Efeito da Debulha Sobre a Qualidade Fisiológica de Sementes de

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Efeito da Debulha Sobre a Qualidade Fisiológica de Sementes de Milho (Zea
mays L.)
Yuri Raimondo Daniel1; Guilherme Pozzato Francisco de Souza²; Patrícia Augusto da Silva³;
Ana Paula Oliveira4; Danilo de Alencar Ramos5; Wagner Henrique dos Santos6; Antônio
Carlos Mendes Parra Filho7; Sakae Kinjo8
1
Engenheiro Agrônomo, Analista de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, Est. Municipal Camaquã, s/n - Ipeúna, SP CEP:
13.537-000, [email protected]
2
Engenheiro Agrônomo, Analista de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, [email protected]
3
Engenheira Agrônoma, Analista de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, patrí[email protected]
4
Engenheira Agrônoma, Analista de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, [email protected]
5
Técnico Agrícola, Assistente de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, [email protected]
6
Técnico Agrícola, Assistente de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, [email protected]
7
Engenheiro Agrônomo, Analista de Pesquisa, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, [email protected]
8
Bióloga, Coordenadora, Centro de Pesquisa Mokiti Okada, [email protected]
RESUMO - O objetivo desse trabalho foi avaliar alguns métodos de debulha para verificar qual destes interferem
menos na qualidade fisiológica das sementes de milho. Foram realizados os testes fisiológicos de germinação, vigor,
tetrazólio, condutividade elétrica (CE) e emergência em campo (EC). As sementes de milho foram debulhadas
utilizando máquinas existentes no Centro de Pesquisa: debulhador de milho elétrico - Marca: TRAPP / Modelo: DM 50
a 1500 rotações por minuto - RPM (DEB), batedeira de cereais - Marca: ROSSETI / Modelo: BCO 30 MAX (BAT) a
820 RPM e manualmente (MAN). Concluímos que a debulha manual causa menor interferência na qualidade física e
fisiológica nas sementes e, portanto, é a mais recomendada. Os testes futuros deverão ser feitas em máquinas mais
especializadas para sementes ou serem realizadas alterações nas regulagens das máquinas a fim de que os danos
infligidos sejam minimizados.
Palavras-chave: danos, interferência, máquinas
INTRODUÇÃO
Tabela 1. Oferta e demanda do milho no Brasil (em mil toneladas).
O milho (Zea mays L.), é a planta mais
importante, na alimentação de homens e animais, com
origem nas Américas, há indícios que ele tenha surgido no
México e/ou sudoeste dos Estados Unidos. É uma espécie
com cerca de 300 raças e milhares de variedades, sendo
cultivada desde a Rússia até a Argentina, abrangendo a
região entre as latitudes dos dois países (Paterniani,
1995).
A importância econômica do milho é
caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que
vai desde a alimentação animal até a indústria de alta
tecnologia (Fornasieri Filho, 2007). Na Tabela 1,
podemos observar que o uso do milho em grão como
alimentação animal representou aproximadamente 56%
do consumo deste cereal, no Brasil, 9,3% é utilizado
como alimento humano e em processos industriais, cerca
de 0,6 % é utilizado como semente e 2,0% é perdido
(ABIMILHO, 2013).
Dentro do cenário mundial, o Brasil, com cerca
de 71 milhões de toneladas, destaca-se como sendo o
terceiro maior produtor de milho do mundo, ficando atrás
apenas da China e dos Estados Unidos. Já a produção
mundial ficou em torno de 870 milhões de toneladas,
tornando o milho uma das culturas mais produzidas no
mundo (ABIMILHO, 2013).
Safra
11/12
%
Produção total
Estoque inicial
Consumo de substitutos
Importação
70.907
9.212
2.500
500
85,3
11,1
3,0
0,6
Oferta Total
83.119
100,0
Consumo animal
Exportação
Consumo industrial
Outros usos
Consumo humano
Perdas
Sementes
40.298
19.802
4.868
3.545
1.892
1.418
404
55,8
27,4
6,7
4,9
2,6
2,0
0,6
Demanda Total
72.226
100,0
Oferta
Demanda
Fonte: ABIMILHO, 2013 (adaptado).
A produção orgânica de alimentos representa
atualmente a nível mundial, segundo dados levantados
pela Federação Internacional dos Movimentos de
Agricultura Orgânica (IFOAM), aproximadamente 37,5
milhões de hectares correspondendo a um total de 1,9
milhões de propriedades, o que significa 0,87% do total
das terras agricultáveis no mundo e movimentou, no ano
de 2012, cerca de 64 bilhões de dólares (IFOAM, 2013).
Na produção de sementes de milho, observamos
dificuldade na obtenção de sementes de alta qualidade
física, sanitária, genética e fisiológica. A degradação
fisiológica da semente está relacionada com a qualidade
inicial e às condições de armazenamento, como por
exemplo, temperatura, umidade e período, métodos de
debulha que causam danos fisiológicos na semente,
porcentagem de umidade das sementes na época de
colheita, entre outros, tais variáveis, se planejadas de
maneira errada, podem causar a diminuição do poder
germinativo, vigor, qualidade da plântula, entre outros
danos, que acarretam baixa produtividade e
consequentemente baixa produção.
Dentre os problemas enfrentados na produção de
sementes de milho, as etapas de colheita e debulha têm
sido críticas. A falta de maquinários apropriados e a
utilização inadequada de equipamentos nas fases de
colheita, secagem e beneficiamento, favorecem um alto
percentual de danos nas sementes. Estes danos mecânicos
têm sido apontados como a causa da redução da qualidade
das sementes de milho produzidas (Smiderle e Gianluppi,
2002).
A colheita manual promove menos e ou nenhum
dano à espiga, bem como a debulha manual. Entretanto, o
rendimento da colheita e da debulha é muito baixo,
requerendo muita mão de obra e elevando os custos.
Sendo mais apropriada para pequenas propriedades e
terrenos declivosos. Na colheita e na debulha mecanizada,
a regulagem adequada das máquinas é importante para se
reduzir as perdas quantitativas e qualitativas, ou seja,
perda de grãos ou de massa de grãos, propriamente dita, e
redução da qualidade por trincamento e quebra do grão,
além da ocorrência de doenças. As perdas devido à
colheita mecanizada são da ordem de 8 a 10% (Silva,
1997; Santos, 2008).
O dano mecânico afeta a qualidade das sementes
e pode ser através de efeitos imediatos e efeitos latentes.
Os efeitos imediatos caracterizam-se pela redução da
germinação e vigor logo após a semente ter sido
danificada. Já os efeitos latentes não afetam de imediato a
viabilidade, porém durante o armazenamento as sementes
danificadas sofrem reduções do vigor e da germinação,
com reflexos negativos no tempo de armazenamento e na
performance das sementes e das plantas no campo
(Nakagawa, 1986; Carvalho e Nakagawa, 1988; Bewley e
Black, 1994; Escasinas e Hill, 1994; Peterson et al.,
1995).
Portanto o objetivo desse trabalho foi avaliar o
efeito da debulha mecanizada em dois equipamentos
sobre a qualidade fisiológica de sementes de milho
comparada à debulha manual.
METODOLOGIA
O projeto foi conduzido na fazenda experimental
do Centro de Pesquisa Mokiti Okada, localizado em
Ipeúna/SP, latitude 22°24'5" S e longitude 47°40'58" O.
Para a realização do experimento foram colhidos
manualmente 65 kg do milho da variedade experimental
ZmG-01 com aproximadamente 18% de umidade. O
milho foi seco em espiga em temperatura ambiente até o
valor de aproximadamente 15% de umidade, conforme
apresentado na Tabela 2.
Posteriormente foram realizados os testes
fisiológicos
de
germinação,
vigor,
tetrazólio,
condutividade elétrica (CE) e emergência em campo
(EC). As sementes de milho foram debulhadas de três
formas diferentes: um debulhador de milho elétrico Marca: TRAPP / Modelo: DM 50 a 1500 RPM (DEB),
batedeira de cereais - Marca: ROSSETI / Modelo: BCO
30 MAX (BAT) a 820 RPM e manualmente (MAN).
Tabela 2. Teor de umidade de cada tratamento debulhada de 3 diferentes
formas (debulhador elétrico - DEB, batedeira de cereais – BAT e
manualmente – MAN) após a secagem em temperatura ambiente.
Tratamento
Umidade (%)
DEB
15,001
BAT
14,912
MAN
14,955
Teor de umidade
Foi determinado utilizando-se quatro repetições
de 20 gramas de sementes inteiras para cada tratamento,
em estufa regulada a 105±3ºC, durante 24 horas,
conforme as Regras para Análise de Sementes (Brasil,
2009).
Teste de germinação e vigor
Avaliou-se 50 sementes por repetição e 8
repetições por tratamento em papel germiteste umedecido
com volume de água equivalente a 2,5 vezes o peso do
substrato seco. Os rolos do papel foram mantidos em
germinador (BOD) a 25ºC e as contagens foram feitas aos
4 e 7 dias após a montagem do teste. A primeira contagem
de germinação (teste de vigor) foi realizada
concomitantemente com o teste de germinação,
computando-se a porcentagem de plântulas normais
obtidas na primeira contagem do referido teste (Brasil,
2009).
Teste de tetrazólio
Realizou-se o pré-umedecimento, cujo objetivo
foi de facilitar a absorção da solução de tetrazólio pela
semente e colocamos 50 sementes entre papéis germiteste
umedecidos com água destilada e deixá-las em ambiente
controlado a uma temperatura de 25ºC durante 16 horas,
totalizando 4 repetições por tratamento. Após essa etapa,
as sementes foram cortadas longitudinalmente na metade,
com o auxílio de uma lâmina e colocadas em um
recipiente escuro para cada tratamento, juntamente com a
solução aquosa 0,1% do sal de tetrazólio até cobrir
totalmente as sementes. Passado o período de 2 horas, a
uma temperatura de 35ºC na câmara de germinação,
verificou-se a coloração interna do embrião e do
endosperma e classificando-as de acordo com um padrão
pré-estabelecido (Dias e Barros, 1995; Brasil, 2009).
* Médias situadas na mesma coluna, seguidas da mesma letra, não
diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Teste de condutividade elétrica
Quatro repetições de 50 sementes por tratamento,
com massa conhecida, foram colocadas para embeber em
recipientes plásticos contendo 75 ml de água destilada,
por um período de 24 horas a 25ºC. Em seguida, as
amostras foram agitadas para homogeneização dos
exsudados liberados na água, efetuando-se a leitura da
condutividade elétrica da solução de embebição em
condutivímetro da marca: MS Tecnopon / Modelo mCA
150, previamente calibrado, com eletrodo de constante
1,0, expressando-se os resultados em µS. cm-1/g de
sementes (Vieira, 1994).
Teste de emergência em campo
O delineamento experimental utilizado, para este
teste, foi o de blocos casualizados, utilizando 10
repetições de 100 sementes por tratamento. As sementes
foram semeadas em sulcos de 2,0 m de comprimento
com, aproximadamente 2,0 cm de profundidade e o
espaçamento entre linhas foi de 0,5 m. A área foi irrigada
sempre que necessário para garantir o bom andamento do
teste. A contagem das plântulas normais emergidas foi
efetuada aos 7, 14 e 21 dias após a semeadura com
expressão dos resultados em porcentagem (Nakagawa,
1994).
Procedimento estatístico
Os resultados dos testes de germinação,
tetrazólio, condutividade elétrica e emergência em campo
foram submetidos à análise de variância e suas médias
foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No teste de tetrazólio verificou-se que o milho
debulhado no debulhador elétrico, no batedor de grãos e
manualmente não diferiram estatisticamente no potencial
germinativo da semente (Tabela 3), mesmo assim
observa-se que o milho debulhado na batedeira de cereais
teve uma leve queda no seu potencial germinativo, pois
apresenta 93,5% de sementes germináveis, contra 96,5%
do debulhador elétrico e 96,0% da debulha manual.
Tabela 3. Parâmetros avaliados para determinação da qualidade
fisiológica das sementes. Legenda: Trat. - Tratamento; 1ª Cont. - 1ª
Contagem (vigor); Germ. - Germinação; CE - Condutividade Elétrica;
EC - Emergência em campo; CV – Coeficiente de Variação.
Trat.
1ª Cont.
(%)
Germ.
(%)
Tetrazólio
(%)
CE
(µS.cm-1/g)
EC
(%)
DEB
26,75b
81,50a
96,50a
8,64a
86,80b
BAT
35,25ab
81,75a
93,50a
7,64a
85,80b
MAN
54,50a
97,50a
96,00a
5,65b
CV
(%)
50,25
20,65
4,61
10,19
Verificou-se também que, no teste de
Condutividade Elétrica (CE), o modo de debulha manual
se destacou sobre os demais tratamentos, já que liberou
menos exsudado na água destilada, obtendo menor valor
de CE, 5,65 µS.cm-1/g. A debulha manual provavelmente
infligiu menor impacto na semente, causando menos
danos físicos e, consequentemente, fisiológicos. Em
seguida vêm os outros dois tratamentos que obtiveram
maior valor de CE, 8,64 µS.cm-1/g, para o debulhador
elétrico e 7,64 µS.cm-1/g, para a batedeira de cereais, isso
se deve ao fato de que, por passar através de batedores de
alta rotação, de 820 a 1500 RPM, sofrendo altos impactos,
ocorre a trinca e/ou quebra das sementes, fazendo com
que a quantidade de exsudados liberados na água
destilada seja maior.
O teste de emergência em campo (EC) aponta
que a debulha manual proporcionou menos danos nas
sementes, concordando com o resultado observado na
condutividade elétrica que diferiu entre os tratamentos,
tendo em vista que 93,4% das sementes emergiram
gerando plantas normais. Isso se deve ao fato de que a
debulha manual quase não causa dano na semente, pois a
semente não sofre impacto algum.
Os resultados mostrados na Tabela 3
demonstram que o teste de germinação, incluindo a 1ª
Contagem, não houve diferença estatística entre os
tratamentos, porém podemos observar que o tratamento
de debulha manual se sobressaiu aos demais, tendo em
vista que alcançou 54,5% de sementes vigorosas e 97,5%
das sementes germinaram e formaram plântulas normais.
O teste é feito em laboratório, em ambiente controlado, e
mesmo assim as repetições dentro do mesmo tratamento,
foram bastante desiguais, ocasionando elevação do
Coeficiente de Variação (CV %). Esse fato pode ter
ocorrido pela falta de uma homogeneização do lote de
sementes dos três tratamentos, falta de água durante a
montagem do teste, desregulagem no fotoperíodo da
BOD, entre outros fatores que influenciam diretamente
sobre a germinação da semente.
CONCLUSÃO
Concluímos que a debulha manual causa menos
danos nas sementes. Porém devido à necessidade de
maior mão de obra e demora no processo, a debulha
manual deve ser restringidas apenas as produções em
menor escala, familiares e experimentais. Os resultados
mostram que os equipamentos destinados para milho grão
não devem ser utilizados também para milho semente. As
máquinas utilizadas para tais testes são voltadas para
milho grão, assim, não foram projetadas para não
danificar a semente por impactos.
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