaremos garantindo que milhões de crianças e jovens em idade escolar tenham condições de corrigir um distúrbio, que restringe sua capacidade de aprendizado. Estaremos abrindo as portas para que eles tenham um futuro sem traumas, de sucesso profissional e com qualidade de vida. Sala das Sessões, em 7/5/2004 a) Maria Lúcia Prandi - PT SPL - Código de Originalidade: 515039 070504 1248 65