MOTOR LINEAR DE INDUÇÃO BIFÁSICO: ANÁLISE DO CAMPO MAGNÉTICO PELO PROGRAMA FEMM Falcondes J. M. Seixas1, Francisco C. V. Malange2, Ricardo Henrique O. G. Rangel3, Rodolfo Castanho Fernandes4, Priscila da Silva Oliveira5 Abstract The Linear Induction Motors (LIM) belong to the Group of electric machines that convert electrical energy directly into mechanical energy in the form of translational motion. Thus, unlike the rotary machines, linear motors are capable of producing linear motion, without the need for mechanical couplings as belts or gear sets, resulting in greater precision and acceleration in the positioning of the moving piece. This work presents a study of the behavior of the magnetic field and their amplitude along the stator and the rotor of a LIM. Computational analysis of magnetic flux is made using a free computer program (FEMM-Finite Elements Methods on Magnetics), based on theory of "finite elements". Through this analysis it is possible to develop prototypes of LIMs with maximum efficiency, relating to mechanical power delivered to the load. Palavras-chave Método Magnético de Elementos Finitos, Motor Linear de indução, SLIM, Campo Viajante MOTOR LINEAR DE INDUÇÃO (MLI) Com relação a sua topologia, esse tipo de motor é confeccionado segundo os mesmos princípios físicos que explicam o motor rotativo. Destarte, as máquinas lineares são obtidas a partir de um processo imaginário de “corte” e “desenrolamento” do motor rotativo, assim como está apresentado na Figura 1 [1]. FIGURA. 2 FORÇAS ATUANTES EM UM MLI Através da análise da Figura 2 é possível inferir que a força longitudinal, que está no mesmo sentido do campo magnético viajante (não mais girante), é responsável pelo movimento linear. Além disso, o circuito elétrico equivalente por fase, que rege esse tipo de máquina, é apresentado de forma analítica na Figura 3. FIGURA. 3 CIRCUITO ELÉTRICO EQUIVALENTE DO MLI FIGURA. 1 TRANSFORMAÇÃO DE UM MOTOR ROTATIVO NUM MLI Associado aos parâmetros de construção desse tipo de máquina elétrica está o fator de qualidade (G), expresso em (1). A otimização desse fator concorre para o aperfeiçoamento da eficiência do MLI. Ademais, três forças são as principais envolvidas no MLI, são elas: longitudinal (eixo x), de atração (eixo y) e lateral (eixo z) [2]; conforme representadas na Figura 2. G 2. 2 . 0 . f . r d (1) .g 1 Falcondes José M. Seixas, Prof. Dr., UNESP – Univ. Estadual Paulista. [email protected] Francisco Carlos V. Malange, Prof. Dr., UNESP – Univ. Estadual Paulista. [email protected] 3 Ricardo H. O. G. Rangel, Graduando, UNESP – Univ. Estadual Paulista. [email protected] 4 Rodolfo Castanho Fernandes, Ms. C., USP – Univ. de São Paulo. [email protected] 5 Priscila da Silva Oliveira, Pós-Doc, UNESP – Univ. Estadual Paulista. [email protected] 2 DOI 10.14684/WCSEIT.1.2013.59-63 © 2013 COPEC November 17 - 20, 2013, Porto, PORTUGAL I World Congress on Systems Engineering and Information Technology 59 τ - Passo polar; d – Espessura do rotor; f – Frequência; g – Entreferro; ρr – Resistividade elétrica do material constituinte do secundário. A partir da equação do fator de qualidade do MLI, podem-se extrair as seguintes conclusões: O fator de qualidade depende diretamente do passo polar. Ou seja, o aumento do passo polar acarreta uma elevação da área efetiva dos circuitos magnético e elétrico. Isto significa que maiores serão o fluxo magnético e a corrente elétrica no rotor e, por conseguinte, maior será a força longitudinal. Ainda, o aumento do passo polar acarreta num aumento da velocidade do MLI, uma vez que esta é equacionada por v=2·τ·f. Isto fornece um estudo detalhado e comparativo entre o fator de qualidade e a velocidade pretendida para a máquina elétrica. Como o fator de qualidade varia inversamente com a resistividade da chapa rotórica (ρr) é importante que esta resistividade seja a menor possível. Assim, maior será a intensidade de corrente no rotor e, consequentemente, maior será a força longitudinal. O fator de qualidade também varia inversamente com o entreferro, g. No que diz respeito à prática, para que a análise do comportamento magnético fosse realizada, aproveitou-se o protótipo de um MLI desenvolvido na Universidade Estadual Paulista (UNESP). O escopo do mesmo é apresentado na Figura 4. MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS A partir da metodologia científica para resolução de problemas, têm-se duas propostas: a utilização de métodos analíticos ou de métodos numéricos. No primeiro caso obtém-se uma solução exata, pois é permitido impor condições de contorno de forma simplificada e, no outro caso, obtém-se uma solução aproximada, pois a imposição de condições de contorno se torna mais complexa. Em relação ao software livre utilizado, o FEMM [3], o método aplicado é numérico: método de elementos finitos (MEF). Assim sendo, a solução adquirida é aproximada. Esse método envolve quatro etapas principais: discretização da região; aproximação da solução; condensação de um sistema e resolução do sistema [4]. A etapa de discretização da região busca a solução para um número finito de regiões ou elementos. A etapa seguinte, aproximação da solução a partir da interpolação polinomial, obtém uma equação que corresponde a cada elemento. A terceira etapa, condensação do sistema, realiza a inclusão das equações de todos os elementos. A quarta e última etapa realiza a resolução do sistema de equações e extrai a solução do problema. Portanto, o conceito desse método numérico é aproximar uma variável contínua através de um modelo discreto constituído por um grupo finito de funções contínuas por partes. Esse número finito de funções contínuas corresponde exatamente ao número de elementos definidos. Na Figura 5 pode ser visualizado um esquema da sequência do método matemático há pouco descrito. FIGURA. 5 ESQUEMA DO CONCEITO BÁSICO DO MEF No que diz respeito aos elementos ou regiões, estes podem ser de vários tipos, como pode ser visto na Figura 6. FIGURA. 4 PROTÓTIPO ELEMENTAR DE UM MLI DE SIMPLES ESTATOR Ademais, a máquina elétrica analisada possui um enrolamento de camada única e energização por um sistema bifásico. © 2013 COPEC FIGURA. 6 TIPOS DE ELEMENTOS FINITOS UTILIZADOS PELO FEMM Como já mencionado, tais análises são realizadas através de simulações gráficas e obtenção de valores November 17 - 20, 2013, Porto, PORTUGAL I World Congress on Systems Engineering and Information Technology 60 numéricos, gerados a partir de uma ferramenta computacional, o software FEMM. Após o procedimento de parametrização, como forma de melhor ilustrar, apresentar-se-á o layout do protótipo com a simulação concluída. Assim, na Figura 7, é possível visualizar a parte do MLI de estator simples com os seguintes detalhes: rotor; circuito magnético; fronteira; nomenclatura e número de espiras e os blocos nomeados com os materiais utilizados em cada parte da máquina elétrica. FIGURA. 8 PERFIL DA DENSIDADE DE CAMPO MAGNÉTICO PARA O ESTATOR CONSTITUÍDO DE AÇO M-19 FIGURA. 7 LAYOUT DO MODELO DO MLI CONFECCIONADO NO FEMM Ainda, na Figura 7, é possível visualizar inúmeros elementos triangulares. O número de elementos, neste caso, o triângulo, expressa a precisão da simulação. Sendo que essa precisão pode ser parametrizada para cada bloco do modelo e tem a principal função de refinar os blocos do modelo em que os maiores gradientes são esperados. Para conferir mais informação, no canto inferior direito é gerada uma tabela com algumas informações; entre elas, o número de elementos. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Assim como mencionado na introdução do trabalho, as simulações dizem respeito aos seguintes aspectos: análise do fluxo magnético no entreferro, diferentes medidas de entreferro, diferentes materiais do circuito magnético e variação da medida do passo polar. Primeiramente, entrando com parâmetros elétricos práticos no programa, realiza-se a análise do fluxo magnético ao longo do entreferro. Após a simulação obtémse o comportamento da densidade de campo magnéticos ao longo da máquina, Figura 8 e, em seguida, a intensidade deste campo, Figura 9. © 2013 COPEC FIGURA. 9 PERFIL DE DENSIDADE DE CAMPO MAGNÉTICO (B) AO LONGO DE PARTE DO ESTATOR PARA MEDIDAS DE 0 A Π RADIANOS ELÉTRICOS Adiante, realiza-se a análise do campo magnético no MLI através da obtenção do valor da intensidade das forças de atração (eixo y) e longitudinal (eixo x) desenvolvida pelo rotor em função da variação da medida do entreferro. Esta variação apresenta o passo de um milímetro, partindo de um milímetro até cinco milímetros. Sendo que esse procedimento foi realizado com a atribuição dos mesmos parâmetros para todas as medidas de entreferro. November 17 - 20, 2013, Porto, PORTUGAL I World Congress on Systems Engineering and Information Technology 61 Para melhor ilustrar o decréscimo da força longitudinal, força que gera o deslocamento do rotor, em relação ao aumento da medida do entreferro foi elaborada a Figura 10. Gráfico Força longitudinal x Entreferro 0.028 M A G N IT U D E D A F O R Ç A L O N G IT U D IN A L [N ] 0.026 0.024 Outra simulação que demonstra grande importância para a busca de uma melhor eficiência para o protótipo é a alteração das medidas do passo polar. No caso do protótipo confeccionou-se o passo polar com 40 milímetros. Para entender o que esperar da alteração do passo polar é preciso estudar as equações a seguir, as quais interferem diretamente na velocidade do MLI. Sabendo que a equação da velocidade síncrona, Vs, é descrita em (2): Vs 2 f 0.022 0.02 onde τ é o passo polar e f a frequência. É importante, neste ponto, definir o passo polar τ. Este parâmetro é a distância entre dois polos vizinhos ao longo do estator [5], sendo determinado em (3): 0.018 0.016 0.014 0.012 (2) 1 1.25 1.5 1.75 2 2.25 2.5 2.75 3 3.25 ENTREFERRO [mm] 3.5 3.75 4 4.25 4.5 4.75 5 FIGURA. 10 GRÁFICO DA FORÇA LONGITUDINAL X MEDIDA DO ENTREFERRO Em seguida, realiza-se a análise do comportamento de fluxo magnético e algumas de suas implicações para o caso da utilização de diferentes materiais na placa alocada acima do rotor, chamada de circuito magnético. Sendo que esta placa tem a exclusiva função de concatenar mais linhas do campo magnético sobre a mesma e, principalmente, sobre o rotor. Apesar do inconveniente do aumento da força peso sobre o rotor, sem essa placa o rotor apresenta uma densidade de campo magnético irrisória. E, por isto, não desenvolve uma força longitudinal. Como maneira de comprovar a ineficiência do MLI sem o circuito magnético, na Tabela I são apresentados os valores das forças atuantes no rotor. TABELA I VALORES DAS INTENSIDADES DAS FORÇAS DE ATRAÇÃO E LONGITUDINAL PARA O CASO DA ALTERAÇÃO DO MATERIAL DO CIRCUITO MAGNÉTICO 2 R p (3) onde 2πR é o comprimento do núcleo do estator do MLI, Ls, idêntico à circunferência do motor rotativo e p é o número de polos. Consequentemente, o passo polar também pode ser expresso em (4): 2 R Ls p p (4) Dessa forma, chega-se a conclusão que o aumento da dimensão do passo polar provoca o aumento da velocidade síncrona do rotor do MLI. Sabendo que a frequência utilizada no protótipo é fixa, com o valor de 60Hz, a única variável possível de sofrer alteração é o passo polar. É possível, também, inferir que o passo polar é alterado através da variação do comprimento do núcleo do estator, Ls, e/ou do número de polos, p. Sendo assim, a simulação foi realizada para o dobro e triplo do valor do passo polar original que é de 40mm. A seguir, na Tabela II, estão os resultados para este ensaio. TABELA II VALORES DA INTENSIDADE DAS FORÇAS DE ATRAÇÃO E LONGITUDINAL PARA O CASO DE ALTERAÇÃO DA MEDIDA DO PASSO POLAR © 2013 COPEC November 17 - 20, 2013, Porto, PORTUGAL I World Congress on Systems Engineering and Information Technology 62 CONCLUSÃO O resultado da simulação sobre a análise do fluxo magnético no entreferro ao longo do estator do SLIM é muito relevante para entender o protótipo estudado e confeccionado e, principalmente, para vislumbrar aumento de sua eficiência. Dessa forma, como resultado central, notou-se que o protótipo apresenta uma considerável variação da amplitude de densidade de campo magnético no entreferro. Fato este devido à falta de rigor no projeto da construção do protótipo, mais especificamente em relação ao uso de idêntica bitola de fio para confecção do bobinamento nos enrolamentos principal e auxiliar. Ou seja, o correto é projetar o enrolamento principal, localizado mais próximo à base, para possuir uma maior reatância indutiva e uma menor resistência elétrica quando comparado ao enrolamento auxiliar, localizado próximo ao topo do estator. Esta técnica faz uma importante diferença para que se desenvolva um fluxo magnético resultante próximo ao ideal, o constante. Portanto, esta falha concorreu para que essa máquina elétrica apresentasse a variação da densidade de campo magnético ilustrada na Figura 8. Quanto ao ensaio realizado a partir da variação da medida do entreferro, é possível concluir que quanto menor a medida do entreferro maior é a força longitudinal. Este fato se apoia na teoria de que quanto maior o entreferro maior é o valor da relutância magnética. Com isto, segundo a lei de Hopkinson, mantendo a força magnetomotriz constante, o fluxo diminui. Com relação à análise da alteração do material constituinte do circuito magnético, as simulações servem como base para inferir que, sem o circuito magnético, o valor da força longitudinal desenvolvida pelo rotor é pífio e, portanto, nessas condições não ocorre aplicação para o projeto de um MLI. Quanto à alteração dos materiais, fica claro que todos os materiais, por serem da classe ferromagnética, apresentam alta permeabilidade relativa. Resumidamente, o material que melhor apresentou aproveitamento do fluxo magnético foi o mesmo usado empiricamente, o aço M-19. Para o caso do passo polar, o aumento para 80 e 120 milímetros, respectivamente, provocaram aumento do valor da força longitudinal e diminuição do valor da força de atração, ou seja, quanto maior o passo polar maior o desempenho dessa máquina elétrica. Segundo a teoria do fator de qualidade, este fato se explica por acarretar uma elevação da área efetiva dos circuitos magnéticos e elétrico, que significa maiores fluxo magnético e corrente elétrica no rotor e, por conseguinte, maior força longitudinal. confecção dos enrolamentos do estator e à PAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo suporte. REFERÊNCIAS [1] FRAZÃO, E. S. C., Simulação do Funcionamento do Motor Linear de Indução Utilizando o Matlab/Simulink, Trabalho de graduação, Instituto Superior de Engenharia do Porto, 2008. [2] BHAMIDI, S. P., Design of a single sided linear induction motor (SLIM) using a user interface interactive computer program, Tese de Mestrado, Departamento de engenharia elétrica da Universidade de Missouri - Columbia, Maio 2005. [3] MEEKER, D. (2012). FEMM – FINITE ELEMENT METHOD MAGNETICS (Versão 4.2) “Aplicativo”. Obtido em www.femm.info. [4] JUNIOR, W. P. C., Introdução ao Método de Elementos Finitos, Florianópolis, 2001. [5] DEL TORO, V., Electric Machines and Power Systems, PrenticeHall, Inc., Englewood Cliffs, New Jersey, 1985. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a empresa ITB – Equipamentos Elétricos LTDA que doou as lâminas de aço silício, à empresa Palombo´s Enrolamentos que colaborou na © 2013 COPEC November 17 - 20, 2013, Porto, PORTUGAL I World Congress on Systems Engineering and Information Technology 63