Marketing ou Desenvolvimento Sustentável? O discurso social da Shell Eduardo da Rocha Marcos Resumo - Quais os limites do marketing no trabalho de comunicação de uma empresa? A empresa petrolífera Shell lançou em 2002 uma campanha sobre meio ambiente, enfatizando sua preocupação com o desenvolvimento sustentável. Concomitantemente, a opinião pública tomou conhecimento, através da grande imprensa, da contaminação da base da Shell, na Vila Carioca (SP). Para a sociedade, a Shell afirmou ser uma empresa preocupada com o meio ambiente. Na Justiça, a multinacional sofre ação civil pública pelo descaso com a Vila Carioca. É com o auxílio da semiótica que se propõe, neste trabalho, dissecar a veracidade da informação transmitida pela Shell. Palavras-chave – Desenvolvimento Marketing, Análise do Discurso sustentável; I. INTRODUÇÃO A Shell completa neste ano de 2003, 90 anos de atuação no Brasil. A empresa é a sexta maior empresa produtora de petróleo do mundo, segundo ranking de 2001 da PIW (Petroleum Intelligence Weekly), considerado o melhor termômetro do setor no mercado. No Brasil, de acordo com classificação da Fundação Getúlio Vargas (2002), a empresa ocupa a segunda posição, perdendo apenas para a Petrobras. Considerando se tratar de uma empresa multinacional e uma das maiores do mundo, acredita-se que uma corporação desse porte tenha preocupações além daquelas ligadas ao lucro. No mundo dos negócios, diz o marketing, é importante sempre ser o primeiro. No entanto, a busca desse privilegiado posto tem um preço, pois envolve disputa com a concorrência, a definição de uma estratégia eficiente, investimentos em produção, publicidade, marketing, e, mais recentemente, em um novo nicho que as empresas descobriram chamado Responsabilidade Social, muitas vezes, aliado ao Marketing Social. O conceito de Responsabilidade Social ainda é recente, mas a preocupação com a sociedade e sua interação com o meio ambiente nem tanto. Ignacy Sachs, em 1972, formulou o conceito de Ecodesenvolvimento [1], que seria posteriormente conhecido como Desenvolvimento Sustentável. Esse conceito, hoje em dia, passou a pautar o planejamento de todas as empresas que procuram além da liderança no mercado, formas harmônicas de exploração dos recursos naturais aliado ao comprometimento com as gerações futuras e a garantia de preservação dos recursos. A Shell, desde o ano de 2002, vem intensificando em suas campanhas publicitárias sua preocupação com o Desenvolvimento Sustentável e seu envolvimento com a manutenção dos recursos naturais, com a sociedade e com o meio ambiente. Parte disso faz parte de uma estratégia, que foi intensificada após a empresa ganhar as páginas do noticiário com a contaminação ambiental em Paulínia, em 2001. Em abril de 2002, um novo caso de contaminação envolvendo a Shell ganhou o noticiário. Desta vez, a área em questão foi a Vila Carioca, zona sul de São Paulo. Durante cerca de 40 anos, os tanques de combustível da Shell foram lavados no local contaminando o solo, se espalhando pelo entorno da unidade. A atuação da multinacional comprometeu uma área compreendida por 180 mil km2, sendo suspeita de contaminar aproximadamente 30 mil moradores vizinhos, segundo dados da Promotoria do Meio Ambiente. Na imprensa, mais uma vez, a Shell afirmou ser uma empresa preocupada com o meio ambiente. Na Justiça, a empresa sofre uma ação civil pública pelo ocorrido, apelando judicialmente toda vez que perde uma ação. É evidente que não se almeja com este artigo a condenação gratuita da empresa, mesmo porque à época de instalação da unidade de Vila Carioca (1951) muitos dos procedimentos preventivos com relação ao meio ambiente ainda nem existiam. Este artigo tem por objetivo analisar o discurso do Desenvolvimento Sustentável, que em muitas ocasiões parece destoar da conduta pregada pela empresa em sua comunicação institucional e publicitária. Por vezes, o ato discursivo da Shell deixa de lado o seu conteúdo e permeia os sedutores campos da Publicidade, enquanto estratégia de marketing. Para tanto, como objeto de análise, foram selecionadas peças produzidas pela empresa em sua comunicação institucional e publicitária, durante o período compreendido entre os meses de abril de 2002 e janeiro de 2003. A partir daí, foram aplicados recursos da semiótica francesa, seguindo a linha do semiólogo A. J. Greimas , especificamente o conceito das Modalidades Veredictórias do Discurso [2], em contraponto com as informações veiculadas na grande imprensa, tendo como objeto de apoio o noticiário sobre o caso produzido pelo jornal Folha de S.Paulo no mesmo período. II. HISTÓRICO O caso de Vila Carioca tomou conhecimento público em 1993, a partir de uma denúncia feita junto à Promotoria do Meio Ambiente, pelo Sinpetrol (Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minerais e Derivados de Petróleo) e pelo Greenpeace. Na ocasião, o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) constatou uma 215 concentração de chumbo na região de 220mg por quilo de solo, quando já bastam 0,5mg para se considerar a exposição nociva, segundo dados da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). À época, foi determinado pelo Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) que a Shell realizasse um estudo de avaliação da contaminação na área. No período compreendido entre os anos de 1993 até 1998 foram feitas novas avaliações e remediações de áreas já contaminadas. É nesse período que novas substâncias como metais pesados foram encontrados no solo e nos lençóis freáticos. A empresa removeu e incinerou o solo contaminado. No ano seguinte, a Promotoria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo recebeu relatório conclusivo da Cetesb, em que eram apontados como incompletos os trabalhos de recuperação da empresa. Em junho de 2001 o Ministério Público solicitou informações em caráter de urgência sobre a situação ambiental do local. A Cetesb alegou que tudo corria como o previsto e que cumpria as solicitações do Ministério Público. Em setembro do mesmo ano, a agência ambiental reiterou que a multinacional tomou todas as providências, e que a população local não corria risco. Em março de 2002, parecer técnico do Ministério Público constatou que o problema demorou para ser resolvido e que só foi solucionado em parte. Ficaram inconclusos os trabalhos de recuperação das águas profundas contaminadas. Além disso, a Cetesb também foi culpada por “avalizar” a falta de solução para o problema ambiental. O relatório concluiu que havia risco à saúde e à vida das pessoas no entorno da unidade. O inquérito virou uma ação civil pública no mês seguinte. Foi dado prazo de 180 dias para a Shell remover todos os resíduos, e além disso, foi obrigada a pagar pelos danos ambientais irreversíveis e indenizar os trabalhadores, extrabalhadores e moradores. Foi nesse mês, de abril de 2002, que o caso ganhou as páginas da grande imprensa. Concomitantemente, a Shell realizou uma ampla campanha na mídia impressa e eletrônica com o tema do Desenvolvimento Sustentável, que terá seu desdobramento abordado no próximo item. Por razões metodológicas os filmes publicitários não serão analisados nesta oportunidade, uma vez que o objeto de estudo desta pesquisa ateve-se apenas à produção veiculada em mídia impressa e eletrônica (neste caso apenas internet), desprezando-se a linguagem televisiva. Deve-se lembrar que o caso da Vila Carioca ganhou as páginas da grande imprensa no dia 20 de abril do mesmo ano. III. A CAMPANHA DA SHELL Iniciamos esta análise destacando o foco narrativo de uma das quatro peças publicitárias da Shell, veiculadas nas principais revistas brasileiras, de circulação nacional. A peça é composta de uma fala atribuída a um líder comunitário. O programa foi lançado em vários países, antes de chegar ao Brasil. Uma ampla campanha sobre Desenvolvimento Sustentável foi veiculada no Brasil em 14 de abril de 2002. O programa consistia na adoção de quatro pilares básicos: - anúncios na mídia impressa e eletrônica trabalho com formadores de opinião ação maciça de conscientização interna ampla pesquisa para medir os efeitos da campanha junto ao público interno e externo. A campanha de divulgação da Shell era composta de dois filmes publicitários de 30 segundos cada para veiculação em TV aberta, TVs a cabo e salas de cinema. Quatro anúncios impressos davam apoio ao conceitos transmitidos nos anúncios eletrônicos. IV. METODOLOGIA A análise ilustrativa deste artigo foi baseada em alguns conceitos emprestados da teoria de A . J. Greimas. Não se teve como pretensão uma análise ampla englobando a extensa teoria. Da gramática semiótica, serviram como ferramentas de análise elementos da Semântica Narrativa e Sintaxe Narrativa. Foram abordadas as Modalidades Veredictórias do Discurso e as Classes de Manipulação, integrantes do Nível Narrativo de análise discursiva. Do extenso corpus recolhido no período compreendido entre abril de 2002 a janeiro de 2003, foram selecionados para a composição deste artigo alguns aspectos mais significativos que devem ser esclarecidos. Do amplo material produzido pela Shell nesse período foi recolhida uma das quatro peças publicitárias que integraram a campanha de apoio sobre Desenvolvimento Sustentável, exatamente a que se restringe ao tema e ao posicionamento da Shell diante do problema da Vila Carioca, exposto no próprio site da empresa. Da grande imprensa, o material coletado para o corpus refere-se ao noticiário publicado pela Folha De S.Paulo no mesmo período, jornal escolhido por ser o primeiro a noticiar o caso. Ficou de fora desta análise um amplo material composto pela comunicação interna da Shell e outras peças publicitárias por integrarem material de uma exaustiva análise, tema de um estudo mais amplo. V ANÁLISE SEMIÓTICA “O desenvolvimento sustentável sempre fez parte das ações da Shell. Por isso, a Divisão de Exploração e Produção antes de implantar qualquer projeto, consulta agentes como o governo, parceiros, ONGs e comunidades locais para saber suas opiniões e trocar idéias. Dialogar significa envolver esses agentes nas ações da Companhia. Isso é o que vem acontecendo nas atividades de exploração nos blocos onde a Shell vem operando. O primeiro passo é a identificação das expectativas. Depois vem o diálogo propriamente dito e a implementação das ações. Assim nasceu uma iniciativa que representa o início de uma maior interação entre a exploração de petróleo e a atividade de pesca. Esse diálogo vem mostrando cada vez mais sua eficiência e por isso já vem 216 servindo de referência para outras empresas. E pode ter certeza, isso não é história de pescador. Daniel Viana Líder comunitário” Em formato jornalístico de entrevista ping-pong, a empresa, por meio de perguntas e respostas, disponibiliza sua conduta com relação aos procedimentos adotados na recuperação da Vila Carioca. Diz o texto da Shell no site: O texto interage com a foto do líder e com alguns dos princípios adotados pela empresa, estampados no pé do anúncio. A primeira frase do anúncio, já indica uma informação que não procede. A Shell, como ela mesma diz em seu site, adotou globalmente a política do Desenvolvimento Sustentável em 1998. O advérbio “sempre” sugere ao leitor que a empresa esteve permanentemente em estado de alerta. Mesmo em seu histórico, a empresa é alvo de denúncias em diversos casos de contaminação e agressão ao meio ambiente denunciados em relatório produzido pelo Greenpeace sobre crimes ambientais. O segundo e terceiro período praticamente se complementam e defendem a mesma idéia, de dialogismo. Revela uma empresa preocupada com a comunidade em que está inserida e a disposição de troca, de debate, de crescimento mútuo. A idéia é reforçada, com a dissecação das ações, passo a passo, dos procedimentos da empresa: “identificação de expectativas”; o “diálogo” e a “implementação de ações”. O período seguinte ((...)Assim (...)) serve de conclusão e resumo da atuação da Shell, mostrando o equilíbrio entre empresa e comunidades, qualificadas no vocábulo ‘interação”. O final da mensagem reafirma seu objetivo certeiro (“mostrando cada vez mais sua eficiência” e se autoproclama exemplo para outras empresas (‘já servindo de referência”). No último período, uma metalingugem encerra o texto da anúncio, fazendo um paralelismo com o seu título “A Shell foi ouvir algumas histórias de pescador”, reafirmando não se tratar de uma mentira. As histórias de pescador, que isotopicamente remetem à “histórias mentirosas” desta vez não se tratam de mentira. No nível discursivo, semanticamente, o efeito de referente é criado pela ancoragem (das ações da empresa) e pela atribuição de valores a um líder comunitário. A comunidade não mente. O discurso construído pela empresa resolve o problema da veracidade, atribuindo o valor do discurso a uma terceira pessoa, a um indivíduo que vê e relata positivamente a conduta da empresa, obtendo o efeito de veridicção. Metalinguisticamente, dentro de uma das várias leituras pluri-isotópicas possíveis, a Shell se revela dialogar com a comunidade. Esta, representada na figura da personagem “Daniel Viana, líder comunitário”. A análise discursiva da Shell nos leva a duvidar dos objetivos da empresa quando abordamos um comunicado direto da empresa ao enfrentar fatos fora da lógica publicitária. Ao se referir diretamente ao caso de Vila Carioca, em seu site, a Shell disponibilizou no início deste ano, pela primeira vez, passados nove meses do problema ser denunciado na grande imprensa, um texto em que tomava posicionamento diante do ocorrido, assumindo, ainda que parcialmente, sua parcela de culpa na contaminação de sua base petrolífera. “Pergunta - O que a Shell está fazendo na Base de Abastecimento de Ipiranga, na Vila Carioca? Resposta - Os trabalhos de recuperação na Base de Abastecimento do Ipiranga, na Vila Carioca, vêm sendo executados, dentro dos padrões vigentes, há muito tempo, sempre acompanhados de perto pelas autoridades ambientais. Toda a área do terminal foi rastreada, utilizando sempre os mais avançados equipamentos e tecnologias disponíveis. No momento, está sendo realizado um rastreamento mais detalhado de todos os locais, para verificar se, efetivamente, tudo já foi removido e para que se possa iniciar a impermeabilização preventiva da área dos tanques.” A empresa diz estar executando os trabalhos “dentro dos padrões vigentes” e “há muito tempo”. Conforme o laudo técnico do Ministério Público, o problema demorou para ser resolvido e que só foi solucionado em parte. A Cetesb, é verdade, também errou ao “avalizar” a falta de procedimentos para a resolução do problema ambiental. Tal fato é cifrado no discurso como “acompanhado de perto pelas autoridades ambientais”, onde a Shell tenta dar legitimidade à sua forma de atuação e ao mesmo tempo, em parte, se isenta de responsabilidade. Em seguida a empresa alega estar tomando as providências cabíveis. “Toda a área do terminal foi rastreada, utilizando sempre os mais avançados equipamentos e tecnologias disponíveis”. Aqui, a Shell confunde o leitor, pois se o Ministério Público avaliou que a empresa demorou para solucionar o problema e que a recuperação da área contaminada foi feita apenas em parte, os métodos utilizados pela Shell não podem então ter contado com “os mais avançados equipamentos e tecnologias disponíveis” A empresa completa a resposta dizendo que “está sendo realizado um rastreamento mais detalhado de todos os locais, para verificar se, efetivamente, tudo já foi removido e para que se possa iniciar a impermeabilização preventiva da área dos tanques” Notícia veiculada na Folha de S.Paulo em abril deste ano informa que a Shell foi obrigada “a pagar diariamente à Cetesb uma multa no valor de R$ 11.490 por não ter cumprido os prazos de entrega da avaliação da qualidade das águas subterrâneas e do solo no entorno residencial de sua base de combustíveis”. O jornal informa que “o laudo foi requisitado há sete meses e, por não o ter apresentado no prazo inicial, a multinacional já havia sido multada em R$ 195,3 mil em março”. Completando: “desde que o caso começou a ser investigado pelo Ministério Público, em 1993, é a quarta multa da Shell por não-cumprimento das exigências da Cetesb (as três anteriores somam R$ 375,5 mil). A empresa não pagou nenhuma e recorre de todas (...)”. No cruzamento dos dois discursos, fica evidente a diferença do conteúdo das informações. A Shell, apesar de utilizar um formato de discurso jornalístico, buscando ganhar 217 veracidade na veiculação de sua “defesa” omite informações importantes, reveladas pelo jornal, que trabalha o tempo inteiro com a função referencial. O discurso produzido pela Shell, apesar de se apresentar em formato jornalístico (referencial) passa a ter um valor estético, assumindo então a função apelativa da linguagem [3], ao tentar se justificar perante o leitor sobre seu procedimento com relação ao caso da Vila Carioca. Por outro lado, na semântica narrativa, dentro da estrutura narrativa, temos o centro desta análise, exemplificada na modalização do ser. A partir da teoria greimasiana, podemos montar o seguinte esquema que define as categorias modais do discurso da Shell: /DES. SUSTENTÁVEL/ vs. /MARKETING/ RESP. SOCIAL MARKETING DES. SUSTENTÁVEL PUBLICIDADE . CID. EMPRESARIAL Ñ DES. SUST. empresa tenta, através de suas ações de marketing, minimizar pontos negativos de sua conduta errada no passado. Essa conduta, apesar de não seguir os padrões de consciência ambiental que se tem hoje (pois os mesmos não existiam), continua distante do discurso do Desenvolvimento Sustentável, pois ela adia a tomada de decisões (recorrendo sucessivamente à Justiça), evita o bem estar dos moradores em torno da Vila Carioca (ao dificultar o procedimento para a realização de análises clínicas e o pagamento de indenizações aos moradores prejudicados), mas quer fazer crer que é uma multinacional “preocupada” com os mais avançados padrões de conduta ética e empresarial. O discurso da Shell ‘PARECE’ estar preocupado com o Desenvolvimento Sustentável, mas na verdade ‘É’ objetivamente ligado à sua imagem institucional. Dentro das Classes de Manipulação discursiva possíveis, segundo a teoria greimasiana, o destinadormanipulador (Shell) revela deter o SABER (a consciência do Desenvolvimento Sustentável) e age no destinatário (receptor da mensagem) com o discurso da SEDUÇÃO, pois QUER FAZER CRER que está preocupada com o discurso da consciência, com a retórica do Desenvolvimento Sustentável. Ñ MARKETING VI. CONCLUSÕES Ø Foram empregados nesta análise os termos Marketing e Desenvolvimento Sustentável com relação de oposição por contraste. O sentido aqui utilizado foi o de que a estratégia da Shell tenderia para dois caminhos: a busca da conscientização do seu público (interno e externo) sobre o princípio do Desenvolvimento Sustentável ou o Marketing, no sentido de fazer propaganda institucional para realçar pontos positivos da empresa (evidentemente, em detrimento de outros negativos). Assim sendo, Marketing e Desenvolvimento Sustentável permitem a conjunção de um metatermo definido por Responsabilidade Social, pois a empresa que busca o Desenvolvimento Sustentável e propaga o fruto de suas ações, ainda que institucionalmente, está praticando a gestão da Responsabilidade Social. Num outro vértice do octógono, os termos Desenvolvimento Sustentável e Não Marketing estabelecem uma relação de complementaridade. Neste caso o metatermo criado foi o da Cidadania Empresarial, pois para haver cidadania, necessariamente não precisa haver Marketing, e o Desenvolvimento Social faz parte das ações da cidadania de uma empresa. No lado oposto, Marketing e Não Desenvolvimento Sustentável, constituem o metatermo Publicidade, já que o discurso da empresa que se preocupa apenas com o Marketing e não se preocupa com o Desenvolvimento Sustentável, está fazendo mera Publicidade. Por fim, o discurso que não se preocupa com o Marketing, e nem com o Desenvolvimento Sustentável forma o metatermo Conjunto Vazio, pois não pode ser caracterizado como discurso social de uma organização. A partir do esquema, fica fácil identificar onde se situa o discurso da Shell sobre o Desenvolvimento Sustentável. A O uso das teorias semióticas, aplicadas como ferramentas de análise do discurso se constituem num rico instrumento de dissecação do ato discursivo. Permite-nos revelar elementos de efeito discursivo e retórico, intenções e ideologias e como os lexemas linguisticamente se articulam na busca de cumprir um objetivo específico dentro dos atos de linguagem. No discurso analisado da Shell, é evidenciado como uma empresa multinacional faz uso das ferramentas de comunicação para preservar sua imagem perante a opinião pública. É comum nos países em desenvolvimento, se generalizar a idéia de que a maioria das empresas multinacionais faz uso de princípios éticos e outras tecnologias acima dos padrões de cultura da sociedade local. O primeiro erro que surge aqui, é ideológico, e passa pelo menosprezo e desrespeito à cultura do país em que a multinacional está se instalando. A segunda atitude errônea é a comunidade que interage com uma dessas empresas e o público dela acreditarem que, de maneira geral, essas empresas somente fazem uso de formas diferenciadas de relacionamento. É evidente que estaria se cometendo aqui outro erro ao se generalizar a conduta das multinacionais. Mas, no caso estudado, os referentes externos (ambiente), o quadro imagético positivo que as empresas constróem e a própria cultura contribuem para a edificação de corredores isotópicos nem sempre próximos da realidade. A Shell, por razões estratégicas, precisa se posicionar no mercado de uma maneira positiva. Até aqui, não há erro algum. O que soa incorreto é se manifestar de maneira contraditória à realidade. O Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social, muitas vezes citados no discurso da empresa, acabam se tornando elementos vazios dentro de um discurso massificado pelo “eco-modismo”. 218 Esses conceitos, no entanto, são pilares de uma conduta muito mais ampla denominada Cidadania Empresarial. Esta sim, revela ao seu público uma conjunção entre ‘SER’ e ‘FAZER’. Prova que é possível seguir à risca os princípios do Ecodesenvolvimento, sem precisar esconder pontos negativos, de maneira verdadeiramente dialógica e transparente. V. REFERÊNCIAS [1] I. Sachs, Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável, 2ª ed, Rio de Janeiro, 2002, pp. 53-55. [2] D.L. Pessoa de Barros, Teoria Semiótica do Texto, 4ª ed, São Paulo, 2000, pp. 45-52. [3] R. Jakobson, Linguística e Comunicação, 15ª ed, São Paulo, 1998, pp. 118-162. 219