Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira BRINQUEDOTECA TERAPÊUTICA OCUPACIONAL: Qualidade de vida de Crianças com câncer. Resgatando a INTRODUÇÃO Este trabalho trata da Intervenção Terapêutica ocupacional junto a crianças com câncer, no qual, se objetiva destacar a importância do brincar para o desenvolvimento afetivo e relacional destas, bem como a necessidade de organização de um espaço lúdico para favorecer este brincar. A brinquedoteca da Casa do Menino Jesus, nasce como um local de descobertas, estimulação e criatividade, que objetiva resgatar o lúdico e a ludicidade infantil. É um espaço criado para proporcionar estímulos para que as crianças brinquem livremente e desenvolvam as suas potencialidades. A seguir, abordaremos o processo de hospitalização, os aspectos gerais do câncer, a importância do brinquedo e do brincar para o desenvolvimento infantil, bem como a Intervenção Terapêutica Ocupacional em crianças com câncer na Brinquedoteca. C APPÍÍT TU UL LO O--II:: A AC CR RIIA AN NÇ ÇA AE EO O PPR RO OC CE ESSSSO OD DE EH HO OSSPPIIT TA AL LIIZ ZA AÇ ÇÃ ÃO O.. CA 1.1-CONSIDERAÇÕES A CERCA DE SAÚDE X DOENÇA. Percebe-se atualmente que os conceitos de saúde e doença são modificados. A doença é compreendida apenas em razão de suas propriedades físicas e químicas enquanto que, a saúde é vinculada a não doença, acreditando-se que ela depende exclusivamente do tratamento da patologia e não do doente, em todos os seus aspectos (biológico, psicológico e social). Segundo CAMON,(1988): O progresso científico em muito contribuiu na qualidade dos atendimentos prestados, porém se tornaram quase que exclusivamente curativos, relegando a um segundo plano as medidas profiláticas e preventivas de saúde. Os atendimentos são geralmente agressivos, despersonalizados e impessoais. Ao contrário do que se observa na prática atual, deve-se considerar os fatores interpessoais, que ajudam na transformação do ser doente em pessoa humana, com suas características e personalidades, assumindo um âmbito global, que segundo a Organização Mundial de Saúde apud CAMON (1988): “é um bem estar físico, mental e social” Logo, o que se nota é que os profissionais de saúde incluem no conceito de saúde somente o bem estar físico do doente menosprezando os aspectos mentais e sociais. Isso justifica-se pelo 1 fato de não saberem lidar, nem considerar todos aos aspectos do indivíduo, apoiando-se apenas no conhecimento a cerca da doença e na técnica. Considerar apenas o lado físico da doença é estabelecer tratamentos de forma superficial menosprezando causas psíquicas e outras decorrentes de problemas sociais (falta de alimentação, adequada,...) 1.2 – HOSPITALIZAÇÃO DE CRIANÇAS. Na pesquisa a cerca da atual situação o com crianças hospitalizadas, verifica-se o quanto é importante modificar os conceitos de saúde e doença vigentes, visto que a atual situação aponta para uma assistência inovadora à criança. O tecnicismo e o aspecto mercantilista da medicina distanciam-na do verdadeiro sentido da ciência médica e da promoção da saudemos atendimentos técnicos, impessoais e agressivos contribuem para permanência prolongada de crianças em hospitais, culminando no aparecimento de graves conseqüências psicológicas. É desejável que os profissionais de saúde tenha noção que a doença compromete a criança como um todo, na sua integridade física e emocional. Nesse sentido, o objetivo que deve ser adotado pé de minimizar o sofrimento da criança fazendo-a um elemento ativo durante a hospitalização. Caso a criança não receba atendimentos que prime pelo sua saúde global, vários fatores relacionados á hospitalização podem ocorrer, como: carência afetiva, agressões psicológicas e físicas, interrupção no ritmo de vida, e desenvolvimento, desmame e outros (CAMON,1998.p....). 1.2.1-Problemas decorrentes da hospitalização: a) Privação Materna: A relação materna é essencial á saúde mental infantil. A criança, até uma certa idade, depende exclusivamente dos cuidados nutritivos e afetivos da mãe, necessitando de uma relação calorosa íntima e contínua com esta. Os efeitos da privação materna foram reconhecidos em criança separadas de suas mães e internadas em instituições por longo período e, que, por conta disso, apresentaram retardo mental, físico e intelectual.(idem). SPITZ estudou de forma intensa aquilo que chamou de hospitalismo e que ESCARDO (1963), como: “a soma dos prejuízos que a pessoa humana recebe pelo fato permanecer internada num hospital, que leva em conta sua condição ode enfermo, paciente ou condutor de doença e marginaliza as determinantes de sua estrutura bio-psico-social. SPITZ também definiu o 2 hospitalismo como um conjunto de agressões que podem se observar quando as crianças são colocadas, até no segundo semestre de vida em creches ou hospitais, regressões essas que se instalam devido a ausência da mãe ou de um substituto efetivo da mãe, apesar das boas condições materiais. As crianças privadas parcialmente dos cuidados maternos sofrerão fracassos no desenvolvimento de sua personalidade, uma vez que é a mãe que lhe transmite os dados essenciais para a formação da mesma. As crianças hospitalizadas poderá sofre graves deformações emocionais, físicas e intelectuais. De acordo com CAMON (1988): Os pacientes de 0 a 6 meses, ao sentirem a sensação de abandono, geralmente choram por longo período até adormecerem; outros evitam a aproximação de pessoas e ficam assustados. Após alguns dias, mostram-se indiferentes, sonolentos, e inquietos. Se não cessar o abandono e não receberem estimulação por parte da equipo de saúde ficarão sujeitos à doenças entéricas respiratórias. As crianças de 6m a 1 ano também choram desenfreadamente, no início, assumindo, posteriormente, comportamentos regredidos, como: perda de sono, ansiedade, comportamentos auto-eróticos, tristezas, indiferença, diminuição de contato com o ambiente,... A partir de 1 a 3anos de vida, a criança já percebe a separação da mãe, porém não consegue elaborar as explicações dadas e, por isso reagem às condutas terapêuticas e choram até cansar. Pode evoluir para um quadro depressivo, permanecendo em seu leito calado e agarrado a brinquedos. Após os 3 anos, a situação de hospitalismo e de privação materna, geralmente, são contornadas pala criança visto que entendem a situação. O quadro de tristeza e sofrimento se tornam menos terríveis. AUBRY apud CAMON (1988), realizou um relatório no centro internacional da infância e constatou que as conseqüências nocivas do processo de hospitalização dependem de algumas características das crianças, tais como: Idade; Situação psicoafetiva e relacional prévio com a mãe; Personalidade e capacidade de adaptação da criança; 3 Atitude da equipe hospitalar; Rotinas vigentes no hospital; Experiências vividas no hospital; Duração da internação; ROBERTSON ( 1959) apud CAMON ( 1988) em um estudo com crianças de 1 a 4 anos, observou que os efeitos causados pela privação materna acontecem em três fases: Fase de Protesto: A perda da mãe cria situação de choro e tristeza na criança; Fase de desespero: Os esforços em trazer a mãe de volta diminuem. A desesperança e retraimento começam a ficar constantes; Fase de retraimento a afetividade é diminuída e os cuidados de “mães substitutas” são aceitos passivamente. a) No Hospital Brigadeito foi realizado um levantamento dos efeitos da privação materna na criança, que segundo CAMON ( 1988.p...), são: angústia, carência afetiva, sentimento de vingança, culpa e depressão, distúrbios emocionais, sensação de abandono, personalidade instável, inapetência, perda de peso, falta de iniciativa apatia, distúrbio do sono, diminuição da vocalização, depressão, tristeza, atraso no desenvolvimento, regressão no processo de maturação afetiva, agressividade, manifestação psicossomática. b) Medo do desconhecido: Um outro fator que dificulta o ajustamento da criança no ambiente hospitalar é o medo da realidade hospitalar, que em geral é desconhecida. A desinformação e o clima de suspense faz aumentar as fantasias e os temores das crianças. Ela sabe que algo vai acontecer, mas não sabe o que é. A criança desconhece muitas coisas, desde estruturas das enfermarias, as roupas que vai usar, as pessoas que vai encontrar, os exames, a cirurgia, alimentação. (CAMON,1988.p.....). c) Sensação de punição e culpa: Esse sentimento pode acarretar desajustamento e experiências traumáticas durante a hospitalização. A 4 criança pode interpretar doença como uma punição, correlacionando-a a fatores externos (faltou a aula, não se alimentou direito, desobedeceu à mãe). Isso traz muito sofrimento, dificultando os atendimentos e a equipe de saúde. d) Limitação de Atividades e Estimulação: A doença, bem como, a própria estrutura física do hospital, geralmente, limitam a execução de atividade por parte da criança. A rotina e a falta de estimulação pode trazer graves conseqüências ao seu desenvolvimento, proporcionando-lhe sofrimento e tristeza (CAMON,1988.p....). e) Aparecimento ou Intensificação do Sofrimento Físico: Muitas vezes, quando internada, a criança sente dores e sofrimentos decorrentes de exames e condutas agressivas. Ao entrar no hospital se submete a exames p para o diagnóstico. Às vezes não sentem dores, logo, não se sentem doentes e ficam sem entender porque devem permanecer no hospital. C APPÍÍT TU UL LO O--IIII:: A AC CR RIIA AN NÇ ÇA AC CO OM MU UM MA AD DO OE EN NÇ ÇA A FFA AT TA AL L:: O OC CÂ ÂN NC CE ER R CA 2.1-PARTICULARIDADES DO CÂNCER 2.1.1 Definição: Câncer (ou neoplasia, ou tumor maligno) é uma classe de doenças caracterizadas pelo crescimento descontrolado de células aberrantes e pela perda da diferenciação em relação ao tipo celular. O câncer mata pela invasão destrutiva de órgãos normais por estas células, por extensão direta ou por disseminação à distância, por sangue, linfa ou superfície serosa, e a partir disso origina-se a metástase (formação de uma nova lesão tumoral). Quando isso ocorre geralmente, o tumor torna-se irreversível. O comportamento anormal das células cancerosas é geralmente espelhada por mutações genéticas, expressões de características ontológicas, ou secreção anormal de hormônios ou enzimas. 5 O câncer infantil geralmente afeta as células do sistema sangüíneo e os tecidos de sustentação, enquanto o tumor adulto afeta as células do epitélio que recobrem os órgãos (câncer de mama e câncer de pulmão). Isto se deve ao fato de que as doenças malignas na infância são predominantemente de natureza embrionária, enquanto que, no adulto, o surgimento do câncer está associado claramente aos fatores ambientais, como por exemplo, o fumo. 2.1.2. Incidência e Mortalidade: Atualmente, o câncer é a segunda maior causa de morte nos Estados Unidos, e estima-se que no século 21 ele já seja a principal. Nos Estados Unidos são diagnosticados por ano, aproximadamente, 1,2 milhões de novos casos de tumores invasivos. De acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer, no Brasil, deverão ocorrer cerca de 5.238 casos novos e de 2.600 óbitos entre os pacientes infantis. 2.1.3. Etiologia e Prevenção: Existem vários fatores que podem causar ou contribuir diretamente para uma seqüência de eventos que levem a um meio do câncer se desenvolver. É comum, no caminho final dos cânceres, alguma alteração genética, onde ocorre a conversão de uma célula bem constituída, participante do corpo como um todo, numa outra, "renegada", destrutiva, que não responde mais a comandos de uma comunidade de células. Drogas e supressores têm um papel central em muitos casos. Substâncias químicas como o benzeno, nitrosaminas, agentes físicos, como radiação gama e ultravioleta, e agentes biológicos, como alguns tipos de vírus, contribuem para a carcinogênese em algumas circunstâncias. O tabaco é o agente carcinogênico mais importante para a população em geral, pois ele causa ou contribui para o desenvolvimento de aproximadamente um terço de todos os cânceres, principalmente no pulmão, esôfago, bexiga e cabeça e pescoço. 2.1.4. Estágios Gerais do Câncer: Estágio 1: Localizado. Geralmente, confinado ao órgão de origem e curável com medidas 6 locais, como cirurgia ou irradiação. Estágio 2: Regional. Estende-se para fora do órgão de origem, mas mantém a proximidade, como em linfonodos, por exemplo. É, às vezes, curável com medidas locais (cirurgia e irradiação), às vezes em conjunto com a quimioterapia. Estágio 3: Extenso. Estende-se para fora do órgão de origem, atravessando vários tecidos. É geralmente irressecável cirurgicamente, devido ao comprometimento de estruturas vitais. O tratamento local ou sistêmico depende das características do tumor. Em geral, não tem bom prognóstico. Estágio 4: Disseminado difusamente. Pode envolver medula óssea, em múltiplos órgãos distantes. Raramente curável. 2.1.5. Neoplasias mais Freqüentes na Infância: Leucemia: é a doença dos glóbulos brancos. É caracterizada pela invasão de células anormais na medula óssea. Ela torna a criança susceptível à infecção, palidez, sangramento e dor óssea. Retinoblastoma: o tumor da retina do olho. No início dele, ocorre o embranquecimento da pupila quando exposta à luz. A criança pode apresentar fotofobia ou estrabismo. Geralmente, acomete as crianças antes dos três anos de idade. Tumor de Wilmis: é um tumor renal. Pode notar-se através da observação de uma massa no abdômen. Tumor germinativo: é o tumor das células que vão dar origem às gônadas. Osteossarcoma: é um tumor ósseo. Geralmente ocorre quando o osso está em crescimento, sendo mais comum em adolescentes. Tumor do sistema nervoso central: tem como sintomas dor de cabeça, vômitos, alterações motoras, cognitivas e paralisia de nervos. 2.1.6. Modalidades Terapêuticas Cirurgia: é comum ser utilizada quando o tumor é localizado. Porém para alguns tipos de câncer apenas a cirurgia não é suficiente, devido à disseminação de células cancerosas local ou difusamente. Radioterapia: é o mais utilizado para tumores localizados que não podem ser ressecados totalmente, ou para tumores que costumam reincidir após a cirurgia. É comum a presença de efeitos colaterais, principalmente por lesão de tecidos normais adjacentes ao tumor. Quimioterapia: foi o primeiro tratamento sistêmico para o câncer. Na maioria da vezes, consiste em uma associação de drogas, pouco eficazes se utilizadas sozinhas, pois nos tumores há subpopulações de células com sensibilidade diferente às drogas antineoplásicas. A 7 toxicidade contra células normais é a causa dos efeitos colaterais (náuseas, vômitos). Pode ser usada como tratamento principal (leucemias, linfomas, câncer de testículo), mas normalmente é adjuvante, após tratamento cirúrgico ou radioterápico). Terapia Biológica: usam-se drogas que melhoram a diferenciação das células tumorais, tornando-as de mais fácil controle. Este tipo de tratamento, em estudo, é o mais promissor para o futuro. O sucesso da terapia contra o câncer depende da escolha da combinação de dois ou mais modalidades de tratamento, necessitando muito a cooperação entre especialidades. 2.2 – CRIANÇA E DOENÇA FATAL A População em geral, especialmente os profissionais da área de saúde desconhecem o processo do morrer. Apesar de saberem que a morte é uma parte natural da vida, se preocupam tanto com a cura e restauração da saúde que acabam por não dar assistência apropriada e individualizada durante a morte. É necessário que a equipe de saúde tenha conhecimentos sobre ela a fim de ajudar os pacientes a aceitá-la como um processo natural, reduzindo, deste modo, os seus temores e ansiedades. Se isso não acontece, continuará existindo os profissionais que resistem à conscientizar os pacientes e os membros da família e que encaram a morte apenas como uma falha pessoal. Hoje, é mundialmente aceito que a morte seja a cessação da função cerebral. Segundo o Dicionário Médico Blakinston apud CRUZ (1984: p. 4), “a morte cerebral é a parada das funções neurológicas segundo os critérios da inconsciência profunda sem reação a estímulos dolorosos, ausência de respiração espontânea e abolição de reflexos”. A morte, por seu caráter misterioso, despertou a curiosidade do homem. De acordo com o tempo e a história, adquiriu vários conceitos sobre ela, não existindo, por fim, um conhecimento comum. Conforme o desenvolvimento do nível cognitivo e as diversas experiências vividas, o homem adquire conceitos detalhados sobre a morte: aos 3 anos, a criança não desenvolve nenhuma concepção sobre conceitos abstratos, desconhecendo o significado da morte. É egocêntrica e, por isso, não distingue aquilo que vai além de si mesma; a partir dos 3 anos, em função do maior contato com o meio exterior, começa a adquirir conceitos sobre a morte. Pelo fato de acreditar naquilo que vê, concebe a morte como um processo reversível e acredita que seu pensamento pode influenciar na sua reversibilidade; entre 5 e 6 anos, considera a morte como um evento não natural e incompreende o seu caráter 8 irrevogável. Nesse período é comum entre as crianças, a idéia de reencarnação e a impermanência da morte é explicada pelos contos de fada; aos 7 anos, já compreende as causas reais da morte, tais como “câncer, veneno, tóxico”. Sabe que a morte é irreversível, porém questiona a respeito; com 10 anos, entende que a morte é a passagem de uma experiência na terra. Compreende a perda de um ente querido e que a morte é um processo irrevogável; aos 11-12 anos, entende que a morte é um processo natural da vida e que faz parte da condição humana. Não a vê como punição ou ato de violência. Esses conhecimentos sobre a morte são comumente observados em desenhos e brincadeiras, onde a criança expressa as suas concepções e dúvidas. Porém, geralmente não é mantida uma relação estreita entre a criança com doença fatal e seus familiares; logo esses sentimentos da criança não são trabalhados nem tão pouco conhecidos. Geralmente essa relação suscita nos familiares ou profissionais de saúde ansiedade e medo e os impossibilita apoiar verdadeiramente a criança. Não resitem à realidade de tristeza, nem tão poucos são preparados para ouvir os medos e angústias existentes. As crianças percebem isso e, acabam por, reprimir seus sentimentos. Essa realidade muito prejudica a qualidade de vida da criança, uma vez que se sente sozinha e esquecida, sem ninguém para compartilhar seus sentimentos e dúvidas. Diante disso, é imprescindível que os profissionais de saúde se capacitem para assitir adequadamente às necessidades da criança com uma doença fatal, considerando-a, não como um indivíduo que vai morrer mais como um ser vivo, cheios de potencialidades que precisam ser estimuladas. A criança vê a morte como um castigo e apresenta forte tendência a se autoculpar. Esses sentimento pode levá-la a uma entrega mais rápida à morte e, geralmente, é reforçado pelo longo período de hospitalização que passam, o qual a afasta de seu lar, escola, amigos, a submete a regras e procedimentos agressivos, dolorosos e invasivos, e a impossibilita realizar os projetos idealizados por ela e por seus familiares. Sente que causa profunda decepção à família e sofre com isso. ROSS apud CRUZ (1984 .p:25) relata em seu livro “Sobre a morte e morrer” cinco estágios da morte: Estágio 1: Neste primeiro estágio o paciente passa por um estado temporário de choque, quando recebe a notícia da sua doença. Após essa sensação, começa a negar a situação diante da equipe da saúde e seus familiares, recusando discutir assuntos ligados á sua doença e à morte. Estágio 2: Nesse estágio, aparecem sentimentos de raiva, revolta e ressentimento. O paciente parece ficar inconformado com o fato e, por isso, projeta seus sentimentos para os familiares. 9 Faz exigências, críticas, e solicita atenção contínua. Estágio 3: Nesta fase, o paciente acredita que, se fizesse um acordo para adiar a morte seria bem sucedido. Muitas vezes essa barganha é feita com Deus. Estágio 4: Agora o paciente percebe que não pode mais negar a situação (devido ao estado da sua doença e dos tratamentos que realiza) e surge o sentimento de perda. Pensa ter perdido coisas que na verdade não perdeu. Neste caso é preciso convencê-lo do contrário. Existe, ainda, um tipo de Depressão chamada de preparatória que é comum nesta fase, onde o paciente prepara-se para perder tudo que construiu durante a vida. Estágio 5: Se o indivíduo receber a ajuda necessária durante os estágios anteriores poderá aceitar com mais facilidade o seu destino. Esse é um período de aceitação, sendo a aceitação não um estágio da felicidade, mas um momento de parar de lutar, cessar a raiva Quando se trata de uma criança geralmente se nega informações sobre a morte. Porém, deve-se levar em contas que a criança é uma pessoa que tem sentimentos e, por isso precisa saber lidar com as situações. Responder às dúvidas pode ampliar sua compreensão. Mentir ou omitir informações, faz com que a criança formule seus próprios conceitos, através dos fatos e vivências. Ao invés dizer informações irreais, os familiares precisam reconhecer os sentimentos da criança e lhe transmitir confiança e apoio. Sendo assim, pode se dizer que a assistência à família reflete diretamente na qualidade de emocional necessário. As reações errôneas da família influenciam nas atitudes e comportamentos da criança. Por isso mesmo na fase terminal da moléstia a família deve participar efetivamente nas decisões da relacionadas a seu filho. Era costume, em décadas passadas, as pessoas morrerem em casa em virtude da falta de necessidades psicológicas das crianças, não sendo um local adequado para morrer com dignidade. Durante a agonia da morte alguns sinais são observados. Porém, mesmo durante a presença deles, não é possível prever o tempo da morte. São eles: Pulso irregular, rápido, e fraco; hipotensão; respiração irregular; hipotermia; pele fria e pegajosa; polidipsia; relaxamento muscular; desaparecimento gradual dos reflexos e da sensibilidade; diminuição do peristaltismo intestinal; face pálida; perda gradual da visão; fala difícil; deglutição difícil; movimentação incessante; diminuição de dor; expressão facial serena. Após a morte da criança é imprescindível uma assistência terapêutica à família uma vez que a mesma precisa aceitar intelectual e emocionalmente 10 a morte da criança. Essa aceitação é longa e dolorosa, mas imprescindível para que não provoque distúrbios ou até doenças psicossomáticas. Os enlutados precisam expressar seus sentimentos conversando sobre a criança que morreu. KENELL apud CRUZ (1984,p.40) ao investigar o bem estar emocional de mães que tocaram em eu filho antes morre, constatou que nenhuma delas apresentam reações patológicas após seus filhos terem morridos. Queixaram se das práticas hospitalares que muitas vezes impedem reações, como ver e tocar o filho vivo ou mortos. Os familiares, após a morte da criança, geralmente e desesperam podendo passar por vários estágios de tristeza. São eles: choque e surpresa ( equilíbrio emocional abalado); alívio emocional; solidão (isolamento e depressão); desconforto físico e ansiedade; culpa (causados por más lembranças); desinteresse pela vida, podendo ocorrer tentativa de suicídio; vitória gradual sobre a tristeza (retorno às atividades diárias); reajustamento à realidade (pode se estender até dois anos, dependendo do processo). Os profissionais devem ajuda-los a elaborar a perda, a satisfazer às suas necessidades individuais e minimizar o seu sofrimento. Além de uma assistência psicológica, a religiosa é de suma importância para a unidade da família, pois ajuda a proporcionar um ambiente familiar tranqüilo e a manter um equilíbrio emocional frente à doença fatal e à morte. Muitas vezes é somente através da crença religiosa que as família se sentem confortada. Deste modo, o profissional deve estar preparado para o fracasso. Pode-se se sentir, muitas vezes, incapaz de atender às necessidades da família e da criança e pode cometer erros e enganos e deve preparar-se para ser capaz de aceitar a morte como uma realidade natural. ROSS apud CRUZ (1984,p.68) formulou cinco regras para o paciente terminal: Dedicar-se ao paciente com amor e carinho Respeitar os valores e segredos, sentimentos e religião. Respeitar a individualidade do paciente. Aceitar aquilo que não pode se mudar. Perguntar-se se não está fazendo promessas para o paciente. Acredita-se que seja necessário a preparação da equipe de saúde através de cursos, seminários e consultas individuais para que se torne capaz de compreender a realidade da morte e, além disso, dar apoio emocional à família. O profissional de saúde precisa saber lidar com as situações que prejudique a qualidade devida do paciente de modo a prestar-lhe uma assistência física e psicoemocional. 33-- A AB BR RIIN NQ QU UE ED DO OT TE EC CA AN NO OT TR RA AT TA AM ME EN NT TO OD DE EC CR RIIA AN NÇ ÇA ASS C CO OM MC CÂ ÂN NC CE ER R.. 11 3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE BRINQUEDOTECA 3.1.1. Definição Brinquedoteca é um espaço criado para favorecer o brincar. Como um local de descobertas, estimulação e criatividade, independente do tipo, objetiva resgatar o lúdico e a ludicidade infantil. É um espaço criado para proporcionar estímulos para que a criança brinque livremente. Percebe-se atualmente que as crianças são privadas de um espaço ideal para desenvolver suas potencialidades. Os pais por conta do trabalho, não dispõem de tempo para brincar com seus filhos. Por isso, as crianças passam a ocupar seu tempo assistindo programas de televisão (muitas vezes inadequado para a idade), brincam de jogos e brinquedos eletrônicos e acabam por desinteressar-se pelo modo de brincar criativo e não programado. Nesse contexto, a brinquedoteca, segundo LINDOQUIST apud MORAIS (1993): “é um esforço no sentido de salvaguardar a infância nutrindo-a com elementos indispensáveis inteligência da criança. ao crescimento Não saudável da alma e representa apenas oportunidade de acesso a brinquedos, mais que isso, expressa uma filosofia de educação voltada para o respeito ao eu da criança, às potencialidades que precisam de esforço para se manifestarem.” (p. 31). 3.1.2.Objetivos: CUNHA (1993) destaca, no seu livro: “Brinquedoteca: um mergulho no brincar”, importantes finalidades de uma brinquedoteca: Favorecer o equilíbrio emocional; Dar oportunidades à expansão de potencialidades; Desenvolver a criatividade, inteligência e sociabilidade; Proporcionar acesso a brinquedos que lhe proporcionem experiências e descobertas; 12 Estabelecer o relacionamento entre as crianças e seus familiares Incentivar a valorização do brincar e das atividades lúdicas para o desenvolvimento psicoemocional, intelectual, e social; Valorizar os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade; Proporconar um espaço onde a criança possa brincar sossega, sem que alguém interrompa ou diga que está atrapalhando; Existem outros objetivos que são estipulados de acordo com as necessidades de cada clientela, dependendo do tipos de brinquedoteca. 3.1.3. Funcionamento de Brinquedotecas Convencionais: Os diferentes tipos de brinquedotecas sugerem diferentes formas de funcionamento. Existem àquelas que as crianças só vão para brincar, outras para emprestar brinquedos, mas em todas as crianças deve se tornar sócia da brinquedoteca. CUNHA (1993) explica que: o fato de associar-se, além de possibilitar melhor controle sobre os brinquedos, proporciona também a formação de um vínculo com a brinquedoteca”. A criança sendo sócia, passa a sentir-se mais responsável pelos brinquedos e colaboram com mais entusiasmos na programação da brinquedoteca. As atividades desenvolvidas na brinquedoteca podem ser variadas escolha e delimitação dependerá do tipo e objetivos da brinquedoteca. A criança pode brincar sozinha ou pode participar de jogos com outros companheiros; o importante é que sejam bem criativas, onde os freqüentadores fiquem estimulados por constantes novidades. Nenhuma criança é obrigada a nada; se porventura durante uma atividade ela quiser ficar parada, o terapeuta deve apenas motivá-la, nunca forçá-la a brincar. A escolha de brinquedos : Na brinquedoteca criança é livre para brincar. A escolha do brinquedo tem que partir dela. O terapeuta ou Brinquedista pode apenas fazer uma préseleção, escolhendo os brinquedos de acordo com faixa etária, mas a escolha final tem que ser da criança. CUNHA (1994) enfatiza a importância dessa metodologia: “No emaranhado que viveu, das seduções e das restrições a que foi submetido, surgiu um desejo, manifesto através de um impulso, aparentemente sem explicações.”(p58) O sistema de empréstimo : 13 Este sistema surgiu com a finalidade de proporcionar às crianças, acesso a maior números de brinquedos e estímulos e conhecimento a cerca de diferentes brinquedos toda semana. Entre outras vantagens, temos: “ Levar o brinquedo para brincar com outras crianças em casa ou na vizinhança; Enriquecer o ambiente familiar possibilitando a integração dos membros através do brinquedo; Estimular na criança o senso responsabilidade e o hábito de zelar pelo que não é seu.” (CUNHA, 1994.p.60) É certo que se houver apenas o empréstimo de brinquedos não se pode considerar que existe brinquedoteca, mas apenas biblioteca de brinquedos. O que a caracteriza é o fato de ser um local para brincar e desenvolver atividades lúdicas, dentro da qual pode haver ou não o sistema de empréstimo de brinquedos. 3.1.4-Tipos de Brinquedoteca: Os brinquedos foram criados para atender às necessidades lúdicas e afetivas das crianças. Porém existem crianças com necessidades diferentes e que estão inseridas em contextos diferentes. Deste modo, para atendê-las surgiram vários tipos de brinquedotecas, que apresentam várias finalidades. Serão citadas algumas delas, que são as mais conhecidas: 3.1.4.1-Lekotek: Criada em 1963, na Suécia, quer dizer ludoteca. Atende crianças portadora de deficiências e de distúrbio no desenvolvimento. O trabalho realizado é semelhante ao da clínica, por ser individualizado. O atendimento é realizado na presença dos pai, onde a mãe é orientada como brincar com a criança em casa. Se porventura a criança não pode ir a lekotek, a terapeuta vai á casa dela favorecer brinquedos e estimular. A terapeuta avalia, observa, integra e escolhe quais brinquedos são importantes para a criança levar para casa. 3.1.4.2-Brinquedoteca Hospitalar: Esta brinquedoteca tem finalidade de tornar o ambiente hospitalar mais alegre e menos traumatizante, favorecendo melhores condições para recuperação da criança. O processo de internação provoca sérias alterações na relação com a família, amigos, escola, impondo-lhe um ambiente desconhecido, formado por regras e limites, sem ludicidade. 14 “Cada criança internada deixou para trás o mundo das coisas comum; os pais, a casa, os irmãos, os bichos de estimação, brinquedos. As mães-participantes, estão presentes, mas há angústia. Por (VIEGAS,1999.p.101). isso, nossa crianças são muito.” Observa-se, ainda, a presença de fatores estressantes, como: aparelhos barulhentos, agulha, máscaras, de oxigênio, choro de outras crianças, o uso de cadeiras de roda, sondas e outros. Nesse contexto, o brincar exerce uma fundamental importância na saúde, de modo a minimizar as conseqüências da hospitalização no desenvolvimento das potencialidade da criança. Ao tratar de uma criança, deve-se levar em consideração: “Não só seus aspectos clínicos e patológicos de doença e a limitação, abordar a importância de se considerar o lado saudável e resgatar a sua potencialidade, normalmente latente durante o processo de doença e internação.” ( KUDO e PIERRE, 1997. p.195) A criança, longe do contexto de sua casa e de seus familiares, assusta-se com o novo ambiente, desconhecido. Será, deste modo, valioso para a criança saber que no hospital existe um local cheios de estímulos, brinquedos e jogos. 3.1.4.3-Brinquedoteca Terapêutica: Nessa brinquedoteca é aproveitado as oportunidades oferecidas pelas atividades lúdicas para intervir sobre as dificuldades específicas da criança. Pode-se atender crianças com deficiência mental, física, auditiva, com dificuldade de aprendizagem e, outras. Para atender esses objetivos precisa ter na brinquedoteca profissionais capacitados para intervir sobre as patologias. Eles deverão interagir com a criança de maneira lúdica, estimulandoas e motivando-as a brincar e fazer uso funcional do brinquedo. Nesse caso, o empréstimo do brinquedo objetivará a continuação do tratamento em casa. 3.1.4.4-Brinquedoteca Circulante: 15 Esse tipo de funciona dentro de um veículo, que pode ser um ônibus, caminhão ou um treiller adaptado. Tem os mesmos objetivos que as outras, diferenciando-se apenas por atingir comunidades distantes. Dentro do veículo existem os brinquedos e outros materiais necessários para a montagem da brinquedoteca no lugar que for. Existem outras Brinquedotecas que foram criadas, a nível nacional, recentemente, como: brinquedoteca universitária, brinquedoteca da pastoral da criança e brinquedoteca escolar. 3.2- O Brincar e o Brinquedo no Desenvolvimento Infantil. O brincar é um tipo de atividade muito estudada e utilizada, por vários profissionais, como forma da tratamento. É um dos meios verdadeiros para revelar o comportamento infantil e, funciona como reforçado das habilidades motoras, sociais e intelectuais da criança. Entre muitos cientistas que estudam sobre o brincar, cita-se: HUIZINGA, que oferece um aspecto social ao brincar, identificando-o como expressão da cultura. Afirma que nesse mistério é suscitado várias relações de grupo, onde o homem pode ser outro. Pode-se dizer que a criança se revela totalmente no brincar, não conseguindo esconder nenhuma de sentimentos. Toda a espontaneidade é revelada. O brincar é considerado a inclinação da atual organização da personalidade da criança. M. KLEIN diz que o brincar é personificado; através dele os desejos infantis são satisfeitos, transformando em prazer aquilo que era angústia para a criança. NAKATA, como forma de avaliação do comportamento no brincar, propõe um questionário, o qual avalia os aspectos sobre: onde, como, com que freqüência a criança brinca. Sobre o brinquedo, surgiu duas observações simples, que é a criação, livre, espontânea, e que é um meio onde criança entra em contato com meio exterior e o objeto. ERIKSON, considera o brinquedo como um particular meio de comunicação psicológica, muito diferente daqueles que utilizam a linguagem. O seu conteúdo e sua diferenciação está relacionada com o passado vivido e diferente de acordo com o sexo. Dada a importância que exerce o brincar para o desenvolvimento global da criança, pode-se afirmar que a privação deste brincar poderá resultar em deficiências motoras, sensoriais, inadaptação social ou emocional e até síndromes neuróticas, que se não forem tratadas podarão evoluir e prejudicar a qualidade de vida das crianças. 16 C CA AP PÍÍT TU UL LO O IIV V:: M ME ET TO OD DO OL LO OG GIIA A A prática desta pesquisa desenvolveu-se na Casa do Menino Jesus III Obras das Filhas do Amor de Jesus, instituição de caridade, localizada na travessa 14 de Abril, nº 1394, anexo ao hospital Ofir Loyola, no perímetro entre Av. Gentil Bittencourt e Av. Magalhães Barata. A casa do Menino Jesus, caracteriza-se por prestar serviços de assistência a crianças com câncer e seus familiares, oferecendo-lhes a estrutura necessária para permanecerem na cidade de Belém, durante a realização dos tratamentos de quimioterapia e radioterapia, visto que são procedentes do interior do Pará. Inicialmente, no mês de julho, foi realizado uma visita á instituição, onde foi confirmado a criação de uma Brinquedoteca Terapêutica. Ainda no mesmo mês, foram arrecadados brinquedos e materiais escolares na Universidade do Estado do Pará que iria constituí-la. Em agosto, foram efetivadas as anamneses com as mães, através das quais foram colhidas informações acerca dos aspectos psicossociais e familiares, e da patologia apresentada pala criança. Participaram da brinquedoteca 10 crianças, sendo 4 meninas e 6 meninos, na faixa etária de 3 a 13 anos. Os atendimentos aconteceram no período de 12 de setembro a 21 de novembro, onde foram 8 grupais e 2 individuais. Selecionou-se para o presente estudo, 5 sessões grupais e 2 individuais. As crianças que participaram do grupo são de baixo nível social e moram no interior do estado do Pará, muitas delas não chegaram a estudar por terem que trabalhar na roça com os pais. Apresentam os seguintes tipos de câncer: Retinobastoma, Tumor Renal, Leucemia, Tumor no Testículo, no Ovário, no Baço. Planejou-se a realização de 20 sessões na brinquedoteca, porém em virtude do estado de saúde das crianças, foi possível ser efetivado somente 10 sessões. A Brinquedoteca da Casa do Menino Jesus diferencia-se das outras por trabalhar na ótica da Terapia Ocupacional, a qual considera importante o brincar para o desenvolvimento sensorial, cognitivo, perceptivo, social e neuromuscular da criança . As crianças que participaram das atividades terapêuticas são portadoras de câncer, passaram um longo processo hospitalização e realizam quimioterapia radioterapia, por isso, apresentam atrasos no desenvolvimento global (motor, emocional, cognitivo, psicológico,...), dificuldades de socialização, verbalização e interação. Seus principais objetivos são: estimular, através do brincar, o desenvolvimento normal, proporcionar interação e trocas de experiências entre as crianças do grupo, favorecer o equilíbrio emocional, preparar psicologicamente as crianças para realização da quimioterapia, oportunizar um ambiente Terapêutico, onde a criança possa se desenvolver enquanto ser lúdico, espontâneo e criativo. 17 ATIVIDADES PROPOSTAS Para se alcançar os objetivos traçados, foi proposto a realização de atividades grupais, expressivas e lúdicas. 1-SESSÃO: Atividade: Desenho Livre. Objetivo: Iniciar o vínculo terapêutico com o grupo. Estimular a livre expressão de sentimentos. Promover a socialização. Estimular a verbalização. Desenvolver a coordenação manual. Procedimento: escolher as core do giz de cera, desenhar no papel livremente e depois verbalizar para o grupo aquilo que fez. Data: Material: papel chamex e giz de cera. Duração: 40’min. 2- SESSÃO: Atividade: Falar no telefone. Objetivo: - Estimular a verbalização. - Estimular a expressão de sentimentos. - Promover a interação do grupo. - Proporcionar o desenvolvimento cognitivo. Procedimento: Pensar numa pessoa que gosta muito e mandar um recado pelo telefone. Data: Materiais: telefone de brinquedo. Duração: 30’min. 3- SESSÃO: Atividade: Karaokê. 18 Objetivo: - Estimular a espontaneidade do grupo. - Favorecer a troca de experiência. - Estimular a verbalização. - Favorecer a criatividade e o caráter lúdico do grupo. Procedimento: Pensar em uma música que aprendeu na escola, ou em casa e depois cantar para o grupo, no palco. Data: Materiais: mesa grande (palco), microfone de brinquedo. Duração: 45’min. 4- SESSÃO: Atividade: Objetivo: - Pintar um coração. Estimular a coordenação motora. Proporcionar expressão de sentimentos. Estimular a verbalização e interação do grupo. Favorecer a socialização. Favorecer o equilíbrio emocional do grupo. Procedimento: Pintar com tinta guache um coração por dentro depois pensar nas pessoas que moram neste coração e socializar com o grupo. Data: Materiais: papel chamex, tinta guache. 5-SESSÃO: Atividade: O que é a morte? Objetivo: Conhecer a concepção de morte do grupo Estimular a representação de sentimentos no papel. Favorecer a verbalização e interação do grupo. Favorecer equilíbrio emocional. Procedimento : Desenhar o que é a morte. Data: Materiais: papel chamex, lápis de cor e giz de cera. Duração: 30’min. Os Modelos teóricos que nortearam a prática dessa pesquisa foi o Modelo Lúdico e o Psicomotor. Modelo Lúdico: 19 Utiliza o lúdico e ludicidade no tratamento, sendo que aquele se refere à diversão, lazer, jogo, brincar, e essa, à manifestação de envolvimento, satisfação, motivação espontaneidade durante a atividade lúdica. REYLLE apud CANÍGLIA (1993:p.53) propõe um contínuo brincar, o qual estimula as potencialidades da criança para o trabalho da vida futura. FLOREY apud CANÍGLIA (1993:p.53) afirma que, através do brincar, a criança se relaciona com o meio e com os objetos (humanos ou não humanos) e, a partir disso cria uma motivação intrínseca a adotar comportamentos. Com utilização deste método, pode-se favorecer os aspectos relacionais e de verbalização, que estão prejudicados no grupo. Através do brincar a criança pode ser mais expressiva e interativa. Modelo psicomotor: O objetivo principal da psicomotricidade é educar o movimento juntamente com as habilidades intelectuais, com intuito de favorecer o desenvolvimento do pensamento abstrato e simbólico e, com isso, beneficiar o homem no sentido de torná-lo um ser amplamente comunicativo e criativo, que explora ao máximo suas potencialidades do corpo para expressar suas idéias. Na psicogênese de Henri Wallon, um dos principais representantes deste modelo, a dimensão afetiva ocupa lugar central tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento. Ele afirma que existe uma profunda ligação da motricidade, do fazer com a afetividade . Assim para Wallon, o ato mental (personalidade, inteligência, afetividade) se desenvolve a partir do ato motor. No caso específico deste grupo este modelo é pertinente, pois favorece o desenvolvimento emocional, afetivo e cognitivo, os quais precisam ser estimulados. R RE ESSU UL LT TA AD DO OSS Evolução das seções: No início das atividades as crianças ficaram ansiosas para brincar. Na atividade de desenho livre, J. com 3 anos fez vários riscos no papel, os quais disse ser um peixe (ANEXO-1); A.com 3 anos também fez vários riscos no papel e disse que era um peixe. Parece que não sabia o que havia desenhado e, apenas reproduziu o que J. falou.(ANEXO-2); K. 5 anos, não soube relatar aquilo que havia desenhado (ANEXO); M.8 anos, desenhou uma menina na beira da estrada, qual desejava ir para a casa da avó.(ANEXO). 20 Ainda nessa atividade as crianças tiveram facilidade em desenhar, aceitando satisfatoriamente a atividade proposta, bem como, o material. Somente no momento de sociabilizar aquilo que haviam feito, mostrara-se tímidos e calados. A Intervenção Terapêutica nessa atividade limitou-se a ajudar as crianças que estavam tímidas, aproveitar atividade. O objetivo desta sessão foram totalmente alcançados. Na Segunda sessão todas as crianças telefonaram um dos seus familiares, demonstraram saudades dos seus familiares e expressaram o quanto querem voltar para casa. Observou-se que as crianças estavam agressivas e impacientes umas com as outras e também ansiosas para falar no telefone. Na terceira sessão, onde realizou-se a atividade do karaokê, todas as crianças ficaram receosas em subir ao palco e cantar. Somente após umas das crianças ter cantado as outras se motivaram. Sempre que alguém acabava de cantar todos aplaudiam, porém muitos vaiavam e gritavam. Na atividade de pintar o coração, as crianças expressaram espontaneamente os seus sentimentos, falando uma para as outras as pessoas que amavam. Nesta sessão a acadêmica interagiu bastante, favorecendo a verbalização do grupo. Na última atividade, as crianças ficaram motivadas em desenhar sobre o que pensavam da morte. Todos se referiram a faca. Alguns falaram sobre caixão, sangue cruz. As crianças mais novas, não souberam desenhar coisas concretas, somente riscos. As maiores retrataram bem suas concepções de morte. Não percebeu-se medo ao comentar e desenhar sobre o assunto. Todos pensam que, quando alguém morre, vai para o céu. A acadêmica favoreceu a conversa entre as crianças. Análise da Instituição: Apesar de ser uma instituição filantrópica, dá total assistência às crianças e suas mães, tanto no se refere ao aspecto físico, alimentício, quanto espiritual. A casa dispõe de quartos arejados e de um local propício para brincar. As crianças são assistidas por uma professora que o estão alfabetizando. De um modo geral, o trabalho alcançou seus objetivos, podendo ser efetivado de maneira mais favorável num período de tempo maior e nu grupo mais homogêneo. C CO ON NC CL LU USSÃ ÃO O As crianças com câncer são privadas do brincar por um longo período de tempo e, geralmente, por conta disso apresentam distúrbios no 21 desenvolvimento global. Sofrem por serem submetidas a tratamentos agressivos, como a radioterapia e a quimioterapia. Deste modo, a criação da Brinquedoteca Terapêutica para as crianças da casa do menino Jesus resgatou a ludicidade que precisava ser estimulada. Os aspectos relacionais e afetivos foram favorecido durante as atividades lúdicas e expressivas. E, por serem atividades grupais oportunizou também a socialização e a integração. O brincar nesse sentido, foi o facilitador do desenvolvimento da potencialidade infantil. Autora: Érica de Nazaré Marçal Elmescany R RE EFFE ER RÊ ÊN NC CIIA AS SB BIIB BLLIIO OG GR RÁ ÁFFIIC CA AS S CAMON, V.A.A.(org.). A Psicologia no Hospital. São Paulo: Traço, 1988. Vol. 7. CANÍGLIA, Marília. Modelos teóricos utilizados na prática da Terapia Ocupacional. Belo Horizonte, 1993. CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Maltase, 1994. KUDO, Aide Mitie e PIERRE, Samira Álvares de. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional em Pediatria. 2ª ed. São Paulo: Savier, 1999. Terapia Ocupacional com crianças hospitalizadas. LEBOVICI, S., DIATRINE, R. Significado e função do brinquedo na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. MORAIS, Rosângela Rodrigues. Cadernos de Terapia Ocupacional. Belo Horizonte: GESTO, Ano XI, n° 1, Set/99. Brinquedoteca: possibilidade de atuação do Terapeuta Ocupacional em Unidade de Internação Pediátrica. VIEGAS, Drauzio. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. São Paulo: Vozes, 1993. Brinquedoteca Hospitalar: a experiência de Santo André. 22