desenvolvimento e avaliação de jogo educativo como

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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE JOGO EDUCATIVO COMO
RECURSO PARA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL
Ana Paula Alegretti1
Denise Costa Dias2
RESUMO
A alimentação é um dos fatores que influencia o aparecimento das doenças crônicas não
transmissíveis. No Brasil temos a pirâmide dos alimentos que serve com uma
ferramenta para os profissionais da saúde orientarem as pessoas acerca do assunto. O
objetivo deste estudo foi desenvolver e avaliar um jogo para educação nutricional. O
desenvolvimento do jogo consistiu na elaboração de regras e materiais. O participante
deveria dispor as figuras dos alimentos conforme sua alimentação diária habitual, as
figuras eram colocadas na pirâmide e analisava-se o consumo alimentar de acordo com
os critérios de pontuação estipulados. Após alguns requisitos observados era obtida uma
pontuação e repassada ao participante. A pontuação final obtida pelo participante
apresentava indicativos sobre a qualidade da sua alimentação. O jogo foi aplicado a 10
indivíduos participantes do grupo de hipertensos de uma UBS do município de Santa
Helena – PR. Consideramos que a utilização do jogo como instrumento para educação
nutricional foi válida e interessou aos participantes, permitindo um diálogo aberto que
evidenciou questões implícitas que extrapolam os aspectos meramente nutricionais,
mostrando a influência da cultura, renda, entre outras. A educação nutricional tem papel
importante para auxiliar as pessoas a melhorar seus hábitos alimentares.
PALAVRAS-CHAVES: jogos didáticos, educação nutricional, doenças crônicas não
transmissíveis
INTRODUÇÃO
A nutrição balanceada, equilibrada, é um fator importante para a promoção e
manutenção da saúde, assim como para a prevenção e controle de doenças crônicas não
transmissíveis. Portanto na anamnese realizada pelos profissionais de saúde é
importante considerar a história nutricional. E para tanto é preciso instrumentalizar os
profissionais da área da saúde, com fundamentação teórica sobre os fundamentos
1
Nutricionista.
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Unioeste. Rua
Universitária 1619. Cascavvel fone 84084197 e-mail [email protected]
2
1
nutricionais básicos, assim como ferramentas operacionais. Acreditamos que a
fundamentação teórica deve ser adquirida no curso de graduação ou em cursos
extracurriculares ou de educação continuada. No entanto o jogo pode ser uma
ferramenta operacional utilizada para o manejo do usuário na obtenção de sua história
nutricional ou mesmo como recurso para o estabelecimento de um diálogo aberto sobre
seus costumes alimentares.
Acreditamos que mesmo alguns profissionais com conhecimento técnico
apropriado podem ter dificuldades na obtenção da história alimentar de seu usuário por
não disporem de instrumentos específicos para esta coleta de dados.
Em nossa experiência atuando junto a usuários de serviços de saúde percebemos
que a abordagem e levantamento de dados sobre a alimentação é um desafio. Surgiu
então a idéia de criar uma estratégia diferenciada que pudesse auxiliar-nos e também a
outros profissionais nesta etapa tão importante para a identificação de necessidades de
orientação e encaminhamento. Imaginamos a possibilidade de desenvolvimento de um
jogo que pudesse ser utilizado para educação nutricional.
Os jogos podem ser utilizados como recurso para educação nutricional e desta
forma possibilitar uma avaliação nutricional mais interativa, com uma participação mais
ativa por parte dos usuários dos serviços de saúde.
Durman, Dias e Stefanelli, (2002) acreditam que a educação deve ocorrer na
forma de construção, ou seja, os aprendizes devem ser os agentes de seu próprio
aprendizado, mas para tanto eles necessitam ser instrumentalizados.
A educação lúdica propõe-se a estudar e valorizar um novo processo de
desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser humano através do uso
de brinquedos, jogos e materiais didáticos agrupados que possam servir de suporte para
que o sujeito da aprendizagem aprenda de forma mais descontraída, efetiva e hábil
(LEITE, 2005).
A alimentação constitui uma das atividades humanas mais importantes não
somente pelas razões biológicas, mas também por envolver aspectos sociais,
psicológicos e econômicos, que são fundamentais na dinâmica da evolução das
sociedades. É o ato voluntário e consciente pelo qual o ser humano se nutre (PEREIRA,
2003). O alimento, por sua vez, é toda substância de que o organismo necessita para
sua manutenção, crescimento, trabalho e restauração dos tecidos. Segundo Ornellas
2
(1995) o processo de alimentação atinge seus objetivos quando diferentes aspectos de
qualidade são observados, como: valor nutricional, qualidade higiênico-sanitária,
características sensoriais e digestivas e aspecto econômico, aspectos que também
merecem atenção por parte dos profissionais de saúde.
O estabelecimento da relação entre saúde e alimentação tem se sobressaído
como objeto de pesquisa e debate em áreas ligadas à ciência da nutrição, mas também
outras áreas da saúde. Riscos a saúde associados as gorduras saturadas, ao colesterol e
aos benefícios dados aos ácidos graxos, carotenóides e vitaminas antioxidantes, entre
diversos outros componentes dos alimentos, estão em ritmo crescente de estudo. Porém,
a complexidade do vínculo entre nutrição e saúde tem gerado discussões e polêmicas
entre os participantes da comunidade científica (SANTOS; BARROS FILHO, 2002).
A pirâmide alimentar brasileira foi uma adaptação do modelo americano; porém esta foi
proposta levando em consideração o tipo, consumo e modo de preparo dos alimentos
que são bem divergentes de um país para outro.
Para Philippi et al (1999), a pirâmide brasileira que foi proposta está dividida em
4 níveis: 1º nível com o grupo dos cereais, tubérculos, raízes; 2º nível com o grupo das
hortaliças e grupo das frutas; 3º nível com o grupo do leite e produtos lácteos, grupo das
carnes e ovos, e grupo das leguminosas; 4º nível com o grupo dos óleos e gorduras, e
grupo dos açúcares e doces. Os oito grupos propostos pelo autor e incluídos no jogo.
Conclui Philippi et al (1999) que é muito importante sempre estar avaliando e
adaptando a pirâmide em função dos objetivos a que se destina, a que população irá
atingir, lembrando sempre de respeitar a disponibilidade dos alimentos e mantendo-a
como um guia prático de orientação nutricional.
Para Feuerwerker (2003), todos os profissionais da saúde devem estar
capacitados a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação nos
níveis individuais e coletivos, assegurando que a sua prática seja realizada de forma
unificada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde; realizando seus
serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da bioética;
levando em conta que a responsabilidade da atenção à saúde só se encerra com a
resolução do problema de saúde, em nível coletivo ou individual.
Para que as ações educativas em nutrição se concretizem, é preciso que os
profissionais tenham conhecimento técnico de epidemiologia, dietética e nutrição, e
3
domínio de procedimentos para aproximar-se dos problemas alimentares e poder
orientá-los quanto a mudanças (BOOG, 1999).
Um estudo realizado por SANTOS (2005) para saber a importância do
nutricionista no Programa Saúde da Família no município de Colombo-Pr; verificou que
muitos profissionais, principalmente médicos e enfermeiros participantes do programa,
relatam que possuem dificuldades em orientar seus pacientes sobre alimentação. A
queixa maior, é que os mesmos não possuíram durante sua graduação formação
adequada sobre o tema, pois o currículo de seus cursos não oferecia a disciplina
específica de nutrição, ou quando possuía, apresenta um conteúdo muito superficial
sobre o tema.
A educação em alimentação e nutrição é de suma importância para toda a
população independente de nível econômico e social. Para auxiliar a atuação dos
profissionais de saúde na avaliação e orientação sobre nutrição é que vislumbramos a
possibilidade de desenvolvimento de um jogo que possa ser utilizado como ferramenta
neste trabalho junto ao usuário.
OBJETIVO
O estudo aqui apresentado objetivou desenvolver e avaliar um jogo como
recurso para educação nutricional.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, que de acordo com Polit, Hungler e Beck (1995) tem o
propósito de observar, descrever e explorar aspectos de uma situação.
O desenvolvimento de jogo que intitulamos de “CoNutri” Conversando sobre
Nutrição, ocorreu por meio de levantamento bibliográfico, seleção de figuras de
alimentos dos grupos alimentares, formulação das regras específicas para avaliação e
pontuação possíveis de serem atingidas com os respectivos significados.
A aplicação do jogo “CoNutri” foi realizada junto a dez usuários da unidade
básica de saúde Maria Alegretti do Bairro São Luís do município de Santa Helena – PR,
para estimular o diálogo e a reflexão sobre o consumo alimentar.
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Foi utilizado um diário de campo onde a pesquisadora anotou suas impressões e
possíveis dúvidas expressadas pela pessoa que estava utilizando o jogo. Este diário de
campo constitui-se em relatório breve com anotações curtas sobre as principais dúvidas,
dificuldades percebidas durante o jogo, entre outros, incluindo também orientações
fornecidas. A análise deste diário de campo foi descritiva e não seguiu passos de uma
pesquisa sociológica que utiliza análise de discursos, ou outros recursos metodológicos.
O conteúdo do diário de campo foi um recurso adicional para a interpretação das
dificuldades da pessoa sobre a sua alimentação.
Questão ética: o projeto de pesquisa respeitou a Resolução 196/96 do Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), sendo iniciado somente após aprovado no
CEP, parecer no.472/2008-CEP
Contribuíram com o nosso estudo dez indivíduos. Todos os indivíduos que
participaram do estudo eram aposentados, ou seja, não possuíam vínculo empregatício,
permanecendo assim em suas residências a maior parte do tempo.
Os dados coletados referentes ao grau de escolaridade mostraram que nove dos
dez participantes possuíam o primeiro grau completo. Encontrou-se também um
participante que não era alfabetizado. Embora a escolaridade seja importante para o
nível de compreensão de conceitos, em nosso estudo a abordagem foi realizada por
meio de figuras de alimentos, e que podiam ser compreendidas independentemente do
letramento ou não dos indivíduos participantes.
Quando questionados sobre sua renda pessoal mensal, todos os participantes
referiram receber um salário mínimo por mês. Consideramos baixo este valor,
especialmente porque as despesas da família não giram apenas em torno da alimentação
e sim, de outros gastos que os mesmos possuem.
A coleta de dados ocorreu por meio de visitas domiciliares, ao chegarmos à
residência do participante, após apresentações informais, o termo de consentimento era
entregue e as regras do jogo repassadas. Logo em seguida era aplicado o jogo.
RESULTADOS
Desenvolvimento do Jogo
Para seu desenvolvimento do jogo foi considerada a utilização de figuras pois a
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imagem cada vez mais tem se mostrado como uma linguagem poderosa no campo da
comunicação. Para tanto foi realizada uma listagem de alimentos que representassem
todos os grupos da pirâmide alimentar, e posteriormente buscou-se figuras que
ilustrassem estes alimentos.
Foram selecionadas 132 figuras de variados alimentos e água. Todas as figuras
foram obtidas por meio de pesquisa na internet. Essas figuras foram impressas em papel
fotográfico e recortadas em uma dimensão de 3x4 cm; cada figura era colada em uma
cor de E.V.A. de acordo com o grupo que corresponde na pirâmide.
No jogo utilizamos algumas figuras repetidas para a pessoa ter mais opções de
escolha, totalizando 264 peças de EVA com a figura colada. Cada grupo foi
representado por uma cor :
Marrom-claro: grupo de alimentos energéticos que incluem os açúcares e derivados.
Marrom- escuro: grupo de alimentos energéticos que incluem os óleos e gorduras.
Cinza: grupo de alimentos energéticos que incluem os cereais, pães, tubérculos e raízes.
Verde escuro: grupo de alimentos construtores que incluem as carnes em geral e ovos.
Verde claro: grupo de alimentos construtores que incluem leite e derivados.
Amarelo: grupo de alimentos construtores que incluem as leguminosas em geral.
Alaranjado: grupo de alimentos reguladores que incluem as hortaliças em geral.
Vermelho: grupo de alimentos reguladores que incluem as frutas em geral.
Azul: neste grupo foi colocada a água e foi utilizado para avaliar o consumo diário.
Branco: neste grupo foram colocados aqueles alimentos que o sujeito consome, mas
que não há figura disponível no jogo que o ilustre. Nestes cartões brancos o sujeito pode
escrever o nome do alimento. Caso o indivíduo seja analfabeto a pesquisadora iria
escrever, funcionando como “carta coringa”, para aquelas figuras que não existem no
jogo.
As figuras de cada grupo foram agrupadas em sacos confeccionados em T.N.T.
medindo 16,5x25 cm.
Para organização das figuras foi confeccionada uma caixa de madeira com
divisórias de 0,56x0,40 cm e 0,5 cm de altura; com seis repartições de 0,8x0,15 cm que
correspondem às refeições diárias e uma repartição maior 0,56x0,26 cm para armazenar
os sacos onde reunimos as peças do jogo que corresponde a cada grupo alimentar.
Também foi confeccionada uma pirâmide em acrílico 0,50x0,49 cm dividida nos nove
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grupos alimentares com as respectivas cores já mencionadas. Nesta pirâmide as figuras
eram dispostas após o término do jogo, para análise da pontuação.
Concomitante com a elaboração do material, foram elaboradas as regras do jogo.
Regras para o jogo CoNutri
As regras foram elaboradas para possibilitar o jogo de forma sistemática tanto
pela própria pesquisadora, quanto por outros profissionais que queiram utilizá-lo. Estas
regras são escritas para nortear a atuação do profissional junto ao usuário, e sobre como
orientá-lo. A seguir apresentaremos as regras.
Conteúdo: descrito em detalhes, como citamos anteriormente na elaboração do jogo.
Objetivo do jogo
Estimular o diálogo e a reflexão sobre o consumo alimentar dos indivíduos e
identificar elementos que evidenciem necessidades de orientação e/ou encaminhamento
para atendimento especializado.
Proporcionar recurso auxiliar para profissionais da saúde na abordagem e
levantamento de dados sobre a alimentação dos indivíduos que buscam atendimento nos
serviços de saúde.
Como jogar
Selecione as figuras dos alimentos que você costuma consumir com mais freqüência em
seu dia-a-dia e organize da maneira que você distribui durante o dia.
Neste momento não se preocupe com as cores e sim com o que você consome.
Monte todas as refeições do dia que você realiza.
Caso você não encontre entre a peça de algum alimento que costuma consumir, então
pegue um retângulo em branco, que funcionará como um “coringa”, e escreva o nome
deste alimento, colocando-o na refeição em que costuma consumir.
Regras para avaliar o desempenho da pessoa que utiliza o jogo:
O jogo permite avaliar 3 requisitos básicos da alimentação, o número de refeições
diárias(a), a variedade de alimentos consumidos e as proporções aproximadas(b) e o
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consumo diário de água (c).
a) Número de refeições por dia:
- 5 ou mais - muito bom (equivale a 15 pontos)
- 4 refeições - bom
(equivale a 10 pontos)
- 3 refeições – regulares
(equivale a 8 pontos)
- menos que 3 - ruim
(equivale a 5 pontos)
b) Número de alimentos de cada grupo
O jogo possibilita analisar se a distribuição está de acordo com o que seria o
recomendado em termos de variedade.
Para esta análise o profissional utiliza um tabuleiro no formato de uma pirâmide,
retirando as figuras e retângulos escritos, se houver, e dispondo-os na pirâmide
alimentar.
A distribuição das figuras na pirâmide nos orienta sobre a proporção com que os
alimentos de diferentes grupos são consumidos no dia-a-dia de cada indivíduo.
Pontuação da variedade e proporção de alimentos consumidos:
Distribuição dentro do recomendado: muito bom (equivale a 15 pontos)
Falta de alimentos de um grupo da pirâmide: Um pouco abaixo - bom (equivale a 10
pontos)
Distribuição de alimentos com falta de mais de um grupo da pirâmide e com excesso de
outros grupos: regular (equivale a 8 pontos)
Distribuição demonstra uma tendência para a parte superior da pirâmide - ruim
(equivale a 5 pontos)
c) Quantidade de água ingerida. A quantidade recomendada de água por dia é de 8 a 10
copos ou 2 litros.
8 a 10 copos/dia - muito bom (equivale a 15 pontos)
6 a 8 copos/dia- bom
3-5 copos/dia - regular
(equivale a 10 pontos)
(equivale a 8 pontos)
Menos que 3 copos/dia- ruim (equivale a 5 pontos)
Pontuação
Ao final deverá ser efetuada a soma dos pontos obtidos em relação ao número de
refeições/dia mais a variedade e proporção dos alimentos consumidos mais a quantidade
8
de ingestão de água.
Aplicação do jogo
Para o início do jogo, cada participante escolheu dentre as figuras aquelas
correspondentes aos alimentos que consome em cada refeição e dispôs as mesmas nas
repartições adequadas à refeição que realizava durante o dia.
A carta branca foi utilizada por todos os participantes. A pesquisadora que
escrevia na carta o nome do alimento que a pessoa consumia e em seguida o
participante a colocava no local da refeição a que pertencia. Os alimentos que foram
escritos na carta branca foram: torta de bolacha, melado, sopa de legumes com carne,
adoçante, catchup, maionese, sagu, banha e chimarrão.
Após o término desta fase do jogo, a pesquisadora transferia da caixa as figuras
dos alimentos e os depositava na pirâmide, sempre respeitando o grupo que cada um
correspondia. Em seguida, a pesquisadora analisava as figuras dispostas na pirâmide e
verificava alguns pontos relevantes para a pontuação do participante.
Após esta análise eram computados os pontos e repassados ao participante. No
final de cada jogo, a pesquisadora passava algumas orientações nutricionais ao
participante. Cada participante recebia orientação individual de acordo com a
necessidade observada pela pesquisadora durante todo o processo do jogo.
Avaliação do Jogo
Compilações do diário de campo
A duração do jogo levou em variou de 45 minutos a 1 hora e 15 minutos para
que os participantes pudessem concluir a tarefa que lhes foi atribuída, visto que todos
estavam dispostos, atentos e entusiasmados. Não houve a percepção de cansaço durante
o jogo. Não demonstraram preocupações com seus afazeres e com o tempo que o jogo
lhes tomou. E em todos os casos quando aplicamos o jogo alguns familiares presentes
na residência aproximavam-se para olhar e observar o jogo, permanecendo até o final e
ouvindo também as explicações.
Em alguns momentos, a pesquisadora precisou interferir no jogo; pois os
mesmos não encontravam a figura ou havia dúvidas quanto ao que comiam. Tentou-se
9
esclarecer as dúvidas sem induzir o sujeito a alterar sua escolha.
Durante o jogo, pode-se observar que os participantes possuem arraigadas na
cultura quanto a sua alimentação e embora pareçam conhecer que estas atitudes não
estão corretas, os mesmos apresentam resistência quanto a mudanças. Podemos citar
como exemplo, um participante que relatou usar a banha de porco para a preparação dos
alimentos, ao invés de usar o óleo. Disse este que sabe que não deveria estar utilizandose da banha; porém comentou que este hábito é feito há muitos anos e que “nunca teve
problemas de saúde” por usá-la, embora sejam hipertensos.
Análise do número de refeições diárias
Em relação ao número de refeições, todos os participantes do teste realizam o
almoço e jantar; nove fazem a refeição do café da manhã e o lanche da tarde; sete
realizam o lanche da manhã e cinco a ceia que é considerada a última refeição do dia.
Obtendo uma média por participante de três a quatro refeições por dia. Para Philippi et
al (1999) a recomendação ideal é de seis refeições fracionadas ao longo do dia.
Como este trabalho foi realizado com indivíduos idosos; Rolls apud Campos,
Monteiro, Ornelas (2000) relatam que neste período da vida, muitas alterações
fisiológicas ocorrem no organismo e as alterações sensoriais podem estar associadas ao
decréscimo do apetite nas pessoas idosas. Neste trabalho encontraram-se pessoas que
não realizam o número recomendado de refeições que seriam seis, talvez porque a
quantidade de alimentos e número de refeições que fazem supra as necessidades que o
organismo carece.
Avaliação da variedade de alimentos
Analisando todos os participantes e os alimentos que escolheram durante o jogo
encontramos na refeição do café da manhã os alimentos como leite, o pão, a margarina
ou doce, o café e a fruta. O café da manhã deve conter alimentos fonte de cálcio
micronutriente importante em todas as fases da vida, e aqui representado pelo leite;
alimentos energéticos como o pão com algum tipo de acompanhamento, e alimentos
reguladores como a fruta.
Já na refeição do lanche da manhã esteve incluída a fruta ou o biscoito. No
almoço esteve presente o grupo das hortaliças (tomate, cebola, alface, repolho), no
grupo das proteínas tivemos a presença da carne de frango, bovina, suína e ovos. Do
grupo dos carboidratos encontramos macarrão, arroz, mandioca, polenta; destes
10
alimentos havia participantes que consome até três tipos de carboidratos nesta refeição.
O grupo das oleaginosas também foi evidenciado, representado aqui pelo feijão, onde os
participantes disseram ter este alimento sempre presente em sua alimentação. Dos 10
participantes, 8 relataram conter nesta refeição uma fruta ou o suco da mesma. Não foi
questionado para aqueles participantes que consomem o suco da fruta se este era natural
ou artificial.
Quanto ao lanche da tarde, nove realizam esta refeição, na qual informam a
presença de frutas, biscoitos e pipoca. Em relação ao jantar; todos os indivíduos
realizam esta refeição, porém seis dos participantes mencionam nesta refeição consumir
sopas, carne, feijão, arroz, macarrão, mandioca, saladas (muitos com esta refeição igual
ao do almoço); e quatro que preferem fazer um lanche composto por frutas, pão, leite,
sanduíche. O lanche mencionado aqui realizado no horário do jantar pode ser pelo fato
de ser uma preparação mais rápida, ou mais leve para o indivíduo; porém esse
questionamento não foi efetuado aos participantes. O jantar é importante assim como
qualquer outra refeição, nesta, deve-se incluir alimentos mais leves com menor teor de
carboidratos e gorduras, assim o organismo tem um sono tranqüilo e recupera as perdas
energéticas causadas durante o dia.
Para a última refeição do dia que é a ceia, somente cinco indivíduos a realizam,
fazendo o consumo de frutas e iogurtes. Os lanches não podem somar mais que 15% das
necessidades de calorias diárias que cada pessoa precisa consumir. A ceia é considerada
o lanche da noite, e um dos objetivos desta é reduzir a fome, evitando que a pessoa
coma além do que deveria quando for realizar a próxima refeição. Em geral os lanches
contribuem para manter o metabolismo do organismo funcionando adequadamente
(MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002).
Verificamos que o consumo de carnes foi relatado por todos em alguma refeição
do dia. As carnes em geral, são boas fontes de aminoácidos essenciais, substâncias
químicas que compõem as proteínas, com fonte de ferro de alta biodisponibilidade e
vitamina B12 (BRASIL, 2006).
O consumo de frutas também foi referido por todos os indivíduos. Recomendado
por Philippi et al (1999), um consumo médio de 3 a 5 porções ao dia, pelo fato de ser
um alimento comum à dieta e de fácil acesso para a população brasileira. Neste estudo
não se sabe ao certo a quantidade de frutas que cada participante consumia, sabe-se sim
11
que todos referiram fazer parte da alimentação diária.
Avaliação do consumo diário de água
Quanto ao consumo de água que também era um item a ser considerado para a
pontuação final, houve o relato de consumo de seis a oito copos ao dia, e alguns
participantes contaram ingerir até mais de três litros de água ao dia.
Cuppari (2002) ressalva que a água é o principal componente do corpo humano e
fundamental para a homeostase e a vida. A ingestão adequada de água total foi
estabelecida com base na mediana de ingestão observada em levantamentos realizados
com a população norte americana. E de acordo com as recomendações, a ingestão média
de água total de adultos homens a partir dos 19 anos é de 3,7 litros ao dia, e de mulheres
é de 2,7 litros ao dia.
Etapa do uso da pirâmide com os grupos alimentares
Após transferir as figuras da caixa para a pirâmide, era hora de discutir com o
participante sobre a variedade baseado na forma como o mesmo utilizou as peças do
jogo. Este momento também foi utilizado para repassar algumas orientações que foram
observadas ao longo do jogo. Em seguida, somavam-se os pontos dos itens escolhidos a
serem pontuados e então repassados ao participante.
Verificou-se que de todas as jogadas obtiveram a pontuação máxima do jogo, ou
seja, 30 - 45 pontos que dentro das regras é considerada uma alimentação saudável e
variada em alimentos de todos os grupos da pirâmide. Esta pontuação demonstra que as
pessoas provavelmente consomem uma dieta variada, que estaria de acordo com o
recomendado em termos de variedade, no entanto não podemos afirmar em termos de
quantidade, pois o jogo não especifica porções.
Percepções da pesquisadora
Os participantes da pesquisa relataram que tem conhecimento ou que já ouviram
falar da pirâmide alimentar, seja por meios de comunicação visual (televisão) ou verbal
através de palestras no grupo ao qual freqüentam. Contudo, quando se falou em
alimentos que poderiam estar sendo substituídos por outros do mesmo grupo, alguns
participantes ficaram na dúvida e comentaram que não tinham esse conhecimento a
cerca do assunto.
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Em alguns encontros surgiram algumas dúvidas e todas foram esclarecidas na
hora. Uma delas foi se o consumo de pão caseiro engorda, e se poderia estar
consumindo. A resposta dada foi que o consumo de pão engorda se consumido em
grande quantidade; porém pode fazer parte da alimentação se houver um controle da
quantidade consumida. Outra dúvida foi quanto ao consumo do azeite de oliva;
respondida a questão que o consumo é muito bom, mas como se trata de um óleo e que
contém gordura, se ingerido em grande quantia pode trazer prejuízos para a saúde;
assim como todo e qualquer alimento consumido em excesso.
Avaliação do jogo como estratégia para avaliação nutricional
Com este trabalho pode-se perceber que o jogo proporciona um ambiente
descontraído, prazeroso, onde pesquisadora e participante se sentiram bem. Os
participantes eram desconhecidos, mas no momento que o jogo era iniciado parecia que
estavam no local pessoas conhecidas há tempo.
Ações educativas são mais didáticas onde há o envolvimento e uma aproximação
entre o profissional e usuário, parecem ser mais produtivas e com efeitos mais rápidos,
ou seja, o entendimento da pessoa é visível, a atenção está voltada para o momento e a
explicação do assunto.
Ao aplicarmos o jogo com cada participante individualmente, em um local
diferente, foi possível perceber as particularidades de cada um, as dificuldades que cada
pessoa tem, e que a estratégia possibilita uma expressão livre, de forma descontraída e
desinibida o sujeito, comunique seus hábitos, dúvidas e aquilo que sabe ou não, sobre
nutrição.
Conclusão
Ao aplicarmos o jogo percebemos que o mesmo foi uma estratégia interessante e
motivou o diálogo sobre a alimentação de uma maneira bem descontraída, favorecendo
a interação entre profissional e usuário.
Por fim, conclui-se que a utilização do jogo como estratégia para educação
nutricional foi positiva, principalmente ao se considerar o curto tempo de intervenção.
Embora as limitações encontradas neste estudo, o mesmo mostra-se de grande
13
importância para o aperfeiçoamento de futuras intervenções, direcionando a
continuidade desta investigação. Sabe-se que programas de educação nutricional
alcançam maior sucesso quando desenvolvidos em longo prazo, envolvendo os vários
fatores relacionados à alimentação.
Consideramos que futuras aplicações deste jogo podem ser realizadas em
abordagens com grupos de pessoas, onde as mesmas possam discutir em conjunto vários
aspectos de sua alimentação. Para tal propósito talvez algumas regras do jogo mereçam
adaptações. Outras possibilidades são aplicações para indivíduos de diferentes grupos
etários, como por exemplo, crianças e adolescentes.
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