O l imite c onstru ído: o m muro

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e A rtes
Mestrado integ rado em Arquitec tura
O limite construído: o muro
m
Realizado
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p
por:
Inês dos
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Orientado por:
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Dissertação
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de 2013
Lisboa
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I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
O limite construído: o muro
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
Lisboa
Abril 2013
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N I V E R S I D A D E
L
U S Í A D A
D E
L
I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
O limite construído: o muro
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
Lisboa
Abril 2013
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
O limite construído: o muro
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.
Orientador: Prof. Doutor
Domingues Hipólito
Arqt.
Fernando
Manuel
Assistente de orientação: Mestre Arqt. José Maria de
Brito Tavares Assis e Santos
Lisboa
Abril 2013
Ficha Técnica
Autora
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
Orientador
Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito
Assistente de orientação
Mestre Arqt. José Maria de Brito Tavares Assis e Santos
Título
O limite construído: o muro
Local
Lisboa
Ano
2013
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
BELMARÇO, Inês dos Santos Mealha Usera, 1987O limite construído : o muro / Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço ; orientado por Fernando
Manuel Domingues Hipólito, José Maria de Brito Tavares Assis e Santos. - Lisboa : [s.n.], 2013. Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da
Universidade Lusíada de Lisboa.
I - HIPÓLITO, Fernando Manuel Domingues, 1964II - SANTOS, José Maria de Brito Tavares Assis e, 1962LCSH
1. Paredes exteriores
2. Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (Portugal)
3. Mercado Municipal (Braga, Portugal)
4. Farol Museu de Santa Marta (Cascais, Portugal)
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
6. Teses – Portugal - Lisboa
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Exterior walls
Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (Portugal)
Mercado Municipal (Braga, Portugal)
Farol Museu de Santa Marta (Cascais, Portugal)
Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon
LCC
1. NA2940.B45 2013
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Arquitecto Fernando Hipólito, por ter aceite a orientação desta
dissertação, pelo apoio, disponibilidade e ajuda demonstrada ao longo do trabalho.
Ao Professor Mestre Arquitecto José Maria Assis e Santos, pelo acompanhamento,
disponibilidade e ajuda demonstrada ao longo da investigação.
Aos meus amigos, pela amizade, apoio e incentivo. Um agradecimento especial à Ana
Boléo, Teresa Baêna, João Bilbao, Paulo Durão, Maria Ana Sousa e Inês Santos.
À minha família, pela ajuda e apoio demonstrado e pelo exemplo que são.
Às minhas irmãs, pela amizade, confiança, apoio e entusiasmo.
Ao meu pai, pelo apoio e incentivo.
À minha mãe, pela força, apoio, pelo exemplo que é, e pela sua insubstituível
presença.
APRESENTAÇÃO
O Limite construído: O muro
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
A presente dissertação de mestrado propõe uma reflexão sobre questões centrais da
arquitectura, pretendendo explorar e investigar as capacidades do muro enquanto
limite, e as diversas formalizações que este elemento poderá adoptar. De maneira a
destacar a sua importância na qualificação, percepção e experimentação do espaço
arquitectónico, urge a clarificação de um conjunto de conceitos relacionados com os
possíveis modos de construir o limite arquitectónico. Um limite táctil, que possibilita o
toque, a experiência directa, que nos protege e envolve. Um limite que promove a
expressão dos sentidos, e será a utilização desses sentidos, o factor responsável por
ampliar o contacto que temos com as coisas, com os objectos e com a envolvente.
Sentidos que captam informações sobre o aspecto, sobre o tempo, sobre o lugar,
interiorizando-se em cada um de nós, e enfatizando a relação que mantemos com o
que nos rodeia. Desenvolvem uma capacidade de resposta e um diálogo directo entre
o corpo e o objecto, entre a mente e o espaço. Porque o limite físico, palpável, ajudanos a captar mais facilmente o espaço, a compreendê-lo melhor, a vivê-lo mais
intensamente.
Palavras-chave:
experimentação.
Arquitectura,
Limite,
muro,
ideia,
construção,
percepção,
PRESENTATION
Constructed limit: the wall
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
This master’s dissertation proposes a reflection on key issues of architecture, seeking
to explore and investigate both the capabilities of the wall as an architectural limit and
the various formalizations this element may adopt. To highlight its importance in the
qualification, perception and experimentation of the architectural space, it is essential
to clarify a set of concepts related to the possible ways of building the architectural
limit. A tactile limit, enabling touch and direct experience, protecting and surrounding
us. A limit that empowers our senses to express themselves and the use of those
senses will magnify our contact with pshysical objects. Senses capture information on
the appearance, on the time and the place. They become a part of every one of us and
emphasize the relationship we keep with the world around us. They develop the ability
to respond and the direct dialogue between the body and the object, the mind and the
surroundings. The physical limit is tangible and therefore it helps us to capture space
more easily, to understand it better and to live it more intensely.
Keywords: Architecture, limit, wall, idea, construction, perception, experimentation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Esquema. (Ilustração nossa, 2012) ....................................................... 21
Ilustração 2 - Pirâmides do Egipto. (Oscar Niemeyer, 1997, p. 20) ............................. 23
Ilustração 3 - Palácio dos Ofícios, 1560-65, Giorgio Vasari. (Ching, 2005, p. 22) ....... 24
Ilustração 4 - Esquema de desnível de terreno. (Ching, 2005, p. 110) ........................ 26
Ilustração 5 - Paris. (Ching, 2005, p. 260) ................................................................... 27
Ilustração 6 - Esquiço Casa de Chá, Boa Nova, Matozinhos, Siza Vieira. (Portas, 1992,
p. 2) ............................................................................................................................ 28
Ilustração 7 - Planta Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 150) ...................... 29
Ilustração 8 - Prespectiva Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 156) .............. 30
Ilustração 9 - Machu Picchu, antiga cidade Inca, c. 1500. (Ching, 2005, p. 20)........... 31
Ilustração 10 - Corte Casa Farnsworth, Ilinois, Mies Van der Rohe. (Ching, 2005, p.
106) ............................................................................................................................ 33
Ilustração 11 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012) .................................. 34
Ilustração 12 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012) .................................. 34
Ilustração 13 - Acrópole, Atenas, Grécia. (Ching, 2005, p. 236) .................................. 35
Ilustração 14 - Pódio, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236)
................................................................................................................................... 36
Ilustração 15 - Colunata, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p.
236) ............................................................................................................................ 36
Ilustração 16 - Panteon, Roma, 120-124 d.C. (Ching, 2005, p. 93) ............................. 42
Ilustração 17 - Modulor, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 303) ...................................... 43
Ilustração 18 - Proposta de axonometria do Pavilhão de Barcelona, Bruno Zevi.
(Quetgas, 2001, p. 116) .............................................................................................. 44
Ilustração 19 - Muro de pedra. (Ilustração nossa, 2012) ............................................. 47
Ilustração 20 - Planta, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005,
p. 29) .......................................................................................................................... 48
Ilustração 21 - Esquiço, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005,
p. 29) .......................................................................................................................... 49
Ilustração 22 - Esquema compositivo. (Ching, 2005, p. 169) ...................................... 50
Ilustração 23 - Projecto para uma residência, 1922, Theo van Doesburg e Cornels van
Eesteren. (Ching, 2005, p. 169) .................................................................................. 52
Ilustração 24 - Projecto para uma casa, 1923, Mies van Der Rohe. (Ching, 2005, p. 23)
................................................................................................................................... 53
Ilustração 25 - Esboços para os cinco pontos da nova arquitectura, 1926, Le
Corbusier. (Ching, 2005, p. 128) ................................................................................. 55
Ilustração 26 - Esquiço, "baleia", Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Hipólito, 2002, p. 314) .................................................................................... 66
Ilustração 27 - Axonometria, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Hipólito, 2002, p. 314) .................................................................................... 66
Ilustração 28 - Maquete da proposta, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho
da Graça. (Graça, 1995, p. 57) ................................................................................... 66
Ilustração 30 - Vista Poente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 67
O limite construído: o muro
Ilustração 29 - Muro, vista Poente, Escola Superiorde Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 67
Ilustração 31 - Vista Nascente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 68
Ilustração 32 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 68
Ilustração 34 - Vista Sul, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça.
(Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 69
Ilustração 33 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................................. 69
Ilustração 35 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Graça, 1995, p. 59) ........................................................................................ 70
Ilustração 36 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da
Graça. (Graça, 1995, p. 59) ........................................................................................ 71
Ilustração 38 - Vista aérea, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 1994, p. 18) ......................................................................................... 78
Ilustração 37 - Acto de Marcar, esquiço, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto
Moura. (Hipólito, 2000, p. 315) .................................................................................... 78
Ilustração 41 - Topo Nascente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 1994, p. 20) ......................................................................................... 79
Ilustração 42 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 1994, p.24) .......................................................................................... 79
Ilustração 39 - Topo Poente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 1994, p. 20) ......................................................................................... 79
Ilustração 40 - Axonometria, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 2013) ................................................................................................... 79
Ilustração 43 - Plantas dos pisos, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 2013) ................................................................................................... 80
Ilustração 44 - Corte transversal, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 2013) ................................................................................................... 81
Ilustração 45 - Vista da galeria superior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto
Moura. (Souto Moura, 1990, p. 23) ............................................................................. 81
Ilustração 46 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 1990, p. 24) ......................................................................................... 81
Ilustração 47 - Axonometria, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2002,
p. 316) ........................................................................................................................ 82
Ilustração 48 - Topo Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração
nossa, 2013) ............................................................................................................... 82
Ilustração 49 - Vista do jardim, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração
nossa, 2013) ............................................................................................................... 82
Ilustração 50 - Detalhe muro, entrada, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura.
(Ilustração, nossa 2013) ............................................................................................. 83
Ilustração 51 - Percurso de entrada, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura.
(Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 83
Ilustração 52 - Vista superior, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração
nossa, 2013) ............................................................................................................... 83
Ilustração 53 - Plantas, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992,
p. 179) ........................................................................................................................ 84
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
1-2
O limite construído: o muro
Ilustração 54 - Cortes, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992,
p. 182) ........................................................................................................................ 85
Ilustração 56 - Vista superior, percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo
Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013) ....................................................................... 86
Ilustração 55 - Percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura.
(Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 86
Ilustração 57 - Esquiço, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 35)
................................................................................................................................... 93
Ilustração 58 - Maquete projecto, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus,
2007, p. 26) ................................................................................................................ 93
Ilustração 59 - Vista exterior, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa,
2013) .......................................................................................................................... 93
Ilustração 60 - Muralha bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração
nossa, 2013) ............................................................................................................... 94
Ilustração 61 - Vista exterior, bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus.
(Ilustração nossa, 2013) ............................................................................................. 94
Ilustração 62 - Muro habitado, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa,
2013) .......................................................................................................................... 94
Ilustração 63 - Vista Bateria superior, Farol Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração
nossa, 2013) ............................................................................................................... 95
Ilustração 64 - Espaço de transição entre pisos (baterias), Farol de Sta. Marta, Aires
Mateus. (Ilustração nossa, 2013) ................................................................................ 95
Ilustração 65 - Planta, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 21)
................................................................................................................................... 96
Ilustração 66 - Corte transversal, Farol de Sta. Marta. (Aires Mateus, 2007, p. 22) .... 97
Ilustração 67 - Corte Longitudinal, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus,
2007, p. 23) ................................................................................................................ 97
Ilustração 68 - Esquema e axonometria, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............... 103
Ilustração 69 - Zona do acervo, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................. 104
Ilustração 70 - Vista central, galeria. (Ilustração nossa, 2011) .................................. 104
Ilustração 71 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011) ....................................................... 105
Ilustração 72 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011) ....................................................... 105
Ilustração 73 - Lanternim, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ...................................... 105
Ilustração 74 - Plantas P-1 e P0, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ........................... 106
Ilustração 75 - Plantas P1 e P2, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................ 107
Ilustração 76 - Plantas P3 e P4, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................ 108
Ilustração 77 - Cortes C1 e C2, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................. 109
Ilustração 78 - Corte C3 e C4, galeria. (Ilustração nossa, 2011) ............................... 110
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
1-3
1
SUMÁRIO
1. Introdução .............................................................................................................. 17
1.1. Âmbito da análise. ........................................................................................... 17
1.2. Objectivos ....................................................................................................... 18
1.3. Estrutura.......................................................................................................... 18
2. A construção do limite: O muro .............................................................................. 21
2.1. Representação e conceito ............................................................................... 21
2.2. Matéria e material ............................................................................................ 31
2.3. Composição e conformação ............................................................................ 43
3. A percepção do limite: O muro ............................................................................... 59
3.1. Escola superior de comunicação social – Carrilho da Graça ........................... 59
3.2. Mercado Municipal de Braga / Escola de Dança – Souto Moura ..................... 72
3.3. Farol Museu de Santa Marta – Aires Mateus ................................................... 87
4. Um modo de construir limite: O muro. .................................................................... 99
4.1. Art District: galeria de arte contemporânea. ..................................................... 99
5. Conclusão ............................................................................................................ 111
Referências .............................................................................................................. 115
Bibliografia ................................................................................................................ 119
Apêndices ................................................................................................................. 121
Lista de apêndices ................................................................................................ 123
Apêndice A........................................................................................................ 125
Apêndice B........................................................................................................ 131
Apêndice C ....................................................................................................... 141
O limite construído: o muro
1. INTRODUÇÃO
1.1. ÂMBITO DA ANÁLISE.
Com a rápida e quase instantânea movimentação da informação, torna-se por vezes
complicado focarmo-nos na profundidade das respostas que obtemos. A nossa
atenção é constantemente desviada por inúmeros assuntos que rapidamente se vão
sobrepondo, dificultando a continuidade do pensamento e consequentemente a sua
conclusão, o que, por vezes, nos desorienta relativamente à objectividade das
questões e das respectivas soluções. Somos diariamente confrontados com centenas
de imagens, vários modos de responder ao mesmo problema. E por vezes é a
imagem, a forma e o aspecto que prevalece, sendo momentaneamente omitida a
verdadeira essência dos objectos, dos espaços, as verdadeiras intenções do
arquitecto ou da arquitectura, e todo o processo que originou aquela imagem final.
“[…] tratamos de buscar a essência das coisas.” (Kahn, 2002, p. 57).
É mediante esta afirmação de Louis Kahn1, que surge a necessidade de procurar e
aprofundar um modo como a arquitectura acontece. Não apenas pela pertinência da
questão em si, mas pelas diversas dúvidas que foram surgindo ao longo de todo o
percurso académico. Questões que foram sendo clarificadas e confrontadas ao longo
do tempo, através das inúmeras respostas aos exercícios propostos. Questões sobre
arquitectura, que demonstram a complexidade desta disciplina.
Desta maneira, optou-se pela máxima objectivação do tema em análise, focando-o no
estudo dos limites físicos – muro – que geram e conformam o espaço arquitectónico.
Surgiu a necessidade de aprofundar este aspecto, de maneira a perceber a sua
essência, estudando um conjunto de factores relacionados com o acto de projectar,
com as escolhas e intenções iniciais, e a maneira com essas intenções poderão são
traduzidas em arquitectura.
1 Louis Kahn (1902 – 1974). Arquitecto americano, considerado como um dos mais brilhantes arquitectos
do século XX. A sua determinação e convicção, levam-no ao desenvolvimento de novas teorias
relacionadas com a linguagem formal dos edifícios, que revolucionaram toda a arquitectura moderna –
“Monumenrality”. Em que a sua intenção era redirecionar as energias do modernismo no âmbito da
arquitectura domestica. Após 1944 começa a formular uma arquitectura que sustentasse as iniciativas
particulares. A sua obra transmite a ideia de que a arquitectura deve ser uma força empreendedora, tanto
através da escala que apresenta como das próprias intenções do arquitecto.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
17
O limite construído: o muro
1.2. OBJECTIVOS
O objectivo geral da presente dissertação consistiu em explorar o potencial e as
capacidades do limite construído – muro – enquanto elemento basilar do processo
projectual em arquitecura, posteriormente ramificados nos seguintes objectivos
específicos:
1. Explorar a ideia de limite, muro, através dos diferentes modos representativos;
2. Compreender a maneira como a escolha dos materiais aplicados nos limites
físicos do espaço contribui para o processo da experiência espacial em
arquitectura.
3. Perceber a relação entre o conteúdo e a forma, e a maneira como os
elementos constitutivos das formas (linha, superfície, volume, espaço), aliados
aos instrumentos que o arquitecto tem à sua disposição (matéria, luz,
ornamento), contribuem para a composição arquitectónica.
4. Explorar as características do espaço e da luz a partir da continuidade e
descontinuidade dos limites físicos construídos – muro.
1.3. ESTRUTURA
O presente trabalho foi dividido em três etapas: A construção do limite: muro. Onde se
procurou fazer uma análise teórica aos elementos que compõem o processo
projectual, a partir da noção deste limite, assim como perceber o carácter evolutivo
que este apresenta. A percepção do limite: muro. Onde foi desenvolvida uma análise a
três casos de estudo em Portugal, em que cada um é relacionado a um dos
parâmetros referidos anteriormente. Três obras distintas que, a partir da experiência
directa, permitiram uma clarificação dos conteúdos abordados. Obras de carácter
cultural, com programas e funcionalidades distintas, realizadas em tempos diferentes.
A Escola Superior de Comunicação Social, do arquitecto João Luís Carrilho da
Graça, enquanto solução que concretiza uma ideia/conceito através da exposição de
um conjunto de intenções do autor. O Mercado Municipal de Braga/ Escola de
Dança, do arquitecto Eduardo Souto Moura, explorando a relação entre a arquitectura
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
18
O limite construído: o muro
e o sítio, a situação de ruína/ preexistência, e o percurso como factor determinante da
proposta, enfatizando a lógica da escolha dos materiais e o modo como a matéria
arquitectónica é trabalhada nas várias fases do projecto. O Farol de Santa Marta, dos
arquitectos Francisco e Manuel Aires Mateus, enquanto modo de articulação,
conformação e composição do espaço, através da adaptação do objecto à evolução
do contexto onde está inserido. Um modo de construir limite: muro. Correspondendo
ao trabalho desenvolvido na disciplina de Projecto III, da Universidade Lusíada de
Lisboa. Um trabalho que impulsionou o interesse pelo tema em estudo.
Em suma, esta análise pretende explorar e investigar as capacidades do muro
enquanto limite arquitectónico, e as diversas formalizações que este elemento poderá
adoptar. A maneira como as opções por determinadas características, conseguem
evidenciar as intenções do autor, assim como atribuir determinadas qualidades ao
espaço. Sendo ainda relevante compreender o modo como a expressão do limite
formaliza a relação que o objecto mantém com o contexto em que está inserido, e a
relação que o indivíduo mantém com o objecto quando o experiencia.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
19
O limite construído: o muro
A noção de limite vê, no muro, o elemento
arquitectónico elementar, a realidade física e
material
construída
indissociável
dos
espaços que gera, a barreira conformadora e
conformada
pelas
forças
interiores
de
operações plásticas e elásticas que agem na
sua própria materialidade, e por forças
exteriores de uso e de vivência que actuam
no espaço sob a forma de tensões.(Pinto,
2007, p. 25).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
20
O limite construído: o muro
2. A CONSTRUÇÃO DO LIMITE: O MURO
2.1. REPRESENTAÇÃO E CONCEITO
“De um traço nasce a arquitectura.” (Niemeyer, 2001, p. 9).
Esta é a frase que inicia o texto do arquitecto Oscar Niemeyer 2 , Como nasce a
arquitectura3. O traço, como princípio do modo representativo, comandado pela mão,
vai surgindo no papel em branco. A mão funciona como elemento de conexão entre o
pensamento e o papel, entre a imaginação e o real. Os sucessivos movimentos da
mão procuram a ideia desejada, e à medida que vão sendo traçados, vão ajudando a
compreender o problema, a perceber o terreno, o ambiente e o programa pretendido.
E é neste momento, que vão surgindo as primeiras soluções. Soluções traduzidas em
desenhos, que de maneira progressiva vão concretizando as ideias, vão articulando e
libertando pensamentos, técnicas, cálculos e intenções. Da evolução do traço surge o
desenho, o diagrama, o esquiço e o esquema. Segundo Siza4, “No princípio o futuro
era um esquema.” (1998, p. 12). O esquema permite o reconhecimento das
semelhanças entre objectos, operando de maneira a gerar novas ideias e assim
chegar à formalização arquitectónica. Surge como relação entre a ideia e a forma, e
como mediador entre a forma e a imagem. Corresponde à primeira materialização da
ideia. Funciona como uma estrutura, gerada pela intenção, atribuindo-lhe um sentido
específico, traduzindo o processo gerador da imagem arquitectónica final.
Ilustração 1 - Esquema. (Ilustração nossa, 2012)
2 Oscar Niemeyer (1907 – 2012). Arquitecto brasileiro. Foi um dos responsáveis pelo planeamento
arquitectónico de Brasilia. É considerado um dos principais representantes da arquitectura moderna.
Licenciado pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1934. Em 1936 foi designado para colaborar
no atelier do arquitecto Le Corbusier. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e
plásticas do betão armado. Em 1988 recebe o Prémio Pritzker de Arquitetura.
3
Texto do arquitecto Oscar Niemeyer na sua obra Conversa de arquitecto.
4
Alvaro Siza Vieira (1933 - ). Estudou arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre
1949 e 1955. Foi colaborador do professor Fernando Távora entre 1955 e 1958. Lecionou em várias
Escolas de arquitectura. É autor de inúmeros projectos. As suas obras foram expostas em vários países e
foi premiado diversas vezes a nível nacional e internacional. Tem sido convidado a participar em várias
conferências e seminários. É membro da American Academy of Arts and Science e “Honorary Fellow” do
Royal Institute of British Architects, do American Institute of Architects, da Académie d’Architecture de
France e da European Academy of Sciences and Arts.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
21
O limite construído: o muro
Atribuindo ao esquema uma utilidade de mediador das imagens, e recorrendo à noção
Kantiana5 de esquema, “[…] produto da imaginação, intermediário entre os planos do
sensível e do entendimento. O esquema, ao contrário do que se poderia supor, não é
uma imagem, mas um método de construir uma imagem em conformidade com um
conceito.” (Kant, 2001, p. 15).
Assim, o esquema sustenta a produção de imagens arquitectónicas e orienta o
processo até à fase final de uma obra. No método de concepção projectual, a
elaboração de esquemas facilita a compreensão de cada operação, e vai
desencadeando um sucessivo conjunto de imagens, fundamentando a ideia inicial.
Possibilita um reconhecimento de semelhanças entre os objectos, que de maneira
encadeada, vão gerando novas associações e novas formalizações arquitectónicas. É
possível também, através dos esquemas, realizados no âmbito da definição das
estruturas internas de um edifício, perceber a identidade histórica que este apresenta.
“O desenho conduz a forma à presença.” (Kahn, 2002, p. 39).
A compreensão ou interpretação das obras pode ser realizada a partir do desenho de
representação dos objectos. Pode também representar um modo de expressão, “[…]
explorado através do gesto,” (Pinto, 2007, p. 142), transportando as ideias e as novas
imagens para o papel. Este desenho exterioriza conceptualmente configurações
geométricas através do esquiço. A procura pela forma funcional, construtivamente
racional, é alcançada lentamente através do desenho, através dos esquemas,
constituindo uma expressão gráfica. Sendo assim, considerado um excelente
instrumento do projecto, uma tradução gráfica do pensamento e uma ferramenta para
o entendimento dos objectos.
Outra maneira de representação esquemática é o modelo tridimensional. Através
deste instrumento, existe uma maior aproximação à escala natural do edifício.
Possibilita o estudo dos materiais e da complexidade plástica que o projecto poderá
tomar. Apesar de não representar o objecto acabado, explora o “[…] espaço, os
volumes, as superfícies, as estruturas, as escalas, as proporções, a luz e a sombra.”
(Pinto, 2007, p. 145). Desta maneira, no âmbito do processo de projecto, o modelo
5
Kant (1724 - 1804). É considerado um dos maiores e mais influentes pensadores da era moderna.
Filósofo alemão, realizou inúmeros trabalhos, mas a filosofia crítica de Kant trata-se de um criticismo ou
idealismo transcendental. O pensamento Kantiano é normalmente dividido pela fase pré-crítica (17551780) e a fase crítica (1781 em diante), que teve início com a publicação da sua obra fundamental,
denominada “Crítica da Razão Pura”. Esta obra teve como objectivo explicar o conhecimento empírico,
que consiste nas precepções dos sentidos posteriores à experiência; e o conhecimento puro, aquele que
não depende dos sentidos, é anterior à experiência e está ligado a uma afirmação universal. As raízes da
sua filosofia partem do Iluminismo, e o filósofo procurou construir um método e uma teoria da experiência
que deitasse abaixo os fundamentos da metafísica racionalista dos séculos XVII e XVIII.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
22
O limite construído: o muro
tridimensional complementa a representação gráfica do desenho, do esquiço ou do
esquema. Este processo de representação torna-se importante pelo seu caracter
evolutivo. Sendo entendido como elemento basilar em toda a produção arquitectónica.
A expressão do traço ou o material usado na composição do modelo tridimensional,
permite traduzir um conjunto de intenções, aproximando a ideia inicial ao objecto final
pretendido e ao próprio espaço tridimensional.
Ilustração 2 - Pirâmides do Egipto. (Oscar Niemeyer, 1997, p. 20)
“El origen de la representación está más en los albores de la civilización y obedece a
necesidades emotivas y de evocación […].” 6 (Gallego, 1997, p. 22).
De acordo com Gallego7, a origem da representação, corresponde ao início das artes
visuais, do desenho e da pintura, com o seu valor e capacidade de estimular tanto o
criador como o observador. Surge como instrumento essencial na produção e
comunicação gráfica das imagens projectuais. A evolução do processo livre do
esquiço,
do
esquema
ou
do
modelo
tridimensional
enquanto
elementos
representativos, é desenvolvido numa tentativa de aproximação à realidade. Esta
aproximação introduz um conjunto de medidas precisas e exactas, distâncias e
relações, introduzindo assim a geometria como ferramenta representativa mais
rigorosa do processo projectual.
Sendo um elemento central na óptica da representação, a geometria surge como
resultado de uma capacidade geradora não só de emoções como também de
pensamentos organizativos e especuladores, desenvolvendo uma identidade própria.
As primeiras representações em planta e alçado, surgem na idade da pedra, através
da representação da figura humana e dos animais em alçado nas paredes das grutas.
Estas representações vão evoluindo ao longo das épocas, e no Egipto surgem as
primeiras representações da planta à escala. (Gallego, 1997, p. 22). Através de
6
A origem da representação corresponde aos primórdios da civilização e obedece a necessidades
emotivas e de evocação. (Tradução nossa).
7
Juan Antonio Sánchez Gallego Arquitecto e professor catedrático na Universidade Politecnica da
Catalunha (UPC). Docente na Escola Técnica Superior da Arquitectura de Barcelona (ETSAB) onde foi
director do departamento de expressão gráfica (1982-1991). Durante o seu vasto trajecto enquanto
docente, promoveu e impulsionou uma renovação pedagógica na intenção e nos conteúdos da geometria
descritiva com o objectivo de reconduzi-la ao seu âmbito natural do desenho.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
23
O limite construído: o muro
sucessivos estudos e teorias, a geometria começa a ser entendida como uma ciência
de especulação espacial, apresentando em si, uma capacidade estrutural e
organizativa. Tendo passado por um período sem aparentes avanços, reaparece
durante o Renascimento8, tornando-se mais consistente pelos estudos desenvolvidos
por Euclides9 sobre a visão humana ou “perspectiva natural”. Porém, a representação
em perspectiva, tal como a conhecemos actualmente, precisou de um longo período
de pesquisa, culminando no Renascimento. Considerado o primeiro arquitecto por
responder à concepção moderna desta actividade, Brunelleschi10, em 1420, formula
aquela que viria a ser a ideia actual de prespectiva: “[…] el cuadro como ventana de
contemplación de la realidade y la consideración de los rayos visuales como
generadores de la representación.”11 (Gallego, 1997, p. 23). O controlo geométrico do
espaço perceptual tornou-se possível com a perspectiva, e geradora do conceito
espacial que caracteriza a arquitectura renascentista. É também relevante referir a
importância e a contribuição da representação diédrica para os avanços das
complexas concepções arquitectónicas da época. Neste contexto surge a proposta de
Rafael 12 em 1519 de inter-relacionar planta, corte e alçado a fim de explicar os
monumentos da antiguidade romana.
Ilustração 3 - Palácio dos Ofícios, 1560-65, Giorgio Vasari. (Ching, 2005, p. 22)
8
Renascimento Corresponde ao período da história entre o séc XIII e meados do século XVII. Este
período marca a passagem da idade média para a idade moderna. É apontado como uma época de
transformações na cultura, na sociedade, na economia, na politica e na religião, com grande influência na
ciência, filosofia e arte.
9
Euclides (360 a. C – 295 a. C). Professor, matemático e escritor, considerado o “pai da geometria”.
10
Filippo Brunelleschi (1377 – 1446). Arquitecto e escultor italiano. Foi o grande impulsionador do
Renascimento. Tornou-se celebre por disseminar o método geométrico da prespectiva linear e por
demonstrar um enorme interesse pelo estudo da matemática. A sua obra mais significativa é a abóbada
da catedral de Santa Maria di Fiore em Florença, executando a sua teoria sobre a tridimensionalidade.
Projectou também o Hospital dos inocentes, caracterizado pela sua proporção, pela repetição de colunas
e ainda pela planta em cruz latina. Esta obra foi considerada como a primeira manifestação de uma nova
arquitectura, adoptando uma organização racional e clara.
11
O quadro como janela de contemplação da realidade e a consideração dos raios visuais como
geradores da representação. (Tradução nossa).
12
Rafael (1483 – 1520). Mestre da pintura e arquitectura da escola de Florença durante o Renascimento
italiano.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
24
O limite construído: o muro
Também as bases da geometria analítica surgem na primeira metade do século XVII,
desenvolvidas por Descartes13 e Fermat14 são continuadas até ao final do século XVIII,
por Newton15, que partindo de métodos gerais contribuem para o notável avanço da
investigação geométrica (Gallego, 1997, p. 23). Desta maneira, são notórios os vários
componentes do processo projectual. Iniciados no primeiro traço, que dá origem a uma
sucessão
de
desenhos
e
esquemas,
passando
pelo
estudo
de
modelos
tridimensionais, onde é visível a composição e organização de planos, o estudo da
planta, de secções e representações perspéticas, potenciando toda a expressão
formal do edifício, evidenciando os objectivos primordiais da geometria (representação
e dedução dessa representação). Estes, correspondem aos atributos da comunicação
e reflexão própria de toda a linguagem, segundo valores que capacitam o desenho
como metodologia experimental do processo arquitectónico. Esta representação ou
estrutura esquemática de formulação geométrica é normalmente associada à
configuração
dos
objectos,
que
comummente
são
introduzidos
no
espaço
arquitectónico associados à forma paralelepipédica, embora podendo porém adoptar
um vasto leque de possibilidades.
O projecto nasce do puzzle dinâmico de adequações e desejos, entre formas e forças
de distintas linhagens: tensões de formas, funções, materiais, tecnologias, limites e
constrições, contextos e enquadramentos…que se refletem nas opções de valorização
e avaliação (estética, funcional, técnico-construtivo, psicológica…) de divórcios e
compatibilizações que se vão encontrando ao longo do próprio processo de projecto,
até à fixação de uma solução que crê reunir de forma integrada as condições
objectivadas e descobertas. (Pinto, 2007, p. 150)
O processo projectual, clarifica e antecipa a realidade, através de um método continuo
e de alterações constantes. Articulando metodologias, regras, tecnologias, formas e
contextos, sob vários modos distintos de representação, com o objectivo de organizar
13
René Descartes (1596 - 1650). Considerado um dos fundadores da filosofia moderna. Foi o fundador do
racionalismo moderno, e a partir do seu fascínio pela matemática e geometria, considerou que o único
conhecimento válido é o que se encontra inato na alma, renegando assim o conhecimento sensível. A sua
obra mostra que o conhecimento necessita, para ser válido, de um fundamento metafísico (metafísica:
aquilo que está para além da física). Este filósofo partiu da dúvida metódica de que “se duvido de tudo o
que me vem pelos sentidos, e se duvido até mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de
que tenho consciência de duvidar, portanto, de que existo enquanto tenho essa consciência” (Antunes,
Estangueiro; Vidigal, 2000, p. 35), assim o cogito representa a descoberta do espirito por si mesmo, como
sujeito. A metafísica é fundadora de todo o saber verdadeiro, e o conhecimento racional tem por objecto o
universal e o necessário e consequentemente é capaz de compreender a natureza verdadeira e imutável
das coisas. Afirmava também que para o homem obter a felicidade perfeita teria que fazer triunfar a razão
sobre os instintos, o sensível e as paixões.
14
Fermat (1601 – 1665). Matemático e cientista francês. Inventou a geometria analítica em 1629.
Descreveu as suas ideias num trabalho que nunca chegou a ser publicado, intitulado Introdução aos
lugares geométricos planos e sólidos. Nele, introduziu a ideia de eixos perpendiculares e descobriu as
equações gerais da recta, circunferência, desenvolvendo ainda uma simplificação para a equação da
parábola, elipse e hipérbole.
15
Newton (1643 – 1727). Cientista Inglês. A sua obra, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica,
publicada em 1687, é considerada como uma das mais influentes para a história da ciência. Nela
descreve os princípios da lei da gravitação universal e as três leis de Newton.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
25
O limite construído: o muro
e estruturar as ideias. Ideia essa que, segundo Aparicio16, “[…] es la base necesaria e
indispensable para la creación de toda la arquitectura.”17 (2006, p. 16).
Inicialmente, ainda com a folha de papel em branco, as imagens observadas ou
idealizadas vão se acumulando, juntamente com outros dados programáticos,
materialidades e técnicas disponíveis. Este processo vai gerando um vasto conjunto
de possibilidades, até encontrar um fio condutor, que de acordo com Jorge Cruz
Pinto18, retrata “[…] um caminho novo entre a intuição e a racionalização.” (2007, p.
147). O lugar, como objecto de estudo, concede um conjunto de informações
necessárias para o avanço do trabalho. Determina os pontos exactos da implantação e
enquadramento, chegando à orientação geográfica do projecto. É também estudada, a
topografia e topologia das pendentes, linhas de água, linhas de festo, pré-existências,
delimitações, “[…] das quais se extraem aspectos que procuram hierarquias de valor
em que se sustentam a emergência das ideias projectuais.” (Pinto, 2007, p. 148). O
programa, define o objectivo da obra, a função a que se destina. Uma funcionalidade
que vai determinar toda a organização, relação dos espaços e circulações. Do mesmo
modo que a tecnologia e os materiais a aplicar, actuam na formalização dos espaços e
na sua conformação.
Pensar.
Pensar y construir.
Pensar el Qué. Y Cómo construirlo.
Pensar sin saber cómo: Pensamientos vanos.
Construir sin saber qué: Formas vacías. (Baeza, 2004, p. 41).
Ilustração 4 - Esquema de desnível de terreno. (Ching, 2005, p. 110)
16
Jesús Mª. Aparicio Guisado (1960 - ). Arquitecto, formado na Escuela Técnica Superior de Arquitectura
de Madrid (ETSAM) em 1984. Professor catedrático na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de
Madrid. Foi também professor convidado pelas Universidades Massachusets Institute of Technology
(MIT), Columbia University, pelo Politécnico de Milão, Architectural Association de Londres, Darmstat
Institute of Technology, École d'architecture de Paris, Universitá di Roma La Sapienza, Universitá de
Napoli, Harvard University, Illinois Institute of Technology (IIT), Universidade de Palermo de Buenos Aires,
Universidade Católica de Rio de Janeiro e ainda pela Royal Institute of British Architects (RIBA). Em 2000
representou Espanha na Bienal de Veneza de Arquitectura.
A sua vasta obra tem vindo a ganhar inúmeros prémios e as suas investigações publicadas e conhecidas
internacionalmente. Entre os seus livros publicados encontram-se, El Muro e El hogar del Jubilado.
17
É a base necessária e indispensável para a criação de toda a arquitectura. (Tradução nossa)
18
Jorge Cruz Pinto (1960 - ). Arquitecto português. Licenciado em arquitectura em 1984 pela Faculdade
de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Doutorado pela Escuela Técnica Superior de
Arquitectura da Universidad Politécnica de Madrid em 1998. Professor na Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa a partir de 2009. Coordenador de vários programas académicos.
Desenvolveu vários projectos a nível nacional e internacional e inúmeros ensaios sobre arquitectura.
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26
O limite construído: o muro
Alberto Campo Baeza19, na sua obra La idea construída20, defende que a ideia está
relacionada com o que se quer fazer. Através de uma resposta às questões
contextuais da história e da função. “O homem é o centro da questão.” (Baeza, 2004, p.
41). O aspecto inicial da arquitectua é o homem e a sua capacidade de criar e
construir as ideias. É necessário saber como se constrói, como se representa através
da geometria e do desenho, sendo que, “[…] o ‘como’ físico depende do ‘como’
geométrico.” (Baeza, 2011, p. 36). A geometria é aqui expressada a partir de medidas,
dimensões e números. “E as medidas são sempre em relação ao homem.” (Baeza,
2011, p. 36). A construção por outro lado, relaciona-se com o “como fazer”, e com a
possibilidade de materializar as ideias. Como tal, serão necessárias ferramentas que
permitam que isso se torne possível. A composição, a geometria, a proporção e a
escala são algumas dessas ferramentas que o arquitecto tem à sua disposição, para
tornar possível a construção. Assim, as relações entre ideia e matéria formam todo o
processo projectual. Em que o pensar é relacionado com idealização da construção e
o construir corresponde ao erguer da ideia. Pois a arquitectura é de facto a ideia
construída.
La idea es la síntesis de todos los elementos que componen la arquitectura (contexto,
función, construcción, composición). Como si de una operación de alquimia se tratara,
es una destilación de múltiples elementos para conseguir un resultado único y unitario:
21
una idea, capaz de ser construida, de materializarse. (Baeza, 2004, p. 47).
Ilustração 5 - Paris. (Ching, 2005, p. 260)
19
Alberto Campo Baeza (1946). Arquitecto e professor catedrático na Escola de Arquitectura de
Madrid. A sua obra foi amplamente divulgada e publicada nas revistas de arquitectura mais importantes
de todo o mundo, assim como apresentada em inúmeras conferências.
20
Obra do arquitecto Alberto Campo Baeza em que reúne alguns dos mais interessantes textos do
arquitecto, numa tentativa de transmitir as suas ideias sobre a arquitectura.
21
A ideia é a síntese de todos os elementos que compõem a arquitectura (contexto, função, construção,
composição). Como que se trata-se de uma operação de alquimia, uma destilação de múltiplos elementos
para conseguir um resultado único e unitário: uma ideia, capaz de ser construída, de se materializar.
(Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
27
O limite construído: o muro
De maneira intencional, o arquitecto agrupa os vários elementos que compõem a
arquitectura, com o objectivo de evidenciar da melhor maneira possível todas as suas
intenções. Este acto consciente, será possível a partir da ideia. Tornando-a a base
necessária para a criação de toda a arquitectura. Sendo explicado por Vitrúvio 22 ,
quando este refere que “[…] o arquitecto já tem definido na sua mente, antes de iniciar
a obra, como se construirá esta em termos de beleza, funcionalidade e conveniência.”
(Vitrúvio, 2006, p. 241) A antevisão dos diversos factores e componentes, a partir de
modos representativos e experienciais, dá origem ao projecto de arquitectura.
Ilustração 6 - Esquiço Casa de Chá, Boa Nova, Matozinhos, Siza Vieira. (Portas, 1992, p. 2)
Também o arquitecto Alvaro Siza Vieira, na sua obra Imaginar a evidência23 aborda a
questão do desenho de maneira muito clara, ao descrever a sua aproximação aos
lugares, a razão de ser das formas e o seu pensamento metódico, numa prespectiva
mutável que se vai adequando e alterando ao longo de todo o processo. Os seus
esboços “[…] inventaram não só uma caligrafia mas um método de aproximação ao
projecto.” (Gregotti, 2000, p. 9). A precisão do traçado dos seus desenhos técnicos
geométricos, transmitem uma “[…] verdadeira identidade morfológica da escrita de
22
Vitrúvio (séc. I a. C). Arquitecto e engenheiro romano. Autor do Tratado de arquitectura. Viveu durante a
época de César e Augusto. Foi soldado e engenheiro militar. Viveu em Roma, onde trabalhou em alguns
edifícios imperiais.
23
Um conjunto de textos e desenhos da autoria do arquitecto Álvaro Siza Vieira sobre o modo como
opera e imagina a arquitectura, articulando a intencionalidade do olhar, as leituras do lugar e todo o seu
contexto.
O desenho figura o seu método como processo de pesquisa, e é através do desenho que conseguimos
ter percepção da conjugação da sensibilidade e da lógica com que actua, tirando partido da geometria e
de complexos sistemas de relações. Sendo esse conjunto de relações um princípio comum a toda a sua
obra.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
28
O limite construído: o muro
uma geração inteira.” (Gregotti, 2000, p. 9). Para Siza, o desenho não é uma
linguagem autónoma, mas um acto meticuloso relacionado com o entendimento das
hierarquias internas do lugar. Esta atitude é bem visível no primeiro projecto que
realizou na marginal de Leça da Palmeira24, o restaurante da Boa Nova25. Entre os
vários elementos que caracterizavam aquele lugar, existia um muro de pedra rebocada
que separava claramente o nível da marginal e o da praia. Era necessário encontrar
uma solução para a entrada do edifício, mantendo intacto o muro e os restantes
elementos que compunham aquela paisagem. A opção surgiu a partir do desenho de
um percurso em ziguezague, causando por um lado, a sensação de profundidade e
por outro a definição da entrada no recinto. (Siza, 2000, p. 31). Todo o processo
aplicado no estudo das várias possibilidades, fez com que a necessidade de
coordenar as ideias e intenções com o lugar e as suas pré-existências, se trona-se
cada vez mais evidente. Afirmando que “[…] a arquitectura não termina em ponto
algum, vai do objecto ao espaço e, por consequência, à relação entre os espaços, até
as encontrar com a natureza.” (Siza, 2000, p. 31).
Trata-se por fim de procurar por meio de escrita do desenho uma série de ressonâncias
que progressivamente funcionem como partes de um todo, que mantenham a
identidade das razões, da sua origem contextual, mas que ao mesmo tempo se
organizem em sequências, percursos, paragens calculadas, que se alinhem através de
diferenças discretas na direcção de um processo de diversidade necessária, não
ostentada, de escrita dos espaços e das formas de projecto. (Gregotti, 2000, p. 9).
Ilustração 7 - Planta Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 150)
24
25
Freguesia do concelho de Matozinhos, Portugal.
Obra do arquitecto Alvaro Siza Vieira (1958-1963).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
29
O limite construído: o muro
Uma procura que partindo de uma ideia inicial e explorada através dos diversos modos
representativos, agrupa os vários componentes elementares da arquitectura por via da
construção dos limites físicos.
Ilustração 8 - Prespectiva Vila Adriana, Roma. (Le Corbusier, 1998, p. 156)
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30
O limite construído: o muro
2.2. MATÉRIA E MATERIAL
A terra é o sustento de todo o gesto de dedicação. A terra dá frutos ao florescer. A terra
concentra-se vasta nas pedras e nas águas, irrompe concentrada na flora e na fauna.
O céu é o percurso em abóbada do sol, o curso em transformação da lua, o brilho
peregrino das estrelas, as estações dos anos e suas viradas, luz e crepúsculo do dia,
escuridão e claridade da noite, a suavidade e o rigor dos climas, rasgo de nuvens e
profundidade azul do éter. (Heidegger, 2002, p. 129).
Ao incidirmos a análise na disponibilização dos materiais, percebemos as grandes
alterações que esta evolução permitiu no sector da construção. Verificando este facto
ao longo da história, entendemos que em épocas remotas, o tratamento dos materiais
era quase impossível. Seria a própria natureza, o único fornecedor de matéria-prima.
Segundo Alvar Aalto26, era a natureza que determinava o campo das possibilidades do
domínio da construção, pelo que seria necessário encontrar esses materiais prontos a
serem utilizados. Neste sentido, a arte de construir consistia na correcta combinação
dos materiais encontrados na natureza, de maneira eficaz. Aalto, assinala este feito
como uma das primeiras “[…] modestas vitórias de inteligência humana sobre a
natureza.” (Aalto, 2010, p. 281). Um factor determinante para o entendimento do
processo arquitectónico e modos de operar. Revelando não só a importância do
conhecimento prévio do lugar, como a sua compreensão geográfica e territorial.
Ilustração 9 - Machu Picchu, antiga cidade Inca, c. 1500. (Ching, 2005, p. 20)
26
Alvar Aalto (1898 – 1976). Arquitecto finlandês. Foi dos primeiros e mais influentes arquitectos do
movimento moderno, tendo sido membro dos CIAM. É autor de uma vasta obra construída. Em 1940
torna-se professor de arquitectura no Massachusetts Institute of tecnology (MIT).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
31
O limite construído: o muro
Continuando a observar a evolução do processo construtivo ao longo das épocas,
percebemos a incessante procura de novas soluções e a adequação dessas soluções
às necessidades do homem. O desenvolvimento da tecnologia permitiu a descoberta
de novos mecanismos para a transformação dos materiais, aumentando as
possibilidades de combinação dos mesmos, promovendo assim uma “[…] maior
liberdade de movimento no desenho do conjunto.” (Aalto, 2010, p. 283).
A ideia gerada a partir de uma realidade material origina um resultado mais
consequente. Revelando a importância da adequação da escolha dos materiais ao seu
uso.
[…] todas as coisas parecem formar uma totalidade e ser originadas a partir destes
elementos concordantes, coisas essas divididas pela natureza numa imensidade de
géneros, julguei ser oportuno tratar acerca das variedades e diferenças do seu uso e
das qualidades que cada uma delas poderá ter nos edifícios, de modo que, sendo
conhecidas, os que projectam construir não caiam em erro, mas preparem para as
construções os materiais convenientes a utilizar. (Vitrúvio, 2006, p. 75).
“A arquitectura delimita, modela e conforma o espaço, adequando-o objectivamente
aos propósitos a que se destina, em concordância com a plástica específica de cada
materialidade.” (Pinto, 2007, p. 22).
En la arquitectura el material se transforma en materia cuando su utilización nace de la
idea. Dicho de otra manera: la materia es un material con idea arquitectónica. […]. La
materia es el canto del material en el espacio. Ese canto surge de la emoción, que
tiene los polos en la idea del espacio y la idea de la materia. La arquitectura es capaz
27
de sintetizar en una idea materia y espacio. (Aparicio, 2006, p. 194-195).
Conhecer as propriedades dos materiais, as suas características, funcionalidades e
proveniências, intensifica a relação entre o arquitecto e a arquitectura, enfatiza a
clareza do traço, tornando a escolha num acto consequente e harmonioso. Um
princípio que associa a sensibilidade e a experimentação, o método e a intenção.
Porque, o material construído, conforma o espaço, a partir dos seus limites físicos
visíveis, e a construção desses limites surgem como consequência de uma escolha e
do seguimento de uma ideia inicial, permitindo ao observador apreender e
experimentar espontaneamente os espaços contidos por esses limites. Sendo que a
percepção do espaço é “[…] definida e captada pelas dimensões e proporções
relativas dos seus limites físicos construídos ou percepcionados.” (Pinto,2007, p. 27).
27
Em arquitectura o material transforma-se em matéria quando a sua utilização nasce da ideia. Dito de
outra maneira: a matéria é um material com ideia arquitectónica […]. A matéria é o louvor do material no
espaço. Esse louvor surge da emoção, que tem como pólos a ideia do espaço e a ideia da matéria. A
arquitectura é capaz de sintetizar numa ideia matéria e espaço. (Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
32
O limite construído: o muro
“O limite é pois, algo que é perceptível aos sentidos: visível, tangível, audível…; algo
que faz sentir a sua presença física, ou que simplesmente se enuncia subtilmente ou
se intui inconscientemente, […]. (Pinto, 2007, p. 30).
A escolha dos materiais para a construção desse limite deverá atender a um propósito
específico, pois cada material apresenta qualidades e características distintas que
influenciarão a vivência e uso dos espaços contidos. Um plano de vidro, por exemplo,
representa uma barreira impenetrável, embora possa ser trespassado visualmente.
Este factor produz um efeito de continuidade entre os espaços, apesar de estar
fisicamente limitado.
Ilustração 10 - Corte Casa Farnsworth, Ilinois, Mies Van der Rohe. (Ching, 2005, p. 106)
A escolha do material parte da ideia e da ideia nasce a arquitectura. A experiência
espacial é intensificada pelas barreiras físicas que o limitam, e quando a ideia
construída é evidenciada, o habitar provoca emoção. Assim, “Cuando la idea y la
materia entran en sintonía en un muro, en sus ausencias o en sus relaciones,
comienza la emoción del hombre que habita ese espacio.” 28 (Aparicio, 2006, p. 205).
A relação existente entre a dimensão técnica e as propriedades mecânicas dos
materiais, levou Gottfried Semper29 a desenvolver a sua teoria racionalista da criação
arquitectónica, na qual define quatro princípios materiais, têxteis, cerâmicos,
tectónicos e estereotómicos, correspondentes ao grau de elasticidade da matéria,
(flexível, plástico, elástico e sólido). Esta interpretação explica dois aspectos, o exterior
dos materiais, e a sua constituição interna. O tectónico, relacionado com o “[…]
28
Quando a ideia e a material entram em sintonia num muro, nas suas ausências e nas suas relações,
começa a emoção do homem que habita esse espaço. (Tradução nossa).
29
Gottfried Semper (1803 - 1879). Arquitecto e teórico alemão. Foi director da escola de arquitectura na
Academia de Belas Artes em Dresde. Desenvolveu estudos sobre a concepção da arte e a sua evolução
histórica. Projectou inúmeras obras em Viena na segunda metade do século XIX, como Burgplatz exterior
com a intenção de unir o palácio Hafburg com os Museus de História Natural e de História da Arte. Foi cofundador do South Kensington Museum, projeto que pretendia unificar arte e indústria.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
princípio estrutural pilar-viga originário da construção em madeira e continuada na
construção de pedra, aço e betão.” (Pinto, 2007, p. 113). E o estereotómico,
relacionado com o “[…] sistema de arco-abóbada-muro da construção de alvenaria de
pedra, tijolo, taipa e betão.” (Pinto, 2007, p. 113). Torna-se assim, importante clarificar
estes dois conceitos, ou “categorias” apelidadas por Semper, de maneira a perceber a
“[…] parte do edifício que pertence à terra (estereotómico) e a parte que se desliga
dela (tectónico).” (Baeza, 2011, p. 26).
Ilustração 11 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 12 - A caverna e a cabana. (Ilustração nossa, 2012)
“La palabra Estereotomía significa el arte o técnica de cortar sólidos. Lo estereotómico
está conectado con la piedra, con la tierra.” 30 (Aparicio, 2006, p. 171).
O que confere ao edifício, um efeito de continuidade material, relacionando-o
directamente com a pedra e as características que a compõe. “[…] lo tectónico está
conectado con la ropa, con el cubrirse, y, por tanto, también con el esqueleto, la
estructura.” 31 (Aparicio, 2006, p. 171). Aqui, o edifício surge como “discontinuum” de
matéria no espaço, adoptanto a sobreposição e união das várias partes que o compõe,
estando directamente relacionado com a ideia de morar.
As características inatas dos materiais, aliadas à técnica de transformação em
materiais construtivos, e ainda, a acção tectónica das estruturas e a conformação do
espaço, são importantes na medida em que contribuem para toda a formação
arquitectónica. A passagem da base estereotómica à estrutura tectónica, constitui algo
30
A palavra Estereotómico significa a arte ou técnica de cortar sólidos. O estereotómico está relacionado
com a pedra, com a terra. (Tradução nossa).
31
O tectónico está relacionado com a roupa, com o cobrir, e, por isso, também com o esqueleto, a
estrutura. (Tradução nossa).
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34
O limite construído: o muro
fundamental para a arquitectura. São estes conceitos que irão marcar os vários
períodos da cultura do construir, que, apesar de abstractos, pertencem à própria ideia
base, imprescindível para a criação de toda a arquitectura, podendo ser também
relacionados com as várias maneiras de a ver e de a compreender.
Entende-se por arquitectura estereotómica aquela em que a força da gravidade se
transmite de forma contínua, num sistema estrutural contínuo e onde a continuidade
construtiva é completa. É a arquitectura maciça, pétrea, pesada. A que assenta na terra
como se dela nascesse. É a arquitectura que busca a luz, que perfura as suas paredes
para que a luz entre no seu interior. É a arquitectura do pódio, do envasamento, da
estilóbata. É, em suma, a arquitectura da caverna. (Baeza, 2011, p. 28).
Ilustração 13 - Acrópole, Atenas, Grécia. (Ching, 2005, p. 236)
O conceito estereotómico está relacionado com a matéria, acentuando a presença da
própria matéria. O objecto arquitectónico criado a partir deste conceito, surge como um
todo contínuo, em que a estrutura é ocultada e mantida no interior dos muros que
conformam o espaço arquitectónico, evidenciando a ideia sustentada pelo uso do
determinado material. O estereotómico apresenta um caracter pétreo, através dos
materiais, que manifestam em si um caracter construtivo sólido, pesado, espesso,
ligado á terra. Um dos exemplos deste conceito aplicado à arquitectura é o pódio do
Templo Grego.
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35
O limite construído: o muro
Ilustração 14 - Pódio, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236)
Entende-se por arquitectura tectónica aquela em que a força da gravidade se transmite
de uma forma sincopada, num sistema estrutural com juntas, e nós, e onde a
construção é articulada. É a arquitectura óssea, lenhosa, leve. A que poisa na terra
como em bicos de pés. É a arquitectua que se defende da luz, que tem que ir tapando
os seus orifícios para poder controlar a luz que a inunda. É a arquitectura da casca. A
do ábaco. É, em suma, a arquitectura da cabana. (Baeza, 2011, p. 28-29).
O conceito tectónico está ligado à leveza, à estrutura ligeira, ao que é exterior à sua
construção. Nasce da natureza que a rodeia. Está relacionado com a ausência da
matéria, possibilitando que a própria natureza se una com o objecto arquitectónico. O
edifício criado a partir deste conceito, com espaços abertos à paisagem, em que a
estrutura faz parte do próprio espaço, e a sua conformação evidencia e expõe a
estrutura aplicada. Este factor, faz com que se destaque a ideia de sobreposição,
adição e união das peças que compõe o objecto, a ideia de descontínuo. Um dos
exemplos deste conceito aplicado á arquitectura é o peristilo do Templo Grego.
Ilustração 15 - Colunata, Acrópole, Atenas. ([adaptação a partir de] Ching, 2005, p. 236)
O espaço da arquitectura estereotómica contempla a tranquilidade através da
projecção de espaços conformados a partir de muros contínuos. O espaço da
arquitectura tectónica por sua vez, entende-se em movimento, percorrendo o espaço
conformado a partir de elementos descontínuos e abertos à paisagem.
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36
O limite construído: o muro
A arquitectura agrupa materiais, ideias e maneiras de conjugar essas ideias
relacionando a teoria e a técnica. Em que a teoria é vinculada à ideia e ao
pensamento, apresentando um caracter universal. Ideias e pensamentos como
características comuns ao ser humano de todas as épocas. A técnica varia no espaço
e no tempo, nos materiais usados e na própria construção. Adequando-se ao lugar e
ao contexto onde o objecto arquitectónico é inserido. A técnica está relacionada com a
estrutura empregue. Assumindo uma dupla função, tanto de transmissão de cargas,
como ordenadora do espaço arquitectónico. “A estrutura é a resposta material à
gravidade que […] constrói o espaço”, assim como a “[…] luz constrói o tempo.”
(Baeza, 2011, p. 29). A gravidade e a luz, juntamente com a ideia geradora do
projecto, são, segundo Baeza, os temas centrais da arquitectura. A arquitectura parte
da materialização de uma determinada ideia, em que o espaço é construído pela
gravidade, e a luz é o elemento que permite a percepção do tempo, “[…] em suma um
mecanismo capaz de concretizar os temas da Luz e da Gravidade, pode ser
extremamente útil aos arquitectos tanto para desenvolver as suas ideias como para
pôr de pé as obras que as materializam.” (Baeza, 2011, p. 31).
Ao longo da história da arquitectura, os elementos estruturais determinaram a maneira
construtiva dos edifícios. Na arquitectura do passado, os edifícios são construídos com
paredes portantes, directamente ligadas à sua função de suporte, que por sua vez
eram indissociáveis da forma que o edifício pudesse adoptar. Assim, o material usado
para suportar o edifício, servia igualmente para o compor. O muro revela, a partir das
suas características anteriormente mencionadas, ser um excelente exemplo para
ilustrar este facto. Pela sua dupla funcionalidade, tanto de estrutura como de elemento
compositivo do edifício.
Apesar do avanço tecnológico e a consequente alteração do processo estrutural,
observada ao longo da arquitectura moderna, é importante manter a estrutura como a
“[…] raiz do espaço.” (Baeza, 2011, p. 48). Porque, mais do que ligado à transmissão
das cargas, exercendo a sua capacidade de suporte, a estrutura deve também ser lida
como elemento necessário para estabelecer a ordem do espaço. Esta ordem deve ser
entendida como a génese de qualquer projecto.
A matéria e a estrutura, juntamente com a proporção e a luz, delimitam o espaço
arquitectónico, podendo ser mais ou menos evidente, a maneira como o delimitam.
Esta evidência é dada essencialmente pela expressão física e visível dos materiais
usados. Atribuindo ao muro ou à parede essa mesma qualidade referida. A maneira de
limitar o espaço varia de acordo com o seu contexto e com os valores éticos e
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37
O limite construído: o muro
culturais de cada época, assim como a introdução de novas técnicas construtivas ou a
descoberta de novos materiais.
O século XV é apontado como uma época de originalidades inseridas num período de
grande evolução e continuidade histórica. Um período de grande reflexão humanística,
notado principalmente a partir da formulação espacial focada nos contrastes
dimensionais góticos. A grande novidade é a introdução da reflexão matemática
aplicada e desenvolvida no românico e no gótico, em que o principal objectivo seria o
alcance da ordem e da lei na projecção e organização do espaço arquitectónico. Esta
nova e inovadora abordagem alterou definitivamente a relação entre o homem e o
espaço. O espaço é rapidamente perceptível e a lei espacial espontaneamente
compreendida. Até aqui, o espaço do edifício determinava o tempo necessário para o
percorrer. O arquitecto, ao projectar um determinado espaço, limitava o olhar do
observador, segundo directrizes por ele definidas. Restringia as possibilidades e a
própria liberdade do homem quando o percorria. “Com Brunelleschi, pela primeira vez,
já não é o edifício que possui o homem, mas este que, apreendendo a lei simples do
espaço, possui o segredo do edifício.” (Zevi, 2011, p. 97).
No século XV lançam-se “[…] as bases do pensamento moderno na construção,
segundo o qual é o homem que dita leis ao edifício, e não o contrário.” (Zevi, 2011, p.
98). Tal como acontece no espaço interior, também o seu involucro mural sofre
grandes alterações.“Todos os factores decorativos […] são abolidos.” (Zevi, 2011, p.
100). Em que os temas abordados eram visíveis nas superfícies geradas pelas obras
de Alberti32. O século XV “[…] foi o berço da mais ousada experiência moderna.”(Zevi,
2011, p. 100). É possível observar uma integração do pensamento e da arte, da nova
ciência e da arte poética. A partir das novas exigências intelectuais do século XV, os
arquitectos foram “obrigados” a rever “[…] todos os esquemas distributivos
tradicionais.” (Zevi, 2011, p. 98). A melhor maneira para atingir esta unidade espacial
seria a partir do esquema da planta central, negando assim, o eixo longitudinal. O
século XV foi extremamente importante para a evolução da composição espacial
interior, visível na obra de Brunelleschi, e a composição da superfície exterior, visível
na obra de Alberti.
32
Alberti (1404 – 1472). Arquitecto e teórico italiano. Interessou-se pela ciência e pela arte, e ainda pela
obra de Vitrúvio. Escreveu o célebre tratado De re aedificatoria, tendo como referência toda a arte
desenvolvida na antiguidade clássica. O seu trabalho baseia-se na harmonia das proporções,
concebendo o edifício como um todo. Desenvolveu um excelente trabalho na concepção de plantas e
modelos. Em 1452, completa a seu principal trabalho teórico De re aedificatoria libri decem (Dez livros
livros sobre arquitectura, considerando o primeiro grande tratado da arquitectura moderna.
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38
O limite construído: o muro
Por outro lado, no século XVI, apesar de se continuar a desenvolver as ideias iniciadas
no século anterior, volta-se novamente “[…] à antiga antítese entre espaço interior e
exterior, com a solidez pesada e corpórea das suas paredes e com a maciça plástica
dos seus componentes decorativos.” (Zevi, 2011, p. 102). Atribuindo um novo sentido
à articulação planimétrica, espacial, volumétrica e decorativa. Esta nova articulação é
notada na entrada da Biblioteca Laurenziana de Florença (1524-1526), quando
Michelangelo33 separa a gigante colunata da parede, alterando definitivamente a ideia
do volume, “[…] a agitação interior do invólucro mural do século XVI.” (Zevi, 2011, p.
113). O ambiente é dominado pela escadaria que rompe a parede. O símbolo plástico
associado a este acto, à fragmentação do volume, revolucionou a ideia da parede
como elemento físico que encerrava o espaço arquitectónico, permitindo uma maior
“[…] libertação espacial.” (Zevi, 2011, p. 114).
Esta libertação das regras, convenções, geometria elementar e da qualidade estática
do espaço, representa a libertação da simetria e da antítese entre espaço interior e
exterior, apontado por Zevi, como indispensável para o entendimento do espaço
barroco. (2011, p. 114). Na arquitectura barroca, o espaço é caracterizado pela
materialização de uma “[…] atitude criativa e liberta de preconceitos intelectuais e
formais.” (Zevi, 2011, p. 114). O que no movimento moderno se traduziu numa grande
influência para o Organicismo.
O século XIX por sua vez não primou pela inovação, mas por um período de
revivalismo. O neoclássico e o ecletismo do século XIX, associados ao romantismo
literário e à ciência arqueológica, são a base de uma época de carência inventiva.
Assinala-se na arquitectura deste século a redução das dimensões e da escala
monumental anteriormente aplicada e a adopção das técnicas construtivas e
elementos decorativos do passado. (Zevi, 2011, p. 119).
O Neoclassicismo surge a partir de duas evoluções distintas e fortemente
relacionadas, alterando profundamente a relação entre o homem e a natureza. A
primeira, aliada ao “[…] aumento da capacidade humana de exercer controle sobre a
natureza.” (Frampton, 2008, p. 3). Relacionada com as mudanças tecnológicas. A
segunda, relacionada com as grandes transformações sociais, originando uma nova
33
Michelangelo (1475 – 1564). O seu percurso artístico desenvolveu-se por mais de setenta anos, entre
Florença e Roma. A sua obra desenvolveu-se na transição do Renascimento para o Maneirismo, e o seu
estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade clássica, do Renascimento, dos ideais do Humanismo
e do Neoplatonismo. Foca-se na representação da figura humana. Entre as suas obras, destaca-se, em
escultura, o Baco, a Pietà, o David, em pintura, o teto da Capela Sistina e o Juízo Final no mesmo local e
em arquitectura destaca-se a Basílica de São Pedro implementando grandes reformas na sua estrutura.
Remodelou a praça do Capitólio romano e projectou diversos edifícios.
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39
O limite construído: o muro
formação cultural das classes - a mudança da consciência humana. As mudanças
tecnológicas, fundamentadas pela ciência, contribuíram para a produção de novas
infraestruturas e respectiva capacidade produtiva. As mudanças da consciência
humana, por sua vez, levaram ao aparecimento de novas categorias de conhecimento
ligadas às disciplinas humanistas do Iluminismo. (Frampton, 2008, p. 3).
O conjunto destes dois factores impulsionou várias questões confrontadas com as
novas capacidades do homem, gerando uma época em que a sociedade se tornava
cada vez mais complexa e interventiva. Surge a chamada geração “visionária” de
arquitectos, que incluía Étienne-Louis Boullé 34 , Jacques Gondoin 35 , Pierre Patte 36 ,
Marie-Joseph Peyre37, Jean-Baptiste Rondelet38 e Claude-Nicolas Ledoux39. Blondel40,
apontado como o mestre desta “geração”, apresenta conceitos fundamentais
relacionados com a composição, tipo e carácter dos espaços. Defende a simplicidade
aliada à grandeza, o que mais tarde viria a impulsionar a obra de muitos dos seus
discípulos, nomeadamente a de Boullée. A extravagância aliada ao poder vivido na
época, requeria a existência de estruturas úteis de grandeza e autoridade. Nas
escolas de arquitectura, procuram-se as metodologias universais para a edificação a
fim de controlar os custos que esta poderia contrair. Em meados do século XIX, a
herança neoclássica divide-se em duas frentes de desenvolvimento.
O classicismo Estrutural de Labrouste 41 e o classicismo Romântico de Schinkel 42 .
Ambas responderam à necessidade de criar novos tipos de edifícios. O classicismo
34
Bollée (1728 – 1799). Arquitecto francês do Neoclassicismo de influência romântica. Nos seus projectos
de memoriais defendeu uma arquitectura dos sentimentos, tendo exercido uma grande influência sobre os
seus contemporâneos.
35
Jacques Gondoin (1737 – 1818). Arquitecto francês. Frequentou a Ecole des Arts. Passou alguns anos
em Roma com uma bolsa concedida poe Louis XV. Em 1769, é contratado para projectar a Ecole de
Cirugie, em que se afasta de todas as regras académicas, assumindo uma enorme simplicidade.
36
Pierre Patte (1723 – 1814). Arquitecto francês. Foi assistente do mestre da arquitectura francesa,
Jacques François Bondel. Foi o primeiro arquitecto a ilustrar o plano da rua, juntando edifícios e sistema
de esgotos através de um corte. Desenvolveu uma teoria centrada na estrutura geral da cidade enquanto
organismo urbano, onde demonstra as relações existentes entre todos os elementos que compõem uma
cidade. As suas ideias foram utilizadas mais tarde por Haussmann, no plano da cidade de Paris.
37
Marie-Joseph Peyre (1730 – 1785). Arquitecto francês. Aluno de Blondel. A sua obra mais importante
foi o Teatro Odén em Paris. Iniciou em Fraça, o estilo palladiano com a sua obra Villa para Madame
Leprêtre de Neubourg.
38
Jean-Baptiste Rondelet (1743 – 1829). Arquitecto e teórico francês. Foi o arquitecto responsável pela
continuação da obra da Igreja Sainte Geneviève, após a morte de Jacques Germain Soufflot em 1789.
Entre 1805 e 1816 publica o seu tratado sobre arquitectura.
39
Claude-Nicolas Ledoux (1735 – 1806). Principal representante da arquitectura utópica. As formas base
da sua arquitectura são volumes geométricos que não se fundem uns com os outros mas se
interpenetram de modo expressivo como blocos rígidos.
40
Blondel (1705 – 1774). Arquitecto, professor e teorico francês. As suas teorias e ensinamentos
contribuíram fortemente para a teoria da arquitectura. A sua escola de arte em Paris foi a primeira
instituição a ensinar arquitectura. Entre 1771 e 1777, escreve a secção de arquitectura para a
Encyclopédie, estabelecendo o inicio da filosofia racional do Iluminismo.
41
Labrouste (1801 – 1875). Arquitecto e engenheiro francês. É considerado por muitos como um dos
fundadores da arquitectura moderna, e o principal representante francês da corrente racionalista. Entre as
suas obras mais notórias está a Biblioteca de St. Geneviève em Paris.
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40
O limite construído: o muro
Estrutural tendia mais para o enfase dado à estrutura, enquanto o classicismo
Romântico, se baseava na tentativa de ressaltar o caracter fisionómico da própria
forma. (Frampton, 2008, p. 7).
Com a introdução da tecnologia do ferro e do vidro, as possibilidades estruturais
aumentam. No Palácio de Cristal43 de Paxton44, apesar da tipologia e da forma da
abóbada se manterem, tal como acontecia em épocas passadas, o limite da parede
desmaterializa-se.
A
idade
moderna introduz um
novo
conceito
na formulação do
espaço,
fundamentando-se na “planta livre”, o que pode ser explicado a partir das alterações
das exigências sociais da época. Neste sentido, o tema central da arquitectura já não
é o monumental, passando para o problema da casa da família média. As novas
técnicas construtivas em aço e betão armado permitem concentrar os elementos de
resistência estática num fino esqueleto estrutural. Neste âmbito, a ideia da parede
portante que conformava o edifício altera-se, atribuindo uma certa liberdade espacial,
e assim “[…] materializar as condições de execução para a teoria da ‘planta livre’.”
(Zevi, 2011, p. 121). Zevi refere que a “[…] arquitectura moderna reproduz o sonho
gótico no espaço.” (2011, p. 121). Na medida em que aplica acertadamente a nova
técnica à produção arquitectónica. Através das paredes de vidro, estabelece um
contacto absoluto entre o interior e o exterior. A utilização de paredes na divisão do
espaço interior, já não corresponde apenas a funções estáticas estruturais. A
espessura das paredes pode agora tornar-se mais fina, pode libertar-se da sua forma
recta, pode mover-se livremente. Estes factores contribuem para o aumento das
possibilidades de criação de espaço, de conjugar os ambientes, de passar do plano
estático da casa antiga para o livre e elástico do edifício moderno. “[…] a planta livre
42
Schinkel (1781 – 1841). Arquitecto, pintor e urbanista alemão. Estudou na Academia de Arquitetura de
Berlim e trabalhou com o arquiteto Friedrich Gilly (1798-1800). Entre 1802 e 1805 viaja por Itália e estuda
arquitetura neste país. De regresso ao seu país instala-se como pintor e designer de mobiliário, mas em
1810 é contratado pelo estado e em 1815 nomeado supervisor geral das construções alemãs. A partir
daqui desenvolve diversos projetos encomendados pelo Rei Frederico Guilherme III em estilo neoclássico
baseado em modelos gregos. Desta época resultam os seus mais apreciados edifícios, o Altes Museum
(Museu Antigo) (1823-30), o Corpo da Guarda (1816-18) e o Schauspielhaus (Teatro Real) (1821) todos
na cidade de Berlim. Schinkel interessou-se pela arquitetura da Grécia clássica em parte pela sua
simbologia, mas também porque servia os seus propósitos de conceção racional dos edifícios. A sua obra
influenciou numerosos arquitetos, tendo sido o principal difusor deste estilo no Norte da Europa.
43
Palácio de Cristal – (1851). Pavilhão da grande exposição em Londres.
44
Sir Joseph Paxton (1801 – 1865). Arquitecto e paisagista inglês. Construiu a primeira estufa em 1828.
Em 1831, desenvolveu numa outra estrutura similar apresentando uma solução estrutural original,
permitindo uma maior resistência mecânica da estrutura empregue e dos próprios materiais utilizados
(madeira e vidro). Os seus edifícios apresentam-se paradigmáticos da emergente arquitetura do ferro,
marcados pela inovação estrutural ditada pela utilização das possibilidades técnicas dos novos materiais
industriais que induziriam soluções tipológicas e espaciais inusitadas e de carácter vincadamente
funcionalista. Foi também um dos mais importantes paisagistas do seu tempo. De entre as suas
intervenções de carácter paisagístico destacam-se os jardins envolventes do Palácio de Cristal, o
conjunto de Chatsworth e o parque de Birkenhead.
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41
O limite construído: o muro
oferece possibilidades ilimitadas de divisões elásticas e subdivisões internas, dentro
de uma malha estrutural ou em linha recta.” (Zevi, 2011, p. 123).
Desta maneira, o espaço moderno recupera o “[…] desejo gótico da continuidade
espacial.” (Zevi, 2011, p. 123). E a procura do dinamismo dos componentes
arquitectónicos como consequência de uma reflexão social, volta a introduzir as
paredes ondulantes e o movimento volumétrico barroco, através da funcionalidade dos
elementos, em que a massa e espessura das paredes barrocas, é substituída por
divisórias mais leves, finas e suspensas, construídas em vidro ou num outro material
isolante. A métrica espacial da Renascença é recuperada, assim como o gosto pelas
divisões modulares adequados aos programas arquitectónicos actuais. Opta-se pela
simplicidade e pela essência dos elementos figurativos.
A arquitectura é criação de espaço. A sua base é a percepção do espaço. A percepção
do espaço, objectivando através do material, torna-se possível, os elementos materiais
configuram-se segundo uma ideia. A formação dos elementos materiais segundo uma
ideia, significa, ao mesmo tempo, a formação dos elementos ideais segundo as leis da
matéria. Através da união dos dois momentos numa única forma surge a arquitectura.
45
(Hilberseimer , 2010, p. 160).
A ideia procura a técnica do seu tempo de maneira a tornar possível a execução da
obra. A ideia, não estando presa a uma época, aliada à técnica usada num tempo
determinado, provoca emoção. Porque a ideia construída, torna real o imaginado,
torna material e eterna toda a arquitectura.
Ilustração 16 - Panteon, Roma, 120-124 d.C. (Ching, 2005, p. 93)
45
Ludwig Hilberseimer (1885 – 1967). Arquitecto e urbanista alemão. Publicou vários artigos, enquanto
crítico de arte, sobre a arquitectura moderna e urbanismo. Foi professor na escola da Bauhaus entre 1929
e 1933. Em 1938 emigra para Chicago, onde se torna professor de urbanismo e planeamento regional no
Instituto de Tecnologia de Ilinois sob a direcção do arquitecto Mies Van der Rohe.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
42
O limite construído: o muro
2.3. COMPOSIÇÃO E CONFORMAÇÃO
[…] Me unís a este lugar y mis ojos miran. Mis ojos miran cualquier cosa que enuncia
un pensamiento. Un pensamiento que se ilumina sin palabras ni sonidos, sino
únicamente por los prismas relacionados entre sí. Estos prismas son tales que la luz
los detalla claramente. Estas relaciones no tienen nada necesariamente práctico o
descriptivo. Son una creación matemática de vuestro espirito. Son el idioma de la
arquitectura. Con las materias primas, mediante un programa más o menos utilitario
que habéis superado, habéis establecido relaciones que me han conmovido. Esto es
46
arquitectura. (Le Corbusier, 1998, p. 165).
Le Corbusier 47 defende que a proporção entre os elementos de uma qualquer
composição é essencial para a percepção do belo. Assim, a precisão do contorno, e a
disposição dos vários elementos revelam proporções harmoniosas, provocando no
nosso íntimo, uma vibração harmónica. O plano horizontal, é o eixo sobe o qual o
homem está organizado em perfeita relação com a natureza e com o universo. Este
eixo organizacional, deve ser o mesmo sobre o qual se alinham todos os fenómenos e
todos os objectos da natureza. O eixo que nos leva a criar uma unidade de gestão do
universo, a reconhecer a origem das coisas.
Ilustração 17 - Modulor, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 303)
46
Unido-me a este lugar, os meus olhos veem. Os meus olhos veem qualquer coisa que enuncie um
pensamento. Um pensamento que se ilumina sem palavras ou sons, nem unicamente pelos prismas
relacionados entre si. Estes prismas são tais que a luz detalha-os claramente. Estas relações não têm
nada necessariamente prático ou descritivo. São uma criação matemática com o vosso espirito. São o
idioma da arquitectura. Com as matérias primas, mediante um programa mais ou menos utilitário, haveis
superado, haveis estabelecido relações que me comoveram. Isto é arquitectura. (Tradução nossa).
47
Le Corbusier (1887 - 1966). Foi um dos mais importantes arquitectos do Estilo Internacional e do
Movimento Moderno. Este arquitecto suíço-francês começou por colaborar no atelier de Auguste Perret,
em 1908, trabalhando de seguida com Peter Behrens, em Berlim, em 1910, e depois de várias viagens,
pela Turquia, Grécia e Itália, onde teve contacto com a arquitectura clássica e mediterrânia, e
regressando depois a Paris, e em 1922 abre uma firma de arquitectos com o seu primo, Pierre Jeanneret.
Implementando as suas teorias da habitação ideal, foi o grande impulsionador de uma nova arquitectura,
racional e funcional, e na sua obra teórica fundamental, de 1923, “Vers Une Architecture” (Para uma
arquitectura), desenvolveu o embrião do Funcionalismo. Afirma que “a casa é uma máquina de habitar” e
que “a arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz”, tendo sido estes
dois conceitos colocados em prática nas obras de Habitação de Marselha e na Igreja Notre-Dame-duhaut, respectivamente.
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43
O limite construído: o muro
A linha do horizonte, este eixo horizontal, foi sempre um factor fascinante para o
homem. Onde se juntam, ou se separam, o céu e a terra. Esta linha é a “[…] imagem
visível do plano horizontal da terra.” (Baeza, 2011, p. 16). O plano onde o homem
constrói e conforma um determinado espaço. Uma construção onde usa elementos
como, a plataforma, o pódio, a estilóbata, a base, o terraço ou a bancada, de maneira
a organizar esses espaços. Elementos que poderão assumir um caracter
estereotómico ou tectónico. Um exemplo bastante expressivo da operação
estereotómica é o pódio do Pavilhão de Barcelona 48 do arquitecto Mies Van der
Rohe 49 . O tectónico será mais ligado à plataforma, pela sua aparente leveza. A
plataforma da casa Farnsworth de Mies é também um exemplo elucidativo do “[…]
plano horizontal flutuante.” (Baeza, 2011, p. 21).
Ilustração 18 - Proposta de axonometria do Pavilhão de Barcelona, Bruno Zevi. (Quetgas, 2001, p. 116)
O plano horizontal, e a sua organização a partir dos vários elementos, contribuem
significativamente para o homem estabelecer um claro domínio sobre a natureza. O
domínio, concebido a partir dos limites construídos por questões de protecção. “Os
limites do céu e da terra.” (Baeza, 2011, p. 17-18). Intencionalmente manipulado e
conformado pelo homem, a partir do desenho, da construção e da percepção do
espaço.
Jorge Cruz Pinto, afirma que o espaço só é compreendido através dos limites físicos,
ou das barreiras materiais que o conformam, defendendo que a arquitectura é a arte
de “[…] delimitar e conformar o espaço habitável.” (2007, p. 21). As leis da física
seriam a consequência deste eixo, e mesmo sem reconhecermos a ciência e as suas
48
Pavilhão de Barcelona (1929). Pavilhão da industria electrica alemã. A participação alemã na Feira
Mundial de Barcelona em 1929 compreendia uma série de exposições de máquinas industriais e produtos
nas diversas salas e um pavilhão de acordo com tema original da feira, a electricidade. O pavilhão em si
teria que encerrar e refletir uma continuidade orgânica entre o trabalho e a cultura, uma integração da
vida no trabalho, e o trabalho, como o tecido ontológico da existência. O pavilhão representaria uma casa
- a casa do espírito alemão, a casa moderna.
49
Ludwig Mies van der Rohe (1886 – 1969). Ârquitecto norte-americano de origem alemã. Um dos
arquitectos mais importantes do movimento moderno, cuja arquitectura se materializa por via dos novos
materiais sob o lema de “less is more” onde a estrutura tem a função preponderante e caracteriza
qualquer projecto. Assim, as suas obras mais importantes são: Pavilhão de Barcelona (1929), Casa
Farnsworth (1945-51), perto de Chicago; New National Gallery (1968), em Berlim, entre outros.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
44
O limite construído: o muro
obras, estas, permitem-nos reconhecer a primeira necessidade. Corbusier sugere
também uma possível definição de harmonia, “[…] momento de concordancia con el
eje que hay en el hombre, y por ello con las leyes del universo, vuelta al orden
general.” 50(1998, p. 170-171).
A formação dos objectos ou elementos presentes na natureza são interpretados de
maneira clara. O ser humano reconhece na “[…] natureza a formação do círculo ao
observar o sol e a lua, ou intuir a esfera na forma orgânica de uma laranja ou de uma
pérola.” (Pinto, 2007, p. 137). Esta intuição baseia-se na analogia entre a
representação do objecto sensível com o conceito do círculo. Por outro lado, as figuras
geométricas puras, o quadrado, o cubo e outos poliedros, “[…] são formadas pela
‘razão pura do homem’, e dificilmente serão encontrados na natureza.” (Pinto, 2007, p.
137) As formas geométricas correspondem ao conhecimento imediato, como acontece
nos casos da esfera ou do cubo, como definiu Kant “[…] pertencem ao âmbito do
pensamento puro.” (2001, p. 208).
Os elementos da composição arquitectónica, como a simetria, a proporção, o
equilíbrio, a escala, a unidade, entre outros, exprimem a qualidade notável da
arquitectura, e a “[…] habitabilidade num sentido compreensivo, material, psicológico e
espiritual da palavra.” (Zevi, 2011, p. 174). A interpretação formalista desenvolvida por
Zevi, evidencia a relação existente entre a forma arquitectónica e as regras, leis e
princípios arquitectónicos a que deve corresponder a harmonia dessa mesma
composição.
Interessa-nos também, perceber a relação entre o conteúdo e a forma, e a maneira
como os elementos constitutivos das formas (linha, superfície, volume, espaço),
aliados aos instrumentos que o arquitecto tem à sua disposição (matéria, luz,
ornamento), contribuem para a composição arquitectónica. Uma composição que
invariavelmente incide sobre aquele que viria a ser considerado como a essência da
arquitectura pela teoria arquitectónica do século XX, o espaço. Giedion baliza este
conceito, ao dizer que “[…] a essência do espaço se encontra, sobretudo, na interação
dos elementos que o limitam.” (Giedion apud Pinto, 2007, p. 21). Sendo que o espaço,
de acordo com Arnheim, é “[…] uma entidade autocontida, infinita ou finita, um veículo
vazio, pronto, dotado da capacidade de ser enchido com coisas.” (Arnheim, 1988,
p.17).
50
Momento de concordância com o eixo existente no homem, e por ele com as leis do universo, volta a
ordem geral. (Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
45
O limite construído: o muro
Analisando o significado da palavra composição, “[Do lat. compositione] Representa o
“Ato ou efeito de compor […].”. “Compor, [Do lat. Componere] formar ou construir de
diferentes partes, ou de várias coisas: conformar, harmonizar […].” (Ferreira, 1986, p.
441). E observando a maneira como se conjuga em arquitectura, percebemos a
relação indiscutível que mantém com a organização espacial e a própria limitação
física do espaço.
A composição do espaço arquitectónico deve ser entendida através dos elementos
que actuam na organização formal dos edifícios, das leis que regem a sua
organização interna e a estrutura geométrica aplicada. Os pontos, linhas, planos e
volumes, funcionam como protagonistas da composição, assim como a simetria, a
articulação, ritmo, sequência, determinam a maneira de representar essa composição.
Assim, a composição e representação são das ferramentas mais úteis para a
arquitectura. (Llorens51 , 2004, p. 10-11).
Le Corbusier refere que “La arquitectura es el juego sabio, correcto y magnífico de los
volúmenes reunidos bajo la luz.” 52(Le Corbusier, 1998, p. 16). E como tal, o arquitecto
tem o dever de dar vida às superfícies que envolvem esses volumes. Dar ao volume, o
esplendor da sua forma e dar utilidade à superfície.
Pensando na composição de uma paisagem, se relacionarmos este volume com o
muro e a superfície com o território em que este assenta, conseguimos compreender
mais facilmente as palavras de Le Corbusier. Através deste elemento maciço, a
conformação do território torna-se mais evidente, tornando o limite perceptível.
Arnheim, por sua vez, defende que “[…] a configuração das fronteiras não é mais que
um dos factores que regem as relações espaciais entre áreas visuais contíguas”.
(Arnfeim apud Pinto, 2007, p. 30). Desta maneira, o muro desenvolve e articula o limite
periférico de um determinado lugar, revelando a capacidade de gerar espaços
contínuos.
O muro, através das suas características, enquanto elemento maciço e espesso,
possibilita a sua utilização enquanto componente de suporte. Exerce a sua função de
limite físico, separando de maneira evidente o interior e o exterior. Também a
materialidade aplicada na construção de um muro, pode ajudar o observador a
contextualizar a obra. Esta contextualização pode ser lida a partir de um conjunto de
relações que o muro estabelece com o território, ou das próprias características do
51
Vicente Más Llorens – Arquitecto espanhol. Professor Catedrático do departamento de projecto
arquitectónico na Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad Politécnica de Valencia.
52
A arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz. (Tradução nossa).
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46
O limite construído: o muro
material usado. Os materiais permitem a configuração física do espaço, delimitam o
próprio espaço e são a base, na qual, se torna possível definir volumetricamente os
espaços arquitectónicos. Apresentam a qualidade de representar visivelmente os
limites físicos do espaço.
Ilustração 19 - Muro de pedra. (Ilustração nossa, 2012)
Os limites construídos, a partir de muros, conformam o espaço da maneira mais
elementar e evidente, constituindo a “caixa arquitectónica” (quatro paredes, tecto e
pavimento). Aqui, a capacidade de contenção do interior da caixa, é definida pelas
dimensões e proporções relativas aos elementos usados na sua construção. Contudo,
a apreensão dos limites espaciais pode assumir um caracter mais expansivo, não
eliminando uma leitura espacial contínua.
Para o arquitecto Frank Lloyd Wright 53 , a continuidade espacial tem um caracter
expansivo. A sua arquitectura baseia-se na realidade do espaço interior, negando as
formas volumétricas simples. Defende que a natureza é parte integrante de um
projecto. A planta livre é uma consequência, “[…] um resultado final de uma conquista
que se exprime em termos espaciais, partindo de um núcleo central e projectando os
vazios em todas as direcções.” (Zevi, 2011, p. 125).
Por outro lado, Le Corbusier afirma que as “[…] formas primárias são as mais belas
porque se leem claramente”. (Le Corbusier, 2010, p. 116). Esta análise pode ser
explicada a partir do processo de configuração dos objectos desenvolvido pela teoria
gestaltista. “A psicologia gestaltista afirma que a mente simplifica o meio visual a fim
de compreende-lo.” (Ching, 2005, p. 38). Ao analisar uma composição de formas,
existe sempre uma tendência para reduzir o conjunto observado aos temas mais
53
Frank Lloyd Wright (1869-1959). Arquitecto Americano, defendia a teoria de que a arquitectura tinha de
ser desenvolvida de dentro para fora. Projectou obras orgânicas, em que a construção e os materiais
correspondiam à especificidade da paisagem e ao fim a que se destinavam. Em 1943 concebeu o Museu
Guggenheim de Nova Iorque com uma forma espiralada (1956-59).
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47
O limite construído: o muro
simples e regulares, tornando mais fácil a sua compreensão. Sendo que estas figuras
regulares são o círculo e vasta possibilidades de polígonos regulares nele inscritas.
Francis Ching54, defende que a “[…] forma é um termo abrangente que tem vários
significados.” (2005, p. 34). Podendo assumir uma aparência externa reconhecível por
todos. Num projecto artístico, este termo, é normalmente associado á estrutura formal
de um trabalho, através da disposição e a coordenação dos vários elementos e partes
de uma composição, de maneira a produzir uma imagem lógica e harmoniosa. Neste
sentido, a forma indica, tanto a estrutura interna, como a imagem exterior dos edifícios,
partindo de um princípio que atribui unidade ao todo. É frequentemente relacionada
com a massa ou o volume tridimensional. O volume encerra três dimensões,
comprimento, largura e profundidade, e é normalmente analisado a partir da união de
vários pontos ou vértices, a partir de linhas ou arestas, em que dois planos se
encontram, ou ainda, através dos limites definidos pelos planos ou superfícies.
Ilustração 20 - Planta, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 29)
54
Francis Ching (1943 ). Arquitecto e director da Ching Associates, é também professor de
arquitectura na Universidade de Washington em Seattle. Ching é o autor de alguns dos mais conhecidos
livros de arquitectura, incluindo Architectural Graphics, Building Construction illustrated, Interior Design
illustrated. Na sua obra Forma, espaço e ordem, Ching examina o essencial da arquitectura, justapondo
imagens que atravessam séculos e cruzam fronteiras culturais para criar um vocabulário elementar e
definitivo do desenho.
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48
O limite construído: o muro
Numa composição de um projecto arquitectónico, o volume pode ser entendido, pelo
solido, espaço ocupado pela massa ou pelo vazio, espaço contido ou delimitado por
planos.(Ching, 2005, p.28).
Ilustração 21 - Esquiço, Notre Dame Du Haut, Ronchamp, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 29)
Si hay una primera tensión espacial derivada de la conformación primaria del espacio
por los muros que lo definen, se puede pensar en una segunda operación de volver a
tensionar de otra manera este espacio, a través de perforaciones por donde entra la
luz, por donde se pone en relación el espacio interior con el espacio exterior, por donde
55
irrumpe el creador y la razón de ser de la Arquitectura: el hombre. (Aparicio, 2006, p.
189).
Se por um lado a conformação do espaço é definida através do muro – volume, por
outro, a sua ausência – vazio, poderá igualmente contribuir para essa conformação,
embora de maneira distinta. Ou seja, da mesma maneira que pode existe um espaço
ocupado pela massa de um edifício, pode também, existir um espaço contido por
planos ou paredes. Esta ausência mencionada não corresponde obrigatoriamente à
ausência total do muro, podendo ser entendida pela subtracção de matéria. A
subtracção, está vinculada à ideia estereotómica, realçando o valor material e maciço
do edifício, acentuando a presença corpórea do muro sólido. Englobamos, nesta
operação arquitectónica, as perfurações pontuais que vão permitindo a entrada de luz
e a circulação entre os espaços. Com a ausência por subtração de matéria, o muro
tem mais enfase do que sem ela. O muro é mais maciço com uma janela do que sem
ela, pois a própria ausência torna mais consistente, a modo de contraponto, da
presença da matéria.
55
Se existe uma primeira tensão espacial derivada da conformação primária do espaço pelos muros que
o definem, pode-se pensar numa segunda operação voltando a tenciona-lo de maneira diferente, através
de perfurações por onde entra a luz, por onde se relaciona o espaço interior com o espaço exterior, por
onde irrompe o criador e a razão de ser da arquitectura: o homem. (Tradução nossa).
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O limite construído: o muro
Antonio Sant’Elia 56 e Filippo Tommaso Marinetti 57 , no texto A arquitectura futurista,
publicado em 1914, explicam as grandes alterações verificadas, não só em termos
técnicos mas também relativas às grandes transformações sociais e culturais.
Defendem que a evolução não está na procura de novos formatos, nem em precisar
as diferenças formais entre antigos e novos edifícios. A evolução está no modo como
o homem recorre à ciência e às novas técnicas, de maneira a satisfazer ao máximo,
todas as exigências relacionadas com o modo de viver e pensar. “Perdemos o sentido
do monumental, do massivo e do estático e enriquecemos a nossa sensibilidade com
o gosto do ligeiro e do prático, do efémero e do rápido.” (Sant’Elia, Marinetti, 2010, p.
98). A arquitectura advém do cálculo, da audácia e da simplicidade. Deve tornar
possível a ligeireza e a elasticidade. Deve impulsionar o dinamismo das formas e
compreender o homem nos ambientes criados.
Ilustração 22 - Esquema compositivo. (Ching, 2005, p. 169)
56
Antonio Sant’Elia (1888 – 1916). Arquitecto Italiano. É considerado o principal divulgador e arquitecto
futurista. Na sua obra, é notória a influência do arquitecto Otto Wagner e as influências dos ideiais das
cidades norte-americanas. Em 1912 produz um conjunto de desenhos (Cidade Nova), onde ilustra as
suas teorias arquitectónicas, da escala monumental aplicada a todos os componentes da cidade. Os seus
ideias influenciaram inúmeros arquitectos e anteciparam a génese do planeamento da cidade moderna.
57
Filippo Tommaso Marinetti (1876 – 1944). Escritor e poeta italiano. Fundador do movimento futurista. A
sua roptura com a tradição aparece reflectida no primeiro manifesto futurista em 1909, publicado no diário
Figaro. Em 1910 apresenta o manifesto da literatura futurista e em 1912 o manifesto técnico do futurismo.
Neles descreve uma nova civilização governada pelas máquinas e pela velocidade. Defende a violência e
a guerra como a única possibilidade de afirmação individual do homem.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
50
O limite construído: o muro
Erich Mendelsohn 58 , explica que as novas condições da arquitectura são impostas
pelo espírito revolucionário do século XX. Um espírito que engloba a evolução do
trânsito, da economia e da cultura, e as novas possibilidades de construção, com a
introdução de novos materiais. (Mendelsohn, 2010, p. 108).
O grupo holandês De Stijl, criado em 1917, introduziu uma nova expressão estética na
arquitectura, e alterou completamente a visão sobre o entendimento e composição
espacial. Aparecem as primeiras composições pós-cubistas de Mondrian59, definidas
por linhas horizontais e verticais quebradas. Embora a grande evolução arquitectónica
deste movimento só se tenha notado a partir de 1920, com o trabalho do arquitecto
Gerrit Rietveld60. Com a influência do Neoplasticismo, Van Doesburg61, publica a sua
teoria, Dezasseis pontos de uma arquitectura plástica, em que defende que a
arquitectura deve ser elementar, económica e funcional. Deve ser dinâmica e nãomonumental. Não deve adoptar a forma cubica. Deve utilizar a cor como instrumento
de decoração. Descreve a casa ideal no décimo primeiro ponto do manifesto.
(Frampton, 2008, p. 175).
A nova arquitectura é anticúbica, ou seja, não tenta congelar as diferentes células
espaciais funcionais em um cubo fechado. Pelo contrário, lança-as (e faz o mesmo com
planos salientes, volumes de sacadas etc.) centrifugamente, a partir do núcleo do cubo.
E, por esses meios, altura, largura, profundidade e tempo (isto é, uma dimensão
quadridimensional imaginária), aproxima-se de uma expressão plástica totalmente nova
nos espaços abertos. Assim, a arquitectura assume um aspecto mais ou menos
flutuante que, por assim dizer, actua contra as forças gravitacionais da natureza. (Van
Doesburg apud Frampton, 2008, p. 175).
58
Erich Mendelsohn (1887 – 1953). Considerado o expoente máximo da arquitectura expressionista. Em
1924 funda o grupo Der Ring, juntamente com os arquitectos Mies van der Rohe e Walter Gropius. Em
1921 termina a sua obra, a Torre de Einstein, considerada a obra mais revolucionária da arquitectura
expressionista.
59
Piet Mondrian (1872 – 1944). Pintor holandês, fundador do Neoplasticismo. Destacou-se com as suas
obras onde utilizava a abstracção geométrica, trabalhando com formatos regulares. Considerava as cores
primárias, as cores elementares do universo. Juntamente com Theo Van Doesburg e outros artistas,
funda o movimento De Stijl.
60
Gerrit Rietveld (1888 – 1964). Arquitecto e designer holandês. Iniciou a sua carreira profissional
aprendendo marcenaria na oficina do pai, trabalhou em joelharia como desenhador. Tornou-se membro
do movimento De Stijl em 1931. Projecta a cadeira “Azul-vermelha”, reconhecida pelos artistas
neoplásticos como o paradigma da aplicação tridimensional dos rígidos pressupostos estilísticos e
filosóficos de Piet Mondrian. Projecta a casa Shröder, considerada como a primeira obra arquitectónica do
movimento neoplástico. Com este projecto, concretiza os princípios contidos no ensaio “16 pontos de uma
arquitectura plástica”, publicado por Van Doesburg. Foi um membro fundador dos CIAM (Congresso
Internacional de Arquitetura Moderna).
61
Theo van Doesburg (1883 – 1931). Arquitecto e artista plástico holandês, ligado ao Neoplasticismo.
Fundador do movimento De Stijl. Defende que a arquitectura deveria renunciar a tradição ornamental. Os
edificios deveriam ser simplificados ao máximo. Os espaços cúbicos deveriam interligar-se, de modo a
criarem uma vivência complexa e plástica a partir da ortogonalidade. Foi também dos professores da
escola da Bauhause.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
51
O limite construído: o muro
Ilustração 23 - Projecto para uma residência, 1922, Theo van Doesburg e Cornels van Eesteren. (Ching, 2005, p. 169)
O movimento De Stijl, não se preocupava com as questões construtivas, mas sim com
o aspecto estético. O conceito de espaço altera-se perante a ideia do passado. Apesar
da negação da decoração, era evocada uma nova unidade baseada na decomposição
dos limites planimétricos, estruturais e pictóricos, reforçados pelo uso da cor. Este
aspecto é crucial para o entendimento da intenção plástica construtiva pretendida.
Theo van Doesburg defende a união entre a pintura e a arquitectura, pois a cor tem
um valor constructivo, é um meio expressivo capaz de “[…] evidenciar os valores
arquitectónicos […], amplia as possibilidades plásticas da arquitectura.” (Pinto, 2007,
p. 67). Doesburg, defende o processo de transfiguração, e esta opera num sentido
gestáltico pictórico que se sobrepõe à realidade física da caixa murária. O efeito de
continuidade visual, introduzido pela pintura neoplástica, acontece de maneira
semelhante na arquitectura, na medida em que os limites espaciais construídos,
lembram o traçado da composição pictórica, sugerindo que estes se possam encontrar
fora do quadro. A introdução da diagonal, “[…] enaltece ilusoriamente esses limites da
sua condição fixa e fechada.” (Pinto, 2007, p. 70). O plano oblíquo propõe um jogo de
ilusões dinâmico, integrando o espectador no seu interior. Este princípio pressupõe o
movimento do corpo no espaço, com a intenção de libertar o espirito. Doesburg
procura uma composição de relações entre o homem, a pintura e a arquitectura, de
uma maneira plástica pura.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 24 - Projecto para uma casa, 1923, Mies van Der Rohe. (Ching, 2005, p. 23)
Por outro lado, Mies Van der Rohe, no texto A arquitectura e a vontade da época,
escrito em 1924, explica explicitamente a sua posição em relação aos novos princípios
da arquitectura moderna. Defende que os edifícios são essencialmente uma vontade
da época traduzida no espaço. “É por isso que a tentativa de adaptar os conteúdos e
formas de épocas anteriores à nossa, está votado ao fracasso.” (Mies, 2010, p. 140). A
funcionalidade e a objectividade devem ser os reais objectivos da arquitectura. A
construção utilitária só será elevada à categoria de arquitectura se for funcional e
exprima a vontade da sua época. Surgem problemas novos todos os dias. É por isso
importante procurar novas soluções a fim de resolver esses problemas. É necessário
melhorar os meios tecnológicos para melhorar a qualidade dos produtos fabricados.
“Cada problema depende de condições novas e leva-nos a resultados novos.” (Mies,
2010, p. 140-142). E o principal problema será a construção e não a forma, porque a
forma é um resultado final, uma consequência do processo de trabalho.
As ideias de Mies, fundamentalmente incidentes no caracter construtivo e na
funcionalidade objectiva do edifício, tornam-se extremamente relevantes para o
entendimento da composição espacial da arquitectura moderna.
Em 1926, Le Corbusier desenvolveu a teoria dos cinco pontos da nova arquitectura,
como um resultado do estudo do desenvolvimento da construção em betão armado
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
53
O limite construído: o muro
iniciada no final do século XIX. Defende que “A explicação teórica origina a
simplicidade da fórmula.” (Le Corbusier, 2010, p. 150). O novo tipo de construção
incide essencialmente no uso de colunas de betão armado, com a função de suporte.
Esta teoria “[…] conferiu novas possibilidades à definição e delimitação de espaços
dentro de um edifício.” (Ching, 2005, p. 128). A casa assente em pilares. Os muros
antigos são substituídos por pilares, dispostos numa malha regular, libertando a
disposição interior dos vários pisos do edifício. A casa é elevada do solo. Aproveitar a
cobertura do edifício com a integração do telhado-jardim, permitindo uma melhor
protecção do betão usado na cobertura do edifício, de maneira a evitar a dilatação
brusca causada pelas diferenças de temperatura. A dilatação é evitada pela
permanência de água sobre o betão, e o jardim permite que a água não evapore tão
rapidamente. A planta livre, permite a disposição variada das divisórias verticais, que
poderão ser diferentes em cada piso. A delimitação e disposição dos espaços não é
mais determinada pela parede de sustentação pesada. Os espaços interiores podem
ser definidos a partir de divisórias não-estruturais mais leves, o que permite uma
absoluta liberdade da planta do edifício. As janelas em comprimento permitem uma
maior entrada de luz no interior do edifício. A fachada livre. As lajes de betão armado
estendem-se para além das colunas de sustentação. Deixa de haver uma parede na
fachada, permitindo que as janelas em comprimento se possam desenvolver de
acordo com a disposição das divisões interiores da planta. (Le Corbusier, 2005, p.
150-151).
A introdução deste pensamento alterou profundamente as possibilidades de
composição dos espaços interiores. As divisórias são formadas por planos verticais, e
apesar de cortarem a continuidade do volume, ao serem introduzidos num sistema de
plana livre, “[…] nunca formam áreas fechadas, geometricamente estáticas.” (Ching,
2005, p. 133). “[…], no tema do edifício isolado a planta livre oferece possibilidades
ilimitadas de divisões elásticas e subdivisões internas, dentro de uma malha estrutural
ou em linha reta.” (Zevi, 2011, p. 123).
As características do espaço moderno são fundamentadas na planta livre, e a principal
exigência social da época elege a casa como sendo o problema central da
arquitectura. A arquitectura moderna, explora acertadamente a nova técnica,
reformulando os elementos da composição e organização espacial. A grande diferença
incide sobre a diferente atitude de composição das suas obras. (Zevi, 2011, p. 124).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
54
O limite construído: o muro
Ilustração 25 - Esboços para os cinco pontos da nova arquitectura, 1926, Le Corbusier. (Ching, 2005, p. 128)
Contínuo e descontínuo
“Os parâmetros da caixa arquitectónica definem os domínios e os limites que
caracterizam o campo de acção do espaço nuclear, o meio habitável da câmara, as
permanências e o percurso arquitectónico.” (Pinto, 2007, p. 30).
Ou seja, as características e qualidades do espaço, independentemente dos usos que
esse espaço possa adoptar, dependem da maneira como os seus limites físicos são
construídos.
Espaço
Heidegger62 propõe uma definição para espaço quando explica que este será “[…] o
lugar arrumado, liberado para um povoado, para um depósito.” (2002, p. 134). Um
lugar arrumado que ocupa um determinado limite. Um limite que não está
62
Martin Heidegger (1889 – 1976). Filósofo alemão. Nasceu em Messkirch, na região da Floresta Negra.
A sua principal obra intitula-se Sein und Zeit, a qual obteve notória repercussão, em virtude das
correcções lógicas que introduziu na atitude mental da fenomenologia e do existencialismo. Considerado
como um dos grandes pensadores do século XX, pela importância que atribuiu ao conhecimento da
tradição filosófica e cultural. Em 1945, escreve o notável ensaio A Carta sobre o Humanismo, uma obra
que visa rectificar a imagem das relações entre o ontologismo, o fenomenologismo e o existencialismo,
considerando-se desta maneira, a chave que anuncia a perfeita revelação do íntimo pensamento deste
filósofo.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
obrigatoriamente relacionado com o fim de qualquer coisa, mas “[…] onde alguma
coisa dá inicio à sua essência.” (Heidegger, 2002, p. 134). E a essência do espaço é o
lugar onde está inserido, e o homem que o experimenta e vivencia. Porque, “[…] os
espaços que percorremos diariamente são ‘arrumados’ pelos lugares, cuja essência se
fundamenta nesse tipo de coisas a chamamos coisas construídas.” (Heidegger, 2002,
p. 135). E o construir incide sob a fundação e articulação dos espaços.
O entendimento da arquitectura pressupõe o entendimento do espaço, e todos
aqueles que “[…] refletiram sobre esse tema, sabem que o carácter da arquitetura – o
que a distingue das outras atividades artísticas – está no facto de agir com um
vocabulário tridimensional que inclui o homem.” (Zevi, 2011, p. 17). O homem percebe
e vive o espaço arquitectónico pela experiência directa, e é neste sentido que o
espaço se torna o verdadeiro protagonista da arquitectura.
“[…] o domínio do
espaço, é uma simples questão de medidas, de dimensões
domináveis, que é preciso pôr em relação com as dimensões do homem.” (Baeza,
2011, p. 24).
Um domínio clarificado pela construção dos limites físicos e qualificado pelas
características que este poderá adoptar.
Luz
A percepção visual dos limites e dos espaços interiores e exteriores que lhes são
associados dependem da luz. Esta, apesar de ser um elemento exterior à arquitectura,
torna-se um factor determinante para a qualificação e entendimento do espaço. “A
incidência da luz sobre as superfícies das coisas, sobre os seus limites físicos e o
reenvio para a nossa retina, proporciona a essas coisas a faculdade de serem vistas.”
(Pinto, 2007, p. 35). Esta incidência provoca uma enorme variação no aspecto formal
das coisas e da própria arquitectura. As transformações produzidas pelo movimento
do sol ao longo do dia ou ao longo do ano, “[…] nas suas mudanças de orientação,
nos diversos ângulos de incidência e estados da atmosfera.” (Pinto, 2007, p. 35)
tornam-se um factor determinante para o reconhecimento visual dos limites espaciais
e das possíveis relações existentes entre o interior e o exterior dos edifícios, assim
como das formas, texturas e cores aplicadas.
Esta dependência da luz poderá ser levada ao extremo, ou seja, se por um lado, a
falta de luz torna impossível a percepção visual dos limites espaciais, o seu excesso
“[…] levaria à alucinação e à dissolução dos contornos das formas e das cores,
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56
O limite construído: o muro
gerando uma espécie de cegueira branca.” (Pinto, 2007, p. 36). Assim, será
necessária a existência de uma situação intermédia, de um controlo da iluminação.
Este controlo poderá ser introduzido pela sombra, através do contraste lumínico,
definindo uma hierarquia entre o claro e o escuro ou entre a luz e a sombra, permitindo
uma outra leitura dos espaços, superfícies e volumes.
A entrada de luz no interior do espaço é gerada pelas aberturas dos vãos, através das
características que os compõem e pela orientação e localização, podendo ser
canalizada de maneiras diferentes: directa, indirecta, reflectida, difusa, frontal, parietal
ou zenital. Da mesma maneira a sombra poderá também gerar momentos espaciais
distintos conferindo a esses espaços um determinado tipo de vivência. De acordo com
Alberto Campo Baeza, “[…] para tornar a luz presente, para a tornar sólida, é preciso a
sombra.” (2011, p. 53).
O sujeito capta na luz essa intenção sugestiva e deixa-se conduzir por ela, movendo-se
através do espaço por ela revelado, impulsionado pelos seus gradientes rítmicos de
claro e escuro que reforçam os âmbitos, as hierarquias e as gradações espaciais.
(Pinto, 2007, p. 38).
A luz penetra no interior do espaço por via do vão, da fresta, do lanternim…a sua
intensidade vai alterando a leitura perceptiva das formas ao longo do dia. Desta
maneira, a luz e a sombra tornam-se indissociáveis do espaço e da sua compreensão.
E a adequada combinação destes dois elementos “[…] costuma despertar na
arquitectura a capacidade de nos comover profundamente.” (Baeza, 2011, p. 53). Um
comover centrado num conjunto de relações que nos permitem a compreensão das
coisas.
A compreensão da luz aparece também relacionada com dois conceitos abordados
anteriormente, o tectónico e o estereotómico, que por sua vez se podem explicar
através dos temas da continuidade e descontinuidade aplicados aos limites físicos
construídos que conformam o espaço arquitectónico.
“O muro estereotómico busca a luz.” (Baeza, 2011, p. 30).
Ao logo do muro estereotómico, contínuo, vão existindo perfurações escavadas
permitindo a entrada de luz no interior do espaço, em que as perfurações são
relacionadas ao escavar, à subtracção. Uma operação vinculada a uma necessidade
muito específica, a necessidade de luz. O limite construído portante, em que a sua
função de suporte determina a própria conformação do espaço, e o mesmo material é
usado para o suportar e compor. Onde, a estrutura, a forma e o espaço funcionam
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
57
O limite construído: o muro
como uma unidade, como um “[…] organismo pétreo contínuo.” (Baeza, 2011, p. 50).
O muro estereotómico é contínuo, trabalha essencialmente à compressão, está ligado
à terra, como se dela nascesse.
Por outro lado, o muro tectónico, “[…] precisará de se proteger da luz.” (Baeza, 2011,
p. 31). Aqui o uso da estrutura mais leve e mais fina, descontínua, implica um controlo
eficaz da luz, em que as várias partes que a compõem são articuladas, submetendo a
operação à adição dessas partes. O muro tectónico, apesar de apresentar uma
descontinuidade na sua construção, torna-se contínuo com o espaço exterior
permitindo uma relação mais directa com a paisagem que o rodeia. Neste caso, o que
sobressai não serão os limites verticais mas sim os horizontais, exemplo desta
operação é a casa Farnsworth do arquitecto Mies Van der Rohe. O muro tectónico é
descontínuo, trabalha essencialmente à flexão, é mais leve, soltando-se da terra,
pairando sobre ela.
“O espaço estereotómico procurará abrir-se e utilizará a subtracção como mecanismo,
do mesmo modo que o espaço tectónico procurará fechar-se e utilizará como
mecanismo a adição.” (Baeza, 2011, p. 50).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
58
O limite construído: o muro
3. A PERCEPÇÃO DO LIMITE: O MURO
“El muro consigue traducir, a través de elementos reales, sensibles, las ideas que
generan toda arquitectura.” 63 (Aparicio, 2006, p. 205).
3.1. ESCOLA SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – CARRILHO DA GRAÇA
A Escola Superior de Comunicação Social, da autoria do arquitecto João Luís Carrilho
da Graça, surge no âmbito de um concurso por convite promovido pela Direcção Geral
do Ensino Superior (DGES), em 1987, com o objectivo de integrar um novo conjunto
de equipamentos no Campus do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), em Benfica, num
amplo terreno situado numa área de acentuado crescimento urbano da cidade de
Lisboa. O terreno é tangente à 2ª Circular, nome dado à via rápida responsável pela
ligação da parte oriental à parte ocidental da cidade, funcionando como eixo
fundamental na entrada e saída da mesma.
O terreno em colina eleva-se à cota 102.56 metros, permitindo o alcance visual a sul
do Parque Florestal de Monsanto e a norte de uma vasta área habitacional, assim
como a Escola Secundária de Benfica José Gomes Ferreira, projectada em 1978-80,
pelos arquitectos Raúl Hestnes Ferreira e Jorge Gouveia. Ainda no enquadramento
próximo do terreno, orientado a poente, está a Escola Superior de Educação,
projectada pelo arquitecto Adães Bermudes em 1914, e a primeira pista de atletismo
construída em Portugal.
Neste âmbito, será importante destacar a relação existente entre o edifício e o sítio, e
a maneira como este gesto é proposto e executado. Um gesto atento à situação
urbana e morfológica do território existente, em que o objecto é assente rigorosamente
sobre a colina, “[…] desenvolvendo-se ao longo da sua crista quase não a ‘tocando’.”
(Toussaint, 1994, p. 392). De igual modo, será necessário referir o conjunto de acções
inerentes ao procedimento projectual e à sua compreensão, ilustrando uma operação
vinculada à imagem da caixa mural, que aqui assume o princípio da desmaterialização
semelhante ao grupo De Stijl. Este princípio estará invariavelmente relacionado com
as acções de transformação e transfiguração da caixa, aqui ortogonalizada, permitindo
a compreensão dos seus limites físicos, e a relação que estes apresentam no âmbito
da diferenciação espacial, o que irá permitir a definição e aferição de um conjunto de
63
O muro consegue traduzir, através de elementos reais, sensíveis, as ideias que geram toda a
arquitectura. (Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
59
O limite construído: o muro
formulações em vários âmbitos distinto. À imagem de transfiguração referida, é
associado o modo de tratamento da expressão exterior da superfície. Expressão
realçada pelas entradas de luz, pela dimensão e forma dos vãos ou pelos materiais
aplicados. Este gesto adoptado, poderá ser justificado pelo ambiente caótico em que o
edifício está inserido, tendo conduzido o autor “[…] a procurar uma regra tão forte
quanto a de ângulo recto, de modo a impedir uma possível diluição”. (Toussaint, 1994,
p. 392).
A relação interior/exterior, é intensificada pelos planos soltos que definem a expressão
das superfícies, permitindo uma continuidade visual entre os vários espaços, assim
como diferentes opções pictóricas aplicadas às diversas fachadas, (utilização da cor
branca nos planos quase cerrados orientados sobre a via rápida e os tons terra, mais
escuros, utilizados nos planos virados a norte, sobre o pátio exterior semi enterrado),
enfatizam a complexidade arquitectónica desta obra que, “[…] apesar da aparente
simplicidade das premissas geradoras, permite uma grande riqueza de perspectivas.”
(Toussaint, 1994, p. 392).
Entre la vía rápida y la línea de cumbre del monte, el edificio procura construir y
proteger una plaza alta. En los niveles abajo de la plaza, las áreas más equipadas:
auditorio, estudios de televisión y radio. Al nivel de la plaza, los accesos y salas de
alumnos. Se destaca el cuerpo administrativo y de profesores, más alto, a poniente.
Sobre las salas de clase, la cafetería. Al espacio “interior” de la plaza se opone el plan
del alzado hacia la vía rápida. En el ángulo, el atrio casi cúbico es verticalmente
64
cruzado por el ascensor, un pilar y el cilindro de la chimenea. (Graça, 1995, p. 56).
As primeiras soluções vão surgindo, e de maneira progressiva, vão concretizando a
ideia. “[…] el autor refiere la intención fundamental del proyecto, que fue la constitución
del edificio como soporte definido de una plaza alta, a partir de la consideración de dos
presencias opuestas del sitio (la vía rápida y el monte).” 65 (Hipólito66, 2002, p. 210). A
partir do reconhecimento da ideia, vão sendo estudadas diferentes associações e
64
Entre a via rápida e topo da linha da colina, o edifício procura construir e proteger uma praça elevada.
Nos níveis inferiores da praça, estão as áreas mais equipadas: estúdios de televisão, auditórios e rádio.
Os acessos às salas de aula são feitos ao nível da praça. No nível mais elevado, a poente, destaca-se o
corpo administrativo e salas dos docentes. Sobre salas de aula, está a cafetaria. No espaço “interior” da
praça, opõe-se o plano do alçado orientado para a via rápida. No ângulo, o átrio quase cubico é
atravessado verticalmente por um elevador, uma coluna e o cilindro da chaminé. (Tradução nossa).
65
O autor refere a intenção fundamental do projecto, que foi a constituição do edifício como suporte
definido a partir de uma praça elevada, partindo da consideração e das presenças encontradas no sítio. (a
via rápida e a colina). (Tradução nossa).
66
Fernando Hipólito (1964 - ). Arquitecto Português. Licenciado pela Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa em 1987 e doutorado em Projectos de Arquitectura pela UPC-ETSAB
em 2002. Docente da Universidade Lusíada de Lisboa desde Janeiro de 1988, onde exerce funções de
Coordenador e Regente da Disciplina deArquitectura II do 2º Ano e Regente de Projecto III do 5ºAno. Tem
algumas obras construídas, publicadas e nomeadas para exposições e prémios de arquitectura,
dedicando-se também a Projectos na área da Arquitectura de Interiores, tendo sido recentemente
reconhecido internacionalmente com a selecção para o prestigiado prémio “Andrew Martin
Interior Design Award 2009. Autor da obra Sítio Projecto e Arquitectura.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
60
O limite construído: o muro
novas formalizações arquitectónicas que, a partir do programa pretendido, da
configuração tipológica e volumétrica, permitem a concretização da imagem final da
obra. Através da informação dada pelo autor, é possível perceber a importância que o
sítio, e as condições que o caracterizam, tiveram em todo o processo projectual.
Condições que o levaram à formalização de uma ideia muito específica – a construção
de uma praça elevada e protegida da via rápida. “[…] esta primera intención revela
aún, y solamente, una voluntad de reorganización de un territorio dado, a partir de
nuevas relaciones entre
sus características, el cual, desde ya, se quiere más
transformador que integrado.” 67 (Hipólito, 2002, p. 211). Desta maneira, partindo do
conhecimento das características do território, surge a proposta do arquitecto. Uma
proposta onde sobressai um elemento de extrema importância – o desenho e
composição do plano da fachada como “[…] elemento arquitectónico, figurativo y
simultáneamente
conceptual, que establecerá diálogos entre dos situaciones
opuestas existentes en el sitio (bello = colina; ruidoso = vía rápida).” 68 (Hipólito, 2002,
p. 211).
Assim, seria imprescindível encontrar uma estratégia que permitisse controlar a
exposição total que o território apresenta, de maneira a viabilizar a ideia e o próprio
programa. Estratégia que parte da ideia da construção de um limite físico, adaptando
por um lado à função de suporte, a partir dos muros de contenção, e por outro, à
construção de um plano limite estrutural da obra.
João Luís Carrilho da Graça parte para um desenho (que representa já uma ideia de
domagem do espaço) com pressupostos próprios, não imediatamente justificáveis,
eleitos na sensibilidade coleccionadora de um olhar que usa a abstracção. Uma peça
de arquitectura é como um desenvolvimento de linguagens. Escrevê-las, um esforço;
melhorá-las, um enriquecimento; lê-las, depois (neste caso), um privilégio. (Graça Dias,
1994).
Contexto
A análise e compreensão da situação do terreno torna-se fundamental para a
percepção das várias partes que compõem a obra, da mesma maneira que o
conhecimento da situação prévia do sítio foi considerado indispensável no processo
projectual. “La situación física previa del sitio fue alterada en función del nuevo edificio.
67
Esta primeira intenção revela ainda uma vontade de reorganizar um determinado território a partir de
novas relações entre as suas características, ao qual, desde já, se pretende mais transformador que
integrado. (Tradução nossa).
68
Elemento arquitectónico, figurativo e simultaneamente conceptual, que estabelecerá diálogos entre
duas situações opostas existentes no sítio (belo = colina; ruidoso = via rápida). (Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
61
O limite construído: o muro
El autor utiliza la topografía y su modelamiento como elemento integrante de su idea “(...) una plaza protegida (...)” - construida (“Implantación”).” 69 (Hipólito, 2002, p. 237).
O desenho da proposta, as relações espaciais obtidas, a distribuição do programa e o
aspecto formal que este adquire, formam um todo coerente, traduzindo o processo
gerador da imagem arquitectónica final em função da relação entre o sítio e a ideia.
“La imagen global de conjunto responde a las intenciones del autor ante su
interpretación del sitio.”70 (Hipólito, 2002, p. 238).
Projecto
O projecto pretende adequar-se à situação do terreno, à função a que se destina e ao
programa pretendido, justificando assim, a imagem arquitectónica final da obra. A
partir do levantamento topográfico foi possível compreender as características do
terreno, tornando-se numa ferramenta indispensável para a evolução do projecto. A
implantação que o edifício apresenta, surge por um lado, da necessidade de protecção
da via rápida, e por outro da construção de uma praça elevada, elemento exterior,
organizador da proposta.
O edifício, organizado em “L”, é composto por dois volumes, onde são dispostas as
áreas programáticas, envolvendo uma praça elevada e orientada a norte. Um corpo
alto, onde se organizam as zonas de serviços de administração e apoio, e um corpo
mais baixo e longo, disposto sobre um embasamento, que organiza as áreas de
maiores dimensões, como auditórios e estúdios.
A aproximação ao edifício faz-se a partir de um caminho exterior em rampa e escada,
seguindo a direcção poente – nascente. Percurso, acompanhado pela presença
notória e marcada da via rápida. O primeiro elemento que sobressai na aproximação
ao edifício é o muro branco que o acompanha longitudinalmente. É nesse muro que
começamos a perceber a necessidade de protecção perante aquele ambiente
extremamente exposto e austero, e a maneira como o edifício se funde com o terreno.
A presença do muro faz-nos parar. Por um lado queremos perceber o culminar da
subida, por outro sentimos a vontade de conhecer a continuação daquele elemento
que, de maneira imponente, desenha e marca aquele limite físico, recortando a própria
colina.
69
A situação prévia física do sítio foi alterada em função do novo edifício. O autor utiliza a topografia e o
seu modelamento como elemento integrante da sua ideia – “(…) uma praça protegida (…)” – construída
(“implantação”). (Tradução nossa).
70
A imagem global de conjunto responde às intenções do autor perante a sua interpretação do sítio.
(Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
62
O limite construído: o muro
Percebemos a forte presença vertical de um enorme plano, assente em pilares,
revestido a pedra calcária branca, que acompanha o nosso olhar ao céu. É neste
momento que começamos a perceber as opções do arquitecto. No ponto em que são
confrontados os dois eixos de orientação do objecto, e se clarificam as primeiras
relações visuais com o contexto. Neste âmbito torna-se evidente a escolha do material
de revestimento do plano vertical (pedra calcária branca), igualmente utilizada no
revestimento da fachada exterior da Escola Superior de Educação, antiga Escola do
Magistério primário de Lisboa, situada a poente.
Esta primeira aproximação é caracterizada por dois momentos completamente
antagónicos, uma subida ruidosa, em que tentamos perceber aquilo que nos envolve e
uma paragem calma, de contemplação, quando chegamos à praça elevada.
A praça é conformada por um muro periférico. “Este muro de contención exterior es
precedido por una mancha verde orgánica (recubrimiento arbustivo) que introduce una
variación no ortogonal a la rigidez geométrica de la estructura construida.” 71 (Hipólito,
2002, p. 235). Será a presença da paisagem natural, a lançar o mote para a escolha
do revestimento em reboco, pintado em tons de terra da fachada orientada a norte,
igualmente caracterizada pela dimensão dos vãos, que atingem as medidas estruturais
possíveis, intensificando a relação do espaço interior com a praça.
Los efectos se traducen en una hipótesis de anulación del peso programático mientras
presencia construida, por la aproximación cromática del revestimiento con la tonalidad
de la tierra y por el destaque adquirido en la diferenciación también cromática (blanco)
de los planos periféricos, que se extienden para allá de sus límites necesarios
72
horizontales y verticales, desde las fachadas Norte y Occidente. (Hipólito, 2002, p.
270).
Ainda na praça é possível observar uma escada exterior elevada a norte. A primeira
imagem que nos ocorre quando a observamos, é de um anfiteatro, em que o palco é a
praça e o cenário a Escola. Se nos aproximarmos, notamos a possibilidade de aceder
ao interior do edifício, através do patamar intermédio da escada, onde acedemos ao
piso enterrado. O desenho rasga a colina, permitindo a entrada de luz na cafetaria
situada neste piso. A disposição deste piso enterrado enaltece as características do
terreno perante os elementos construídos.
71
Este muro de contenção exterior é precedido por uma mancha verde orgânica (cobertura verde) que
introduz uma variação orgânica à rigidez geométrica da estrutura construída. (Tradução nossa).
72
Estes efeitos são explicados a partir da anulação do peso programático em relação à presença
construída, pela aproximação cromática do revestimento com a tonalidade da terra e pelo destaque
adquirido pela diferenciação cromática (branca) dos planos periféricos, que se estendem para além dos
seus limites necessários horizontais e verticais, desde as fachadas Norte e Ocidente. (Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
63
O limite construído: o muro
A organização do edifício é extremamente clara, observando as intenções do
arquitecto em colocar as áreas programáticas viradas a norte, sobre a praça, e os
elementos de circulação e acessos orientados a sul e a poente, virados à paisagem.
Considerando a referida organização em “L”, percebemos a separação dos dois blocos
programáticos, através de um átrio transparente, com várias alturas, organizando os
acessos verticais do projecto. “Elección del Atrio como momento espacial del proyecto
que sintetiza la idea.” 73 (Hipólito, 2002, p. 297).
Existe ainda, uma divisão clara do programa funcional, em que no bloco paralelo à via
rápida se dispõem as salas de aula (área dos alunos) e no bloco perpendicular a este,
orientado a poente, se dispõem os escritórios e zonas administrativas (área dos
professores). “La distribución del programa funcional se realiza en función del cruce
entre la idea inicial y el sitio.” 74(Hipólito, 2002, p. 237).
Conseguimos reconhecer também a formalização geométrica dos elementos que
compõem o espaço, nunca perdendo a noção das relações que o edifício mantém com
o sítio. O percurso exterior existente do lado sul, clarifica os cortes no terreno e as
alterações de terra efectuadas na fase de construção, de modo a viabilizar a
integração do objecto construído. “El dibujo transversal de la colina es interrumpido por
la arquitectura, que la incorpora.”
75
(Hipólito, 2002, p. 235). As interrupções são
ocupadas por zonas de serviço e manutenção, permitindo o acesso ao piso enterrado.
Este espaço exterior, virado à via rápida e completamente exposto, é conformado por
um muro de suporte, permitindo um momento de resguardo da mesma. Notamos
também as características do alçado, que se prolonga até aos limites possíveis.
Enorme plano branco, recortado por pequenos vãos redondos, de maneira a proteger
o edifício do ruído constante da via tangente. Nele, percebemos também a presença
do átrio interior, evidenciado pela transparência da superfície. “Reafirma el atrio como
elemento formal de transición y espacial de relación, a través de una superficie única
en cristal.”
76
(Hipólito, 2002, p. 236).
Este plano branco, iniciado no muro do lado poente, surge como o primeiro elemento
limitador físico contínuo do espaço exterior, conformando o espaço longitudinalmente,
até tocar o limite nascente do terreno, funcionado como ponto de ancoragem da
proposta. Esta opção enaltece a ideia estereotómica, da ligação com a terra. As suas
73
Eleição do átrio como momento espacial do projecto que sintetiza a ideia. (Tradução nossa).
A distribuição do programa funcional realiza-se em função da relação existente entre a ideia inicial e o
sítio. (Tradução nossa).
75
O desenho transversal da colina é interrompido pela arquitectura que a incorpora. (Tradução nossa).
76
Reafirma o átrio como elemento formal de transição e espacial de relação, através de uma superfície
única em vidro. (Tradução nossa).
74
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
64
O limite construído: o muro
características e pequenas aberturas tornam clara a necessidade de protecção,
perante as especificidades da envolvente. Apesar deste muro não ser especificamente
caracterizado pela sua condição enquanto elemento definidor do volume construído,
pode ser interpretado como elemento que permite estabilizar as intenções do
arquitecto, a partir das suas qualidades enquanto plano horizontal moldado e fundido
com o território, e plano vertical que possibilita a integração e construção do programa.
A fachada norte, por outro lado, já não exige esta necessidade de protecção. Aqui,
abrem-se grandes vãos abertos à paisagem, mantendo-se a relação transversal com a
fachada posterior, através da abertura envidraçada do átrio comum. Completando a
forma em “L”, surge a fachada orientada a poente, mantendo a sua condição
protectora perante a via rápida. A fachada formaliza o corpo mais alto do edifício,
acentuando a sua presença na paisagem. Este bloco, assente em pilares cor de terra,
antagónicos que opõem a sua esbeltez à percepção pesada do corpo, revestido a
pedra, em suspensão, transparecendo uma ideia de leveza irreal. A opção aproximanos da ideia tectónica, da descontinuidade com a terra.
“O limite é a figura a partir da qual a arquitectura começa a ser, […]” (Pinto, 2007, p.
23).
A sua construção clarifica uma presença física num determinado contexto
conformador, vinculando o objecto construído ao território. Esta delimitação determina
o espaço arquitectónico, que a partir de um contorno perceptível anuncia a identidade
da obra. Identidade gerada pela desmaterialização da caixa mural, estabelecida pela
construção de planos soltos que enfatizam a decomposição dos limites planimétricos
estruturais e pictóricos. Este processo de transfiguração da caixa mural, permite um
efeito de continuidade visual, na medida em que os limites espaciais construídos
sugerem
o
seu
prolongamento
quase
infinito.
A
ideia
fundamentada
na
desmaterialização produz uma redução minimalista e equilibrada dos vários espaços,
cuja representação se traduz em planos ortogonais, eixos verticais e horizontais e na
utilização da cor. Estas opções reforçam a intenção plástica constructiva, numa
tentativa de superação da condição estática da arquitectura, onde o efeito final
dinâmico é notado em toda a obra. Um gesto aparentemente simples, como que uma
marca acentuada pela expressividade da linha recta, evidenciando o eixo longitudinal
e organizativo da proposta para aquele sítio.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
65
O limite construído: o muro
Ilustração 26 - Esquiço, "baleia", Escola Superior de
Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Hipólito, 2002, p. 314)
Ilustração 27 - Axonometria, Escola Superior de Comunicação
Social, Carrilho da Graça. (Hipólito, 2002, p. 314)
Ilustração 28 - Maquete da proposta, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 57)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
66
O limite construído: o muro
Ilustração 29 - Muro, vista Poente, Escola Superiorde Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 30 - Vista Poente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
67
O limite construído: o muro
Ilustração 31 - Vista Nascente, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 32 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
68
O limite construído: o muro
Ilustração 33 - Vista Norte, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 34 - Vista Sul, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
69
O limite construído: o muro
Ilustração 35 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 59)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
70
O limite construído: o muro
Ilustração 36 - Plantas dos pisos, Escola Superior de Comunicação Social, Carrilho da Graça. (Graça, 1995, p. 59)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
71
O limite construído: o muro
3.2. MERCADO MUNICIPAL DE BRAGA / ESCOLA DE DANÇA – SOUTO MOURA
O projecto da autoria do arquitecto Eduardo Souto Moura com a colaboração dos
arquitectos João Mesquita e Manuel Fernandes Sá, surge no âmbito de um pedido
efectuado pela Câmara Municipal de Braga em 1980, à equipa Cooperativa de
Estudos de Arquitectura, Planeamento e Engenharias (CEAP), tendo como objectivo a
construção de um novo Mercado Municipal para cidade de Braga. Em 1999, após um
longo período de desactivação e consequente degradação, surge um novo pedido
igualmente elaborado pela Câmara Municipal de Braga ao arquitecto Eduardo Souto
Moura, tendo como objectivo a reabilitação, requalificação e adaptação de usos do
antigo Mercado a Escola de Dança.
Mercado Municipal de Braga [1980-1984].
O sítio era aquele e só aquele.
Uma quinta murada encravada na cidade. No centro do terreno, uma colina.
No topo uma casa.
Era o encontro de dois caminhos, eixos octogonais do terreno que o ligavam à cidade.
Se o encontro era ali, na casa, o mercado ficou lá. Se o caminho era a direito, o
mercado pousou lá. Pousou de nível entre dois muros de suporte.
Por fora o sítio mexeu pouco.
Por dentro é, ao passar, escolher entre os pilares. (Souto Moura, 2012).
É desta maneira que o autor descreve o sítio e as suas intenções. Uma breve
explicação que nos situa apenas naquele sítio, as condições topográficas do terreno e
a sua envolvente próxima, um eixo de ligação da cidade, um percurso já marcado pela
circulação diária habitual, um rasgo natural, enfatizado pela presença de dois extensos
muros, sendo entre muros que pousa o mercado, adoçado ao terreno, moldado ao
contexto, marcando uma nova presença a partir dos limites físicos construídos.
Neste sentido, e através das características preexistentes, tornou-se relevante para o
autor analisar o funcionamento e organização da cidade e o consequente crescimento
urbano da mesma, assim como os diferentes usos e apropriações do espaço. “La
nueva ciudad usaba la anterior como referencia y memoria en la construcción de sus
partes.”
77
(Souto Moura apud Hipólito, 2002, p. 222). Memórias e referências que
viabilizam e justificam a funcionalidade das coisas.
77
A nova cidade usava a anterior como referência e memória na construção das suas partes. (Tradução
nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
72
O limite construído: o muro
Contexto
O Mercado situa-se numa zona habitacional, no Bairro do Carandá em Braga, num
terreno paralelo à Av. João XXI, via com movimento viário significativo, ladeado a
nascente pela Av. 31 de Janeiro e a poente pelo Bairro Araújo Carandá. O terreno, de
forma rectangular, caracteriza-se pela existência de dois extensos muros de pedra que
marcam o eixo longitudinal de desenvolvimento da proposta, e por um percurso
transversal, no sentido norte-sul, que faz a ligação à ruína existente no topo da colina.
Projecto
O edifício, implementado ao longo do rectângulo, organiza-se em dois eixos
perpendiculares. Um longitudinal, orientado nascente-poente, mantendo o percurso
existente intramuros, outro transversal, orientado norte-sul, marcado pela existência de
três muros paralelos, intensificando a presença da ruína preexistente. As áreas
programáticas são distribuídas em dois corpos, dispostos ao longo do eixo longitudinal
com orientação nascente/poente.
A organização interna do mercado permite a distribuição das bancas do piso térreo, ao
longo de uma passagem central (rua coberta), possibilitando uma continuidade
espacial, e clarificando as intenções do autor em adaptar a função do edifício ao
território, em manter a situação preexistente de circulação, bem como a união de dois
pontos da cidade ao longo do eixo longitudinal. A zona central é pontuada pela
existência de duas filas paralelas, compostas por sessenta e quatro pilares,
acentuando o ritmo do percurso e a própria organização dos vários espaços/módulos.
O primeiro corpo do lado poente com duplo pé-direito apresenta uma disposição linear
contínua das bancas ao longo de um percurso central, e um percurso superior em
galeria que permite um contacto visual constante com o piso inferior. O segundo
corpo, do lado nascente, é ocupado pelas áreas de serviços, lojas e cafetaria.
O mercado é o resultado de um só gesto contínuo. Uma tentativa de estruturar o
crescimento da cidade. Um gesto claro, marcado pela existência de dois muros
longitudinais e três transversais, que articulam todo o espaço interior e acentuam a
presença do mercado naquele território. O muro surge como elemento estruturante
dos percursos existentes, assim como o próprio mercado surge da necessidade visível
de ligar dois pontos isolados da cidade. Neste sentido, serão os muros a indicar as
direcções do projecto, a indicar os pontos de entrada no edifício pela marcação dos
pontos de transição entre cotas, funcionando também como indicadores e
anunciadores das preexistências, neste caso, ruína no centro do terreno.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
73
O limite construído: o muro
A imagem exterior é caracterizada pelos planos verticais e horizontais que não se
intersectam, e pela distinção visível dos materiais aplicados. O branco contrasta com a
textura enrugada dos muros de granito. O contraste entre estes dois princípios realça
a expressão geral da obra e a sua adequação ao sítio.
Os alçados, nascente e poente, destacam os remates de topo dos dois muros que
marcam o eixo longitudinal do edifício, ultrapassando os limites que conformam o
espaço interior. A estrutura maciça realçada pela presença dos muros, e a integração
de outros materiais distintos, realça o contraste intencional pretendido que caracteriza
todo a obra. A presença dos muros, e a sua extensão, conferem ao edifício o carácter
de rua, sendo este carácter de rua, fundamental para validarideia inicial, a presença
dos muros é encarado como tema central na composição do espaço.
A sucessão de pilares no interior suporta o plano horizontal em betão da cobertura, e
estende-se para além dos muros exteriores que conformam o espaço, mas não o
suportam, possibilitando a percepção dos pilares no exterior do edifício. Esta sucessão
marca a vivência de um extremo ao outro do mercado, evidencia o ritmo contínuo ao
longo do edifício, pontualmente interrompido pelos planos transversais, que vão
marcando determinados acontecimentos pontuais. A existência dos pilares é
determinante para toda a compreensão e leitura da obra, na medida em que permite a
clara separação do plano horizontal da cobertura em relação aos muros verticais que
conformam o espaço, que, apesar de elementos definidores do espaço, surgem como
elementos fundamentais e funcionais na estrutura aplicada, o que demostra a
coerência unitária entre forma e estrutura, justificando o gesto e as intenções do autor.
Desta maneira, será possível evidenciar a dupla leitura que a obra apresenta, em que
os sistemas utilizados se fundem e complementam. O sistema maciço, que através
dos muros, domina todo o espaço exterior, marcando a presença do mercado naquele
sítio específico, e ainda, enquanto elemento organizador do percurso/ ideia, e o
sistema pontual, marcado pela existência da sucessão de pilares, que dominam o
espaço interior, organizando os elementos compositivos do espaço, um com
capacidade de gerar percursos, outro de criar e apontar momentos de paragem. Dois
momentos que caracterizam e clarificam a compreensão do espaço, que funcionando
em paralelo, revelam as intenções do autor.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
74
O limite construído: o muro
“[…]. Fundamentalmente, podemos concluir que el Mercado será una calle, o, si
queremos, dos calles paralelas, donde alternadamente se comprarán los tres productos
fundamentales: las hortícolas, las carnes y los pescados. Tales recorridos prolongan y
dan sentido a ejes ya existentes o proyectados, de ahí la importancia a tener en el
arreglo de los espacios libres, de ahí no haber proyectado un Mercado para una parte
78
de la ciudad, pero si una parte de la ciudad que también es Mercado”. (Souto Moura
apud Hipólito, 2002, p. 224).
Mercado cultural do Carandá: Escola de dança [1999-2001].
Quando há vinte anos projectei o mercado, a ideia era fazer uma rua coberta, um
fragmento de cidade capaz de propor uma malha urbana.
Essa malha aconteceu, aconteceu demais, e o mercado abafou entre escolas,
discotecas e uma desenfreada especulação imobiliária.
Ao longo deste tempo, nas várias visitas que fiz à ruína, constatei que o mercado era
usado como ponte, como rua, atravessamento necessário entre dois eixos da cidade.
Neste projecto proponho retirar a cobertura, desenhar um jardim, uma rua e construir o
programa "cultural" no pouco que ainda sobra.
Hoje morreu Aldo Rossi. Não posso deixar de falar do seu texto, base para este
projecto, da inversão de uso, de escala, do Palácio de Diocleciano em Split. (Souto
Moura, 2012).
O tema da ruína surge a partir do reconhecimento deste elemento, como ferramenta
metodológica natural de transformação das coisas, tornando-se num meio operacional
útil, bem como num mecanismo que tendencialmente viabiliza um vasto leque de
novas possibilidades. Ou, por outro lado, quando o objectivo é a preservação de uma
determinada coisa, existirá uma preocupação pela fixação temporal dos objectos ou
lugares. As mudanças, crescimento ou alterações dos lugares são factos
incontestáveis
e
necessários,
contudo,
estas
mudanças
poderão
partir
de
preexistências, de ruínas, proporcionando uma continuidade lógica, articulando o novo
e o antigo, garantindo uma maior adequação à envolvente.
O projecto de reconversão do antigo Mercado Municipal de Braga demostra
precisamente esta preocupação, em que os elementos estruturais, tendencialmente
resistentes ao tempo, marcam uma expressão subsequente. Uma ideia que funcionou
e deverá ser mantida, uma ideia de preexistência, que opera como antecipação de
uma determinada conclusão futura. Se foi encontrada uma necessidade anterior em
manter o eixo de circulação preexistente, apoiada na transformação de uma parte da
cidade em mercado, e daí tenha surgido a ideia da rua coberta que realmente
funcionou, então, esta deverá ser mantida.
78
[…] Fundamentalmente, podemos concluir que o mercado será uma rua, ou, se quisermos, duas ruas
paralelas, onde alternadamente se comprarão os três produtos fundamentais: as hortícolas, as carnes e
os peixes. Esses percursos prolongam e dão sentido aos eixos já existentes ou projectados, daí a
importância de os manter em conformidade com os espaços livres, daí não ter projectado um mercado
para uma parte da cidade, mas sim uma parte da cidade que também é mercado.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
75
O limite construído: o muro
A nova proposta surge em conformidade com a ideia inicial, adaptando um novo
programa à situação actual do sítio e às novas necessidades da própria cidade. A
proposta é organizada em três partes, relacionadas entre si, a partir de dois percursos;
um longitudinal, de orientação nascente/poente; e outro, com a mesma orientação,
que funciona a uma cota superior, possibilitando uma visão geral da totalidade da
obra.
A opção pela manutenção dos pilares que anteriormente marcavam um ritmo no
interior do edifício intensifica a imagem pictórica do percurso que agora se faz
exteriormente, após a remoção da cobertura. Um percurso que actualmente é
caracterizado pelo jardim pontuado pelos pilares preexistentes e pela nova imagem
que estes apresentam, quase natural, conferida pela exposição da armação interna
em cabos de aço. Um percurso, sustentado pela integração de uma zona de pequenas
actividades comerciais, enriquecendo o novo programa cultural da obra.
A terceira parte do projecto inclui a Escola de dança, dispondo todo o programa num
piso único, organizada a partir de uma sucessão de pátios interiores ajardinados, que
se prolongam até à cobertura do bloco, enfatizando a ideia da colina preexistente.
Apesar desta nova utilidade do espaço, continua a ser possível a percepção e o
sentido do antigo mercado e a sua clara organização, tornando notório o confronto
existente entre o antigo e o novo, num gesto intencional em manter determinados
princípios compositivos do espaço. O novo projecto em contraste com a ruína, partindo
da articulação lógica dos diferentes elementos.
“[…] la idea es la de recuperar el sentido físico de la preexistencia - la comprobación de
su uso como recorrido peatonal – y el sentido conceptual de la atmósfera de esa misma
preexistencia - la comprobación de la ruina y el ambiente húmedo creado en el
microcosmos interior.”
79
(Hipólito, 2002, p. 227).
Um projecto que numa fase inicial se concentra nas características e qualidades do
sítio, permitindo uma leitura fluída proveniente da maneira como as várias partes
compositivas se organizam, formando um todo coerente, onde os limites espaciais
arquitectónicos, coincidem com a linha material, determinado pelos muros presentes
em toda a sua extensão. Um gesto que proporciona a compreensão dos seus limites,
e consequentemente, o reconhecimento da diferenciação espacial aplicada. Nesta
79
[...] a ideia de recuperar o sentido físico da preexistência – a comprovação do uso enquanto percurso
pedonal – e o sentido conceptual da atmosfera dessa mesma preexistência – a comprovação da ruína e o
ambiente húmido criado no microcosmos interior. (Tradução nossa).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
76
O limite construído: o muro
obra são evidentes as qualidades mutáveis do contexto, em que as suas
características tornam possível a percepção do objecto arquitectónico. Por outro lado,
se observarmos a segunda fase da obra, apesar da aparente mudança, quer de usos,
quer da própria imagem que esta adquire, continua a ser possível observar o conjunto
de preocupações iniciais, permitindo uma coerência nas várias escolhas e intenções
geradoras do projecto. É igualmente notória a evolução lógica que a obra apresenta,
que poderá ser lida como sendo o resultado de uma formalização de linguagem, uma
nova capacidade de resposta a um novo problema, reunindo elementos, materiais e
técnicas visíveis em projectos anteriores.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
77
O limite construído: o muro
Mercado Municipal de Braga
Ilustração 37 - Acto de Marcar, esquiço, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2000, p. 315)
Ilustração 38 - Vista aérea, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1994, p. 18)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
78
O limite construído: o muro
Ilustração 39 - Topo Poente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto
Moura. (Souto Moura, 1994, p. 20)
Ilustração 41 - Topo Nascente, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto
Moura. (Souto Moura, 1994, p. 20)
Ilustração 42 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura.
(Souto Moura, 1994, p.24)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
Ilustração 40 - Axonometria, Mercado Municipal
de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura,
2013)
79
O limite construído: o muro
Ilustração 43 - Plantas dos pisos, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
80
O limite construído: o muro
Ilustração 44 - Corte transversal, Mercado Municipal de Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 2013)
Ilustração 45 - Vista da galeria superior, Mercado Municipal de
Braga, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1990, p. 23)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
Ilustração 46 - Vista interior, Mercado Municipal de Braga,
Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1990, p. 24)
81
O limite construído: o muro
Escola de Dança
Ilustração 47 - Axonometria, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Hipólito, 2002, p. 316)
Ilustração 48 - Topo Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura.
(Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
Ilustração 49 - Vista do jardim, Escola de Dança,
Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013)
82
O limite construído: o muro
Ilustração 50 - Detalhe muro, entrada, Escola de Dança, Eduardo
Souto Moura. (Ilustração, nossa 2013)
Ilustração 51 - Percurso de entrada, Escola de Dança, Eduardo
Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 52 - Vista superior, Escola de Dança, Eduardo Souto
Moura. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 53 - Plantas, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992, p. 179)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 54 - Cortes, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Souto Moura, 1992, p. 182)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 55 - Percurso Nascente/Poente, Escola de
Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 56 - Vista superior, percurso Nascente/Poente, Escola de Dança, Eduardo Souto Moura. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
86
O limite construído: o muro
3.3. FAROL MUSEU DE SANTA MARTA – AIRES MATEUS
Entre a terra e a água, ao longo de uma faixa de território em permanente mudança ao
longo dos tempos, a intervenção humana tem sedimentado as mais variadas
ocupações. Desde o século XVII até à actualidade, a sobreposição de diferentes
vontades para este lugar, os recursos materiais e tecnológicos de cada momento, e a
disponibilidade do património herdado, concorrem para uma sucessão de adaptações e
de adições. Apesar disso, o conjunto engloba unidades arquitectónicas de leitura
inequívoca, dispostas segundo princípios organizativos ainda bem claros. O estado de
adulteração e decadência de uma parte do conjunto é resultado de um processo de
selecção natural, que o projecto procura reverter em seu favor. Identificando os
elementos de maior perenidade ou de maior carga poética, a proposta reconstrói com
eles e a partir deles uma ordem primeira, que engloba a memória do tempo decorrido e
viabiliza o novo uso. (Mateus, 2013).
O projecto de recuperação e remodelação do Forte e Farol de Santa Marta, da autoria
dos arquitectos Francisco e Manuel Aires Mateus, “[…] parte de uma leitura da linha
da costa, entre o Cabo da Roca e Lisboa.” (Mateus, 2007, p. 8), a linha que evidencia
a fronteira natural existente entre a topografia marítima e a topografia terrestre. Uma
fronteira em constante mutação devido a um conjunto de factores, como as marés e o
modo como aquele território tem vindo a ser ocupado e transformado ao longo do
tempo.
No seguimento desse estudo, foram escolhidos pelos arquitectos alguns exemplos ao
longo da linha da costa, que seguissem uma ocupação semelhante, como o Forte do
Guincho, o Forte de Santo António da Barra, o Forte de S. Julião da Barra, a Torre de
Belém e o edifício de controlo de tráfego marítimo do porto de Lisboa, de maneira a
perceber o comportamento dessa fronteira, mediante as diferentes implantações
referidas. (Mateus, 2007, p. 10 – 12).
Desde logo pareceu-nos evidente o enorme apelo romântico do Forte e do Farol,
certamente acentuado pela sua condição de ruína. Interessava-nos perceber como é
que poderíamos operar com esta condição muito interessante e apelativa. A força
daquele conjunto estabelece-se a partir da relação da muralha e do Farol com o mar,
com a pequena baía e com a Casa de Santa Maria, projectada há cerca de 100 anos
pelo Arquitecto Raul Lino. (Mateus, 2007, p. 14).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
87
O limite construído: o muro
Junto à Ribeira dos Mochos, eleva-se o Forte de Santa Marta, provavelmente “[…]
edificado ainda na década de 40 do século XVII, sob a égide de D. Luís Meneses,
governador da praça de Cascais.” (Barros, 2001, p. 151). Adoçada à topologia do
terreno, o antigo Forte estava organizado em três momentos distintos, onde se
destacava um “[…] pequeno quartel-paiol e uma muralha que suportava a bateria alta,
virada a sul.” (Mateus, 2007, p. 16). Um espaço exterior amplo construído com o intuito
de “[…] impedir a aproximação de armadas inimigas à zona da baía." (Barros, 2001, p.
152). Na segunda metade do século XVIII, o edifício sofre algumas transformações,
nomeadamente a construção de uma nova muralha e uma outra bateria direcionada a
Nascente, reorganizando os diferentes espaços nela integrados.
Após terem sido desactivadas as suas funções militares, é construído em 1868, “[…]
sobre a bateria alta do Forte de Santa Marta, o primeiro Farol.” (Mateus, 2007, p. 16).
Comportando uma nova funcionalidade e “[…] alterando o significado deste ponto na
entrada do Tejo.” (Mateus, 2007, p. 16). O Farol, uma torre quadrangular inicialmente
com oito metros de altura, que em 1936, é ampliada, “[…] assumindo a dimensão e a
imagem que ainda hoje apresenta.” (Mateus, 2007, p. 16).
“O nosso projecto parte das condições encontradas no sítio e também de uma leitura
atenta do seu processo histórico, procurando esclarecer cada uma das subtracções e
adições construídas nos últimos quatro séculos naquele lugar.” (Mateus, 2007, p. 20).
Esta definição associa um conjunto de elementos e premissas indispensáveis para a
leitura e entendimento da obra. O sentido dos elementos representativos, a integração
dos sistemas e materiais utilizados adquirem um papel integrante em todo o contexto
da realidade próxima, onde são visíveis os modos como o espaço é conformado e
organizado.
O Forte e Farol de Santa Marta é um dos elementos inseridos no alinhamento da
entrada norte da barra do rio Tejo. Implantado na margem direita da foz da ribeira dos
Mochos, na Ponta de Santa Marta, sobre um maciço rochoso, em constante mudança
ao longo dos tempos, à qual se adapta a própria estrutura da fortificação num terreno
com 1750 m2. Limitado a norte pela casa de Santa Maria, da autoria do arquitecto Raúl
Lino80, a nascente pela Marina de Cascais, a sul por mar e a poente pelo Hotel Farol
Design do arquitecto Carlos Miguel Dias81.
80
Raúl Lino (1879 – 1974). Arquitecto português. Estudou arquitectura na Alemanha. Em Hanover
frequentou a Escola de Artesanato e a Escola de Artes e Ofícios, assim como o Instituto Superior Técnico.
O seu trabalho no estúdio de Albrecht Haupt, foi de especial importância na sua carreira. Em 1899
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
88
O limite construído: o muro
Projecto
O desenvolvimento do projecto tem por base a compreensão de três factores distintos,
o restauro directo dos elementos mais relevantes, a clarificação do processo histórico
do contexto e do próprio conjunto, e ainda a criação de um novo edifício de maneira a
viabilizar a adaptação do Forte e Farol a museu dos Faróis.
O primeiro tem como objectivo a conservação da imagem antiga e dos elementos
compositores, como os azulejos, guardas, varandins e as muralhas originais. “Um
legado patrimonial significativo, feito de formas, espaços e sistemas construtivos.”
(Mateus, 2007, p. 34).
O segundo permite a clarificação da identidade histórica do lugar e o processo
evolutivo que o conjunto apresentou ao longo do tempo. “Um processo histórico
próprio, legível na morfologia e estado actual do edifício.” (Mateus, 2007, p. 34).
O terceiro envolve a construção de um novo espaço, atribuindo-lhe novas funções
programáticas. “Uma lúcida visão do futuro expressa no programa preliminar do
concurso.” (Mateus, 2007, p. 34).
Neste sentido, o programa é distribuído, incorporando os espaços de museu nos
corpos preexistentes, e as áreas técnicas (instalações sanitárias, cafetaria, recepção,
ponto de venda de publicações e posto de segurança) que são posteriormente
distribuídas pelo novo “edifico-muro”, de maneira a garantir a “[…] leitura autónoma
dos vários objectos.” (Mateus, 2007, p. 24), articulando as várias partes num todo
coerente e realçando as qualidades do sítio enquanto fronteira entre a terra e o mar.
Estas características tornam clara e visível a relação existente entre os vários
elementos constituintes do conjunto.
projectou um pavilhão para a Exposição Universal de Paris de 1900. Em 1911 em Berlim, tirou um curso
de Arte Gráfica e Decorativa. Os valores tradicionais e nacionais tiveram grande influência e fizeram parte
da sua formação nos últimos anos do século XIX, e principalmente em Portugal, onde a industrialização
começou tarde. O arquitecto queria revelar as verdadeiras raízes portuguesas da “Casa Portuguesa” e
mantê-las longe das influências de outras orientações estilísticas que não tinham a ver com o espírito
português. Para se aproximar o mais possível deste objectivo, utilizava nas suas obras materiais por ele
criados, como azulejos vidrados, vitrais, telhas, vinhetas e mobiliário caracteristicamente português.
81
Carlos Miguel Dias (1957 - ). Arquitecto. Licenciado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1983.
Frequentou entre 1978 e 1980 a École Superior de Beaux Arts de Bruxelas. Colaborador e posteriormente
co-autor em diversos projectos no atelier do arquitecto João Luís Carrilho da Graça entre 1983 e 1987.
Professor assistente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa entre 1986 e 1994.
Assessor em regime liberal para a Arquitectura e Urbanística da Presidência da Câmara Municipal de
Lisboa entre 1988 e 1989. Colaborou no projecto do Noga-Hilton Hotel Lisboa entre 1989 e 1996, e no
projecto do El Cort Inglês em Lisboa entre 1998 e 2001. Professor auxiliar na Universidade Moderna, Pólo
de Setúbal, departamento de arquitectura, desde 1998 na disciplina de projecto.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
89
O limite construído: o muro
Desta maneira, a proposta pretende clarificar e recuperar a estrutura de muros original
que caracteriza todo o sistema responsável pela limitação do terreno e ainda a
composição volumétrica edificada composta pelo Farol e pelos quatro corpos préexistentes. A integração do novo edifício – muro habitado – tem como objectivo
acolher a nova área programática de museu. A estratégia adoptada, é gerada a partir
da articulação dos cinco corpos isolados, envolvidos pelos muros periféricos e
reforçada pela integração do novo programa e pela escolha dos materiais. Deste
modo, será mantida a funcionalidade anterior do Farol, incluídos os espaços
expositivos nos quatro corpos originais, e integrado um novo corpo – muro habitado –
ocupado pelas áreas de apoio.
A planta poligonal irregular é composta por duas plataformas a níveis altimétricos
diferentes. O muro alto adossado ao território encontra a plataforma mais baixa,
articulando os três edifícios antigos e o novo, e na plataforma mais elevada ergue-se o
Farol, com torre de planta quadrangular, com aproximadamente vinte metros de altura.
A própria natureza dos materiais revela-nos a relação estabelecida entre o novo e a
construção preexistente. A pedra lioz que antigamente revestia os pavimentos das
duas baterias (plataformas) é novamente utilizada com a mesma função. A utilização
de azulejos no revestimento exterior do Farol é mantida, assim como nos restantes
corpos pré-existentes. As muralhas e o novo “edifício-muro” são rebocados e pintados
a branco. Interiormente, as paredes dos três edifícios preexistentes, que constituem os
espaços museológicos, são pintadas a preto, assim como o pavimento de madeira.
O novo edifício, denominado “edifício-muro”, integra quatro corpos poligonais, com um
limite definido por um eixo visual desde o vértice mais próximo do edifício antigo, até
ao portão da entrada. Apesar de ter uma leitura exterior continua, não apresenta
qualquer ligação interior entre os quatros espaços. “A implantação, a forma e a
abertura de vãos do novo edifício propõem uma relação com a linha de fronteira entre
a terra e o mar, virando costas aos edifícios vizinhos a poente.” (Mateus, 2007, p. 30).
O edifício é constituído sob um sistema estrutural de paredes portantes, com lajes de
betão armado, revestido a soalho de pinho americano. O acabamento superior interior,
com tecto falso em placas de gesso cartonado e paredes interiores pintadas a branco.
A cobertura plana do edifício e o desenho recortado que este apresenta intensifica o
seu carácter de muralha e enfatiza a sua espessura, permitindo uma leitura contínua
dos limites físicos do espaço. O desenho e espessura da muralha são reproduzidos no
novo edifício, evidenciando as semelhanças existentes entre este elemento e o
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
90
O limite construído: o muro
desenho natural das rochas que formam o primeiro limite entre a topografia marítima e
terrestre.
Esta obra promove, de maneira clara, o processo lógico utilizado, a partir de conceitos
e ideias muito concretas, anunciando uma objectiva proximidade com o contexto. Uma
obra intensificada pela presença do oceano e da acção de erosão que este provoca
nas rochas, uma acção transportada para o desenho do novo edifício. A ideia do
espaço, ou da relação que este estabelece com a matéria é aqui evidenciada, através
da acção sugerida pelos elementos que o envolvem. O valor da preexistência realça
as qualidades do sítio. “Aspira-se à reposição de uma ordem primeira, da fundação do
edifício, que englobe a memória do tempo entretanto decorrido e que viabilize
funcionalmente o novo uso como fiel depositário de sucessivas contemporaneidades.”
(Mateus, 2007, p. 34).
Aproximamo-nos da obra por uma rua estreita, rapidamente nos apercebemos da
presença de um pequeno portão de aço, e ao fundo o mar. O portão perde-se logo
num clarão de luz branca que nos direciona o olhar de maneira quase instintiva. Ao
virar a esquina, o branco sobressai, a luz intensa dificulta a percepção das formas.
Mas esta quase “cegueira” é cortada pelas perfurações da muralha, e aí vemos o mar.
Ao primeiro olhar parece-nos um todo recortado, parcialmente aberto ao oceano. Mas
a atenção leva-nos à percepção dos momentos de descontinuidade do espaço,
descontinuidades marcadas por passagens e zonas de entrada. A sombra é o que nos
direciona o olhar, seguimo-la de maneira quase imediata. Os passos levam-nos à
descoberta das entradas. O percurso faz-se no exterior, um exterior branco de luz
intensa. E entramos. O interior é escuro e todo preto. A completa antítese, um
confronto brusco e propositado leva-nos à compreensão do programa exposto. Ao
entrarmos no espaço, descansamos os olhos. No momento da saída somos
novamente absorvidos pela luz intensa, refletida pelo branco dos materiais, aqui, o
olhar é mais uma vez direccionado para a sombra, ao fundo vemos um pequeno
conjunto de degraus que nos permitem a passagem ao nível superior. Ao subir,
observamos novamente o mar, cortado pela presença do farol.
Esta conformação e organização do espaço, permite-nos a consciencialização do
carácter da obra, através dos pontos de vista, das formas, dos percursos, da alteração
do ritmo e ainda através da lógica inerente aos limites físicos construídos. O espaço
assim delimitado, integra um percurso ritmado e caracterizado pela própria expressão
arquitectónica, do mesmo modo que em determinadas situações, existe um momento
de paragem que nos dirige a atenção para o exterior, sobre uma paisagem marítima.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Uma arquitectura conformadora de ambientes e sensações, através da diferenciação
de ritmos, cheio/vazio, luz/sombra, branco/preto…e ainda pela integração de
elementos como a escala, o volume, a altura ou a textura. Todas elas responsáveis
pela manipulação do limite e que de maneira mais ou menos evidente, afectam a
nossa percepção, os nossos sentidos e a nossa emoção.
Toma-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas,
Penetram-me fisicamente o cais e a sua atmosfera,
O marulho do Tejo galga-me por cima dos sentidos,
E começo a sonhar, começo a envolver-me do sonho das águas,
[…]. (Álvaro de Campos).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 57 - Esquiço, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 35)
Ilustração 58 - Maquete projecto, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 26)
Ilustração 59 - Vista exterior, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 60 - Muralha bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 61 - Vista exterior, bateria baixa, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 62 - Muro habitado, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 63 - Vista Bateria superior, Farol Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 64 - Espaço de transição entre pisos (baterias), Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Ilustração nossa, 2013)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Ilustração 65 - Planta, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 21)
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O limite construído: o muro
Ilustração 66 - Corte transversal, Farol de Sta. Marta. (Aires Mateus, 2007, p. 22)
Ilustração 67 - Corte Longitudinal, Farol de Sta. Marta, Aires Mateus. (Aires Mateus, 2007, p. 23)
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
4. UM MODO DE CONSTRUIR LIMITE: O MURO.
[…]. Ao norte do rio está a cidade de Lisboa, no alto de um monte arredondado. […]. O
alto do monte é cingido de uma muralha circular, e os muros da cidade descem pela
encosta, à direita e à esquerda, até à margem do Tejo, dela, separado apenas pelo
muro. Ao sopé dos muros existem arrabaldes alcandorados nos rochedos cortados a
pique. […]. (Conquista de Lisboa aos mouros em 1147. Carta de um cruzado inglês,
adapt., 2001, p. 96).
4.1. ART DISTRICT: GALERIA DE ARTE CONTEMPORÂNEA.
O projecto surge na sequência do trabalho desenvolvido ao longo do 5º ano, na
unidade curricular “Projecto III”, integrado no curso de Arquitectura e Artes da
Universidade Lusíada de Lisboa e teve como objectivos o entendimento da cidade
enquanto estrutura mutável, um sistema organizativo e gerador de espaço, adequado
à vida urbana, assim como a utilização do contexto urbano e cultural, de modo a
viabilizar a eficácia do programa pretendido, adaptando a análise do sistema urbano
encontrado e as suas características, à arquitectura.
Numa primeira fase, o projecto parte de uma leitura e análise da zona de Alcântara,
das constantes transformações que tem vindo a sofrer ao longo do tempo, e no modo
como está integrado na cidade. A segunda fase pretende a execução de uma galeria
de arte contemporânea, partindo da leitura e análise anterior.
Contexto
Um limite construído enquanto cidade.
Alcântara está profundamente relacionada com todo o processo de industrialização da
cidade de Lisboa, apresentando um conjunto de características que lhe conferem uma
enorme capacidade de promover este território enquanto zona cultural e artística.
A sua situação de proximidade com o rio Tejo, e a sua integração nos eixos de
transporte e infraestruturas, conferem a este território, uma enorme versatilidade de
usos e vivências. Contudo, apesar da sua realidade geográfica, e das inúmeras
intervenções que este território tem sofrido ao longo do tempo, Alcântara é igualmente
caracterizado pela descontinuidade no seu tecido urbano, dificultando a sua leitura
enquanto conjunto.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Deste modo, surge a proposta de qualificação e adaptação da Rua Vieira da Silva, a
zona cultural e artística da cidade de Lisboa, procurando clarificar o seu processo
histórico através das várias intervenções pedidas.
A rua, orientada norte/sul, é plana. Com 13 metros de largo em toda a sua extensão.
Caracterizada pela diferença de escalas dos edifícios, sendo que as fachadas
orientadas a poente apresentam uma média de três a quatro pisos, e as orientadas a
nascente são desenvolvidos apenas num piso, exceptuando o edifício no topo norte,
consideravelmente mais alto.
O lote, situado na Rua Vieira da Silva, está inserido num quarteirão limitado a poente
pela Av. De Ceuta e a sul pela Av. 24 de Julho, ambas com um movimento viário
significativo.
O edifício em gaveto, com a fachada principal orientada a poente, para a rua Vieira da
Silva, e a fachada lateral, orientada a sul, para a rua Arco de Alcântara, apresenta uma
implantação base de geometria irregular, com uma área de 95,5 m2, 11,95 metros de
altura, integrando três pisos, mais um em “águas furtadas”.
Poderia dizer-te de quantos degraus são as ruas em escadinhas, como são as
aberturas dos arcos dos pórticos, de quantas lâminas de zinco são cobertos os
telhados; mas já sei que seria o mesmo que não te dizer nada. Não é disto que é feita a
cidade, mas sim das relações entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do
seu passado: […]. (Calvino, 1999, p. 14).
Projecto
A ponte de Alcântara era então muito extensa, tinha talvez uns dez arcos, e as suas
guardas chegavam até ao alinhamento com a actual Rua Vieira da Silva, antigamente
Rua do Assento.
Ao sair da ponte o caminho virava a sul, e dava entrada na cidade por uma porta ou
poterna na cortina que ligava os dois baluartes citados. Este caminho está hoje
representado pela Rua Gilberto Rola e Rua do Arco de Alcântara, antiga Rua Velha.
(Silva, 1968, p. 68).
A imagem do baluarte, da fortificação, da muralha, e a situação anterior do território
enquanto limite da cidade, originam a ideia inicial.
A sucessiva adaptação do sítio ao constante processo de crescimento da cidade,
assim como o seu carácter histórico, conduzem o projecto, dando uma possível
resposta ao programa pretendido.
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O limite construído: o muro
A imagem exterior não permite a percepção da organização do edifício. Um corpo
completamente liso, de expressão austera, fazendo lembrar a imagem do baluarte, da
fortificação, da muralha. A completa evidência do limite, que conforma e esconde todo
o espaço interior. A única quebra nessa continuidade é o vão de acesso, este
acontece através de uma abertura triangular na aresta do edifício ao nível da rua. A
entrada é brusca, uma passagem sem obstáculos, directa. Uma entrada que nos
coloca rápidamente em contacto com os objectos expostos. É este contacto constante
que nos permite a percepção directa do espaço. No centro uma luz, tão directa que a
tendência é não nos aproximarmos. Um centro livre, vazio. Um espaço branco
contínuo, em que a sua leitura é cortada pela integração de rasgos negros que
permitem o acesso vertical da proposta, acessos “escondido” no interior do muro
limite. A antítese entre dois momentos, cheio/vazio, luz/sombra, preto/branco um de
passagem outro de permanência.
No interior, a articulação das áreas programáticas é feita a partir de um único percurso
tangente aos limites do edifício, ao longo de um eixo vertical contínuo. Um eixo
marcado por um vazio central como elemento de articulação dos vários níveis.
As áreas programáticas são dispostas pelos vários pisos. No piso enterrado estão
concentrados a zona de acervo e serviços. No piso de entrada acontece uma pequena
cafetaria (copa) em toda a extensão do limite poente do edifício, assim como a área
expositiva que se estende pelos pisos superiores. O terceiro piso é ocupado pela
cafetaria que se prolonga e dá acesso à cobertura com terraço acessível.
A funcionalidade do espaço pretende determinar toda a organização, relações e
percursos da proposta, articulando as várias partes num todo coerente, a partir de um
modo de representação comum a todo o projecto. A apreensão do objecto parte da
identificação do esquema organizativo inicial, que determina a configuração do espaço
através do confronto entre dois momentos distintos – circulação/ paragem, cheio/vazio,
preto/branco. Uma ideia gerada pela noção de limite, que pela sua presença física,
conforma todo o espaço envolvente, clarificando a diferenciação dos vários espaços
que compõem o projecto e a relação que este mantém com o sítio. A primeira relação
visível entre interior/exterior é notada através do vão de entrada, caracterizando-se
como elemento fundamental de transição entre as duas realidades. Um elemento
essencial na definição e compreensão dos elementos portantes e os elementos
portados do projecto, através da percepção da espessura do limite exterior e da
composição interior por ele gerada. Aqui, a introdução do limite físico adquire uma
leitura de barreira murária, um limite que inicialmente surge como parte construída e
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O limite construído: o muro
se vai dissolvendo no interior do espaço, em que as suas qualidades expressivas e
plásticas são determinadas pelo próprio desenho dos pisos ao longo de um vazio
central contínuo. Esta noção permite uma clarificação da diferença entre o espaço
contentor e o espaço contido, evidenciando as operações plásticas de conformação, a
escolha dos materiais e a própria ideia geradora da proposta.
A expressão do limite conformador do espaço, anuncia visualmente a sua presença
através do caracter estereotómico que este adquire exteriormente. Por outro lado, a
organização do espaço interior realiza-se a partir do vazio, contido no interior da caixa,
gerado pela proporção relativa ao limite periférico.
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Ilustração 68 - Esquema e axonometria, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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Ilustração 69 - Zona do acervo, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 70 - Vista central, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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O limite construído: o muro
Ilustração 71 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 72 - Galeria. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 73 - Lanternim, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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O limite construído: o muro
Ilustração 74 - Plantas P-1 e P0, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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Ilustração 75 - Plantas P1 e P2, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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Ilustração 76 - Plantas P3 e P4, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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O limite construído: o muro
Ilustração 77 - Cortes C1 e C2, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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Ilustração 78 - Corte C3 e C4, galeria. (Ilustração nossa, 2011)
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5. CONCLUSÃO
A presente dissertação pretende compor uma possível abordagem e aproximação ao
complexo processo de projecto, a partir de um conjunto de factores, inerentes a um
modo de pensar arquitectura.
Um modo de pensar, um modo de ver e sentir. Porque estas faculdades permitem-nos
estabelecer o nosso lugar no mundo, perante as coisas, perante os lugares, perante a
própria arquitectura.
Apesar de descrito por palavras, estas nunca devem existir isoladas. Devem ser
acompanhadas pela experimentação das coisas. Uma experiência física e desenhada,
que nos vai exercitando a memória e consequentemente os sonhos. E é através dos
sonhos, da memória e do desenho, que surge uma possível imagem da arquitectura.
Neste sentido, diante de um conjunto de elementos que nos colocam em permanente
relação com os acontecimentos e com o que nos rodeia, surge uma ideia.
Pensar arquitectura mediante os seus limites físicos construídos é uma ideia
inicialmente trabalhada a partir dos diversos modos de representação, enfatizando a
importância do desenho como arranque para essa primeira experiência que, de
maneira contínua, vai transmitindo as intenções iniciais, tornando possível as primeiras
decisões. Estas, viabilizadas a partir da integração dos materiais, vão revelando a
importância do conhecimento das suas propriedades, características, funcionalidades
e proveniências. Um gesto que enfatiza a clareza do primeiro traço, tornando a
escolha num acto consciente e harmonioso. Um princípio que associa a sensibilidade,
a experimentação e a intenção.
Assim, surge um conjunto de relações que, de maneira encadeada, determinam uma
qualquer composição. Uma composição gerada pelos diversos elementos que
actuam na organização das coisas, dos lugares, dos espaços, da arquitectura.
É o espírito da arquitectura que diz que ela não existe em absoluto…Isso é o que diz o
seu espírito. Ele não conhece estilo, nem método. E está pronto para qualquer coisa. O
homem, então, deve ter a humildade de oferecer algo, de fazer uma oferenda à
arquitectura. (Kahn, 2002, p. 59).
Não será então importante descrever a estrutura do método, mas sim, estudar o modo
como as intenções são reveladas. E como, partindo desse modo de agir, surgem as
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O limite construído: o muro
ideias que, neste caso específico, serão ligadas ao modo de limitar o espaço, e as
qualidades que esse espaço adquire a partir dessa opção. Uma opção traduzida pelo
muro.
Porque os muros marcam as origens do homem e das culturas. Perpetuam a
passagem humana, transformando e marcando a paisagem por ele habitada.
Acompanham a passagem do tempo, um vestígio de uma imagem da história.
Enquanto elemento arquitectónico, o muro pode ser considerado de várias maneiras
distintas. A sua versatilidade é notada a partir das suas características inatas, da
capacidade que apresenta enquanto elemento estrutural, enquanto componente
indispensável para a criação de espaço ou ainda, a partir da sua especificidade como
instrumento fundamental para a organização e definição do limite físico. Pelas suas
qualidades plásticas e pela sua expressividade.
Porque a arquitectura nasce a partir de uma ideia. Uma ideia abstracta pertencente ao
campo da imaginação, que se vai tornando cada vez mais concreta à medida que vão
sendo aprofundados conhecimentos, intenções, visões e factos sobre o contexto,
sobre os materiais, sobre o programa pretendido.
No momento da sua materialização, da sua construção, a ideia passa a ser lida como
arquitectura, e aqui, o imaginário passa a real, o abstracto torna-se concreto e cria
emoção.
O muro nasce da mesma maneira que a arquitectura, a partir de uma intenção
concreta, de materiais intencionalmente escolhidos. Se no centro da arquitectura está
o espaço, e se existe de facto uma necessidade de o limitar fisicamente, o muro
enquanto limite físico, e todas as suas características, fazem dele um dos elementos
basilares da arquitectura.
Esta intenção concreta demonstrou-se fundamental para o processo de escolha das
obras a analisar, obras de arquitectura que, de diferentes modos, evidenciam uma
ideia lida a partir dos seus limites. A relevância dos limites construídos é transversal a
cada uma. Surgem como opção natural adaptadas à complexidade das respostas a
resolver. Uma escolha que, em cada caso, demonstra um conjunto de opções,
enunciando uma determinada linguagem compositiva.
Um limite táctil, que possibilita o toque, a experiência directa, que nos protege e
envolve. Um limite que promove a expressão dos sentidos, e será a utilização desses
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O limite construído: o muro
sentidos, o factor responsável por ampliar o contacto que temos com as coisas, com
os objectos e com a envolvente. Sentidos que captam informações sobre o aspecto,
sobre o tempo, sobre o lugar. Interiorizam-se em cada um de nós, e enfatizam a
relação que mantemos com o mundo. Desenvolvem uma capacidade de resposta e
um diálogo directo entre o corpo e o objecto, entre a mente e a envolvente. Porque o
limite físico, palpável, ajuda-nos a captar mais facilmente o espaço, a compreendê-lo
melhor, a vivê-lo mais intensamente. E quando isto acontece, a arquitectura cria
emoção.
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O limite construído: o muro
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O limite construído: o muro
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APÊNDICES
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LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A - João Luís Carrilho da Graça.
Apêndice B - Eduardo Souto Moura.
Apêndice C - Manuel Aires Mateus e Francisco Aires Mateus .
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APÊNDICE A
João Luís Carrilho da Graça
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APÊNDICE A
BIOGRAFIA
João Luís Carrilho da Graça nasceu em Portalegre, Portugal em 1952.
Arquitecto, licenciado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1977, tendo iniciado a
sua actividade profissional nesse mesmo ano, como assistente na Faculdade de
Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa até 1992. Foi professor na
Universidade Autónoma de Lisboa a partir de 2001 e na Universidade de Évora a partir
de 2005. Desempenhou ainda a função de professor visitante na Escola Técnica
Superior de Arquitectura na Universidade de Navarra em 2005, 2007 e 2010. Tendo
ainda sido convidado para seminários e conferências em diversas Universidades e
Instituições internacionais.
As suas obras receberam diversos prémios, nomeadamente, o título de “chevalier des
arts et des lettres” pela república francesa em 2010, o “prémio pessoa” em 2008, o
prémio da bienal internacional da luz - luzboa em 2004, a ordem de mérito da
república portuguesa em 1999, e o prémio “aica” da “associação internacional dos
críticos de arte” em 1992.
Foi distinguido com o prémio “piranesi prix de rome” em 2010 pela musealização da
área arqueológica da praça nova do castelo de são jorge, o prémio “fad” em 1999 e o
prémio “valmor” em 1998 pelo pavilhão do conhecimento dos mares - expo’98, o
prémio “secil” em 1994 pela escola superior de comunicação social de lisboa, e
nomeado para o prémio europeu de arquitectura “mies van der rohe” em 1990, 1992,
1994, 2009, 2010 e 2011 este ano pela ponte pedonal sobre a ribeira da carpinteira e
pela musealização da área arqueológica da praça nova do castelo de são jorge.
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OBRAS
1987-1993
Escola Superior de Comunicação Social
1993-2008
1995-1999
Igreja de Sto António e centro paroquial, Portalegre
Recuperação da ala Sul-Poente da Faculdade de Economia da
Universidade Nova, Lisboa
Sede do Instituto Politécnico de Lisboa
1995-2000
Casa “tapada”, Cabeço de Vide
1995-2001
Recuperação do interior do edifício da Universidade Autónoma, Lisboa
1996-1999
Pousada de juventude, Viana do Castelo
1997-2002
Ponte pedonal sobre o Esteiro de São Pedro, Aveiro
1997-2002
1998-2008
Centro de documentação e informação no Palácio de Belém, Lisboa
Instalação da exposição de Michael Biberstein na galeria de arte Luís
Serpa, Lisboa
Cenografia para o programa televisivo “olhos nos olhos”, Lisboa
Recuperação da antiga prisão e reconversão em biblioteca municipal
“Álvaro de Campos”, Tavira
Escola Superior de Música de Lisboa
1999-2006
Centro Cultural, Albergaria-a-Velha (com Inês lobo)
2000-2003
Centro comercial, Leiria
2000-2008
Teatro e auditório, Poitiers, França
2001-2006
2002-2008
Edifício de habitação na Rua do Quelhas, Lisboa
Centro de controlo operativo da brisa, Carcavelos (com Flávio Barbini e
maria João Silva Barbini)
Casa Isabel e Julião Sarmento, Estoril, (com Anne Demoustier)
Edifício de habitação na Travessa da Fábrica das Sedas - Amoreiras,
Lisboa
Edifício de habitação em Sanchinarro, Madrid, Espanha, (com Inês lobo)
2003-2009
Ponte pedonal sobre a ribeira da carpinteira, Covilhã
2003-2010
Ampliação e modernização da escola alemã de lisboa
2004
Edifício de habitação na rua do presidente Arriaga, Lisboa
2004-2009
Edifício de habitação “condessa do rio”, Lisboa
2005
2005-2008
Remodelação do pavilhão do conhecimento / ciência viva, Lisboa
Instalação da exposição “do Palácio de Belém”, Palácio da Ajuda,
Lisboa
Casa “candeias”, são sebastião da giesteira, Évora
2005-2008
Museu do Oriente, Lisboa
2005-2008
Recuperação e valorização do Castelo de Campo Maior
Remodelação do colégio dos moços da Sé de Évora - museu de arte
sacra de Évora
Instalação da exposição de Vik Muniz, no Museu da Electricidade,
Lisboa
1994-1999
1998
1998
1998-2005
2002-2004
2002-2004
2002-2008
2005
2005-2009
2007
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2007-2009
2008
2008
2008-2010
2009
Recuperação dos espaços afectos ao IPPAR do Mosteiro de Flor da
Rosa, Crato
Instalação da exposição “World Press Photo”, no Museu da
Electricidade, Lisboa
Cenografia para a peça de teatro “O presidente” de Thomas Bernhard,
Almada
Musealização da área arqueológica da praça nova do Castelo de São
Jorge, Lisboa
Instalação da exposição ”Antevisão do museu ibérico de arqueologia e
arte de Abrantes”, igreja de Sta. Maria do castelo, Abrantes
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APÊNDICE B
Eduardo Souto Moura
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APÊNDICE B
BIOGRAFIA
Eduardo Elísio Machado Souto de Moura nasceu no Porto, a 25 de Julho de 1952.
Frequentou o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto
(ESBAP), e na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). No
decurso da sua licenciatura colaborou no ateliê de Álvaro Siza Vieira entre 1974 e
1979. Em 1980, ano da conclusão da licenciatura, recebeu o seu primeiro prémio,
atribuído pela Fundação Engenheiro António de Almeida, e iniciou a actividade de
arquitecto. Em 1981 foi nomeado assistente do curso de Arquitectura da Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), instituição onde leccionou até 1990 e à
qual regressou, mais tarde, em 2003.
Como grandes referências da sua obra devem referir-se, além de Siza Vieira (1933 -),
os arquitectos Mies van der Rohe (1886-1969) e Aldo Rossi (1931-1997), as
experiências californianas dos anos 50 e 60 (Craig Ellwood, Pierre Köning e as "case
study houses"), a arte minimalista (Donald Judd e Sol Lewitt). Souto de Moura foi
também influenciado por Bernardo Soares, um dos heterónimos do poeta Fernando
Pessoa (1888-1935), por Roland Barthes (1915-1980), pensador e escritor francês,
pelo pintor catalão Antoni Tapiès (1923-) e pelo artista alemão Beuys (1921-1986).
Durante os anos oitenta e noventa do século XX, foi professor convidado de diversas
faculdades e escolas de Arquitectura europeias: Faculdade de Arquitectura de ParisBelleville (1988), escolas de Arquitectura de Harvard e de Dublin (1989), ETH de
Zurich (entre 1990 e 1991) e Escola de Arquitectura de Lausanne (Professor
Convidado em 1994).
Souto de Moura também tem trabalhado na área do design de produto e, em 2008, em
conjunto com o artista plástico Ângelo de Sousa, participou na XI.ª Bienal Internacional
de Arquitectura de Veneza, em representação de Portugal, com um projecto em coautoria intitulado "Cá fora. Arquitectura desassossegada." O primeiro Arquitecto a
receber o prémio Pessoa não aprecia o relativismo e a desordem do mundo actual.
Nos seus trabalhos procura criar uma paisagem exacta e respeitar a construção, a
estrutura, a infraestrutura e os acabamentos das opções originais
Em 2011, Souto de Moura tornou-se no segundo arquitecto português, depois de Siza
Vieira (1992), a alcançar o Prémio Pritzeker de Arquitectura, o mais conceituado
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O limite construído: o muro
galardão nesta área, atribuído desde 1979 pela americana Hyatt Foundation aos
maiores nomes da Arquitectura mundial, como Óscar Niemeyer (1988), Frank Gehry
(1898), Norman Foster (1999) e Rem Koolhaas (2000).
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
134
O limite construído: o muro
OBRAS
1980/1984
Mercado Municipal de Braga
1981/1991
Casa das Artes, Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura,
Porto
1982/1985
Casa 1 em Nevogilde, Porto
1983/1988
Casa 2 em Nevogilde, Porto
1984/1989
Casa na Quinta do Lago, Almansil, Algarve
1985
Ponte dell' Accademia, Bienal de Veneza, Itália
1986/1988
Anexos a uma habitação na Rua da Vilarinha, Porto
1987
Plano de pormenor para a Porta dei Colli, Palermo, Itália
1987/1989
Hotel em Salzburgo, Áustria (concurso em 1987, projecto em 1989)
1987/1991
Casa 1 em Miramar, Vila Nova de Gaia
1987/1992
Casa em Alcanena, Torres Novas
1987/1994
Casa na Avenida da Boavista, Porto
1988
Plano de pormenor e equipamentos para Mondello, Palermo, Itália
1989/1994
Casa no "Bom Jesus do Monte", Braga
1989/1997
Reconversão do Convento de Santa Maria do Bouro numa Pousada,
Amares, com Humberto Vieira
Casa na Maia
1990/1993
Casa em Baião
1990/1994
Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, Aveiro
1991/1995
Casa em Tavira, Algarve
1991/1997
Burgo Empreendimento – edifícios de escritórios e galeria comercial na
Avenida da Boavista, Porto
1991/1998
Casa em Moledo, Caminha
1992/1995
Bloco de habitação na Rua do Teatro, Porto
1992/2001
Biblioteca infantil e auditório para a Biblioteca Pública Municipal do Porto
1993/1999
Casa-Pátio, Matosinhos
1993
Reconversão do edifício da Alfândega Nova do Porto no Museu dos
Transportes e Comunicações/Centro de Congresso e Exposições
1993/2004
Remodelação e valorização do Museu Grão Vasco, Viseu
1994/2001
Uma moradia com três habitações na Praça de Liège, Porto
Casa na Serra da Arrábida, Azeitão
1994/2002
Casa em Cascais
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
135
O limite construído: o muro
1995/2004
Plano de pormenor do novo Centro Direccional da Cidade da Maia
1995/1998
Projecto de Conteúdos do Pavilhão de Portugal – Expo' 98, Lisboa
1995/2002
Reconversão da Faixa Marginal de Matosinhos Sul, Matosinhos
1996/1997
Projecto de interiores para a Pousada de Santa Maria do Bouro, Amares
1997
Projecto de arquitectura para o Metro do Porto, Grande Porto
1997/1999
Projecto de interiores para os Armazéns do Chiado, Lisboa
1997/2001
Habitação Colectiva, Maia
1997/2001
Conversão do Edifício da Cadeia da Relação do Porto em Centro
Português de Fotografia
Remodelação do Mercado de Braga
1998/1999
Galeria "Silo" no NorteShopping, Matosinhos
1998/2003
Casa do Cinema Manoel de Oliveira, Porto
1999/2000
Co-autor do projecto do Pavilhão de Portugal na Expo 2000 com Siza
Vieira, Hanôver, Alemanha
2000
Ampliação da Biblioteca Municipal do Porto
2000/2003
Estádio Municipal de Braga para o Euro 2004
2001/02
2 habitações unifamiliares, Ponte de Lima
2 habitações unifamiliares, Maia
Reabilitação do Centro Histórico de Valença, Valença do Minho
2002
Restaurante Sul na Marginal de Matosinhos
2.ª Fase da Faixa Marginal de Matosinhos Sul
Habitação unifamiliar na Quinta da Borralha, Braga
2002/06
28 habitações unifamiliares na Avenida da Boavista, Porto
Centro de Arte Contemporânea – Museu de Arte Moderna da Bragança
Habitação unifamiliar em Girona, Llábia, Barcelona (Espanha)
Edifício Sede da Metro do Porto, Porto
2003
Co-autoria do projecto para a Estação do "Município – Linea1", com Siza
Vieira, Nápoles, Itália
Co-autoria com Siza Vieira do Projecto de Arquitectura da Linha de Metro
da Boavista, Porto
Co-autoria com Siza Vieira do projecto de Cafetaria da Rotunda da
Boavista, Porto
2004
Plano de Pormenor para S. João da Madeira
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Habitações unifamiliares em Óbidos
Co-autoria com Atelier Terradas i Muntanola – Centro Residencial e de
Serviços de La Pallaresa, Barcelona (Espanha)
Co-autoria com Siza Vieira do Serpentine Gallery Pavilion, nos
Kensington Gardens, Londres
Co-autoria com Siza Vieira do projecto de Reformulação da Avenida dos
Aliados
Casa das Histórias Paula Rego, Cascais
2005
Projecto de Arquitectura para "Escola de Música", Braga
Edifício de escritórios para a Novartis, Basileia (Suíça)
Conjunto habitacional para "Bernia Golf Resort" Alicante (Espanha)
Projecto de Arquitectura do Crematório de Kortrijik (Bélgica)
Projecto para a "Casa do Professor", Cascais
2006
Requalificação das margens da Lagoa das 7 Cidades, S. Miguel, Açores
2 habitações unifamiliares em Ibiza (Espanha)
Edifício Burgo, Porto
Reconversão do Convento das Bernardas em habitações (Tavira)
Edifício de escritórios para Edemi Gardens, Porto
Habitação colectiva no Vale de Santo Amaro, Alcântara, Lisboa
Adega na Mealhada
Plano de Pormenor e Novo Edifício dos Paços do Concelho, Trofa
2007
Torre em Benidorm (apartamentos e Hotel), Espanha
Espaço Miguel Torga, Sabrosa
Projecto de Requalificação Urbana do Centro Histórico da Ribeira
Grande, Açores, em co-autoria com Adriano Pimenta
Stand para a "Foz Banho" destinado à exposição "Oporto Show", Porto
Co-autoria com Nicola di Battista para o centro de acolhimento e museu
no Castelo di Abatemarco, Santa Maria del Cedro (Itália)
Reconversão da "Pensão Monumental" em habitação, Porto
2008
Coliseu de Viana do Castelo
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Prémios e distinções
1980
Prémio Fundação Engenheiro António de Almeida
1981
1.º Prémio no concurso para o Centro Cultural da S.E.C., Porto
1982
1.º Prémio no concurso para a reestruturação da Praça Giraldo, Évora
1984
Prémio Fundação Antero de Quental
1986
1.º Prémio no concurso para os Pavilhões C.I.A.C.
1987
1.º Prémio no concurso para um Hotel, Salzburg
1990
1.º Prémio no concurso "IN/ARCH 1990 para a Sicília"
Prémio SECIL de Arquitectura
1992
1.º Prémio para a Construção de Auditório e Biblioteca Infantil da Biblioteca
Pública Municipal do Porto
2.º Prémio no concurso "A Pedra na Arquitectura", Prémio Secil de
Arquitectura – Menção Honrosa para a Casa de Miramar
1993
1995
Prémios Nacionais de Arquitectura – Menção Honrosa para o Centro
Cultural da S.E.C. e Casa de Alcanena
Prémio Internacional da Pedra na Arquitectura para a Casa em Braga,
Feira de Verona
Prémio Anual da Secção Portuguesa da Associação Internacional de
Críticos de Arte
1996
Nomeado para o "Premio Europeo de Arquitectura Pabellón Mies van der
Rohe"
Finalista do Prémio IBERFAD com a Pousada de Santa Maria do Bouro
1998
1.º Prémio da 1.ª Bienal Ibero-americana com a Pousada de Santa Maria
do Bouro
Prémio Pessoa/98
1999
Menção Honrosa "Pedra na Arquitectura" para a Pousada de Santa Maria
do Bouro, Prémio de Opinião, Prémios FAD, Silo Cultural no
NorteShopping
2001
Prémio Heinrich-Tessenow-Medal in Gold
2002
Finalista na III Bienal Ibero-americana de Arquitectura y Ingenieria Civil,
Casas Pátio em Matosinhos
2003
Menção Honrosa "Pedra na Arquitectura" para o projecto da Faixa
Marginal de Matosinhos Sul
Finalista dos Prémios FAD de Arquitectura e Interiorismo 2004, com o
projecto "2 Casas em Ponte de Lima"
2004
Prémio del Jurado de la Opinión dos Prémios FAD de Arquitectura e
Interiorismo 2004
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O limite construído: o muro
Prémio Secil de Arquitectura
Finalista do "Prémio Europeu de Arquitectura Pabellón Mies van der Rohe
2004", com o Projecto do Estádio Municipal de Braga
2005
Prémio FAD de Arquitectura, Barcelona, com o projecto do Estádio
Municipal de Braga, Medalha de Ouro para o Estádio Municipal de Braga –
IAKS –International Association for Sports and Leisure Facilities, Colónia,
Alemanha
Finalista do 1.º Prémio de Arquitectura Ascensores Enor, com o projecto
"Casa do Cinema Manoel de Oliveira"
1.º Prémio no concurso para um crematório em Kortrijik, Bélgica
Prémio Internacional de Arquitectura do Chicago Athenaeum Museum,
para o Estádio Municipal de Braga
Menção Honrosa na categoria de "Melhor Janela" – Estádio Municipal de
Braga, atribuído pela Associação Espanhola de Fabricantes de Janelas e
Fachadas Ligeiras (ASEFAVE) – Veteco na Feira de Madrid, Espanha
2006
Prémio FAD "Ciutat i Paisatge" com o Projecto "Metro do Porto"
Finalista para obtenção do Prémio de Obra de Arquitectura com o Estádio
Municipal de Braga na V Bienal Ibero-americana de Arquitectura e
Urbanismo
Prémio de Arquitectura Ascensores Enor com o Projecto do Metro do Porto
(ex-aequo com o Centro Cultural de Artes de Sines, de Manuel e Francisco
Aires Mateus)
Membro honorário do Instituto Americano de Arquitectos
2007
Prémio carreira da Academia Nacional de Arquitectura da Sociedade de
Arquitectos Mexicanos
Prémio Internacional de Arquitectura para a Torre Burgo, atribuído
pelo Chicago Athenaeum Museum
2008
2011
Membro internacional da RIBA (Royal Institute of British Architects),
finalista dos Prémios FAD de Arquitectura e Interiorismo 2008 com a
"Burgo – Empreendimento" – Edifício de Escritórios e Comércio
Prémio Pritzker de Arquitectura 2011, recebido a 2 de Junho em
Washington, onde foi felicitado pelo Presidente norte-americano Barack
Obama.
Prémio Secil de Arquitectura 2011 pela Casa das Histórias Paula Rego, em
Cascais
2011
Comemoração dos 30 anos de carreira de Eduardo Souto de Moura pela
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com a realização de
umworkshop na Faculdade de Arquitectura e de uma exposição e de um
seminário na Casa da Música.
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O limite construído: o muro
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O limite construído: o muro
APÊNDICE C
Manuel Aires Mateus e Francisco Aires Mateus
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O limite construído: o muro
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O limite construído: o muro
APÊNDICE C
BIOGRAFIA
Manuel Aires Mateus, nasceu em Lisboa, Portugal em 1963.
Arquitecto licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de
Lisboa, em 1986. Colaborou com o arquitecto Gonçalo Byrne desde 1983 e com o
arquitecto Francisco Aires Mateus desde 1988. Professor na Graduate School of
Design da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América entre 2002 e
2005. Professor convidado na Fakulteta za Arhitekturo,Universa v Ljubljani, Liubliana,
Eslovénia ente 2003 e 2004. Professor na Accademia di Architectura,Mendrízio, Suiça,
desde 2001. Professor na Universidade Autónoma, em Lisboa desde 1998. Professor
na Universidade Lusíada de Lisboa desde 1997. Convidado para inúmeros seminários
e conferências na Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Croácia,
Inglaterra, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, México, Noruega, Portugal, Eslovénia,
Espanha, Suécia, Suíça e Estados Unidos da América.
Francisco Aires Mateus nasceu em Lisboa, Portugal em 1964.
Arquitecto, licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de
Lisboa, Portugal em 1987. Colaborou com o arquitecto Gonçalo Byrne desde 1983 e
com o arquitecto Manuel Aires Mateus desde 1988. Professor visitante na Oslo School
of Architectura, em Oslo, em 2009. Professor na Graduate School of Design, Harvard
University, Estados Unidos da América em 2005. Professor na Accademia di
Architettura, Mendrisio, Suíça e Università della Svizzera Italiana, Itália desde 2001.
Professor na Universidade Autónoma em Lisboa, desde 1998. Professor convidado
para inúmeros seminários em Portugal, Espanha, Itália, Suíça, Argentina, Inglaterra,
Brasil, México, Noruega, Chili, Estados Unidos da América, Eslovénia, Croácia,
Canadá e Japão.
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
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O limite construído: o muro
OBRA
Termas na Serra da Esrela, Serra da Estrela, PORTUGAL – em curso
2011
Centro de Convívio para a Santa Casa da Misericórdia, Grândola, Portugal –
em curso.
Edifício Habitacional no Largo dos Loios – Lisboa, Portugal – em curso
Centro escolar em Alvega – Abrantes, Portugal – em in course
Feira da Pedra de Verona – pavilhão – Verona, Itália - construído
Concurso internacional por convites para o “Atrio de la Alhambra” – Granada,
Espanha
2010 Centro escolar em São João – Abrantes, Portugal – em curso
Concurso para a requalificação do mercado da Ribeira no cais do Sodré,
Lisboa, PORTUGAL, 1º prémio – em curso
Concurso internacional por convite para o novo presbiterio da Cathedral de St
Gallen, Sant Gallen, SUIÇA – 2º premio
12ª Bienal de Arquitectura de Veneza – Voids – sob o comissariado da Arqª
Kazuyo
Sejima – Veneza, Itália – construído
Casa em Melides – Grândola Portugal – em curso
Centro escolar de Bemposta – Abrantes, Portugal – em construção
Centro escolar de Rio de Moínhos – Abrantes, Portugal – em construção
Centro escolar de Alferrarede – Abrantes, Portugal – em construção
Centro de interpretação do Ilhéu de Vila Franca do Campo, S. Miguel, Açores,
Portugal – em curso
Hospital de Rectaguarda – Grândola, Portugal – em curso
2009
Escola secundária “Fernão Mendes Pinto”: requalificação, Almada. PORTUGAL
– em projecto
Concurso para o Edifício do governo Regional de Antuérpia, Antuérpia.
BÉLGICA – concurso internacional por convite
Edifício de habitação “En Sully” no lago de Geneve (com Christ & Gantenbein,
Basel), En Sully. SUIÇA – Concurso internacional, 1º prémio. em projecto
Museu de História Natural em Saint Gallen, Saint Gallen. SUIÇA – concurso
internacional, projecto finalista
Casa na Aroeira, Aroeira. PORTUGAL – construída
Call Center da Portugal Telecom a Santo Tirso, Santo Tirso. PORTUGAL –
construído
Fase Final por Convites do Concurso para Requalificação do Jardim Botânico e
recinto do Parque Mayer - Lisboa. PORTUGAL – 1º prémio
Concurso para a Sede da EDP (com Frederico Valsassina), Lisboa.
2008
PORTUGAL – 1º prémio
Escola secundária “António Arroio”: requalificação Lisboa. PORTUGAL – em
construção
Exposição WELTLITERATUR . Madrid, Paris, Berlim, São Petersburgo, o
Mundo! - Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa. PORTUGAL - construído
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Primeira fase aberta do Concurso para Requalificação do Jardim
Botânico e recinto do Parque Mayer - Lisboa. PORTUGAL – 1º prémio
Concurso por convites para um Hotel em Monsaraz, Monsaraz. PORTUGAL –
1º prémio
Hard Club no Mercado Ferreira Borges, Porto, Porto. PORTUGAL – construído
Casa em Monsaraz, Monsaraz. PORTUGAL – em construção
Hotel em Belém, Belém. PORTUGAL – em projecto
Restaurante Tavares, Lisboa. PORTUGAL – construído
Concurso para o Jardim Público de Évora, Évora . PORTUGAL – em projecto
Casa em Grândola, Grândola . PORTUGAL . em projecto
Casa em Palhacana, Palhacana . PORTUGAL – em projecto
Casa nos Cadoços, Grândola . PORTUGAL . em projecto
2007 Galeria de Fotografia PENT 10 em Lisboa, Lisboa . PORTUGAL – construído
Casa em Sobral, Sobral de Monte Agraço. PORTUGAL . em projecto
Edifício residencial na Tr. Conde da Ponte em Lisboa, Lisboa . PORTUGAL –
em projecto
Concurso para o “Parque de los Cuentos” – Reconstrução e ampliação do
Convento de la Trinidad Málaga - Málaga. ESPANHA – 1º prémio
Requalificação de Hotel em Budapeste, Budapeste. HUNGRIA – em projecto
1º Prémio do Concurso Internacional por Convite, Edifícios de Habitação e
Comércio, Madrid. ESPANHA - em construção
Mercado do peixe, Veneza. ITÁLIA – em projecto
Edifícios de Habitação e Comércio em Seine, Paris. FRANÇA - concurso
internacional por convite
Sede da Caja Badajoz, Badajoz. ESPANHA – concurso internacional por
convite
Praça de Portagem de Benavente – A13, Benavente. PORTUGAL – construído
Hotel em Santiago do Cacem, Santiago do Cacém. PORTUGAL – construído
Bar de praia em Porto-Côvo, Porto-Côvo . PORTUGAL – em projecto
Resort Turístico em Porto-Côvo, Porto-Côvo . PORTUGAL – em projecto
2006
Hotel em Praga, Praga. REPÚBLICA CHECA – em projecto
Casa em S. Bráz de Alportel, Algarve. PORTUGAL – em projecto
Livraria Almedina na Arrábida, Algarve. PORTUGAL – construído
Escola Básica em V N Barquinha, V N Barquinha. PORTUGAL – em
construção
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
146
O limite construído: o muro
Stand daLivraria Almedina na FIL, Lisboa. PORTUGAL – construído
Plano Pormenor para Lisboa Ocidental, Lisboa. PORTUGAL – em projecto
Casa na Comporta, Alcácer do Sal. PORTUGAL – em projecto
Concurso Internacional por Convite, para Torre no Dubai Dubai. DUBAI – nã
oconstruído
Museu dos Transportes no Arco do Cego, Lisboa. PORTUGAL – em projecto
Reconversão do Quarteirão Batista Russo, Lisboa. PORTUGAL – em projecto
Empreendimento Turístico Riviera em Carcavelos, Cascais. PORTUGAL – em
projecto
Concurso Internacional por Convite, Sede empresarial em Casablanca,
Casablanca. MARROCOS
Hotel na Macedónia, Otesevo. MACEDONIA – em projecto
Casa em Alcobaça, Alcobaça. PORTUGAL – em projecto
Concurso Internacional por Convite para Pólo de Formação do Património e
Actividade Cultural de Benevento, Benevento. ITÁLIA – a decorrer
Extensão e Requalificação da ETAR de Alcântara, Lisboa. PORTUGAL - em
construção
QuizCamp, Montemor. PORTUGAL - em projecto
1º Prémio Concurso Internacional por Convite, Complexo Multifuncional,
Balerna. SUIÇA - em projecto
Centro Cívico, Lisboa. PORTUGAL - em projecto
Casa em Leiria, Leiria. PORTUGAL - construida
2005
Casa Diogo Teixeira, Lisboa. PORTUGAL - construído
Livraria Almedina, Coimbra. PORTUGAL - construído
Livraria Almedina, São Paulo. BRASIL - construído
Requalificação da Envolvente da Lagoa das Furnas, Açores. PORTUGAL –
construido
Edifício de Habitação e Comércio 24 Julho, Lisboa. PORTUGAL - construido
Lar de Idosos para a Santa Casa da Misericórdia, Alcácer do Sal. PORTUGAL
– construído
Casas em Marrocos, Essaouira. MARROCOS - em projecto
Casa na Quinta do Lago, Algarve. PORTUGAL – in course
2004
Edifício de habitação Travessa Conde da Ponte, Lisbon. PORTUGAL construido
Silo no Largo das Portas do Sol em Alfama, Lisboa. PORTUGAL – construído
Edifício de Habitação e Comércio em Moura, Moura. PORTUGAL - construído
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Livraria Almedina no Centro Arte Moderna da Gulbenkian, Lisboa. PORTUGAL
- construído
Complexo Habitacional em St. Doolaghs, St. Doolahgs. IRLANDA - em projecto
Empreendimento Turístico “Quinta do Bom Sucesso”, Óbidos. PORTUGAL em construção
Estúdio 2 de Arquitectura Aires Mateus, Lisboa. PORTUGAL - construído
Remodelação de um Apartamento em Telheiras, Lisboa. PORTUGAL construído
Edifício de Habitação e Comércio no Largo do Rato, Lisboa. PORTUGAL - em
projecto
2003 Casa em LionsDen, Dublin. IRLANDA - em projecto
Hotel e Residências Grand Canal Square, Dublin. IRLANDA - em construção
Nova Biblioteca Central de Lisboa, Lisboa. PORTUGAL - em construção
Recuperação do Forte e Farol de Santa Marta, Cascais. PORTUGAL - em
construção
Casa em Alcácer do Sal, Alcácer do Sal. PORTUGAL - em projecto
Concurso para “The Grand Egyptian Museum”, Cairo. EGIPTO - finalista
Concurso Internacional para “Maison de la Pax”, Genebra. SUÍÇA - finalista
Casa na Arrábida, Setúbal. PORTUGAL - em construção
Casa na Serra d’Aire, Fátima. PORTUGAL - em projecto
Centro Carmen Frova, Laguna de Veneza. ITÁLIA – construído
Livraria Almedina, Porto. PORTUGAL - construída
2002 Hotel Trocadero, Jesolo. ITÁLIA - em projecto
Escritórios PROAP, Lisboa. PORTUGAL - construído
Zona Comercial e de Escritórios, Coimbra. PORTUGAL - em projecto
Centro de Escritórios, Lisboa. PORTUGAL – construído
Casa Dr. João Ramos, Sesimbra. PORTUGAL – construído
Edifício de Habitação Rua Almirante Barroso, Lisboa. PORTUGAL - construído
Mercado Municipal de Caxias, Caxias. PORTUGAL - construído
Museu do Tejo, Almourol. PORTUGAL - em projecto
2001 Galeria de Arquitectura de Lisboa, Mitra. PORTUGAL - em projecto
Concurso para o Tribunal Universitário - Recuperação do Conventoda
Trindade, 1º prémio - Coimbra. PORTUGAL – em construção
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Livraria Almedina II, Lisboa. PORTUGAL - construído
Concurso para a Praça de Portagem de S. Bartolomeu de Messines, 1º prémio
– Algarve. PORTUGAL - construído
Concurso para “Conjunto Arquitectónico Dedicado aos Sanfermines”, Navarra.
ESPANHA - finalista
Estúdio de Arquitectura Aires Mateus, Lisboa. PORTUGAL - construído
Edifícios de Habitação no Parque das Nações Norte, Lisboa. PORTUGAL construído
Edifício de Escritórios no Parque das Nações, Lisboa. PORTUGAL – não
construído
Livraria Almedina, Lisboa. PORTUGAL - construído
Biblioteca e Centro Cultural de Sines, Sines. PORTUGAL - construído
2000
Edifícios de Habitação no Parque das Nações Sul, Lisboa. PORTUGAL –
construído
Casa Barreira Antunes, Grândola. PORTUGAL - construído
Casa Rafael Rodrigues, Grândola. PORTUGAL - em construção
Casa Ângelo Nobre, Azeitão. PORTUGAL - construído
Concurso por convites para a Orquestra Metropolitana de Lisboa -co-autoria
arqº Gonçalo Byrne -1º prémio - Lisboa. PORTUGAL – não construído
Casa em Alvalade, Alvalade. PORTUGAL - não construído
Casa em Alenquer, Alenquer. PORTUGAL - construído
Remodelação da Igreja de São Pedro, Grândola. PORTUGAL - não construído
Reitoria para a Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. PORTUGAL - construído
Remodelação dos escritórios “Fenda” na Baixa de Lisboa, Lisboa. PORTUGAL
- construído
1999
Plano Urbano de Recuperação do Centro Histórico, Grândola. PORTUGAL construído
Pavilhão da TAP para a Expo 98, Lisboa. PORTUGAL - construído
Concurso para a Cantina da Universidade de Aveiro, 1º prémio – Aveiro.
PORTUGAL - construído
Remodelação da Casa da Drª Ana Pais Lisboa. PORTUGAL - construído
Edifício de Apoio e Manutenção do Parque do Tejo e do Trancão, Lisboa.
PORTUGAL - construído
Concurso para a Unidade Pedagógica Central da Universidade de Coimbra, 1º
prémio - Coimbra. PORTUGAL - construído
Projecto para as Residências de Estudantes do Pólo II da Universidade de
1996
Coimbra, Coimbra. PORTUGAL - construído
Museu do Brinquedo e Museu Infantil da Tecnologia e do Lúdico, Sintra.
PORTUGAL - construído
1995
Casa Drª Inês Ruela e Dr. Manuel Maltês, Lisboa. PORTUGAL - construído
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
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O limite construído: o muro
Edifício de Habitação – Expo 98, Lisboa. PORTUGAL - construído
Casa Dr. Ricardo Arruda, Oeiras. PORTUGAL - construído
Reordenamento Urbano do Largo de Catarina Eufémia e Envolvente Grândola.
PORTUGAL - construído
Concurso por Convites para a Cantina do Pólo II da Universidade de Coimbra,
1º prémio - Coimbra. PORTUGAL - construído
Novas Instalações da Universidade Agostinho Neto Luanda. ANGOLA - não
construído
1994
Concurso por Convites para as Novas Instalações da Sede da Ordem dos
Engenheiros, 1º prémio - Lisboa. PORTUGAL - construído
Casa Narciso Ferreira Alcanena. PORTUGAL - construído
1993
Lar de Acamados para a Santa Casa da Misericórdia de Grândola – Bloco II,
Grândola. PORTUGAL - construído
Casa Vírginia Ramos Pinto e José Mendonça Sintra. PORTUGAL - construído
1992 Casa Catarina Rocha Ericeira. PORTUGAL - não construído
Cenários da Peça de Teatro “True West” de Sam Shepard, Benfica.
PORTUGAL - construído
Pavilhão com Piscina Coberta e Arranjos Exteriores, Porto Alto.PORTUGAL construído
Instalação e Montagem da Exposição “ Tendências da Arte Contemporânea”,
1991
Lisboa.PORTUGAL - construído
Concurso Internacional – Prémio Samorá Realizado em Pádua, 1º prémio –
Pádua.ITÁLIA
Concurso para a Instalação da “I Trienal de Arquitectura de Sintra”, 1º prémio –
1990
Sintra.PORTUGAL - construído
1989 Discoteca “Sociedade Anónima”, Ericeira.PORTUGAL – construído
Inês dos Santos Mealha Usera Belmarço
150
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