Alterações do Óleo de Soja e da Mistura Azeite de Dendê - Óleo de Soja em Frituras Descontínuas de Batatas Chips Alterations of Soybean Oil and a Mixture of “Dendê” Oil and Soybean Oil (1:1) During the Discontinuous Frying of Chips AUTORES AUTHORS Cássia Roberta MALACRIDA Aluna de Iniciação Científica – Bolsista do Programa PIBIC/CNPq Neuza JORGE Professora Assistente Doutora - Universidade Estadual Paulista - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas Depto. de Engenharia e Tecnologia de Alimentos. Rua Cristóvão Colombo 2265 - CEP: 15054-000 São José do Rio Preto-SP - Fone: 017-221-2257 - Fax: 017-221-2299 e-mail: [email protected] RESUMO A compreensão das mudanças que o óleo sofre durante os processos de fritura é de grande importância já que pode levar à otimização destes processos, bem como a melhoria da qualidade dos alimentos fritos. O objetivo deste trabalho foi verificar o comportamento do óleo de soja e da mistura azeite de dendê - óleo de soja (1:1) utilizados para a fritura descontínua de batatas. Foram realizados, para cada tipo de óleo, dois procedimentos de fritura com relações superfície/volume de 0,5 e 1,0cm-1. Quinze lotes de batatas foram fritos, para cada procedimento de fritura, à temperatura de 180°C, sendo retiradas amostras dos óleos após 0,25, 1,25, 2,25, 3,25, 4,25, 5,25, 6,25 e 7,25 horas de fritura. Para análise das amostras foram realizadas as seguintes determinações analíticas: ácidos graxos livres (%, expressos em ácido oléico), índice de peróxidos (mEq/Kg), índice de refração (40°C) e compostos polares totais (%). Composição em ácidos graxos (% de área) foi feita nas amostras originais e viscosidade (mPa.s), nas amostras originais e finais. As determinações analíticas aplicadas às amostras apresentaram aumento com o tempo de fritura, com exceção do índice de refração para o óleo de soja. Apesar da diferença na composição de ácidos graxos entre os dois tipos de óleos, ambos comportaram-se de forma similar apresentando alteração acima dos limites recomendados por alguns países para óleos de fritura a partir de 6,25 horas de uso. De acordo com os níveis de alteração encontrados neste estudo, conclui-se que há necessidade de um maior controle de qualidade dos óleos vegetais utilizados em frituras descontínuas. SUMMARY PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Óleo de soja; Mistura azeite de dendê - Óleo de soja; Fritura descontínua; Batatas chips. It is very important to understand the changes occurring in the oil during frying processes, since this could lead to the optimization of the processes as well as to improvements in the quality of the fried foods. The objective of this work was to study the behaviour of soybean oil and a mixture of “dendê” oil and soybean oil (1:1) during a discontinuous process for frying potatoes. For each type of oil, two frying procedures were conducted, both with surface/volume ratios of 0.5 and 1.0cm-1. Fifteen potato batches were fried for each frying process at 180°C, and samples were collected for each oil type after 0.25, 1.25, 2.25, 3.25, 4.25, 5.25, 6.25 and 7.25 hours of frying. The following determinations were made for each of the samples: free fatty acids (%, expressed as oleic acid), peroxide index (mEq/Kg), refractive index (40°C) and total polar compounds (%). The fatty acid composition (% area) was determined in the original samples, and viscosity (mPa.s), in the original and final samples. The analytical determinations applied to the samples showed increases in the values with time of frying, with the exception of the refractive index for the soybean oil. In spite of the differences in the fatty acid composition between the two types of oil, both behaved in a similar way, showing alterations to above the limits recommended by some countries for frying oils after more than 6.25 hours of use. According to the levels of alteration found in this study, it was concluded that there was a need to improve the quality control of the vegetable oils used during discontinuous frying. Soybean oil; “Dendê” and Soybean oil mixture; Discontinuous frying; Chips. Braz. J. Food Technol., v.6, n.2, p. 245-249, jul./dez., 2003 245 Recebido / Received: 25/04/2002. Aprovado / Approved: 13/05/2002. MALACRIDA, C. R.; JORGE, N. 1. INTRODUÇÃO O consumo de produtos fritos vem apresentando um aumento significativo nos últimos tempos. Isto se deve, principalmente, ao fato da fritura ser um método rápido de preparação de alimentos que resulta em produtos com características agradáveis de sabor e aroma. Entretanto, o uso repetitivo dos óleos de fritura produz compostos que podem colocar a saúde do consumidor em risco. Já existem evidências de que óleos e gorduras aquecidos e altamente oxidados podem possuir propriedades carcinogênicas devido a substâncias potencialmente tóxicas. Além disso, o valor nutricional dos óleos de fritura é afetado pela perda de ácidos graxos poliinsaturados, os quais são importantes para o metabolismo humano (TYAGI; VASISHTHA, 1996). As alterações que ocorrem em um óleo durante o processo de fritura são provenientes de reações hidrolíticas, térmicas e oxidativas. A intensidade com que estas reações ocorrem depende de vários fatores, tais como: temperatura e tempo de fritura, relação superfície/volume do óleo, tipo de aquecimento, tipo do óleo empregado, adição de óleo novo e natureza do alimento a ser frito. O óleo é um dos componentes mais críticos em um sistema de fritura. A sua degradação depende da maior ou menor presença de ácidos graxos insaturados em sua composição. Óleos vegetais que possuem uma grande quantidade de ácidos graxos poliinsaturados estão mais sujeitos a oxidação do que óleos que possuem maior quantidade de ácidos graxos saturados (LOLOS et al., 1999). O efeito da relação superfície/volume também é um fator importante a ser considerado no estudo da degradação do óleo de fritura. Quanto maior esta relação, maior a taxa de degradação do óleo. Isto acontece porque a superfície específica de óleo em contato com o ar está diretamente relacionada com o desenvolvimento das reações oxidativas. Portanto, sendo esta superfície grande tem-se uma velocidade de alteração elevada (PÉREZ-CAMINO, 1986). Existe uma ampla variedade de métodos analíticos que são utilizados para avaliação dos óleos de fritura (STEVENSON et al., 1984; WHITE, 1991; ORTHOEFER; COOPER, 1996). De um lado, estão os métodos que quantificam de forma direta os compostos de alteração, entre os quais se destacam a determinação de compostos polares e a determinação específica dos compostos de polimerização, oxidação e hidrólise (DOBARGANES; PÉREZ-CAMINO, 1988), os quais estão relacionados com os três tipos de alterações mais importantes que se dão durante o processo de fritura. De outro lado, estão os índices analíticos rápidos, sensíveis e reprodutíveis que são de grande utilidade para a avaliação da evolução do óleo de fritura em aplicações diretas. Entre estes métodos se encontram a determinação de ácidos graxos livres, o índice de peróxidos, o índice de iodo, as medidas de viscosidade, dienos e trienos conjugados e outros (MASSON et al., 1997). Braz. J. Food Technol., v.6, n.2, p. 245-249, jul./dez., 2003 Alterações do Óleo de Soja e da Mistura Azeite de Dendê - Óleo de Soja em Frituras Descontínuas de Batatas Chips Embora o Brasil não possua legislação para a utilização de óleos de fritura, muitos países, tais como Alemanha, Bélgica, Holanda, Estados Unidos, Japão e Chile, possuem leis e regulamentações de controle da qualidade dos óleos de fritura que visam garantir a qualidade dos mesmos e dos alimentos fritos (FIRESTONE, 1993). O objetivo deste trabalho foi conhecer o comportamento do óleo de soja e da mistura azeite de dendê - óleo de soja (1:1) durante a fritura descontínua de batatas chips . Foram utilizadas duas relações superfície/volume diferentes para cada tipo de óleo (1,0 e 0,5 cm-1), as quais correspondem àquelas usadas nas frituras em frigideiras e em tachos, respectivamente. 2. METODOLOGIA 2.1 Material Foram utilizados, para os ensaios de fritura descontínua de batatas, óleo de soja da marca Sadia e a mistura azeite de dendê - óleo de soja (1:1) da marca Cepêra, adquiridos no mercado de São José de Rio Preto-SP. Para cada tipo de óleo foram realizados dois procedimentos de fritura em uma panela de alumínio contendo 0,5 e 1,0 litro com relações superfície/volume de 0,5 e 1,0cm-1, respectivamente. A temperatura empregada foi, em média, 180°C, cujo controle foi feito com o auxílio de um termômetro. As batatas foram descascadas, cortadas em fatias (cerca de 0,3cm de espessura), submersas em água até o momento da fritura, escorridas e pesadas antes e após cada processo de fritura. Quinze lotes de batatas com aproximadamente 100 gramas foram fritos, para cada procedimento de fritura, por um período de 5 minutos. Para cada lote foram empregados intervalos de 25 minutos entre cada operação de fritura. Para cada procedimento, o óleo foi aquecido por um período total de 7 horas e 15 minutos, sem nenhuma reposição. Antes de dar início aos ensaios de fritura, o óleo foi submetido a um aquecimento por um período de tempo de 10 minutos para o estabelecimento de controle de temperatura no recipiente de alumínio. Após a fritura de cada lote de batatas, amostras de óleo foram tomadas a diferentes intervalos de tempo (a primeira após 15 minutos e as demais em intervalos de 1 hora), ou seja, após a primeira, terceira, quinta, sétima, nona, décima primeira, décima terceira e décima quinta fritura e, em seguida, foram estocadas em freezer à temperatura de -18°C. 2.2 Métodos analíticos • Ácidos graxos livres, expressos em ácido oléico (%), conforme método proposto pela AOCS Ca 5a-40 (1988). 246 MALACRIDA, C. R.; JORGE, N. • Índice de peróxidos, expressos em milequivalentes de oxigênio ativo por kg de óleo, conforme método proposto pela AOCS Cd 8-53 (1988). • Índice de refração, determinado a 40°C conforme método proposto pela AOCS Cc 7-25 (1988), mediante Refratômetro de Abbé. • Compostos polares totais, expressos em porcentagem de área, obtidos mediante cromatografia em coluna, conforme o método proposto pela IUPAC (WALTKING; WESSELS, 1981) com uma pequena modificação: o uso de hexano:éter etílico 90:10, ao invés de 87:13, para produzir uma melhor separação da fração não polar (DOBARGANES et al., 1984). • Composição em ácidos graxos, expressa em porcentagem de área, determinada através de cromatografia em fase gasosa utilizando-se cromatógrafo HP 5890 com detector de ionização de chama, coluna de sílica fundida BPX70, 50m de comprimento, 0,25µm de diâmetro interno, temperatura programada entre 160-230°C, taxa de 2°C/min, hidrogênio como gás de arraste, usando como referência ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME) da Sigma e Merck para identificação. FAME foram preparados com metilato de sódio (AENOR, 1991). • Viscosidade, determinada a 40 ± 1°C, utilizandose um Reômetro Rotacional de Cilindros Concêntricos com Sistema “Searle”, de acordo com o método clássico proposto por KRIEGER; ELROD (1953). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As características físico-químicas iniciais do óleo de soja, da mistura azeite de dendê - óleo de soja (1:1) e do azeite de dendê são mostradas na Tabela 1. TABELA 1. Características físico-químicas originais do óleo de soja, da mistura azeite de dendê - óleo de soja (1:1) e do azeite de dendê. Características* Ácidos graxos livres (%) Óleo de soja Azeite de dendê óleo de soja Azeite de dendê** 0,09 2,5 - 3,3 5,0 - 1,4672 1,4621 - Compostos polares totais (%) 6,5 8,6 - Viscosidade (mPa.s) 37 32 - Índice de peróxidos (mEq/Kg) Índice de refração (40°C) Composição em ácidos graxos (% de área) Ácido Palmítico (C16:0) 12,7 25,1 44,6 Ácido Esteárico (C18:0) 3,9 4,5 4,7 Ácido Oléico (C18:1n9) 23,6 33,5 40,4 Ácido Linoléico (C18:2n6) 55,3 33,8 9,9 Ácido Linolênico (C18:3n3) 4,5 3,1 0,4 * Valores obtidos da média de duas repetições. ** Fonte: SAMBANTHAMURTHI et al. (2000). Braz. J. Food Technol., v.6, n.2, p. 245-249, jul./dez., 2003 Alterações do Óleo de Soja e da Mistura Azeite de Dendê - Óleo de Soja em Frituras Descontínuas de Batatas Chips Pode-se verificar que a mistura azeite de dendê – óleo de soja apresentou valores de compostos polares totais, ácidos graxos livres e índice de peróxidos superiores aos do óleo de soja, o que se deve provavelmente ao fato do azeite de dendê não ter sido submetido a um processo de refinação. Observase também que a fração polar do óleo de soja original é de 6,5%, valor próximo aos encontrados por alguns pesquisadores (PÉREZ-CAMINO et al., 1987; CUESTA et al., 1991), o que significa que se trata de um óleo não alterado e, portanto, de boa qualidade. Com relação à composição em ácidos graxos, a porcentagem total de ácidos graxos poliinsaturados (C18:2n6 + C18:3n3) foi de 59,8% para o óleo de soja e de 36,9% para a mistura azeite de dendê - óleo de soja. Tanto a porcentagem total de ácidos graxos saturados (C16:0 + C18:0) quanto de ácido graxo monoinsaturado (C18:1n9) foi mais elevada para a mistura azeite de dendê - óleo de soja, apresentando, respectivamente, valores de 16,6 e 23,6% para o óleo de soja e de 29,6 e 33,5% para a mistura azeite de dendê - óleo de soja. Estes valores são semelhantes aos encontrados por outros autores (MASSON et al., 1999; LOLOS et al., 1999). A quantidade de ácido linolênico (C18:3n3) mostrouse superior a 2% para ambos os óleos, valor este considerado limite por alguns países como Bélgica, Chile e França, para óleos vegetais utilizados em frituras. O óleo de soja apresentou 4,5% de ácido linolênico e a mistura azeite de dendê - óleo de soja 3,1%. De maneira geral, os limites permitidos para compostos polares totais oscilam entre 25 e 27% e para ácidos graxos livres entre 1 e 2,5%. O índice de peróxidos não deve ultrapassar o valor de 10 mEq/Kg de amostra e os óleos vegetais utilizados devem apresentar menos de 2% de ácido linolênico em sua composição (MASSON et al., 1999). Nas Tabelas 2 e 3, são mostrados os resultados dos índices analíticos escolhidos para acompanhar os processos de fritura com óleo de soja e mistura azeite de dendê - óleo de soja. Os valores de ácidos graxos livres para o óleo de soja foram similares nas duas relações S/V utilizadas (Tabela 2). O aumento da amostra final foi de 5,3 e 4,7 vezes o valor da amostra inicial para relações S/V de 0,5 e 1,0cm -1 , respectivamente. Conforme Tabela 3, a mistura azeite de dendê - óleo de soja também mostrou comportamento similar dos valores de ácidos graxos livres para as duas relações S/V, entretanto, o aumento da acidez livre das amostras finais em relação às iniciais foi inferior quando comparado com o óleo de soja. Tal fato confirma a maior tendência que o óleo de soja possui de desenvolver alterações hidrolíticas, o que pode estar atribuído à quebra ou oxidação das duplas ligações presentes em maiores quantidades (PAUL; MITTAL, 1997). O aumento de acidez livre para as amostras finais da mistura azeite de dendê - óleo de soja foi de 23,6 e 26,4% em relação às amostras iniciais para relações S/V de 0,5 e 1,0 cm-1, respectivamente. Os elevados valores de acidez livre encontrados para as amostras finais da mistura azeite de dendê - óleo de soja se devem, também, à condição inicial do óleo, que já apresentava um valor de acidez livre bastante elevado (2,5%). 247 MALACRIDA, C. R.; JORGE, N. TABELA 2. Valores de ácidos graxos livres, índice de peróxidos, índice de refração e compostos polares para óleo de soja, utilizado em frituras de batatas chips, à temperatura de 180°C e relações superfície/volume (S/V) de 0,5 e 1,0cm-1. Fritura Tempo Ácidos graxos Índice de peróxidos Índice de Compostos (horas) livres (%)* (mEq/kg)* refração (40°C)* polares (%)* S/V = 0,5 cm-1 1 0,25 0,15 4,61 1,4672 8,50 3 1,25 0,20 18,20 1,4672 10,30 5 2,25 0,25 16,85 1,4672 17,30 7 3,25 0,23 12,85 1,4672 15,10 9 4,25 0,26 10,80 1,4672 16,60 11 5,25 0,31 9,31 1,4671 18,10 13 6,25 0,40 14,55 1,4671 21,60 15 7,25 0,48 11,70 1,4671 31,30 S/V = 1,0 cm-1 1 0,25 0,11 7,27 1,4673 11,14 3 1,25 0,14 6,48 1,4673 12,24 5 2,25 0,17 19,90 1,4673 13,28 7 3,25 0,20 10,24 1,4675 14,73 9 4,25 0,23 8,22 1,4678 19,21 11 5,25 0,25 9,37 1,4680 22,72 13 6,25 0,34 20,28 15 7,25 0,42 33,44 * Valores obtidos da média de duas repetições. 1,4681 25,38 1,4685 27,50 TABELA 3. Valores de ácidos graxos livres, índice de peróxidos, índice de refração e compostos polares para a mistura azeite de dendê - óleo de soja, utilizada em frituras de batatas chips, à temperatura de 180°C e relações superfície/volume (S/V) de 0,5 e 1,0cm-1. Fritura Tempo Ácidos graxos Índice de peróxidos Índice de Compostos (horas) livres (%)* (mEq/kg)* refração (40°C)* polares (%)* S/V = 0,5 cm-1 1 0,25 2,51 8,05 1,4621 3 1,25 2,64 9,10 1,4622 10,58 12,94 5 2,25 2,76 9,29 1,4625 14,26 16,46 7 3,25 2,88 10,55 1,4626 9 4,25 2,96 15,10 1,4629 18,44 11 5,25 2,99 17,27 1,4630 21,92 13 6,25 3,02 20,98 1,4634 27,38 15 7,25 3,09 24,25 1,4636 29,65 2,56 8,79 1,4622 11,98 13,78 S/V = 1,0 cm-1 1 0,25 3 1,25 2,67 15,67 1,4623 5 2,25 2,79 20,06 1,4625 15,61 7 3,25 2,82 25,03 1,4628 18,20 20,40 9 4,25 2,85 25,88 1,4629 11 5,25 2,87 31,00 1,4632 22,71 13 6,25 2,91 25,48 1,4634 28,50 1,4639 31,25 15 7,25 3,16 35,13 * Valores obtidos da média de duas repetições. O índice de peróxidos apresentou aumento em função do tempo de fritura e da relação S/V para a mistura azeite de Braz. J. Food Technol., v.6, n.2, p. 245-249, jul./dez., 2003 Alterações do Óleo de Soja e da Mistura Azeite de Dendê - Óleo de Soja em Frituras Descontínuas de Batatas Chips dendê - óleo de soja, enquanto para o óleo de soja apresentou um comportamento instável no decorrer do processo. Segundo CUESTA et al. (1991) este índice aumenta no início do processo de fritura até que se aproxime a 20 horas de utilização do óleo e, a partir deste momento, começa diminuir, o que é justificado pela for mação de outros compostos a par tir dos hidroperóxidos. Devido à rápida decomposição dos hidroperóxidos, em temperaturas utilizadas no processo de fritura, este índice analítico não é um bom método de controle para óleos utilizados em frituras (STEVENSON et al., 1984; MASSON et al., 1997). Na Tabela 2 pode-se verificar que as amostras finais do óleo de soja apresentaram um aumento do índice de peróxidos de 5,5 e 10,4 vezes o valor da amostra inicial para relações S/V de 0,5 e 1,0cm-1, respectivamente. Para a mistura azeite de dendê - óleo de soja, este aumento foi de 4,5 e 7,5 vezes para relações S/V de 0,5 e 1,0cm-1, respectivamente (Tabela 3). As variações no índice de refração estão relacionadas com alterações oxidativas e com a polimerização do óleo de fritura (TYAGI; VASISHTHA, 1996). A mistura azeite de dendê óleo de soja apresentou comportamento bastante similar com relação ao índice de refração para as duas relações S/V, o que não foi observado para o óleo de soja (Tabelas 2 e 3). Estes resultados foram semelhantes aos encontrados por outros autores, nos quais o índice de refração tem apresentado resultados contraditórios (CUESTA et al. , 1991; TYAGI; VASISHTHA, 1996). Como pode verificar nas Tabelas 2 e 3, independentemente da relação superfície/volume (S/V), as porcentagens de compostos polares totais mostraram-se similares para os dois tipos de óleos, apresentando valores para as amostras finais três a quatro vezes maiores que para as iniciais. Tais valores demonstram que o óleo de soja e a mistura azeite de dendê - óleo de soja apresentaram valores de compostos polares totais superiores a 25%, ou seja, valores acima do limite permitido por alguns países (MASSON et al.,1999). O óleo de soja apresentou valores de compostos polares totais acima de 25% a partir de 6,25 e 7,25 horas de fritura, para relações S/V de 0,5 e 1,0cm-1, respectivamente. A mistura azeite de dendê - óleo de soja apresentou valores acima de 25% a partir de 6,25 horas de fritura, para as duas relações S/V. O aumento da viscosidade também está relacionado com a polimerização do óleo de fritura. As viscosidades iniciais do óleo de soja e da mistura azeite de dendê - óleo de soja foram de 37 e 32 mPa.s, respectivamente. Neste trabalho, a viscosidade aumentou com o tempo de fritura e com a relação S/V. O óleo de soja e a mistura azeite de dendê - óleo de soja apresentaram, para as amostras finais, valores de viscosidade de 40 e 45 mPa.s e de 42 e 45 mPa.s para relações S/V de 0,5 e 1,0cm -1 , respectivamente. Valores similares foram encontrados por outros pesquisadores na análise de amostras de óleos submetidos à fritura descontínua de batatas (MASSON et al., 1997; 1999). 248 MALACRIDA, C. R.; JORGE, N. 4. CONCLUSÕES Alterações do Óleo de Soja e da Mistura Azeite de Dendê - Óleo de Soja em Frituras Descontínuas de Batatas Chips KRIEGER, I. M.; ELROD, H. Direct determination of the flow curves of non-Newtonian fluids. II. Shearing rate in the concentric viscosimeter. J. Appl. Phys., v.24, p.134, 1953. • Os níveis de alteração encontrados neste estudo demonstram a necessidade de melhorar a qualidade dos óleos vegetais em processos de frituras descontínuas. LOLOS, M.; OREOPOULOU, V.; TZIA,C. Oxidative stability of potato chips: effect of frying oil type, temperature and antioxidants. J. Sci. Food Agric, v.79, p.1524-1528, 1999. • Ao longo do processo de fritura, verificou-se que a partir de 6,25 horas de aquecimento, o óleo de soja e a mistura azeite de dendê - óleo de soja apresentaram alterações acima dos limites recomendados por alguns países (compostos polares totais ≥ 25%). MASSON, L.; ROBERT, P.; ROMERO, N.; IZAURIETA, M.; VALENZUELA, S.; ORTIZ, J.; DOBARGANES, M.C. Comportamiento de aceites poliinsaturados en la preparación de patatas fritas para consumo inmediato: formación de nuevos compuestos y comparación de métodos analíticos. Grasas y Aceites, v.48, n.5, p.273-281, 1997. AGRADECIMENTOS MASSON, L.; ROBERT, P.; IZAURIETA, M.; ROMERO, N.; ORTIZ, J. Fat deterioration in deep fat frying of “french fries” potatoes at restaurant and food shop sector. Grasas y Aceites, v.50, n.6, p.460-468, 1999. Ao PIBIC/CNPq pela concessão de bolsa de Iniciação Científica e aos Laboratórios da Facultad de Ciencias Químicas y Farmacéuticas, Universidad de Chile pela possibilidade de realização das análises de cromatografia gasosa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AENOR - Asociación Española de Normalización, Norma UNE 5503773. Catálogo de Normas UNE, Madri, 1991. AOCS - Official methods and recommended practices of the American Oil Chemists’ Society. 3. ed. Champaign, 1988. CUESTA, C.; SÁNCHEZ-MUNIZ, F. J.; HERNANDÉZ, I.; VARELA, L. S. Modificaciones de un aceite de oliva durante las frituras sucesivas de patatas. Correlaciones entre distintos índices analíticos y de evaluación global de la degradación. Rev. Agroquím. Tecnol. Aliment., v.31, n.4, p.523-531, 1991. DOBARGANES, M. C.; PÉREZ-CAMINO, M. C.; GONZÁLEZ-QUIJANO, R. G. Métodos analíticos de aplicación en grasas calentadas. I. Determinación de ésteres metílicos no alterados. Grasas y Aceites, v.35, n.3, p.172-177, 1984. 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