DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE JOGO EDUCATIVO COMO RECURSO PARA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL Ana Paula Alegretti1 Denise Costa Dias2 RESUMO A alimentação é um dos fatores que influencia o aparecimento das doenças crônicas não transmissíveis. No Brasil temos a pirâmide dos alimentos que serve com uma ferramenta para os profissionais da saúde orientarem as pessoas acerca do assunto. O objetivo deste estudo foi desenvolver e avaliar um jogo para educação nutricional. O desenvolvimento do jogo consistiu na elaboração de regras e materiais. O participante deveria dispor as figuras dos alimentos conforme sua alimentação diária habitual, as figuras eram colocadas na pirâmide e analisava-se o consumo alimentar de acordo com os critérios de pontuação estipulados. Após alguns requisitos observados era obtida uma pontuação e repassada ao participante. A pontuação final obtida pelo participante apresentava indicativos sobre a qualidade da sua alimentação. O jogo foi aplicado a 10 indivíduos participantes do grupo de hipertensos de uma UBS do município de Santa Helena – PR. Consideramos que a utilização do jogo como instrumento para educação nutricional foi válida e interessou aos participantes, permitindo um diálogo aberto que evidenciou questões implícitas que extrapolam os aspectos meramente nutricionais, mostrando a influência da cultura, renda, entre outras. A educação nutricional tem papel importante para auxiliar as pessoas a melhorar seus hábitos alimentares. PALAVRAS-CHAVES: jogos didáticos, educação nutricional, doenças crônicas não transmissíveis INTRODUÇÃO A nutrição balanceada, equilibrada, é um fator importante para a promoção e manutenção da saúde, assim como para a prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis. Portanto na anamnese realizada pelos profissionais de saúde é importante considerar a história nutricional. E para tanto é preciso instrumentalizar os profissionais da área da saúde, com fundamentação teórica sobre os fundamentos 1 Nutricionista. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Unioeste. Rua Universitária 1619. Cascavvel fone 84084197 e-mail [email protected] 2 1 nutricionais básicos, assim como ferramentas operacionais. Acreditamos que a fundamentação teórica deve ser adquirida no curso de graduação ou em cursos extracurriculares ou de educação continuada. No entanto o jogo pode ser uma ferramenta operacional utilizada para o manejo do usuário na obtenção de sua história nutricional ou mesmo como recurso para o estabelecimento de um diálogo aberto sobre seus costumes alimentares. Acreditamos que mesmo alguns profissionais com conhecimento técnico apropriado podem ter dificuldades na obtenção da história alimentar de seu usuário por não disporem de instrumentos específicos para esta coleta de dados. Em nossa experiência atuando junto a usuários de serviços de saúde percebemos que a abordagem e levantamento de dados sobre a alimentação é um desafio. Surgiu então a idéia de criar uma estratégia diferenciada que pudesse auxiliar-nos e também a outros profissionais nesta etapa tão importante para a identificação de necessidades de orientação e encaminhamento. Imaginamos a possibilidade de desenvolvimento de um jogo que pudesse ser utilizado para educação nutricional. Os jogos podem ser utilizados como recurso para educação nutricional e desta forma possibilitar uma avaliação nutricional mais interativa, com uma participação mais ativa por parte dos usuários dos serviços de saúde. Durman, Dias e Stefanelli, (2002) acreditam que a educação deve ocorrer na forma de construção, ou seja, os aprendizes devem ser os agentes de seu próprio aprendizado, mas para tanto eles necessitam ser instrumentalizados. A educação lúdica propõe-se a estudar e valorizar um novo processo de desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser humano através do uso de brinquedos, jogos e materiais didáticos agrupados que possam servir de suporte para que o sujeito da aprendizagem aprenda de forma mais descontraída, efetiva e hábil (LEITE, 2005). A alimentação constitui uma das atividades humanas mais importantes não somente pelas razões biológicas, mas também por envolver aspectos sociais, psicológicos e econômicos, que são fundamentais na dinâmica da evolução das sociedades. É o ato voluntário e consciente pelo qual o ser humano se nutre (PEREIRA, 2003). O alimento, por sua vez, é toda substância de que o organismo necessita para sua manutenção, crescimento, trabalho e restauração dos tecidos. Segundo Ornellas 2 (1995) o processo de alimentação atinge seus objetivos quando diferentes aspectos de qualidade são observados, como: valor nutricional, qualidade higiênico-sanitária, características sensoriais e digestivas e aspecto econômico, aspectos que também merecem atenção por parte dos profissionais de saúde. O estabelecimento da relação entre saúde e alimentação tem se sobressaído como objeto de pesquisa e debate em áreas ligadas à ciência da nutrição, mas também outras áreas da saúde. Riscos a saúde associados as gorduras saturadas, ao colesterol e aos benefícios dados aos ácidos graxos, carotenóides e vitaminas antioxidantes, entre diversos outros componentes dos alimentos, estão em ritmo crescente de estudo. Porém, a complexidade do vínculo entre nutrição e saúde tem gerado discussões e polêmicas entre os participantes da comunidade científica (SANTOS; BARROS FILHO, 2002). A pirâmide alimentar brasileira foi uma adaptação do modelo americano; porém esta foi proposta levando em consideração o tipo, consumo e modo de preparo dos alimentos que são bem divergentes de um país para outro. Para Philippi et al (1999), a pirâmide brasileira que foi proposta está dividida em 4 níveis: 1º nível com o grupo dos cereais, tubérculos, raízes; 2º nível com o grupo das hortaliças e grupo das frutas; 3º nível com o grupo do leite e produtos lácteos, grupo das carnes e ovos, e grupo das leguminosas; 4º nível com o grupo dos óleos e gorduras, e grupo dos açúcares e doces. Os oito grupos propostos pelo autor e incluídos no jogo. Conclui Philippi et al (1999) que é muito importante sempre estar avaliando e adaptando a pirâmide em função dos objetivos a que se destina, a que população irá atingir, lembrando sempre de respeitar a disponibilidade dos alimentos e mantendo-a como um guia prático de orientação nutricional. Para Feuerwerker (2003), todos os profissionais da saúde devem estar capacitados a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação nos níveis individuais e coletivos, assegurando que a sua prática seja realizada de forma unificada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde; realizando seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da bioética; levando em conta que a responsabilidade da atenção à saúde só se encerra com a resolução do problema de saúde, em nível coletivo ou individual. Para que as ações educativas em nutrição se concretizem, é preciso que os profissionais tenham conhecimento técnico de epidemiologia, dietética e nutrição, e 3 domínio de procedimentos para aproximar-se dos problemas alimentares e poder orientá-los quanto a mudanças (BOOG, 1999). Um estudo realizado por SANTOS (2005) para saber a importância do nutricionista no Programa Saúde da Família no município de Colombo-Pr; verificou que muitos profissionais, principalmente médicos e enfermeiros participantes do programa, relatam que possuem dificuldades em orientar seus pacientes sobre alimentação. A queixa maior, é que os mesmos não possuíram durante sua graduação formação adequada sobre o tema, pois o currículo de seus cursos não oferecia a disciplina específica de nutrição, ou quando possuía, apresenta um conteúdo muito superficial sobre o tema. A educação em alimentação e nutrição é de suma importância para toda a população independente de nível econômico e social. Para auxiliar a atuação dos profissionais de saúde na avaliação e orientação sobre nutrição é que vislumbramos a possibilidade de desenvolvimento de um jogo que possa ser utilizado como ferramenta neste trabalho junto ao usuário. OBJETIVO O estudo aqui apresentado objetivou desenvolver e avaliar um jogo como recurso para educação nutricional. METODOLOGIA Estudo descritivo, que de acordo com Polit, Hungler e Beck (1995) tem o propósito de observar, descrever e explorar aspectos de uma situação. O desenvolvimento de jogo que intitulamos de “CoNutri” Conversando sobre Nutrição, ocorreu por meio de levantamento bibliográfico, seleção de figuras de alimentos dos grupos alimentares, formulação das regras específicas para avaliação e pontuação possíveis de serem atingidas com os respectivos significados. A aplicação do jogo “CoNutri” foi realizada junto a dez usuários da unidade básica de saúde Maria Alegretti do Bairro São Luís do município de Santa Helena – PR, para estimular o diálogo e a reflexão sobre o consumo alimentar. 4 Foi utilizado um diário de campo onde a pesquisadora anotou suas impressões e possíveis dúvidas expressadas pela pessoa que estava utilizando o jogo. Este diário de campo constitui-se em relatório breve com anotações curtas sobre as principais dúvidas, dificuldades percebidas durante o jogo, entre outros, incluindo também orientações fornecidas. A análise deste diário de campo foi descritiva e não seguiu passos de uma pesquisa sociológica que utiliza análise de discursos, ou outros recursos metodológicos. O conteúdo do diário de campo foi um recurso adicional para a interpretação das dificuldades da pessoa sobre a sua alimentação. Questão ética: o projeto de pesquisa respeitou a Resolução 196/96 do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), sendo iniciado somente após aprovado no CEP, parecer no.472/2008-CEP Contribuíram com o nosso estudo dez indivíduos. Todos os indivíduos que participaram do estudo eram aposentados, ou seja, não possuíam vínculo empregatício, permanecendo assim em suas residências a maior parte do tempo. Os dados coletados referentes ao grau de escolaridade mostraram que nove dos dez participantes possuíam o primeiro grau completo. Encontrou-se também um participante que não era alfabetizado. Embora a escolaridade seja importante para o nível de compreensão de conceitos, em nosso estudo a abordagem foi realizada por meio de figuras de alimentos, e que podiam ser compreendidas independentemente do letramento ou não dos indivíduos participantes. Quando questionados sobre sua renda pessoal mensal, todos os participantes referiram receber um salário mínimo por mês. Consideramos baixo este valor, especialmente porque as despesas da família não giram apenas em torno da alimentação e sim, de outros gastos que os mesmos possuem. A coleta de dados ocorreu por meio de visitas domiciliares, ao chegarmos à residência do participante, após apresentações informais, o termo de consentimento era entregue e as regras do jogo repassadas. Logo em seguida era aplicado o jogo. RESULTADOS Desenvolvimento do Jogo Para seu desenvolvimento do jogo foi considerada a utilização de figuras pois a 5 imagem cada vez mais tem se mostrado como uma linguagem poderosa no campo da comunicação. Para tanto foi realizada uma listagem de alimentos que representassem todos os grupos da pirâmide alimentar, e posteriormente buscou-se figuras que ilustrassem estes alimentos. Foram selecionadas 132 figuras de variados alimentos e água. Todas as figuras foram obtidas por meio de pesquisa na internet. Essas figuras foram impressas em papel fotográfico e recortadas em uma dimensão de 3x4 cm; cada figura era colada em uma cor de E.V.A. de acordo com o grupo que corresponde na pirâmide. No jogo utilizamos algumas figuras repetidas para a pessoa ter mais opções de escolha, totalizando 264 peças de EVA com a figura colada. Cada grupo foi representado por uma cor : Marrom-claro: grupo de alimentos energéticos que incluem os açúcares e derivados. Marrom- escuro: grupo de alimentos energéticos que incluem os óleos e gorduras. Cinza: grupo de alimentos energéticos que incluem os cereais, pães, tubérculos e raízes. Verde escuro: grupo de alimentos construtores que incluem as carnes em geral e ovos. Verde claro: grupo de alimentos construtores que incluem leite e derivados. Amarelo: grupo de alimentos construtores que incluem as leguminosas em geral. Alaranjado: grupo de alimentos reguladores que incluem as hortaliças em geral. Vermelho: grupo de alimentos reguladores que incluem as frutas em geral. Azul: neste grupo foi colocada a água e foi utilizado para avaliar o consumo diário. Branco: neste grupo foram colocados aqueles alimentos que o sujeito consome, mas que não há figura disponível no jogo que o ilustre. Nestes cartões brancos o sujeito pode escrever o nome do alimento. Caso o indivíduo seja analfabeto a pesquisadora iria escrever, funcionando como “carta coringa”, para aquelas figuras que não existem no jogo. As figuras de cada grupo foram agrupadas em sacos confeccionados em T.N.T. medindo 16,5x25 cm. Para organização das figuras foi confeccionada uma caixa de madeira com divisórias de 0,56x0,40 cm e 0,5 cm de altura; com seis repartições de 0,8x0,15 cm que correspondem às refeições diárias e uma repartição maior 0,56x0,26 cm para armazenar os sacos onde reunimos as peças do jogo que corresponde a cada grupo alimentar. Também foi confeccionada uma pirâmide em acrílico 0,50x0,49 cm dividida nos nove 6 grupos alimentares com as respectivas cores já mencionadas. Nesta pirâmide as figuras eram dispostas após o término do jogo, para análise da pontuação. Concomitante com a elaboração do material, foram elaboradas as regras do jogo. Regras para o jogo CoNutri As regras foram elaboradas para possibilitar o jogo de forma sistemática tanto pela própria pesquisadora, quanto por outros profissionais que queiram utilizá-lo. Estas regras são escritas para nortear a atuação do profissional junto ao usuário, e sobre como orientá-lo. A seguir apresentaremos as regras. Conteúdo: descrito em detalhes, como citamos anteriormente na elaboração do jogo. Objetivo do jogo Estimular o diálogo e a reflexão sobre o consumo alimentar dos indivíduos e identificar elementos que evidenciem necessidades de orientação e/ou encaminhamento para atendimento especializado. Proporcionar recurso auxiliar para profissionais da saúde na abordagem e levantamento de dados sobre a alimentação dos indivíduos que buscam atendimento nos serviços de saúde. Como jogar Selecione as figuras dos alimentos que você costuma consumir com mais freqüência em seu dia-a-dia e organize da maneira que você distribui durante o dia. Neste momento não se preocupe com as cores e sim com o que você consome. Monte todas as refeições do dia que você realiza. Caso você não encontre entre a peça de algum alimento que costuma consumir, então pegue um retângulo em branco, que funcionará como um “coringa”, e escreva o nome deste alimento, colocando-o na refeição em que costuma consumir. Regras para avaliar o desempenho da pessoa que utiliza o jogo: O jogo permite avaliar 3 requisitos básicos da alimentação, o número de refeições diárias(a), a variedade de alimentos consumidos e as proporções aproximadas(b) e o 7 consumo diário de água (c). a) Número de refeições por dia: - 5 ou mais - muito bom (equivale a 15 pontos) - 4 refeições - bom (equivale a 10 pontos) - 3 refeições – regulares (equivale a 8 pontos) - menos que 3 - ruim (equivale a 5 pontos) b) Número de alimentos de cada grupo O jogo possibilita analisar se a distribuição está de acordo com o que seria o recomendado em termos de variedade. Para esta análise o profissional utiliza um tabuleiro no formato de uma pirâmide, retirando as figuras e retângulos escritos, se houver, e dispondo-os na pirâmide alimentar. A distribuição das figuras na pirâmide nos orienta sobre a proporção com que os alimentos de diferentes grupos são consumidos no dia-a-dia de cada indivíduo. Pontuação da variedade e proporção de alimentos consumidos: Distribuição dentro do recomendado: muito bom (equivale a 15 pontos) Falta de alimentos de um grupo da pirâmide: Um pouco abaixo - bom (equivale a 10 pontos) Distribuição de alimentos com falta de mais de um grupo da pirâmide e com excesso de outros grupos: regular (equivale a 8 pontos) Distribuição demonstra uma tendência para a parte superior da pirâmide - ruim (equivale a 5 pontos) c) Quantidade de água ingerida. A quantidade recomendada de água por dia é de 8 a 10 copos ou 2 litros. 8 a 10 copos/dia - muito bom (equivale a 15 pontos) 6 a 8 copos/dia- bom 3-5 copos/dia - regular (equivale a 10 pontos) (equivale a 8 pontos) Menos que 3 copos/dia- ruim (equivale a 5 pontos) Pontuação Ao final deverá ser efetuada a soma dos pontos obtidos em relação ao número de refeições/dia mais a variedade e proporção dos alimentos consumidos mais a quantidade 8 de ingestão de água. Aplicação do jogo Para o início do jogo, cada participante escolheu dentre as figuras aquelas correspondentes aos alimentos que consome em cada refeição e dispôs as mesmas nas repartições adequadas à refeição que realizava durante o dia. A carta branca foi utilizada por todos os participantes. A pesquisadora que escrevia na carta o nome do alimento que a pessoa consumia e em seguida o participante a colocava no local da refeição a que pertencia. Os alimentos que foram escritos na carta branca foram: torta de bolacha, melado, sopa de legumes com carne, adoçante, catchup, maionese, sagu, banha e chimarrão. Após o término desta fase do jogo, a pesquisadora transferia da caixa as figuras dos alimentos e os depositava na pirâmide, sempre respeitando o grupo que cada um correspondia. Em seguida, a pesquisadora analisava as figuras dispostas na pirâmide e verificava alguns pontos relevantes para a pontuação do participante. Após esta análise eram computados os pontos e repassados ao participante. No final de cada jogo, a pesquisadora passava algumas orientações nutricionais ao participante. Cada participante recebia orientação individual de acordo com a necessidade observada pela pesquisadora durante todo o processo do jogo. Avaliação do Jogo Compilações do diário de campo A duração do jogo levou em variou de 45 minutos a 1 hora e 15 minutos para que os participantes pudessem concluir a tarefa que lhes foi atribuída, visto que todos estavam dispostos, atentos e entusiasmados. Não houve a percepção de cansaço durante o jogo. Não demonstraram preocupações com seus afazeres e com o tempo que o jogo lhes tomou. E em todos os casos quando aplicamos o jogo alguns familiares presentes na residência aproximavam-se para olhar e observar o jogo, permanecendo até o final e ouvindo também as explicações. Em alguns momentos, a pesquisadora precisou interferir no jogo; pois os mesmos não encontravam a figura ou havia dúvidas quanto ao que comiam. Tentou-se 9 esclarecer as dúvidas sem induzir o sujeito a alterar sua escolha. Durante o jogo, pode-se observar que os participantes possuem arraigadas na cultura quanto a sua alimentação e embora pareçam conhecer que estas atitudes não estão corretas, os mesmos apresentam resistência quanto a mudanças. Podemos citar como exemplo, um participante que relatou usar a banha de porco para a preparação dos alimentos, ao invés de usar o óleo. Disse este que sabe que não deveria estar utilizandose da banha; porém comentou que este hábito é feito há muitos anos e que “nunca teve problemas de saúde” por usá-la, embora sejam hipertensos. Análise do número de refeições diárias Em relação ao número de refeições, todos os participantes do teste realizam o almoço e jantar; nove fazem a refeição do café da manhã e o lanche da tarde; sete realizam o lanche da manhã e cinco a ceia que é considerada a última refeição do dia. Obtendo uma média por participante de três a quatro refeições por dia. Para Philippi et al (1999) a recomendação ideal é de seis refeições fracionadas ao longo do dia. Como este trabalho foi realizado com indivíduos idosos; Rolls apud Campos, Monteiro, Ornelas (2000) relatam que neste período da vida, muitas alterações fisiológicas ocorrem no organismo e as alterações sensoriais podem estar associadas ao decréscimo do apetite nas pessoas idosas. Neste trabalho encontraram-se pessoas que não realizam o número recomendado de refeições que seriam seis, talvez porque a quantidade de alimentos e número de refeições que fazem supra as necessidades que o organismo carece. Avaliação da variedade de alimentos Analisando todos os participantes e os alimentos que escolheram durante o jogo encontramos na refeição do café da manhã os alimentos como leite, o pão, a margarina ou doce, o café e a fruta. O café da manhã deve conter alimentos fonte de cálcio micronutriente importante em todas as fases da vida, e aqui representado pelo leite; alimentos energéticos como o pão com algum tipo de acompanhamento, e alimentos reguladores como a fruta. Já na refeição do lanche da manhã esteve incluída a fruta ou o biscoito. No almoço esteve presente o grupo das hortaliças (tomate, cebola, alface, repolho), no grupo das proteínas tivemos a presença da carne de frango, bovina, suína e ovos. Do grupo dos carboidratos encontramos macarrão, arroz, mandioca, polenta; destes 10 alimentos havia participantes que consome até três tipos de carboidratos nesta refeição. O grupo das oleaginosas também foi evidenciado, representado aqui pelo feijão, onde os participantes disseram ter este alimento sempre presente em sua alimentação. Dos 10 participantes, 8 relataram conter nesta refeição uma fruta ou o suco da mesma. Não foi questionado para aqueles participantes que consomem o suco da fruta se este era natural ou artificial. Quanto ao lanche da tarde, nove realizam esta refeição, na qual informam a presença de frutas, biscoitos e pipoca. Em relação ao jantar; todos os indivíduos realizam esta refeição, porém seis dos participantes mencionam nesta refeição consumir sopas, carne, feijão, arroz, macarrão, mandioca, saladas (muitos com esta refeição igual ao do almoço); e quatro que preferem fazer um lanche composto por frutas, pão, leite, sanduíche. O lanche mencionado aqui realizado no horário do jantar pode ser pelo fato de ser uma preparação mais rápida, ou mais leve para o indivíduo; porém esse questionamento não foi efetuado aos participantes. O jantar é importante assim como qualquer outra refeição, nesta, deve-se incluir alimentos mais leves com menor teor de carboidratos e gorduras, assim o organismo tem um sono tranqüilo e recupera as perdas energéticas causadas durante o dia. Para a última refeição do dia que é a ceia, somente cinco indivíduos a realizam, fazendo o consumo de frutas e iogurtes. Os lanches não podem somar mais que 15% das necessidades de calorias diárias que cada pessoa precisa consumir. A ceia é considerada o lanche da noite, e um dos objetivos desta é reduzir a fome, evitando que a pessoa coma além do que deveria quando for realizar a próxima refeição. Em geral os lanches contribuem para manter o metabolismo do organismo funcionando adequadamente (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002). Verificamos que o consumo de carnes foi relatado por todos em alguma refeição do dia. As carnes em geral, são boas fontes de aminoácidos essenciais, substâncias químicas que compõem as proteínas, com fonte de ferro de alta biodisponibilidade e vitamina B12 (BRASIL, 2006). O consumo de frutas também foi referido por todos os indivíduos. Recomendado por Philippi et al (1999), um consumo médio de 3 a 5 porções ao dia, pelo fato de ser um alimento comum à dieta e de fácil acesso para a população brasileira. Neste estudo não se sabe ao certo a quantidade de frutas que cada participante consumia, sabe-se sim 11 que todos referiram fazer parte da alimentação diária. Avaliação do consumo diário de água Quanto ao consumo de água que também era um item a ser considerado para a pontuação final, houve o relato de consumo de seis a oito copos ao dia, e alguns participantes contaram ingerir até mais de três litros de água ao dia. Cuppari (2002) ressalva que a água é o principal componente do corpo humano e fundamental para a homeostase e a vida. A ingestão adequada de água total foi estabelecida com base na mediana de ingestão observada em levantamentos realizados com a população norte americana. E de acordo com as recomendações, a ingestão média de água total de adultos homens a partir dos 19 anos é de 3,7 litros ao dia, e de mulheres é de 2,7 litros ao dia. Etapa do uso da pirâmide com os grupos alimentares Após transferir as figuras da caixa para a pirâmide, era hora de discutir com o participante sobre a variedade baseado na forma como o mesmo utilizou as peças do jogo. Este momento também foi utilizado para repassar algumas orientações que foram observadas ao longo do jogo. Em seguida, somavam-se os pontos dos itens escolhidos a serem pontuados e então repassados ao participante. Verificou-se que de todas as jogadas obtiveram a pontuação máxima do jogo, ou seja, 30 - 45 pontos que dentro das regras é considerada uma alimentação saudável e variada em alimentos de todos os grupos da pirâmide. Esta pontuação demonstra que as pessoas provavelmente consomem uma dieta variada, que estaria de acordo com o recomendado em termos de variedade, no entanto não podemos afirmar em termos de quantidade, pois o jogo não especifica porções. Percepções da pesquisadora Os participantes da pesquisa relataram que tem conhecimento ou que já ouviram falar da pirâmide alimentar, seja por meios de comunicação visual (televisão) ou verbal através de palestras no grupo ao qual freqüentam. Contudo, quando se falou em alimentos que poderiam estar sendo substituídos por outros do mesmo grupo, alguns participantes ficaram na dúvida e comentaram que não tinham esse conhecimento a cerca do assunto. 12 Em alguns encontros surgiram algumas dúvidas e todas foram esclarecidas na hora. Uma delas foi se o consumo de pão caseiro engorda, e se poderia estar consumindo. A resposta dada foi que o consumo de pão engorda se consumido em grande quantidade; porém pode fazer parte da alimentação se houver um controle da quantidade consumida. Outra dúvida foi quanto ao consumo do azeite de oliva; respondida a questão que o consumo é muito bom, mas como se trata de um óleo e que contém gordura, se ingerido em grande quantia pode trazer prejuízos para a saúde; assim como todo e qualquer alimento consumido em excesso. Avaliação do jogo como estratégia para avaliação nutricional Com este trabalho pode-se perceber que o jogo proporciona um ambiente descontraído, prazeroso, onde pesquisadora e participante se sentiram bem. Os participantes eram desconhecidos, mas no momento que o jogo era iniciado parecia que estavam no local pessoas conhecidas há tempo. Ações educativas são mais didáticas onde há o envolvimento e uma aproximação entre o profissional e usuário, parecem ser mais produtivas e com efeitos mais rápidos, ou seja, o entendimento da pessoa é visível, a atenção está voltada para o momento e a explicação do assunto. Ao aplicarmos o jogo com cada participante individualmente, em um local diferente, foi possível perceber as particularidades de cada um, as dificuldades que cada pessoa tem, e que a estratégia possibilita uma expressão livre, de forma descontraída e desinibida o sujeito, comunique seus hábitos, dúvidas e aquilo que sabe ou não, sobre nutrição. Conclusão Ao aplicarmos o jogo percebemos que o mesmo foi uma estratégia interessante e motivou o diálogo sobre a alimentação de uma maneira bem descontraída, favorecendo a interação entre profissional e usuário. Por fim, conclui-se que a utilização do jogo como estratégia para educação nutricional foi positiva, principalmente ao se considerar o curto tempo de intervenção. Embora as limitações encontradas neste estudo, o mesmo mostra-se de grande 13 importância para o aperfeiçoamento de futuras intervenções, direcionando a continuidade desta investigação. Sabe-se que programas de educação nutricional alcançam maior sucesso quando desenvolvidos em longo prazo, envolvendo os vários fatores relacionados à alimentação. Consideramos que futuras aplicações deste jogo podem ser realizadas em abordagens com grupos de pessoas, onde as mesmas possam discutir em conjunto vários aspectos de sua alimentação. Para tal propósito talvez algumas regras do jogo mereçam adaptações. Outras possibilidades são aplicações para indivíduos de diferentes grupos etários, como por exemplo, crianças e adolescentes. Referências Bibliográficas BOOG, M. C. F. Dificuldades encontradas por médicos e enfermeiros na abordagem de problemas alimentares. Revista de Nutrição, Campinas,v.12, n.3, p.261- 272, set/dez. 1999. Disponível em: <www.bireme.com>. Acesso em: 10 jun. 2008 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia Alimentar da População Brasileira: Promovendo a alimentação saudável. Ministério da Saúde, 2006. CAMPOS, M.T.F.S; MONTEIRO, J.B.R; ORNELAS, A.P.R.C. Fatores que afetam o consumo alimentar e a nutrição do idoso. Revista de Nutrição, Campinas, v.13, n.3, p. 157-165, set./dez.2000. CUPPARI, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica do adulto. São Paulo: Manole, 2002. DURMAN S.; DIAS D. C.; STEFANELLI M. C. Validação de jogo educativo para a discussão da comunicação terapêutica Revista Eletrônica de Enfermagem. p.10-13, 2002 Disponível em: <www.fen.ufg.br>. Acesso em:01/07/2008 FEUERWERKER, L. C.M. Educação dos profissionais de Saúde hoje – problemas, desafios, perspectivas e as propostas do Ministério da Saúde. Revista da ABENO, São Paulo, v.3 n.1, p. 24-27, 2003. Disponível em: <www.bireme.com>. Acesso em: 06 jul.2008 JAIME, P.C. et al Educação nutricional e consume de frutas e hortaliças: ensaio comunitário controlado. Revista Saúde Pública, São Paulo, v.41, n.1, p.154-157, set. 14 2007. LEITE L. O. O lúdico na educação a distância. Novas Tecnologias na Educação CINTED-UFRGS. Porto Alegre, v.3, n.1, mar. 2005. Disponível em: <www.bireme.com >. Acesso em: 01 jul.2008 ORNELLAS, L. H. Técnica dietética: seleção e preparo de alimentos. 6 ed. São Paulo: Ed. Atheneu,1995. PEREIRA, A. L. F. As tendências pedagógicas e as práticas educativas nas ciências da saúde. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n.5, p.1527-1534, set/out 2003. Disponível em: <www.bireme.com>. Acesso em: 16 jun.2008. POLIT, D. F.; HUNGLER, B. P.; BECK C. T. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem. Artes Médicas, Porto Alegre, 1995. PHILIPPI, S. T. et al. Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Revista de Nutrição, Campinas, v.12, n.1, p. 65-80, jan/abril 1999. Disponível em: <www.bireme.com>. Acesso em: 27/07/2008. SALES, M. B., Desenvolvimento de um checklist para a avaliação de acessibilidade da web para usuários idosos. Dissertação de Mestrado – UFSC, Florianópolis – SC, 2002. Disponível em: http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/7054.pdf . Acesso em: 10 mar.2009. SANTOS, K. M. O.; BARROS FILHO A. A. Fontes de informações sobre nutrição e saúde utilizadas por estudantes de uma universidade privada de São Paulo. Revista de Nutrição, Campinas, v.15, n.2, p.201-210, maio/ago. 2002. Disponível em: <www.bireme.com>. Acesso em: 10 jun.2008 SANTOS, L. A. S. et al. Projeto pedagógico do programa de graduação em Nutrição da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia: uma proposta em construção. Revista de Nutrição, Campinas, v.18, n.1, p. 105-117, jan/fev, 2005. Disponível em: <www.bireme.com>. Acesso em: 10 jun.2008 15