neuroblastoma olfatório em gato - relato de caso olfactory

Propaganda
XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
NEUROBLASTOMA OLFATÓRIO EM GATO - RELATO DE CASO
OLFACTORY NEUROBLASTOMA IN A CAT – CASE REPORT
¹VALLE, B. D. S. ; ¹FORLANI, G. S.
¹FVET- Universidade Federal de Pelotas- UFPel-RS
[email protected]
PALAVRAS CHAVES: neoplasias nasais; tumores; maligno
INTRODUÇÃO
Os tumores intracranianos afetam principalmente cães e gatos de meia idade a idosos. O
neuroblastoma olfatório é uma neoplasia neuroepitelial maligna, raramente reportada.
Dentre os principais sinais clínicos estão sinais neurológicos como desorientação, perda
de propriocepção, reações posturais anormais e aumento de volume em região frontal
(Kitagawa et al. 2006; McEntee & Dewey, 2013). Os melhores meios de diagnóstico
incluem avaliação radiográfica, tomografia computadorizada e avaliação histopatológica
(Babicsak et al. 2011). O objetivo desse trabalho foi relatar um caso de neuroblastoma
olfatório em um felino.
REVISÃO DE LITERATURA
A neoplasia intracraniana é uma causa comum de disfunção neurológica em animais de
meia idade e idosos, com maior incidência em cães do que em gatos. Entre os tumores
que
ocorrem
com
menos
frequência
estão
os
sarcomas
indiferenciados,
meduloblastomas, neuroblastomas e ependimomas (Coates, 2010; McEntee & Dewey,
2013). As neoplasias neuronais são extremamente raras, o neuroblastoma olfatório é
uma neoplasia neuroepitelial maligna, raramente reportada e tem o potencial de invadir
a cavidade intracraniana através da lâmina cribiforme (Kuwamura et al. 2004; Kitagawa
et al. 2006).
Segundo Hartmann (2011) o vírus da leucemia felina (FeLV) pode causar diversos tipos
de neoplasma, entre os quais se destacam os linfomas e neoplasias hematopoiéticas
como a leucemia. A ocorrência de osteocondroma e neuroblastoma também está pode
187
XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
estar associada a infecção viral, mas o papel do vírus na gênese desses tumores ainda
não foi determinado. Os sinais clínicos como descargas nasais mucosas ou serosas,
espirros invertidos, estertor respiratório, dispneia e deformação de face podem estar
presentes. Além disso, sinais oculares como epífora, exoftalmia, prolapso de glândula
nictitante e cegueira podem ser observados. Uma vez que a neoplasia comprometa o
sistema nervoso central, é comum o aparecimento de sinais neurológicos tais como
depressão, convulsões, alterações comportamentais, déficits neurológicos, paresia e
distúrbios de deambulação (Meirelles et al., 2014).
Existem vários meios de avaliação diagnóstica das neoplasias descritas na literatura. A
avaliação radiográfica do crânio é um método de triagem útil para a identificação de
formações neoplásicas em cavidade nasal de cães. A ressonância magnética é
considerada o método de diagnóstico de imagem mais apropriado para avaliar a
extensão dos tumores oronasais, oferecendo uma excelente documentação da extensão
das lesões (Kitagawa et al., 2006; Meirelles et al., 2014). A tomografia
computadorizada também é indicada para esses casos. Ela possibilita a identificação e
avaliação de lesões do tecido nervoso central, fornecendo informações a respeito do
tamanho, forma e localização da lesão. A imagem obtida na tomografia
computadorizada pode sugerir a presença de um determinado tipo de tumor cerebral,
informação que direciona o prognóstico e tratamento do animal (Babicsak et al., 2011).
RELATO DO CASO
Foi atendido em Porto Alegre/RS, um felino, macho, oito anos de idade, SRD,
Leucemia Viral Felina (FeLV) positivo e com livre acesso a rua. O proprietário relatou
que o paciente estava com dificuldade de locomoção e algia ao apoiar o membro
torácico direito. Acreditava que os sintomas eram provenientes de uma queda que havia
ocorrido no mesmo dia. Não foi observado alteração na micção e defecação, porém o
tutor notou que o apetite do paciente estava discretamente reduzido. Ao exame clínico
foi constatado assimetria facial, protusão de globo ocular direito, edema de seio frontal
e déficit proprioceptivo em ambos os membros torácicos, além de déficit no teste de
reflexo de ameaça. Como exame complementar foi realizado radiografia de membro
torácico direito, porém não foi observada nenhuma alteração. O paciente foi
hospitalizado e o tratamento instituído foi fluidoterapia com solução de ringer com
188
XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
lactato 50ml/kg a cada 24 horas, prednisona na dose 2mg/kg a cada 24 horas, sulfa com
trimetropim 15mg/kg a cada 12 horas, bionew® 0,2ml/kg a cada 24 horas por via
intravenosa e tramadol 1mg/kg por via subcutânea. Entretanto o animal não respondeu
ao tratamento e veio a óbito quarenta e oito horas após o início do tratamento.
Encaminhado para necropsia na avaliação histopatológica foi constatado a destruição
dos seios nasais direito e esquerdo, com presença de massa primária infiltrativa. Nos
achados microscópicos dos tecidos alterados havia uma neoplasia maligna de origem
neuroectodérmica, indicando o neuroblastoma olfatório.
DISCUSSÃO
O paciente deste relato apresentava sinais respiratórios discretos como espirros,
concordando com a literatura que demonstra alteração nesse sistema em pacientes com
comprometimento do trato aéreo superior (Rassnick et al., 2006; Meirelles, et. al.,
2014). Além desses sinais, foi evidenciado o comprometimento do sistema ocular como
protrusão de globo ocular direito e edema de seio frontal, além de manifestações
neurológicas, como déficit proprioceptivo em membros torácicos, diminuição do nível
de consciência e do reflexo de ameaça, que corrobam com outros autores (Kitagawa et.
al., 2006).
Heidner (1990) relata que a prevalência de neoplasmas cranianos é maior em animais de
10 anos, diferindo do presente caso, pois o animal possuía apenas oito anos, sendo
assim, situando-se abaixo da faixa etária dos pacientes acometidos por essa neoplasma.
Segundo Kitagawa (2006) a ressonância magnética é o meio mais apropriado para
avaliar a extensão de tumores oronasais, o que não foi possível nesse caso, devido ao
alto custo do método de diagnóstico. Embora o diagnóstico definitivo de neoplasias
intracranianas só é possível após o exame histopatológico do tecido tumoral, todavia
muitas vezes o diagnóstico só é realizado após o óbito do paciente (McEntee & Dewey,
2013). No presente caso foi observado destruição parcial dos seios nasais esquerdo e
direito, sendo mais evidenciado no lado esquerdo, onde havia a presença de formação
tumoral difusa e infiltrativa causando a protusão do globo ocular esquerdo.
O uso do antibiótico sulfa com trimetropim foi escolhido devido ao mesmo ter a
capacidade de ultrapassar a barreira hematoencefálica. Já o uso da prednisona é
189
XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
recomendado para a diminuição do edema vasogênico, sendo observado melhora nos
sinais clínicos, o que não aconteceu no presente relato devido a progressão da neoplasia
(Coates & Johnson,2010). Embora, segundo o proprietário, o paciente não demonstrasse
sinais de algia, foi administrado cloridrato de tramadol, devido ao paciente felino estar
apático e com hiporexia, sinais que podem estar relacionados a algia em função da
tumoração. Nesses casos, o uso de tramadol associados ou não a AINES é recomendado
(Oliviera et al., 2003).
O animal veio a óbito dois dias após o tratamento, possivelmente devido a progressão
da doença, pelo grau de malignidade do neuroblastoma olfatório encontrado. A
destruição dos seios nasais e a formação tumoral difusa indicavam o estágio avançado
de metástase. Isso ressalta a importância do diagnóstico precoce para o sucesso do
tratamento, que tem como objetivo a redução do tumor e controle dos efeitos
secundários. O protocolo de tratamento é baseado no resultado do exame
histopatológico, localização da lesão, sinais clínicos, custo e aspectos relacionados à
morbidade e mortalidade (Coates & Johnson, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O neuroblastoma olfatório é uma afecção grave, em especial quando os sinais clínicos
se manifestam. Deste modo é imprescindível que pacientes com assimetria facial ou
sinais neurológicos sejam levados para atendimento o mais rápido possível, permitindo
intervenções mais precoces e com maiores chances de sucesso. Além disso, foi
observado que embora o uso de corticoides seja indicado nesses pacientes, o uso da
prednisona na dose de 2 mg/kg não apresentou benefício significativo para esse
paciente.
REFERÊNCIAS
Babicsak VR. et al. Aspectos tomográficos de tumores cerebrais primários em cães e
gatos. Veterinária e Zootecnia. dez.; 18(4): 531-541. 2011.
190
XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
Coates, J.R. & Johnson, G.C. 2010. Nervous system neoplasia, p. 186-194. In: Henry,
C.J. & Higginbothan M.L. Cancer Management in Small Animal Practice. 1st ed.
Sauders, Missouri. 2010.
Kitagawa, M.; Okada, M.; Ymamura H.; Kanayama, K.; Sakai, T. Diagnosis of
olfactory neuroblastoma in a dog by magnetic resonance imaging. Veterinary Record
159, 288-289, 2006.
Kuwamura, M., Kotera, T., Yamate, J., Kotani, T., Aoki, M. & Hori, A. Cerebral
ganglioneuroblastoma in a Golden Retriever dog. Veterinary Pathology. 41, 282-284.
2004.
McEntee M.C. & Dewey C.W. Tumors of the nervous system, p. 583-596. In: Withrow
S.J., Vail D.M. & Page R.L. Withrow & MacEwen´s Small Animal Clinical Oncology.
5th ed. Saunders, Philadelphia. 2013.
Meirelles, M. G.; Rodrigues, G.; Chiaratti, A.; Santos, R. S. B.; Mota, E.; Mesquita, R.
G. Neuroblastoma olfatório em cão: achados radiográficos e histopatológicos. IV
Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem Veterinário- Belo Horizonte,
2014.
Heidner GL, Kornegay JN, Page RL, Dodge RK, Thrall DE. Analysis of survival in a
retrospective study of 86 dogs with brain tumors. J Vet Intern Med.5:219-26. 1990.
Oliviera, A. S.; Torres, H. P. O papel dos bloqueios anestésicos no tratamento da dor de
origem cancerosa. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 53, n. 5, p. 654- 662, 2003.
Rassnick, K.M., Goldkamp, C.E., Erb, H.N., Scrivani, P.V., Njaa, B.L., Gieger, T.L.,
Turek, M.M, McNiel, E.A., Proulx, D.R., Chun, R., Mauldin, G.E., Phillips, B.S. &
Kristal, O. Evaluation of factors associated with survival in dogs with untreated nasal
carcinomas: 139 cases (1993-2003). Journal of the American Veterinary Medical
Association, 229 (3), 401-406. 2006.
191
Download