DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA Boletim Informativo Ano 1 - Número 1 - Outubro de 2007 Editorial Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP) do Centro de Ciências Rurais (CCR) da UFSM é composto por seis setores que possuem laboratórios próprios e atuam nas áreas de Ensino, Pesquisa e Prestação de serviços relacionados à Saúde Animal e Saúde Pública. Esses setores são mantidos com recursos da Universidade, de agências financiadoras (CNPq/FAPERGS) e da prestação de serviços. Historicamente, o DMVP tem se preocupado em estabelecer vínculos com a comunidade, que permitam a difusão e utilização dos serviços e conhecimentos gerados nos seus laboratórios de diagnóstico e pesquisa. É neste sentido que o departamento está lançando o boletim informativo “Medicina Veterinária Preventiva”, uma publicação semestral direcionada a Médicos Veterinários de campo e produtores. O objetivo deste informativo é levar aos profissionais de campo informações atualizadas sobre assuntos de interesse na prática profissional, contemplando as áreas de Doenças Infecciosas, Doenças Parasitárias, Indústria e Inspeção de Carnes, Ornitopatologia, Ecologia e Biossegurança e Saúde Pública Veterinária. A atualização contínua de profissionais de campo em assuntos técnicos se constitui em um dos pilares da atuação profissional e certamente contribuirá para a melhoria das atividades dos Médicos Veterinários em suas respectivas áreas de atuação. Esse boletim também objetiva motivar os profissionais de campo a interagirem mais com a comunidade acadêmica, buscando soluções e alternativas para o bom desempenho de sua atividade profissional. Esperamos que essa iniciativa de estreitar os vínculos entre o DMVP e a comunidade profissional encontre receptividade junto aos colegas Médicos Veterinários. PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT) Agueda P. Castagna de Vargas O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT) foi instituído em 2001 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) com o objetivo de diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na saúde comunitária e promover a competitividade da pecuária nacional. O PNCEBT introduziu a vacinação obrigatória contra brucelose bovina e bubalina em todo o território nacional e definiu uma estratégia de certificação de estabelecimentos de criação livres e/ou monitorados onde essas enfermidades são controladas com rigor. Breve diagnóstico da situação atual A brucelose, causada por Brucella abortus, e a tuberculose, causada por Mycobacterium bovis, estão disseminadas por todo o território nacional, porém a sua prevalência e distribuição regional não estavam bem caracterizadas. Sabese que a brucelose atinge tanto o gado de corte quanto o gado de leite, enquanto que a tuberculose é um problema mais sério para os produtores de leite. Ambas enfermidades afetam também a população de bubalinos. O último diagnóstico de situação da brucelose bovina em nível nacional tinha sido realizado em 1975, quando foi estimada a porcentagem de animais soropositivos em cada Unidade Federativa. Posteriormente, outros levantamentos sorológicos por amostragem, realizados em alguns estados revelaram pequenas alterações na prevalência de brucelose. Os resultados das décadas de 1980 e 90 permitem constatar coerência com os resultados de 1975 (Tabela 1). SETOR DE BACTERIOLOGIA · Diagnóstico, tratamento e controle de enfermidades reprodutivas e respiratórias, mastites, tuberculose, brucelose. · Métodos moleculares para pesquisa e diagnóstico; · Produção de vacinas autógenas para eqüinos e suínos; · Controle microbiológico em alimentos, matéria prima e rações para animais; · Participa no Projeto Rede Sul de Análise de Genomas e seqüenciamento do genoma de Mycoplasma hyopneumoniae; · Treinamento e habilitação de médicos veterinários para participarem do PNCEBT - Brucelose e Tuberculose. · Mestrado (uma vaga anual) Endereço: Prédio 44 – CCR 2 – Sala 5137 - Fax: (55) 3220 8257 – Fone: (55) 3220 8107 Professora: Agueda C. de Vargas ([email protected]). ESPAÇO PUBLICITÁRIO Tabela 1. Prevalência de brucelose bovina em Unidades de Federação em 1975 e nas décadas de 1980 e 90. UFs 1975 (%) RS 2,0 0,3 (1986) SC 0,2 0,6 (1996) PR 9,6 4,6 (1989) MS 6,3 6,3 (1998) MG 7,6 6,7 (1980) Em 2002, novo levantamento da situação da brucelose em Minas Gerais revelou prevalência próxima a 1% de animais positivos, demonstrando a eficácia de um programa de vacinação bem conduzido. Encontra-se em fase final um estudo epidemiológico da brucelose, em nível nacional e com metodologia padronizada, no qual todos os estados das regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e alguns do Nordeste e Norte já estão bem estudados (Tabela 2): Tabela 2. Prevalência de brucelose bovina nas Unidades de Federação até agosto de 2005 UF RO MT TO GO DF SE BA ES RJ MG SP PR SC RS (a) 2,12% (0,41%<CI<3,82%) (b) 7,52% (4,88%<CI<10,99%) (a) 0,64% (0,00%<CI<1,74%) (b) 0,64% (0,08%<CI<2,29%) (a) 0,05% (0,00%<CI<0,13%) (b) 0,61% (0,08%<CI<2,20%) Prevalência (%) Amostras (n) focos casos Estabelecimentos Animais 34,57 6,22 927 9.717 41,19 10,25 1.118 13.536 20,99 5,27 1.842 20.913 16,20 3,01 895 10.738 2,79 0,14 278 2.019 11,24 2,14 591 4.757 4,30 1,34 1.413 10.913 9,00 3,53 622 5.351 15,48 4,10 945 8.242 6,04 1,09 2.204 20.643 9,70 3,81 1.073 8.761 3,89 2,34 2.098 14.808 0,02 0,06 1.588 7.801 2,17 1,01 2.038 15.973 BRASIL ... ... 17.621 (a) 1,04% (0,41%<CI<1,68%) (b) 7,55% (4,34%<CI<11,31%) (a) Estado RS: 1,01% (0,60%<CI<1,42%) (b) Estado RS: 2,17% (1,61%<CI<2,74%) (a) 2,61% (0,32%<CI<4,90%) (b) 5,73% (2,65%<CI<10,60%) (a) 0,00% (-,—%<CI<-,—%) (b) 0,00% (0,00%<CI<1,27%) (a) 0,95% (0,00%<CI<1,97%) (b) 3,11% (1,43%<CI<5,83%) LEGENDA:(a) = Prevalência de brucelose bovina em fêmeas > 24 meses. (b) = Prevalência de focos de brucelose bovina. Figura 1.Estratos meso-regionais dos municípios do RS para o inquérito soro-epidemiológico da brucelose Estratégia A estratégia de ação deste programa é baseada em medidas voluntárias e medidas compulsórias. A certificação de estabelecimentos de criação livres e de estabelecimentos de criação monitorados, de adesão voluntária, é um instrumento que os produtores e o setor agro-industrial podem utilizar para agregar valor aos seus produtos. Assim sendo, este não é um programa apenas do governo federal e dos governos estaduais, mas sim um conjunto de projetos que envolve o setor produtivo e suas comunidades, o setor industrial e os consumidores, não esquecendo os médicos-veterinários que atuam no setor privado. Em outras palavras, o setor público atua como agente certificador dentro de um processo que envolve diretamente toda a cadeia produtiva. São também preconizadas medidas sanitárias compulsórias de eficácia comprovada, como a vacinação de bezerras entre os três e oito meses de idade contra a brucelose e o controle do trânsito de animais destinados à reprodução, com o objetivo de baixar a prevalência e incidência de casos destas doenças, até níveis compatíveis com ações sanitárias mais drásticas, que caracterizam um programa de erradicação. Prevê-se que no espaço de uma década seja possível reduzir a prevalência de estabelecimentos de criação afetadas para valores próximos a 1%, nos estados que implantarem o programa dentro do cronograma previsto. Deve ser ressaltado que a vacinação contra a brucelose tem prioridade máxima neste Programa. Para garantir a qualidade técnica das ações do programa, foi elaborada uma série de medidas que visam: (a) capacitar médicos-veterinários e laboratórios, tanto oficiais como privados; (b) padronizar e modernizar os métodos diagnósticos utilizados; (c) permitir as ações de fiscalização e monitoramento que cabem ao serviço oficial de defesa sanitária animal; e (d) melhorar a integração deste com o serviço oficial de inspeção de produtos de origem animal. 154.185 Fonte: DBT/CGCD-DSA, 2006 Os dados de notificações oficiais de brucelose indicam que a prevalência de animais positivos se manteve entre 4% e 5%, no período de 1988, 1998 e 2005. no RS, a prevalência de brucelose foi constatada mais alta na região da Campanha, onde mais de 10 milhões de cabeças dos 14 milhões do rebanho total estão localizadas (Figura 1). Os dados de notificações oficiais de tuberculose bovina indicam prevalência média nacional de 1,3% de animais infectados, no período de 1989 a 1998. Um levantamento realizado em 1999, no Triângulo Mineiro e nas regiões do centro e sul de Minas Gerais, envolvendo aproximadamente 1.600 estabelecimentos de criação e 23.000 animais, estimou a prevalência aparente de animais infectados em 0,8%. No mesmo estudo, foram detectados 5% dos estabelecimentos de criação com animais reagentes, sendo importante destacar que este valor subiu a 15% no universo de estabelecimentos de criação produtores de leite com algum grau de mecanização da ordenha e de tecnificação da produção. Objetivos específicos do programa a) Baixar a prevalência e a incidência de focos de brucelose e de tuberculose; b) Criar um número significativo de estabelecimentos de criação certificados que ofereçam aos consumidores produtos de baixo risco sanitário. 2 outro estabelecimento de criação livre. Os testes de diagnóstico para brucelose são realizados exclusivamente em fêmeas de idade igual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses, e em machos e fêmeas não vacinadas, a partir dos 8 meses de idade. São submetidos a testes de diagnóstico para tuberculose todos os animais com idade igual ou superior a seis semanas. As atividades de saneamento para certificação de estabelecimentos de criação livres de brucelose e tuberculose são realizadas por médicos-veterinários que atuam no setor privado, desde que devidamente habilitados pelo MAPA. O Estado de Sergipe teve o primeiro estabelecimento de criação certificado como livre de brucelose e tuberculose no Brasil. O certificado foi dado a um estabelecimento leiteiro do município de Porto da Folha. No RS, o primeiro estabelecimento de criação certificado livre foi a Cabanha Potigo, de Giruá. Propostas Técnicas Vacinação contra a brucelose Com esta ação objetiva-se baixar consideravelmente a prevalência da brucelose bovina e bubalina. É obrigatória a vacinação de todas as fêmeas daquelas espécies, entre 3 e 8 meses de idade, com amostra B19. Em estabelecimentos de criação certificadas recomenda-se que as bezerras sejam vacinadas até 6 meses de idade, de forma a minimizar a possibilidade de reações vacinais nos testes de diagnóstico. Este programa implica em aumento significativo da produção de vacina B19 e, por isso, está sendo estabelecida rotina de estimativa de demanda anual e de organização da distribuição do produto, à semelhança do que hoje é feito para a vacinação contra febre aftosa. A vacinação de fêmeas adultas, que seria útil em regiões e estabelecimentos de criação com alta prevalência de infecção, só será permitida com imunógenos que não interferem nos testes de diagnóstico, após aprovação e nas condições definidas pelo MAPA. O PNCEBT estabeleceu prazo até dezembro de 2003 para cada estado implantar em todo o seu território a obrigatoriedade de vacinação de bezerras contra a brucelose. As Unidades da Federação com serviços veterinários melhor estruturados buscaram logo atingir a cobertura vacinal mínima de 75%. A vacinação só pode ser realizada sob responsabilidade de médicos-veterinários, que devem estar cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária animal de seu estado de atuação. Quando a meta de ter ao menos 75% da população de fêmeas adultas vacinada entre 3 e 8 meses de idade for alcançada, a prevalência de brucelose deverá situar-se em níveis que permitam passar à fase de erradicação. Certificação de estabelecimentos de criação monitorados para brucelose e tuberculose Em virtude da dificuldade de aplicação das normas técnicas estabelecidas para estabelecimentos de criação livres a uma parte importante da pecuária de corte, criou-se a certificação de estabelecimento de criação monitorada para brucelose e tuberculose, também de adesão voluntária. Nestas, os testes de diagnóstico são realizados por amostragem. Se não forem detectados animais reagentes positivos, a estabelecimento de criação recebe o atestado de monitorado para brucelose e tuberculose. Se forem encontrados animais reagentes positivos, os animais não incluídos na amostragem inicial são submetidos a testes diagnósticos e todos os animais reagentes-positivos são sacrificados ou destruídos. Somente após esta etapa o estabelecimento de criação receberá o certificado de monitorado para brucelose e tuberculose. Em estabelecimentos de criação monitorados, os testes são realizados apenas em fêmeas com mais de 24 meses e em machos reprodutores, com periodicidade anual para brucelose e a cada dois anos para tuberculose. Só poderão ingressar no estabelecimento de criação animais com dois testes negativos ou provenientes de estabelecimentos de criação de condição sanitária igual ou superior. À semelhança dos estabelecimentos de criação livres, os estabelecimentos de criação monitorados são obrigados a ter supervisão técnica de médico-veterinário habilitado. O certificado de estabelecimento de criação monitorado para brucelose e tuberculose é atribuído exclusivamente a fazendas de gado de corte. O MAPA entende que esta pode ser uma forma eficaz de diminuir a prevalência destas enfermidades em estabelecimentos de criação com grande número de animais e de criação extensiva, enquanto garante o reconhecimento oficial de um trabalho sistemático de vigilância e saneamento. Para as indústrias exportadoras de carne, é muito importante poder dar garantias aos mercados consumidores de que o seu produto provém de estabelecimentos de criação onde o controle destas doenças é feito de forma sistemática, aplicando o conceito de gestão de risco. O Estado de Rondônia foi pioneiro no processo de certificação do PNCEBT no Brasil, ao atribuir o 1º certificado sanitário relacionado a brucelose e tuberculose a ma estabelecimento de criação do país (monitorado para brucelose e tuberculose). No RS, foi Tupanciretã, a Cabanha Jaguary, que recebeu o primeiro certificado de monitorada, já renovado no ano de 2007. Certificação de estabelecimentos de criação livres de brucelose e tuberculose A certificação de estabelecimentos de criação livres de brucelose e de tuberculose tem como objetivo padronizar o controle dessas enfermidades, dentro dos princípios técnicos sugeridos pelo Código Zoosanitário Internacional e aceitos internacionalmente. A adesão é voluntária, uma vez que as normas sanitárias exigidas só serão efetivamente cumpridas quando os pecuaristas se beneficiarem da condição sanitária adquirida. A experiência no país demonstra que se o combate a doenças endêmicas como a brucelose e a tuberculose, cujo controle é baseado em teste e sacrifício de animais, consistir apenas em exigências sanitárias, sem que sejam criados incentivos e mecanismos de compensação, a probabilidade de sucesso é reduzida. Tais incentivos encontram-se em fase de desenvolvimento, em colaboração com a indústria. O saneamento dos estabelecimentos de criação que entram em processo de certificação é feito testando todos os animais e sacrificando os reagentes positivos. Os testes em todo o rebanho são repetidos até obter três testes sem um único animal reagente positivo, ao longo de um período mínimo de nove meses. Uma vez terminado o saneamento, a estabelecimento de criação obtém o certificado de livre, cuja manutenção depende do cumprimento de todas as regras e normas sanitárias estabelecidas. Os estabelecimentos de criação certificadas ficam obrigados a repetir os testes anualmente, em todos os animais. Deve destacar-se a exigência de dois testes negativos para o ingresso de animais no estabelecimento de criação, se os animais não forem provenientes de 3 Controle do trânsito de reprodutores e normas sanitárias para participação em exposições, feiras, leilões e outras aglomerações de animais Tuberculose (1) a tuberculinização por meio do Teste Cervical Simples (TCS) é adotada como prova de triagem devido a sua boa sensibilidade; (2) o Teste da Prega Caudal (TPC) também é utilizado como prova de triagem, porém exclusivamente em gado de corte; (3) o Teste Cervical Comparativo (TCC) é a única prova confirmatória, podendo ainda ser usada como prova de triagem em rebanhos com histórico de reações inespecíficas, em estabelecimentos certificados como livres e em estabelecimentos com criação de bubalinos, visando garantir boa especificidade diagnóstica. Os testes acima mencionados colocam o diagnóstico de brucelose e de tuberculose no Brasil em sintonia com os padrões internacionais e, em particular, com as recomendações do Código Zoosanitário Internacional. Entretanto, o MAPA pretende atualizar e melhorar o padrão de diagnóstico, à medida que novos e melhores testes forem surgindo no mercado. Existe legislação específica que determina a exigência, para animais destinados à reprodução, de atestado negativo para brucelose e tuberculose. Estas normas foram adaptadas ao regulamento do PNCEBT, em particular quanto aos métodos diagnósticos utilizados. Está prevista, em prazo a ser determinado pelo MAPA, a exigência de origem em estabelecimento de criação com certificado de livre ou de monitorado, para todos os machos e fêmeas reprodutores que transitem entre estados ou livres para que participem em exposições. Habilitação e capacitação de médicosveterinários O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose envolve um grande número de ações sanitárias profiláticas e de diagnóstico a campo, sendo assim necessário habilitar médicos-veterinários do setor privado, que vão atuar por delegação de competência do MAPA e das Secretarias de Agricultura dos estados. A vacinação contra a brucelose deverá ser realizada sob responsabilidade de médicos-veterinários. A compra de vacina só poderá ser efetuada apresentando receita emitida por médico-veterinário, em razão de tratar-se de uma vacina viva atenuada. Estes profissionais ficarão obrigatoriamente cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária animal do seu estado de atuação. Para a execução das atividades de diagnóstico no campo e participação no programa de certificação de estabelecimentos de criação livres ou monitorados, o MAPA somente habilita médicos-veterinários que tenham sido aprovados em curso de treinamento em métodos diagnósticos e controle de brucelose e da tuberculose, que inclui, ainda, noções de encefalopatias espongiformes transmissíveis, previamente reconhecido pelo MAPA, conforme lista divulgada na internet. Participação do serviço oficial A credibilidade das atividades propostas neste programa, principalmente a certificação de estabelecimentos de criação, está diretamente associada às ações de monitoramento e fiscalização do serviço veterinário oficial. Uma vez que este delega parte das ações sanitárias, o seu papel de órgão certificador de qualidade e fiscalizador de pontos críticos do processo é certamente otimizado. Por exemplo, o serviço oficial pode, em qualquer momento, realizar diagnósticos por amostragem em estabelecimentos de criação certificados e fazer um acompanhamento direto dos testes finais que conferem o certificado de estabelecimento de criação livre. Um ponto fundamental é a integração do serviço de inspeção de produtos de origem animal neste programa, em virtude do seu papel tanto na proteção ao consumidor como na vigilância epidemiológica. Com este objetivo, deve existir um fluxo sistemático de informações nosológicas entre o serviço de inspeção e o serviço de defesa. Diagnóstico e apoio laboratorial Educação sanitária A eficácia de um programa nacional de combate a qualquer doença depende em parte da qualidade e padronização dos métodos diagnósticos utilizados. No contexto deste programa, são determinados os testes diagnósticos indiretos aprovados e seus critérios de utilização e interpretação. Estes são: Todas as atividades propostas precisam ser claramente entendidas pelos pecuaristas e consumidores. Só isso vai caracterizar o programa como um projeto da sociedade brasileira e permitir que as ações sanitárias sejam efetivamente cumpridas. Neste sentido, é muito importante que todas as medidas estabelecidas pelo PNCEBT sejam precedidas e acompanhadas por um trabalho de educação sanitária. Deve-se salientar o papel importante que as autoridades regionais de saúde pública desempenham neste processo. Brucelose (1) o Teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), que é muito sensível e de fácil execução, constitui o único teste de triagem, realizado por médicos-veterinários habilitados; (2) os animais que reagirem àquele teste poderão ser submetidos a um teste confirmatório, o 2-Mercaptoetanol, que é mais específico, sendo esta prova executada em laboratórios credenciados ou em laboratórios oficiais credenciados; (3) o Teste de Fixação de Complemento (FC), ou outro que o substitua, é realizado em laboratórios oficiais credenciados para efeitos de trânsito internacional e para diagnóstico de casos inconclusivos ao teste do 2Mercaptoetanol; (4) o Teste do Anel em Leite (TAL) pode ser utilizado para monitoramento da condição sanitária de estabelecimentos de criação certificadas. Informações sobre o PNCEBT no RS: Serviço Oficial de Defesa Sanitária Animal no Estado do Rio Grande do Sul Inspetorias Veterinária e Zootécnicas (I. V. Zs.) Secretaria Estadual — SEAPA-D.P.A.-DFDSA: Ana Cláudia Mello Groff, Médª.-Vetª., M. Sc. [email protected] http://www.saa.rs.gov.br Ministério da Agricultura — SEDESA/DT-RS (SFA/ MAPA-RS): Carlos Eugênio Soto Vidal, Méd.-Vet. [email protected], http://www.agricultura.gov.br 4 TÊNIAS DOS EQÜÍDEOS Luís Antônio Sangioni Introdução Relatos de trabalhos com os cestódeos (Anoplocephala magna, Anoplocephala perfoliata e Paranoplocephala mamillana), como causadores de distúrbios do trato gastrointestinal de eqüídeos, tem aumentado nos últimos anos e vários estudos epidemiológicos foram realizados (PROUDMAN et al., 1998). A infecção de eqüídeos com estes parasitas foi considerada irrelevante por muitos anos (FRENCH et al., 1994). Ainda permanece controvertido sua etiologia como causador de patologias severas (PROUDMAN & EDWARDS 1993). A prevalência de cestódeos em eqüinos varia de 20% a 81,5% em várias regiões geográficas do mundo (Tabela 1). Algumas das causas dos distúrbios gastroentéricos, tais como: intussuscepção, torção, obstrução e rupturas, têm sido atribuídas ao A. perfoliata, quando são encontrados em número maciço no local, além das alterações patológicas que podem causar no ponto de fixação. O número de parasitas no local do parasitismo contribui para a exacerbação da lesão e estabelecer o grau das alterações patológicas no tecido parasitado (FOGARTY et al., 1994; TRAUB - DARGATZ et al., 1994). Devido a predileção deste parasita pela região de válvula íleo cecal, as alterações anatomo-histopatológicas mais evidentes encontram-se neste segmento (PROUDMAN et al., 1998). EDWARDS (1986), relata a possibilidade de infestações por A perfoliata ser a causa de intussuscepções de intestino delgado e ceco em aproximadamente 10% dos animais, que foram submetidos à laparotomias exploratórias. As hipóteses para explicar as causas da intussuscepção na região parasitada são atribuídas a um complexo de fatores que se interagem: uma atonia local promovida por uma anóxia oriunda de alterações circulatórias, (arterites parasitárias), consequentemente, hiperperistaltismos adjacentes ao segmento atônico poderiam induzir a intussuscepção. Associado a esta condição, existe alguns outros fatores fisiológicos predisponentes contribuindo como uma forma sinérgica a este processo, como por exemplo, a brusca alteração do diâmetro intestinal da região de transição do intestino delgado para o intestino grosso (válvula íleo-cecal), alterações da musculatura longitudinal do intestino delgado na região de transição com espessamento do tecido no local. Além destas, severas infestações do parasita no ponto de infecção poderia causar cólicas por obstrução do orifício íleo-cecal. BAIN & KELLY (1977) na Austrália, sugerem que a atonia no local do parasitismo pode ser devido ao A perfoliata apresentar a enzima acetilcholinesterase em altas concentrações, sendo secretadas em grandes quantidades em uma alta infecção. Isto pode interferir na transmissão nervosa parassimpática do hospedeiro, reduzindo a acetilcolina sináptica em colina e ácido acético, que impede a resposta neuronal, levando a atonia intestinal e impactações e subseqüentes rupturas em regiões de fragilidades intestinais que desenvolveram lesões ulcerativas. Qualquer fator que cause alterações da motilidade intestinal é uma causa em potencial de intussuscepção; então o A. perfoliata vem contribuir com estes fatores (PROUDMAN & EDWARDS,1993). O surgimento de cólica relacionado com os cestódeos é um fato, sendo, portanto um dos fatores de riscos para a incidência desta patologia, sendo que, o grau de parasitismo aumenta estes riscos (PROUDMAN et al.,1998). A criação de eqüídeos no Brasil tem sido estimulada e tecnificada nos últimos tempos, com intuito de se obter animais vigorosos e com um perfil atlético próximo do ideal. A produção de animais para as atividades desportivas merece posição de destaque internacional, atingindo valores sócioeconômicos expressivos na atualidade. Não apenas esta atividade foi desenvolvida e transformada no transcorrer da história da criação dos eqüídeos, mas também a de produção de carne para a exportação aos países consumidores deste produto. As helmintoses dos eqüídeos somam-se aos problemas que diminuem o desempenho e a produção em geral, apresentando-se geralmente de caráter subclínico, muitas vezes irrelevantes para técnicos e criadores, mascarando prejuízos irreversíveis. O Anoplocephala perfoliata (GOEZE, 1782) pertence à Família Anoplocephalidae, da ordem Cyclophyllidea, é o cestódeo mais comumente encontrado em eqüídeos e tem como hospedeiro intermediário um ácaro oribatídeo (espécies Galumina e Scheloribates). O parasita mede cerca de 8 cm de comprimento por 1,2 cm de largura, o escólice medindo 2 a 3 mm de diâmetro é voltado para frente com uma projeção triangular posterior a cada ventosa; realiza apólise na maturidade e suas proglotes gravídicas são eliminadas nas fezes. Os ovos são geralmente liberados pela desintegração de seus proglotes durante sua passagem pelo trato intestinal (LICHTENFELS, 1975; FREITAS, 1980). Após a ingestão dos ovos contendo as larvas infectantes (oncosferas) pelo hospedeiro intermediário, a larva cisticercóide leva de dois a quatro meses para se desenvolver. Os ácaros são ingeridos pelo eqüino e o período pré-patente no hospedeiro definitivo é de seis a dez semanas (URQUHART, 1996). As formas parasitárias adultas são encontradas preferencialmente no intestino delgado e regiões circunvizinhas de ceco e cólon, com predileção para o ceco e válvula íleo-cecal (FOGARTY et al., 1994). Tabela 1. Prevalência em nível mundial de Anoplocephala perfoliata em eqüídeos País Espécie Nº Método de coleta Austrália Eq 130 Austrália E q 65 Brasil Eq 1090 Brasil Eq 1689 Irlanda Eq 363 Inglaterra Eq 57 Noruega Eq 201 Polônia Suécia USA USA Eq 50 Eq 470 Eq 363 As 8 USA Eq 118 Freqüência Necropsia Exame PM em matadouro Exame PM em matadouro Exame PM em matadouro Exame PM em matadouro Necropsia Exame PM em matadouro e necropsias Necropsia Exame PM em matadouro Necropsias Necropsia Necropsia 38,5 81,5 42 32,5 50,7 32 20 4 65 54 0 60 PM - Pós-Mortem Eq - Eqüinos As - Asininos 5 sentou resultado positivo para o Anoplocephala spp, aumentado progressivamente estes resultados para 6%, 26% e 33% nos anos de 1993, 1994 e 1995 respectivamente. Alterações macroscópicas A natureza das lesões intestinais variam de uma congestão superficial até uma ligeira elevação e ulceração focal. As reações inflamatórias estendem-se além da área da lesão (PEARSON et al.,1993). As lesões diftéricas são mais freqüentes na junção íleo-cecal devido a predisposição de fixação destes parasitas (WILLIAMSON et al.,1997). Tratamento Na atualidade, as drogas com melhor espectro de ação tenicida para o tratamento de cestódeos são: pamoato de pirantel, mebendazole micronizado e o praziquantel (LYONS et al., 1986; LYONS et al., 1989; GREINER et al., 1994; LYONS et al., 1995; BELLO, 1996). O pamoato de pirantel é efetivo na dosagem de 13,2 mg/kg sendo duas vezes o normal requerido para os nematódeos, no entanto esta droga foi efetiva em 83 % na remoção destes parasitas (LYONS et al., 1986). A dose de segurança do pamoato de pirantel é de 20 vezes a dosagem terapêutica, porém não estão bem definidos os efeitos colaterais para égua prenhe. O mebendazole micronizado mostrou ser efetivo em 95% na dosagem de 15 mg/kg. O praziquantel tem uma eficácia de 82 a 100% sobre o A. perfoliata (GREINER et al, 1994). Alterações microscópicas As principais lesões encontradas são: edemas, lesões diftéricas (membranas diftéricas) e infiltrações eosinofílicas de mucosa de íleo, ceco e cólon (PEARSON et al.,1993). BAIN & KELLY, (1977) relatam lesões granulomatosas, verrucosas, projetadas da mucosa, sendo avaliado como tecido granulomatoso associado com necrose fibrinótica, bem como úlceras profundas penetradas na base da mucosa na lâmina própria, infiltradas com linfócitos e eosinófilos, atingindo a submucosa e o tecido conectivo. Também foi notado um espessamento de arteríolas resultantes de respostas inflamatórias da região. Os neutrófilos foram encontrados em grande número em material necrótico. Bibliografia consultada BARCLAY, P.W.; PHILIPS, N.T.; FOERNER, J.J. Intussuception associated with Anoplocephala perfoliata infection in five horses. Journal of American Veterinary Medical Assotiation, v 180, n 7, p 752753, 1982. COCHRAN, W.C. Sample techiniques. 3 ed. New York: John Willey, Cap. 4: the estimation of sample size, p 93-97, 1977. FOGARTY, U.; DEL PIERO F. ; PURNELL, R.E. ; MOSURSKI, K.R. Incidence of Anoplocephala perfoliata in horses examined at an Irish abattoir. Veterinary Record, v 34, p 515-518, 1994. FREITAS, G.M. Helmintologia Veterinária, 4ª ed., Rabelo, Belo Horizonte, 1980. GART, J.J.; BUCK, A.A. Comparison of a screening test and a reference test in epidemiologic studies. American Journal of Epidemiology, v.83, n.1, p. 593 - 602, 1966. GOMES, T.L.S.; HUSSNE, M.; TUNALA, V.; TAMURA, E.Y. et al, Pesquisa sobre a incidência de tênias em equídeos . A Hora Veterinária , n 95, p 11-12, 1997. GREINER, E.C. ; LANE, T.J. ; Effects of the daily feeding of pyrantel tartrate on Anoplocephala perfoliata infection in three horses: A pilot Stud. Journal of Equine Sciense , v 14 , n 1 , p 43-44 , 1994. LANDIS, J.R.; KOCH, G.G. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics, v.33, p.159, 1977. LICHTENFELS, J.R. Cestoda parasitic in domestic equids. Proceedings of Helmintological Society of Washington, v 42, p 71-73, 1975. PROUDMAN,J. C. ; EDWARDS,G.B. Validation of a centrifugation/flotation technique for the diagnosis of equine cestodiasis. Veterinary Record, v 131, p 71-72, 1992. PROUDMAN,J.C. ; EDWARDS,G.B. Are tapeworms associated with equine colic? A case control study. Equine Veterinary Journal, v 25, n 3, p 224-226, 1993. PROUDMAN, J.C.; FRENCH, N.P.; TREES, A.J. Tapeworm infection is a significant risk for spasmodic colic and ileal impaction colic in the horse. Equine Veterinary Journal, v 30, n 3, p 194-199, 1998. URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.M.; JENNINGS, F.W. Parasitologia Veterinária, 2ª ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1996. Diagnóstico A necessidade de desenvolvimento de técnicas mais sensíveis para detecção de ovos nas fezes através de exame coproparasitológico, se faz necessário, uma vez que o método de centrífugo-flutuação comumente utilizado para a detecção de ovos de cestódeos, apresenta uma sensibilidade questionável. No entanto, uma versão modificada da centrífugo-flutuação foi desenvolvida para validar o diagnóstico de infecção por cestódeos de eqüídeos (PROUDMAN et al., 1993). Exames sorológicos como o teste imunoenzimático ELISA, apresenta maior sensibilidade e especificidade. HöGLUND et al., 1995 descrevem um teste de ELISA que permite a quantificação destes antígenos para avaliar a intensidade da infecção. NILSSON et al., (1995) verificaram que 53 % dos animais que foram submetidos a exames coproparasitológicos eram ovos-positivos; sendo que, os animais não apresentavam sinais clínicos de distúrbios do trato gastrointestinal, por um longo período de tempo. BARCLAY et al., (1982) em estudo realizado com animais submetidos a laparotomias e comprovadamente acometidos com A. perfoliata, retiraram várias amostras de fezes e foram analisadas (centrífugoflutuação com solução saturada de nitrato de sódio) e observaram a ausência de ovos nas fezes. GOMES et al., (1997) em estudo realizado de 1992 a 1995, no Jockey Club de São Paulo, observaram um aumento crescente da incidência de cestóides nos resultados positivos dos exames coproparasitológicos (método de WILLIS). Em 1992, das 558 amostras analisadas, uma amostra (0,2%) apre- SETOR DE DOENÇAS PARASITÁRIAS · Diagnóstico e epidemiologia de infecções parasitárias em pequenos e grandes animais; · Orientação sobre controle parasitário em pequenos animais, com enfoque nas zoonoses; · Testes de eficácia e de resistência a compostos contra endo e ectoparasitas; · Treinamento pessoal - mestrado (1 vaga anual); Endereço: Prédio 44 – CCR 2 – Sala 5149 - Fax: (55) 3220 8257 – Fone: (55) 3220 8071 Professores: Fernanda F. Vogel ([email protected]) – Luís Antônio Sangioni ESPAÇO PUBLICITÁRIO 6 INFLUENZA AVIÁRIA ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS Maristela Lovato Flôres, Róger Boufleur¹, Renata Pamela Barrachini Steffen² Introdução A influenza aviária (IA) é uma doença altamente contagiosa transmitida por vírus, que ocorre principalmente em aves. Em raras ocasiões atravessou a barreira entre as espécies e infectou a população humana. Em aves domésticas, as infecções pelo vírus da IA são classificadas como de alta (HPAI) e baixa patogenicidade (LPAI), relacionada à capacidade de provocar sinais clínicos severos em aves. As variantes de baixa patogenicidade causam sinais mais brandos, que podem eventualmente passar desapercebidos. As formas altamente patogênicas mostram sinais mais marcantes. Sua disseminação no lote de aves ocorre rapidamente, causando síndrome que afeta múltiplos órgãos apresentando mortalidade que pode atingir 100% das aves afetadas, em menos de 48 horas. Espécies de aves selvagens, principalmente as aquáticas, como patos e marrecos, podem albergar cepas de vírus, tanto de alta como de baixa patogenicidade, sem apresentação obrigatória dos sinais clínicos. O contato entre aves domésticas e migratórias tem sido a origem de muitos surtos epidêmicos. A IA pode ocasionalmente infectar a população humana e animal, após contato direto dessas espécies com aves infectadas (BRASIL, 2006). Historicamente, a influenza aviária é conhecida pelo grande impacto econômico que causa nas populações afetadas. O prejuízo se deve em grande parte a alta mortalidade ocasionada pela doença, entretanto os custos indiretos relacionados com ela, como medidas de prevenção, controle e monitoramento, bem como investimentos em saúde pública são responsáveis também pelo déficit econômico, isto sem contar os prejuízos ambientais que a doença pode causar afetando espécies selvagens (MARTINS, 2001). A influenza é uma doença antiga, sendo a primeira doença viral descrita em aves. Clinicamente, foi descrita pela primeira vez em 1878, por Perroncito. (SWAYNE & HALVORSON, 2003). Três pandemias de influenza humana ocorreram no século XX: a gripe espanhola de 1918, a asiática de 1957 e a de Hong Kong, em 1968. Os subtipos virais envolvidos nestas pandemias anteriores foram H1N1, H2N2 e H3N2, respectivamente. Não se observou qualquer periodicidade ou padrão entre as três pandemias, sendo que as três diferiam entre si, entretanto evidências sugerem que as mudanças ocorridas no vírus se deva ao ressortimento genético do vírus humano com o vírus animal (KILBOURNE, 2006). glicoproteínas (H1-H16) e (N1-N9) já foram detectadas em aves. A HPAI é caracterizada pelo desenvolvimento de doença severa principalmente em aves domésticas, com mortalidade até 100% nos lotes acometidos, estando esta forma da doença restrita aos subtipos H5 e H7, entretanto nem sempre esses subtipos serão HPAI. Já a LPAI, caracteriza-se pelo desenvolvimento de doença branda, com sinais respiratórios discretos, queda na produção de ovos e redução no consumo de alimento (ALEXANDER, 2007). O vírus que atualmente vem preocupando as autoridades e a população mundial é um vírus do subtipo H5N1, originado na China, em 1996, que através de ressortimento genético dos vírus H9N2 e H6N1 originou diversas linhagens, das quais o genótipo Z parece ser o predominante na Ásia (CAPUA & MARANGON, 2007). Aspectos Epidemiológicos A rápida disseminação, a partir de 2003, do vírus H5N1 na Ásia foi originada pelo deslocamento e comércio legal e ilegal de aves domésticas e de companhia bem como pelo movimento de aves migratórias. De acordo com as análises de ciclos migratórios de aves (Figura 1), é provável que o H5N1 chegue às Américas por tais mecanismos, ainda antes que se gere uma possível pandemia por este vírus (BRASIL, 2005). Acredita-se que a rota do leste da Ásia e oeste da Austrália foi a responsável pela disseminação do vírus, uma vez que ela passa por todos os países afetados pela Influenza entre 20032005. Analisando as rotas, observa-se ainda que a rota Ásia/ Austrália, cruza com duas rotas que passam pelo território brasileiro, a Americana do Mississipi e a rota Americana do Pacífico, sendo que a última apenas corta o estado do Acre, enquanto que a primeira atravessa o país desde o estado de Amazonas até São Paulo. Até o presente momento, não se sabe ao certo se o H5N1 é realmente endêmico nas populações de aves selvagens da Europa e da Ásia ou se estão relacionados apenas a eventos isolados com contato prévio com aves domésticas doentes. Caso a segunda opção seja correta, presume-se que após o controle da enfermidade na população doméstica, e sendo a infecção responsável pela morte das aves silvestres afetadas, presume-se que gradualmente a prevalência da infecção irá se reduzir a zero. Em contraste, se a HPAI não for letal para a população selvagem de pássaros, e se a infecção for compatível com comportamentos de migração normais, mesmo que em poucas espécies, isto resultará em um ciclo endêmico em aves silvestres, mimetizando a ecologia da LPAI nas populações selvagens, resultando em conseqüências imprevisíveis (CAPUA & MARANGON, 2007). A transmissão do vírus ocorre através da rota fecal-oral, e a multiplicação inicial do vírus ocorre na mucosa intestinal. O humano, por sua vez, adquire a doença apenas através de contato íntimo com aves doentes, sendo que a ingestão de carnes e ovos cozidos não é capaz de transmitir a doença para pessoas (MACEDO, 2006). Etiologia A influenza aviária é causada por um vírus da família Orthomyxoviridae, a qual contém três tipos antigênicos ou gêneros A, B e C de vírus influenza, distinguíveis pela composição da unidade estrutural do nucleocapsídeo (NP) e da proteína não glicosilada do envelope (M1). Desses, B e C são principalmente patógenos humanos, e A são isolados de muitas espécies de animais, incluindo humanos. Nas aves, apenas o vírus do tipo A foi isolado (MARTINS, 2001). O vírus da influenza tipo A é dividido em subtipos baseado no relacionamento antigênico de glicoproteínas de superfície, hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Até o momento 16 HA e 9 NA foram identificadas. Salienta-se que todos os subtipos com suas possíveis combinações destas ¹ Acadêmico mestrando do curso de pós-graduação em Medicina Veterinária Preventiva. ²Acadêmica da graduação em Medicina Veterinária. 7 surtos ocorridos em todo o mundo durante o mesmo período, representando a somo dos surtos dos dois países mais de dois terços dos casos mundiais. Nas Américas, através de estudos epidemiológicos realizado em 2005 no Canadá foram detectados vários subtipos do vírus da influenza tipo A contendo a hemaglutinina do tipo 5, a saber: H5N9, H5N3, H5N2, e até mesmo o H5N1, entretanto todos estes subtipos se mostraram como sendo de baixa patogenicidade, inclusive o H5N1, o qual mostrou-se geneticamente diferente da cepa asiática, recebendo a denoFonte: FAO, 2005 minação de “cepa americana de baixa patogenicidade”, porém, em fevereiro do ano anterior, foi isoFigura 1. Rotas migratórias de aves silvestres Quanto à pouca adaptação do vírus em humanos até o pre- lado um subtipo HPAI H7N3 em uma propriedade comercial sente momento, atribui-se à afinidade que o vírus possui por localizada na província de Columbia Britânica (OIE, 2007). Já receptores compostos de sialolicossacarídeos á-2,3, que são em setembro de 2006, a mesma cepa do vírus foi detectada nos encontrados nas aves, enquanto que em suínos e humanos, Estados Unidos em estudos rotineiros, estando presente nas os receptores sialoligossacarídeos encontrados são do tipo fezes de cisnes no estado de Michigan e também na Pensilvânia á-2,6. Além disso, em humanos, os receptores localizam-se na e Maryland em patos selvagens. No México foi detectado parte inferior do trato respiratório, enquanto que nas aves LPAI H5N2, em janeiro de 2006, e na Colômbia, em outubro de estes situam-se na porção superior, facilitando deste forma a 2005, o vírus LPAI H9N2 foi encontrado em três propriedades infecção nas aves e dificultando-a em humanos (SWAYNE & no noroeste do país.(WHO, 2007) Após a detecção do vírus HPAI no Canadá, o governo HALVORSON, 2003). abateu 13 milhões e 700mil aves nas regiões próximas ao surto Uma particularidade desta variante do vírus é a sua ca(OIE, 2007). Medidas drásticas como estas implementadas pelo pacidade de infectar e causar a doença em felinos, sendo que governo canadense resultaram na contenção dos focos, o que estes também são capazes de transmitir a doença para outros certamente contribui para a prevenção da entrada do vírus animais de sua espécie, e potencialmente para humanos, apenos demais países da América, incluindo o Brasil. sar de esta forma de transmissão ainda não ter sido descrita Em humanos, a doença tem se mostrado, de certa forma, (THIRY et al., 2007). Os anseriformes (patos, gansos, marrecos) raramente pouco adaptada. Os casos humanos ocorridos nos últimos adoecem, mas podem albergar e liberar o vírus para o meio; as quatro anos da epidemia podem ser resumidos na tabela 1. Observa-se, pela análise dos dados contidos na tabela, demais aves domésticas, principalmente os pintos, podem que os países onde a doença vem ocorrendo em humanos, de apresentar quadro subclínico ou clínico, como moderada a um modo geral, são países subdesenvolvidos, com condição severa dificuldade respiratória podendo ocorrer edema na cade infra-estrutura pública e saneamento precários, além disso, beça e cianose no qual exige diagnóstico diferenciado de nesses países, criações domésticas de aves para consumo Newcastle (MACEDO, 2006) agudo benigno com cura apasão comuns, o que favorece o contato mais próximo entre rente, permanecendo portadores; nesse caso, o transporte e homens/aves. Além desses fatores, a comercialização de anicomercialização em aglomerados (feiras, mercado público, etc.) mais vivos em centros urbanos também é comum em alguns pode favorecer a contaminação ambiental e a disseminação da destes países, o que contribui para uma disseminação ainda doença; a movimentação de equipamentos e pessoas de um maior do vírus nessas populações. criatório a outro também pode contribuir na ocorrência de surtos (MACEDO, 2006). Controle Desde 2003, quando a doença tomou proporções mais A grande maioria dos surtos em aves foram controlados alarmantes, a doença vem ocorrendo principalmente em paícom a eliminação das aves infectadas e das expostas ao vírus ses do leste asiático e alguns países da África. Ao observarde alta patogenicidade (HPAI), enquanto que na ocorrência mos dados de ocorrência da doença, obtidos da OIE (2007) de vírus de baixa patogenicidade (LAPAI) a utilização da vaciobserva-se uma ocorrência bastante elevada da influenza em nação, quarentena e vigilância ativa tem sido utilizada (SIAF países como Vietnã e Tailândia, que no período de 2003-2007 et al., 2003). já relataram 2.046 e 1.137 surtos em aves, de um total de 5.214 Aspectos epidemiológicos SETOR DE ORNITOPATOLOGIA · Necropsias, atendimento clínico, laboratorial e orientações sobre profilaxia de doenças de aves; · Sorologia para Doenças de Newcastle e Gumboro, Bronquite infecciosa, Salmonelose, Micoplasmose e exames complementares; · Atendimento às criações de frangos de corte, poedeiras e aves ornamentais e silvestres; · Mestrado (uma vaga anual) Endereço: Prédio 44 – CCR 2 – Sala 5151 - Fax: (55) 3220 8257 – Fone: (55) 3220 8072 Professora: Maristela L. Flores ([email protected]). ESPAÇO PUBLICITÁRIO 8 Tabela 1. Número cumulativo de casos humanos confirmados de influenza aviária-A (H5N1) relatados à organização mundial da saúde País Azerbaijão Cambodja China Djibouti Egito Indonésia Iraque Lao Nigéria Tailândia Turquia Vietnã Total 2003 n 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3 4 obt. 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3 4 2004 n 0 0 0 0 0 0 0 0 0 17 0 29 46 obt. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0 20 32 2005 n 0 4 8 0 0 20 0 0 0 5 0 61 98 obt. 0 4 5 0 0 13 0 0 0 2 0 19 43 2006 n 8 2 13 1 18 55 3 0 0 3 12 0 115 obt. 5 2 8 0 10 45 2 0 0 3 4 0 79 2007 n 0 1 3 0 20 27 0 2 1 0 0 2 56 obt. 0 1 2 0 5 23 0 2 1 0 0 0 34 Total n 8 7 25 1 38 102 3 2 1 25 12 95 319 obt. 5 7 16 0 15 81 2 2 1 17 4 42 192 Fonte: OMS, atualizado em 25/07/2007. Legenda: n: número de casos confirmados; obt.: número de óbitos A vacinação pode ser usada e sua eficácia na prevenção de sinais clínico e mortalidade tem sido relatada, porém a proteção ocorre apenas para o subtipo utilizado na vacina (SWAYNE & HALVORSON, 2003). Ainda, estes lotes podem ser monitorados por sorologia e para identificação dos sorotipo do vírus presente. Outros estudos se seguem com vacinas recombinantes, vacinas inativadas e vacinas com associação com outros vírus (varíola aviária p.ex.). RASTREABILIDADE Saul Fontoura da Silva, Luis Fernando Vilani de Pelegrini, Braiane Hendges¹, Lívia Dannenhauer Braun¹ Conceito Rastreabilidade bovina é um sistema de controle de animais que permite sua identificação individual desde o nascimento até o abate, registrando todas as ocorrências relevantes ao longo de sua vida. Objetivos: A rastreabilidade possui os seguintes objetivos: - Buscar maior transparência da cadeia da carne perante a opinião pública; - Abrir novos nichos de mercado para a carne brasileira; - Oferecer informações com credibilidade sobre a carne que está sendo consumida; - Auxiliar nos controles sanitários a fim de possibilitar planos nacionais para erradicação de doenças como aftosa, brucelose, tuberculose, entre outras; (Sistema, 2007). Conclusão A influenza aviária é uma doença com alta capacidade de mutação, que historicamente foi responsável por grandes epidemias. Não se sabe se esta epidemia tomará as proporções que lhe são estimadas, entretanto medidas de controle e monitoramento devem ser implementadas. O monitoramento eficaz nas populações selvagens, domésticas e comerciais é imprescindível em todos os países, especialmente naqueles em que o vírus ainda não foi identificado, entretanto, planos de contingência eficazes também devem estar previstos no caso de se detectar a presença do vírus. Bibliografia consultada FAO, Avian influenza outbreaks and flyways of migratory birds. Capturado em 22/07/2007 Online. Disponível na internet: www.fao.org/ag/againfo/subjects/en/health/ diseases-cards/migrationmap.html KILBOURNE, E.D. Influenza pandemics of the 20th century. Emerging infectious diseases. v. 12, n. 1, p. 9-14. 2006. MACEDO, N.A. Influenza aviária: e agora? Revista CFMV. Ano 12, n 24. p.15-17. 2006 MARTINS, NRS Influenza aviária: uma revisão dos últimos dez anos. Revista brasileira de ciência avícola, v. 3 n. 2, p. 97-140. 2001. OIE. Update on avian influenza in animals (type H5). Capturado em 26/07/2007. Online. 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Surgimento Alguns episódios que foram amplamente divulgados, como a encefalopatia espongiforme bovina (BSE) em animais da Inglaterra, os hambúrgueres contaminados por Echerichia coli 0157H nos Estados Unidos, os frangos e suínos contaminados com dioxina na Bélgica e os focos de febre aftosa na Argentina, Rio Grande do Sul e Inglaterra aumentaram a preocupação dos consumidores e dos governos em relação à qualidade dos alimentos comercializados. Após indícios que correlacionaram a BSE ao mal de Creutzfeldt-Jacob (CJD), que afeta o sistema neurológico do ser humano, governos de diversos países, principalmente da União Européia, região mais afetada pela BSE, aprovaram legislações rigorosas para tentar controlar o problema. Essa nova regulamentação visou controlar, principalmente, o processo de produção nas fazendas, estabelecendo registros, controles e inclusive a identificação individual dos animais. A esse processo de controle, identificação e certificação de origem deu-se o nome de rastreabilidade ou rastreamento bovino. ¹ Acadêmicas do Curso de Medicina Veterinária - UFSM 9 vidual é único para todo território brasileiro e está cadastrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com este numero, teoricamente, é possível saber toda história do animal, desde o seu nascimento até o abate. Benefícios Consumidor Garantir ao consumidor um produto seguro e saudável, por meio do controle de todas as fases de produção, industrialização, transporte/distribuição e comercialização, possibilitando uma perfeita correlação entre o produto final e a matéria prima que lhe deu origem, além de possibilitar a remontagem das transações pelas quais passou o produto, dando nome e endereço a seus agentes. Estabelecimento Rural Aprovado SISBOV (ERAS) É a propriedade rural que, interessada em manter, por qualquer período de tempo, todos os seus bovinos e bubalinos incluídos no SISBOV, que atenda as seguintes exigências: Termo de Adesão ao SISBOV, cadastro de produtor, cadastro da propriedade, protocolo básico de produção, registro dos insumos utilizados na propriedade, todos os bovinos e bubalinos da propriedade identificados individualmente, controle de movimentação dos animais, o Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV será acompanhado por uma única certificadora e vistorias periódicas pelas certificadoras. Indústria Aumentar a competitividade, garantia de permanência no mercado de exportação de carnes, além da abertura de novos mercados. Produtor Controle dos animais e enfermidades (controle sanitário), garantia de venda do produto e maior competitividade. Identificação de animais Certificação A Certificação representa um conjunto de procedimentos pelo qual uma entidade certificadora – imparcial e independente – reconhece/atesta que o produto atende a requisitos pré-estabelecidos. Deve ser realizada por uma empresa, que atesta através de um sistema de rastreabilidade, atuando como uma ferramenta de qualidade fornecendo as diretrizes básicas de controle. A certificação é um importante passo para iniciar o processo de rastreabilidade por que os produtores que desejam tornar suas propriedades um Estabelecimento Rural Aprovado pelo SISBOV (ERAS) devem escolher entre uma e somente uma das certificadoras credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). As certificadoras farão vistorias de no máximo 180 dias nos estabelecimento de criação e 60 dias para os confinamentos que recebem animais de outros estabelecimentos rurais. SISBOV Instrumento criado pela Instrução Normativa Nº 1 de 09 de janeiro de 2002 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA, com vista a dar ao consumidor brasileiro e estrangeiro, por meio da identificação inserida nos rótulos ou embalagens dos alimentos, principalmente carne, de origens bovina e bubalina informações quanto à produção, qualidade, validade, sanidade e nutricional do produto com garantia da inocuidade ao consumo. O programa de rastreabilidade oficial definido pelo SISBOV está baseado em brincos plásticos com uma numeração impressa a laser. Para cada brinco aplicado na orelha de um animal existe um documento oficial conhecido pela sigla Documento de Identificação Animal (DIA). Este número indi- A identificação de animais será com a numeração única de 15 dígitos do SISBOV e o produtor poderá escolher entre uma das seguintes opções: - Um brinco e um botton padrão; - Um brinco ou um botton padrão e um dispositivo eletrônico; - Um brinco padrão em uma orelha e uma tatuagem na outra; - Um brinco padrão e o número de manejo do SISBOV marcado a fogo; - Um dispositivo único com identificação visual eletrônica; - Somente um brinco padrão. Os animais deverão manter a identificação quando movimentados. Seguem abaixo um descritivo da composição do número SISBOV: 1) três dígitos iniciais caracterizando o país de nascimento de bovinos e bubalinos; 2) dois dígitos subseqüentes representando a Unidade Federativa de origem dos bovinos e bubalinos; 3) nove dígitos subseqüentes identificando bovinos e bubalinos; 4) um dígito final verificador. Os últimos seis dígitos do número oficial no brinco são considerados a numeração do manejo. Exemplo de numeração: SETOR DE INDÚSTRIA E INSPEÇÃO DE CARNES · Avaliação de cortes e vísceras com suspeitas de alterações; · Orientação à pequenas indústrias na implantação de pequenos matadouros; · Responsável pela promoção do PROSUL (Encorte); · Convênio com a Prefeitura Municipal de Santa Maria no serviço de Inspeção Municipal. Endereço: Prédio 44 – CCR 2 – Sala 5143 - Fone: (55) 3220 8074 – Fax: (55) 3220 8257 Professores: Luís Fernado V. de Pelegrini ([email protected]) Saul Fontoura da Silva ([email protected]) ESPAÇO 10 PUBLICITÁRIO Exemplo de Brinco SISBOV com numeração do animal. Instruções normativas referentes a identificação, certificação e rastreamento bovino e bubalino do Brasil O SISBOV é composto por normativas que se aplicam em todo território nacional, às propriedades rurais de criação de bovinos e bubalinos, às indústrias frigoríficas que processam estes animais, gerando produtos e subprodutos de origem animal e resíduos de valor econômico, e às entidades credenciadas pelo MAPA como certificadoras. Suas normativas são: - Normativa nº 01, de 10 de Janeiro de 2002. - Normativa nº 21, de 26 de Fevereiro de 2002. - Normativa nº 47, de 31 de Julho de 2002. As novas normativas são: - Normativa nº 88, de 12 de Dezembro de 2003. - Normativa nº 21, de 02 de Abril de 2004. - Normativa nº 21 – Padrão de Brincos SISBOV. - Normativa nº 09 – Sistema Brasil. Classificação de Carcaças. - Normativa nº 48 – Alterado ingresso e permanência dos animais no BND – SISBOV. - Normativa nº 52 – Alteração da data de certificações para animais em eventos agropecuários. - Normativa nº 77 de 29/10/2004 – Alterações SISBOV. - Oficio 61/2005 – de atualização do Inventário de Animais. - Normativa 06 de 06 de outubro de 2005 – Alterada a Quarentena. - Normativa 17 de 13 de Julho de 2006 – NOVO SISBOV. O objetivo da normativa número 01, de 10 de janeiro de 2002, é identificar, registrar e monitorar, individualmente, todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil ou importados. Os procedimentos adotados nesse sentido devem ser previamente aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Na mesma, constam os dados de identificação do animal: - Identificação da propriedade de origem; - Identificação individual do animal; - Mês do nascimento ou data de ingresso na propriedade; - Sexo do animal e aptidão; - Sistema de criação e alimentação; - Registro das movimentações; - Comprovação de informação adicional para a certificação; - Dados sanitários (vacinação, tratamentos e programas sanitários). 11 Objetivos da instrução normativa número 21, de 26 de fevereiro de 2002: - Credenciar entidades nacionais, governamentais ou privadas, visando à identificação, ao registro e ao monitoramento individual de todos os bovinos e bubalinos, nacionais e importados. - Estimular e consolidar a confiança recíproca entre o governo e a iniciativa privada, no contexto do agronegócio brasileiro. - Garantir a segurança dos produtos de origem bovina e bubalina, particularmente dos alimentos para consumo humano, considerando os aspectos de saúde pública e a necessidade de suprimir as fraudes e as práticas desleais de comércio. Objetivos da instrução normativa número 37, de 31 de julho de 2002: - Aprovar as instruções complementares para regulamentação, implementação, promoção e supervisão da execução do controle operacional de entidades certificadoras credenciadas no âmbito do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina - SISBOV. Desvantagens · Custos: verifica-se que os custos de se fazer a rastreabilidade são altos em relação aos benefícios proporcionados pelo sistema. Para os pequenos produtores rurais, o custo unitário da rastreabilidade por animal tende a ser mais alto do que para um grande produtor, dificultando a adesão desses produtores ao sistema. · Manejo: Algumas dificuldades de manejo verificadas pelo produtor, por exemplo, é a leitura do brinco para a identificação do animal no curral. Nas condições de campo, uma porcentagem alta de brincos fica ilegível num primeiro momento, devido a sujeira. A anotação do número do animal pelo método manual pode gerar erros, diminuindo a qualidade da informação coletada. Outro problema é a perda do brinco no campo. Por ser um objeto exposto, existe a probabilidade de choques com outros animais ou com árvores que causam o extravio do brinco no pasto. A perda do brinco tem como conseqüências custos extras. E por fim, mas não menos importante, como cada animal deve ser identificado individualmente em todas as ocorrências fitossanitárias bem como no abate e nas pastagens, a necessidade de imobilização do animal no tronco de contenção exige um tempo extra de manejo, além de aumentar o estresse e o sofrimento que se reflete na perda de peso do animal durante o manejo e a diminuição do ganho de peso num período posterior. Em pesquisa realizada pela CNA ( Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil ), em 2004, os produtores responderam algumas perguntas sobre a rastreabilidade onde foi concluído que eles entendem a importância de se fazer a rastreabilidade do rebanho bovino, mas que o sistema seja de fácil operacionalização e que possibilite a agregação de valor à produção. Esses fatores citados na pesquisa, ainda podem ser considerados sem solução pelos produtores em 2007. Bibliografia consultada BRASIL. Cartilha do novo Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos SISBOV -Brasília :SDC/ABIEC/ CNA/ACERTA,2006. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. O que pensam os produtores Brasileiros 2004. Brasília, CNA: 2004. Disponível em: http://www.cna.org.br/cna/publicacao/ down_anexo.wsp?tmp.arquivo=E22_4248cna_2004.pdf Acessado em: 23 de Jul. De 2007. FELÍCIO, P. E. de . Novos conceitos em qualidade de carne bovina. Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: h t t p : / / w w w. f e a . u n i c a m p . b r / d e p t o s / d t a / c a r n e s / f i l e s / Novos%20conceitos%20qualidade%20carne%20bovina.pdf Acessado em: 16 de Jul. de 2007. GUTERRES, L.F.W. Rastreabilidade e Certificação no Agronegócio. Santa Maria: [email protected]. 2007. IBA, S. K.; BRABET, C.; OLIVEIRA, I. J.; PALLET, D. Um Panorama da Rastreabilidade dos Produtos Agropecuários do Brasil Destinados à Exportação - carnes, soja e frutas. São Paulo, 2003. Disponível em : http://www.cendotec.org.br/dossier/cirad/ produitsbrpr.pdf Acessado em: 23 de Jul. de 2007. SARTO, F.M.; MIRANDA, S.H.G.; BRISOLARA, C.S. Análise dos Impactos Econômicos e Sociais da Implementação da Rastreabilidade na Pecuária Bovina Nacional. Monografia (Estágio Profissionalizante em Engenharia Agronômica) –Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. SAUERESSIG, D. Rastreabilidade: Prática incerta. AG Leilões, São Paulo, n 107, p. 16-17, 2007. Sistema Integrado de Rastreabilidade Bovina. Disponível em: http://www.planejar.com/rastreabilidade.html. Acessado em: 09 Maio 2007. Figuras disponíveis em: www.polite.com.br (Brinco) http://www.usialto.com.br/images/numeracao.gif (Numeração) DOENÇA DO NILO OCIDENTAL Eduardo Furtado Flores Introdução A doença do Nilo Ocidental é uma virose zoonótica que se mantém na natureza por meio de ciclos alternados de infecção em pássaros silvestres e mosquitos. O agente, denominado vírus do Nilo Ocidental (WNV), é transmitido pela picada de mosquitos que adquirem a infecção ao realizarem o repasto sangüíneo em aves virêmicas. As várias espécies de mosquitos do gênero Culex sp se constituem nos principais vetores do vírus, mas outros gêneros de mosquitos também podem atuar na transmissão. A infecção natural já foi demonstrada em mais de 150 espécies de aves, cuja susceptibilidade à doença varia amplamente. Nas aves, a infecção pode causar doença grave e fatal em algumas espécies, e pode ser leve ou subclínica em outras. Ocasionalmente o vírus pode ser transmitido para humanos e animais domésticos principalmente eqüinos nos quais pode produzir infecção subclínica, quadro febril de severidade variável, até meningo-encefalite de curso fatal. Os humanos e mamíferos domésticos são considerados hospedeiros terminais ou acidentais, e não participam do ciclo natural de transmissão do vírus, sobretudo pelos baixos níveis de viremia que desenvolvem. A transmissão para humanos e eqüinos depende da abundância e padrões de alimentação dos mosquitos; e dos padrões ecológicos locais e de exposição destes hospedeiros a insetos hematófagos. Os eqüinos são particularmente susceptíveis à infecção e freqüentemente desenvolvem um quadro febril agudo que muitas vezes culmina com morte por infecção neurológica e meningoencefalite. A infecção de pessoas jovens imunocompetentes é geralmente subclínica ou acompanhada por sinais leves, mas pode ser grave e até mesmo fatal em idosos e em pessoas imunocomprometidas. Em áreas endêmicas, o controle da infecção se baseia no combate e prevenção da exposição a insetos, uso de repelentes e inseticidas. A prevenção da enfermidade em eqüinos é concentrada no uso de vacinação sistemática, além do combate aos mosquitos. Durante décadas, a enfermidade esteve restrita ao norte da África, Oriente Médio e Europa Mediterrânea, porém foi introduzida e rapidamente se disseminou pelos EUA a partir de 1999. Nos últimos anos, a infecção tem se disseminado na direção sul, com casos em eqüinos, aves e humanos na América Central e do Sul. Em 2006, o vírus foi identificado como causa da morte de três cavalos na Argentina. A preocupação de técnicos e autoridades de saúde humana e animal é de que o vírus possa ser introduzido e se disseminar no Brasil nos próximos anos. Histórico A enfermidade humana e o seu agente (West Nile virus, WNV) foram inicialmente descritos em 1937 em uma mulher com quadro febril na província de Uganda denominada West Nile (Nilo Ocidental), daí a sua denominação. Nas décadas seguintes, o WNV foi reconhecido como um dos arbovírus mais difundidos em pássaros, mosquitos e humanos, com distribuição em algumas regiões da África, no Oriente Médio, Europa Mediterrânea, Índia, em algumas regiões da Ásia e Austrália. A grande maioria das infecções humanas nestas regiões, no entanto, era subclínica ou acompanhada de sinais clínicos leves. Surtos importantes em humanos ocorreram em Israel (1951-1954 e em 1957) e na África do Sul (1974). Evidências sorológicas da infecção em eqüinos datam de 1956 (Egito) e 1960 (Israel), e os primeiros relatos clínicos da doença nesta espécie foram realizados no Egito, em 1963. Desde então, surtos de doença febril e neurológica em eqüinos têm sido descritos no Oriente Médio, norte da África e em países europeus mediterrâneos. A partir da década de 90, os relatos de doença SETOR DE VIROLOGIA · Diagnóstico de infecções víricas de pequenos e grandes animais; · Produção de vacinas para a papilomatose bovina, eqüina e canina; · Produção de antígenos e reagentes para diagnóstico virológico; · Treinamento de pessoal - mestrado (duas vagas anuais) e doutorado (duas vagas anuais) Endereço: Prédio 20 – Sala 4200 - Fone/Fax: (55) 3220 8034 ou (55) 3220 8055 Professores: Rudi Weiblen ([email protected]);Eduardo Furtado Flores ([email protected]) Luciane Teresinha Lovato ([email protected]) ESPAÇO PUBLICITÁRIO 12 Figura 1. Ciclo natural do vírus do Nilo Ocidental e infecção de hospedeiros acidentais. humana – muitas vezes severa - aumentaram, a infecção e a doença foram relatadas em várias espécies animais e em áreas até então aparentemente livres do agente. Nas últimas décadas, epizootias da doença causada pelo WNV em eqüinos têm sido descritas em Marrocos (1996 e 2003), Itália (1998), Israel (2000), sul da França (2000, 2003, 2004), além de evidência sorológica da circulação do vírus em vários outros países. O marco histórico da enfermidade foi a sua introdução em Nova Iorque em 1999, quando causou mortalidade em pássaros de vida livre e de zoológicos e provocou algumas mortes em pessoas. A partir daí o vírus se disseminou rapidamente por todos os estados norte-americanos, provocando infecção e doença em uma variedade de pássaros silvestres, mamíferos silvestres e domésticos (especialmente eqüinos) e humanos. Até maio de 2007, a doença foi relatada em mais de 25 mil (780 mortes) e em aproximadamente 24.000 eqüinos (em torno de 35 a 40% de letalidade). Concomitantemente com a sua difusão na direção oeste nos EUA, a infecção avançou na direção norte (Canadá) e está avançando na direção sul (México, América Central e Caribe). Nos últimos anos, evidências sorológicas indicam a presença da infecção em eqüinos na Colômbia (2004-2005) e o vírus já foi identificado em casos de doença neurológica em eqüinos na Argentina (2006). A rápida e explosiva disseminação do WNV nos EUA permitiu o conhecimento (ou o surgimento) de padrões epidemiológicos até então ignorados, como a notável amplitude de vetores e hospedeiros vertebrados susceptíveis ao vírus, além do reconhecimento de novas formas de transmissão. Até o presente, a infecção natural ou experimental pelo WNV já foi demonstrada em mais de 150 espécies de aves – passeriformes ou não – e em várias espécies de mamíferos domésticos e de vida livre, anfíbios e répteis, além de humanos. Os eqüinos apresentam importância peculiar, pois são muito susceptíveis à infecção natural e freqüentemente desenvolvem um quadro severo de encefalite. O agente e a sua epidemiologia O WNV é um vírus RNA, envelopado, pertencente à família Flaviviridae, assim como o vírus da dengue e febre amarela. A exemplo de outros flavivírus, o WNV é transmitido primariamente por insetos hematófagos – sobretudo mosquitos -, que adquirem o vírus ao realizarem o repasto sangüíneo em aves virêmicas, consideradas os reservatórios naturais do agente. Os insetos são capazes de transmitir o agente após um período de incubação intrínseco, no qual o vírus replica em seus tecidos. Os principais vetores de transmissão do WNV são as várias espécies de mosquitos do gênero Culex sp, embora outros mosquitos possam também ter alguma participação na transmissão. Nos Estados Unidos, já foram identificadas aproximadamente 60 espécies de Culex capazes de transmitir o WNV, porém menos de 10 são considerados importantes na transmissão. Mosquitos exclusivamente ornitofílicos transmitem o vírus apenas entre aves. No entanto, alguns mosquitos realizam repasto tanto em aves como em mamíferos, podendo transmitir o vírus de aves virêmicas para mamíferos e humanos. Já foi demonstrada a transmissão transovariana do vírus nos insetos, assim como a sua presença em fêmeas hibernando. Isto pode explicar a permanência do agente através do inverno em regiões temperadas ou frias. Os hospedeiros naturais do WNV na natureza são aves silvestres de diferentes espécies. A infecção natural já foi demonstrada em mais de 150 espécies de aves silvestres e domésticas em todo o mundo. As aves apresentam uma grande variabilidade de susceptibilidade à infecção e doença pelo WNV e também apresentam potencial distinto de transmissão. Assim, os corvídeos (corvos, anús, gralhas), passeriformes (pássaros em geral), chadriiformes (aves de várzeas), corujas e falconiformes desenvolvem níveis de viremia suficientes para infectar uma grande parcela dos mosquitos que realizam o repasto sangüíneo. Essas espécies também apresentam dife- 13 rentes níveis de morbidade e mortalidade, que é maior entre os corvídeos e passeriformes (a mortalidade pode atingir 50%). Pombos, pica-paus, psitacídeos (periquitos, caturritas), galinhas, marrecos e patos são menos susceptíveis, não desenvolvem altos títulos de vírus no sangue raramente adoecem. Dentre as espécies de aves domésticas, os gansos são os mais susceptíveis. O papel de aves migratórias na disseminação do WNV ainda é desconhecido, mas a rápida difusão do vírus nas Américas aponta para uma provável participação destas aves. Os níveis de viremia desenvolvidos por eqüinos e humanos – além de outros mamíferos - não são suficientes para infectar eficientemente os mosquitos e proporcionar a transmissão. Portanto, estas espécies não participam da transmissão do agente através de vetores. Outras formas de transmissão, pouco freqüentes e de importância epidemiológica questionável, já foram descritas. Assim, foi demonstrado que o WNV pode ser transmitido de mães virêmicas para os fetos através da placenta; e também para os recém-nascidos pelo colostro e leite. O vírus pode ser transmitido por transfusão sangüínea e também por transplantes de órgãos. Essas formas provavelmente não possuem importância epidemiológica em áreas endêmicas, mas devem ser consideradas em situações de epidemias. Em animais, a transmissão do WNV sem o envolvimento de mosquitos foi demonstrada em aves que ingeriram carcaças de pássaros infectados; em crocodilos inadvertidamente alimentados com carcaças de eqüinos infectados; e entre perus criados em condições intensivas, provavelmente através de aerossóis. Apesar destas outras formas já terem sido demonstradas, a transmissão por mosquitos é a mais importante e a principal responsável pela circulação do vírus na natureza. Várias espécies de aves e mamíferos são susceptíveis à infecção natural pelo WNV, e a susceptibilidade de outras diversas espécies foi demonstrada experimentalmente. Dentre as espécies infectadas naturalmente podem ser citados crocodilos, alpacas, cães, ovinos cervídeos, lobos, ursos, canídeos e coelhos silvestres, lemurs, camelos e primatas não-humanos, entre outros. De particular interesse foi um surto ocorrido em uma criação comercial de aproximadamente 10.000 crocodilos, dos quais 1.250 morreram após um curso clínico com sinais neurológicos. A infecção foi provavelmente introduzida na criação em carcaças de eqüinos utilizadas para alimentar os crocodilos. - Eqüinos - Os eqüinos são particularmente susceptíveis à infecção pelo WNV e freqüentemente desenvolvem uma enfermidade aguda com comprometimento neurológico. Apesar de sua alta susceptibilidade, os eqüinos não produzem níveis de viremia suficientes para infectar insetos e assim servir de amplificadores do vírus. Ou seja, os eqüinos infectados não disseminam o vírus através de insetos hematófagos. Evidências sorológicas indicam que a maioria das infecções em eqüinos é assintomática ou leve, passando despercebida por criadores e tratadores. Acredita-se que apenas 15-20% das infecções resulte em manifestações clínicas, após um período de incubação de 3 a 14 dias. Após a replicação inicial nas proximidades do sítio de inoculação, o vírus alcança os linfonodos regionais e subseqüentemente o sistema nervoso central (SNC), onde destrói neurônios e também outras células, o que contribui para a sintomatologia neurológica. Os sinais clínicos variam entre os surtos e entre os animais 14 afetados. Os sinais mais comumente relatados são anorexia, fraqueza, depressão, incoordenação, ataxia e decúbito. Hipertermia nem sempre está presente. Bruxismo, andar em círculos, hiperexcitabilidade, pressionamento da cabeça contra anteparos e convulsões também têm sido relatados. As taxas de mortalidade em eqüinos variam entre 30 e 45%. No surto ocorrido nos EUA, em torno de 1/3 dos animais morreu ou foi sacrificado devido à sua extrema condição. Animais que sobrevivem 2-3 semanas após o aparecimento dos sinais geralmente se recuperam. - Aves - A infecção pelo WNV já foi detectada em mais de 150 espécies de aves domésticas e silvestres. A susceptibilidade das aves à infecção varia amplamente de acordo com a espécie. Dentre as espécies domésticas, os gansos são os mais susceptíveis e freqüentemente desenvolvem doença neurológica quando infectados. Taxas de mortalidade de 25 a 40% têm sido relatadas em infecções naturais e de até 75% em infecções experimentais. Por outro lado, galináceos e psitacídeos estão entre as espécies menos susceptíveis à infecção e enfermidade. Dentre as espécies silvestres, os passeriformes (pássaros de várias espécies, entre os quais os pardais, rabos de palha, pássaros cantores), corvídeos e charadriiformes (aves pernaltas de banhados) são as mais susceptíveis. Nas aves que desenvolvem a doença, os sinais característicos incluem depressão, letargia, penas arrepiadas, além de sinais neurológicos como ataxia, paralisia, movimentos de padalagem, torcicolo, opistótono e incoordenação. A morte geralmente sobrevêm em menos de 24 horas. As taxas de mortalidade são geralmente elevadas. Em pardais e corvídeos, mais de 50% dos animais que manifestam sinais clínicos vão a óbito. Acredita-se que a infecção seja subclínica ou leve em grande parte das espécies de aves infectadas naturalmente. - Humanos - A exemplo dos eqüinos, aproximadamente 80% das infecções humanas pelo WNV são subclínicas. Dentre os pacientes que desenvolvem a doença, a grande maioria apresenta uma doença aguda auto-limitante caracterizada por hipertermia, cefaléia, fadiga, dores musculares e fraqueza. Algumas pessoas apresentam sinais gastrointestinais, pequenas manchas avermelhadas na pele e prurido. Rigidez e dor no pescoço, dificuldade de concentração também têm sido relatados, e podem perdurar por semanas e até meses. A doença neuroinvasiva (meningite, encefalite) ocorre em menos de 1% das pessoas infectadas, e é mais comum em idosos e em pessoas imunocomprometidas. A severidade da doença neurológica varia desde desorientação leve até coma e morte. No surto ocorrido nos EUA, 9% das pessoas que apresentaram doença neuroinvasiva foram a óbito. Aproximadamente 10% dos pacientes que apresentam doença neurológica desenvolvem paralisia flácida, semelhante à da poliomielite. Diagnóstico A suspeita clínica deve ser confirmada por testes laboratoriais, pois outros agentes também podem causar doença com manifestações neurológicas em eqüinos e aves. Para o diagnóstico, amostras do encéfalo devem ser utilizadas na tentativa de isolamento viral. Em aves, podem-se utilizar amostras de rim, coração, cérebro e intestino. O material deve ser coletado assepticamente e enviado refrigerado ao laboratório. Amostras pareadas de soro também podem ser úteis para investigar a soroconversão ao agente. Em eqüinos, o diagnóstico diferencial deve considerar outras enfermidades que cursam com depressão e sinais neurológicos, como as encefalites do leste, oeste e venezuelana, infecção pelo herpesvírus eqüino, raiva e protozooses. - Doença genital: secreções genitais, sêmen. - Conjuntivite: raspados conjuntivais, secreções. - Pele: raspados cutâneos, fluídos vesiculares, fragmentos de pele. - Doença neurológica: secreções nasais, cérebro, fluído cérebro-espinhal. - Doença sistêmica: secreções nasais, fezes, soro, sangue integral, linfonodos, baço. - Fetos abortados: placenta, líquidos fetais, timo, baço, pulmão, cérebro. - Outras doenças: soro, órgão ou tecido afetado, secreções/excreções do sistema afetado. Quando se deve suspeitar de WNV? - Doença aguda fatal em eqüinos, com ou sem sinais neurológicos. - Mortalidade de pássaros. O que se deve fazer? - Enviar material para o diagnóstico (cérebro de eqüinos, aves inteiras). O material deve ser enviado refrigerado. - Comunicar autoridades sanitárias e laboratórios de diagnóstico. Acondicionamento das amostras: - Secreções nasais, oculares ou genitais devem ser coletadas com o auxílio de suabes sem antissépticos e acondicionados em meio apropriado, solução fisiológica estéril ou PBS e mantidos sob refrigeração. - Tecidos e fragmentos de órgãos devem ser coletados individual e assepticamente. Quando o órgão for grande devemse coletar frações de várias áreas. - Fetos abortados podem ser enviados inteiros ou submetidos a necropsia para a coleta de tecidos e órgãos. - Fezes devem ser coletadas da ampola retal. Segmentos de intestino devem ser coletados com o seu conteúdo. - Sangue integral deve ser coletado com anticoagulante (citrato, heparina ou EDTA). Dois a três mL (pequenos animais) e 5 – 8 mL (grandes animais) bastam. - O sangue para exames sorológicos deve ser coletado em tubos estéreis. Deve-se minimizar a hemólise. Raspados cutâneos ou de mucosas devem ser obtidos pelo uso de lâminas metálicas ou de vidro estéreis. - As embalagens (tubos e sacos plásticos) onde as amostras serão acondicionadas devem ser bem vedadas. Devem ser bem rotuladas com caneta ou lápis. - Tubos de vidro ou de outro material frágil devem ser acondicionados de forma a evitar a sua ruptura. Controle e profilaxia A vacinação sistemática é o meio mais efetivo de proteger eqüinos da infecção e doença em áreas endêmicas. Nos EUA já existem algumas vacinas licenciadas para uso em eqüinos, porém ainda não existem vacinas comerciais para humanos ou aves. Além da vacinação, medidas de combate aos vetores e que visem minimizar a exposição de pessoas e animais aos insetos têm sido recomendadas em áreas endêmicas. Além dessas medidas, o uso de inseticidas, larvicidas, repelentes (para uso em eqüinos) e dispositivos para reduzir o acesso dos vetores, e de telas de proteção para evitar o acesso de aves a instalações animais tem sido preconizado. Locais propícios para a reprodução de mosquitos (depósitos de água) devem ser investigados e combatidos. Lâmpadas que não atraem insetos devem ser preferencialmente utilizadas em estábulos, além do uso de telas nas aberturas. Deve-se também evitar o contato de quaisquer tipos de aves – sejam domésticas ou silvestres - com os eqüinos. Estas medidas reduzem a probabilidade de contato dos animais domésticos com os vetores, mas não eliminam totalmente o risco de transmissão. Conservação e remessa: MATERIAL PARA DIAGNÓSTICO VIROLÓGICO As amostras destinadas ao isolamento viral devem merecer atenção especial. Devem ser prontamente acondicionadas em recipientes estéreis (tubos, sacos plásticos, placas) e conservadas sob temperaturas baixas. Se o intervalo entre a coleta e entrega ao laboratório for curto (até 2-3 dias), é preferível manter o material refrigerado (a 4°C). Se o tempo necessário para a remessa e entrega do material for superior a três dias, deve-se optar pelo seu congelamento. Em geral, pode-se adotar a seguinte regra: para horas ou até 2-3 dias, conservar o material a 4°C; para mais tempo, congelar a –20°C ou –70°C. O sangue integral destinado ao isolamento viral nunca deve ser congelado. Para a remessa, o material deve ser acondicionado em caixas térmicas com gelo reciclável em abundância. Evitar o uso de gelo comum, pois o descongelamento normalmente inviabiliza as amostras. Caso o gelo comum tenha que ser usado o mesmo deve ser acondicionado de forma evitar contato direto com o material. Quando o sangue for destinado a exames sorológicos, devese proceder à separação do soro previamente ao envio. Nunca se deve congelar o sangue antes da separação do coágulo. Após a sua separação, o soro pode ser conservado a 4-6ºC por vários meses. A coleta e o acondicionamento adequados do material são críticos para o sucesso do diagnóstico laboratorial de infecções víricas. Também é fundamental que o material seja acompanhado por um histórico clínico e epidemiológico detalhado. Por isso, as etapas de coleta, acondicionamento, conservação e remessa são tão importantes quanto a realização e interpretação dos testes laboratoriais. Material a ser coletado: Em geral, coleta-se material dos sistemas e órgãos afetados pela patologia, onde há maior probabilidade de se detectar o agente ou seus produtos. A coleta de material de animais doentes deve ser realizada tão logo se observe os sinais clínicos. Na necropsia deve-se dar preferência aos órgãos e tecidos que apresentem alterações macroscópicas. A coleta de sangue para a sorologia é recomendada para uma variedade de infecções. A seguir são listados os materiais mais indicados para coleta. - Enfermidades respiratórias: secreções nasais, aspirados nasofaríngeos, trato respiratório superior, pulmões. - Enfermidades entéricas: fezes, conteúdo intestinal, segmentos intestinais, linfonodos regionais. 15 Revista Ciência Rural Em 2008, a revista científica do Centro de Ciências Rurais deverá publicar aproximadamente 450 trabalhos, distribuídos em nove fascículos. Em 2007, a Ciência Rural foi aceita para ser indexada no Web of Science, devendo em breve ser classificada como publicação Qualis A internacional, pela CAPES. A revista pode ser adquirida por assinatura, tendo também acesso livre em www.ufsm.br/ ccr/revista ou www.scielo.br/cr. Além disso, está implantando um gerenciador eletrônico para submissão e avaliação dos trabalhos. Mais informações: [email protected]. PROFESSORES DO DMVP Saul Fontoura da Silva, Médico Veterinário, Mestre [email protected] Fone: 55 3220 8074 Agueda P. C. de Vargas, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Fone: 55 3220 9391 Sônia de Avila Botton, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Fone: 55 3220 9390 Carlos Augusto Mallmann, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Fone: 55 3220 8445 Rudi Weiblen¸ Médico Veterinário, Mestre, PhD [email protected] Fone: 55 3220 8034 Eduardo Furtado Flores, Médico Veterinário, Ms, PhD [email protected] Fone: 55 3220 8055 Fátima Vianna - Secretária do DMVP [email protected] Fernanda S. Flôres Vogel, Médico Veterinário, Ms, Dr [email protected] Fone: 55 3220 8071 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva - DMVP/CCR/UFSM Endereço: Prédio 44 (CCR II). Campus UFSM Camobi – Santa Maria – RS . CEP 97105-900 Fone/Fax: (55) 3220 8257 e-mail: [email protected] Webpage: www.ufsm.br/dmvp Expediente: Departamento de Medicina Veterinária Preventiva - Boletim Informativo Semestral Comissão Editorial: Prof. Sônia de Ávila Botton e Eduardo Furtado Flores. Diagramação: Estagiária de Jornalismo Natália Flores. Apoio: Centro de Ciências Rurais, Projeto de Extensão FIEX “Educação Continuada em Medicina Veterinária Preventiva”. Luis Antonio Sangioni, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Fone: 55 3220 8071 Maristela Lovato Flôres, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Fone: 55 3220 8072 Paulo Dilkin, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Luis Fernando V. de Pelegrini, Médico Veterinário, Mestre, Doutor [email protected] Fone: 55 3220 8074 LABORATÓRIO DE ANÁLISES MICOTOXICOLÓGICAS - LAMIC Análises diagnósticas de: ·Diversas micotoxinas (toxinas de fungos) em alimentos, sementes, cereais e subprodutos, em produtos lácteos e tecidos animais; ·Analisa cerca de 90% dos alimentos destinados para aves e suínos de diversas empresas agropecuárias brasileiras; ·É referência para mais de uma dezena de laboratórios da América do Sul. Endereço: Prédio 44 – CCR 2 – 3º andar - Fone/Fax: (55) 3220 8445 Professor: Carlos Augusto Mallmann ([email protected]). ESPAÇO PUBLICITÁRIO 16