EPEA 2001 1 de 16 CAUSALIDADE E FATORES DE RISCO: TRANSCENDÊNCIA E IMANÊNCIA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Renato Rocha Lieber UNESP Campus de Guaratinguetá Nicolina Silvana Romano-Lieber USP Campus de São Paulo palavras-chave: Ambiente; Epistemologia; Conceitos Resumo: O uso de relação causal, ao invés de relação de risco, pode fomentar concepções míticas relativas à realidade. Com o propósito de verificar o gênero de conhecimento prestado pelos conceitos dominantes, examinou-se a obra bem difundida de Meadows 1989 (SEMA, 1999) sob um referencial crítico. Para tanto, apresenta-se a evolução do conceito de causalidade e a essência do conceito de risco como expressão da condição humana. O exame daquela obra constatou (i) uma articulação contraditória com apelo metafísico, sustentado no mito da harmonia e do equilíbrio; (ii) a apologia ao ascetismo em detrimento da crítica aos conflitos decorrentes da desigualdade econômica; e (iii) convergência para a culpa em detrimento da responsabilidade. CAUSALITY AND RISK FACTORS: TRANSCENDENCE AND IMMANENCE IN ENVIRONMENTAL EDUCATION keywords: Environmental; epistemology; concepts Abstract: The use of causal relationships in place of risk relationships can promote a mythical conception of reality. The widely accepted work of Meadows 1989 (SEMA, 1999) is analysed under a critical point of view, with the purpose of ascertaining the specific class of knowledge into which the predominant concepts can be categorised. With this aim, the authors expose the evolution of the concept of causality and the nature of the concept of risk as an expression of the human condition. The analysis of the aforementioned work shows: (i) contradictory argumentation with a metaphysical appeal, supported by the myth of harmony and equilibrium; (ii) an apology to asceticism in detriment of a more critical approach to conflicts originated in economical inequality; and (iii) a drift towards guilt, in detriment of responsibility. 1. Introdução A educação ambiental assumiu um papel de inquestionável relevância na formação de entendimento do mundo natural e social, com profundas implicações nas perspectivas de transformação do status quo político e econômico. A promoção de crítica dos fundamentos conceituais e de suas explicações é a chave para percepção de alternativas, garantindo o efetivo exercício democrático de fomento da diversidade e a da pluralidade. O educador comprometido com a promoção do conhecimento em prol da liberdade não pode, assim, furtar-se à atitude crítica ampla e permanente, reservada tanto às formas de preservação de tradições, como às inovações geradas pelo progresso. Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 2 de 16 No ato de educar sob este referencial crítico, cabe destaque à fundamentação dos conceitos. O ato de definir ou conceituar, embora se imponha como exigência de qualquer trabalho rigoroso, constitui uma coação desvantajosa ao pensamento crítico construtivo, voltado ao alargamento das possibilidades de compreensão daquilo que acontece. Ocorre que os acontecimentos são percebidos enquanto interpretados e é o conceito que corrige o olhar (Ortega-Gasset, conf. KUJAWSKI 1994, p.46). Como o conceito não é replica da coisa, mas a medida da coisa, a sua expressão exige relações de conexão com outras coisas. Graças a essa conexão que se estabelece ao se conceituar algo, pode-se tomar o mundo e as coisas como pertinentes a uma "rede de conceitos" e, com isso, ganha-se o domínio sobre as coisas porque elas passam a ser pensadas (ibid). Em contrapartida, há o desconforto (ou conforto, para a maioria) de se estar preso a essa teia conceitual, que constrange e mutila a coisa, graças aos propósitos de universalização do particular ou de homogeneização do heterogêneo. Como toda definição depende do tipo de relação que o cientista está buscando (SCHWENDIGER & SCHWENDIGER, 1980), a questão que pode ser colocada é: O quanto os conceitos propostos na educação ambiental fomentam o (des)entendimento, possibilitando a mesma dominação sob outras roupagens, através da preservação do conceito de causalidade? De que forma o uso do conceito de risco poderia oferecer opção, particularmente no entendimento de acidentes e catástrofes ambientais? Para atender esta questão, propõe-se o exame crítico dos conceitos básicos em educação ambiental apresentados por Meadows 1989, patrocinados pelo programa de Proteção Ambiental da ONU (UNEP/UNESCO) e promovidos no país pelo Ministério de Educação e Desporto e pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SEMA, 1999). Pretende-se mostrar as implicações do exercício da visão mítica na educação ambiental, presente nessa obra, e propor o uso da incerteza como instrumento heurístico, capacitando o educador à promoção da condição humana e à denuncia dos embustes ideológicos. Para tanto, prestar-se-ia como referencial teórico todo o esforço recente para superação da metafísica, que se dá a partir das obras fundamentais de Nietzsche (18441900), levado avante por Heidegger (1889-1976) e expresso de forma particular pelo existencialismo de Ortega-Gasset (1883-1955). Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 3 de 16 2. Causalidade e a percepção transcendente “... porque é unicamente sob olhar de um mundo de fins que a palavra ‘acaso’ toma sentido.” F. Nietzsche, 1882, #109 da “A gaia ciência”. A lógica da causalidade acompanha a condição humana na sua busca de entendimento das coisas do mundo. Por esta razão, o ato de expressar “causa” foi e continua sendo compartilhado em diferentes épocas e por diferentes culturas. Ainda que lhe falte sustentação, como demonstraram seus críticos já a partir de Hume (1711-1776), a noção de causalidade preserva-se, pois, em última análise, ela sustenta-se na metafísica, garantindo e sendo garantida pela concepção transcendental de um mundo criado, produto de um mistério. 2.1 Causa no pensamento “arcaico” ou “primitivo” A sobrevivência do homem sob a caça e coleta depende não apenas do exercício de destreza, da experiência e do conhecimento, mas também de uma maior ou menor dose de dependências do "acaso". Por acaso entende-se os eventos contingentes que por uma razão ou por outra se encontram fora do controle do sujeito (ATLAN 1996) . Ao acaso propriamente, liga-se o risco, sempre presente e determinando um resultado adverso não à empreitada em si, mas ao sujeito empreendedor. Controlar esse acaso, e não simplesmente negá-lo ou evitá-lo, foi desde sempre o mais sublime desígnio da vida humana (CLASTRES 1971, p.68). Os mais antigos registros conhecidos testemunham que, para o homem, a vida nunca foi um distanciamento dos perigos, mas sempre uma aproximação. A garantia para essa aproximação, livre dos acasos, foi o conhecimento, o qual nunca excluiu o mágico ou o religioso em complementaridade à destreza e à experiência (TOKAREV 1986, p.5-15). Embora não se possa formalizar uma distinção absoluta, antropólogos como Frazer (1854-1941) estabeleceram que a explicação religiosa pressupõe uma ordem superior flexível e caprichosa, capaz de mudar o curso das coisas pela ação das preces, se essa for a vontade e capricho dos deuses. Na explicação mágica, por sua vez, o curso da natureza é dado e estabelecido. A possibilidade de causa não se atém a um capricho divino mas às forças irrefutáveis presentes na natureza. Não cabem preces para se intervir no curso das coisas, mas sim rituais mágicos. Numa lógica própria, ações na natureza desviam o curso da sua causalidade (conf. AZCONA 1989, p.68). Enquanto o exercício mágico voltaRevista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 4 de 16 se para os problemas do cotidiano, o apelo religioso fica reservado aos grandes problemas coletivos, como as epidemias e às catástrofes naturais. (TOKAREV 1986, ELIADE 1963 p.87, ELIADE 1957 p.103-6). Na expressão religiosa predomina sobretudo o mito, o qual possibilita a vivência num plano sagrado, sobre-humano, transcendente, próprio das realidades absolutas (ELIADE 1963, p.123). A religião expressa o terror da incerteza, mas o incerto não é controlado, como na magia, ele é afastado e negado. Para o homem religioso o mundo tem um fim e uma ordem que não é a sua própria, embora faça parte dela. Na adversidade, o homem contrafeito busca resignação na suas crenças, a fé religiosa de uma ordem que está além dele, que o transcende, ao contrário do homem puramente mágico-supersticioso, inconformado com a inoperância do seu contra-feitiço ou com o erro de suas fórmulas. O mito apresenta-se como elo central na causalidade religiosa. Graças ao mito, não existe acaso na causalidade religiosa, não há também coincidências, pois o mundo é uma existência ordenada, conforme a concepção mítica. O mito dá a explicação para a ordem natural e humana das coisas, ele estabelece como e porque a ordem do mundo existe. Ou seja, melhor do que qualquer outra explicação possível, o mito dá ao mesmo tempo um sentido perfeito ao mundo. O sentido é perfeito porque está e não está ao mesmo tempo na realidade do homem, a partir do instante em que toda realidade pressentida deve ser reduzida àquela anterior, da ordem do fantástico e na forma do mito. Consequentemente, será no mito ou, mais particularmente, na sua interpretação que a causalidade será buscada. Assim como no pensamento mágico-supersticioso, haverá causalidade universal (causa para tudo) e não será tolerado o diferente (exclusão da alteridade), pois o mito garante a existência de todas as causas e de todos os arquétipos. A operação do mito busca uma lógica de compensação e conservação social, evitando, assim, qualquer mudança. Graças ao seu uso, as experiências da história e do tempo ficam excluídas (CHAUI 1995, p. 310) Viver na condição sagrada, ou, na vivência do mito, é exprimir o desejo de viver uma realidade objetiva, sem se deixar paralisar pela "relatividade sem fim das experiências puramente subjetivas" (ELIADE 1957, p.32). O homem afasta o risco das ilusões oferecidas pela realidade ao se aproximar desse mundo real e eficiente, proporcionado pelas certezas do mito. Esse horror à desordem, ao caos, atrai o homem para essa perfeição Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 5 de 16 exemplar. Em consonância com a interpretação dualista do mundo, a concepção míticoreligiosa mantém coerência separando o bem do mal. E, nas religiões monoteístas em particular, o mal fica excluído de qualquer positividade. Os conhecimentos mágico-supersticioso e mítico-religioso vinculam-se a determinadas tradições culturais e determinados interesses que estimulam essas construções heurísticas em detrimento de outras formas. Esta atração pelo pensamento de causalidade universal e de exclusão da alteridade foi atribuida ao preconceito por Adorno e col. (conf. JAHODA, G. 1977). Na década de 40 uma pesquisa conduzida entre norte-americanos mostrou que um cenário doméstico tirânico e arbitrário predispõe o sujeito ao preconceito e a aceitar explicações supersticiosas. O cenário de arbitrariedade, disciplina e rígido controle é incubador da intolerância, é a sustentação da rejeição do diferente e o apego às explicações absolutas. 2.2 Causa na concepção aristotélica e suas implicações Refutar os mitos, promovendo uma nova forma de compreensão das coisas do mundo, foi o propósito da filosofia nascida na Grécia antiga. Ao valorizar o “logos”, os gregos desenvolveram uma outra forma de verdade, baseada na palavra comum, derivada do conflito e acordo entre pessoas nas situações de divisão do butim. Causalidade passa a ser objeto de estudo e completa-se na divisão sistemática de Aristóteles, referência absoluta até a modernidade e fundamento das compreensões subsequentes. Na sistematização Aristotélica, causa subentende algo que produz algo. Além disso, graças à ela, passou a ficar claro que não se pode atribuir causalidade sem que uma finalidade seja estabelecida. Caracteristicamente, o pensamento aristotélico tentou sempre ser completo, concebendo diferentes gêneros de causa, sendo 4 os mais conhecidos. A causa material corresponde àquela que dá a matéria, a causa formal refere-se àquela que dá a forma, a causa motriz ou eficiente responde pela presença da forma e, finalmente, a causa final é aquela que responde pelo o que a coisa é (conf. CHAUI, 1995, p250-79). Como Aristóteles concebia uma causa maior, a causa final ou teleológica, todo o pensamento medieval vai tentar fazer convergir esse gênero de causa aristotélica com a vontade divina, dando ensejo àquilo que se conhece como escolástica. As etapas Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 6 de 16 subsequentes foram extremamente ricas, destacando-se, na formação do pensamento contemporâneo, as obras de Newton, Galileu e Descartes. Para se apreciar a contribuição de Newton (1642-1727) convém lembrar que até o século XVI e XVII predominava o princípio aristotélico separando as coisas cognoscíveis, presentes no mundo sublunar, das coisas dos céus, a rigor, à margem da razão. Com as leis da gravitação universal, Newton pode demonstrar que as relações observadas na terra podiam explicar os fenômenos entre planetas. Com isso, todo o universo tornou-se fronteira de especulação e de constatação de “leis”, cuja validade deve vincular-se essencialmente ao seu caráter universal. Essa nova forma de pensar, em franco desprezo às dicotomias clássicas de Aristóteles, tomou corpo já antes no início do renascimento, com a redescoberta da obra de Platão. A impossibilidade grega de confundir-se o mundo sensível com o mundo imaginado (como o cálculo e a geometria) é subitamente revogada quando Galileu (1564-1642) impõe ao artesão fórmulas geométricas para a construção de um telescópio. A Galileu não interessava os princípios dicotômicos da impossibilidade, mas sim que o telescópio operasse como se fosse um produto de geometria. Com isso, ele fez surgir a tecnologia (própria da ciência) em oposição ao artesanato (próprio da técnica). O valor passou então a ligar-se não mais às condições singulares, mas sim às propostas generalizantes, frutos da imaginação e da especulação mental. Mas tais concepções não teriam sido possíveis sem Descartes (1596-1650), que viabiliza a concepção aristotélica de causa à ciência, ao adotar apenas duas formas dentre as quatro originais. Ao reconhecer como causa apenas a causa eficiente e a causa final, rechaçando a causa formal e a causa material, ele apenas confirmava a sua concepção de primazia do pensamento sobre a matéria. (res pensans sobre res extensa). E ainda, se tudo submete-se às leis, qual o sentido de uma causa sem causa, ou do acaso? Como a causa final compete a Deus, coube a ciência limitar-se à causa eficiente. 2.4 Causalidade sob concepção pós-filosófica ou científica Até o início deste século ninguém poderia pensar cientificamente sem referir-se à relação causa-efeito, conforme a melhor tradição de ordenamento mecânico do mundo. O melhor exemplo nesse sentido na área da saúde foi o advento da bacteriologia. Causa, antes Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 7 de 16 um tema da filosofia, passou a ser objeto de especulação científica e a causalidade passou a ser configurada conforme o método científico. As formulações de hipóteses, verificação no mundo empírico e validação de teorias transformaram-se em descritores da realidade, até que a realidade recusou-se a se conformar às formas de descrição praticadas. Este golpe na prática do entendimento deu-se novamente na física e obrigou todas as outras ciências a reconsiderarem as relações mecânicas de causa-efeito. A necessidade de rever não apenas teorias mas os próprios referenciais metateóricos surge quando a física passa a se ocupar da ultra-estrutura da matéria. Reações químicas já vinham sendo explicadas de forma ni completa pelos químicos graças ao uso do conceito de molécula. Mas entender como isso estava ocorrendo só veio a ser possível com o uso do conceito de átomo, como partícula mais elementar. As compreensões complicaram-se quando se descobre a existência de outras partículas mais elementares no próprio átomo e entraram em crise com o paradoxo de Heisenberg, ao constatar-se que não se pode medir a carga e a posição do elétron ao mesmo tempo. Em paralelo, havia as disputas relativas à natureza da luz, ondulatória para alguns ou corpuscular para a física quântica. Mas o sistema clássico acaba desestruturado quando Einstein propõe (e constata) os efeitos gravitacionais na luz e opta pela sua dupla natureza, ondulatória e corpuscular, dependendo daquilo que se quer explicar. Essa aparente contradição decorre de várias particularidades nem sempre explícitas na prática científica. Ocorre que só há descoberta para aquilo que se procura. Ou seja, o fato de uma explicação apresentar elevada coerência não a faz mais próxima da realidade, às vezes, muito pelo contrário. Isto porque, embora a ciência tenha como referência o mundo empírico, ela em si é fruto da imaginação, absolutamente não existe numa forma material. Com isso, ela faz uso freqüentemente de coisas que também não existem, tais como molécula, partícula elementar, homem médio ou movimento retilíneo uniforme. Todas essas coisas, embora não existam, são abstrações fundamentais e necessárias para um dado entendimento humano. Isto fica bem claro com a exposição feita por POINCARÉ, 1902. Desde Galileu, o mundo empírico e o mundo teórico se relacionam (mas não se confundem) e se distanciam devido ao erro da observação, próprio à todo órgão sensível. Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 8 de 16 Ao reconhecer essa posição arbitrária, a ciência assume como perspectiva conhecer o “como” das coisas e não o seu “porque”. Com isso, as questões relativas às “causas” passam a ser impróprias, pois se a atenção deve ater-se ao “como”, interessa o contexto em que os fenômenos se dão (GRANGER 1974). Assim, nas ciências da saúde, explicar a doença de um sujeito “porque” ele tem um bacilo, tornou-se uma explicação pobre. Mesmo porque, um portador de bacilo nem sempre fica doente. Por outro lado, ao se configurar a doença a partir da presença concomitante do bacilo, da subnutrição, do desgaste, do estresse e dos genes, expressa-se os fatores de risco, ou seja, o contexto danoso. Contribuiu também para essa revisão de paradigmas a constatação definitiva da impossibilidade ou da inconveniência da mimética. Enquanto nos séculos anteriores popularizava-se a figura do autômato para descrever o homem, desvirtuando a colocação de Descartes, para quem o “homem podia ser entendido como uma máquina”, no século atual a verdade por correspondência pôde ser posta em dúvida. Com isso, foi possível desenvolver representações mais atentas às funções e menos às estruturas. Se o homem podia ser entendido como uma máquina, em termos de estrutura, a sua função não é ser máquina. Esse conhecimento será sistematizado pela teoria de sistemas, que, ironicamente, irá resgatar as categorias causais de Aristóteles, ao usar conceitos como modelo, software e hardware. Como conseqüência, o entendimento do mundo e do homem será reduzido ao entendimento das suas funções. 2. 5 A contribuição da teoria de sistemas Conceber um sistema é definir “espaços” ordenados, onde se pressupõe controle. A ordem, graças ao arranjo estruturado das entidades, delimita o meio interno, em contraste com o meio externo (o ambiente). Por definição, ambiente é tudo aquilo que importa, mas que não se tem controle (CHURCHMAN, 1971). Entre os espaços há a fronteira, cuja natureza poderá ser fechada, semifechada ou ainda, semi-aberta. Esta condição de fronteira, ou de comunicação entre o espaço ordenado com o não-ordenado, implica em diferentes processos para o funcionamento dos sistemas, admitindo-se, respectivamente, 3 arquétipos de funcionamento, como mecânico, orgânico e cibernético ou morfogênico (BUCKLEY, 1967). Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 9 de 16 Ponderar sobre problemas ambientais pressupõe essencialmente a reflexão sobre teoria de sistemas. Mas considerar o ambiente como um problema só foi possível a partir de uma abordagem muito particular nessa teoria. Isto porque, o ambiente só torna-se um problema quando ele passa a fazer parte do meio interno do sistema, convertendo-se em objeto de controle. Os problemas ambientais tornaram-se “problemas” quando os sistemas, até então concebidos como sistemas fechados ou mecânicos, passaram a ser interpretados como sistemas semifechados ou semi-abertos. Não é sem razão, portanto, que as soluções de controle usualmente propostas (como a reciclagem) sejam medidas típicas dos sistemas semifechados ou orgânicos (como a retroalimentação). Não é sem razão também que as análises de vanguarda se obrigam a considerar a “teoria do caos”, “conjuntos difusos”, “fractais”, e outras abordagens distantes do determinismo mecânico tipo “causa-efeito” em proveito da “complexidade” (MUNNÉ, 1995). Sendo assim, embora o mundo possa ser interpretado como uma condição fechada em dada escala, isto não implica que ele seja fechado. Da mesma forma, o fato de se observar variações sob uma ordem geneticamente dada (sistemas orgânicos) isto não implica numa ordem irrevogável. Muito pelo contrário, a concepção morfogênica sustenta-se na observação do processo histórico, o qual, embora possa ser carente de pleno sentido, mostra que a imutabilidade é uma ficção mítica e que o viver não pode se excluir do acaso. 3. Inerência do risco na condição humana “... Amo aqueles que não sabem viver a não ser como os que sucumbem, pois são os que atravessam....” (F. Nietzsche1884, “Prólogo de Zaratustra”) O homem encontra-se num sistema natural, cujas condições são estabelecidas pelo solo, pela água e pelo ar. Ao mesmo tempo, ele cria ambientes ou sistemas sintéticos, como o ambiente doméstico, do trabalho e do lazer. Cabe lembrar que um ambiente absolutamente natural não é de forma alguma adequado ao homem. Nem mesmo o selvagem na floresta admite viver como um animal, pressupondo sempre a modificação da natureza como adequação desta à condição humana. Consequentemente, as condições de vida do homem viabilizam-se num sistema ambiental misto, onde a natureza estabelece os meios e o homem os fins, uma vez que para a natureza, por ela mesma, não há fins. A rigor, como quis Lacan, “no real não falta nada” (conf. ZIZEK 1989 p.17). A natureza é o que é. Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 10 de 16 Mas quando homem interage com a natureza ele impõe a esta uma finalidade, encontrando faltas e excessos, e promove a aproximação deste fim trabalhando. Essa condição particular dos sistemas ambientais próprios à vida humana implica que a natureza deve sempre ser modificada nas suas condições físicas, químicas e biológicas. Isto quer dizer que, ao interagir com a natureza no sentido de humanizá-la (ou torná-la própria à vida humana) o homem se envolve em condições de riscos, os riscos ambientais. Mas porque tais interações determinam uma condição de risco? O homem recusa este estado de indiferença da natureza em relação a si mesmo. Ele recusa a perspectiva da morte combatendo a doença. Aquilo que é natural torna-se um sem sentido e, quando a sua luta contra a doença é inglória, ele ultrapassa a morte reinventando a vida. Esse exemplo de estado radical de insubordinação pode ser expresso numa condição contraditória: O homem é um ser natural contra a natureza. Dessa contradição, surgem ao homem duas possibilidades em relação à natureza: Intervir no seu curso e sujeitar-se ao “risco artificial” ou “tecnológico”, ou deixar de intervir e sujeitar-se ao “risco natural”, como no furacão ou no vendaval. Esse dilema estabelece um espaço de opção configurado pela ignorância. Como toda vida humana consciente tem uma finalidade, projetada graças à certeza da razão, o homem depara-se com a condição necessária e irremediável de se expor às incertezas, tanto àquelas decorrentes da sua ação (ou trabalho), como daquelas decorrentes da sua omissão. Disso pode-se estabelecer o segundo estado contraditório na condição humana: O homem é um ser para o risco. Reconhecendo-se um ser para o risco, o homem que busca certeza admite não se contentar com os seus instintos, a única certeza que a natureza pode oferecer a cada ser vivo, graças à combinação de genes dos mais aptos. Ao reconhecer-se nessa condição nãonatural (ou humana), e obrigando-se ao risco, o homem não só admite a sua ignorância em relação à natureza, como mostra a possibilidade de torná-la cognoscível. Isto porque, prevalece tanto o seu estranhamento em relação à ela, como o permanente convívio com a incerteza (ou risco), necessário à promoção de descobertas. Pois será nesse convívio com o Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 11 de 16 risco que a ignorância poderá ser superada, promovendo-se o conhecimento. Este é o seu preço e aquela é a sua tragédia. Mas tal reconhecimento não é o fim mas é o começo, quando o homem pergunta-se “qual é o papel do conhecimento” e se dá conta que a resposta não é única. Assim, seria papel do conhecimento buscar as “leis” da natureza ou descrever suas contradições? O mundo é lógico ou se dá lógica ao mundo, convivendo-se com uma eterna incompletude explicativa? O propósito é dominar o mundo ou compreendê-lo para melhor aceitá-lo nas suas contingências? Estas dúvidas, ao contrário das aparências, não constituem obstáculos à promoção humana, mas são os seus degraus de ascensão. O desafio ao espírito lúcido é o seu fomento e preservação, ou, em outras palavras, não se deixar que a dúvida se perca no conforto dos preconceitos e dos mitos. E a dúvida se renova a todo instante, quando o homem se vê diante das forças brutas da natureza, onde conta muito pouco o legado natural (os seus genes), e muito mais aquele legado dolorosamente construído nas incertezas, que é a cultura. É por isso que a cada cultura caberá uma solução, ou que a cada cultura caberá um conhecimento. É isto que justifica a rejeição à dominação cultural, ao “aculturamento” ou à indústria cultural de massa. 4. Discussão: Cultivo dos mitos e o sustento da opressão “...se o ‘próximo’ louva o desinteresse é porque dele tira lucro!” F. Nietzsche, 1882, #21 em “A gaia ciência”. A educação ambiental é uma atividade política (PHILIPPI JR. & PELICONI, 2000). Mas quando a educação toma por base as “causas”, excluindo o acaso e, portanto, a análise do contexto e do processo nele expresso, ela exclui a possibilidade de conflito e alimenta o mito da harmonia, dissimulando os interesses da opressão. Tal como a prática capitalista que não opera sem a contradição intrínseca dos seus princípios, pois é impossível a universalização do processo de extração de mais valia, também os conceitos de Meadows 1989 (SEMA, 1999) não alcançam coerência a não ser na contradição. Seus temas não diferem da exposição aqui oferecida, mas a sua articulação denuncia o seu referencial. Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 12 de 16 Defendendo a observância das “leis imutáveis” (p.29) Meadows refere-se tanto à entropia (p.27) como aos sistemas “auto-sustentáveis” (p.57). Ora, nessa condição contraditória, o seu conceito de “ciclos” (p.35) só se viabiliza sob a égide de outro sistema não mencionado: o do sistema sustentante. Propostas para uma “ecologia global”, onde a reciclagem em diferentes níveis opera para preservar “recursos limitados” e para “reduzir dejetos” (p.78), desconsidera que os “recursos limitados” são tanto de ordem financeira como não-financeira. Como os primeiros são bem mais limitados que os segundos, aqueles terão preferência, não se poupando materiais, energia ou esforço humano (recursos nãofinanceiros). Além disso, o pressuposto que um sistema pode operar com elevadas taxas de trabalho interno (reciclagem) sem algum aporte externo de energia é um pressuposto tipicamente mecânico (o relógio). Sem energia vindo do meio externo, como nos sistemas orgânicos ou sócio-culturais, há consumo de recursos de meio interno, cujo destino é o fenecimento. Logo, não é sem razão que países pobres, carentes de recursos financeiros, sofram crescente degradação ambiental e aviltamento da força trabalhadora, enquanto que nos países ricos se observa cada vez mais recursos financeiros direcionados para a reciclagem de dejetos, cuja viabilidade não pode prescindir dos aportes de capital a “fundo perdido”. Assim, a aproximação da utopia de desenvolvimento “auto-sustentado”, uma impossibilidade termodinâmica, dá-se de fato na forma de “desenvolvimento sustentado por outro”, com os sistemas periféricos transferindo aos sistemas centrais cada vez mais matéria e energia, graças às relações desiguais de troca da economia capitalista (1). Tal como a economia capitalista, dependente de formas não-capitalistas para a sua viabilização (como denunciou Rosa Luxemburgo no século passado e hoje ainda se constata no apelo às ações voluntárias), assim também o ecologismo dos países centrais depende ora da hiperexploração dos recursos naturais das economias periféricas, ora do seu controle para que as suas próprias “commodities” não percam o valor de troca. Ultrapassada esta fase, às economias periféricas cabe explorar seus recursos “de acordo com a cultura local” (p.88-90), na forma de “produção tradicional”, à margem da exploração capitalista praticada pelo monopolismo dos países centrais. Como aquelas não podem praticar o “desenvolvimento sustentável”, sustentado por alguma “outra”, só lhes resta para tal a “organização, educação e disciplina” (p.84), os valores ascéticos pregados por Schumacher, calcados na corrente liberal-individualista, onde o problema e a solução Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 13 de 16 competem a cada um (p.87). O freqüente apelo ao “trabalho duro” (p.90), como se a iniquidade pudesse ser assim ultrapassada, trai o uso da ética protestante, que proclama os males da ganância (p.74-5) mas que evita em todas as passagens a denúncia da desigualdade nas relações de troca. Porque o problema dos pobres é a falta de educação (p.76) e, na vigência da desigualdade, quem tem menos deve ser mais criativo, ou “sofisticado” (p.77), ou então se contentar com esse menos (p.67). Em consonância com uma postura de aversão ao conflito, Meadows sustenta seus argumentos no mito, declarando-se de forma manifesta ao defender a “sacralização da natureza” (p.103) e a validade do processo não racional, ou “intuição”, para se lidar com a incerteza (p.101). Ora, tratar a intuição como um processo heurístico não-racional demonstra a confusão entre racionalidade e lógica da não-contradição. Se um ignorante é incapaz de compreender a obra de arte, isto não a faz menos racional. Pela mesma razão, tanto o acaso destituído de sentido, como o comportamento da natureza (FENSTAD 1998), não se excluem necessariamente da racionalidade, ainda que lhes faltem “leis” ou “previsibilidade”. O uso da mesma lógica mítica se dá também em termos mais implícitos, ao proclamar o planeta como um “organismo vivo”, a “Gaia”, (p.42), fruto de equilíbrios, expresso sob a interpretação de “sistemas complexos” (p.45). Não ocorre a ela, entretanto, que a proponente da teoria da Gaia (Lymn Margulis) tem se dedicado a refutar tal paralelismo, calcado na ignorância das concepções fisiológicas (www:xsnrg.com/sciencewriters). Não ocorre a ela também que sistemas complexos são precipitantes (PERROW 1984) e, por isso mesmo, morfogênicos. A simples idéia de que um sistema possa se viabilizar “revolucionando” as suas estruturas torna-se inconcebível para uma lógica fundamentada na noção de equilíbrio, cuja validade ficcional ficou bem representada no fracasso da missão de MacCallum e seus colegas na “Biosfera 2”, em 1994 no Arizona, EUA (maiores detalhes em www.bio2.edu). Presa a essa concepção de estruturas e funções na tentativa de estabelecer relações de equilíbrio, Meadows não se dá conta de que há uma distinção entre os sistemas naturais (relativos à natureza) e os sistemas sintéticos (relativos ao homem). Enquanto estes são plenos de finalidade, aqueles carecem de objetivos (SIMON,1968). Pressupor “objetivos”, Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 14 de 16 “harmonia entre subsistemas”, “estabilidade, flexibilidade e eficiência” (p.54) nos sistemas naturais é negar a condição de natureza ao vulcão, ao cometa em rota de colisão ou à explosão solar capaz de enregelar o planeta por séculos. No seu conflito contra a “ordem” natural, é também o homem que promove a tão admirada biodiversidade (2). Traindo o seu referencial lógico, liberalismo individualista em prol da ordem burguesa calcada em Spencer, a autora é incapaz de refletir sobre as conseqüências dessa distinção fundamental e de suas possibilidades, pois se a natureza é o que é, onde só sobrevive o mais forte, os homens são o que são porque não aceitam o perecimento do mais fraco, seja outro homem, seja outro ser vivo. Ou, como expressou Nietzsche: "Darwin esqueceu o espírito" (F. Nietzsche, 1888 #14 "Incursões de um extemporâneo" em “Sobre o niilismo e o eterno retorno”). Esquivando-se da crítica à lógica da acumulação capitalista, Meadows refugia-se na transcendência para expor os “fins fundamentais” do homem (p.71). Com isso, ela exclui da discussão um dos maiores paradoxos da modernidade, que é o fato do homem preferir sujeitar-se à exploração capitalista em troca da abundância de bens de consumo. Por outro lado, quando se tem em mente que a condição humana caracteriza-se pelo bem-estar, algo mais que o estar-no-mundo, e que este bem-estar expressa-se pela disponibilidade de supérfluos, como quis ORTEGA-GASSET (1963), entende-se porque a proteção ambiental apresenta este discurso em detrimento dos menos possuídos. Para estes, a natureza converte-se numa necessidade à própria existência miserável, enquanto que para os países ricos, tal necessidade já não mais existe e a natureza é um mero supérfluo a ser conservado (LIEBER & ROMANO-LIEBER,1997). 4. Conclusão Uma forma de educação incapaz de promover a liberdade não se justifica como prática e nem se sustenta enquanto teoria. Sua proposta de solução não pode ser a apologia ao não-racional, mas sim a promoção de uma racionalidade cada vez mais completa, capaz de sustentar a justa atribuição de responsabilidades relativas aos riscos. A conservação da natureza imposta como uma obrigação generalizada, em contraste com a opção do homem livre, fomenta o mito da culpa em detrimento da atribuição de responsabilidades. Alguém tem opção mas não a usa, alguém tira mais proveito mas não repara ou ressarce. Alguém Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr17.pdf) EPEA 2001 15 de 16 cria contextos em benefício próprio, passíveis de imprevistos ou acasos. A rigor, nem o selvagem conserva, ele apenas explora sem objetivo de acúmulo, pois sua necessidade não se satisfaz com o simples estender da mão. O homem pobre, preso às urgências da sobrevivência, também se constrange com o ambiente degradado, mas a redução da sua liberdade vai além do assumir riscos, como o selvagem. O homem pobre presta-se ao processo de acumulação e a sua esperança é que, algum dia, seus filhos possam alcançar a verdadeira liberdade (ou a plena autonomia como definiu SEN, 1999), capaz de converter a natureza explorada no supérfluo a ser admirado e guardado para os que virão a seguir, como um símbolo de exaltação da memória. Notas (1) Recente estudo do fundo Monetário Internacional, FMI, (Dollar & Kraay Growth is good for the poor , 2000), usado para justificar as suas políticas, confirma que os países pobres acompanham os países ricos nas fases de crescimento e estagnação. Ou seja, o processo de “sustento” depende da contínua drenagem desigual de recursos de um sistema para outro, pois “soma zero” (auto-sustentado) é a operação sob “perdas zero” ou de reversibilidade absoluta, uma contradição ao aumento da entropia do universo. (2) Estudo recente demonstrou que a floresta amazônica só é virgem na imaginação ocidental. A grande diversidade biológica observada foi devida a intensa antropia decorrente das culturas nativas, conf. Baleé, 1994. (Apud. DESCOLA, 1999, p. 115). Referencias bibliográficas ATLAN, H. (1996) As Fronteiras da ciência. O Correio da Unesco, 24(5): 4-7, 1996. AZCONA, J. (1989) Antropologia I; trad. L.M.E. Orth. Petropólis, Ed. Vozes, 1992. BUCKLEY, W. (1967) A sociologia e a moderna teoria dos sistemas; trad. O.M. Cajado. 2ed. São Paulo, Cultrix, 1976. CHAUI, M. (1995) Convite a filosofia. São Paulo, Ed. Ática, 1995. CHURCHMAN, CW (1971) Introdução à teoria de sistemas; trad. F.M. Guimarães. Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 1971. CLASTRES, P. 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(CD-Rom arquivo: tr17.pdf)