UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Arquitectura e A rtes Mestrado integ rado em Arquitec tura O limite construído: o muro m Realizado R p por: Inês dos d Santos Mealha Ussera Belma arço Orientado por: p Prrof. Doutorr Arqt. Fernando Mannuel Domin ngues Hipó ólito Constituiçã C ão do Júrii: Presidente P : Orientador O r: Arguente: A aquim José é Ferrão dee Oliveira Braizinha B Prrof. Doutorr Arqt. Joa Prrof. Doutorr Arqt. Ferrnando Man nuel Dominngues Hipó ólito Prrof. Doutorr Arqt. Joa aquim Marc celino da C Conceição dos Santoss Dissertação D o aprovada a em: 29 9 de Maio d de 2013 Lisboa a 2013 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço Lisboa Abril 2013 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço Lisboa Abril 2013 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço O limite construído: o muro Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura. Orientador: Prof. Doutor Domingues Hipólito Arqt. Fernando Manuel Assistente de orientação: Mestre Arqt. José Maria de Brito Tavares Assis e Santos Lisboa Abril 2013 Ficha Técnica Autora Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço Orientador Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito Assistente de orientação Mestre Arqt. José Maria de Brito Tavares Assis e Santos Título O limite construído: o muro Local Lisboa Ano 2013 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação BELMARÇO, Inês dos Santos Mealha Usera, 1987O limite construído : o muro / Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço ; orientado por Fernando Manuel Domingues Hipólito, José Maria de Brito Tavares Assis e Santos. - Lisboa : [s.n.], 2013. Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. I - HIPÓLITO, Fernando Manuel Domingues, 1964II - SANTOS, José Maria de Brito Tavares Assis e, 1962LCSH 1. Paredes exteriores 2. Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (Portugal) 3. Mercado Municipal (Braga, Portugal) 4. Farol Museu de Santa Marta (Cascais, Portugal) 5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses 6. Teses – Portugal - Lisboa 1. 2. 3. 4. 5. 6. Exterior walls Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (Portugal) Mercado Municipal (Braga, Portugal) Farol Museu de Santa Marta (Cascais, Portugal) Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon LCC 1. NA2940.B45 2013 AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Arquitecto Fernando Hipólito, por ter aceite a orientação desta dissertação, pelo apoio, disponibilidade e ajuda demonstrada ao longo do trabalho. Ao Professor Mestre Arquitecto José Maria Assis e Santos, pelo acompanhamento, disponibilidade e ajuda demonstrada ao longo da investigação. Aos meus amigos, pela amizade, apoio e incentivo. Um agradecimento especial à Ana Boléo, Teresa Baêna, João Bilbao, Paulo Durão, Maria Ana Sousa e Inês Santos. À minha família, pela ajuda e apoio demonstrado e pelo exemplo que são. Às minhas irmãs, pela amizade, confiança, apoio e entusiasmo. Ao meu pai, pelo apoio e incentivo. À minha mãe, pela força, apoio, pelo exemplo que é, e pela sua insubstituível presença. APRESENTAÇÃO O Limite construído: O muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço A presente dissertação de mestrado propõe uma reflexão sobre questões centrais da arquitectura, pretendendo explorar e investigar as capacidades do muro enquanto limite, e as diversas formalizações que este elemento poderá adoptar. De maneira a destacar a sua importância na qualificação, percepção e experimentação do espaço arquitectónico, urge a clarificação de um conjunto de conceitos relacionados com os possíveis modos de construir o limite arquitectónico. Um limite táctil, que possibilita o toque, a experiência directa, que nos protege e envolve. Um limite que promove a expressão dos sentidos, e será a utilização desses sentidos, o factor responsável por ampliar o contacto que temos com as coisas, com os objectos e com a envolvente. Sentidos que captam informações sobre o aspecto, sobre o tempo, sobre o lugar, interiorizando-se em cada um de nós, e enfatizando a relação que mantemos com o que nos rodeia. Desenvolvem uma capacidade de resposta e um diálogo directo entre o corpo e o objecto, entre a mente e o espaço. Porque o limite físico, palpável, ajudanos a captar mais facilmente o espaço, a compreendê-lo melhor, a vivê-lo mais intensamente. Palavras-chave: experimentação. Arquitectura, Limite, muro, ideia, construção, percepção, PRESENTATION Constructed limit: the wall Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço This master’s dissertation proposes a reflection on key issues of architecture, seeking to explore and investigate both the capabilities of the wall as an architectural limit and the various formalizations this element may adopt. To highlight its importance in the qualification, perception and experimentation of the architectural space, it is essential to clarify a set of concepts related to the possible ways of building the architectural limit. A tactile limit, enabling touch and direct experience, protecting and surrounding us. A limit that empowers our senses to express themselves and the use of those senses will magnify our contact with pshysical objects. Senses capture information on the appearance, on the time and the place. They become a part of every one of us and emphasize the relationship we keep with the world around us. They develop the ability to respond and the direct dialogue between the body and the object, the mind and the surroundings. The physical limit is tangible and therefore it helps us to capture space more easily, to understand it better and to live it more intensely. Keywords: Architecture, limit, wall, idea, construction, perception, experimentation. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 - Esquema. (Ilustração nossa, 2012) ....................................................... 21 Ilustração 2 - Pirâmides do Egipto. (Oscar Niemeyer, 1997, p. 20) ............................. 23 Ilustração 3 - Palácio dos Ofícios, 1560-65, Giorgio Vasari. (Ching, 2005, p. 22) ....... 24 Ilustração 4 - Esquema de desnível de terreno. (Ching, 2005, p. 110) ........................ 26 Ilustração 5 - Paris. (Ching, 2005, p. 260) ................................................................... 27 Ilustração 6 - Esquiço Casa de Chá, Boa Nova, Matozinhos, Siza Vieira. (Portas, 1992, p. 2) ............................................................................................................................ 28 Ilustração 7 - Planta Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 150) ...................... 29 Ilustração 8 - Prespectiva Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 156) .............. 30 Ilustração 9 - Machu Picchu, antiga cidade Inca, c. 1500. (Ching, 2005, p. 20)........... 31 Ilustração 10 - Corte Casa Farnsworth, Ilinois, Mies Van der Rohe. (Ching, 2005, p. 106) ............................................................................................................................ 33 Ilustração 11 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012) .................................. 34 Ilustração 12 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012) .................................. 34 Ilustração 13 - Acrópole, Atenas, Grécia. (Ching, 2005, p. 236) .................................. 35 Ilustração 14 - Pódio, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236) ................................................................................................................................... 36 Ilustração 15 - Colunata, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236) ............................................................................................................................ 36 Ilustração 16 - Panteon, Roma, 120-124 d.C. (Ching, 2005, p. 93) ............................. 42 Ilustração 17 - Modulor, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 303) ...................................... 43 Ilustração 18 - Proposta de axonometria do Pavilhão de Barcelona, Bruno Zevi. (Quetgas, 2001, p. 116) .............................................................................................. 44 Ilustração 19 - Muro de pedra. (Ilustração nossa, 2012) ............................................. 47 Ilustração 20 - Planta, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 29) .......................................................................................................................... 48 Ilustração 21 - Esquiço, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 29) .......................................................................................................................... 49 Ilustração 22 - Esquema compositivo. (Ching, 2005, p. 169) ...................................... 50 Ilustração 23 - Projecto para uma residência, 1922, Theo van Doesburg e Cornels van Eesteren. (Ching, 2005, p. 169) .................................................................................. 52 Ilustração 24 - Projecto para uma casa, 1923, Mies van Der Rohe. (Ching, 2005, p. 23) ................................................................................................................................... 53 Ilustração 25 - Esboços para os cinco pontos da nova arquitectura, 1926, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 128) ................................................................................. 55 Ilustração 26 - Esquiço, "baleia", Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Hipólito, 2002, p. 314) .................................................................................... 66 Ilustração 27 - Axonometria, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Hipólito, 2002, p. 314) .................................................................................... 66 Ilustração 28 - Maquete da proposta, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 57) ................................................................................... 66 Ilustração 30 - Vista Poente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 67 O limite construído: o muro Ilustração 29 - Muro, vista Poente, Escola Superiorde Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 67 Ilustração 31 - Vista Nascente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 68 Ilustração 32 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 68 Ilustração 34 - Vista Sul, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 69 Ilustração 33 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 69 Ilustração 35 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 59) ........................................................................................ 70 Ilustração 36 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 59) ........................................................................................ 71 Ilustração 38 - Vista aérea, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 18) ......................................................................................... 78 Ilustração 37 - Acto de Marcar, esquiço, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2000, p. 315) .................................................................................... 78 Ilustração 41 - Topo Nascente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 20) ......................................................................................... 79 Ilustração 42 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p.24) .......................................................................................... 79 Ilustração 39 - Topo Poente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 20) ......................................................................................... 79 Ilustração 40 - Axonometria, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013) ................................................................................................... 79 Ilustração 43 - Plantas dos pisos, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013) ................................................................................................... 80 Ilustração 44 - Corte transversal, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013) ................................................................................................... 81 Ilustração 45 - Vista da galeria superior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1990, p. 23) ............................................................................. 81 Ilustração 46 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1990, p. 24) ......................................................................................... 81 Ilustração 47 - Axonometria, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2002, p. 316) ........................................................................................................................ 82 Ilustração 48 - Topo Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................................... 82 Ilustração 49 - Vista do jardim, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................................... 82 Ilustração 50 - Detalhe muro, entrada, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração, nossa 2013) ............................................................................................. 83 Ilustração 51 - Percurso de entrada, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 83 Ilustração 52 - Vista superior, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................................... 83 Ilustração 53 - Plantas, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992, p. 179) ........................................................................................................................ 84 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 1-2 O limite construído: o muro Ilustração 54 - Cortes, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992, p. 182) ........................................................................................................................ 85 Ilustração 56 - Vista superior, percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ....................................................................... 86 Ilustração 55 - Percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 86 Ilustração 57 - Esquiço, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 35) ................................................................................................................................... 93 Ilustração 58 - Maquete projecto, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 26) ................................................................................................................ 93 Ilustração 59 - Vista exterior, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) .......................................................................................................................... 93 Ilustração 60 - Muralha bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................................... 94 Ilustração 61 - Vista exterior, bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 94 Ilustração 62 - Muro habitado, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) .......................................................................................................................... 94 Ilustração 63 - Vista Bateria superior, Farol Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................................... 95 Ilustração 64 - Espaço de transição entre pisos (baterias), Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) ................................................................................ 95 Ilustração 65 - Planta, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 21) ................................................................................................................................... 96 Ilustração 66 - Corte transversal, Farol de Sta. Marta. (Aires Mateus, 2007, p. 22) .... 97 Ilustração 67 - Corte Longitudinal, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 23) ................................................................................................................ 97 Ilustração 68 - Esquema e axonometria, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............... 103 Ilustração 69 - Zona do acervo, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................. 104 Ilustração 70 - Vista central, galeria. (Ilustração nossa, 2011) .................................. 104 Ilustração 71 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011) ....................................................... 105 Ilustração 72 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011) ....................................................... 105 Ilustração 73 - Lanternim, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ...................................... 105 Ilustração 74 - Plantas P-1 e P0, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ........................... 106 Ilustração 75 - Plantas P1 e P2, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................ 107 Ilustração 76 - Plantas P3 e P4, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................ 108 Ilustração 77 - Cortes C1 e C2, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................. 109 Ilustração 78 - Corte C3 e C4, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................... 110 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 1-3 1 SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................. 17 1.1. Âmbito da análise. ........................................................................................... 17 1.2. Objectivos ....................................................................................................... 18 1.3. Estrutura.......................................................................................................... 18 2. A construção do limite: O muro .............................................................................. 21 2.1. Representação e conceito ............................................................................... 21 2.2. Matéria e material ............................................................................................ 31 2.3. Composição e conformação ............................................................................ 43 3. A percepção do limite: O muro ............................................................................... 59 3.1. Escola superior de comunicação social – Carrilho da Graça ........................... 59 3.2. Mercado Municipal de Braga / Escola de Dança – Souto Moura ..................... 72 3.3. Farol Museu de Santa Marta – Aires Mateus ................................................... 87 4. Um modo de construir limite: O muro. .................................................................... 99 4.1. Art District: galeria de arte contemporânea. ..................................................... 99 5. Conclusão ............................................................................................................ 111 Referências .............................................................................................................. 115 Bibliografia ................................................................................................................ 119 Apêndices ................................................................................................................. 121 Lista de apêndices ................................................................................................ 123 Apêndice A........................................................................................................ 125 Apêndice B........................................................................................................ 131 Apêndice C ....................................................................................................... 141 O limite construído: o muro 1. INTRODUÇÃO 1.1. ÂMBITO DA ANÁLISE. Com a rápida e quase instantânea movimentação da informação, torna-se por vezes complicado focarmo-nos na profundidade das respostas que obtemos. A nossa atenção é constantemente desviada por inúmeros assuntos que rapidamente se vão sobrepondo, dificultando a continuidade do pensamento e consequentemente a sua conclusão, o que, por vezes, nos desorienta relativamente à objectividade das questões e das respectivas soluções. Somos diariamente confrontados com centenas de imagens, vários modos de responder ao mesmo problema. E por vezes é a imagem, a forma e o aspecto que prevalece, sendo momentaneamente omitida a verdadeira essência dos objectos, dos espaços, as verdadeiras intenções do arquitecto ou da arquitectura, e todo o processo que originou aquela imagem final. “[…] tratamos de buscar a essência das coisas.” (Kahn, 2002, p. 57). É mediante esta afirmação de Louis Kahn1, que surge a necessidade de procurar e aprofundar um modo como a arquitectura acontece. Não apenas pela pertinência da questão em si, mas pelas diversas dúvidas que foram surgindo ao longo de todo o percurso académico. Questões que foram sendo clarificadas e confrontadas ao longo do tempo, através das inúmeras respostas aos exercícios propostos. Questões sobre arquitectura, que demonstram a complexidade desta disciplina. Desta maneira, optou-se pela máxima objectivação do tema em análise, focando-o no estudo dos limites físicos – muro – que geram e conformam o espaço arquitectónico. Surgiu a necessidade de aprofundar este aspecto, de maneira a perceber a sua essência, estudando um conjunto de factores relacionados com o acto de projectar, com as escolhas e intenções iniciais, e a maneira com essas intenções poderão são traduzidas em arquitectura. 1 Louis Kahn (1902 – 1974). Arquitecto americano, considerado como um dos mais brilhantes arquitectos do século XX. A sua determinação e convicção, levam-no ao desenvolvimento de novas teorias relacionadas com a linguagem formal dos edifícios, que revolucionaram toda a arquitectura moderna – “Monumenrality”. Em que a sua intenção era redirecionar as energias do modernismo no âmbito da arquitectura domestica. Após 1944 começa a formular uma arquitectura que sustentasse as iniciativas particulares. A sua obra transmite a ideia de que a arquitectura deve ser uma força empreendedora, tanto através da escala que apresenta como das próprias intenções do arquitecto. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 17 O limite construído: o muro 1.2. OBJECTIVOS O objectivo geral da presente dissertação consistiu em explorar o potencial e as capacidades do limite construído – muro – enquanto elemento basilar do processo projectual em arquitecura, posteriormente ramificados nos seguintes objectivos específicos: 1. Explorar a ideia de limite, muro, através dos diferentes modos representativos; 2. Compreender a maneira como a escolha dos materiais aplicados nos limites físicos do espaço contribui para o processo da experiência espacial em arquitectura. 3. Perceber a relação entre o conteúdo e a forma, e a maneira como os elementos constitutivos das formas (linha, superfície, volume, espaço), aliados aos instrumentos que o arquitecto tem à sua disposição (matéria, luz, ornamento), contribuem para a composição arquitectónica. 4. Explorar as características do espaço e da luz a partir da continuidade e descontinuidade dos limites físicos construídos – muro. 1.3. ESTRUTURA O presente trabalho foi dividido em três etapas: A construção do limite: muro. Onde se procurou fazer uma análise teórica aos elementos que compõem o processo projectual, a partir da noção deste limite, assim como perceber o carácter evolutivo que este apresenta. A percepção do limite: muro. Onde foi desenvolvida uma análise a três casos de estudo em Portugal, em que cada um é relacionado a um dos parâmetros referidos anteriormente. Três obras distintas que, a partir da experiência directa, permitiram uma clarificação dos conteúdos abordados. Obras de carácter cultural, com programas e funcionalidades distintas, realizadas em tempos diferentes. A Escola Superior de Comunicação Social, do arquitecto João Luís Carrilho da Graça, enquanto solução que concretiza uma ideia/conceito através da exposição de um conjunto de intenções do autor. O Mercado Municipal de Braga/ Escola de Dança, do arquitecto Eduardo Souto Moura, explorando a relação entre a arquitectura Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 18 O limite construído: o muro e o sítio, a situação de ruína/ preexistência, e o percurso como factor determinante da proposta, enfatizando a lógica da escolha dos materiais e o modo como a matéria arquitectónica é trabalhada nas várias fases do projecto. O Farol de Santa Marta, dos arquitectos Francisco e Manuel Aires Mateus, enquanto modo de articulação, conformação e composição do espaço, através da adaptação do objecto à evolução do contexto onde está inserido. Um modo de construir limite: muro. Correspondendo ao trabalho desenvolvido na disciplina de Projecto III, da Universidade Lusíada de Lisboa. Um trabalho que impulsionou o interesse pelo tema em estudo. Em suma, esta análise pretende explorar e investigar as capacidades do muro enquanto limite arquitectónico, e as diversas formalizações que este elemento poderá adoptar. A maneira como as opções por determinadas características, conseguem evidenciar as intenções do autor, assim como atribuir determinadas qualidades ao espaço. Sendo ainda relevante compreender o modo como a expressão do limite formaliza a relação que o objecto mantém com o contexto em que está inserido, e a relação que o indivíduo mantém com o objecto quando o experiencia. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 19 O limite construído: o muro A noção de limite vê, no muro, o elemento arquitectónico elementar, a realidade física e material construída indissociável dos espaços que gera, a barreira conformadora e conformada pelas forças interiores de operações plásticas e elásticas que agem na sua própria materialidade, e por forças exteriores de uso e de vivência que actuam no espaço sob a forma de tensões.(Pinto, 2007, p. 25). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 20 O limite construído: o muro 2. A CONSTRUÇÃO DO LIMITE: O MURO 2.1. REPRESENTAÇÃO E CONCEITO “De um traço nasce a arquitectura.” (Niemeyer, 2001, p. 9). Esta é a frase que inicia o texto do arquitecto Oscar Niemeyer 2 , Como nasce a arquitectura3. O traço, como princípio do modo representativo, comandado pela mão, vai surgindo no papel em branco. A mão funciona como elemento de conexão entre o pensamento e o papel, entre a imaginação e o real. Os sucessivos movimentos da mão procuram a ideia desejada, e à medida que vão sendo traçados, vão ajudando a compreender o problema, a perceber o terreno, o ambiente e o programa pretendido. E é neste momento, que vão surgindo as primeiras soluções. Soluções traduzidas em desenhos, que de maneira progressiva vão concretizando as ideias, vão articulando e libertando pensamentos, técnicas, cálculos e intenções. Da evolução do traço surge o desenho, o diagrama, o esquiço e o esquema. Segundo Siza4, “No princípio o futuro era um esquema.” (1998, p. 12). O esquema permite o reconhecimento das semelhanças entre objectos, operando de maneira a gerar novas ideias e assim chegar à formalização arquitectónica. Surge como relação entre a ideia e a forma, e como mediador entre a forma e a imagem. Corresponde à primeira materialização da ideia. Funciona como uma estrutura, gerada pela intenção, atribuindo-lhe um sentido específico, traduzindo o processo gerador da imagem arquitectónica final. Ilustração 1 - Esquema. (Ilustração nossa, 2012) 2 Oscar Niemeyer (1907 – 2012). Arquitecto brasileiro. Foi um dos responsáveis pelo planeamento arquitectónico de Brasilia. É considerado um dos principais representantes da arquitectura moderna. Licenciado pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1934. Em 1936 foi designado para colaborar no atelier do arquitecto Le Corbusier. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do betão armado. Em 1988 recebe o Prémio Pritzker de Arquitetura. 3 Texto do arquitecto Oscar Niemeyer na sua obra Conversa de arquitecto. 4 Alvaro Siza Vieira (1933 - ). Estudou arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 1949 e 1955. Foi colaborador do professor Fernando Távora entre 1955 e 1958. Lecionou em várias Escolas de arquitectura. É autor de inúmeros projectos. As suas obras foram expostas em vários países e foi premiado diversas vezes a nível nacional e internacional. Tem sido convidado a participar em várias conferências e seminários. É membro da American Academy of Arts and Science e “Honorary Fellow” do Royal Institute of British Architects, do American Institute of Architects, da Académie d’Architecture de France e da European Academy of Sciences and Arts. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 21 O limite construído: o muro Atribuindo ao esquema uma utilidade de mediador das imagens, e recorrendo à noção Kantiana5 de esquema, “[…] produto da imaginação, intermediário entre os planos do sensível e do entendimento. O esquema, ao contrário do que se poderia supor, não é uma imagem, mas um método de construir uma imagem em conformidade com um conceito.” (Kant, 2001, p. 15). Assim, o esquema sustenta a produção de imagens arquitectónicas e orienta o processo até à fase final de uma obra. No método de concepção projectual, a elaboração de esquemas facilita a compreensão de cada operação, e vai desencadeando um sucessivo conjunto de imagens, fundamentando a ideia inicial. Possibilita um reconhecimento de semelhanças entre os objectos, que de maneira encadeada, vão gerando novas associações e novas formalizações arquitectónicas. É possível também, através dos esquemas, realizados no âmbito da definição das estruturas internas de um edifício, perceber a identidade histórica que este apresenta. “O desenho conduz a forma à presença.” (Kahn, 2002, p. 39). A compreensão ou interpretação das obras pode ser realizada a partir do desenho de representação dos objectos. Pode também representar um modo de expressão, “[…] explorado através do gesto,” (Pinto, 2007, p. 142), transportando as ideias e as novas imagens para o papel. Este desenho exterioriza conceptualmente configurações geométricas através do esquiço. A procura pela forma funcional, construtivamente racional, é alcançada lentamente através do desenho, através dos esquemas, constituindo uma expressão gráfica. Sendo assim, considerado um excelente instrumento do projecto, uma tradução gráfica do pensamento e uma ferramenta para o entendimento dos objectos. Outra maneira de representação esquemática é o modelo tridimensional. Através deste instrumento, existe uma maior aproximação à escala natural do edifício. Possibilita o estudo dos materiais e da complexidade plástica que o projecto poderá tomar. Apesar de não representar o objecto acabado, explora o “[…] espaço, os volumes, as superfícies, as estruturas, as escalas, as proporções, a luz e a sombra.” (Pinto, 2007, p. 145). Desta maneira, no âmbito do processo de projecto, o modelo 5 Kant (1724 - 1804). É considerado um dos maiores e mais influentes pensadores da era moderna. Filósofo alemão, realizou inúmeros trabalhos, mas a filosofia crítica de Kant trata-se de um criticismo ou idealismo transcendental. O pensamento Kantiano é normalmente dividido pela fase pré-crítica (17551780) e a fase crítica (1781 em diante), que teve início com a publicação da sua obra fundamental, denominada “Crítica da Razão Pura”. Esta obra teve como objectivo explicar o conhecimento empírico, que consiste nas precepções dos sentidos posteriores à experiência; e o conhecimento puro, aquele que não depende dos sentidos, é anterior à experiência e está ligado a uma afirmação universal. As raízes da sua filosofia partem do Iluminismo, e o filósofo procurou construir um método e uma teoria da experiência que deitasse abaixo os fundamentos da metafísica racionalista dos séculos XVII e XVIII. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 22 O limite construído: o muro tridimensional complementa a representação gráfica do desenho, do esquiço ou do esquema. Este processo de representação torna-se importante pelo seu caracter evolutivo. Sendo entendido como elemento basilar em toda a produção arquitectónica. A expressão do traço ou o material usado na composição do modelo tridimensional, permite traduzir um conjunto de intenções, aproximando a ideia inicial ao objecto final pretendido e ao próprio espaço tridimensional. Ilustração 2 - Pirâmides do Egipto. (Oscar Niemeyer, 1997, p. 20) “El origen de la representación está más en los albores de la civilización y obedece a necesidades emotivas y de evocación […].” 6 (Gallego, 1997, p. 22). De acordo com Gallego7, a origem da representação, corresponde ao início das artes visuais, do desenho e da pintura, com o seu valor e capacidade de estimular tanto o criador como o observador. Surge como instrumento essencial na produção e comunicação gráfica das imagens projectuais. A evolução do processo livre do esquiço, do esquema ou do modelo tridimensional enquanto elementos representativos, é desenvolvido numa tentativa de aproximação à realidade. Esta aproximação introduz um conjunto de medidas precisas e exactas, distâncias e relações, introduzindo assim a geometria como ferramenta representativa mais rigorosa do processo projectual. Sendo um elemento central na óptica da representação, a geometria surge como resultado de uma capacidade geradora não só de emoções como também de pensamentos organizativos e especuladores, desenvolvendo uma identidade própria. As primeiras representações em planta e alçado, surgem na idade da pedra, através da representação da figura humana e dos animais em alçado nas paredes das grutas. Estas representações vão evoluindo ao longo das épocas, e no Egipto surgem as primeiras representações da planta à escala. (Gallego, 1997, p. 22). Através de 6 A origem da representação corresponde aos primórdios da civilização e obedece a necessidades emotivas e de evocação. (Tradução nossa). 7 Juan Antonio Sánchez Gallego Arquitecto e professor catedrático na Universidade Politecnica da Catalunha (UPC). Docente na Escola Técnica Superior da Arquitectura de Barcelona (ETSAB) onde foi director do departamento de expressão gráfica (1982-1991). Durante o seu vasto trajecto enquanto docente, promoveu e impulsionou uma renovação pedagógica na intenção e nos conteúdos da geometria descritiva com o objectivo de reconduzi-la ao seu âmbito natural do desenho. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 23 O limite construído: o muro sucessivos estudos e teorias, a geometria começa a ser entendida como uma ciência de especulação espacial, apresentando em si, uma capacidade estrutural e organizativa. Tendo passado por um período sem aparentes avanços, reaparece durante o Renascimento8, tornando-se mais consistente pelos estudos desenvolvidos por Euclides9 sobre a visão humana ou “perspectiva natural”. Porém, a representação em perspectiva, tal como a conhecemos actualmente, precisou de um longo período de pesquisa, culminando no Renascimento. Considerado o primeiro arquitecto por responder à concepção moderna desta actividade, Brunelleschi10, em 1420, formula aquela que viria a ser a ideia actual de prespectiva: “[…] el cuadro como ventana de contemplación de la realidade y la consideración de los rayos visuales como generadores de la representación.”11 (Gallego, 1997, p. 23). O controlo geométrico do espaço perceptual tornou-se possível com a perspectiva, e geradora do conceito espacial que caracteriza a arquitectura renascentista. É também relevante referir a importância e a contribuição da representação diédrica para os avanços das complexas concepções arquitectónicas da época. Neste contexto surge a proposta de Rafael 12 em 1519 de inter-relacionar planta, corte e alçado a fim de explicar os monumentos da antiguidade romana. Ilustração 3 - Palácio dos Ofícios, 1560-65, Giorgio Vasari. (Ching, 2005, p. 22) 8 Renascimento Corresponde ao período da história entre o séc XIII e meados do século XVII. Este período marca a passagem da idade média para a idade moderna. É apontado como uma época de transformações na cultura, na sociedade, na economia, na politica e na religião, com grande influência na ciência, filosofia e arte. 9 Euclides (360 a. C – 295 a. C). Professor, matemático e escritor, considerado o “pai da geometria”. 10 Filippo Brunelleschi (1377 – 1446). Arquitecto e escultor italiano. Foi o grande impulsionador do Renascimento. Tornou-se celebre por disseminar o método geométrico da prespectiva linear e por demonstrar um enorme interesse pelo estudo da matemática. A sua obra mais significativa é a abóbada da catedral de Santa Maria di Fiore em Florença, executando a sua teoria sobre a tridimensionalidade. Projectou também o Hospital dos inocentes, caracterizado pela sua proporção, pela repetição de colunas e ainda pela planta em cruz latina. Esta obra foi considerada como a primeira manifestação de uma nova arquitectura, adoptando uma organização racional e clara. 11 O quadro como janela de contemplação da realidade e a consideração dos raios visuais como geradores da representação. (Tradução nossa). 12 Rafael (1483 – 1520). Mestre da pintura e arquitectura da escola de Florença durante o Renascimento italiano. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 24 O limite construído: o muro Também as bases da geometria analítica surgem na primeira metade do século XVII, desenvolvidas por Descartes13 e Fermat14 são continuadas até ao final do século XVIII, por Newton15, que partindo de métodos gerais contribuem para o notável avanço da investigação geométrica (Gallego, 1997, p. 23). Desta maneira, são notórios os vários componentes do processo projectual. Iniciados no primeiro traço, que dá origem a uma sucessão de desenhos e esquemas, passando pelo estudo de modelos tridimensionais, onde é visível a composição e organização de planos, o estudo da planta, de secções e representações perspéticas, potenciando toda a expressão formal do edifício, evidenciando os objectivos primordiais da geometria (representação e dedução dessa representação). Estes, correspondem aos atributos da comunicação e reflexão própria de toda a linguagem, segundo valores que capacitam o desenho como metodologia experimental do processo arquitectónico. Esta representação ou estrutura esquemática de formulação geométrica é normalmente associada à configuração dos objectos, que comummente são introduzidos no espaço arquitectónico associados à forma paralelepipédica, embora podendo porém adoptar um vasto leque de possibilidades. O projecto nasce do puzzle dinâmico de adequações e desejos, entre formas e forças de distintas linhagens: tensões de formas, funções, materiais, tecnologias, limites e constrições, contextos e enquadramentos…que se refletem nas opções de valorização e avaliação (estética, funcional, técnico-construtivo, psicológica…) de divórcios e compatibilizações que se vão encontrando ao longo do próprio processo de projecto, até à fixação de uma solução que crê reunir de forma integrada as condições objectivadas e descobertas. (Pinto, 2007, p. 150) O processo projectual, clarifica e antecipa a realidade, através de um método continuo e de alterações constantes. Articulando metodologias, regras, tecnologias, formas e contextos, sob vários modos distintos de representação, com o objectivo de organizar 13 René Descartes (1596 - 1650). Considerado um dos fundadores da filosofia moderna. Foi o fundador do racionalismo moderno, e a partir do seu fascínio pela matemática e geometria, considerou que o único conhecimento válido é o que se encontra inato na alma, renegando assim o conhecimento sensível. A sua obra mostra que o conhecimento necessita, para ser válido, de um fundamento metafísico (metafísica: aquilo que está para além da física). Este filósofo partiu da dúvida metódica de que “se duvido de tudo o que me vem pelos sentidos, e se duvido até mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de que tenho consciência de duvidar, portanto, de que existo enquanto tenho essa consciência” (Antunes, Estangueiro; Vidigal, 2000, p. 35), assim o cogito representa a descoberta do espirito por si mesmo, como sujeito. A metafísica é fundadora de todo o saber verdadeiro, e o conhecimento racional tem por objecto o universal e o necessário e consequentemente é capaz de compreender a natureza verdadeira e imutável das coisas. Afirmava também que para o homem obter a felicidade perfeita teria que fazer triunfar a razão sobre os instintos, o sensível e as paixões. 14 Fermat (1601 – 1665). Matemático e cientista francês. Inventou a geometria analítica em 1629. Descreveu as suas ideias num trabalho que nunca chegou a ser publicado, intitulado Introdução aos lugares geométricos planos e sólidos. Nele, introduziu a ideia de eixos perpendiculares e descobriu as equações gerais da recta, circunferência, desenvolvendo ainda uma simplificação para a equação da parábola, elipse e hipérbole. 15 Newton (1643 – 1727). Cientista Inglês. A sua obra, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, publicada em 1687, é considerada como uma das mais influentes para a história da ciência. Nela descreve os princípios da lei da gravitação universal e as três leis de Newton. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 25 O limite construído: o muro e estruturar as ideias. Ideia essa que, segundo Aparicio16, “[…] es la base necesaria e indispensable para la creación de toda la arquitectura.”17 (2006, p. 16). Inicialmente, ainda com a folha de papel em branco, as imagens observadas ou idealizadas vão se acumulando, juntamente com outros dados programáticos, materialidades e técnicas disponíveis. Este processo vai gerando um vasto conjunto de possibilidades, até encontrar um fio condutor, que de acordo com Jorge Cruz Pinto18, retrata “[…] um caminho novo entre a intuição e a racionalização.” (2007, p. 147). O lugar, como objecto de estudo, concede um conjunto de informações necessárias para o avanço do trabalho. Determina os pontos exactos da implantação e enquadramento, chegando à orientação geográfica do projecto. É também estudada, a topografia e topologia das pendentes, linhas de água, linhas de festo, pré-existências, delimitações, “[…] das quais se extraem aspectos que procuram hierarquias de valor em que se sustentam a emergência das ideias projectuais.” (Pinto, 2007, p. 148). O programa, define o objectivo da obra, a função a que se destina. Uma funcionalidade que vai determinar toda a organização, relação dos espaços e circulações. Do mesmo modo que a tecnologia e os materiais a aplicar, actuam na formalização dos espaços e na sua conformação. Pensar. Pensar y construir. Pensar el Qué. Y Cómo construirlo. Pensar sin saber cómo: Pensamientos vanos. Construir sin saber qué: Formas vacías. (Baeza, 2004, p. 41). Ilustração 4 - Esquema de desnível de terreno. (Ching, 2005, p. 110) 16 Jesús Mª. Aparicio Guisado (1960 - ). Arquitecto, formado na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid (ETSAM) em 1984. Professor catedrático na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid. Foi também professor convidado pelas Universidades Massachusets Institute of Technology (MIT), Columbia University, pelo Politécnico de Milão, Architectural Association de Londres, Darmstat Institute of Technology, École d'architecture de Paris, Universitá di Roma La Sapienza, Universitá de Napoli, Harvard University, Illinois Institute of Technology (IIT), Universidade de Palermo de Buenos Aires, Universidade Católica de Rio de Janeiro e ainda pela Royal Institute of British Architects (RIBA). Em 2000 representou Espanha na Bienal de Veneza de Arquitectura. A sua vasta obra tem vindo a ganhar inúmeros prémios e as suas investigações publicadas e conhecidas internacionalmente. Entre os seus livros publicados encontram-se, El Muro e El hogar del Jubilado. 17 É a base necessária e indispensável para a criação de toda a arquitectura. (Tradução nossa) 18 Jorge Cruz Pinto (1960 - ). Arquitecto português. Licenciado em arquitectura em 1984 pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Doutorado pela Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad Politécnica de Madrid em 1998. Professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa a partir de 2009. Coordenador de vários programas académicos. Desenvolveu vários projectos a nível nacional e internacional e inúmeros ensaios sobre arquitectura. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 26 O limite construído: o muro Alberto Campo Baeza19, na sua obra La idea construída20, defende que a ideia está relacionada com o que se quer fazer. Através de uma resposta às questões contextuais da história e da função. “O homem é o centro da questão.” (Baeza, 2004, p. 41). O aspecto inicial da arquitectua é o homem e a sua capacidade de criar e construir as ideias. É necessário saber como se constrói, como se representa através da geometria e do desenho, sendo que, “[…] o ‘como’ físico depende do ‘como’ geométrico.” (Baeza, 2011, p. 36). A geometria é aqui expressada a partir de medidas, dimensões e números. “E as medidas são sempre em relação ao homem.” (Baeza, 2011, p. 36). A construção por outro lado, relaciona-se com o “como fazer”, e com a possibilidade de materializar as ideias. Como tal, serão necessárias ferramentas que permitam que isso se torne possível. A composição, a geometria, a proporção e a escala são algumas dessas ferramentas que o arquitecto tem à sua disposição, para tornar possível a construção. Assim, as relações entre ideia e matéria formam todo o processo projectual. Em que o pensar é relacionado com idealização da construção e o construir corresponde ao erguer da ideia. Pois a arquitectura é de facto a ideia construída. La idea es la síntesis de todos los elementos que componen la arquitectura (contexto, función, construcción, composición). Como si de una operación de alquimia se tratara, es una destilación de múltiples elementos para conseguir un resultado único y unitario: 21 una idea, capaz de ser construida, de materializarse. (Baeza, 2004, p. 47). Ilustração 5 - Paris. (Ching, 2005, p. 260) 19 Alberto Campo Baeza (1946). Arquitecto e professor catedrático na Escola de Arquitectura de Madrid. A sua obra foi amplamente divulgada e publicada nas revistas de arquitectura mais importantes de todo o mundo, assim como apresentada em inúmeras conferências. 20 Obra do arquitecto Alberto Campo Baeza em que reúne alguns dos mais interessantes textos do arquitecto, numa tentativa de transmitir as suas ideias sobre a arquitectura. 21 A ideia é a síntese de todos os elementos que compõem a arquitectura (contexto, função, construção, composição). Como que se trata-se de uma operação de alquimia, uma destilação de múltiplos elementos para conseguir um resultado único e unitário: uma ideia, capaz de ser construída, de se materializar. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 27 O limite construído: o muro De maneira intencional, o arquitecto agrupa os vários elementos que compõem a arquitectura, com o objectivo de evidenciar da melhor maneira possível todas as suas intenções. Este acto consciente, será possível a partir da ideia. Tornando-a a base necessária para a criação de toda a arquitectura. Sendo explicado por Vitrúvio 22 , quando este refere que “[…] o arquitecto já tem definido na sua mente, antes de iniciar a obra, como se construirá esta em termos de beleza, funcionalidade e conveniência.” (Vitrúvio, 2006, p. 241) A antevisão dos diversos factores e componentes, a partir de modos representativos e experienciais, dá origem ao projecto de arquitectura. Ilustração 6 - Esquiço Casa de Chá, Boa Nova, Matozinhos, Siza Vieira. (Portas, 1992, p. 2) Também o arquitecto Alvaro Siza Vieira, na sua obra Imaginar a evidência23 aborda a questão do desenho de maneira muito clara, ao descrever a sua aproximação aos lugares, a razão de ser das formas e o seu pensamento metódico, numa prespectiva mutável que se vai adequando e alterando ao longo de todo o processo. Os seus esboços “[…] inventaram não só uma caligrafia mas um método de aproximação ao projecto.” (Gregotti, 2000, p. 9). A precisão do traçado dos seus desenhos técnicos geométricos, transmitem uma “[…] verdadeira identidade morfológica da escrita de 22 Vitrúvio (séc. I a. C). Arquitecto e engenheiro romano. Autor do Tratado de arquitectura. Viveu durante a época de César e Augusto. Foi soldado e engenheiro militar. Viveu em Roma, onde trabalhou em alguns edifícios imperiais. 23 Um conjunto de textos e desenhos da autoria do arquitecto Álvaro Siza Vieira sobre o modo como opera e imagina a arquitectura, articulando a intencionalidade do olhar, as leituras do lugar e todo o seu contexto. O desenho figura o seu método como processo de pesquisa, e é através do desenho que conseguimos ter percepção da conjugação da sensibilidade e da lógica com que actua, tirando partido da geometria e de complexos sistemas de relações. Sendo esse conjunto de relações um princípio comum a toda a sua obra. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 28 O limite construído: o muro uma geração inteira.” (Gregotti, 2000, p. 9). Para Siza, o desenho não é uma linguagem autónoma, mas um acto meticuloso relacionado com o entendimento das hierarquias internas do lugar. Esta atitude é bem visível no primeiro projecto que realizou na marginal de Leça da Palmeira24, o restaurante da Boa Nova25. Entre os vários elementos que caracterizavam aquele lugar, existia um muro de pedra rebocada que separava claramente o nível da marginal e o da praia. Era necessário encontrar uma solução para a entrada do edifício, mantendo intacto o muro e os restantes elementos que compunham aquela paisagem. A opção surgiu a partir do desenho de um percurso em ziguezague, causando por um lado, a sensação de profundidade e por outro a definição da entrada no recinto. (Siza, 2000, p. 31). Todo o processo aplicado no estudo das várias possibilidades, fez com que a necessidade de coordenar as ideias e intenções com o lugar e as suas pré-existências, se trona-se cada vez mais evidente. Afirmando que “[…] a arquitectura não termina em ponto algum, vai do objecto ao espaço e, por consequência, à relação entre os espaços, até as encontrar com a natureza.” (Siza, 2000, p. 31). Trata-se por fim de procurar por meio de escrita do desenho uma série de ressonâncias que progressivamente funcionem como partes de um todo, que mantenham a identidade das razões, da sua origem contextual, mas que ao mesmo tempo se organizem em sequências, percursos, paragens calculadas, que se alinhem através de diferenças discretas na direcção de um processo de diversidade necessária, não ostentada, de escrita dos espaços e das formas de projecto. (Gregotti, 2000, p. 9). Ilustração 7 - Planta Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 150) 24 25 Freguesia do concelho de Matozinhos, Portugal. Obra do arquitecto Alvaro Siza Vieira (1958-1963). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 29 O limite construído: o muro Uma procura que partindo de uma ideia inicial e explorada através dos diversos modos representativos, agrupa os vários componentes elementares da arquitectura por via da construção dos limites físicos. Ilustração 8 - Prespectiva Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 156) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 30 O limite construído: o muro 2.2. MATÉRIA E MATERIAL A terra é o sustento de todo o gesto de dedicação. A terra dá frutos ao florescer. A terra concentra-se vasta nas pedras e nas águas, irrompe concentrada na flora e na fauna. O céu é o percurso em abóbada do sol, o curso em transformação da lua, o brilho peregrino das estrelas, as estações dos anos e suas viradas, luz e crepúsculo do dia, escuridão e claridade da noite, a suavidade e o rigor dos climas, rasgo de nuvens e profundidade azul do éter. (Heidegger, 2002, p. 129). Ao incidirmos a análise na disponibilização dos materiais, percebemos as grandes alterações que esta evolução permitiu no sector da construção. Verificando este facto ao longo da história, entendemos que em épocas remotas, o tratamento dos materiais era quase impossível. Seria a própria natureza, o único fornecedor de matéria-prima. Segundo Alvar Aalto26, era a natureza que determinava o campo das possibilidades do domínio da construção, pelo que seria necessário encontrar esses materiais prontos a serem utilizados. Neste sentido, a arte de construir consistia na correcta combinação dos materiais encontrados na natureza, de maneira eficaz. Aalto, assinala este feito como uma das primeiras “[…] modestas vitórias de inteligência humana sobre a natureza.” (Aalto, 2010, p. 281). Um factor determinante para o entendimento do processo arquitectónico e modos de operar. Revelando não só a importância do conhecimento prévio do lugar, como a sua compreensão geográfica e territorial. Ilustração 9 - Machu Picchu, antiga cidade Inca, c. 1500. (Ching, 2005, p. 20) 26 Alvar Aalto (1898 – 1976). Arquitecto finlandês. Foi dos primeiros e mais influentes arquitectos do movimento moderno, tendo sido membro dos CIAM. É autor de uma vasta obra construída. Em 1940 torna-se professor de arquitectura no Massachusetts Institute of tecnology (MIT). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 31 O limite construído: o muro Continuando a observar a evolução do processo construtivo ao longo das épocas, percebemos a incessante procura de novas soluções e a adequação dessas soluções às necessidades do homem. O desenvolvimento da tecnologia permitiu a descoberta de novos mecanismos para a transformação dos materiais, aumentando as possibilidades de combinação dos mesmos, promovendo assim uma “[…] maior liberdade de movimento no desenho do conjunto.” (Aalto, 2010, p. 283). A ideia gerada a partir de uma realidade material origina um resultado mais consequente. Revelando a importância da adequação da escolha dos materiais ao seu uso. […] todas as coisas parecem formar uma totalidade e ser originadas a partir destes elementos concordantes, coisas essas divididas pela natureza numa imensidade de géneros, julguei ser oportuno tratar acerca das variedades e diferenças do seu uso e das qualidades que cada uma delas poderá ter nos edifícios, de modo que, sendo conhecidas, os que projectam construir não caiam em erro, mas preparem para as construções os materiais convenientes a utilizar. (Vitrúvio, 2006, p. 75). “A arquitectura delimita, modela e conforma o espaço, adequando-o objectivamente aos propósitos a que se destina, em concordância com a plástica específica de cada materialidade.” (Pinto, 2007, p. 22). En la arquitectura el material se transforma en materia cuando su utilización nace de la idea. Dicho de otra manera: la materia es un material con idea arquitectónica. […]. La materia es el canto del material en el espacio. Ese canto surge de la emoción, que tiene los polos en la idea del espacio y la idea de la materia. La arquitectura es capaz 27 de sintetizar en una idea materia y espacio. (Aparicio, 2006, p. 194-195). Conhecer as propriedades dos materiais, as suas características, funcionalidades e proveniências, intensifica a relação entre o arquitecto e a arquitectura, enfatiza a clareza do traço, tornando a escolha num acto consequente e harmonioso. Um princípio que associa a sensibilidade e a experimentação, o método e a intenção. Porque, o material construído, conforma o espaço, a partir dos seus limites físicos visíveis, e a construção desses limites surgem como consequência de uma escolha e do seguimento de uma ideia inicial, permitindo ao observador apreender e experimentar espontaneamente os espaços contidos por esses limites. Sendo que a percepção do espaço é “[…] definida e captada pelas dimensões e proporções relativas dos seus limites físicos construídos ou percepcionados.” (Pinto,2007, p. 27). 27 Em arquitectura o material transforma-se em matéria quando a sua utilização nasce da ideia. Dito de outra maneira: a matéria é um material com ideia arquitectónica […]. A matéria é o louvor do material no espaço. Esse louvor surge da emoção, que tem como pólos a ideia do espaço e a ideia da matéria. A arquitectura é capaz de sintetizar numa ideia matéria e espaço. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 32 O limite construído: o muro “O limite é pois, algo que é perceptível aos sentidos: visível, tangível, audível…; algo que faz sentir a sua presença física, ou que simplesmente se enuncia subtilmente ou se intui inconscientemente, […]. (Pinto, 2007, p. 30). A escolha dos materiais para a construção desse limite deverá atender a um propósito específico, pois cada material apresenta qualidades e características distintas que influenciarão a vivência e uso dos espaços contidos. Um plano de vidro, por exemplo, representa uma barreira impenetrável, embora possa ser trespassado visualmente. Este factor produz um efeito de continuidade entre os espaços, apesar de estar fisicamente limitado. Ilustração 10 - Corte Casa Farnsworth, Ilinois, Mies Van der Rohe. (Ching, 2005, p. 106) A escolha do material parte da ideia e da ideia nasce a arquitectura. A experiência espacial é intensificada pelas barreiras físicas que o limitam, e quando a ideia construída é evidenciada, o habitar provoca emoção. Assim, “Cuando la idea y la materia entran en sintonía en un muro, en sus ausencias o en sus relaciones, comienza la emoción del hombre que habita ese espacio.” 28 (Aparicio, 2006, p. 205). A relação existente entre a dimensão técnica e as propriedades mecânicas dos materiais, levou Gottfried Semper29 a desenvolver a sua teoria racionalista da criação arquitectónica, na qual define quatro princípios materiais, têxteis, cerâmicos, tectónicos e estereotómicos, correspondentes ao grau de elasticidade da matéria, (flexível, plástico, elástico e sólido). Esta interpretação explica dois aspectos, o exterior dos materiais, e a sua constituição interna. O tectónico, relacionado com o “[…] 28 Quando a ideia e a material entram em sintonia num muro, nas suas ausências e nas suas relações, começa a emoção do homem que habita esse espaço. (Tradução nossa). 29 Gottfried Semper (1803 - 1879). Arquitecto e teórico alemão. Foi director da escola de arquitectura na Academia de Belas Artes em Dresde. Desenvolveu estudos sobre a concepção da arte e a sua evolução histórica. Projectou inúmeras obras em Viena na segunda metade do século XIX, como Burgplatz exterior com a intenção de unir o palácio Hafburg com os Museus de História Natural e de História da Arte. Foi cofundador do South Kensington Museum, projeto que pretendia unificar arte e indústria. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 33 O limite construído: o muro princípio estrutural pilar-viga originário da construção em madeira e continuada na construção de pedra, aço e betão.” (Pinto, 2007, p. 113). E o estereotómico, relacionado com o “[…] sistema de arco-abóbada-muro da construção de alvenaria de pedra, tijolo, taipa e betão.” (Pinto, 2007, p. 113). Torna-se assim, importante clarificar estes dois conceitos, ou “categorias” apelidadas por Semper, de maneira a perceber a “[…] parte do edifício que pertence à terra (estereotómico) e a parte que se desliga dela (tectónico).” (Baeza, 2011, p. 26). Ilustração 11 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012) Ilustração 12 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012) “La palabra Estereotomía significa el arte o técnica de cortar sólidos. Lo estereotómico está conectado con la piedra, con la tierra.” 30 (Aparicio, 2006, p. 171). O que confere ao edifício, um efeito de continuidade material, relacionando-o directamente com a pedra e as características que a compõe. “[…] lo tectónico está conectado con la ropa, con el cubrirse, y, por tanto, también con el esqueleto, la estructura.” 31 (Aparicio, 2006, p. 171). Aqui, o edifício surge como “discontinuum” de matéria no espaço, adoptanto a sobreposição e união das várias partes que o compõe, estando directamente relacionado com a ideia de morar. As características inatas dos materiais, aliadas à técnica de transformação em materiais construtivos, e ainda, a acção tectónica das estruturas e a conformação do espaço, são importantes na medida em que contribuem para toda a formação arquitectónica. A passagem da base estereotómica à estrutura tectónica, constitui algo 30 A palavra Estereotómico significa a arte ou técnica de cortar sólidos. O estereotómico está relacionado com a pedra, com a terra. (Tradução nossa). 31 O tectónico está relacionado com a roupa, com o cobrir, e, por isso, também com o esqueleto, a estrutura. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 34 O limite construído: o muro fundamental para a arquitectura. São estes conceitos que irão marcar os vários períodos da cultura do construir, que, apesar de abstractos, pertencem à própria ideia base, imprescindível para a criação de toda a arquitectura, podendo ser também relacionados com as várias maneiras de a ver e de a compreender. Entende-se por arquitectura estereotómica aquela em que a força da gravidade se transmite de forma contínua, num sistema estrutural contínuo e onde a continuidade construtiva é completa. É a arquitectura maciça, pétrea, pesada. A que assenta na terra como se dela nascesse. É a arquitectura que busca a luz, que perfura as suas paredes para que a luz entre no seu interior. É a arquitectura do pódio, do envasamento, da estilóbata. É, em suma, a arquitectura da caverna. (Baeza, 2011, p. 28). Ilustração 13 - Acrópole, Atenas, Grécia. (Ching, 2005, p. 236) O conceito estereotómico está relacionado com a matéria, acentuando a presença da própria matéria. O objecto arquitectónico criado a partir deste conceito, surge como um todo contínuo, em que a estrutura é ocultada e mantida no interior dos muros que conformam o espaço arquitectónico, evidenciando a ideia sustentada pelo uso do determinado material. O estereotómico apresenta um caracter pétreo, através dos materiais, que manifestam em si um caracter construtivo sólido, pesado, espesso, ligado á terra. Um dos exemplos deste conceito aplicado à arquitectura é o pódio do Templo Grego. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 35 O limite construído: o muro Ilustração 14 - Pódio, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236) Entende-se por arquitectura tectónica aquela em que a força da gravidade se transmite de uma forma sincopada, num sistema estrutural com juntas, e nós, e onde a construção é articulada. É a arquitectura óssea, lenhosa, leve. A que poisa na terra como em bicos de pés. É a arquitectua que se defende da luz, que tem que ir tapando os seus orifícios para poder controlar a luz que a inunda. É a arquitectura da casca. A do ábaco. É, em suma, a arquitectura da cabana. (Baeza, 2011, p. 28-29). O conceito tectónico está ligado à leveza, à estrutura ligeira, ao que é exterior à sua construção. Nasce da natureza que a rodeia. Está relacionado com a ausência da matéria, possibilitando que a própria natureza se una com o objecto arquitectónico. O edifício criado a partir deste conceito, com espaços abertos à paisagem, em que a estrutura faz parte do próprio espaço, e a sua conformação evidencia e expõe a estrutura aplicada. Este factor, faz com que se destaque a ideia de sobreposição, adição e união das peças que compõe o objecto, a ideia de descontínuo. Um dos exemplos deste conceito aplicado á arquitectura é o peristilo do Templo Grego. Ilustração 15 - Colunata, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236) O espaço da arquitectura estereotómica contempla a tranquilidade através da projecção de espaços conformados a partir de muros contínuos. O espaço da arquitectura tectónica por sua vez, entende-se em movimento, percorrendo o espaço conformado a partir de elementos descontínuos e abertos à paisagem. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 36 O limite construído: o muro A arquitectura agrupa materiais, ideias e maneiras de conjugar essas ideias relacionando a teoria e a técnica. Em que a teoria é vinculada à ideia e ao pensamento, apresentando um caracter universal. Ideias e pensamentos como características comuns ao ser humano de todas as épocas. A técnica varia no espaço e no tempo, nos materiais usados e na própria construção. Adequando-se ao lugar e ao contexto onde o objecto arquitectónico é inserido. A técnica está relacionada com a estrutura empregue. Assumindo uma dupla função, tanto de transmissão de cargas, como ordenadora do espaço arquitectónico. “A estrutura é a resposta material à gravidade que […] constrói o espaço”, assim como a “[…] luz constrói o tempo.” (Baeza, 2011, p. 29). A gravidade e a luz, juntamente com a ideia geradora do projecto, são, segundo Baeza, os temas centrais da arquitectura. A arquitectura parte da materialização de uma determinada ideia, em que o espaço é construído pela gravidade, e a luz é o elemento que permite a percepção do tempo, “[…] em suma um mecanismo capaz de concretizar os temas da Luz e da Gravidade, pode ser extremamente útil aos arquitectos tanto para desenvolver as suas ideias como para pôr de pé as obras que as materializam.” (Baeza, 2011, p. 31). Ao longo da história da arquitectura, os elementos estruturais determinaram a maneira construtiva dos edifícios. Na arquitectura do passado, os edifícios são construídos com paredes portantes, directamente ligadas à sua função de suporte, que por sua vez eram indissociáveis da forma que o edifício pudesse adoptar. Assim, o material usado para suportar o edifício, servia igualmente para o compor. O muro revela, a partir das suas características anteriormente mencionadas, ser um excelente exemplo para ilustrar este facto. Pela sua dupla funcionalidade, tanto de estrutura como de elemento compositivo do edifício. Apesar do avanço tecnológico e a consequente alteração do processo estrutural, observada ao longo da arquitectura moderna, é importante manter a estrutura como a “[…] raiz do espaço.” (Baeza, 2011, p. 48). Porque, mais do que ligado à transmissão das cargas, exercendo a sua capacidade de suporte, a estrutura deve também ser lida como elemento necessário para estabelecer a ordem do espaço. Esta ordem deve ser entendida como a génese de qualquer projecto. A matéria e a estrutura, juntamente com a proporção e a luz, delimitam o espaço arquitectónico, podendo ser mais ou menos evidente, a maneira como o delimitam. Esta evidência é dada essencialmente pela expressão física e visível dos materiais usados. Atribuindo ao muro ou à parede essa mesma qualidade referida. A maneira de limitar o espaço varia de acordo com o seu contexto e com os valores éticos e Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 37 O limite construído: o muro culturais de cada época, assim como a introdução de novas técnicas construtivas ou a descoberta de novos materiais. O século XV é apontado como uma época de originalidades inseridas num período de grande evolução e continuidade histórica. Um período de grande reflexão humanística, notado principalmente a partir da formulação espacial focada nos contrastes dimensionais góticos. A grande novidade é a introdução da reflexão matemática aplicada e desenvolvida no românico e no gótico, em que o principal objectivo seria o alcance da ordem e da lei na projecção e organização do espaço arquitectónico. Esta nova e inovadora abordagem alterou definitivamente a relação entre o homem e o espaço. O espaço é rapidamente perceptível e a lei espacial espontaneamente compreendida. Até aqui, o espaço do edifício determinava o tempo necessário para o percorrer. O arquitecto, ao projectar um determinado espaço, limitava o olhar do observador, segundo directrizes por ele definidas. Restringia as possibilidades e a própria liberdade do homem quando o percorria. “Com Brunelleschi, pela primeira vez, já não é o edifício que possui o homem, mas este que, apreendendo a lei simples do espaço, possui o segredo do edifício.” (Zevi, 2011, p. 97). No século XV lançam-se “[…] as bases do pensamento moderno na construção, segundo o qual é o homem que dita leis ao edifício, e não o contrário.” (Zevi, 2011, p. 98). Tal como acontece no espaço interior, também o seu involucro mural sofre grandes alterações.“Todos os factores decorativos […] são abolidos.” (Zevi, 2011, p. 100). Em que os temas abordados eram visíveis nas superfícies geradas pelas obras de Alberti32. O século XV “[…] foi o berço da mais ousada experiência moderna.”(Zevi, 2011, p. 100). É possível observar uma integração do pensamento e da arte, da nova ciência e da arte poética. A partir das novas exigências intelectuais do século XV, os arquitectos foram “obrigados” a rever “[…] todos os esquemas distributivos tradicionais.” (Zevi, 2011, p. 98). A melhor maneira para atingir esta unidade espacial seria a partir do esquema da planta central, negando assim, o eixo longitudinal. O século XV foi extremamente importante para a evolução da composição espacial interior, visível na obra de Brunelleschi, e a composição da superfície exterior, visível na obra de Alberti. 32 Alberti (1404 – 1472). Arquitecto e teórico italiano. Interessou-se pela ciência e pela arte, e ainda pela obra de Vitrúvio. Escreveu o célebre tratado De re aedificatoria, tendo como referência toda a arte desenvolvida na antiguidade clássica. O seu trabalho baseia-se na harmonia das proporções, concebendo o edifício como um todo. Desenvolveu um excelente trabalho na concepção de plantas e modelos. Em 1452, completa a seu principal trabalho teórico De re aedificatoria libri decem (Dez livros livros sobre arquitectura, considerando o primeiro grande tratado da arquitectura moderna. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 38 O limite construído: o muro Por outro lado, no século XVI, apesar de se continuar a desenvolver as ideias iniciadas no século anterior, volta-se novamente “[…] à antiga antítese entre espaço interior e exterior, com a solidez pesada e corpórea das suas paredes e com a maciça plástica dos seus componentes decorativos.” (Zevi, 2011, p. 102). Atribuindo um novo sentido à articulação planimétrica, espacial, volumétrica e decorativa. Esta nova articulação é notada na entrada da Biblioteca Laurenziana de Florença (1524-1526), quando Michelangelo33 separa a gigante colunata da parede, alterando definitivamente a ideia do volume, “[…] a agitação interior do invólucro mural do século XVI.” (Zevi, 2011, p. 113). O ambiente é dominado pela escadaria que rompe a parede. O símbolo plástico associado a este acto, à fragmentação do volume, revolucionou a ideia da parede como elemento físico que encerrava o espaço arquitectónico, permitindo uma maior “[…] libertação espacial.” (Zevi, 2011, p. 114). Esta libertação das regras, convenções, geometria elementar e da qualidade estática do espaço, representa a libertação da simetria e da antítese entre espaço interior e exterior, apontado por Zevi, como indispensável para o entendimento do espaço barroco. (2011, p. 114). Na arquitectura barroca, o espaço é caracterizado pela materialização de uma “[…] atitude criativa e liberta de preconceitos intelectuais e formais.” (Zevi, 2011, p. 114). O que no movimento moderno se traduziu numa grande influência para o Organicismo. O século XIX por sua vez não primou pela inovação, mas por um período de revivalismo. O neoclássico e o ecletismo do século XIX, associados ao romantismo literário e à ciência arqueológica, são a base de uma época de carência inventiva. Assinala-se na arquitectura deste século a redução das dimensões e da escala monumental anteriormente aplicada e a adopção das técnicas construtivas e elementos decorativos do passado. (Zevi, 2011, p. 119). O Neoclassicismo surge a partir de duas evoluções distintas e fortemente relacionadas, alterando profundamente a relação entre o homem e a natureza. A primeira, aliada ao “[…] aumento da capacidade humana de exercer controle sobre a natureza.” (Frampton, 2008, p. 3). Relacionada com as mudanças tecnológicas. A segunda, relacionada com as grandes transformações sociais, originando uma nova 33 Michelangelo (1475 – 1564). O seu percurso artístico desenvolveu-se por mais de setenta anos, entre Florença e Roma. A sua obra desenvolveu-se na transição do Renascimento para o Maneirismo, e o seu estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade clássica, do Renascimento, dos ideais do Humanismo e do Neoplatonismo. Foca-se na representação da figura humana. Entre as suas obras, destaca-se, em escultura, o Baco, a Pietà, o David, em pintura, o teto da Capela Sistina e o Juízo Final no mesmo local e em arquitectura destaca-se a Basílica de São Pedro implementando grandes reformas na sua estrutura. Remodelou a praça do Capitólio romano e projectou diversos edifícios. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 39 O limite construído: o muro formação cultural das classes - a mudança da consciência humana. As mudanças tecnológicas, fundamentadas pela ciência, contribuíram para a produção de novas infraestruturas e respectiva capacidade produtiva. As mudanças da consciência humana, por sua vez, levaram ao aparecimento de novas categorias de conhecimento ligadas às disciplinas humanistas do Iluminismo. (Frampton, 2008, p. 3). O conjunto destes dois factores impulsionou várias questões confrontadas com as novas capacidades do homem, gerando uma época em que a sociedade se tornava cada vez mais complexa e interventiva. Surge a chamada geração “visionária” de arquitectos, que incluía Étienne-Louis Boullé 34 , Jacques Gondoin 35 , Pierre Patte 36 , Marie-Joseph Peyre37, Jean-Baptiste Rondelet38 e Claude-Nicolas Ledoux39. Blondel40, apontado como o mestre desta “geração”, apresenta conceitos fundamentais relacionados com a composição, tipo e carácter dos espaços. Defende a simplicidade aliada à grandeza, o que mais tarde viria a impulsionar a obra de muitos dos seus discípulos, nomeadamente a de Boullée. A extravagância aliada ao poder vivido na época, requeria a existência de estruturas úteis de grandeza e autoridade. Nas escolas de arquitectura, procuram-se as metodologias universais para a edificação a fim de controlar os custos que esta poderia contrair. Em meados do século XIX, a herança neoclássica divide-se em duas frentes de desenvolvimento. O classicismo Estrutural de Labrouste 41 e o classicismo Romântico de Schinkel 42 . Ambas responderam à necessidade de criar novos tipos de edifícios. O classicismo 34 Bollée (1728 – 1799). Arquitecto francês do Neoclassicismo de influência romântica. Nos seus projectos de memoriais defendeu uma arquitectura dos sentimentos, tendo exercido uma grande influência sobre os seus contemporâneos. 35 Jacques Gondoin (1737 – 1818). Arquitecto francês. Frequentou a Ecole des Arts. Passou alguns anos em Roma com uma bolsa concedida poe Louis XV. Em 1769, é contratado para projectar a Ecole de Cirugie, em que se afasta de todas as regras académicas, assumindo uma enorme simplicidade. 36 Pierre Patte (1723 – 1814). Arquitecto francês. Foi assistente do mestre da arquitectura francesa, Jacques François Bondel. Foi o primeiro arquitecto a ilustrar o plano da rua, juntando edifícios e sistema de esgotos através de um corte. Desenvolveu uma teoria centrada na estrutura geral da cidade enquanto organismo urbano, onde demonstra as relações existentes entre todos os elementos que compõem uma cidade. As suas ideias foram utilizadas mais tarde por Haussmann, no plano da cidade de Paris. 37 Marie-Joseph Peyre (1730 – 1785). Arquitecto francês. Aluno de Blondel. A sua obra mais importante foi o Teatro Odén em Paris. Iniciou em Fraça, o estilo palladiano com a sua obra Villa para Madame Leprêtre de Neubourg. 38 Jean-Baptiste Rondelet (1743 – 1829). Arquitecto e teórico francês. Foi o arquitecto responsável pela continuação da obra da Igreja Sainte Geneviève, após a morte de Jacques Germain Soufflot em 1789. Entre 1805 e 1816 publica o seu tratado sobre arquitectura. 39 Claude-Nicolas Ledoux (1735 – 1806). Principal representante da arquitectura utópica. As formas base da sua arquitectura são volumes geométricos que não se fundem uns com os outros mas se interpenetram de modo expressivo como blocos rígidos. 40 Blondel (1705 – 1774). Arquitecto, professor e teorico francês. As suas teorias e ensinamentos contribuíram fortemente para a teoria da arquitectura. A sua escola de arte em Paris foi a primeira instituição a ensinar arquitectura. Entre 1771 e 1777, escreve a secção de arquitectura para a Encyclopédie, estabelecendo o inicio da filosofia racional do Iluminismo. 41 Labrouste (1801 – 1875). Arquitecto e engenheiro francês. É considerado por muitos como um dos fundadores da arquitectura moderna, e o principal representante francês da corrente racionalista. Entre as suas obras mais notórias está a Biblioteca de St. Geneviève em Paris. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 40 O limite construído: o muro Estrutural tendia mais para o enfase dado à estrutura, enquanto o classicismo Romântico, se baseava na tentativa de ressaltar o caracter fisionómico da própria forma. (Frampton, 2008, p. 7). Com a introdução da tecnologia do ferro e do vidro, as possibilidades estruturais aumentam. No Palácio de Cristal43 de Paxton44, apesar da tipologia e da forma da abóbada se manterem, tal como acontecia em épocas passadas, o limite da parede desmaterializa-se. A idade moderna introduz um novo conceito na formulação do espaço, fundamentando-se na “planta livre”, o que pode ser explicado a partir das alterações das exigências sociais da época. Neste sentido, o tema central da arquitectura já não é o monumental, passando para o problema da casa da família média. As novas técnicas construtivas em aço e betão armado permitem concentrar os elementos de resistência estática num fino esqueleto estrutural. Neste âmbito, a ideia da parede portante que conformava o edifício altera-se, atribuindo uma certa liberdade espacial, e assim “[…] materializar as condições de execução para a teoria da ‘planta livre’.” (Zevi, 2011, p. 121). Zevi refere que a “[…] arquitectura moderna reproduz o sonho gótico no espaço.” (2011, p. 121). Na medida em que aplica acertadamente a nova técnica à produção arquitectónica. Através das paredes de vidro, estabelece um contacto absoluto entre o interior e o exterior. A utilização de paredes na divisão do espaço interior, já não corresponde apenas a funções estáticas estruturais. A espessura das paredes pode agora tornar-se mais fina, pode libertar-se da sua forma recta, pode mover-se livremente. Estes factores contribuem para o aumento das possibilidades de criação de espaço, de conjugar os ambientes, de passar do plano estático da casa antiga para o livre e elástico do edifício moderno. “[…] a planta livre 42 Schinkel (1781 – 1841). Arquitecto, pintor e urbanista alemão. Estudou na Academia de Arquitetura de Berlim e trabalhou com o arquiteto Friedrich Gilly (1798-1800). Entre 1802 e 1805 viaja por Itália e estuda arquitetura neste país. De regresso ao seu país instala-se como pintor e designer de mobiliário, mas em 1810 é contratado pelo estado e em 1815 nomeado supervisor geral das construções alemãs. A partir daqui desenvolve diversos projetos encomendados pelo Rei Frederico Guilherme III em estilo neoclássico baseado em modelos gregos. Desta época resultam os seus mais apreciados edifícios, o Altes Museum (Museu Antigo) (1823-30), o Corpo da Guarda (1816-18) e o Schauspielhaus (Teatro Real) (1821) todos na cidade de Berlim. Schinkel interessou-se pela arquitetura da Grécia clássica em parte pela sua simbologia, mas também porque servia os seus propósitos de conceção racional dos edifícios. A sua obra influenciou numerosos arquitetos, tendo sido o principal difusor deste estilo no Norte da Europa. 43 Palácio de Cristal – (1851). Pavilhão da grande exposição em Londres. 44 Sir Joseph Paxton (1801 – 1865). Arquitecto e paisagista inglês. Construiu a primeira estufa em 1828. Em 1831, desenvolveu numa outra estrutura similar apresentando uma solução estrutural original, permitindo uma maior resistência mecânica da estrutura empregue e dos próprios materiais utilizados (madeira e vidro). Os seus edifícios apresentam-se paradigmáticos da emergente arquitetura do ferro, marcados pela inovação estrutural ditada pela utilização das possibilidades técnicas dos novos materiais industriais que induziriam soluções tipológicas e espaciais inusitadas e de carácter vincadamente funcionalista. Foi também um dos mais importantes paisagistas do seu tempo. De entre as suas intervenções de carácter paisagístico destacam-se os jardins envolventes do Palácio de Cristal, o conjunto de Chatsworth e o parque de Birkenhead. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 41 O limite construído: o muro oferece possibilidades ilimitadas de divisões elásticas e subdivisões internas, dentro de uma malha estrutural ou em linha recta.” (Zevi, 2011, p. 123). Desta maneira, o espaço moderno recupera o “[…] desejo gótico da continuidade espacial.” (Zevi, 2011, p. 123). E a procura do dinamismo dos componentes arquitectónicos como consequência de uma reflexão social, volta a introduzir as paredes ondulantes e o movimento volumétrico barroco, através da funcionalidade dos elementos, em que a massa e espessura das paredes barrocas, é substituída por divisórias mais leves, finas e suspensas, construídas em vidro ou num outro material isolante. A métrica espacial da Renascença é recuperada, assim como o gosto pelas divisões modulares adequados aos programas arquitectónicos actuais. Opta-se pela simplicidade e pela essência dos elementos figurativos. A arquitectura é criação de espaço. A sua base é a percepção do espaço. A percepção do espaço, objectivando através do material, torna-se possível, os elementos materiais configuram-se segundo uma ideia. A formação dos elementos materiais segundo uma ideia, significa, ao mesmo tempo, a formação dos elementos ideais segundo as leis da matéria. Através da união dos dois momentos numa única forma surge a arquitectura. 45 (Hilberseimer , 2010, p. 160). A ideia procura a técnica do seu tempo de maneira a tornar possível a execução da obra. A ideia, não estando presa a uma época, aliada à técnica usada num tempo determinado, provoca emoção. Porque a ideia construída, torna real o imaginado, torna material e eterna toda a arquitectura. Ilustração 16 - Panteon, Roma, 120-124 d.C. (Ching, 2005, p. 93) 45 Ludwig Hilberseimer (1885 – 1967). Arquitecto e urbanista alemão. Publicou vários artigos, enquanto crítico de arte, sobre a arquitectura moderna e urbanismo. Foi professor na escola da Bauhaus entre 1929 e 1933. Em 1938 emigra para Chicago, onde se torna professor de urbanismo e planeamento regional no Instituto de Tecnologia de Ilinois sob a direcção do arquitecto Mies Van der Rohe. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 42 O limite construído: o muro 2.3. COMPOSIÇÃO E CONFORMAÇÃO […] Me unís a este lugar y mis ojos miran. Mis ojos miran cualquier cosa que enuncia un pensamiento. Un pensamiento que se ilumina sin palabras ni sonidos, sino únicamente por los prismas relacionados entre sí. Estos prismas son tales que la luz los detalla claramente. Estas relaciones no tienen nada necesariamente práctico o descriptivo. Son una creación matemática de vuestro espirito. Son el idioma de la arquitectura. Con las materias primas, mediante un programa más o menos utilitario que habéis superado, habéis establecido relaciones que me han conmovido. Esto es 46 arquitectura. (Le Corbusier, 1998, p. 165). Le Corbusier 47 defende que a proporção entre os elementos de uma qualquer composição é essencial para a percepção do belo. Assim, a precisão do contorno, e a disposição dos vários elementos revelam proporções harmoniosas, provocando no nosso íntimo, uma vibração harmónica. O plano horizontal, é o eixo sobe o qual o homem está organizado em perfeita relação com a natureza e com o universo. Este eixo organizacional, deve ser o mesmo sobre o qual se alinham todos os fenómenos e todos os objectos da natureza. O eixo que nos leva a criar uma unidade de gestão do universo, a reconhecer a origem das coisas. Ilustração 17 - Modulor, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 303) 46 Unido-me a este lugar, os meus olhos veem. Os meus olhos veem qualquer coisa que enuncie um pensamento. Um pensamento que se ilumina sem palavras ou sons, nem unicamente pelos prismas relacionados entre si. Estes prismas são tais que a luz detalha-os claramente. Estas relações não têm nada necessariamente prático ou descritivo. São uma criação matemática com o vosso espirito. São o idioma da arquitectura. Com as matérias primas, mediante um programa mais ou menos utilitário, haveis superado, haveis estabelecido relações que me comoveram. Isto é arquitectura. (Tradução nossa). 47 Le Corbusier (1887 - 1966). Foi um dos mais importantes arquitectos do Estilo Internacional e do Movimento Moderno. Este arquitecto suíço-francês começou por colaborar no atelier de Auguste Perret, em 1908, trabalhando de seguida com Peter Behrens, em Berlim, em 1910, e depois de várias viagens, pela Turquia, Grécia e Itália, onde teve contacto com a arquitectura clássica e mediterrânia, e regressando depois a Paris, e em 1922 abre uma firma de arquitectos com o seu primo, Pierre Jeanneret. Implementando as suas teorias da habitação ideal, foi o grande impulsionador de uma nova arquitectura, racional e funcional, e na sua obra teórica fundamental, de 1923, “Vers Une Architecture” (Para uma arquitectura), desenvolveu o embrião do Funcionalismo. Afirma que “a casa é uma máquina de habitar” e que “a arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz”, tendo sido estes dois conceitos colocados em prática nas obras de Habitação de Marselha e na Igreja Notre-Dame-duhaut, respectivamente. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 43 O limite construído: o muro A linha do horizonte, este eixo horizontal, foi sempre um factor fascinante para o homem. Onde se juntam, ou se separam, o céu e a terra. Esta linha é a “[…] imagem visível do plano horizontal da terra.” (Baeza, 2011, p. 16). O plano onde o homem constrói e conforma um determinado espaço. Uma construção onde usa elementos como, a plataforma, o pódio, a estilóbata, a base, o terraço ou a bancada, de maneira a organizar esses espaços. Elementos que poderão assumir um caracter estereotómico ou tectónico. Um exemplo bastante expressivo da operação estereotómica é o pódio do Pavilhão de Barcelona 48 do arquitecto Mies Van der Rohe 49 . O tectónico será mais ligado à plataforma, pela sua aparente leveza. A plataforma da casa Farnsworth de Mies é também um exemplo elucidativo do “[…] plano horizontal flutuante.” (Baeza, 2011, p. 21). Ilustração 18 - Proposta de axonometria do Pavilhão de Barcelona, Bruno Zevi. (Quetgas, 2001, p. 116) O plano horizontal, e a sua organização a partir dos vários elementos, contribuem significativamente para o homem estabelecer um claro domínio sobre a natureza. O domínio, concebido a partir dos limites construídos por questões de protecção. “Os limites do céu e da terra.” (Baeza, 2011, p. 17-18). Intencionalmente manipulado e conformado pelo homem, a partir do desenho, da construção e da percepção do espaço. Jorge Cruz Pinto, afirma que o espaço só é compreendido através dos limites físicos, ou das barreiras materiais que o conformam, defendendo que a arquitectura é a arte de “[…] delimitar e conformar o espaço habitável.” (2007, p. 21). As leis da física seriam a consequência deste eixo, e mesmo sem reconhecermos a ciência e as suas 48 Pavilhão de Barcelona (1929). Pavilhão da industria electrica alemã. A participação alemã na Feira Mundial de Barcelona em 1929 compreendia uma série de exposições de máquinas industriais e produtos nas diversas salas e um pavilhão de acordo com tema original da feira, a electricidade. O pavilhão em si teria que encerrar e refletir uma continuidade orgânica entre o trabalho e a cultura, uma integração da vida no trabalho, e o trabalho, como o tecido ontológico da existência. O pavilhão representaria uma casa - a casa do espírito alemão, a casa moderna. 49 Ludwig Mies van der Rohe (1886 – 1969). Ârquitecto norte-americano de origem alemã. Um dos arquitectos mais importantes do movimento moderno, cuja arquitectura se materializa por via dos novos materiais sob o lema de “less is more” onde a estrutura tem a função preponderante e caracteriza qualquer projecto. Assim, as suas obras mais importantes são: Pavilhão de Barcelona (1929), Casa Farnsworth (1945-51), perto de Chicago; New National Gallery (1968), em Berlim, entre outros. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 44 O limite construído: o muro obras, estas, permitem-nos reconhecer a primeira necessidade. Corbusier sugere também uma possível definição de harmonia, “[…] momento de concordancia con el eje que hay en el hombre, y por ello con las leyes del universo, vuelta al orden general.” 50(1998, p. 170-171). A formação dos objectos ou elementos presentes na natureza são interpretados de maneira clara. O ser humano reconhece na “[…] natureza a formação do círculo ao observar o sol e a lua, ou intuir a esfera na forma orgânica de uma laranja ou de uma pérola.” (Pinto, 2007, p. 137). Esta intuição baseia-se na analogia entre a representação do objecto sensível com o conceito do círculo. Por outro lado, as figuras geométricas puras, o quadrado, o cubo e outos poliedros, “[…] são formadas pela ‘razão pura do homem’, e dificilmente serão encontrados na natureza.” (Pinto, 2007, p. 137) As formas geométricas correspondem ao conhecimento imediato, como acontece nos casos da esfera ou do cubo, como definiu Kant “[…] pertencem ao âmbito do pensamento puro.” (2001, p. 208). Os elementos da composição arquitectónica, como a simetria, a proporção, o equilíbrio, a escala, a unidade, entre outros, exprimem a qualidade notável da arquitectura, e a “[…] habitabilidade num sentido compreensivo, material, psicológico e espiritual da palavra.” (Zevi, 2011, p. 174). A interpretação formalista desenvolvida por Zevi, evidencia a relação existente entre a forma arquitectónica e as regras, leis e princípios arquitectónicos a que deve corresponder a harmonia dessa mesma composição. Interessa-nos também, perceber a relação entre o conteúdo e a forma, e a maneira como os elementos constitutivos das formas (linha, superfície, volume, espaço), aliados aos instrumentos que o arquitecto tem à sua disposição (matéria, luz, ornamento), contribuem para a composição arquitectónica. Uma composição que invariavelmente incide sobre aquele que viria a ser considerado como a essência da arquitectura pela teoria arquitectónica do século XX, o espaço. Giedion baliza este conceito, ao dizer que “[…] a essência do espaço se encontra, sobretudo, na interação dos elementos que o limitam.” (Giedion apud Pinto, 2007, p. 21). Sendo que o espaço, de acordo com Arnheim, é “[…] uma entidade autocontida, infinita ou finita, um veículo vazio, pronto, dotado da capacidade de ser enchido com coisas.” (Arnheim, 1988, p.17). 50 Momento de concordância com o eixo existente no homem, e por ele com as leis do universo, volta a ordem geral. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 45 O limite construído: o muro Analisando o significado da palavra composição, “[Do lat. compositione] Representa o “Ato ou efeito de compor […].”. “Compor, [Do lat. Componere] formar ou construir de diferentes partes, ou de várias coisas: conformar, harmonizar […].” (Ferreira, 1986, p. 441). E observando a maneira como se conjuga em arquitectura, percebemos a relação indiscutível que mantém com a organização espacial e a própria limitação física do espaço. A composição do espaço arquitectónico deve ser entendida através dos elementos que actuam na organização formal dos edifícios, das leis que regem a sua organização interna e a estrutura geométrica aplicada. Os pontos, linhas, planos e volumes, funcionam como protagonistas da composição, assim como a simetria, a articulação, ritmo, sequência, determinam a maneira de representar essa composição. Assim, a composição e representação são das ferramentas mais úteis para a arquitectura. (Llorens51 , 2004, p. 10-11). Le Corbusier refere que “La arquitectura es el juego sabio, correcto y magnífico de los volúmenes reunidos bajo la luz.” 52(Le Corbusier, 1998, p. 16). E como tal, o arquitecto tem o dever de dar vida às superfícies que envolvem esses volumes. Dar ao volume, o esplendor da sua forma e dar utilidade à superfície. Pensando na composição de uma paisagem, se relacionarmos este volume com o muro e a superfície com o território em que este assenta, conseguimos compreender mais facilmente as palavras de Le Corbusier. Através deste elemento maciço, a conformação do território torna-se mais evidente, tornando o limite perceptível. Arnheim, por sua vez, defende que “[…] a configuração das fronteiras não é mais que um dos factores que regem as relações espaciais entre áreas visuais contíguas”. (Arnfeim apud Pinto, 2007, p. 30). Desta maneira, o muro desenvolve e articula o limite periférico de um determinado lugar, revelando a capacidade de gerar espaços contínuos. O muro, através das suas características, enquanto elemento maciço e espesso, possibilita a sua utilização enquanto componente de suporte. Exerce a sua função de limite físico, separando de maneira evidente o interior e o exterior. Também a materialidade aplicada na construção de um muro, pode ajudar o observador a contextualizar a obra. Esta contextualização pode ser lida a partir de um conjunto de relações que o muro estabelece com o território, ou das próprias características do 51 Vicente Más Llorens – Arquitecto espanhol. Professor Catedrático do departamento de projecto arquitectónico na Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad Politécnica de Valencia. 52 A arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 46 O limite construído: o muro material usado. Os materiais permitem a configuração física do espaço, delimitam o próprio espaço e são a base, na qual, se torna possível definir volumetricamente os espaços arquitectónicos. Apresentam a qualidade de representar visivelmente os limites físicos do espaço. Ilustração 19 - Muro de pedra. (Ilustração nossa, 2012) Os limites construídos, a partir de muros, conformam o espaço da maneira mais elementar e evidente, constituindo a “caixa arquitectónica” (quatro paredes, tecto e pavimento). Aqui, a capacidade de contenção do interior da caixa, é definida pelas dimensões e proporções relativas aos elementos usados na sua construção. Contudo, a apreensão dos limites espaciais pode assumir um caracter mais expansivo, não eliminando uma leitura espacial contínua. Para o arquitecto Frank Lloyd Wright 53 , a continuidade espacial tem um caracter expansivo. A sua arquitectura baseia-se na realidade do espaço interior, negando as formas volumétricas simples. Defende que a natureza é parte integrante de um projecto. A planta livre é uma consequência, “[…] um resultado final de uma conquista que se exprime em termos espaciais, partindo de um núcleo central e projectando os vazios em todas as direcções.” (Zevi, 2011, p. 125). Por outro lado, Le Corbusier afirma que as “[…] formas primárias são as mais belas porque se leem claramente”. (Le Corbusier, 2010, p. 116). Esta análise pode ser explicada a partir do processo de configuração dos objectos desenvolvido pela teoria gestaltista. “A psicologia gestaltista afirma que a mente simplifica o meio visual a fim de compreende-lo.” (Ching, 2005, p. 38). Ao analisar uma composição de formas, existe sempre uma tendência para reduzir o conjunto observado aos temas mais 53 Frank Lloyd Wright (1869-1959). Arquitecto Americano, defendia a teoria de que a arquitectura tinha de ser desenvolvida de dentro para fora. Projectou obras orgânicas, em que a construção e os materiais correspondiam à especificidade da paisagem e ao fim a que se destinavam. Em 1943 concebeu o Museu Guggenheim de Nova Iorque com uma forma espiralada (1956-59). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 47 O limite construído: o muro simples e regulares, tornando mais fácil a sua compreensão. Sendo que estas figuras regulares são o círculo e vasta possibilidades de polígonos regulares nele inscritas. Francis Ching54, defende que a “[…] forma é um termo abrangente que tem vários significados.” (2005, p. 34). Podendo assumir uma aparência externa reconhecível por todos. Num projecto artístico, este termo, é normalmente associado á estrutura formal de um trabalho, através da disposição e a coordenação dos vários elementos e partes de uma composição, de maneira a produzir uma imagem lógica e harmoniosa. Neste sentido, a forma indica, tanto a estrutura interna, como a imagem exterior dos edifícios, partindo de um princípio que atribui unidade ao todo. É frequentemente relacionada com a massa ou o volume tridimensional. O volume encerra três dimensões, comprimento, largura e profundidade, e é normalmente analisado a partir da união de vários pontos ou vértices, a partir de linhas ou arestas, em que dois planos se encontram, ou ainda, através dos limites definidos pelos planos ou superfícies. Ilustração 20 - Planta, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 29) 54 Francis Ching (1943 ). Arquitecto e director da Ching Associates, é também professor de arquitectura na Universidade de Washington em Seattle. Ching é o autor de alguns dos mais conhecidos livros de arquitectura, incluindo Architectural Graphics, Building Construction illustrated, Interior Design illustrated. Na sua obra Forma, espaço e ordem, Ching examina o essencial da arquitectura, justapondo imagens que atravessam séculos e cruzam fronteiras culturais para criar um vocabulário elementar e definitivo do desenho. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 48 O limite construído: o muro Numa composição de um projecto arquitectónico, o volume pode ser entendido, pelo solido, espaço ocupado pela massa ou pelo vazio, espaço contido ou delimitado por planos.(Ching, 2005, p.28). Ilustração 21 - Esquiço, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 29) Si hay una primera tensión espacial derivada de la conformación primaria del espacio por los muros que lo definen, se puede pensar en una segunda operación de volver a tensionar de otra manera este espacio, a través de perforaciones por donde entra la luz, por donde se pone en relación el espacio interior con el espacio exterior, por donde 55 irrumpe el creador y la razón de ser de la Arquitectura: el hombre. (Aparicio, 2006, p. 189). Se por um lado a conformação do espaço é definida através do muro – volume, por outro, a sua ausência – vazio, poderá igualmente contribuir para essa conformação, embora de maneira distinta. Ou seja, da mesma maneira que pode existe um espaço ocupado pela massa de um edifício, pode também, existir um espaço contido por planos ou paredes. Esta ausência mencionada não corresponde obrigatoriamente à ausência total do muro, podendo ser entendida pela subtracção de matéria. A subtracção, está vinculada à ideia estereotómica, realçando o valor material e maciço do edifício, acentuando a presença corpórea do muro sólido. Englobamos, nesta operação arquitectónica, as perfurações pontuais que vão permitindo a entrada de luz e a circulação entre os espaços. Com a ausência por subtração de matéria, o muro tem mais enfase do que sem ela. O muro é mais maciço com uma janela do que sem ela, pois a própria ausência torna mais consistente, a modo de contraponto, da presença da matéria. 55 Se existe uma primeira tensão espacial derivada da conformação primária do espaço pelos muros que o definem, pode-se pensar numa segunda operação voltando a tenciona-lo de maneira diferente, através de perfurações por onde entra a luz, por onde se relaciona o espaço interior com o espaço exterior, por onde irrompe o criador e a razão de ser da arquitectura: o homem. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 49 O limite construído: o muro Antonio Sant’Elia 56 e Filippo Tommaso Marinetti 57 , no texto A arquitectura futurista, publicado em 1914, explicam as grandes alterações verificadas, não só em termos técnicos mas também relativas às grandes transformações sociais e culturais. Defendem que a evolução não está na procura de novos formatos, nem em precisar as diferenças formais entre antigos e novos edifícios. A evolução está no modo como o homem recorre à ciência e às novas técnicas, de maneira a satisfazer ao máximo, todas as exigências relacionadas com o modo de viver e pensar. “Perdemos o sentido do monumental, do massivo e do estático e enriquecemos a nossa sensibilidade com o gosto do ligeiro e do prático, do efémero e do rápido.” (Sant’Elia, Marinetti, 2010, p. 98). A arquitectura advém do cálculo, da audácia e da simplicidade. Deve tornar possível a ligeireza e a elasticidade. Deve impulsionar o dinamismo das formas e compreender o homem nos ambientes criados. Ilustração 22 - Esquema compositivo. (Ching, 2005, p. 169) 56 Antonio Sant’Elia (1888 – 1916). Arquitecto Italiano. É considerado o principal divulgador e arquitecto futurista. Na sua obra, é notória a influência do arquitecto Otto Wagner e as influências dos ideiais das cidades norte-americanas. Em 1912 produz um conjunto de desenhos (Cidade Nova), onde ilustra as suas teorias arquitectónicas, da escala monumental aplicada a todos os componentes da cidade. Os seus ideias influenciaram inúmeros arquitectos e anteciparam a génese do planeamento da cidade moderna. 57 Filippo Tommaso Marinetti (1876 – 1944). Escritor e poeta italiano. Fundador do movimento futurista. A sua roptura com a tradição aparece reflectida no primeiro manifesto futurista em 1909, publicado no diário Figaro. Em 1910 apresenta o manifesto da literatura futurista e em 1912 o manifesto técnico do futurismo. Neles descreve uma nova civilização governada pelas máquinas e pela velocidade. Defende a violência e a guerra como a única possibilidade de afirmação individual do homem. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 50 O limite construído: o muro Erich Mendelsohn 58 , explica que as novas condições da arquitectura são impostas pelo espírito revolucionário do século XX. Um espírito que engloba a evolução do trânsito, da economia e da cultura, e as novas possibilidades de construção, com a introdução de novos materiais. (Mendelsohn, 2010, p. 108). O grupo holandês De Stijl, criado em 1917, introduziu uma nova expressão estética na arquitectura, e alterou completamente a visão sobre o entendimento e composição espacial. Aparecem as primeiras composições pós-cubistas de Mondrian59, definidas por linhas horizontais e verticais quebradas. Embora a grande evolução arquitectónica deste movimento só se tenha notado a partir de 1920, com o trabalho do arquitecto Gerrit Rietveld60. Com a influência do Neoplasticismo, Van Doesburg61, publica a sua teoria, Dezasseis pontos de uma arquitectura plástica, em que defende que a arquitectura deve ser elementar, económica e funcional. Deve ser dinâmica e nãomonumental. Não deve adoptar a forma cubica. Deve utilizar a cor como instrumento de decoração. Descreve a casa ideal no décimo primeiro ponto do manifesto. (Frampton, 2008, p. 175). A nova arquitectura é anticúbica, ou seja, não tenta congelar as diferentes células espaciais funcionais em um cubo fechado. Pelo contrário, lança-as (e faz o mesmo com planos salientes, volumes de sacadas etc.) centrifugamente, a partir do núcleo do cubo. E, por esses meios, altura, largura, profundidade e tempo (isto é, uma dimensão quadridimensional imaginária), aproxima-se de uma expressão plástica totalmente nova nos espaços abertos. Assim, a arquitectura assume um aspecto mais ou menos flutuante que, por assim dizer, actua contra as forças gravitacionais da natureza. (Van Doesburg apud Frampton, 2008, p. 175). 58 Erich Mendelsohn (1887 – 1953). Considerado o expoente máximo da arquitectura expressionista. Em 1924 funda o grupo Der Ring, juntamente com os arquitectos Mies van der Rohe e Walter Gropius. Em 1921 termina a sua obra, a Torre de Einstein, considerada a obra mais revolucionária da arquitectura expressionista. 59 Piet Mondrian (1872 – 1944). Pintor holandês, fundador do Neoplasticismo. Destacou-se com as suas obras onde utilizava a abstracção geométrica, trabalhando com formatos regulares. Considerava as cores primárias, as cores elementares do universo. Juntamente com Theo Van Doesburg e outros artistas, funda o movimento De Stijl. 60 Gerrit Rietveld (1888 – 1964). Arquitecto e designer holandês. Iniciou a sua carreira profissional aprendendo marcenaria na oficina do pai, trabalhou em joelharia como desenhador. Tornou-se membro do movimento De Stijl em 1931. Projecta a cadeira “Azul-vermelha”, reconhecida pelos artistas neoplásticos como o paradigma da aplicação tridimensional dos rígidos pressupostos estilísticos e filosóficos de Piet Mondrian. Projecta a casa Shröder, considerada como a primeira obra arquitectónica do movimento neoplástico. Com este projecto, concretiza os princípios contidos no ensaio “16 pontos de uma arquitectura plástica”, publicado por Van Doesburg. Foi um membro fundador dos CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna). 61 Theo van Doesburg (1883 – 1931). Arquitecto e artista plástico holandês, ligado ao Neoplasticismo. Fundador do movimento De Stijl. Defende que a arquitectura deveria renunciar a tradição ornamental. Os edificios deveriam ser simplificados ao máximo. Os espaços cúbicos deveriam interligar-se, de modo a criarem uma vivência complexa e plástica a partir da ortogonalidade. Foi também dos professores da escola da Bauhause. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 51 O limite construído: o muro Ilustração 23 - Projecto para uma residência, 1922, Theo van Doesburg e Cornels van Eesteren. (Ching, 2005, p. 169) O movimento De Stijl, não se preocupava com as questões construtivas, mas sim com o aspecto estético. O conceito de espaço altera-se perante a ideia do passado. Apesar da negação da decoração, era evocada uma nova unidade baseada na decomposição dos limites planimétricos, estruturais e pictóricos, reforçados pelo uso da cor. Este aspecto é crucial para o entendimento da intenção plástica construtiva pretendida. Theo van Doesburg defende a união entre a pintura e a arquitectura, pois a cor tem um valor constructivo, é um meio expressivo capaz de “[…] evidenciar os valores arquitectónicos […], amplia as possibilidades plásticas da arquitectura.” (Pinto, 2007, p. 67). Doesburg, defende o processo de transfiguração, e esta opera num sentido gestáltico pictórico que se sobrepõe à realidade física da caixa murária. O efeito de continuidade visual, introduzido pela pintura neoplástica, acontece de maneira semelhante na arquitectura, na medida em que os limites espaciais construídos, lembram o traçado da composição pictórica, sugerindo que estes se possam encontrar fora do quadro. A introdução da diagonal, “[…] enaltece ilusoriamente esses limites da sua condição fixa e fechada.” (Pinto, 2007, p. 70). O plano oblíquo propõe um jogo de ilusões dinâmico, integrando o espectador no seu interior. Este princípio pressupõe o movimento do corpo no espaço, com a intenção de libertar o espirito. Doesburg procura uma composição de relações entre o homem, a pintura e a arquitectura, de uma maneira plástica pura. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 52 O limite construído: o muro Ilustração 24 - Projecto para uma casa, 1923, Mies van Der Rohe. (Ching, 2005, p. 23) Por outro lado, Mies Van der Rohe, no texto A arquitectura e a vontade da época, escrito em 1924, explica explicitamente a sua posição em relação aos novos princípios da arquitectura moderna. Defende que os edifícios são essencialmente uma vontade da época traduzida no espaço. “É por isso que a tentativa de adaptar os conteúdos e formas de épocas anteriores à nossa, está votado ao fracasso.” (Mies, 2010, p. 140). A funcionalidade e a objectividade devem ser os reais objectivos da arquitectura. A construção utilitária só será elevada à categoria de arquitectura se for funcional e exprima a vontade da sua época. Surgem problemas novos todos os dias. É por isso importante procurar novas soluções a fim de resolver esses problemas. É necessário melhorar os meios tecnológicos para melhorar a qualidade dos produtos fabricados. “Cada problema depende de condições novas e leva-nos a resultados novos.” (Mies, 2010, p. 140-142). E o principal problema será a construção e não a forma, porque a forma é um resultado final, uma consequência do processo de trabalho. As ideias de Mies, fundamentalmente incidentes no caracter construtivo e na funcionalidade objectiva do edifício, tornam-se extremamente relevantes para o entendimento da composição espacial da arquitectura moderna. Em 1926, Le Corbusier desenvolveu a teoria dos cinco pontos da nova arquitectura, como um resultado do estudo do desenvolvimento da construção em betão armado Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 53 O limite construído: o muro iniciada no final do século XIX. Defende que “A explicação teórica origina a simplicidade da fórmula.” (Le Corbusier, 2010, p. 150). O novo tipo de construção incide essencialmente no uso de colunas de betão armado, com a função de suporte. Esta teoria “[…] conferiu novas possibilidades à definição e delimitação de espaços dentro de um edifício.” (Ching, 2005, p. 128). A casa assente em pilares. Os muros antigos são substituídos por pilares, dispostos numa malha regular, libertando a disposição interior dos vários pisos do edifício. A casa é elevada do solo. Aproveitar a cobertura do edifício com a integração do telhado-jardim, permitindo uma melhor protecção do betão usado na cobertura do edifício, de maneira a evitar a dilatação brusca causada pelas diferenças de temperatura. A dilatação é evitada pela permanência de água sobre o betão, e o jardim permite que a água não evapore tão rapidamente. A planta livre, permite a disposição variada das divisórias verticais, que poderão ser diferentes em cada piso. A delimitação e disposição dos espaços não é mais determinada pela parede de sustentação pesada. Os espaços interiores podem ser definidos a partir de divisórias não-estruturais mais leves, o que permite uma absoluta liberdade da planta do edifício. As janelas em comprimento permitem uma maior entrada de luz no interior do edifício. A fachada livre. As lajes de betão armado estendem-se para além das colunas de sustentação. Deixa de haver uma parede na fachada, permitindo que as janelas em comprimento se possam desenvolver de acordo com a disposição das divisões interiores da planta. (Le Corbusier, 2005, p. 150-151). A introdução deste pensamento alterou profundamente as possibilidades de composição dos espaços interiores. As divisórias são formadas por planos verticais, e apesar de cortarem a continuidade do volume, ao serem introduzidos num sistema de plana livre, “[…] nunca formam áreas fechadas, geometricamente estáticas.” (Ching, 2005, p. 133). “[…], no tema do edifício isolado a planta livre oferece possibilidades ilimitadas de divisões elásticas e subdivisões internas, dentro de uma malha estrutural ou em linha reta.” (Zevi, 2011, p. 123). As características do espaço moderno são fundamentadas na planta livre, e a principal exigência social da época elege a casa como sendo o problema central da arquitectura. A arquitectura moderna, explora acertadamente a nova técnica, reformulando os elementos da composição e organização espacial. A grande diferença incide sobre a diferente atitude de composição das suas obras. (Zevi, 2011, p. 124). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 54 O limite construído: o muro Ilustração 25 - Esboços para os cinco pontos da nova arquitectura, 1926, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 128) Contínuo e descontínuo “Os parâmetros da caixa arquitectónica definem os domínios e os limites que caracterizam o campo de acção do espaço nuclear, o meio habitável da câmara, as permanências e o percurso arquitectónico.” (Pinto, 2007, p. 30). Ou seja, as características e qualidades do espaço, independentemente dos usos que esse espaço possa adoptar, dependem da maneira como os seus limites físicos são construídos. Espaço Heidegger62 propõe uma definição para espaço quando explica que este será “[…] o lugar arrumado, liberado para um povoado, para um depósito.” (2002, p. 134). Um lugar arrumado que ocupa um determinado limite. Um limite que não está 62 Martin Heidegger (1889 – 1976). Filósofo alemão. Nasceu em Messkirch, na região da Floresta Negra. A sua principal obra intitula-se Sein und Zeit, a qual obteve notória repercussão, em virtude das correcções lógicas que introduziu na atitude mental da fenomenologia e do existencialismo. Considerado como um dos grandes pensadores do século XX, pela importância que atribuiu ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Em 1945, escreve o notável ensaio A Carta sobre o Humanismo, uma obra que visa rectificar a imagem das relações entre o ontologismo, o fenomenologismo e o existencialismo, considerando-se desta maneira, a chave que anuncia a perfeita revelação do íntimo pensamento deste filósofo. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 55 O limite construído: o muro obrigatoriamente relacionado com o fim de qualquer coisa, mas “[…] onde alguma coisa dá inicio à sua essência.” (Heidegger, 2002, p. 134). E a essência do espaço é o lugar onde está inserido, e o homem que o experimenta e vivencia. Porque, “[…] os espaços que percorremos diariamente são ‘arrumados’ pelos lugares, cuja essência se fundamenta nesse tipo de coisas a chamamos coisas construídas.” (Heidegger, 2002, p. 135). E o construir incide sob a fundação e articulação dos espaços. O entendimento da arquitectura pressupõe o entendimento do espaço, e todos aqueles que “[…] refletiram sobre esse tema, sabem que o carácter da arquitetura – o que a distingue das outras atividades artísticas – está no facto de agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem.” (Zevi, 2011, p. 17). O homem percebe e vive o espaço arquitectónico pela experiência directa, e é neste sentido que o espaço se torna o verdadeiro protagonista da arquitectura. “[…] o domínio do espaço, é uma simples questão de medidas, de dimensões domináveis, que é preciso pôr em relação com as dimensões do homem.” (Baeza, 2011, p. 24). Um domínio clarificado pela construção dos limites físicos e qualificado pelas características que este poderá adoptar. Luz A percepção visual dos limites e dos espaços interiores e exteriores que lhes são associados dependem da luz. Esta, apesar de ser um elemento exterior à arquitectura, torna-se um factor determinante para a qualificação e entendimento do espaço. “A incidência da luz sobre as superfícies das coisas, sobre os seus limites físicos e o reenvio para a nossa retina, proporciona a essas coisas a faculdade de serem vistas.” (Pinto, 2007, p. 35). Esta incidência provoca uma enorme variação no aspecto formal das coisas e da própria arquitectura. As transformações produzidas pelo movimento do sol ao longo do dia ou ao longo do ano, “[…] nas suas mudanças de orientação, nos diversos ângulos de incidência e estados da atmosfera.” (Pinto, 2007, p. 35) tornam-se um factor determinante para o reconhecimento visual dos limites espaciais e das possíveis relações existentes entre o interior e o exterior dos edifícios, assim como das formas, texturas e cores aplicadas. Esta dependência da luz poderá ser levada ao extremo, ou seja, se por um lado, a falta de luz torna impossível a percepção visual dos limites espaciais, o seu excesso “[…] levaria à alucinação e à dissolução dos contornos das formas e das cores, Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 56 O limite construído: o muro gerando uma espécie de cegueira branca.” (Pinto, 2007, p. 36). Assim, será necessária a existência de uma situação intermédia, de um controlo da iluminação. Este controlo poderá ser introduzido pela sombra, através do contraste lumínico, definindo uma hierarquia entre o claro e o escuro ou entre a luz e a sombra, permitindo uma outra leitura dos espaços, superfícies e volumes. A entrada de luz no interior do espaço é gerada pelas aberturas dos vãos, através das características que os compõem e pela orientação e localização, podendo ser canalizada de maneiras diferentes: directa, indirecta, reflectida, difusa, frontal, parietal ou zenital. Da mesma maneira a sombra poderá também gerar momentos espaciais distintos conferindo a esses espaços um determinado tipo de vivência. De acordo com Alberto Campo Baeza, “[…] para tornar a luz presente, para a tornar sólida, é preciso a sombra.” (2011, p. 53). O sujeito capta na luz essa intenção sugestiva e deixa-se conduzir por ela, movendo-se através do espaço por ela revelado, impulsionado pelos seus gradientes rítmicos de claro e escuro que reforçam os âmbitos, as hierarquias e as gradações espaciais. (Pinto, 2007, p. 38). A luz penetra no interior do espaço por via do vão, da fresta, do lanternim…a sua intensidade vai alterando a leitura perceptiva das formas ao longo do dia. Desta maneira, a luz e a sombra tornam-se indissociáveis do espaço e da sua compreensão. E a adequada combinação destes dois elementos “[…] costuma despertar na arquitectura a capacidade de nos comover profundamente.” (Baeza, 2011, p. 53). Um comover centrado num conjunto de relações que nos permitem a compreensão das coisas. A compreensão da luz aparece também relacionada com dois conceitos abordados anteriormente, o tectónico e o estereotómico, que por sua vez se podem explicar através dos temas da continuidade e descontinuidade aplicados aos limites físicos construídos que conformam o espaço arquitectónico. “O muro estereotómico busca a luz.” (Baeza, 2011, p. 30). Ao logo do muro estereotómico, contínuo, vão existindo perfurações escavadas permitindo a entrada de luz no interior do espaço, em que as perfurações são relacionadas ao escavar, à subtracção. Uma operação vinculada a uma necessidade muito específica, a necessidade de luz. O limite construído portante, em que a sua função de suporte determina a própria conformação do espaço, e o mesmo material é usado para o suportar e compor. Onde, a estrutura, a forma e o espaço funcionam Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 57 O limite construído: o muro como uma unidade, como um “[…] organismo pétreo contínuo.” (Baeza, 2011, p. 50). O muro estereotómico é contínuo, trabalha essencialmente à compressão, está ligado à terra, como se dela nascesse. Por outro lado, o muro tectónico, “[…] precisará de se proteger da luz.” (Baeza, 2011, p. 31). Aqui o uso da estrutura mais leve e mais fina, descontínua, implica um controlo eficaz da luz, em que as várias partes que a compõem são articuladas, submetendo a operação à adição dessas partes. O muro tectónico, apesar de apresentar uma descontinuidade na sua construção, torna-se contínuo com o espaço exterior permitindo uma relação mais directa com a paisagem que o rodeia. Neste caso, o que sobressai não serão os limites verticais mas sim os horizontais, exemplo desta operação é a casa Farnsworth do arquitecto Mies Van der Rohe. O muro tectónico é descontínuo, trabalha essencialmente à flexão, é mais leve, soltando-se da terra, pairando sobre ela. “O espaço estereotómico procurará abrir-se e utilizará a subtracção como mecanismo, do mesmo modo que o espaço tectónico procurará fechar-se e utilizará como mecanismo a adição.” (Baeza, 2011, p. 50). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 58 O limite construído: o muro 3. A PERCEPÇÃO DO LIMITE: O MURO “El muro consigue traducir, a través de elementos reales, sensibles, las ideas que generan toda arquitectura.” 63 (Aparicio, 2006, p. 205). 3.1. ESCOLA SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – CARRILHO DA GRAÇA A Escola Superior de Comunicação Social, da autoria do arquitecto João Luís Carrilho da Graça, surge no âmbito de um concurso por convite promovido pela Direcção Geral do Ensino Superior (DGES), em 1987, com o objectivo de integrar um novo conjunto de equipamentos no Campus do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), em Benfica, num amplo terreno situado numa área de acentuado crescimento urbano da cidade de Lisboa. O terreno é tangente à 2ª Circular, nome dado à via rápida responsável pela ligação da parte oriental à parte ocidental da cidade, funcionando como eixo fundamental na entrada e saída da mesma. O terreno em colina eleva-se à cota 102.56 metros, permitindo o alcance visual a sul do Parque Florestal de Monsanto e a norte de uma vasta área habitacional, assim como a Escola Secundária de Benfica José Gomes Ferreira, projectada em 1978-80, pelos arquitectos Raúl Hestnes Ferreira e Jorge Gouveia. Ainda no enquadramento próximo do terreno, orientado a poente, está a Escola Superior de Educação, projectada pelo arquitecto Adães Bermudes em 1914, e a primeira pista de atletismo construída em Portugal. Neste âmbito, será importante destacar a relação existente entre o edifício e o sítio, e a maneira como este gesto é proposto e executado. Um gesto atento à situação urbana e morfológica do território existente, em que o objecto é assente rigorosamente sobre a colina, “[…] desenvolvendo-se ao longo da sua crista quase não a ‘tocando’.” (Toussaint, 1994, p. 392). De igual modo, será necessário referir o conjunto de acções inerentes ao procedimento projectual e à sua compreensão, ilustrando uma operação vinculada à imagem da caixa mural, que aqui assume o princípio da desmaterialização semelhante ao grupo De Stijl. Este princípio estará invariavelmente relacionado com as acções de transformação e transfiguração da caixa, aqui ortogonalizada, permitindo a compreensão dos seus limites físicos, e a relação que estes apresentam no âmbito da diferenciação espacial, o que irá permitir a definição e aferição de um conjunto de 63 O muro consegue traduzir, através de elementos reais, sensíveis, as ideias que geram toda a arquitectura. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 59 O limite construído: o muro formulações em vários âmbitos distinto. À imagem de transfiguração referida, é associado o modo de tratamento da expressão exterior da superfície. Expressão realçada pelas entradas de luz, pela dimensão e forma dos vãos ou pelos materiais aplicados. Este gesto adoptado, poderá ser justificado pelo ambiente caótico em que o edifício está inserido, tendo conduzido o autor “[…] a procurar uma regra tão forte quanto a de ângulo recto, de modo a impedir uma possível diluição”. (Toussaint, 1994, p. 392). A relação interior/exterior, é intensificada pelos planos soltos que definem a expressão das superfícies, permitindo uma continuidade visual entre os vários espaços, assim como diferentes opções pictóricas aplicadas às diversas fachadas, (utilização da cor branca nos planos quase cerrados orientados sobre a via rápida e os tons terra, mais escuros, utilizados nos planos virados a norte, sobre o pátio exterior semi enterrado), enfatizam a complexidade arquitectónica desta obra que, “[…] apesar da aparente simplicidade das premissas geradoras, permite uma grande riqueza de perspectivas.” (Toussaint, 1994, p. 392). Entre la vía rápida y la línea de cumbre del monte, el edificio procura construir y proteger una plaza alta. En los niveles abajo de la plaza, las áreas más equipadas: auditorio, estudios de televisión y radio. Al nivel de la plaza, los accesos y salas de alumnos. Se destaca el cuerpo administrativo y de profesores, más alto, a poniente. Sobre las salas de clase, la cafetería. Al espacio “interior” de la plaza se opone el plan del alzado hacia la vía rápida. En el ángulo, el atrio casi cúbico es verticalmente 64 cruzado por el ascensor, un pilar y el cilindro de la chimenea. (Graça, 1995, p. 56). As primeiras soluções vão surgindo, e de maneira progressiva, vão concretizando a ideia. “[…] el autor refiere la intención fundamental del proyecto, que fue la constitución del edificio como soporte definido de una plaza alta, a partir de la consideración de dos presencias opuestas del sitio (la vía rápida y el monte).” 65 (Hipólito66, 2002, p. 210). A partir do reconhecimento da ideia, vão sendo estudadas diferentes associações e 64 Entre a via rápida e topo da linha da colina, o edifício procura construir e proteger uma praça elevada. Nos níveis inferiores da praça, estão as áreas mais equipadas: estúdios de televisão, auditórios e rádio. Os acessos às salas de aula são feitos ao nível da praça. No nível mais elevado, a poente, destaca-se o corpo administrativo e salas dos docentes. Sobre salas de aula, está a cafetaria. No espaço “interior” da praça, opõe-se o plano do alçado orientado para a via rápida. No ângulo, o átrio quase cubico é atravessado verticalmente por um elevador, uma coluna e o cilindro da chaminé. (Tradução nossa). 65 O autor refere a intenção fundamental do projecto, que foi a constituição do edifício como suporte definido a partir de uma praça elevada, partindo da consideração e das presenças encontradas no sítio. (a via rápida e a colina). (Tradução nossa). 66 Fernando Hipólito (1964 - ). Arquitecto Português. Licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1987 e doutorado em Projectos de Arquitectura pela UPC-ETSAB em 2002. Docente da Universidade Lusíada de Lisboa desde Janeiro de 1988, onde exerce funções de Coordenador e Regente da Disciplina deArquitectura II do 2º Ano e Regente de Projecto III do 5ºAno. Tem algumas obras construídas, publicadas e nomeadas para exposições e prémios de arquitectura, dedicando-se também a Projectos na área da Arquitectura de Interiores, tendo sido recentemente reconhecido internacionalmente com a selecção para o prestigiado prémio “Andrew Martin Interior Design Award 2009. Autor da obra Sítio Projecto e Arquitectura. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 60 O limite construído: o muro novas formalizações arquitectónicas que, a partir do programa pretendido, da configuração tipológica e volumétrica, permitem a concretização da imagem final da obra. Através da informação dada pelo autor, é possível perceber a importância que o sítio, e as condições que o caracterizam, tiveram em todo o processo projectual. Condições que o levaram à formalização de uma ideia muito específica – a construção de uma praça elevada e protegida da via rápida. “[…] esta primera intención revela aún, y solamente, una voluntad de reorganización de un territorio dado, a partir de nuevas relaciones entre sus características, el cual, desde ya, se quiere más transformador que integrado.” 67 (Hipólito, 2002, p. 211). Desta maneira, partindo do conhecimento das características do território, surge a proposta do arquitecto. Uma proposta onde sobressai um elemento de extrema importância – o desenho e composição do plano da fachada como “[…] elemento arquitectónico, figurativo y simultáneamente conceptual, que establecerá diálogos entre dos situaciones opuestas existentes en el sitio (bello = colina; ruidoso = vía rápida).” 68 (Hipólito, 2002, p. 211). Assim, seria imprescindível encontrar uma estratégia que permitisse controlar a exposição total que o território apresenta, de maneira a viabilizar a ideia e o próprio programa. Estratégia que parte da ideia da construção de um limite físico, adaptando por um lado à função de suporte, a partir dos muros de contenção, e por outro, à construção de um plano limite estrutural da obra. João Luís Carrilho da Graça parte para um desenho (que representa já uma ideia de domagem do espaço) com pressupostos próprios, não imediatamente justificáveis, eleitos na sensibilidade coleccionadora de um olhar que usa a abstracção. Uma peça de arquitectura é como um desenvolvimento de linguagens. Escrevê-las, um esforço; melhorá-las, um enriquecimento; lê-las, depois (neste caso), um privilégio. (Graça Dias, 1994). Contexto A análise e compreensão da situação do terreno torna-se fundamental para a percepção das várias partes que compõem a obra, da mesma maneira que o conhecimento da situação prévia do sítio foi considerado indispensável no processo projectual. “La situación física previa del sitio fue alterada en función del nuevo edificio. 67 Esta primeira intenção revela ainda uma vontade de reorganizar um determinado território a partir de novas relações entre as suas características, ao qual, desde já, se pretende mais transformador que integrado. (Tradução nossa). 68 Elemento arquitectónico, figurativo e simultaneamente conceptual, que estabelecerá diálogos entre duas situações opostas existentes no sítio (belo = colina; ruidoso = via rápida). (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 61 O limite construído: o muro El autor utiliza la topografía y su modelamiento como elemento integrante de su idea “(...) una plaza protegida (...)” - construida (“Implantación”).” 69 (Hipólito, 2002, p. 237). O desenho da proposta, as relações espaciais obtidas, a distribuição do programa e o aspecto formal que este adquire, formam um todo coerente, traduzindo o processo gerador da imagem arquitectónica final em função da relação entre o sítio e a ideia. “La imagen global de conjunto responde a las intenciones del autor ante su interpretación del sitio.”70 (Hipólito, 2002, p. 238). Projecto O projecto pretende adequar-se à situação do terreno, à função a que se destina e ao programa pretendido, justificando assim, a imagem arquitectónica final da obra. A partir do levantamento topográfico foi possível compreender as características do terreno, tornando-se numa ferramenta indispensável para a evolução do projecto. A implantação que o edifício apresenta, surge por um lado, da necessidade de protecção da via rápida, e por outro da construção de uma praça elevada, elemento exterior, organizador da proposta. O edifício, organizado em “L”, é composto por dois volumes, onde são dispostas as áreas programáticas, envolvendo uma praça elevada e orientada a norte. Um corpo alto, onde se organizam as zonas de serviços de administração e apoio, e um corpo mais baixo e longo, disposto sobre um embasamento, que organiza as áreas de maiores dimensões, como auditórios e estúdios. A aproximação ao edifício faz-se a partir de um caminho exterior em rampa e escada, seguindo a direcção poente – nascente. Percurso, acompanhado pela presença notória e marcada da via rápida. O primeiro elemento que sobressai na aproximação ao edifício é o muro branco que o acompanha longitudinalmente. É nesse muro que começamos a perceber a necessidade de protecção perante aquele ambiente extremamente exposto e austero, e a maneira como o edifício se funde com o terreno. A presença do muro faz-nos parar. Por um lado queremos perceber o culminar da subida, por outro sentimos a vontade de conhecer a continuação daquele elemento que, de maneira imponente, desenha e marca aquele limite físico, recortando a própria colina. 69 A situação prévia física do sítio foi alterada em função do novo edifício. O autor utiliza a topografia e o seu modelamento como elemento integrante da sua ideia – “(…) uma praça protegida (…)” – construída (“implantação”). (Tradução nossa). 70 A imagem global de conjunto responde às intenções do autor perante a sua interpretação do sítio. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 62 O limite construído: o muro Percebemos a forte presença vertical de um enorme plano, assente em pilares, revestido a pedra calcária branca, que acompanha o nosso olhar ao céu. É neste momento que começamos a perceber as opções do arquitecto. No ponto em que são confrontados os dois eixos de orientação do objecto, e se clarificam as primeiras relações visuais com o contexto. Neste âmbito torna-se evidente a escolha do material de revestimento do plano vertical (pedra calcária branca), igualmente utilizada no revestimento da fachada exterior da Escola Superior de Educação, antiga Escola do Magistério primário de Lisboa, situada a poente. Esta primeira aproximação é caracterizada por dois momentos completamente antagónicos, uma subida ruidosa, em que tentamos perceber aquilo que nos envolve e uma paragem calma, de contemplação, quando chegamos à praça elevada. A praça é conformada por um muro periférico. “Este muro de contención exterior es precedido por una mancha verde orgánica (recubrimiento arbustivo) que introduce una variación no ortogonal a la rigidez geométrica de la estructura construida.” 71 (Hipólito, 2002, p. 235). Será a presença da paisagem natural, a lançar o mote para a escolha do revestimento em reboco, pintado em tons de terra da fachada orientada a norte, igualmente caracterizada pela dimensão dos vãos, que atingem as medidas estruturais possíveis, intensificando a relação do espaço interior com a praça. Los efectos se traducen en una hipótesis de anulación del peso programático mientras presencia construida, por la aproximación cromática del revestimiento con la tonalidad de la tierra y por el destaque adquirido en la diferenciación también cromática (blanco) de los planos periféricos, que se extienden para allá de sus límites necesarios 72 horizontales y verticales, desde las fachadas Norte y Occidente. (Hipólito, 2002, p. 270). Ainda na praça é possível observar uma escada exterior elevada a norte. A primeira imagem que nos ocorre quando a observamos, é de um anfiteatro, em que o palco é a praça e o cenário a Escola. Se nos aproximarmos, notamos a possibilidade de aceder ao interior do edifício, através do patamar intermédio da escada, onde acedemos ao piso enterrado. O desenho rasga a colina, permitindo a entrada de luz na cafetaria situada neste piso. A disposição deste piso enterrado enaltece as características do terreno perante os elementos construídos. 71 Este muro de contenção exterior é precedido por uma mancha verde orgânica (cobertura verde) que introduz uma variação orgânica à rigidez geométrica da estrutura construída. (Tradução nossa). 72 Estes efeitos são explicados a partir da anulação do peso programático em relação à presença construída, pela aproximação cromática do revestimento com a tonalidade da terra e pelo destaque adquirido pela diferenciação cromática (branca) dos planos periféricos, que se estendem para além dos seus limites necessários horizontais e verticais, desde as fachadas Norte e Ocidente. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 63 O limite construído: o muro A organização do edifício é extremamente clara, observando as intenções do arquitecto em colocar as áreas programáticas viradas a norte, sobre a praça, e os elementos de circulação e acessos orientados a sul e a poente, virados à paisagem. Considerando a referida organização em “L”, percebemos a separação dos dois blocos programáticos, através de um átrio transparente, com várias alturas, organizando os acessos verticais do projecto. “Elección del Atrio como momento espacial del proyecto que sintetiza la idea.” 73 (Hipólito, 2002, p. 297). Existe ainda, uma divisão clara do programa funcional, em que no bloco paralelo à via rápida se dispõem as salas de aula (área dos alunos) e no bloco perpendicular a este, orientado a poente, se dispõem os escritórios e zonas administrativas (área dos professores). “La distribución del programa funcional se realiza en función del cruce entre la idea inicial y el sitio.” 74(Hipólito, 2002, p. 237). Conseguimos reconhecer também a formalização geométrica dos elementos que compõem o espaço, nunca perdendo a noção das relações que o edifício mantém com o sítio. O percurso exterior existente do lado sul, clarifica os cortes no terreno e as alterações de terra efectuadas na fase de construção, de modo a viabilizar a integração do objecto construído. “El dibujo transversal de la colina es interrumpido por la arquitectura, que la incorpora.” 75 (Hipólito, 2002, p. 235). As interrupções são ocupadas por zonas de serviço e manutenção, permitindo o acesso ao piso enterrado. Este espaço exterior, virado à via rápida e completamente exposto, é conformado por um muro de suporte, permitindo um momento de resguardo da mesma. Notamos também as características do alçado, que se prolonga até aos limites possíveis. Enorme plano branco, recortado por pequenos vãos redondos, de maneira a proteger o edifício do ruído constante da via tangente. Nele, percebemos também a presença do átrio interior, evidenciado pela transparência da superfície. “Reafirma el atrio como elemento formal de transición y espacial de relación, a través de una superficie única en cristal.” 76 (Hipólito, 2002, p. 236). Este plano branco, iniciado no muro do lado poente, surge como o primeiro elemento limitador físico contínuo do espaço exterior, conformando o espaço longitudinalmente, até tocar o limite nascente do terreno, funcionado como ponto de ancoragem da proposta. Esta opção enaltece a ideia estereotómica, da ligação com a terra. As suas 73 Eleição do átrio como momento espacial do projecto que sintetiza a ideia. (Tradução nossa). A distribuição do programa funcional realiza-se em função da relação existente entre a ideia inicial e o sítio. (Tradução nossa). 75 O desenho transversal da colina é interrompido pela arquitectura que a incorpora. (Tradução nossa). 76 Reafirma o átrio como elemento formal de transição e espacial de relação, através de uma superfície única em vidro. (Tradução nossa). 74 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 64 O limite construído: o muro características e pequenas aberturas tornam clara a necessidade de protecção, perante as especificidades da envolvente. Apesar deste muro não ser especificamente caracterizado pela sua condição enquanto elemento definidor do volume construído, pode ser interpretado como elemento que permite estabilizar as intenções do arquitecto, a partir das suas qualidades enquanto plano horizontal moldado e fundido com o território, e plano vertical que possibilita a integração e construção do programa. A fachada norte, por outro lado, já não exige esta necessidade de protecção. Aqui, abrem-se grandes vãos abertos à paisagem, mantendo-se a relação transversal com a fachada posterior, através da abertura envidraçada do átrio comum. Completando a forma em “L”, surge a fachada orientada a poente, mantendo a sua condição protectora perante a via rápida. A fachada formaliza o corpo mais alto do edifício, acentuando a sua presença na paisagem. Este bloco, assente em pilares cor de terra, antagónicos que opõem a sua esbeltez à percepção pesada do corpo, revestido a pedra, em suspensão, transparecendo uma ideia de leveza irreal. A opção aproximanos da ideia tectónica, da descontinuidade com a terra. “O limite é a figura a partir da qual a arquitectura começa a ser, […]” (Pinto, 2007, p. 23). A sua construção clarifica uma presença física num determinado contexto conformador, vinculando o objecto construído ao território. Esta delimitação determina o espaço arquitectónico, que a partir de um contorno perceptível anuncia a identidade da obra. Identidade gerada pela desmaterialização da caixa mural, estabelecida pela construção de planos soltos que enfatizam a decomposição dos limites planimétricos estruturais e pictóricos. Este processo de transfiguração da caixa mural, permite um efeito de continuidade visual, na medida em que os limites espaciais construídos sugerem o seu prolongamento quase infinito. A ideia fundamentada na desmaterialização produz uma redução minimalista e equilibrada dos vários espaços, cuja representação se traduz em planos ortogonais, eixos verticais e horizontais e na utilização da cor. Estas opções reforçam a intenção plástica constructiva, numa tentativa de superação da condição estática da arquitectura, onde o efeito final dinâmico é notado em toda a obra. Um gesto aparentemente simples, como que uma marca acentuada pela expressividade da linha recta, evidenciando o eixo longitudinal e organizativo da proposta para aquele sítio. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 65 O limite construído: o muro Ilustração 26 - Esquiço, "baleia", Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Hipólito, 2002, p. 314) Ilustração 27 - Axonometria, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Hipólito, 2002, p. 314) Ilustração 28 - Maquete da proposta, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 57) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 66 O limite construído: o muro Ilustração 29 - Muro, vista Poente, Escola Superiorde Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 30 - Vista Poente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 67 O limite construído: o muro Ilustração 31 - Vista Nascente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 32 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 68 O limite construído: o muro Ilustração 33 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 34 - Vista Sul, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 69 O limite construído: o muro Ilustração 35 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 59) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 70 O limite construído: o muro Ilustração 36 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 59) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 71 O limite construído: o muro 3.2. MERCADO MUNICIPAL DE BRAGA / ESCOLA DE DANÇA – SOUTO MOURA O projecto da autoria do arquitecto Eduardo Souto Moura com a colaboração dos arquitectos João Mesquita e Manuel Fernandes Sá, surge no âmbito de um pedido efectuado pela Câmara Municipal de Braga em 1980, à equipa Cooperativa de Estudos de Arquitectura, Planeamento e Engenharias (CEAP), tendo como objectivo a construção de um novo Mercado Municipal para cidade de Braga. Em 1999, após um longo período de desactivação e consequente degradação, surge um novo pedido igualmente elaborado pela Câmara Municipal de Braga ao arquitecto Eduardo Souto Moura, tendo como objectivo a reabilitação, requalificação e adaptação de usos do antigo Mercado a Escola de Dança. Mercado Municipal de Braga [1980-1984]. O sítio era aquele e só aquele. Uma quinta murada encravada na cidade. No centro do terreno, uma colina. No topo uma casa. Era o encontro de dois caminhos, eixos octogonais do terreno que o ligavam à cidade. Se o encontro era ali, na casa, o mercado ficou lá. Se o caminho era a direito, o mercado pousou lá. Pousou de nível entre dois muros de suporte. Por fora o sítio mexeu pouco. Por dentro é, ao passar, escolher entre os pilares. (Souto Moura, 2012). É desta maneira que o autor descreve o sítio e as suas intenções. Uma breve explicação que nos situa apenas naquele sítio, as condições topográficas do terreno e a sua envolvente próxima, um eixo de ligação da cidade, um percurso já marcado pela circulação diária habitual, um rasgo natural, enfatizado pela presença de dois extensos muros, sendo entre muros que pousa o mercado, adoçado ao terreno, moldado ao contexto, marcando uma nova presença a partir dos limites físicos construídos. Neste sentido, e através das características preexistentes, tornou-se relevante para o autor analisar o funcionamento e organização da cidade e o consequente crescimento urbano da mesma, assim como os diferentes usos e apropriações do espaço. “La nueva ciudad usaba la anterior como referencia y memoria en la construcción de sus partes.” 77 (Souto Moura apud Hipólito, 2002, p. 222). Memórias e referências que viabilizam e justificam a funcionalidade das coisas. 77 A nova cidade usava a anterior como referência e memória na construção das suas partes. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 72 O limite construído: o muro Contexto O Mercado situa-se numa zona habitacional, no Bairro do Carandá em Braga, num terreno paralelo à Av. João XXI, via com movimento viário significativo, ladeado a nascente pela Av. 31 de Janeiro e a poente pelo Bairro Araújo Carandá. O terreno, de forma rectangular, caracteriza-se pela existência de dois extensos muros de pedra que marcam o eixo longitudinal de desenvolvimento da proposta, e por um percurso transversal, no sentido norte-sul, que faz a ligação à ruína existente no topo da colina. Projecto O edifício, implementado ao longo do rectângulo, organiza-se em dois eixos perpendiculares. Um longitudinal, orientado nascente-poente, mantendo o percurso existente intramuros, outro transversal, orientado norte-sul, marcado pela existência de três muros paralelos, intensificando a presença da ruína preexistente. As áreas programáticas são distribuídas em dois corpos, dispostos ao longo do eixo longitudinal com orientação nascente/poente. A organização interna do mercado permite a distribuição das bancas do piso térreo, ao longo de uma passagem central (rua coberta), possibilitando uma continuidade espacial, e clarificando as intenções do autor em adaptar a função do edifício ao território, em manter a situação preexistente de circulação, bem como a união de dois pontos da cidade ao longo do eixo longitudinal. A zona central é pontuada pela existência de duas filas paralelas, compostas por sessenta e quatro pilares, acentuando o ritmo do percurso e a própria organização dos vários espaços/módulos. O primeiro corpo do lado poente com duplo pé-direito apresenta uma disposição linear contínua das bancas ao longo de um percurso central, e um percurso superior em galeria que permite um contacto visual constante com o piso inferior. O segundo corpo, do lado nascente, é ocupado pelas áreas de serviços, lojas e cafetaria. O mercado é o resultado de um só gesto contínuo. Uma tentativa de estruturar o crescimento da cidade. Um gesto claro, marcado pela existência de dois muros longitudinais e três transversais, que articulam todo o espaço interior e acentuam a presença do mercado naquele território. O muro surge como elemento estruturante dos percursos existentes, assim como o próprio mercado surge da necessidade visível de ligar dois pontos isolados da cidade. Neste sentido, serão os muros a indicar as direcções do projecto, a indicar os pontos de entrada no edifício pela marcação dos pontos de transição entre cotas, funcionando também como indicadores e anunciadores das preexistências, neste caso, ruína no centro do terreno. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 73 O limite construído: o muro A imagem exterior é caracterizada pelos planos verticais e horizontais que não se intersectam, e pela distinção visível dos materiais aplicados. O branco contrasta com a textura enrugada dos muros de granito. O contraste entre estes dois princípios realça a expressão geral da obra e a sua adequação ao sítio. Os alçados, nascente e poente, destacam os remates de topo dos dois muros que marcam o eixo longitudinal do edifício, ultrapassando os limites que conformam o espaço interior. A estrutura maciça realçada pela presença dos muros, e a integração de outros materiais distintos, realça o contraste intencional pretendido que caracteriza todo a obra. A presença dos muros, e a sua extensão, conferem ao edifício o carácter de rua, sendo este carácter de rua, fundamental para validarideia inicial, a presença dos muros é encarado como tema central na composição do espaço. A sucessão de pilares no interior suporta o plano horizontal em betão da cobertura, e estende-se para além dos muros exteriores que conformam o espaço, mas não o suportam, possibilitando a percepção dos pilares no exterior do edifício. Esta sucessão marca a vivência de um extremo ao outro do mercado, evidencia o ritmo contínuo ao longo do edifício, pontualmente interrompido pelos planos transversais, que vão marcando determinados acontecimentos pontuais. A existência dos pilares é determinante para toda a compreensão e leitura da obra, na medida em que permite a clara separação do plano horizontal da cobertura em relação aos muros verticais que conformam o espaço, que, apesar de elementos definidores do espaço, surgem como elementos fundamentais e funcionais na estrutura aplicada, o que demostra a coerência unitária entre forma e estrutura, justificando o gesto e as intenções do autor. Desta maneira, será possível evidenciar a dupla leitura que a obra apresenta, em que os sistemas utilizados se fundem e complementam. O sistema maciço, que através dos muros, domina todo o espaço exterior, marcando a presença do mercado naquele sítio específico, e ainda, enquanto elemento organizador do percurso/ ideia, e o sistema pontual, marcado pela existência da sucessão de pilares, que dominam o espaço interior, organizando os elementos compositivos do espaço, um com capacidade de gerar percursos, outro de criar e apontar momentos de paragem. Dois momentos que caracterizam e clarificam a compreensão do espaço, que funcionando em paralelo, revelam as intenções do autor. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 74 O limite construído: o muro “[…]. Fundamentalmente, podemos concluir que el Mercado será una calle, o, si queremos, dos calles paralelas, donde alternadamente se comprarán los tres productos fundamentales: las hortícolas, las carnes y los pescados. Tales recorridos prolongan y dan sentido a ejes ya existentes o proyectados, de ahí la importancia a tener en el arreglo de los espacios libres, de ahí no haber proyectado un Mercado para una parte 78 de la ciudad, pero si una parte de la ciudad que también es Mercado”. (Souto Moura apud Hipólito, 2002, p. 224). Mercado cultural do Carandá: Escola de dança [1999-2001]. Quando há vinte anos projectei o mercado, a ideia era fazer uma rua coberta, um fragmento de cidade capaz de propor uma malha urbana. Essa malha aconteceu, aconteceu demais, e o mercado abafou entre escolas, discotecas e uma desenfreada especulação imobiliária. Ao longo deste tempo, nas várias visitas que fiz à ruína, constatei que o mercado era usado como ponte, como rua, atravessamento necessário entre dois eixos da cidade. Neste projecto proponho retirar a cobertura, desenhar um jardim, uma rua e construir o programa "cultural" no pouco que ainda sobra. Hoje morreu Aldo Rossi. Não posso deixar de falar do seu texto, base para este projecto, da inversão de uso, de escala, do Palácio de Diocleciano em Split. (Souto Moura, 2012). O tema da ruína surge a partir do reconhecimento deste elemento, como ferramenta metodológica natural de transformação das coisas, tornando-se num meio operacional útil, bem como num mecanismo que tendencialmente viabiliza um vasto leque de novas possibilidades. Ou, por outro lado, quando o objectivo é a preservação de uma determinada coisa, existirá uma preocupação pela fixação temporal dos objectos ou lugares. As mudanças, crescimento ou alterações dos lugares são factos incontestáveis e necessários, contudo, estas mudanças poderão partir de preexistências, de ruínas, proporcionando uma continuidade lógica, articulando o novo e o antigo, garantindo uma maior adequação à envolvente. O projecto de reconversão do antigo Mercado Municipal de Braga demostra precisamente esta preocupação, em que os elementos estruturais, tendencialmente resistentes ao tempo, marcam uma expressão subsequente. Uma ideia que funcionou e deverá ser mantida, uma ideia de preexistência, que opera como antecipação de uma determinada conclusão futura. Se foi encontrada uma necessidade anterior em manter o eixo de circulação preexistente, apoiada na transformação de uma parte da cidade em mercado, e daí tenha surgido a ideia da rua coberta que realmente funcionou, então, esta deverá ser mantida. 78 […] Fundamentalmente, podemos concluir que o mercado será uma rua, ou, se quisermos, duas ruas paralelas, onde alternadamente se comprarão os três produtos fundamentais: as hortícolas, as carnes e os peixes. Esses percursos prolongam e dão sentido aos eixos já existentes ou projectados, daí a importância de os manter em conformidade com os espaços livres, daí não ter projectado um mercado para uma parte da cidade, mas sim uma parte da cidade que também é mercado. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 75 O limite construído: o muro A nova proposta surge em conformidade com a ideia inicial, adaptando um novo programa à situação actual do sítio e às novas necessidades da própria cidade. A proposta é organizada em três partes, relacionadas entre si, a partir de dois percursos; um longitudinal, de orientação nascente/poente; e outro, com a mesma orientação, que funciona a uma cota superior, possibilitando uma visão geral da totalidade da obra. A opção pela manutenção dos pilares que anteriormente marcavam um ritmo no interior do edifício intensifica a imagem pictórica do percurso que agora se faz exteriormente, após a remoção da cobertura. Um percurso que actualmente é caracterizado pelo jardim pontuado pelos pilares preexistentes e pela nova imagem que estes apresentam, quase natural, conferida pela exposição da armação interna em cabos de aço. Um percurso, sustentado pela integração de uma zona de pequenas actividades comerciais, enriquecendo o novo programa cultural da obra. A terceira parte do projecto inclui a Escola de dança, dispondo todo o programa num piso único, organizada a partir de uma sucessão de pátios interiores ajardinados, que se prolongam até à cobertura do bloco, enfatizando a ideia da colina preexistente. Apesar desta nova utilidade do espaço, continua a ser possível a percepção e o sentido do antigo mercado e a sua clara organização, tornando notório o confronto existente entre o antigo e o novo, num gesto intencional em manter determinados princípios compositivos do espaço. O novo projecto em contraste com a ruína, partindo da articulação lógica dos diferentes elementos. “[…] la idea es la de recuperar el sentido físico de la preexistencia - la comprobación de su uso como recorrido peatonal – y el sentido conceptual de la atmósfera de esa misma preexistencia - la comprobación de la ruina y el ambiente húmedo creado en el microcosmos interior.” 79 (Hipólito, 2002, p. 227). Um projecto que numa fase inicial se concentra nas características e qualidades do sítio, permitindo uma leitura fluída proveniente da maneira como as várias partes compositivas se organizam, formando um todo coerente, onde os limites espaciais arquitectónicos, coincidem com a linha material, determinado pelos muros presentes em toda a sua extensão. Um gesto que proporciona a compreensão dos seus limites, e consequentemente, o reconhecimento da diferenciação espacial aplicada. Nesta 79 [...] a ideia de recuperar o sentido físico da preexistência – a comprovação do uso enquanto percurso pedonal – e o sentido conceptual da atmosfera dessa mesma preexistência – a comprovação da ruína e o ambiente húmido criado no microcosmos interior. (Tradução nossa). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 76 O limite construído: o muro obra são evidentes as qualidades mutáveis do contexto, em que as suas características tornam possível a percepção do objecto arquitectónico. Por outro lado, se observarmos a segunda fase da obra, apesar da aparente mudança, quer de usos, quer da própria imagem que esta adquire, continua a ser possível observar o conjunto de preocupações iniciais, permitindo uma coerência nas várias escolhas e intenções geradoras do projecto. É igualmente notória a evolução lógica que a obra apresenta, que poderá ser lida como sendo o resultado de uma formalização de linguagem, uma nova capacidade de resposta a um novo problema, reunindo elementos, materiais e técnicas visíveis em projectos anteriores. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 77 O limite construído: o muro Mercado Municipal de Braga Ilustração 37 - Acto de Marcar, esquiço, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2000, p. 315) Ilustração 38 - Vista aérea, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 18) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 78 O limite construído: o muro Ilustração 39 - Topo Poente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 20) Ilustração 41 - Topo Nascente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 20) Ilustração 42 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p.24) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço Ilustração 40 - Axonometria, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013) 79 O limite construído: o muro Ilustração 43 - Plantas dos pisos, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 80 O limite construído: o muro Ilustração 44 - Corte transversal, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013) Ilustração 45 - Vista da galeria superior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1990, p. 23) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço Ilustração 46 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1990, p. 24) 81 O limite construído: o muro Escola de Dança Ilustração 47 - Axonometria, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2002, p. 316) Ilustração 48 - Topo Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço Ilustração 49 - Vista do jardim, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) 82 O limite construído: o muro Ilustração 50 - Detalhe muro, entrada, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração, nossa 2013) Ilustração 51 - Percurso de entrada, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 52 - Vista superior, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 83 O limite construído: o muro Ilustração 53 - Plantas, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992, p. 179) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 84 O limite construído: o muro Ilustração 54 - Cortes, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992, p. 182) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 85 O limite construído: o muro Ilustração 55 - Percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 56 - Vista superior, percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 86 O limite construído: o muro 3.3. FAROL MUSEU DE SANTA MARTA – AIRES MATEUS Entre a terra e a água, ao longo de uma faixa de território em permanente mudança ao longo dos tempos, a intervenção humana tem sedimentado as mais variadas ocupações. Desde o século XVII até à actualidade, a sobreposição de diferentes vontades para este lugar, os recursos materiais e tecnológicos de cada momento, e a disponibilidade do património herdado, concorrem para uma sucessão de adaptações e de adições. Apesar disso, o conjunto engloba unidades arquitectónicas de leitura inequívoca, dispostas segundo princípios organizativos ainda bem claros. O estado de adulteração e decadência de uma parte do conjunto é resultado de um processo de selecção natural, que o projecto procura reverter em seu favor. Identificando os elementos de maior perenidade ou de maior carga poética, a proposta reconstrói com eles e a partir deles uma ordem primeira, que engloba a memória do tempo decorrido e viabiliza o novo uso. (Mateus, 2013). O projecto de recuperação e remodelação do Forte e Farol de Santa Marta, da autoria dos arquitectos Francisco e Manuel Aires Mateus, “[…] parte de uma leitura da linha da costa, entre o Cabo da Roca e Lisboa.” (Mateus, 2007, p. 8), a linha que evidencia a fronteira natural existente entre a topografia marítima e a topografia terrestre. Uma fronteira em constante mutação devido a um conjunto de factores, como as marés e o modo como aquele território tem vindo a ser ocupado e transformado ao longo do tempo. No seguimento desse estudo, foram escolhidos pelos arquitectos alguns exemplos ao longo da linha da costa, que seguissem uma ocupação semelhante, como o Forte do Guincho, o Forte de Santo António da Barra, o Forte de S. Julião da Barra, a Torre de Belém e o edifício de controlo de tráfego marítimo do porto de Lisboa, de maneira a perceber o comportamento dessa fronteira, mediante as diferentes implantações referidas. (Mateus, 2007, p. 10 – 12). Desde logo pareceu-nos evidente o enorme apelo romântico do Forte e do Farol, certamente acentuado pela sua condição de ruína. Interessava-nos perceber como é que poderíamos operar com esta condição muito interessante e apelativa. A força daquele conjunto estabelece-se a partir da relação da muralha e do Farol com o mar, com a pequena baía e com a Casa de Santa Maria, projectada há cerca de 100 anos pelo Arquitecto Raul Lino. (Mateus, 2007, p. 14). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 87 O limite construído: o muro Junto à Ribeira dos Mochos, eleva-se o Forte de Santa Marta, provavelmente “[…] edificado ainda na década de 40 do século XVII, sob a égide de D. Luís Meneses, governador da praça de Cascais.” (Barros, 2001, p. 151). Adoçada à topologia do terreno, o antigo Forte estava organizado em três momentos distintos, onde se destacava um “[…] pequeno quartel-paiol e uma muralha que suportava a bateria alta, virada a sul.” (Mateus, 2007, p. 16). Um espaço exterior amplo construído com o intuito de “[…] impedir a aproximação de armadas inimigas à zona da baía." (Barros, 2001, p. 152). Na segunda metade do século XVIII, o edifício sofre algumas transformações, nomeadamente a construção de uma nova muralha e uma outra bateria direcionada a Nascente, reorganizando os diferentes espaços nela integrados. Após terem sido desactivadas as suas funções militares, é construído em 1868, “[…] sobre a bateria alta do Forte de Santa Marta, o primeiro Farol.” (Mateus, 2007, p. 16). Comportando uma nova funcionalidade e “[…] alterando o significado deste ponto na entrada do Tejo.” (Mateus, 2007, p. 16). O Farol, uma torre quadrangular inicialmente com oito metros de altura, que em 1936, é ampliada, “[…] assumindo a dimensão e a imagem que ainda hoje apresenta.” (Mateus, 2007, p. 16). “O nosso projecto parte das condições encontradas no sítio e também de uma leitura atenta do seu processo histórico, procurando esclarecer cada uma das subtracções e adições construídas nos últimos quatro séculos naquele lugar.” (Mateus, 2007, p. 20). Esta definição associa um conjunto de elementos e premissas indispensáveis para a leitura e entendimento da obra. O sentido dos elementos representativos, a integração dos sistemas e materiais utilizados adquirem um papel integrante em todo o contexto da realidade próxima, onde são visíveis os modos como o espaço é conformado e organizado. O Forte e Farol de Santa Marta é um dos elementos inseridos no alinhamento da entrada norte da barra do rio Tejo. Implantado na margem direita da foz da ribeira dos Mochos, na Ponta de Santa Marta, sobre um maciço rochoso, em constante mudança ao longo dos tempos, à qual se adapta a própria estrutura da fortificação num terreno com 1750 m2. Limitado a norte pela casa de Santa Maria, da autoria do arquitecto Raúl Lino80, a nascente pela Marina de Cascais, a sul por mar e a poente pelo Hotel Farol Design do arquitecto Carlos Miguel Dias81. 80 Raúl Lino (1879 – 1974). Arquitecto português. Estudou arquitectura na Alemanha. Em Hanover frequentou a Escola de Artesanato e a Escola de Artes e Ofícios, assim como o Instituto Superior Técnico. O seu trabalho no estúdio de Albrecht Haupt, foi de especial importância na sua carreira. Em 1899 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 88 O limite construído: o muro Projecto O desenvolvimento do projecto tem por base a compreensão de três factores distintos, o restauro directo dos elementos mais relevantes, a clarificação do processo histórico do contexto e do próprio conjunto, e ainda a criação de um novo edifício de maneira a viabilizar a adaptação do Forte e Farol a museu dos Faróis. O primeiro tem como objectivo a conservação da imagem antiga e dos elementos compositores, como os azulejos, guardas, varandins e as muralhas originais. “Um legado patrimonial significativo, feito de formas, espaços e sistemas construtivos.” (Mateus, 2007, p. 34). O segundo permite a clarificação da identidade histórica do lugar e o processo evolutivo que o conjunto apresentou ao longo do tempo. “Um processo histórico próprio, legível na morfologia e estado actual do edifício.” (Mateus, 2007, p. 34). O terceiro envolve a construção de um novo espaço, atribuindo-lhe novas funções programáticas. “Uma lúcida visão do futuro expressa no programa preliminar do concurso.” (Mateus, 2007, p. 34). Neste sentido, o programa é distribuído, incorporando os espaços de museu nos corpos preexistentes, e as áreas técnicas (instalações sanitárias, cafetaria, recepção, ponto de venda de publicações e posto de segurança) que são posteriormente distribuídas pelo novo “edifico-muro”, de maneira a garantir a “[…] leitura autónoma dos vários objectos.” (Mateus, 2007, p. 24), articulando as várias partes num todo coerente e realçando as qualidades do sítio enquanto fronteira entre a terra e o mar. Estas características tornam clara e visível a relação existente entre os vários elementos constituintes do conjunto. projectou um pavilhão para a Exposição Universal de Paris de 1900. Em 1911 em Berlim, tirou um curso de Arte Gráfica e Decorativa. Os valores tradicionais e nacionais tiveram grande influência e fizeram parte da sua formação nos últimos anos do século XIX, e principalmente em Portugal, onde a industrialização começou tarde. O arquitecto queria revelar as verdadeiras raízes portuguesas da “Casa Portuguesa” e mantê-las longe das influências de outras orientações estilísticas que não tinham a ver com o espírito português. Para se aproximar o mais possível deste objectivo, utilizava nas suas obras materiais por ele criados, como azulejos vidrados, vitrais, telhas, vinhetas e mobiliário caracteristicamente português. 81 Carlos Miguel Dias (1957 - ). Arquitecto. Licenciado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1983. Frequentou entre 1978 e 1980 a École Superior de Beaux Arts de Bruxelas. Colaborador e posteriormente co-autor em diversos projectos no atelier do arquitecto João Luís Carrilho da Graça entre 1983 e 1987. Professor assistente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa entre 1986 e 1994. Assessor em regime liberal para a Arquitectura e Urbanística da Presidência da Câmara Municipal de Lisboa entre 1988 e 1989. Colaborou no projecto do Noga-Hilton Hotel Lisboa entre 1989 e 1996, e no projecto do El Cort Inglês em Lisboa entre 1998 e 2001. Professor auxiliar na Universidade Moderna, Pólo de Setúbal, departamento de arquitectura, desde 1998 na disciplina de projecto. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 89 O limite construído: o muro Desta maneira, a proposta pretende clarificar e recuperar a estrutura de muros original que caracteriza todo o sistema responsável pela limitação do terreno e ainda a composição volumétrica edificada composta pelo Farol e pelos quatro corpos préexistentes. A integração do novo edifício – muro habitado – tem como objectivo acolher a nova área programática de museu. A estratégia adoptada, é gerada a partir da articulação dos cinco corpos isolados, envolvidos pelos muros periféricos e reforçada pela integração do novo programa e pela escolha dos materiais. Deste modo, será mantida a funcionalidade anterior do Farol, incluídos os espaços expositivos nos quatro corpos originais, e integrado um novo corpo – muro habitado – ocupado pelas áreas de apoio. A planta poligonal irregular é composta por duas plataformas a níveis altimétricos diferentes. O muro alto adossado ao território encontra a plataforma mais baixa, articulando os três edifícios antigos e o novo, e na plataforma mais elevada ergue-se o Farol, com torre de planta quadrangular, com aproximadamente vinte metros de altura. A própria natureza dos materiais revela-nos a relação estabelecida entre o novo e a construção preexistente. A pedra lioz que antigamente revestia os pavimentos das duas baterias (plataformas) é novamente utilizada com a mesma função. A utilização de azulejos no revestimento exterior do Farol é mantida, assim como nos restantes corpos pré-existentes. As muralhas e o novo “edifício-muro” são rebocados e pintados a branco. Interiormente, as paredes dos três edifícios preexistentes, que constituem os espaços museológicos, são pintadas a preto, assim como o pavimento de madeira. O novo edifício, denominado “edifício-muro”, integra quatro corpos poligonais, com um limite definido por um eixo visual desde o vértice mais próximo do edifício antigo, até ao portão da entrada. Apesar de ter uma leitura exterior continua, não apresenta qualquer ligação interior entre os quatros espaços. “A implantação, a forma e a abertura de vãos do novo edifício propõem uma relação com a linha de fronteira entre a terra e o mar, virando costas aos edifícios vizinhos a poente.” (Mateus, 2007, p. 30). O edifício é constituído sob um sistema estrutural de paredes portantes, com lajes de betão armado, revestido a soalho de pinho americano. O acabamento superior interior, com tecto falso em placas de gesso cartonado e paredes interiores pintadas a branco. A cobertura plana do edifício e o desenho recortado que este apresenta intensifica o seu carácter de muralha e enfatiza a sua espessura, permitindo uma leitura contínua dos limites físicos do espaço. O desenho e espessura da muralha são reproduzidos no novo edifício, evidenciando as semelhanças existentes entre este elemento e o Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 90 O limite construído: o muro desenho natural das rochas que formam o primeiro limite entre a topografia marítima e terrestre. Esta obra promove, de maneira clara, o processo lógico utilizado, a partir de conceitos e ideias muito concretas, anunciando uma objectiva proximidade com o contexto. Uma obra intensificada pela presença do oceano e da acção de erosão que este provoca nas rochas, uma acção transportada para o desenho do novo edifício. A ideia do espaço, ou da relação que este estabelece com a matéria é aqui evidenciada, através da acção sugerida pelos elementos que o envolvem. O valor da preexistência realça as qualidades do sítio. “Aspira-se à reposição de uma ordem primeira, da fundação do edifício, que englobe a memória do tempo entretanto decorrido e que viabilize funcionalmente o novo uso como fiel depositário de sucessivas contemporaneidades.” (Mateus, 2007, p. 34). Aproximamo-nos da obra por uma rua estreita, rapidamente nos apercebemos da presença de um pequeno portão de aço, e ao fundo o mar. O portão perde-se logo num clarão de luz branca que nos direciona o olhar de maneira quase instintiva. Ao virar a esquina, o branco sobressai, a luz intensa dificulta a percepção das formas. Mas esta quase “cegueira” é cortada pelas perfurações da muralha, e aí vemos o mar. Ao primeiro olhar parece-nos um todo recortado, parcialmente aberto ao oceano. Mas a atenção leva-nos à percepção dos momentos de descontinuidade do espaço, descontinuidades marcadas por passagens e zonas de entrada. A sombra é o que nos direciona o olhar, seguimo-la de maneira quase imediata. Os passos levam-nos à descoberta das entradas. O percurso faz-se no exterior, um exterior branco de luz intensa. E entramos. O interior é escuro e todo preto. A completa antítese, um confronto brusco e propositado leva-nos à compreensão do programa exposto. Ao entrarmos no espaço, descansamos os olhos. No momento da saída somos novamente absorvidos pela luz intensa, refletida pelo branco dos materiais, aqui, o olhar é mais uma vez direccionado para a sombra, ao fundo vemos um pequeno conjunto de degraus que nos permitem a passagem ao nível superior. Ao subir, observamos novamente o mar, cortado pela presença do farol. Esta conformação e organização do espaço, permite-nos a consciencialização do carácter da obra, através dos pontos de vista, das formas, dos percursos, da alteração do ritmo e ainda através da lógica inerente aos limites físicos construídos. O espaço assim delimitado, integra um percurso ritmado e caracterizado pela própria expressão arquitectónica, do mesmo modo que em determinadas situações, existe um momento de paragem que nos dirige a atenção para o exterior, sobre uma paisagem marítima. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 91 O limite construído: o muro Uma arquitectura conformadora de ambientes e sensações, através da diferenciação de ritmos, cheio/vazio, luz/sombra, branco/preto…e ainda pela integração de elementos como a escala, o volume, a altura ou a textura. Todas elas responsáveis pela manipulação do limite e que de maneira mais ou menos evidente, afectam a nossa percepção, os nossos sentidos e a nossa emoção. Toma-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas, Penetram-me fisicamente o cais e a sua atmosfera, O marulho do Tejo galga-me por cima dos sentidos, E começo a sonhar, começo a envolver-me do sonho das águas, […]. (Álvaro de Campos). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 92 O limite construído: o muro Ilustração 57 - Esquiço, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 35) Ilustração 58 - Maquete projecto, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 26) Ilustração 59 - Vista exterior, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 93 O limite construído: o muro Ilustração 60 - Muralha bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 61 - Vista exterior, bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 62 - Muro habitado, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 94 O limite construído: o muro Ilustração 63 - Vista Bateria superior, Farol Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 64 - Espaço de transição entre pisos (baterias), Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 95 O limite construído: o muro Ilustração 65 - Planta, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 21) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 96 O limite construído: o muro Ilustração 66 - Corte transversal, Farol de Sta. Marta. (Aires Mateus, 2007, p. 22) Ilustração 67 - Corte Longitudinal, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 23) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 97 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 98 O limite construído: o muro 4. UM MODO DE CONSTRUIR LIMITE: O MURO. […]. Ao norte do rio está a cidade de Lisboa, no alto de um monte arredondado. […]. O alto do monte é cingido de uma muralha circular, e os muros da cidade descem pela encosta, à direita e à esquerda, até à margem do Tejo, dela, separado apenas pelo muro. Ao sopé dos muros existem arrabaldes alcandorados nos rochedos cortados a pique. […]. (Conquista de Lisboa aos mouros em 1147. Carta de um cruzado inglês, adapt., 2001, p. 96). 4.1. ART DISTRICT: GALERIA DE ARTE CONTEMPORÂNEA. O projecto surge na sequência do trabalho desenvolvido ao longo do 5º ano, na unidade curricular “Projecto III”, integrado no curso de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa e teve como objectivos o entendimento da cidade enquanto estrutura mutável, um sistema organizativo e gerador de espaço, adequado à vida urbana, assim como a utilização do contexto urbano e cultural, de modo a viabilizar a eficácia do programa pretendido, adaptando a análise do sistema urbano encontrado e as suas características, à arquitectura. Numa primeira fase, o projecto parte de uma leitura e análise da zona de Alcântara, das constantes transformações que tem vindo a sofrer ao longo do tempo, e no modo como está integrado na cidade. A segunda fase pretende a execução de uma galeria de arte contemporânea, partindo da leitura e análise anterior. Contexto Um limite construído enquanto cidade. Alcântara está profundamente relacionada com todo o processo de industrialização da cidade de Lisboa, apresentando um conjunto de características que lhe conferem uma enorme capacidade de promover este território enquanto zona cultural e artística. A sua situação de proximidade com o rio Tejo, e a sua integração nos eixos de transporte e infraestruturas, conferem a este território, uma enorme versatilidade de usos e vivências. Contudo, apesar da sua realidade geográfica, e das inúmeras intervenções que este território tem sofrido ao longo do tempo, Alcântara é igualmente caracterizado pela descontinuidade no seu tecido urbano, dificultando a sua leitura enquanto conjunto. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 99 O limite construído: o muro Deste modo, surge a proposta de qualificação e adaptação da Rua Vieira da Silva, a zona cultural e artística da cidade de Lisboa, procurando clarificar o seu processo histórico através das várias intervenções pedidas. A rua, orientada norte/sul, é plana. Com 13 metros de largo em toda a sua extensão. Caracterizada pela diferença de escalas dos edifícios, sendo que as fachadas orientadas a poente apresentam uma média de três a quatro pisos, e as orientadas a nascente são desenvolvidos apenas num piso, exceptuando o edifício no topo norte, consideravelmente mais alto. O lote, situado na Rua Vieira da Silva, está inserido num quarteirão limitado a poente pela Av. De Ceuta e a sul pela Av. 24 de Julho, ambas com um movimento viário significativo. O edifício em gaveto, com a fachada principal orientada a poente, para a rua Vieira da Silva, e a fachada lateral, orientada a sul, para a rua Arco de Alcântara, apresenta uma implantação base de geometria irregular, com uma área de 95,5 m2, 11,95 metros de altura, integrando três pisos, mais um em “águas furtadas”. Poderia dizer-te de quantos degraus são as ruas em escadinhas, como são as aberturas dos arcos dos pórticos, de quantas lâminas de zinco são cobertos os telhados; mas já sei que seria o mesmo que não te dizer nada. Não é disto que é feita a cidade, mas sim das relações entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do seu passado: […]. (Calvino, 1999, p. 14). Projecto A ponte de Alcântara era então muito extensa, tinha talvez uns dez arcos, e as suas guardas chegavam até ao alinhamento com a actual Rua Vieira da Silva, antigamente Rua do Assento. Ao sair da ponte o caminho virava a sul, e dava entrada na cidade por uma porta ou poterna na cortina que ligava os dois baluartes citados. Este caminho está hoje representado pela Rua Gilberto Rola e Rua do Arco de Alcântara, antiga Rua Velha. (Silva, 1968, p. 68). A imagem do baluarte, da fortificação, da muralha, e a situação anterior do território enquanto limite da cidade, originam a ideia inicial. A sucessiva adaptação do sítio ao constante processo de crescimento da cidade, assim como o seu carácter histórico, conduzem o projecto, dando uma possível resposta ao programa pretendido. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 100 O limite construído: o muro A imagem exterior não permite a percepção da organização do edifício. Um corpo completamente liso, de expressão austera, fazendo lembrar a imagem do baluarte, da fortificação, da muralha. A completa evidência do limite, que conforma e esconde todo o espaço interior. A única quebra nessa continuidade é o vão de acesso, este acontece através de uma abertura triangular na aresta do edifício ao nível da rua. A entrada é brusca, uma passagem sem obstáculos, directa. Uma entrada que nos coloca rápidamente em contacto com os objectos expostos. É este contacto constante que nos permite a percepção directa do espaço. No centro uma luz, tão directa que a tendência é não nos aproximarmos. Um centro livre, vazio. Um espaço branco contínuo, em que a sua leitura é cortada pela integração de rasgos negros que permitem o acesso vertical da proposta, acessos “escondido” no interior do muro limite. A antítese entre dois momentos, cheio/vazio, luz/sombra, preto/branco um de passagem outro de permanência. No interior, a articulação das áreas programáticas é feita a partir de um único percurso tangente aos limites do edifício, ao longo de um eixo vertical contínuo. Um eixo marcado por um vazio central como elemento de articulação dos vários níveis. As áreas programáticas são dispostas pelos vários pisos. No piso enterrado estão concentrados a zona de acervo e serviços. No piso de entrada acontece uma pequena cafetaria (copa) em toda a extensão do limite poente do edifício, assim como a área expositiva que se estende pelos pisos superiores. O terceiro piso é ocupado pela cafetaria que se prolonga e dá acesso à cobertura com terraço acessível. A funcionalidade do espaço pretende determinar toda a organização, relações e percursos da proposta, articulando as várias partes num todo coerente, a partir de um modo de representação comum a todo o projecto. A apreensão do objecto parte da identificação do esquema organizativo inicial, que determina a configuração do espaço através do confronto entre dois momentos distintos – circulação/ paragem, cheio/vazio, preto/branco. Uma ideia gerada pela noção de limite, que pela sua presença física, conforma todo o espaço envolvente, clarificando a diferenciação dos vários espaços que compõem o projecto e a relação que este mantém com o sítio. A primeira relação visível entre interior/exterior é notada através do vão de entrada, caracterizando-se como elemento fundamental de transição entre as duas realidades. Um elemento essencial na definição e compreensão dos elementos portantes e os elementos portados do projecto, através da percepção da espessura do limite exterior e da composição interior por ele gerada. Aqui, a introdução do limite físico adquire uma leitura de barreira murária, um limite que inicialmente surge como parte construída e Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 101 O limite construído: o muro se vai dissolvendo no interior do espaço, em que as suas qualidades expressivas e plásticas são determinadas pelo próprio desenho dos pisos ao longo de um vazio central contínuo. Esta noção permite uma clarificação da diferença entre o espaço contentor e o espaço contido, evidenciando as operações plásticas de conformação, a escolha dos materiais e a própria ideia geradora da proposta. A expressão do limite conformador do espaço, anuncia visualmente a sua presença através do caracter estereotómico que este adquire exteriormente. Por outro lado, a organização do espaço interior realiza-se a partir do vazio, contido no interior da caixa, gerado pela proporção relativa ao limite periférico. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 102 O limite construído: o muro Ilustração 68 - Esquema e axonometria, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 103 O limite construído: o muro Ilustração 69 - Zona do acervo, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Ilustração 70 - Vista central, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 104 O limite construído: o muro Ilustração 71 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011) Ilustração 72 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011) Ilustração 73 - Lanternim, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 105 O limite construído: o muro Ilustração 74 - Plantas P-1 e P0, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 106 O limite construído: o muro Ilustração 75 - Plantas P1 e P2, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 107 O limite construído: o muro Ilustração 76 - Plantas P3 e P4, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 108 O limite construído: o muro Ilustração 77 - Cortes C1 e C2, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 109 O limite construído: o muro Ilustração 78 - Corte C3 e C4, galeria. (Ilustração nossa, 2011) Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 110 O limite construído: o muro 5. CONCLUSÃO A presente dissertação pretende compor uma possível abordagem e aproximação ao complexo processo de projecto, a partir de um conjunto de factores, inerentes a um modo de pensar arquitectura. Um modo de pensar, um modo de ver e sentir. Porque estas faculdades permitem-nos estabelecer o nosso lugar no mundo, perante as coisas, perante os lugares, perante a própria arquitectura. Apesar de descrito por palavras, estas nunca devem existir isoladas. Devem ser acompanhadas pela experimentação das coisas. Uma experiência física e desenhada, que nos vai exercitando a memória e consequentemente os sonhos. E é através dos sonhos, da memória e do desenho, que surge uma possível imagem da arquitectura. Neste sentido, diante de um conjunto de elementos que nos colocam em permanente relação com os acontecimentos e com o que nos rodeia, surge uma ideia. Pensar arquitectura mediante os seus limites físicos construídos é uma ideia inicialmente trabalhada a partir dos diversos modos de representação, enfatizando a importância do desenho como arranque para essa primeira experiência que, de maneira contínua, vai transmitindo as intenções iniciais, tornando possível as primeiras decisões. Estas, viabilizadas a partir da integração dos materiais, vão revelando a importância do conhecimento das suas propriedades, características, funcionalidades e proveniências. Um gesto que enfatiza a clareza do primeiro traço, tornando a escolha num acto consciente e harmonioso. Um princípio que associa a sensibilidade, a experimentação e a intenção. Assim, surge um conjunto de relações que, de maneira encadeada, determinam uma qualquer composição. Uma composição gerada pelos diversos elementos que actuam na organização das coisas, dos lugares, dos espaços, da arquitectura. É o espírito da arquitectura que diz que ela não existe em absoluto…Isso é o que diz o seu espírito. Ele não conhece estilo, nem método. E está pronto para qualquer coisa. O homem, então, deve ter a humildade de oferecer algo, de fazer uma oferenda à arquitectura. (Kahn, 2002, p. 59). Não será então importante descrever a estrutura do método, mas sim, estudar o modo como as intenções são reveladas. E como, partindo desse modo de agir, surgem as Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 111 O limite construído: o muro ideias que, neste caso específico, serão ligadas ao modo de limitar o espaço, e as qualidades que esse espaço adquire a partir dessa opção. Uma opção traduzida pelo muro. Porque os muros marcam as origens do homem e das culturas. Perpetuam a passagem humana, transformando e marcando a paisagem por ele habitada. Acompanham a passagem do tempo, um vestígio de uma imagem da história. Enquanto elemento arquitectónico, o muro pode ser considerado de várias maneiras distintas. A sua versatilidade é notada a partir das suas características inatas, da capacidade que apresenta enquanto elemento estrutural, enquanto componente indispensável para a criação de espaço ou ainda, a partir da sua especificidade como instrumento fundamental para a organização e definição do limite físico. Pelas suas qualidades plásticas e pela sua expressividade. Porque a arquitectura nasce a partir de uma ideia. Uma ideia abstracta pertencente ao campo da imaginação, que se vai tornando cada vez mais concreta à medida que vão sendo aprofundados conhecimentos, intenções, visões e factos sobre o contexto, sobre os materiais, sobre o programa pretendido. No momento da sua materialização, da sua construção, a ideia passa a ser lida como arquitectura, e aqui, o imaginário passa a real, o abstracto torna-se concreto e cria emoção. O muro nasce da mesma maneira que a arquitectura, a partir de uma intenção concreta, de materiais intencionalmente escolhidos. Se no centro da arquitectura está o espaço, e se existe de facto uma necessidade de o limitar fisicamente, o muro enquanto limite físico, e todas as suas características, fazem dele um dos elementos basilares da arquitectura. Esta intenção concreta demonstrou-se fundamental para o processo de escolha das obras a analisar, obras de arquitectura que, de diferentes modos, evidenciam uma ideia lida a partir dos seus limites. A relevância dos limites construídos é transversal a cada uma. Surgem como opção natural adaptadas à complexidade das respostas a resolver. Uma escolha que, em cada caso, demonstra um conjunto de opções, enunciando uma determinada linguagem compositiva. Um limite táctil, que possibilita o toque, a experiência directa, que nos protege e envolve. Um limite que promove a expressão dos sentidos, e será a utilização desses Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 112 O limite construído: o muro sentidos, o factor responsável por ampliar o contacto que temos com as coisas, com os objectos e com a envolvente. Sentidos que captam informações sobre o aspecto, sobre o tempo, sobre o lugar. Interiorizam-se em cada um de nós, e enfatizam a relação que mantemos com o mundo. Desenvolvem uma capacidade de resposta e um diálogo directo entre o corpo e o objecto, entre a mente e a envolvente. Porque o limite físico, palpável, ajuda-nos a captar mais facilmente o espaço, a compreendê-lo melhor, a vivê-lo mais intensamente. E quando isto acontece, a arquitectura cria emoção. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 113 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 114 O limite construído: o muro REFERÊNCIAS ARNHEIM, Rudolf (1988) – A dinâmica da forma arquitectónica. Lisboa : Editora Presença. 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Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 120 O limite construído: o muro APÊNDICES Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 121 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 122 O limite construído: o muro LISTA DE APÊNDICES Apêndice A - João Luís Carrilho da Graça. Apêndice B - Eduardo Souto Moura. Apêndice C - Manuel Aires Mateus e Francisco Aires Mateus . Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 123 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 124 O limite construído: o muro APÊNDICE A João Luís Carrilho da Graça Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 125 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 126 O limite construído: o muro APÊNDICE A BIOGRAFIA João Luís Carrilho da Graça nasceu em Portalegre, Portugal em 1952. Arquitecto, licenciado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1977, tendo iniciado a sua actividade profissional nesse mesmo ano, como assistente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa até 1992. Foi professor na Universidade Autónoma de Lisboa a partir de 2001 e na Universidade de Évora a partir de 2005. Desempenhou ainda a função de professor visitante na Escola Técnica Superior de Arquitectura na Universidade de Navarra em 2005, 2007 e 2010. Tendo ainda sido convidado para seminários e conferências em diversas Universidades e Instituições internacionais. As suas obras receberam diversos prémios, nomeadamente, o título de “chevalier des arts et des lettres” pela república francesa em 2010, o “prémio pessoa” em 2008, o prémio da bienal internacional da luz - luzboa em 2004, a ordem de mérito da república portuguesa em 1999, e o prémio “aica” da “associação internacional dos críticos de arte” em 1992. Foi distinguido com o prémio “piranesi prix de rome” em 2010 pela musealização da área arqueológica da praça nova do castelo de são jorge, o prémio “fad” em 1999 e o prémio “valmor” em 1998 pelo pavilhão do conhecimento dos mares - expo’98, o prémio “secil” em 1994 pela escola superior de comunicação social de lisboa, e nomeado para o prémio europeu de arquitectura “mies van der rohe” em 1990, 1992, 1994, 2009, 2010 e 2011 este ano pela ponte pedonal sobre a ribeira da carpinteira e pela musealização da área arqueológica da praça nova do castelo de são jorge. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 127 O limite construído: o muro OBRAS 1987-1993 Escola Superior de Comunicação Social 1993-2008 1995-1999 Igreja de Sto António e centro paroquial, Portalegre Recuperação da ala Sul-Poente da Faculdade de Economia da Universidade Nova, Lisboa Sede do Instituto Politécnico de Lisboa 1995-2000 Casa “tapada”, Cabeço de Vide 1995-2001 Recuperação do interior do edifício da Universidade Autónoma, Lisboa 1996-1999 Pousada de juventude, Viana do Castelo 1997-2002 Ponte pedonal sobre o Esteiro de São Pedro, Aveiro 1997-2002 1998-2008 Centro de documentação e informação no Palácio de Belém, Lisboa Instalação da exposição de Michael Biberstein na galeria de arte Luís Serpa, Lisboa Cenografia para o programa televisivo “olhos nos olhos”, Lisboa Recuperação da antiga prisão e reconversão em biblioteca municipal “Álvaro de Campos”, Tavira Escola Superior de Música de Lisboa 1999-2006 Centro Cultural, Albergaria-a-Velha (com Inês lobo) 2000-2003 Centro comercial, Leiria 2000-2008 Teatro e auditório, Poitiers, França 2001-2006 2002-2008 Edifício de habitação na Rua do Quelhas, Lisboa Centro de controlo operativo da brisa, Carcavelos (com Flávio Barbini e maria João Silva Barbini) Casa Isabel e Julião Sarmento, Estoril, (com Anne Demoustier) Edifício de habitação na Travessa da Fábrica das Sedas - Amoreiras, Lisboa Edifício de habitação em Sanchinarro, Madrid, Espanha, (com Inês lobo) 2003-2009 Ponte pedonal sobre a ribeira da carpinteira, Covilhã 2003-2010 Ampliação e modernização da escola alemã de lisboa 2004 Edifício de habitação na rua do presidente Arriaga, Lisboa 2004-2009 Edifício de habitação “condessa do rio”, Lisboa 2005 2005-2008 Remodelação do pavilhão do conhecimento / ciência viva, Lisboa Instalação da exposição “do Palácio de Belém”, Palácio da Ajuda, Lisboa Casa “candeias”, são sebastião da giesteira, Évora 2005-2008 Museu do Oriente, Lisboa 2005-2008 Recuperação e valorização do Castelo de Campo Maior Remodelação do colégio dos moços da Sé de Évora - museu de arte sacra de Évora Instalação da exposição de Vik Muniz, no Museu da Electricidade, Lisboa 1994-1999 1998 1998 1998-2005 2002-2004 2002-2004 2002-2008 2005 2005-2009 2007 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 128 O limite construído: o muro 2007-2009 2008 2008 2008-2010 2009 Recuperação dos espaços afectos ao IPPAR do Mosteiro de Flor da Rosa, Crato Instalação da exposição “World Press Photo”, no Museu da Electricidade, Lisboa Cenografia para a peça de teatro “O presidente” de Thomas Bernhard, Almada Musealização da área arqueológica da praça nova do Castelo de São Jorge, Lisboa Instalação da exposição ”Antevisão do museu ibérico de arqueologia e arte de Abrantes”, igreja de Sta. Maria do castelo, Abrantes Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 129 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 130 O limite construído: o muro APÊNDICE B Eduardo Souto Moura Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 131 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 132 O limite construído: o muro APÊNDICE B BIOGRAFIA Eduardo Elísio Machado Souto de Moura nasceu no Porto, a 25 de Julho de 1952. Frequentou o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), e na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). No decurso da sua licenciatura colaborou no ateliê de Álvaro Siza Vieira entre 1974 e 1979. Em 1980, ano da conclusão da licenciatura, recebeu o seu primeiro prémio, atribuído pela Fundação Engenheiro António de Almeida, e iniciou a actividade de arquitecto. Em 1981 foi nomeado assistente do curso de Arquitectura da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), instituição onde leccionou até 1990 e à qual regressou, mais tarde, em 2003. Como grandes referências da sua obra devem referir-se, além de Siza Vieira (1933 -), os arquitectos Mies van der Rohe (1886-1969) e Aldo Rossi (1931-1997), as experiências californianas dos anos 50 e 60 (Craig Ellwood, Pierre Köning e as "case study houses"), a arte minimalista (Donald Judd e Sol Lewitt). Souto de Moura foi também influenciado por Bernardo Soares, um dos heterónimos do poeta Fernando Pessoa (1888-1935), por Roland Barthes (1915-1980), pensador e escritor francês, pelo pintor catalão Antoni Tapiès (1923-) e pelo artista alemão Beuys (1921-1986). Durante os anos oitenta e noventa do século XX, foi professor convidado de diversas faculdades e escolas de Arquitectura europeias: Faculdade de Arquitectura de ParisBelleville (1988), escolas de Arquitectura de Harvard e de Dublin (1989), ETH de Zurich (entre 1990 e 1991) e Escola de Arquitectura de Lausanne (Professor Convidado em 1994). Souto de Moura também tem trabalhado na área do design de produto e, em 2008, em conjunto com o artista plástico Ângelo de Sousa, participou na XI.ª Bienal Internacional de Arquitectura de Veneza, em representação de Portugal, com um projecto em coautoria intitulado "Cá fora. Arquitectura desassossegada." O primeiro Arquitecto a receber o prémio Pessoa não aprecia o relativismo e a desordem do mundo actual. Nos seus trabalhos procura criar uma paisagem exacta e respeitar a construção, a estrutura, a infraestrutura e os acabamentos das opções originais Em 2011, Souto de Moura tornou-se no segundo arquitecto português, depois de Siza Vieira (1992), a alcançar o Prémio Pritzeker de Arquitectura, o mais conceituado Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 133 O limite construído: o muro galardão nesta área, atribuído desde 1979 pela americana Hyatt Foundation aos maiores nomes da Arquitectura mundial, como Óscar Niemeyer (1988), Frank Gehry (1898), Norman Foster (1999) e Rem Koolhaas (2000). Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 134 O limite construído: o muro OBRAS 1980/1984 Mercado Municipal de Braga 1981/1991 Casa das Artes, Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, Porto 1982/1985 Casa 1 em Nevogilde, Porto 1983/1988 Casa 2 em Nevogilde, Porto 1984/1989 Casa na Quinta do Lago, Almansil, Algarve 1985 Ponte dell' Accademia, Bienal de Veneza, Itália 1986/1988 Anexos a uma habitação na Rua da Vilarinha, Porto 1987 Plano de pormenor para a Porta dei Colli, Palermo, Itália 1987/1989 Hotel em Salzburgo, Áustria (concurso em 1987, projecto em 1989) 1987/1991 Casa 1 em Miramar, Vila Nova de Gaia 1987/1992 Casa em Alcanena, Torres Novas 1987/1994 Casa na Avenida da Boavista, Porto 1988 Plano de pormenor e equipamentos para Mondello, Palermo, Itália 1989/1994 Casa no "Bom Jesus do Monte", Braga 1989/1997 Reconversão do Convento de Santa Maria do Bouro numa Pousada, Amares, com Humberto Vieira Casa na Maia 1990/1993 Casa em Baião 1990/1994 Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, Aveiro 1991/1995 Casa em Tavira, Algarve 1991/1997 Burgo Empreendimento – edifícios de escritórios e galeria comercial na Avenida da Boavista, Porto 1991/1998 Casa em Moledo, Caminha 1992/1995 Bloco de habitação na Rua do Teatro, Porto 1992/2001 Biblioteca infantil e auditório para a Biblioteca Pública Municipal do Porto 1993/1999 Casa-Pátio, Matosinhos 1993 Reconversão do edifício da Alfândega Nova do Porto no Museu dos Transportes e Comunicações/Centro de Congresso e Exposições 1993/2004 Remodelação e valorização do Museu Grão Vasco, Viseu 1994/2001 Uma moradia com três habitações na Praça de Liège, Porto Casa na Serra da Arrábida, Azeitão 1994/2002 Casa em Cascais Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 135 O limite construído: o muro 1995/2004 Plano de pormenor do novo Centro Direccional da Cidade da Maia 1995/1998 Projecto de Conteúdos do Pavilhão de Portugal – Expo' 98, Lisboa 1995/2002 Reconversão da Faixa Marginal de Matosinhos Sul, Matosinhos 1996/1997 Projecto de interiores para a Pousada de Santa Maria do Bouro, Amares 1997 Projecto de arquitectura para o Metro do Porto, Grande Porto 1997/1999 Projecto de interiores para os Armazéns do Chiado, Lisboa 1997/2001 Habitação Colectiva, Maia 1997/2001 Conversão do Edifício da Cadeia da Relação do Porto em Centro Português de Fotografia Remodelação do Mercado de Braga 1998/1999 Galeria "Silo" no NorteShopping, Matosinhos 1998/2003 Casa do Cinema Manoel de Oliveira, Porto 1999/2000 Co-autor do projecto do Pavilhão de Portugal na Expo 2000 com Siza Vieira, Hanôver, Alemanha 2000 Ampliação da Biblioteca Municipal do Porto 2000/2003 Estádio Municipal de Braga para o Euro 2004 2001/02 2 habitações unifamiliares, Ponte de Lima 2 habitações unifamiliares, Maia Reabilitação do Centro Histórico de Valença, Valença do Minho 2002 Restaurante Sul na Marginal de Matosinhos 2.ª Fase da Faixa Marginal de Matosinhos Sul Habitação unifamiliar na Quinta da Borralha, Braga 2002/06 28 habitações unifamiliares na Avenida da Boavista, Porto Centro de Arte Contemporânea – Museu de Arte Moderna da Bragança Habitação unifamiliar em Girona, Llábia, Barcelona (Espanha) Edifício Sede da Metro do Porto, Porto 2003 Co-autoria do projecto para a Estação do "Município – Linea1", com Siza Vieira, Nápoles, Itália Co-autoria com Siza Vieira do Projecto de Arquitectura da Linha de Metro da Boavista, Porto Co-autoria com Siza Vieira do projecto de Cafetaria da Rotunda da Boavista, Porto 2004 Plano de Pormenor para S. João da Madeira Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 136 O limite construído: o muro Habitações unifamiliares em Óbidos Co-autoria com Atelier Terradas i Muntanola – Centro Residencial e de Serviços de La Pallaresa, Barcelona (Espanha) Co-autoria com Siza Vieira do Serpentine Gallery Pavilion, nos Kensington Gardens, Londres Co-autoria com Siza Vieira do projecto de Reformulação da Avenida dos Aliados Casa das Histórias Paula Rego, Cascais 2005 Projecto de Arquitectura para "Escola de Música", Braga Edifício de escritórios para a Novartis, Basileia (Suíça) Conjunto habitacional para "Bernia Golf Resort" Alicante (Espanha) Projecto de Arquitectura do Crematório de Kortrijik (Bélgica) Projecto para a "Casa do Professor", Cascais 2006 Requalificação das margens da Lagoa das 7 Cidades, S. Miguel, Açores 2 habitações unifamiliares em Ibiza (Espanha) Edifício Burgo, Porto Reconversão do Convento das Bernardas em habitações (Tavira) Edifício de escritórios para Edemi Gardens, Porto Habitação colectiva no Vale de Santo Amaro, Alcântara, Lisboa Adega na Mealhada Plano de Pormenor e Novo Edifício dos Paços do Concelho, Trofa 2007 Torre em Benidorm (apartamentos e Hotel), Espanha Espaço Miguel Torga, Sabrosa Projecto de Requalificação Urbana do Centro Histórico da Ribeira Grande, Açores, em co-autoria com Adriano Pimenta Stand para a "Foz Banho" destinado à exposição "Oporto Show", Porto Co-autoria com Nicola di Battista para o centro de acolhimento e museu no Castelo di Abatemarco, Santa Maria del Cedro (Itália) Reconversão da "Pensão Monumental" em habitação, Porto 2008 Coliseu de Viana do Castelo Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 137 O limite construído: o muro Prémios e distinções 1980 Prémio Fundação Engenheiro António de Almeida 1981 1.º Prémio no concurso para o Centro Cultural da S.E.C., Porto 1982 1.º Prémio no concurso para a reestruturação da Praça Giraldo, Évora 1984 Prémio Fundação Antero de Quental 1986 1.º Prémio no concurso para os Pavilhões C.I.A.C. 1987 1.º Prémio no concurso para um Hotel, Salzburg 1990 1.º Prémio no concurso "IN/ARCH 1990 para a Sicília" Prémio SECIL de Arquitectura 1992 1.º Prémio para a Construção de Auditório e Biblioteca Infantil da Biblioteca Pública Municipal do Porto 2.º Prémio no concurso "A Pedra na Arquitectura", Prémio Secil de Arquitectura – Menção Honrosa para a Casa de Miramar 1993 1995 Prémios Nacionais de Arquitectura – Menção Honrosa para o Centro Cultural da S.E.C. e Casa de Alcanena Prémio Internacional da Pedra na Arquitectura para a Casa em Braga, Feira de Verona Prémio Anual da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte 1996 Nomeado para o "Premio Europeo de Arquitectura Pabellón Mies van der Rohe" Finalista do Prémio IBERFAD com a Pousada de Santa Maria do Bouro 1998 1.º Prémio da 1.ª Bienal Ibero-americana com a Pousada de Santa Maria do Bouro Prémio Pessoa/98 1999 Menção Honrosa "Pedra na Arquitectura" para a Pousada de Santa Maria do Bouro, Prémio de Opinião, Prémios FAD, Silo Cultural no NorteShopping 2001 Prémio Heinrich-Tessenow-Medal in Gold 2002 Finalista na III Bienal Ibero-americana de Arquitectura y Ingenieria Civil, Casas Pátio em Matosinhos 2003 Menção Honrosa "Pedra na Arquitectura" para o projecto da Faixa Marginal de Matosinhos Sul Finalista dos Prémios FAD de Arquitectura e Interiorismo 2004, com o projecto "2 Casas em Ponte de Lima" 2004 Prémio del Jurado de la Opinión dos Prémios FAD de Arquitectura e Interiorismo 2004 Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 138 O limite construído: o muro Prémio Secil de Arquitectura Finalista do "Prémio Europeu de Arquitectura Pabellón Mies van der Rohe 2004", com o Projecto do Estádio Municipal de Braga 2005 Prémio FAD de Arquitectura, Barcelona, com o projecto do Estádio Municipal de Braga, Medalha de Ouro para o Estádio Municipal de Braga – IAKS –International Association for Sports and Leisure Facilities, Colónia, Alemanha Finalista do 1.º Prémio de Arquitectura Ascensores Enor, com o projecto "Casa do Cinema Manoel de Oliveira" 1.º Prémio no concurso para um crematório em Kortrijik, Bélgica Prémio Internacional de Arquitectura do Chicago Athenaeum Museum, para o Estádio Municipal de Braga Menção Honrosa na categoria de "Melhor Janela" – Estádio Municipal de Braga, atribuído pela Associação Espanhola de Fabricantes de Janelas e Fachadas Ligeiras (ASEFAVE) – Veteco na Feira de Madrid, Espanha 2006 Prémio FAD "Ciutat i Paisatge" com o Projecto "Metro do Porto" Finalista para obtenção do Prémio de Obra de Arquitectura com o Estádio Municipal de Braga na V Bienal Ibero-americana de Arquitectura e Urbanismo Prémio de Arquitectura Ascensores Enor com o Projecto do Metro do Porto (ex-aequo com o Centro Cultural de Artes de Sines, de Manuel e Francisco Aires Mateus) Membro honorário do Instituto Americano de Arquitectos 2007 Prémio carreira da Academia Nacional de Arquitectura da Sociedade de Arquitectos Mexicanos Prémio Internacional de Arquitectura para a Torre Burgo, atribuído pelo Chicago Athenaeum Museum 2008 2011 Membro internacional da RIBA (Royal Institute of British Architects), finalista dos Prémios FAD de Arquitectura e Interiorismo 2008 com a "Burgo – Empreendimento" – Edifício de Escritórios e Comércio Prémio Pritzker de Arquitectura 2011, recebido a 2 de Junho em Washington, onde foi felicitado pelo Presidente norte-americano Barack Obama. Prémio Secil de Arquitectura 2011 pela Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais 2011 Comemoração dos 30 anos de carreira de Eduardo Souto de Moura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com a realização de umworkshop na Faculdade de Arquitectura e de uma exposição e de um seminário na Casa da Música. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 139 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 140 O limite construído: o muro APÊNDICE C Manuel Aires Mateus e Francisco Aires Mateus Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 141 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 142 O limite construído: o muro APÊNDICE C BIOGRAFIA Manuel Aires Mateus, nasceu em Lisboa, Portugal em 1963. Arquitecto licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, em 1986. Colaborou com o arquitecto Gonçalo Byrne desde 1983 e com o arquitecto Francisco Aires Mateus desde 1988. Professor na Graduate School of Design da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América entre 2002 e 2005. Professor convidado na Fakulteta za Arhitekturo,Universa v Ljubljani, Liubliana, Eslovénia ente 2003 e 2004. Professor na Accademia di Architectura,Mendrízio, Suiça, desde 2001. Professor na Universidade Autónoma, em Lisboa desde 1998. Professor na Universidade Lusíada de Lisboa desde 1997. Convidado para inúmeros seminários e conferências na Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Croácia, Inglaterra, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, México, Noruega, Portugal, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça e Estados Unidos da América. Francisco Aires Mateus nasceu em Lisboa, Portugal em 1964. Arquitecto, licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal em 1987. Colaborou com o arquitecto Gonçalo Byrne desde 1983 e com o arquitecto Manuel Aires Mateus desde 1988. Professor visitante na Oslo School of Architectura, em Oslo, em 2009. Professor na Graduate School of Design, Harvard University, Estados Unidos da América em 2005. Professor na Accademia di Architettura, Mendrisio, Suíça e Università della Svizzera Italiana, Itália desde 2001. Professor na Universidade Autónoma em Lisboa, desde 1998. Professor convidado para inúmeros seminários em Portugal, Espanha, Itália, Suíça, Argentina, Inglaterra, Brasil, México, Noruega, Chili, Estados Unidos da América, Eslovénia, Croácia, Canadá e Japão. Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 143 O limite construído: o muro Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 144 O limite construído: o muro OBRA Termas na Serra da Esrela, Serra da Estrela, PORTUGAL – em curso 2011 Centro de Convívio para a Santa Casa da Misericórdia, Grândola, Portugal – em curso. Edifício Habitacional no Largo dos Loios – Lisboa, Portugal – em curso Centro escolar em Alvega – Abrantes, Portugal – em in course Feira da Pedra de Verona – pavilhão – Verona, Itália - construído Concurso internacional por convites para o “Atrio de la Alhambra” – Granada, Espanha 2010 Centro escolar em São João – Abrantes, Portugal – em curso Concurso para a requalificação do mercado da Ribeira no cais do Sodré, Lisboa, PORTUGAL, 1º prémio – em curso Concurso internacional por convite para o novo presbiterio da Cathedral de St Gallen, Sant Gallen, SUIÇA – 2º premio 12ª Bienal de Arquitectura de Veneza – Voids – sob o comissariado da Arqª Kazuyo Sejima – Veneza, Itália – construído Casa em Melides – Grândola Portugal – em curso Centro escolar de Bemposta – Abrantes, Portugal – em construção Centro escolar de Rio de Moínhos – Abrantes, Portugal – em construção Centro escolar de Alferrarede – Abrantes, Portugal – em construção Centro de interpretação do Ilhéu de Vila Franca do Campo, S. Miguel, Açores, Portugal – em curso Hospital de Rectaguarda – Grândola, Portugal – em curso 2009 Escola secundária “Fernão Mendes Pinto”: requalificação, Almada. PORTUGAL – em projecto Concurso para o Edifício do governo Regional de Antuérpia, Antuérpia. BÉLGICA – concurso internacional por convite Edifício de habitação “En Sully” no lago de Geneve (com Christ & Gantenbein, Basel), En Sully. SUIÇA – Concurso internacional, 1º prémio. em projecto Museu de História Natural em Saint Gallen, Saint Gallen. SUIÇA – concurso internacional, projecto finalista Casa na Aroeira, Aroeira. PORTUGAL – construída Call Center da Portugal Telecom a Santo Tirso, Santo Tirso. PORTUGAL – construído Fase Final por Convites do Concurso para Requalificação do Jardim Botânico e recinto do Parque Mayer - Lisboa. PORTUGAL – 1º prémio Concurso para a Sede da EDP (com Frederico Valsassina), Lisboa. 2008 PORTUGAL – 1º prémio Escola secundária “António Arroio”: requalificação Lisboa. PORTUGAL – em construção Exposição WELTLITERATUR . Madrid, Paris, Berlim, São Petersburgo, o Mundo! - Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa. PORTUGAL - construído Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 145 O limite construído: o muro Primeira fase aberta do Concurso para Requalificação do Jardim Botânico e recinto do Parque Mayer - Lisboa. PORTUGAL – 1º prémio Concurso por convites para um Hotel em Monsaraz, Monsaraz. PORTUGAL – 1º prémio Hard Club no Mercado Ferreira Borges, Porto, Porto. PORTUGAL – construído Casa em Monsaraz, Monsaraz. PORTUGAL – em construção Hotel em Belém, Belém. PORTUGAL – em projecto Restaurante Tavares, Lisboa. PORTUGAL – construído Concurso para o Jardim Público de Évora, Évora . PORTUGAL – em projecto Casa em Grândola, Grândola . PORTUGAL . em projecto Casa em Palhacana, Palhacana . PORTUGAL – em projecto Casa nos Cadoços, Grândola . PORTUGAL . em projecto 2007 Galeria de Fotografia PENT 10 em Lisboa, Lisboa . PORTUGAL – construído Casa em Sobral, Sobral de Monte Agraço. PORTUGAL . em projecto Edifício residencial na Tr. Conde da Ponte em Lisboa, Lisboa . PORTUGAL – em projecto Concurso para o “Parque de los Cuentos” – Reconstrução e ampliação do Convento de la Trinidad Málaga - Málaga. ESPANHA – 1º prémio Requalificação de Hotel em Budapeste, Budapeste. HUNGRIA – em projecto 1º Prémio do Concurso Internacional por Convite, Edifícios de Habitação e Comércio, Madrid. ESPANHA - em construção Mercado do peixe, Veneza. ITÁLIA – em projecto Edifícios de Habitação e Comércio em Seine, Paris. FRANÇA - concurso internacional por convite Sede da Caja Badajoz, Badajoz. ESPANHA – concurso internacional por convite Praça de Portagem de Benavente – A13, Benavente. PORTUGAL – construído Hotel em Santiago do Cacem, Santiago do Cacém. PORTUGAL – construído Bar de praia em Porto-Côvo, Porto-Côvo . PORTUGAL – em projecto Resort Turístico em Porto-Côvo, Porto-Côvo . PORTUGAL – em projecto 2006 Hotel em Praga, Praga. REPÚBLICA CHECA – em projecto Casa em S. Bráz de Alportel, Algarve. PORTUGAL – em projecto Livraria Almedina na Arrábida, Algarve. PORTUGAL – construído Escola Básica em V N Barquinha, V N Barquinha. PORTUGAL – em construção Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 146 O limite construído: o muro Stand daLivraria Almedina na FIL, Lisboa. PORTUGAL – construído Plano Pormenor para Lisboa Ocidental, Lisboa. PORTUGAL – em projecto Casa na Comporta, Alcácer do Sal. PORTUGAL – em projecto Concurso Internacional por Convite, para Torre no Dubai Dubai. DUBAI – nã oconstruído Museu dos Transportes no Arco do Cego, Lisboa. PORTUGAL – em projecto Reconversão do Quarteirão Batista Russo, Lisboa. PORTUGAL – em projecto Empreendimento Turístico Riviera em Carcavelos, Cascais. PORTUGAL – em projecto Concurso Internacional por Convite, Sede empresarial em Casablanca, Casablanca. MARROCOS Hotel na Macedónia, Otesevo. MACEDONIA – em projecto Casa em Alcobaça, Alcobaça. PORTUGAL – em projecto Concurso Internacional por Convite para Pólo de Formação do Património e Actividade Cultural de Benevento, Benevento. ITÁLIA – a decorrer Extensão e Requalificação da ETAR de Alcântara, Lisboa. PORTUGAL - em construção QuizCamp, Montemor. PORTUGAL - em projecto 1º Prémio Concurso Internacional por Convite, Complexo Multifuncional, Balerna. SUIÇA - em projecto Centro Cívico, Lisboa. PORTUGAL - em projecto Casa em Leiria, Leiria. PORTUGAL - construida 2005 Casa Diogo Teixeira, Lisboa. PORTUGAL - construído Livraria Almedina, Coimbra. PORTUGAL - construído Livraria Almedina, São Paulo. BRASIL - construído Requalificação da Envolvente da Lagoa das Furnas, Açores. PORTUGAL – construido Edifício de Habitação e Comércio 24 Julho, Lisboa. PORTUGAL - construido Lar de Idosos para a Santa Casa da Misericórdia, Alcácer do Sal. PORTUGAL – construído Casas em Marrocos, Essaouira. MARROCOS - em projecto Casa na Quinta do Lago, Algarve. PORTUGAL – in course 2004 Edifício de habitação Travessa Conde da Ponte, Lisbon. PORTUGAL construido Silo no Largo das Portas do Sol em Alfama, Lisboa. PORTUGAL – construído Edifício de Habitação e Comércio em Moura, Moura. PORTUGAL - construído Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 147 O limite construído: o muro Livraria Almedina no Centro Arte Moderna da Gulbenkian, Lisboa. PORTUGAL - construído Complexo Habitacional em St. Doolaghs, St. Doolahgs. IRLANDA - em projecto Empreendimento Turístico “Quinta do Bom Sucesso”, Óbidos. PORTUGAL em construção Estúdio 2 de Arquitectura Aires Mateus, Lisboa. PORTUGAL - construído Remodelação de um Apartamento em Telheiras, Lisboa. PORTUGAL construído Edifício de Habitação e Comércio no Largo do Rato, Lisboa. PORTUGAL - em projecto 2003 Casa em LionsDen, Dublin. IRLANDA - em projecto Hotel e Residências Grand Canal Square, Dublin. IRLANDA - em construção Nova Biblioteca Central de Lisboa, Lisboa. PORTUGAL - em construção Recuperação do Forte e Farol de Santa Marta, Cascais. PORTUGAL - em construção Casa em Alcácer do Sal, Alcácer do Sal. PORTUGAL - em projecto Concurso para “The Grand Egyptian Museum”, Cairo. EGIPTO - finalista Concurso Internacional para “Maison de la Pax”, Genebra. SUÍÇA - finalista Casa na Arrábida, Setúbal. PORTUGAL - em construção Casa na Serra d’Aire, Fátima. PORTUGAL - em projecto Centro Carmen Frova, Laguna de Veneza. ITÁLIA – construído Livraria Almedina, Porto. PORTUGAL - construída 2002 Hotel Trocadero, Jesolo. ITÁLIA - em projecto Escritórios PROAP, Lisboa. PORTUGAL - construído Zona Comercial e de Escritórios, Coimbra. PORTUGAL - em projecto Centro de Escritórios, Lisboa. PORTUGAL – construído Casa Dr. João Ramos, Sesimbra. PORTUGAL – construído Edifício de Habitação Rua Almirante Barroso, Lisboa. PORTUGAL - construído Mercado Municipal de Caxias, Caxias. PORTUGAL - construído Museu do Tejo, Almourol. PORTUGAL - em projecto 2001 Galeria de Arquitectura de Lisboa, Mitra. PORTUGAL - em projecto Concurso para o Tribunal Universitário - Recuperação do Conventoda Trindade, 1º prémio - Coimbra. PORTUGAL – em construção Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 148 O limite construído: o muro Livraria Almedina II, Lisboa. PORTUGAL - construído Concurso para a Praça de Portagem de S. Bartolomeu de Messines, 1º prémio – Algarve. PORTUGAL - construído Concurso para “Conjunto Arquitectónico Dedicado aos Sanfermines”, Navarra. ESPANHA - finalista Estúdio de Arquitectura Aires Mateus, Lisboa. PORTUGAL - construído Edifícios de Habitação no Parque das Nações Norte, Lisboa. PORTUGAL construído Edifício de Escritórios no Parque das Nações, Lisboa. PORTUGAL – não construído Livraria Almedina, Lisboa. PORTUGAL - construído Biblioteca e Centro Cultural de Sines, Sines. PORTUGAL - construído 2000 Edifícios de Habitação no Parque das Nações Sul, Lisboa. PORTUGAL – construído Casa Barreira Antunes, Grândola. PORTUGAL - construído Casa Rafael Rodrigues, Grândola. PORTUGAL - em construção Casa Ângelo Nobre, Azeitão. PORTUGAL - construído Concurso por convites para a Orquestra Metropolitana de Lisboa -co-autoria arqº Gonçalo Byrne -1º prémio - Lisboa. PORTUGAL – não construído Casa em Alvalade, Alvalade. PORTUGAL - não construído Casa em Alenquer, Alenquer. PORTUGAL - construído Remodelação da Igreja de São Pedro, Grândola. PORTUGAL - não construído Reitoria para a Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. PORTUGAL - construído Remodelação dos escritórios “Fenda” na Baixa de Lisboa, Lisboa. PORTUGAL - construído 1999 Plano Urbano de Recuperação do Centro Histórico, Grândola. PORTUGAL construído Pavilhão da TAP para a Expo 98, Lisboa. PORTUGAL - construído Concurso para a Cantina da Universidade de Aveiro, 1º prémio – Aveiro. PORTUGAL - construído Remodelação da Casa da Drª Ana Pais Lisboa. PORTUGAL - construído Edifício de Apoio e Manutenção do Parque do Tejo e do Trancão, Lisboa. PORTUGAL - construído Concurso para a Unidade Pedagógica Central da Universidade de Coimbra, 1º prémio - Coimbra. PORTUGAL - construído Projecto para as Residências de Estudantes do Pólo II da Universidade de 1996 Coimbra, Coimbra. PORTUGAL - construído Museu do Brinquedo e Museu Infantil da Tecnologia e do Lúdico, Sintra. PORTUGAL - construído 1995 Casa Drª Inês Ruela e Dr. Manuel Maltês, Lisboa. PORTUGAL - construído Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 149 O limite construído: o muro Edifício de Habitação – Expo 98, Lisboa. PORTUGAL - construído Casa Dr. Ricardo Arruda, Oeiras. PORTUGAL - construído Reordenamento Urbano do Largo de Catarina Eufémia e Envolvente Grândola. PORTUGAL - construído Concurso por Convites para a Cantina do Pólo II da Universidade de Coimbra, 1º prémio - Coimbra. PORTUGAL - construído Novas Instalações da Universidade Agostinho Neto Luanda. ANGOLA - não construído 1994 Concurso por Convites para as Novas Instalações da Sede da Ordem dos Engenheiros, 1º prémio - Lisboa. PORTUGAL - construído Casa Narciso Ferreira Alcanena. PORTUGAL - construído 1993 Lar de Acamados para a Santa Casa da Misericórdia de Grândola – Bloco II, Grândola. PORTUGAL - construído Casa Vírginia Ramos Pinto e José Mendonça Sintra. PORTUGAL - construído 1992 Casa Catarina Rocha Ericeira. PORTUGAL - não construído Cenários da Peça de Teatro “True West” de Sam Shepard, Benfica. PORTUGAL - construído Pavilhão com Piscina Coberta e Arranjos Exteriores, Porto Alto.PORTUGAL construído Instalação e Montagem da Exposição “ Tendências da Arte Contemporânea”, 1991 Lisboa.PORTUGAL - construído Concurso Internacional – Prémio Samorá Realizado em Pádua, 1º prémio – Pádua.ITÁLIA Concurso para a Instalação da “I Trienal de Arquitectura de Sintra”, 1º prémio – 1990 Sintra.PORTUGAL - construído 1989 Discoteca “Sociedade Anónima”, Ericeira.PORTUGAL – construído Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço 150