Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 ROMEU E JULIETA NO BAIRRO CANAÃ: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DO TEATRO COM ADOLESCENTES DE UMA COMUNIDADE DA PERIFÉRIA DE UBERLÂNDIA Wellington Menegaz de Paula – PPGT - UDESC Neste artigo será analisada uma experiência que aconteceu no ano de 2005, com aproximadamente trinta adolescentes que faziam parte do Projeto de Teatro desenvolvido como atividade extracurricular da Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende, localizada no bairro Jardim Canaã do município de Uberlândia Minas Gerais. A experiência se refere a um processo artístico desenvolvido na referida instituição de ensino, que deu origem ao espetáculo Romeu e Julieta na Terra Prometida. Esse processo será analisado com base teórica no ensino do teatro com adolescentes e em algumas idéias do sociólogo Henry A. Giroux, como o processo de desenvolver nos alunos o potencial reflexivo e a aquisição de capital cultural. Palavras-chave: Jovens, ensino do teatro e processos criativos. A experiência que analiso aconteceu no bairro Jardim Canaã, do município de Uberlândia, Minas Gerais, mais especificamente na Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende. Trata-se de uma prática de ensino do teatro, desenvolvida nos anos de 2005 a 2007, com aproximadamente trinta e cinco jovens adolescentes, fora da grade curricular, no período extracurricular, denominada pela instituição como Projeto de Teatro. O bairro Jardim Canaã é uma comunidade economicamente carente, marcada pela presença de três instituições regulares de ensino. Entre elas está a Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende que tem um papel fundamental na vida de seus moradores, pois ela passa a ser um forte espaço de socialização. Essa instituição inicia suas atividades no ano de 1997, atendendo cerca de 1940 alunos por ano. De acordo com a Proposta Político-Pedagógica de 2007, a escola segue a Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 26 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 pedagogia de projetos, desenvolvidos tanto na grade curricular como na extracurricular, pois acredita que é através dessas propostas que os alunos poderão compreender o seu cotidiano, a Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende procura adotar em seu cotidiano escolar, projetos que possam dar possibilidade aos alunos de compreenderem a realidade em que estão inseridos, de maneira lúdica e criativa. (E.M. Dr. Gladsen Guerra de Rezende, 2007: 05) A referida instituição foi uma das primeiras do município a trabalhar com projetos artísticos e culturais desenvolvidos no período extracurricular. Dentre os projetos desenvolvidos por ela estão: Teatro, Circo, Canto, Violão, Mosaico, Dança e Bola na Rede. As inscrições se dão de forma democrática e as vagas são distribuídas para todos que queiram participar. O Projeto de Teatro começou na instituição no ano de 2003, mas minha atuação como professor do mesmo se deu nos anos de 2005 a 2007. Durante esse três anos foram desenvolvidas quatro montagens Romeu e Julieta na terra prometida, As mil e uma noites, Sol Ardente e Depois daquela viajem, as quais delimitam diferentes fases do trabalho. Nesse artigo, apresentarei algumas reflexões, sobre o processo que aconteceu no ano de 2005, momento em que uma equipe de profissionais da escola se uniu pela primeira vez, em torno da montagem de um espetáculo teatral, que foi Romeu e Julieta na Terra Prometida. 1.Os jovens adolescentes do Canaã Antes de falar sobre os jovens adolescentes moradores do bairro Jardim Canaã, irei esclarecer o porquê da utilização da categoria jovens adolescentes. Dependendo da corrente estudada, de base psicológica ou sociológica, por exemplo, os conceitos mudam. Optei pela escolha e utilização dos dois termos, pois, a faixa etária dos alunos que participaram do Projeto de Teatro se enquadra entre a categoria adolescentes, mas quando os situamos como sujeitos históricos, o termo que melhor os definirá será jovens, por isso a opção pelas duas nomenclaturas. Considerar as multiplicidades de juventudes, como um fenômeno social e historicamente constituído, onde elementos psicológicos se associam a um contexto histórico e social determinado, é o primeiro passo para analise da experiência do Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 27 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 Projeto de Teatro. Um dos autores que nos apontam esse caminho é Groppo, que coloca essa fase como sendo uma categoria social em transformação: A juventude como categoria social não apenas passou por várias metamorfoses na história da modernidade. Também é uma representação e uma situação social simbolizada e vivida com muita diversidade na realidade cotidiana, devido à sua combinação com outras situações sociais – como a de classe ou estrato social -, e devido também às diferenças culturais, nacionais e de localidade, bem como às distinções de etnia e de gênero. (GROPPO, 2000:15) Para falar de juventudes, temos que deixar claro de quais jovens estamos nos referindo e dos fatores sociais que estão interferindo na vida deles. No caso dos jovens adolescentes do Canaã, vários são os fatores sociais que interferem na constituição da personalidade, como o caso de morarem num bairro periférico, economicamente carente e discriminado por parte da população do município de Uberlândia. As crianças e os adolescentes, do Canaã, na maioria das vezes, passam o dia longe dos pais. Crescem e tecem suas primeiras experiências de vida na rua, que pode ser um elemento lúdico, com suas brincadeiras de esconde-esconde, pique-pega e futebol, como também o primeiro contato com o mundo do tráfico de drogas e a marginalidade, ou a combinação de ambos. Outra característica existente no bairro e que influência na vida dos jovens é a presença forte que as duas escolas municipais têm na vida da comunidade. Tornando um local significativo, de socialização e cultura, para os jovens do bairro, pois oferece um atendimento em tempo integral para os alunos, com uma grade curricular e extracurricular, o que dá a possibilidade, de um novo espaço de socialização, além da rua. Outro fator marcante na vida desses jovens é a presença da indústria cultural, através da mídia televisiva, da internet e de tantas outras referências, que direta ou indiretamente penetram no cotidiano deles, procurando unificar sua forma de pensar, de agir, de vestir, enfim procurando dominar o pensar juvenil, a indústria cultural constitui-se como reconstrução da realidade social, apresentase como dimensão cultural da sociedade e, controlando a mídia, socializa regras e normas [...] A indústria cultural converte-se em um sistema e expande-se por todos os meios, faculta a integração da sociedade e, por conseguinte, os indivíduos convertem-se cada vez mais em massa uniforme. (FEFFERMAN, 2006: 206) A indústria cultural oferece uma gama de comportamentos juvenis, um exemplo disso é o seriado “Malhação”, transmitido pela rede Globo. Nas aulas de teatro ficava claro nas improvisações a reprodução de falas e de comportamentos Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 28 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 dos personagens desse seriado. Isso é um recorte de uma situação maior, pois quantos jovens não querem ser aqueles personagens da mídia, terem as mesmas oportunidades, ou consumirem os mesmos produtos e bens de consumo. Porém poucos deles têm acesso financeiro, uma vez que vêem de uma classe econômica menos favorecida. A solução para essa situação é começarem desde muito jovens a trabalhar, porém o que uma parcela significativa desses jovens percebe, é que para eles estão destinados sub empregos, que lhes dão um salário que não dará para comprar o Nike usado pelo protagonista da telenovela. Então muitos começam a trabalhar no comércio ilícito do tráfico de drogas e a cometerem pequenos delitos, como assaltos, pois assim poderão adquirir os bens de consumo propagados pela mídia. O tráfico de drogas é uma realidade que afeta os grandes centros urbanos, um processo em que vários jovens, não só os do bairro Canaã, estão envolvidos. Uma estrutura descrita de forma clara por Marisa Fefferman, os traficantes de drogas buscam lugares para instalar o seu “comércio”, seus pontos-de-venda e distribuição, tendo como critério determinante a dificuldade de acesso do aparato repressor. Nessas áreas, geralmente na periferia, é montado um esquema para garantir o progresso do “negócio”. Existe uma hierarquia e os jovens que “trabalham” com o comércio varejista de drogas são a parte mais visível do tráfico. [...] Estes jovens ocultam os reais beneficiados desse que é um dos setores mais lucrativos da economia mundial. (FEFFERMAN, 2006: 210) Os reais beneficiados pelo sistema estão longe desses bairros periféricos, desfrutam de todos os benefícios da indústria cultural e são considerados cidadãos honrados, pois pertencem a alta classe social. Em contrapartida os jovens que trabalham nesse comércio ilícito, vivem a realidade de violência e de discriminação, frutos desse sistema e são como nos coloca Fefferman, a parte visível desse sistema. Dentro desse panorama, alguma coisa precisava ser feita, e a partir dessa constatação, no ano de 2002, a Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende, até então a única instituição de ensino do bairro, resolveu através de projetos artísticos fazer com que os alunos pudessem entender a realidade a qual eles estavam inseridos e superá-la, através de outras possibilidades, que até então não tinham acesso. E foi a partir desse momento que começaram os projetos artísticos desenvolvidos no extra- turno dessa instituição. Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 29 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 2. Romeu e Julieta na Terra Prometida: um trabalho em equipe Falar sobre a montagem do espetáculo Romeu e Julieta na Terra Prometida é problematizar algumas questões que levaram a equipe de profissionais da Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende, gestores e professores dos projetos de teatro, circo, dança e música a proporem um trabalho em conjunto que resultou na montagem do referido espetáculo. Irei, portanto a partir desse momento, abordar algumas questões que motivaram uma equipe de profissionais a se unirem em torno da montagem de um espetáculo com aproximadamente cinqüenta adolescentes moradores do bairro Jardim Canaã. No primeiro semestre de 2005 estava trabalhando com aulas de teatro na grade extracurricular da Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende. Até então o objetivo principal era levar a linguagem artística sem nenhum comprometimento com a realidade que cercava aqueles jovens adolescentes. Porém dois fatos mudariam essa trajetória, o primeiro deles foi um assalto que ocorreu num supermercado do bairro, onde alguns adolescentes moradores do Canaã entraram para assaltar o estabelecimento comercial e mataram uma criança que estava lá. O outro fato foi uma reportagem que saiu num jornal local intitulada “Canaã, da terra prometida ao Paraíso do Tráfico”. A situação estava latente, muitos jovens começavam bem cedo a usar drogas e trabalhar no tráfico, a cometerem furtos e outros delitos. Era preciso intervir, mostrar outros caminhos, outras possibilidades, construir uma ação onde esses jovens adolescentes, pudessem mudar seu olhar em relação ao outro, não o encarando como um objeto, como nos coloca Fefferman, “o sujeito produzido pela cultura de massa, na ausência de projetos sociais compartilhados, encara o outro apenas como objeto” (FEFFERMAN, 2006: 172). Então a convite da direção da escola, os profissionais que atuavam nos projetos de teatro, circo, música e dança, se uniram num objetivo em comum, montar o espetáculo “Romeu e Julieta: na Terra Prometida”, dando outra opção de vida para os jovens que participariam da peça. Nos primeiros encontros dessa nossa equipe, percebíamos que era preciso um ensino de arte que fosse mais do que um entretenimento, algo além de algumas horas agradáveis para os alunos ocuparem os momentos de ócio. Acreditávamos que era preciso que nossos alunos compreendessem o que iriam aprender em cada Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 30 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 encontro e ao mesmo tempo desenvolvessem outro olhar sobre a realidade, como forma de compreender e questionar o que acontecia no seu bairro. A meta da nossa equipe de trabalho naquele ano de 2005, era fazer com que aqueles jovens carentes de recursos materiais e culturais, se apropriassem da realidade em torno deles e interferissem nela, que não ficassem apenas sofrendo as conseqüências de tudo que ocorria no bairro, que pudessem também aprimorar o conhecimento sobre si mesmos e tivessem oportunidade de crescer enquanto seres humanos. Todos os profissionais da escola envolvidos no projeto trabalharam dentro do referencial da possibilidade, contribuindo para que aqueles adolescentes pudessem tomar o lugar que queriam na sociedade, e mostrar para ela, através das apresentações que fizeram em teatros e espaços culturais da cidade de Uberlândia, um pouco do que eles eram capazes de fazer, escola espaço de possibilidade [...] isto é, como instância onde formas particulares de conhecimento, de relações sociais e de valores pudessem ser ensinadas a fim de educar os alunos para tomar seu lugar na sociedade a partir de uma posição de fortalecimento e não a partir de uma subordinação econômica e ideológica. (Giroux 1987: 57) O apoio da direção da escola foi algo que se fez presente o tempo todo. Primeiramente enquanto idealizadora de um modelo de educação, onde a arte tem um papel de destaque, não sendo mero entretenimento, assumindo suas especificidades na formação estética e cultural do indivíduo. Toda a história do Projeto de Teatro, as montagens realizadas, só foram possíveis porque a escola apoiava, uma vez que não media esforços para aquisição de profissionais habilitados nas várias linguagens artísticas, na compra de materiais para cenário e figurino, na viabilidade de transporte para os alunos se apresentarem em outros bairros, tudo isso por que acreditava no poder da arte enquanto elemento educacional e de formação do ser humano. 3. O processo de montagem: primeiras reflexões A escolha do texto Romeu e Julieta se deu através de um trabalho desenvolvido no primeiro semestre de 2005, com os alunos que participavam do Projeto de Teatro. Desenvolvemos com eles uma pesquisa na biblioteca da escola, Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 31 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 onde os mesmos leram alguns textos literários e dramáticos. Uma coleção de peças escritas por William Shakespeare, entre elas destaco Sonhos de uma noite de verão, A megera domada, O mercador de Veneza e principalmente Romeu e Julieta, despertou o interesse dos adolescentes do projeto. Nas aulas eles contavam as histórias das peças e improvisavam algumas cenas. Os mesmos demonstraram o interesse em montar a peça Romeu e Julieta, os assuntos em torno da descoberta do primeiro amor e das disputas entre as duas famílias Montechios e Capuletos, despertaram a atenção dos alunos. Quando a equipe de profissionais da escola começaram a se reunir em torno do projeto da montagem de um espetáculo, sugeri o texto Romeu e Julieta, pelos motivos citados acima. Todos os profissionais concordaram com a idéia, mas como se tratava de uma adaptação, a direção da escola sugeriu acrescentarmos ao título uma alusão ao Canaã bíblico, ou seja, “a terra prometida”. Passamos então a ter o desafio de montar Romeu e Julieta na terra prometida, um espetáculo que tinha como proposta trabalhar as linguagens artísticas do teatro, música (canto e violão), circo (malabares, perna-de-pau e tecido acrobático) e dança como os alunos da escola, relacionando o texto Romeu e Julieta com a realidade do bairro Canaã. No segundo semestre começamos o trabalho em torno da montagem da peça, fizemos o convite para todos os alunos que estudavam no turno da manhã, pois os ensaios aconteceriam no turno da tarde. Começamos um processo de improvisações em torno de situações presentes no texto. Aos poucos as falas que iam surgindo nas improvisações e jogos de cenas, se somavam com algumas falas do texto Romeu e Julieta. Situações presentes na peça de Shakespeare se misturavam com situações presentes no cotidiano dos adolescentes do bairro Canaã, estabelecendo um diálogo entre o texto dramático e alguns aspectos vividos por aquela comunidade, como a questão da rivalidade entre as duas famílias e a questão da violência no bairro, fruto de disputas entre algumas gangues rivais. No início do processo cada linguagem artística era trabalhada em horários separados, os encontros de teatro se davam em horários distintos dos de dança, circo e música. O diálogo se estabelecia em encontros semanais entre os profissionais e também entre as visitas que fazíamos no processo de trabalho dos outros colegas. Os alunos participavam de mais de uma linguagem artística, para conseguirmos o diálogo entre as várias linguagens. Depois desse momento inicial, Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 32 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 que durou cerca de dois meses, todos as pessoas envolvidas no processo, alunos e professores, passaram a se encontrarem nos mesmos dias e horários, pois procurávamos uma unidade para a montagem e não vários momentos dispersos. Nesse processo, buscamos respeitar os conhecimentos e concepções de mundo que os nossos alunos traziam para cada encontro/ensaio e ao mesmo tempo possibilitar formas de ampliar o capital cultural deles, ou seja, de “propiciar outras experiências culturais e formas de conhecimento”, com o objetivo de “ajudar os estudantes a desenvolver habilidades, os valores e o senso de responsabilidade de que precisam para se tornarem cidadãos criativos, críticos e éticos” (Giroux 1987: 48). O processo de ampliação do capital cultural se deu através da própria aquisição da linguagem teatral, circense e musical, pois para a maioria dos alunos, isso constituiu em uma novidade. Como pelo contato com um texto clássico, que foi esmiuçados por eles para a montagem do espetáculo. E também através das apresentações em vários locais fora do bairro Canaã. Quando estreamos, em dezembro daquele ano, a maioria deles viveram pela primeira vez a experiência de se apresentar num teatro, que foi o Teatro Rondon Pacheco. Eles puderam mostrar para as pessoas do seu bairro que estavam presentes naquela noite, como de outras localidades, que o bairro Canaã, não era só violência, como era constantemente noticiado nos telejornais locais. Que aquela comunidade era também formada por jovens que acreditam num futuro melhor e começam a buscar isso através da arte, mostrando que são capazes de criar um espetáculo. Em cena, cinqüenta crianças e adolescentes executavam várias funções além da de representar, eles também cantavam, tocavam, faziam tecido acrobático, perna de pau e malabares. Realidade bem distinta da que a mídia mostrava sobre os adolescentes do bairro Canaã, que eram vistos como delinqüentes. 4. Considerações finais No final do ano de 2009, entrevistei alguns ex-alunos do projeto, e os mesmos relataram que estão se preparando para o vestibular, e tem planos de fazerem uma faculdade. Realidade diferente da maioria dos jovens do bairro onde moram, pois os mesmos deixam os estudos e poucos concluem o ensino médio. A maioria dos exAssociação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 33 Anais do VI Colóquio sobre o ensino de Arte AAESC – 11 a 13 de agosto de 2010 alunos do projeto atribuem esse ideal de lutar por algo que acreditam, de traçar metas e de construírem a sua própria história, as experiências que tiveram ao longo dos três anos em que participaram do Projeto de Teatro. Numa aula de teatro, qualquer atitude tem uma conseqüência, por exemplo, faltar num ensaio significa prejudicar todo o grupo no trabalho de construção de cenas. Um sentimento de responsabilidade, de algo para alcançar, de perspectiva em relação ao futuro, onde cada dia uma nova cena se estruturava, na expectativa, de que no final do ano o espetáculo ficaria pronto, e seria apresentado para a comunidade. 5.Referências bibliográficas REZENDE, ESCOLA MUNICIPAL DR.GLADSEN GUERRA DE. Proposta PolíticoPedagógica da Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende. 2007. Não publicado. FEFFERMAN, Marisa. Vidas Arriscadas- o cotidiano dos jovens trabalhadores do tráfico. São Paulo: Vozes, 2006. GIROUX, Henry. A escola crítica e a política cultural. Tradução Dagmar M. L. Zibas. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1987 GROPPO, Luís Antônio. Juventude: Ensaios sobre a sociologia e história das juventudes modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000. Associação de Arte Educadores de Santa Catarina Local: Faculdades SENAC – ISSN: 2179-5452 34