III Musicom

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III ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR
Negócio da música em tempos de interatividade
30 de agosto a 1º de setembro de 2011 – Faculdade Boa Viagem–Recife-PE
1
MARINÊS E SOLANGE ALMEIDA1
A indústria fonográfica no xaxado e na pisadinha
Libny Silva Freire2
Antônio Carlos Amaral Barbosa3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resumo: O Nordeste, tanto o sertão como o litoral, caracteriza-se por ser reduto das mais
diversas manifestações culturais. Na busca por uma identidade, a música está presente,
representando grupos, culturas e marcando épocas. As experiências vividas nos bailes e festas
de forró, também chamados simplesmente de forró, remetem às raízes do indivíduo, gerando
uma identidade, senso de pertencimento, com o poder simbólico, capaz de construir
realidades. Analisamos a indústria fonográfica e as transformações na mediação nas relações
entre artista e público, a partir do advento da internet. A partir desse cenário, observamos o
gênero forró, tanto o dito tradicional, quanto o eletrônico, traçando um perfil das cantoras:
Marinês, a Rainha do xaxado e Solange Almeida, vocalista da Banda Aviões do forró.
Palavras-chave: Indústria Fonográfica. Forró. Trajetória. Mulher
For All: Classificações
Entre alguns pesquisadores não é consensual a origem do termo forró, alguns afirmam
que vem da palavra forrobodó, que significa baile ou festa, origem defendida pelo Câmara
Cascudo (1988). Em contrapartida, se declara que a palavra forró surgiu da expressão em
inglês for all, em razão da presença estrangeira no nordeste no início do século XX, quando
os trabalhadores ingleses organizavam bailes abertos para a população, ou seja, para todos −
for all.
1
Trabalho apresentado ao GT1: Memória e história midiática da música do III Musicom – Encontro de
Pesquisadores em Comunicação e Música Popular, realizado no período de 30 de agosto a 1º de setembro de
2011, na Faculdade Boa Viagem, em Recife-PE.
2
Jornalista, mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN) atua na linha de
Produção de Sentido. Participa do grupo de pesquisa PRAGMA, associada à Rede Folkcom, pesquisa mídia,
cultura popular, música e suas relações com gênero. Bolsista REUNI Contato: [email protected].
Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4413636H1
3
Publicitário, atua como produtor musical há 12 anos e é mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em
Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte [PPgEM-UFRN], na linha de pesquisa
Estudos da Mídia e Produção de Sentido. Aluno bolsista Reuni e estagiário de Docência Assistida na UFRN.
Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do
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Entretanto, Chianca (2006, p. 87) afirma que
[...] independentemente dessa querela, é importante assinalar que esse termo
designa, a partir dos anos 1970, tanto o gênero musical quanto a dança que o
acompanha, assim o baile onde ele será tocado/dançado: dança-se forró num forró,
enquanto se escuta um forró. Também vale lembrar que o forró não é uma
dança/música exclusiva do São João, pois é executado o ano todo, chegando a ser
identificado nacionalmente como um dos símbolos da "cultura nordestina".
Nos anos 50, o forró, executado nos bailes da região norte-nordeste, era direcionado
aos migrantes nordestinos, que frequentavam as festas com o intuito de manter contato com
os símbolos de sua cultura, manter a memória de sua terra natal. Com essa estratégia
comercial, as casas que tocavam forró mantinham seus clientes e a partir desses sucessos,
veiculados nas emissoras de rádio, foi se construindo essa indústria de música regional
nordestina, com representantes como Marinês, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro que
permaneceram no mercado fonográfico com boa vendagem de LP’s e tendo suas composições
interpretadas por artistas de outros gêneros, inclusive, fator que contribuiu para a difusão da
música regional para demais grupos da população.
Nos anos 90, com a utilização da sanfona e temas relacionados ao Nordeste, diversas
representações do forró surgiram, mas por serem de estilos variados, ganharam denominações
diferentes.
O forró divide-se em três categorias principais: tradicional, universitário e eletrônico.
Silva (2003, p.17) nos dá os conceitos:
Forró tradicional – Surgido em meados da década de 1940. Caracteriza-se pela criação
artística do universo do homem sertanejo. Apesar de compartilharem de um universo
cultural comum, seus principais artistas se diferenciam social e historicamente.
Atualmente não tem tido muito destaque na mídia por não serem reconhecidos como
produtores de grandes sucessos, isto é, com forte retorno comercial.
Forró Universitário – Surgiu a partir de 1975 (1ª fase), mas consolidou-se na década
de 1990 (2ª fase). É fruto da junção do forró tradicional com a musicalidade do pop e
do rock. A fusão da linguagem regional do forró com a linguagem da música popular
urbana, mixando tanto os atributos e valores do rock quanto do forró tradicional,
gerou um novo estilo de forró que ganhou adeptos e apreciadores de várias classes
sociais. Nesta segunda categoria, incluem-se os primeiros artistas a introduzirem
instrumentos eletrônicos no forró.
Forró eletrônico - A partir do início da década de 1990. Sua característica principal é a
linguagem estilizada, eletrizante e visual, com muito brilho e iluminação, empregando
equipamentos de ponta, com maior destaque para o órgão eletrônico, que
aparentemente “substitui” a sanfona. Inspira-se na música sertaneja romântica
(country music), no romantismo dito brega e na axé music. A banda é composta em
média por dezesseis integrantes, todos jovens, incluindo músicos e bailarinas.
Quando pensamos em forró tradicional, temos Luiz Gonzaga como ícone, responsável
pela difusão do gênero. O pernambucano, nascido em Exu, iniciou sua carreira musical
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tocando em bares e calçadas na zona portuária do Rio de Janeiro. Após um período, percebeu
que havia um espaço na indústria fonográfica brasileira para a música regional e passou a usar
a indumentária do homem sertanejo, cantando e tocando em festas e rádios pelo Brasil. O
ritmo, originado do trio zabumba, sanfona e triângulo, chegava aos nordestinos migrantes
como uma lembrança da terra natal. Esses elementos identitários, como a vestimenta,
linguajar e ritmo explicam o sucesso do forró no sudeste do país, primeiramente entre os
migrantes, pois a classe média não aceitava a música de Gonzaga e criticava o sotaque, e por
isso, inicialmente suas canções foram interpretadas por outros músicos. Após um período, em
turnê pelo Nordeste, Gonzaga passou a ser reconhecido nacionalmente, em parceria com
Humberto Teixeira, lançou ritmos como o xamego e baião e posteriormente, o forró. Tornouse o “Rei do Baião” (SILVA, 2003).
Há diversas críticas dos adeptos do forró tradicional em relação ao eletrônico,
entretanto, ambos estão imbuídos de estratégias mercadológicas, tanto a vestimenta de Luiz
Gonzaga como as dançarinas do forró eletrônico foram colocadas para gerar experiências com
a música, formar identidades, remeter à cultura, e claro, manter o seu público.
Em relação às estratégias de Luiz Gonzaga, Lima (2010 p.142) afirma
Essa postura de Luiz Gonzaga como senhor do mercado cultural permitiu uma maior
aproximação da indústria cultural e da mídia do eixo Rio-São Paulo com a cultura
popular nordestina. Houve o “despertar” por parte da indústria. Com isso, a música
regional vai permitir a inclusão de novos artistas.
O forró eletrônico recebe diversas acusações, entretanto, apresenta-se como um dos
mais vendáveis. O maior lucro das bandas, não é através da vendagem dos CD’s, mesmo
porque com a pirataria fica difícil de fazer essa contabilidade, o sucesso e consequente lucro,
é obtido através da realização dos shows, das turnês pelo Nordeste, ou dependendo do alcance
da banda, pelo país. As apresentações são, como dissemos, um espetáculo à parte, as pessoas
se identificam com um bordão, inventado por um intérprete, para assistir as dançarinas e
cantar o sucesso do momento da banda. Quando falamos sucesso do momento, nos referimos à
rapidez com que as composições novas são trabalhadas e logo substituídas, diferente do que
ocorre com outros segmentos da música, como a MPB, no qual o artista tem uma música de
trabalho, que é aquela que geralmente dá nome ao CD, que é usada nas rádios e em
apresentações na TV. Com o forró eletrônico é diferente, pois eles fazem diversos shows, às
vezes mais de uma vez, no mesmo mês e lugar, para isso é necessário que as músicas sejam
compostas e vistas como produto, que logo consumido, deve ter outra novidade a ser
apresentada ao público, senão a banda se torna defasada em relação às demais, já que a
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concorrência é enorme. As apresentações ocorrem em vaquejadas, comemoração de
aniversário da cidade, festas de padroeira e em micaretas, que são os carnavais fora de época.
Para essas apresentações e para manter seu público, as bandas executam as suas músicas mais
rapidamente, dando a elas o ritmo de axé music, mudando até o nome das bandas nessas
apresentações, em uma alusão ao trio elétrico, usado nas micaretas, as bandas tornam-se
Aviões Elétrico (Aviões do Forró), Ferro Elétrico (Ferro na Boneca) e Cavaleiro Elétrico
(Cavaleiros do Forró).
Indústria Fonográfica e internet: Novas formas de produção e consumo
O termo indústria cultural criado por Adorno (1967) designa o processo de
industrialização pelo qual passa as produções artísticas e culturais, inseridas no modelo
capitalista de produção, que são lançadas no mercado, negociadas e vendidas, como uma
mercadoria qualquer de consumo, provocando uma padronização nessas obras e
manifestações culturais. Podemos entender a indústria cultural, não apenas como
influenciadora do consumo, mas também como sendo a relação, mediada pelas novas
tecnologias, do produto com o consumidor, numa sociedade, tipicamente, de massa.
Dentre os elementos consumidos podemos incluir a música e a indústria fonográfica
como participante dessa indústria cultural. A música é responsável pela expressão cultural e
contribui para a formação de uma identidade
A indústria fonográfica representa um conjunto de empresas voltadas para produção,
gravação e difusão de mídia sonora, através de diversos formatos, como LP e fita cassete –
formatos abandonados – CD, DVD, ou em formatos de som digital como o MP3, também
organizam a realização de shows e programação de turnês.
No Brasil, nasce nos anos 70 o setor fonográfico, e cresce, estabelecendo uma
mediação entre o artista e o público. Essa relação foi afetada a partir dos anos 90, com as
inovações tecnológicas no campo da comunicação, como o advento da internet, alterando as
formas de produção, difusão de informações e relações emissor-receptor. Munidas de aparato
tecnológico, surgiram gravadoras independentes, em seus estúdios caseiros, pirataria através
da internet4, download de arquivos sonoros, inclusive via celular, despertando a polêmica
sobre direitos autorais.
4
A pirataria sempre existiu. Após o lançamento dos LP’s, era comum encontrar fitas cassetes com o conteúdo do
disco original sendo comercializadas por vendedores ambulantes, a preços inferiores. O advento da internet,
apenas mudou a forma de piratear, através dos chamados downloads.
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Todos esses fatores colaboram para uma perda da exclusividade da indústria com seu
público consumidor, incitando a necessidade de novos formatos, estratégias e práticas.
Entendemos a crise como o estopim para um novo posicionamento dessa indústria para com
seu público, trata-se se uma reestruturação dos padrões de apresentação, difusão e consumo de
música nos dias atuais.
A música de forró tem sua temática ligada aos aspectos culturais e cotidianos do
nordeste. Considerado um subgênero do forró, o eletrônico surgiu devido a esse novo
território da indústria fonográfica, onde variadas transformações ocorreram, principalmente
no que diz respeito à produção e distribuição da música. O forró eletrônico trouxe mudanças,
no que diz respeito à composição das letras de suas músicas e apresentações de shows, tem
sua linguagem própria, vestimentas e estilo de dança, ambos influenciados pela demanda do
mercado fonográfico
No forró eletrônico, assim como nos demais gêneros musicais, produzidos para uma
cultura de massa, as composições musicais pertencem à mesma lógica de produção da
indústria cultural. Nesse processo de comunicação, entendemos indústria cultural e mídia,
atuando como produtores de sentido, que busca gerar identificação com o público-consumidor
do seu produto: o forró eletrônico e seus discursos, imbuídos de representações da cultura
nordestina.
Indústria Fonográfica Regional: Somzoom Sat
Através do cearense Emanoel Gurgel, nasceu a Somzoom Sat, uma emissora de rádio
via satélite, responsável por lançar a primeira banda de forró eletrônico, a Banda Mastruz com
Leite. A Somzom Sat envolve um conjunto de outras empresas no mesmo segmento, indo do
rádio via satélite ao entretenimento, como disco, selo fonográfico, bandas de forró e casas de
shows e estúdio de gravação, tendo, porém como segmento de maior sucesso as bandas de
forró.
O forró eletrônico e os dispositivos midiáticos por ele utilizados, não podem ser
desvinculados da indústria cultural e indústria fonográfica, que integram a cultura do
entretenimento no meio musical.
Sobre essa relação entre indústria fonográfica, mídia e música, Filho (2008) declara:
Na medida em que a experiência musical é permeada, cada vez com maior
intensidade, por camadas de mediações que se estabelecem no diálogo conflituoso
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com a indústria fonográfica, percebe-se com maior clareza a importância de estudar
as canções como objetos expressivos marcados pela relação com a mídia.
Observamos que a postura utilizada pela indústria fonográfica, no gênero forró
eletrônico, retrata a transformação da música popular em produto de consumo para a
sociedade, na busca por atingir o maior número de consumidores.
Elas por Ela: As trajetórias de Marinês e Solange Almeida
Analisemos duas mulheres, representantes da música nordestina. De um lado Marinês,
a primeira mulher a formar um grupo de forró, do outro, Solange, vocalista de banda de forró
eletrônico, que mudou fisicamente e reinventou a própria imagem, se enquadrando no
estereótipo das cantoras do segmento.
Inês Caetano de Oliveira (1935 -2007), nascida em São Vicente Férrer (interior
pernambucano), filha de pai seresteiro e mãe cantora de igreja, mudou-se ainda criança para
Campina Grande/PB e começou a participar de programas de calouros aos 10 anos de idade.
Para participar de um concurso de calouros na rádio local e passar despercebida pelos pais,
mudou seu nome para Maria Inês, entretanto na hora de anunciar a candidata o locutor a
chamou de Marinês, nome que passou a adotar a partir de então.
Casada aos 14 anos com o sanfoneiro Abdias dos Oitos Baixos, formou com o marido
uma banda, vindo a tornar-se um trio, com a chegada do zabumbeiro Cacau. O trio executava
o repertório de Luiz Gonzaga em diversas cidades do interior do Nordeste. Numa dessas
apresentações, Marinês conheceu o Rei do Baião, cantaram juntos e com o apoio dele passou
a ser conhecida como a Rainha do xaxado. Também a apelidou carinhosamente de "Luiz
Gonzaga de saias". Os vínculos com Gonzagão foram permanentes, assim como sua
indumentária: o gibão e o chapéu de vaqueiro, demonstrando a ligação com as raízes e
costumes do nordeste.
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Disponível
13/06/2011.
em
http://www.vagalume.com.br/marines/discografia/outra-vez-marines.html.
Acesso
7
em
Nos anos 60, Chacrinha chamou seus músicos de sua gente. Marinês e Sua Gente
ganharam o Nordeste do Brasil. Lançou mais de 40 discos, participou de programas de
televisão e filmes e foi gravada por inúmeros artistas, homenageadas por grandes nomes da
música brasileira, como Elba Ramalho e Gilberto Gil, além de espetáculo teatral que conta a
sua trajetória.
Em 1960, recebeu o troféu Euterpe no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, como a
melhor cantora regional.
Gravou ainda o LP "Outra vez Marinês", que lhe rendeu um
segundo troféu Euterpe, além de ter obtido o prêmio de melhor vendagem. Em 1988 recebeu
discos de ouro com "A dama do Nordeste" e "Bate coração".
Faleceu em 2007, vítima de um acidente vascular cerebral que foi acometida um mês
antes de sua morte. O SESI da Paraíba, na edição 2011 do Troféu Gonzagão, a homenageou
pelo legado e valorização da cultura nordestina através da música.
Natural da cidade de Alagoinhas/BA, Solange Almeida é cantora profissional, foi
backing vocal da banda Caviar com Rapadura. Hoje é vocalista da Banda Aviões do Forró,
junto com José Alexandre, conhecido como Xand. Formada em Fortaleza/CE em 2002, por
quatro empresários da A3 Entretenimento, o nome da banda foi escolhido por “aviões”
significar, popularmente, mulher bonita, em uma alusão às dançarinas da banda.
Eleita como melhor cantora através do prêmio Jackson e Gonzagão 20115, em votação
realizada anualmente com base no voto popular através do site, Solange Almeida, também
conhecida por Solanja e Sol, no início à frente do vocal da banda não se encaixava nos ditos
padrões estéticos das demais vocalistas das bandas de forró eletrônico, que se apresentavam
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http://premiojacksonegonzagao.blogspot.com/
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com roupas sensuais e carregadas de erotismo, que usavam o corpo como forma de sedução
no palco. Apesar da voz e carisma, legitimados pelo público, a aparência física era
questionada sobre ser apropriada para uma vocalista de banda de forró eletrônico. Em
entrevista
publicada
no
jornal
O
Povo
(25/03/2011),
um
dos
donos
da
A3
Entretenimento, Antônio Isaías Paiva Duarte – Isaías Cd - responsável por montar a Banda
Aviões do Forró comenta “As cantoras eram só as mulheres bonitas e eu escolhi a Solange,
pesando 120 quilos. Era fã dela desde a Banda G6. Em 2008, Solange Almeida se submeteu a
cirurgia de redução do estômago, passando a usar o manequim 36 em substituição ao
costumeiro manequim 54, além de plástica na barriga e silicone nos seios. A mudança é o
motivo da maioria dos comentários em sites e blogs. No blog da cantora há diversas
referências a mudança do visual, algumas delas são justificadas por aumento da autoestima,
mensagem direcionada aos fãs e postadas diariamente, com fotos, com citações das grifes de
roupas por ela usadas. Segue abaixo, fotos que registram os dois momentos:
Disponível em http://blog.collecione.com.br/2011/05/relembrar-e-viver-antes-e-depois-de.html. Acesso em
21/06/2011.
Diferente do conceito de sexo, que representa as condições físicas e biológicas, o
gênero trata de representações, do masculino e do feminino e em como elas manifestam em
determinados grupos sociais, através de processos culturais, inclusive. A música por
representar períodos, comportamento e valores da sociedade, também lida com o gênero. Com
6
http://www.opovo.com.br/app/opovo/paginasazuis/2011/05/23/noticiapaginasazuisjornal,2247865/forro-parastodos.shtml
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a luta pela igualdade dos gêneros, vemos a mulher tomando posições, até então ocupadas
somente por homens, como por exemplo, o papel de provedora da família. Consideramos que
essa atual posição feminina deveria ser também considerada em sua mediação pela música,
que possui conteúdo simbólico, por manifestar as representações sociais. Dessa forma, vemos
esse trabalho como ponto de partida para esses questionamentos.
Analisando a discografia de Marinês percebemos que, nas canções que interpretava,
não mantinha uma postura de submissão, pelo contrário, a artista foi combatida pela
sociedade por considerar que as canções iam de encontro aos costumes da época.
O blog Cifra Antiga comenta:
Gravou diversas músicas consideradas apimentadas e que mexeram
com a moral da época, como Peba na pimenta e Pisa na fulô, de
João do Vale, Cadarço de sapato, Xote da Pipira e Viúva nova,
entre outras. Devido a essas gravações, chegou a ter problemas com
os meios católicos do país, tendo ocorrido casos de padres que
durante as missas pediam aos fiéis para não comprarem seus discos,
como
foi
o
caso
de
Peba
na
pimenta.”
Observando o contexto histórico do forró cantado por Marinês, vemos um nordeste
patriarcal e machista, onde a mulher não podia falar nada relacionado à sexualidade. O
nascimento do forró eletrônico se dá nos anos 90, época onde se discutia tabus como
virgindade aborto. Esses períodos permitiram análises distintas sobre a “qualidade” das
músicas de ambos os gêneros.
Abaixo temos uma das composições, que fizeram a cantora Marinês “não
recomendável” pela Igreja Católica e em seguida, interpretada por Solange Almeida, Mulher
não trai, mulher se vinga, canção que apresenta uma mulher antes dependente do homem,
mas que agora reivindica seus direitos
Peba Na Pimenta7
Seu Malaquias preparou cinco pebas na pimenta,
Só do povo de Campinas convidou mais de sessenta
Entre todos convidados convidou Maria Benta
Benta foi logo dizendo: Se arder não quero não!
Seu Malaquias disse então: Pode comer sem susto, esse pimentão,
Não arde não!
Benta danou-se a comer a pimenta era da "braba"
E danou-se a arder, ela chorava e se mal-dizia:
Ai se eu soubesse dessa peba não comia!
Depois houve o arrasta-pé o forró 'tava esquentando
O sanfoneiro então me disse tem gente aí dançando
Procurei pra ver quem era...
Mas era a Benta reclamando:
Ai, ai seu Malaquias a pimenta que 'cê deu só ardia!
Tá ardendo eu sei que tá! Tá me dando uma agonia
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Disponível em http://letras.terra.com.br/dkv/326910/. Acesso em 10/06/2011
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Composição: João do Vale / José Batista / Adelino Rivera
Mulher Não Trai, Mulher Se Vinga8
Mulher não trai, mulher se vinga
Mulher cansou de ser traída
Mulher se vinga, mulher não trai
Eu era boba, não sou mais...
Ficar em casa esperando você (Já foi)
Ficar dizendo o que devo fazer (Já foi)
Você curtindo aí a sua vida
E eu perdendo amigos e amigas...
Ficar te amando e você nem aí (Já foi)
Se divertindo e zombando de mim (Já foi)
Você curtindo ai a sua vida
E eu perdendo amigos e amigas...
Escuta meu bem
Eu não fico atrás
Entre um homem e uma mulher
Os direitos são iguais... (2x)
Eu bato de frente
É dente por dente, é olho por olho...
Composição: Elvis Pires e Rodrigo Mell
É comum ouvirmos que forró eletrônico não é forró, que possui duplo sentido, é
apelativo, e que, no forró tradicional, não temos composições que expõem o lado sensual com
linguagem erótica. Inúmeras são as barreiras impostas para que se consolide um novo gênero
musical, a legitimidade dependerá de fatores culturais e sociais
“As manifestações culturais que evocam costumes já estabelecidos e foram
apropriadas por amplas camadas da população como “legítimas” têm mais
chances de canonização. Já o caminho dos produtos culturais híbridos é
usualmente mais turbulento, seja pela identificação com estéticas populares,
seja pela confrontação com formas “tradicionais”, que muitas vezes têm seus
sentidos “originais” deslocados. A luta para afirmar autenticidade e
conquistar legitimidade como novo gênero local, regional ou nacional é
constante.” (KISCHINHEVSKY, HERSCHMANN p. 168, 2006)
O lugar que um indivíduo ocupa socialmente determina a leitura que ele faz da
música, podendo gerar sentidos diversos. Não pretendemos entrar na questão frankfurtiana −
música boa e ruim – entendemos que essas questões estão ligadas também às classes sociais,
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Disponível em http://letras.terra.com.br/avioes-do-forro/1385545/ Acesso em 13/05/2011.
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como por exemplo, o indivíduo de classe média alta não compra roupas em lojas populares,
porque seu poder aquisitivo difere do poder aquisitivo dos consumidores destas lojas, e ele
usando as mesmas roupas, está dizendo “somos iguais”. Com o samba e as gafieiras, ocorria o
mesmo, a classe média brasileira preferia bossa nova, “música de intelectuais”.
CONCLUSÃO
A música é uma multiplicidade de discursos, que aliados à perfomance, marketing e
alta tecnologia penetram em diversos grupos e culturas. Entendemos que a música não
apresenta o mesmo significado para todos que a escutam. Cada ouvinte usará sua imaginação,
seus valores familiares, suas lembranças, crenças e emotividades para dar a ela uma
interpretação, um significado. Por isso, ela terá vários efeitos em comunidades variadas, por
serem de raízes culturais diferentes.
Em nossos apontamentos, buscamos lançar novos olhares sobre a representação dessas
mulheres no gênero musical a que pertencem, levando em consideração o fator histórico, os
recursos visuais que adquiriram, como por exemplo, o vestuário com signos da cultura
nordestina ou procedimentos cirúrgicos para ter uma nova imagem, considerada adequada à
posição em que ocupa.
Entendemos que estas ações correspondem a estratégias da indústria fonográfica para
angariar e manter seu público, e que, escolhas como repertório e saudação dada ao público,
irão conter estratégias mercadológicas.
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ed. Recife: FJN/Massangana; São Paulo: Cortez, 2001
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relógios:
ensaios
sobre
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1996.
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FILHO, Jorge Cardoso. Emergência do Sentido na Canção Midiática: uma proposta
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GOMES, Isaltina; TROTTA, Felipe; LUSVARGHI, Luiza. Fora do Eixo: indústria da
música e mercado audiovisual no Nordeste. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2010.
KISCHINHEVSKY, Marcelo; HERSCHMANN, Micael. A nova música regional do Brasil.
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nzagao_2011
III ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR
Negócio da música em tempos de interatividade
30 de agosto a 1º de setembro de 2011 – Faculdade Boa Viagem–Recife-PE
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