XVI Congresso Catarinense de Medicina 1806-4280/05/34 - S 2/83 Arquivos Catarinenses de Medicina Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S 83 RESUMO Mal-formação da Veia de Galeno: relato de caso 1 Lin J , Honório LFO, Pacheco VF1, Knihs V1, Peruchi MM2, da Silva RJM1,2, Grillo E1,2 Introdução: A mal-formação da veia de Galeno é uma anomalia intracraniana rara tipicamente encontrada na população pediátrica. Caracteriza-se por múltiplos shunts arteriovenosos que drenam para um coletor venoso mediano dilatado. Na maioria dos casos, as malformações da veia de Galeno, apresentam-se no período neonatal ou nos primeiros meses de vida cursando com insuficiência cardíaca sendo incomum seu surgimento após os primeiros anos de vida.1,2 Objetivo: Relatar um caso de mal-formação vascular da veia de Galeno. Material e Métodos: Relato de caso Relato do caso: Desde 1 ano de idade, hipoatividade e aceleração do crescimento do perímetro cefálico observada pelo pediatra. Realizou-se uma tomografia computadorizada de crânio que evidenciou uma ventriculomegalia supratentorial com espaços subaracnóides amplos. Outras duas tomografias computadorizadas ao longo dos meses seguintes mostraram calcificações progressivas nos núcleos basais e ventrículos persistentemente grandes (Foto 1), motivo pelo qual foi submetido a III ventriculostomia. Uma das tomografias com contraste mostrou também vasos calibrosos e tortuosos, inicialmente interpretados como “ectasia arterial” (Foto 2). O desenvolvimento foi adequado até 2 anos e 5 meses de idade, quando começou com crises tônico-clônicas generalizadas e breves, instalando-se hemiparesia esquerda persistente. Uma angioressonância magnética evidenciou mal-formação da veia de Galeno com alterações de natureza isquêmica no parênquima cerebral em hemisfério esquerdo, na região central esquerda (Foto 3). Foi submetido a angiografia digital e embolização parcial da malformação com 2 a 3m de idade. A 1. Hospital Infantil Joana de Gusmão - HIJG - Florianópolis - SC. 2. Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Tiago - HU/UFSC Florianópolis - SC. evolução tem sido favorável com controle das crises e regressão da hemiparesia. Realizará novas embolizações. Discussão: Clinicamente, as malformações da veia de Galeno apresentam características diversas de acordo com a faixa etária. No período neonatal a malformação da veia de Galeno é caracterizada por múltiplas fístulas sendo que cerca de 25% do débito cardíaco passam por elas levando a uma insuficiência cardíaca de alto débito.2,3 As manifestações cardíacas podem variar desde cardiomegalia assintomática até insuficiência cardíaca refratária.2 Durante a infância, em geral as fístulas são únicas e os shunts menores tornando as manifestações cardíacas leves ou ausentes. Nessa faixa etária, os pacientes usualmente apresentam macrocefalia ou hidrocefalia sendo que a presença de hipertensão intracraniana persistente pode levar ao atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.2 A presença de aceleração do crescimento cefálico, regressão psicomotora, sinais focais e crises epilépticas servem de alerta para a suspeição diagnóstica. Podem ser encontradas também dilatações vasculares no escalpo (particularmente na região periorbitária e da glabela), proptose e epistaxe recorrente.1,2,4 O diagnóstico é auxiliado por métodos de imagem como a ultra-sonografia que detecta uma saculação venosa e pulsátil localizada na porção posterior do terceiro ventrículo, pela tomografia computadorizada que usual- 83 84 Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S XVI Congresso Catarinense de Medicina mente demonstra uma lesão multilobulada, com aumento de sinal associada à dilatação do sistema ventricular, hipodensidades na substância branca periventricular, atrofia cerebral difusa e calcificações parenquimatosas e pela ressonância magnética que permite determinar a localização da fístula, os componentes arteriais e drenagem venosa. Por fim, o principal método de imagem para o diagnóstico das malformações da veia de Galeno consiste na angiografia que permite avaliar a relação entre a drenagem venosa e os shunts arteriovenosos.2 O tratamento consiste na embolização das lesões reservando os procedimento cirúrgicos para os casos de falha no tratamento endovascular ou, mais raramente, como complemento a embolização.1,2,5 Conclusões: A malformação da veia de Galeno deve ser considerada em crianças que apresentem acelerarão do crescimento cefálico cuja etiologia ou os mecanismos não estejam claros, especialmente quando são observadas também calcificações progressivas dos núcleos da base. Descritores: 1. Veia de Galeno; 2. Terapia endovascular; 3. Aneurisma. 84 Referências Bibliográficas 1. Gailloud P O’Riordan DP, Burger I, Levrier O, Jallo G, Tamargo RJ, et al. Diagnosis and Management of Vein of Galen Aneurysmal Malformations. Journal of Perinatology 2005; 25:542-51. 2. Gupta AK, Varma DR. Vein of Galen malformations: Review. Neurology India 2004; 52(1):43-54. 3. Golombek SG, Ally S, Woolf PK. A Newborn with Cardiac Failure Secondary to a Large Vein of Galen Malformation. Southern Medical Journal 2004; 97(5):516-18. 4. Bhattacharya JJ, Thammaroj J. Vein of Galen Malformations. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2003; 74(suppl 1):42-4. 5. Jones BV, Ball WS, Tomsick TA, Millard J, Crone KR. Vein of galen aneurismal malformation: Diagnosis and treatment of 13 children with extended clinical follow-up. Am J Neuroradiol 2002; 23:1717-24.