Malária: Informações para profissionais de saúde

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GOVERNO DE SANTA CATARINA
Secretaria de Estado da Saúde
Sistema Único de Saúde
Superintendência de Vigilância em Saúde
Diretoria de Vigilância Epidemiológica
Malária: Informações para profissionais de saúde
A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Plasmodium e
transmitida ao homem por fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles, produzindo febre, além de
outros sintomas. Quatro espécies de plasmódio podem causar a doença: P. falciparum, P. vivax, P.
malariae e P. ovale (essa, de transmissão natural apenas na África).
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que seu impacto sobre as
populações humanas continua aumentando: ocorre em mais de 90 países, pondo em risco cerca de
40% da população mundial e estima-se que ocorram de 300 a 500 milhões de novos casos, com média
de um milhão de mortes por ano. Representa, ainda, risco elevado para viajantes e migrantes
infectados provenientes de áreas de transmissão e que venham adoecer em áreas não endêmicas.
Santa Catarina já foi área de transmissão da doença nos municípios litorâneos de norte a sul
e das Serras Geral e do Mar até o Oceano Atlântico. Fatores ambientais como o clima favorável e a
presença de floresta (Mata Atlântica) com bromélias que serviam de criadouros para os Anopheles
kertezia, propiciavam a manutenção da doença.
Após 24 anos de ações intensivas no combate ao vetor, na eliminação das condições para
sua proliferação, no tratamento oportuno dos doentes e melhoria nas ações de vigilância, em 1986 a
transmissão da malária foi considerada interrompida no Estado. No entanto, casos esporádicos de
malária autóctone causada pelo P. vivax foram detectados em 1996, 1997, 1999, 2000, 2003 e 2010,
principalmente, na região do Alto Vale do Itajaí (Tabela 1).
Tabela 1. Casos autóctones de malária (P. vivax), por município de ocorrência, Santa Catarina, 19962010*.
Município
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003 2010
Indaial
1
0
0
1
0
0
0
1
0
Garuva
1
0
0
0
0
0
0
0
1
Gaspar
0
1
0
0
0
0
0
1
0
Mafra
0
0
0
0
0
0
0
0
1
Rodeio
0
0
0
0
1
0
0
0
0
Total
2
1
0
1
1
0
0
2
2
Fonte: FUNASA e SINAN
*2004 a 2009 sem registro de casos autóctones.
De acordo com o levantamento realizado em 48 municípios, no período de 1997 a 2004,
foram identificadas espécies de anofelinos no território catarinense, conforme distribuição na Figura 1.
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Figura 1. Levantamento da fauna anofélica, Santa Catarina, 1997 a 2004.
Total de municípios: 48
Total de anofelinos coletados: 7.303
Espécies identificadas: 13
Fonte: FUNASA E DIVE/SES.
As espécies encontradas em ordem de maior frequência foram: Anopheles evansae,
Anopheles cruzii, Anopheles albitarsis, Anopheles strodei, Anophelis deanorium, Anophelis
mediopunctatus, Anophelis lutzi, Anopheles parvus, Anopheles oswaldoi, Anopheles bellator, Anopheles
argyrytarsis, Anopheles homunculus, Anopheles nunestovari.
O Anopheles cruzi e o Anopheles albitarsis possuem maior potencial de transmissão da
malária no estado de Santa Catarina..
A presença de espécies vetoras associada à vulnerabilidade conferida pela detecção anual de
doentes vindos da região amazônica e de países endêmicos mantém o risco da reintrodução da doença
no Estado (Tabela 2 e Figura 2).
Tabela 2. Casos confirmados de Malária, segundo Local Provável de Infecção, Santa Catarina, 2006 a
2013.
AC
AL
AM
AP
DF
MA
MG
MS
MT
2006
3
0
11
0
0
1
0
1
5
2007
3
0
10
0
0
0
0
2
6
2008
1
0
8
0
0
0
0
0
0
2009
0
0
2
1
0
0
0
1
2
2010
1
0
8
2
0
2
0
0
0
2011
6
0
3
0
0
0
0
0
2
2012
0
0
12
2
0
1
0
0
3
2013
1
0
8
2
1
0
1
0
2
2014
3
1
7
1
0
0
0
0
2
2
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PA
RJ
RO
RR
SC
África do Sul
Angola
Bolívia
Congo
Filipinas
Ghana
Guatemala
Guiana Francesa
Guiné Equatorial
Indonésia
Moçambique
Nigéria
Paraguai
Quênia
Suriname
Tanzânia
Uganda
Venezuela
Ign
Total
9
0
30
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
6
69
3
0
18
1
0
1
2
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
1
0
1
0
0
0
1
50
3
0
5
0
0
0
1
0
0
0
0
0
1
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
1
22
2
0
8
2
0
0
1
0
0
1
1
1
0
0
0
1
0
0
1
0
0
0
0
0
24
3
0
19
0
2
2
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
40
5
0
6
1
0
1
1
0
1
0
1
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
28
8
1
16
0
0
1
2
1
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
1
2
0
3
54
3
0
21
0
0
1
2
0
1
0
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
48
1
0
7
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
26
Fonte: SES-SC/DIVE/ SINAN
Figura 2. Casos confirmados de malária e óbitos segundo etiologia, Santa Catarina, 2009 a 2014.
Fonte: SES-SC/DIVE/SINAN
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Objetivando manter interrompida a transmiss€o da mal•ria e a ocorr‚ncia de ƒbitos pela
doen„a no Estado, o programa de controle da mal•ria tem focado suas a„…es na vigil†ncia para a
suspeita, o diagnƒstico precoce e o tratamento adequado e oportuno aos doentes. Para tanto, o
LACEN, respons•vel pela gest€o de diagnƒstico, estabeleceu uma rede de refer‚ncia, conforme
disposto na Tabela 3:
Tabela 3. Rede de Laboratƒrios refer‚ncia para diagnƒstico da Mal•ria em Santa Catarina.
Munic€pio
Exames dispon€veis
Blumenau
Parasitolƒgico e teste r•pido
Chapecƒ
Parasitolƒgico e teste r•pido
Crici‰ma
Parasitolƒgico e teste r•pido
Florianƒpolis
Parasitolƒgico e teste r•pido
Joa„aba
Parasitolƒgico e teste r•pido
Joinville
Parasitolƒgico e teste r•pido
S€o Miguel
d’Oeste
Tubar€o
Parasitolƒgico e teste r•pido
Parasitolƒgico e teste r•pido
Endere•o
Laborat‚rio Regional e Municipal de Blumenau
Rua Xanxer‚ n‡40, Bairro Vorstadt
Blumenau-SC
LACEN: Rua: Dom Joaquim Domingues de
Oliveira, 100 D, Bairro Passo dos Fortes Chapecƒ
–SC
LACEN: Rua Julio Gaidizinsk s/n. Em frente ao
Hospital S€o JosŠ.
Crici‰ma - SC
LACEN: Rua Felipe Schmidt, 778 – Centro
Florianƒpolis-SC
LACEN: Rua Elizi•rio de Carli,795
Bairro Santa Tereza- Joa„aba,SC
LACEN: Rua XV de novembro, 70 – Centro
Joinville – SC.
LACEN: Rua Santos Dumont, 131, Centro
S€o Miguel D’Oeste – SC
LACEN: Rua Rui Barbosa, 339, Centro
Tubar€o –SC
Para os exames imunocromatogr•fico (teste de diagnƒstico r•pido) e parasitolƒgico, o
LACEN recomenda que seja enviado ao laboratƒrio de refer‚ncia sangue total com EDTA em tubo
vacutainer (tampa roxa).
Os casos confirmados de mal•ria dever€o ser tratados e acompanhados por mŠdico da
rede de sa‰de dos municŒpios utilizando esquema especŒfico, considerando a espŠcie de
Plasmodium identificada, conforme orienta„…es disponŒveis no “Guia pr„tico de
tratamento da mal„ria no Brasil”, do MinistŠrio da Sa‰de, no endere„o:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_malaria.pdf
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O tratamento da mal•ria visa atingir o parasito em pontos-chave de seu ciclo evolutivo,
atuando:
a) na interrup„€o da esquizogonia sanguŒnea, respons•vel pela patogenia e manifesta„…es
clŒnicas da infec„€o;
b) na destrui„€o de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoŒtos) das espŠcies
P. vivax e P. ovale, evitando assim as recaŒdas tardias;
c) na interrup„€o do processo de transmiss€o do parasito, atravŠs do uso de drogas que
impedem o desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitos (gametƒcitos).
Pessoas apresentando febre atŠ 30 dias apƒs o retorno de viagem de •reas end‚micas
(dentre elas: •frica, •sia, AmazŽnia Legal) dever€o realizar, com urg‚ncia, exames para
pesquisa de mal•ria.
A urg‚ncia na realiza„€o do exame Š necess•ria pela possibilidade do quadro clŒnico evoluir
para a gravidade com rapidez, dependendo da espŠcie do parasito (P.falciparum), da quantidade de
parasitos circulantes, do tempo de doen„a e do nŒvel de imunidade adquirida pelo paciente.
Aten„€o especial dever• ser dada nos tratamentos dos pacientes com mal•ria causada pelos P.
vivax e P. ovale, ajustando a dose e tempo de administra„€o da primaquina ao peso do paciente
(Quadro 3. do Guia Pr•tico de Tratamento da Mal•ria ), a fim de destruir as formas latentes do
parasito (hipnozoŒtos), prevenindo prov•veis recaŒdas.
A an•lise dos dados do SINAN, no perŒodo de 2010 a 2012, mostra percentual significativo de
recaŒdas dos casos de mal•ria vivax (Tabela 4).
Tabela 4. Frequ‚ncia de recaŒdas de mal•ria por Plasmodium vivax, Santa Catarina – 2010 a 2014
Ano
Casos
Recaídas
2010
34
4
%recaídas
11,8
2011
23
4
17,4
2012
45
8
17,8
2013
42
4
9,5
2014
26
1
3,8
Total
170
21
12,3
Fonte: SINAN
As recaŒdas causadas pela infec„€o pelo P. vivax ou P. ovale, ocorrem porque os parasitos t‚m
tempos diferentes de desenvolvimento. Alguns se desenvolvem rapidamente nas cŠlulas do fŒgado
(hepatƒcitos) enquanto outros, chamados hipnozoŒtos, ali ficam em estado de lat‚ncia por perŒodos
vari•veis de incuba„€o, geralmente 6 meses ou mais. A droga hipnozoiticida dos P.vivax e P.ovale
disponŒvel no Brasil Š a Primaquina.
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O guia prático de tratamento da malária no Brasil disponível no endereço eletrônico:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_malaria.pdf, apresenta dois esquemas de
tratamento das infecções pelo P.vivax ou P. ovale:
- Esquema curto (Tabela 1, pag.18): Cloroquina em 3 dias e Primaquina em 7 dias;
- Esquema longo (Tabela 2, pag.19): Cloroquina em 3 dias e Primaquina em 14 dias.
Considerando o percentual de recaídas detectado, recomendamos que seja utilizado,
em Santa Catarina, o esquema longo nos tratamentos das infecções que envolvam o
Plasmodium vivax e Plasmodium ovale.
Em caso de pacientes com mais de 70kg de peso, a dose de Primaquina deverá ser ajustada,
calculando-se a dose total de 3,2mg/kg de peso, estendendo-se o tempo de tratamento para além
dos 14 dias, até completar a dose total necessária (Quadro 3. Pag20).
Em caso de uma primeira recaída após o esquema longo, considerando que o tratamento
tenha sido realizado corretamente sem que houvesse suposto abandono, uso de bebida alcóolica ou
falha na administração das doses diárias, é indicado o uso da profilaxia com cloroquina semanal por 12
semanas (Quadro 4 do guia prático de tratamento da malária no Brasil).
São essenciais para o sucesso do tratamento: o diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e
adequado, o envolvimento dos profissionais da atenção básica, no sentido de acompanhar a evolução
clínica do doente, a adesão ao esquema terapêutico e realização das lâminas de verificação de cura
(LVC) após o início do tratamento realizadas nos dias:
 3, 7, 14, 21, 28, 42 e 63 para malária causada pelo P.vivax ou malária mista (P.vivax
+P.falciparum);
 3, 7, 14, 21, 28 e 42 para malária causada pelo P.falciparum;
Os medicamentos para tratamento dos casos confirmados de malária sem
complicações ou grave, estão disponíveis estrategicamente em 20 Gerências
Regionais de Saúde do estado: Xanxerê, São Miguel D´Oeste, Concórdia,
Joaçaba, Videira, Chapecó, Rio do Sul, Blumenau, Itajaí, Florianópolis, Laguna,
Tubarão, Criciúma, Araranguá, Joinville, Jaraguá do Sul, Mafra, Canoinhas,
Lages e Braço do Norte e deverão ser utilizados exclusivamente para este
fim.
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Diretoria de Vigilância Epidemiológica
Frente a uma suspeita de malária, a unidade de saúde deverá notificar imediatamente à
Vigilância Epidemiológica do município (VE/SMS), a fim de desencadearem a investigação, diagnóstico
e tratamento oportunos. Os procedimentos de investigação deverão ser guiados pela Ficha de
Investigação Epidemiológica (FIE) do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Informações detalhadas sobre o agravo, atendimento ao paciente, vigilância epidemiológica e
prevenção de malária para viajantes estão disponíveis nos endereços eletrônicos:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_malaria.pdf;
http://10.1.1.213/portal/arquivos/pdf/guia_prof_saude_prev_malaria_viajantes_20_01.pdf;
Bibliografia consultada:
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7ª Edição. Brasília 2013.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Guia prático de tratamento da malária no Brasil. Brasília 2010.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de terapêutica de malária. Brasília
1996.
4. Organização Mundial da Saúde. Tratamento da Malária Grave e Complicada/Guia de Condutas
Práticas. 2ª Edição. Genebra 2000.
Divisão de vetores, reservatórios, hospedeiros e outros (DVRH)
Gerência de Vigilância de Zoonoses e Entomologia (GEZOO)
[email protected]
[email protected]
(48) 3664-7479/7480/7482
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