Versão impressa REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 72 - nº 3 - Maio/Junho 2013 MAI/JUN 2013 VOLUME 72 NÚMERO 3 P. 151-212 100 95 75 25 RBO 5 0 DESDE 1942 CAPA REVISTA-MAI-JUN-13 quarta-feira, 14 de agosto de 2013 17:01:52 151 ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Newton Kara-Junior (SP) Editor Executivo Arlindo José Freire Portes (RJ) Co-editores André Luiz Land Curi (RJ) Arlindo José Freire Portes (RJ) Bruno Machado Fontes (RJ) Carlos Eduardo Leite Arieta (SP) Hamilton Moreira (PR) Liana Maria Vieira de Oliveira Ventura (PE) Marcony Rodrigues de Santhiago (RJ) Mario Martins dos Santos Motta (RJ) Maurício Maia (SP) Niro Kasahara (SP) Renato Ambrósio Jr. (RJ) Rodrigo Jorge (SP) Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira (PE) Silvana Artioli Schellini (SP) Walton Nosé (SP) Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Daniel Grigera - Olivos - Argentina Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Felix Gil Carrasco - México – México Fernando Arevalo - Riyadh - Arábia Saudita Francisco Rodríguez Alvira – Bogotá - Colombia Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Kevin M. Miller - Califórnia - EUA Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Lihteh Wu – San José - Costa Rica Liliana Werner - Utah - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Pablo Cibils - Assunção - Paraguai Patricia Mitiko Santello Akaishi – Arábia Saudita Peter Laibson - Phyladelphia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Corpo Editorial Nacional A. Duarte - Rio de Janeiro - RJ Abelardo de Souza Couto - Rio de Janeiro- RJ Abrahão da Rocha Lucena - Fortaleza - CE Alexandre Augusto Cabral de Mello Ventura - Recife - PE Alexandre H. Principe de Oliveira – Salvador – BA Alexandre Seminoti Marcon – Porto Alegre - RS Ana Carolina Cabreira Vieira – Rio de Janeiro – RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP André Correa de Oliveira Romano – Americana - SP André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ André Marcio Vieira Messias – Ribeirão Preto – SP Andrea Kara José Senra - São Paulo – SP Antonio Marcelo Barbante Casella - Londrina - PR Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Beatriz de Abreu Fiuza Gomes – Rio de Janeiro - RJ Bruna Vieira Ventura - Recife - PE Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 72, n. 3, p. 151-212, Mai./Jun. 2013 Bruno Diniz – Goiânia - GO Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Gabriel Figueiredo - São José do Rio Preto - SP Carlos Ramos de Souza Dias- São Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Cristiano Caixeta Umbelino - São Paulo - SP Daniel Lavinsky – Porto Alegre - RS David Leonardo Cruvinel Isaac – Goiania - GO Diego Tebaldi Q. Barbosa - São Paulo - SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belém- PA Eduardo Buchele Rodrigues – Florianópolis - SC Eduardo Cunha de Souza – São Paulo - SP Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eduardo Dib – Rio de Janeiro - RJ Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Enzo Augusto Medeiros Fulco – Jundiaí - SP Eugenio Santana de Figueiredo – Juazeiro do Norte - CE Fábio Marquez Vaz – Ondina – BA Felipe Almeida - Ribeirão Preto - SP Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Marcondes Penha - Florianópolis - SC Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Fernando Roberte Zanetti – Vitória - ES Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Frederico Valadares de Souza Pena – Rio de Janeiro - RJ Frederico Guerra - Niterói - RJ Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Heloisa Helena Abil Russ – Curitiba – PR Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Iuuki Takasaka – Santa Isabel - SP Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS Jair Giampani Junior – Cuiabá - MT Jefferson Augusto Santana Ribeiro - Ribeirão Preto - SP João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira – Florianópolis – SC João Marcelo de Almeida G. Lyra - Maceió - AL João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Jorge Carlos Pessoa Rocha – Salvador – BA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Augusto Cardillo – Araraquara – SP José Beniz Neto - Goiania - GO José Ricardo Carvalho L. Rehder- São Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitória- ES Leonardo Akaishi - Brasília - DF Leonardo Provetti Cunha - SP Leticia Paccola - Ribeirão Preto - SP Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Hatanaka – São Paulo – SP Marcelo Netto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niterói- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Bonini Filho - Campo Grande - MS Marco Antonio Guarino Tanure - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirão Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mário Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Marlon Moraes Ibrahim – Franca - SP Mauricio Abujamra Nascimento – Campinas - SP Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Maurício Dela Paolera - São Paulo - SP Miguel Ângelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro – RJ Newton Kara-José - São Paulo - SP Newton Leitão de Andrade – Fortaleza – CE Octaviano Magalhães Júnior - Atibaia - SP Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Otacílio de Oliveira Maia Júnior – Salvador - BA Patrick Frensel de Moraes Tzelikis – Brasília – DF Paulo Augusto de Arruda Mello Filho – São Paulo – SP Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Schor - São Paulo - SP Pedro Carlos Carricondo – São Paulo – SP Pedro Duraes Serracarbassa – São Paulo – SP Priscilla de Almeida Jorge – Recife – PE Rafael Ernane Almeida Andrade - Itabuna – BA Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr.- São Paulo- SP Renata Rezende - Rio de Janeiro - RJ Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niterói- RJ Richard Yudi Hida – São Paulo – SP Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Roberto Pinto Coelho – Ribeirão Preto – SP Rodrigo França de Espíndola – São Paulo – SP Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rogerio de Almeida Torres - Curitiba - PR Rubens Belfort Neto – São Paulo – SP Rubens Camargo Siqueira- São José do Rio Preto- SP Sebastião Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sérgio Henrique S. 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Meirelles (RJ) 2º Secretário Giovanni N. U. I. Colombini (RJ) Tesoureiro Gilberto dos Passos (RJ) Diretor de Cursos Arlindo José Freire Portes (RJ) Diretor de Publicações Newton Kara-Junior (SP) Diretor de Biblioteca Armando Stefano Crema (RJ) Conselho Consultivo Membros eleitos Jacó Lavinsky (RS) Paulo Augusto de Arruda Mello (SP) Roberto Lorens Marback (BA) Conselho Fiscal Efetivos Francisco Eduardo Lopes Lima (GO) Leiria de Andrade Neto (CE) Roberto Pedrosa Galvão (PE) Suplentes Eduardo Henrique Morizot Leite (RJ) Jorge Alberto Soares de Oliveira (RJ) Mizael Augusto Pinto (RJ) SOCIEDADES FILIADAS À SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Ari de Souza Pena Associação Maranhense de Oftalmologia Presidente: Romero Henrique Carvalho Bertand Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Maurício Donatti Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Luciene Barbosa de Souza Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Otavio Bisneto Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Lhano Fernandes Adorno Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Janio Carneiro Gonçalves Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Mário Jorge Santos Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Flávio Rezende Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Armando Crema Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Ricardo Morschbacher Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Norma Allerman Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: César Ronaldo Vieira Gomes Filho Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Ramon Coral Ghanem Sociedade Cearense de Oftalmologia Presidente: Dácio Carvalho Costa Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Lúcia Helena Meluzzi Sociedade Norte-Nordeste de Oftalmologia Presidente: Francisco de Assis Cordeiro Barbosa Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Leila Suely Gouvea José Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: André Hasler Príncipe de Oliveira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: João Pessoa de Souza Filho Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Ricardo Maia Diniz Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Afonso Reichel Pereira Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Lauro José Barata de Lima Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Saulo Zanone Lemos Neiva Sociedade Piauiense de Oftalmologia André Uchoa Rezende Santana Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Bruno Campelo 153 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 72, n. 3, p. 151-212, Mai./Jun. 2013 Sumário - Contents Editorial 155 O valor da análise crítica da literatura para a atualização médica continuada The value of the critical analysis of the literature for continuing medical updating Newton Kara-Junior 157 Cefaleia rinogênica: visão otorrinolaringológica Sinonasal Headache: Otolaryngologic view Ricardo Ferreira Bento, Fabio de Rezende Pinna Artigos originais 159 Interfaces da relação entre o médico e a dupla mãe-filho em um hospital público Interfaces of the relationship between physician and mother-child in a public hospital Ondina Lúcia Ceppas Resende, Rosa Maria de Araujo Mitre 164 Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido Progressive addition lenses – Analysis of the power of induced astigmatism Celso Marcelo Cunha, Renato José Bett Correia, Antonio Augusto Sardinha Neto 168 Desempenho escolar: interferência da acuidade visual School performance: visual acuity interference Cibele Maria Ferreira da Silva, Driellen Rodrigues de Almeida, Rafael Ribeiro Bernardes, Félix Carlos Ocáriz Bazzano, Marcos Mesquita Filho, Carlos Henrique de Toledo Magalhães, Dênia Amélia Novato Castelli Von Atzingen 172 Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina Knowledge in refractive surgeryamong medical students State University of Londrina Aluisio Rosa Gameiro Filho, Nathalia Mayumi Thomaz de Aquino, Eliana Barreiros de Arruda Pacheco, Ana Paula Miyagusko Taba Oguido, Antonio Marcelo Barbante Casella 154 178 Facoemulsificação sob anestesia tópica: série de casos Phacoemulsification under topical anesthesia: series of cases 181 Relação entre estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico dos estudantes do quinto ano de medicina Relationship between learning styles and academic performance of fifth graders enrolled in the medical course Vinícius Neumann Tavares, Carina Graziottin Colossi, Vitor Saalfeld, Manuel Augusto Pereira Vilela Mario Pellón, Sandra Nome, Angélica Arán Relato de Casos 185 Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from exsudative age-related macular degeneration treated with intravitreal Ranibizumab therapy Lesão neovascular predominantemente hemorrágica da degeneração macular relacionada à idade, tratada com ranibizumab intravítrea Miguel Hage Amaro, Aaron Brock Holler 188 Alterações eletrofisiológicas na doença de Oguchi Electrophysiological findings in Oguchi disease Regina Halfeld Furtado de Mendonça, Stefania Abbruzzese, Rocco Plateroti, Pasquale Plateroti, Eliana Lucia Ferreira 191 Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade anoftálmica com injeção intralesional de ácido tricloroacético (ATA) a 25% Treatment of conjunctival cysts in anophthalmic socket with intralesional injection of trichloroacetic acid (ATA) 25% 194 Correção de estrabismo em paciente com síndrome de Saethre-Chotzen Strabismus surgery in a patient with Saethre-Chotzen syndrome 197 Adult foveomacular vitelliform dystrophy Distrofia viteliforme foveomacular do adulto 200 Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo Femtosecond laser-assisted Cvintal topoplasty Fabricio Lopes da Fonseca, Renata de Iracema Pulcheri Ramos , Suzana Matayoshi Thiago Gonçalves dos Santos Martins, Veridiana Valence Melo Meuleman, Fábio Richieri Hanania, Mariza Polati Valdir Balarin, Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira, Michel Berezowsky, Andrea Mara Simões Torigoe Alexandre Takayoshi Ishizaki, Frederico Guerra, Issac Ramos, Renato Ambrosio Jr. Artigo de Revisão 204 Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética Surgical management of diabetic retinopathy Nelson Alexandre Sabrosa, Almyr Sávio Sabrosa, Katia Cocaro Gouvea, Paiva Gonçalves Filho Instruções aos autores 210 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 155 O valor da análise crítica da literatura para a atualização médica continuada The value of the critical analysis of the literature for continuing medical updating A atualização médica continuada é importante para o exercício da medicina com boa qualidade e segurança, sendo que, atualmente, a maneira mais barata, acessível e confiável de se adquirir conhecimentos médicos é por meio da revisão da literatura em bancos de dados eletrônicos, disponibilizados pela internet. Neste sentido, faz-se necessário um conhecimento mínimo por parte do leitor para avaliar criticamente artigos científicos, a fim de evitar basear sua prática clínica em informações que possam não representar a verdade(1,2). Embora revistas com elevado “fator de impacto” submetam os estudos recebidos ao crivo de competentes revisores (revisão por pares), ainda assim, não há garantia de que todos os artigos nelas publicados sejam de qualidade adequada, da mesma forma, como é possível existir bons estudos publicados em revistas de baixo “fator de impacto” (3-5). É importante considerar também que as publicações nem sempre expressam corretamente a verdade científica. Existem níveis de valores de estudos. Por exemplo, um trabalho retrospectivo é menos confiável do que um ensaio clínico randomizado, que, por sua vez, apresenta um valor científico menor do que uma metanálise, que é o tipo de publicação no qual os resultados mais se aproximam da verdade científica daquele momento, pois a maneira com que a hipótese foi testada é mais precisa, sofrendo, em teoria, menor influência de outros fatores que poderiam falsear os dados. Assim, devemos mensurar o valor da informação publicada, considerando o desenho de cada estudo (6). É importante considerar também a validade do artigo, que é o grau de conformidade com a verdade. A Validade Externa refere-se à possibilidade de se aplicar os resultados em diferentes realidades (generalização). Por exemplo, um artigo que identifique as barreiras para o acesso à cirurgia de catarata em um hospital público do nordeste, talvez, não seja totalmente válido para a realidade do sudeste ou para uma clínica privada, onde é possível que as dificuldades de acesso sejam outras. A Validade Interna indica o nível em que os resultados da pesquisa refletem a verdade, ou seja, o quanto se pode confiar nos dados e está relacionada à metodologia empregada, que nos permite mensurar a possibilidade de os resultados estarem distorcidos. Assim, a parte mais importante da publicação, que deve ser cuidadosamente analisada, é a descrição da metodologia empregada para obtenção dos dados. É neste item que se deve atentar para questões que poderiam falsear os resultados. Erros metodológicos são chamados de Vieses e sua identificação reflete o quanto se pode confiar nos resultados do estudo. O Viés pode ser entendido como um erro que conduz a uma conclusão inverídica, ou seja, tendenciosa, e pode ser aleatório ou sistemático. Os testes estatísticos captam a ação do acaso na pesquisa (erro aleatório), mas não o erro sistemático (distorção sistemática entre a medida de uma variável e seu valor real). Vieses Aleatórios representam, em geral, características individuais da população estudada, não controladas pelo pesquisador, que podem influenciar os resultados da pesquisa, como por exemplo, o fato de nem todo portador de diabetes, com controle semelhante da glicemia, desenvolver retinopatia na mesma época, pois existem diferenças inerentes nas probabilidades de adoecer entre a população. O impacto destas variações individuais no resultado do estudo costuma ser minimizado pelo tamanho adequado da amostra e, na maioria dos casos, falseia tanto os dados do grupo controle, como os do grupo de intervenção. Vieses Sistemáticos são perigosos, pois podem induzir grandes equívocos. São erros metodológicos relacionados a erros técnicos da pesquisa, induzindo uma incerteza não mensurável que compromete a validade dos resultados. O ideal seria se os pesquisadores eliminassem todos os Vieses. Porém, se não for possível, no mínimo seria importante que fossem minimizados. A seguir, descreveremos alguns tipos de Vieses Sistemáticos. Viés de Amostragem: amostra é um subconjunto de elementos pertencentes a uma população. A informação recolhida para uma amostra é depois generalizada para toda a população. O Viés de Amostragem ocorre quando a amostra estudada não representa a população. Por exemplo, se o objetivo da pesquisa for estimar o grau de comprometimento visual por catarata nos pacientes que procuram tratamento em São Paulo, não basta avaliar somente os indivíduos que procuram um hospital público de referência, é necessário examinar tanto os pacientes do sistema de saúde público, como os do sistema privado (7). Viés de Seleção: ocorre nas situações em que o grupo estudado e o grupo controle não são comparáveis. Por exemplo, ao estudar os resultados de lentes intraoculares (LIOs) multifocais, seria um erro metodológico dar preferência para que pacientes mais jovens compusessem o grupo que receberá a LIO multifocal, pois seria possível, em teoria, que estas pessoas apresentassem outras variáveis que pudessem influenciar nos resultados, como a capacidade de responder melhor ao questionário de satisfação. O Viés de Seleção talvez seja o erro metodológico mais comum, o qual pode ser neutralizado pela randomização dos grupos, com alocação mascarada, ou seja, quando o pesquisador garante que todo sujeito selecionado para participar do estudo tenha exatamente a mesma chance de compor cada um dos grupos. O autor ainda precisa explicar de que maneira a amostra foi formada. Porém, mesmo que o autor “engane” o editor, relatando que o estudo tenha sido randomizado, o leitor poderá se proteger checando as características de cada grupo, pois variáveis como idade, sexo, raça e escolaridade, devem ser semelhantes para ambos os grupos, em estudos aleatorizados. Viés de condução ou aferição: acontece quando o examinador trata de forma assimétrica os sujeitos do estudo, de maneira que haja exposição a outros fatores além da intervenção de interesse. Por exemplo, quando o avaliador sabe que está medindo a acuidade visual do participante que foi operado com a LIO multifocal, talvez ele tenha a tendência de estimular a leitura das letras Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 155-6 156 Kara-Junior N na tabela de Snellen, insistindo mais para que o sujeito leia as letras menores, ao contrário dos indivíduos do grupo controle. Este erro deve ser evitado com a padronização dos procedimentos e medidas do estudo, além de “mascarar” o avaliador, para que ele desconheça a que grupo pertence os pacientes. Perda de Seguimento: em geral, não é tolerada perda ou exclusão de indivíduos, uma vez incluídos no estudo, superior a 10%. No caso da avaliação das LIOs, é mais provável que os indivíduos que não tenham comparecido aos retornos sejam justamente aqueles que ficaram melhor e que julguem não ser mais preciso voltar ao hospital. Neste caso, o estudo revelaria incidência de insatisfação irreal. Viés de Detecção: relacionado à avaliação do desfecho. Por exemplo, o pesquisador, tendo utilizado para avaliação a tabela de Snellen, afirmar que a acuidade visual de pacientes que receberam LIOs asféricas seja semelhante à dos que receberam LIOs esféricas. É consenso, entre os pesquisadores, de que a tabela de Snellen não é apropriada para este tipo de mensuração, fazendose necessário realizar o exame com a tabela de sensibilidade ao contraste (8). Outra situação ocorre quando o sujeito de estudo sabe que recebeu o placebo. Neste caso, é mais provável que ele procure veladamente formas alternativas de tratamento, assim como aqueles que sabem que receberam a droga estudada, sejam sugestionados a achar que melhoraram (efeito placebo). Este erro pode ser eliminado, ao se “mascarar” os pacientes. Um estudo é considerado mascarado quando o avaliador não sabe quem compõe cada grupo de estudo. Duplo-mascarado, se adicionalmente o paciente não sabe a que grupo pertence. Triplo-mascarado, se a pessoa que fez a alocação dos sujeitos em cada grupo também não sabe quem são os candidatos que está alocando. Viés de Confundimento: é quando não se distingue o efeito de duas ou mais variáveis. Por exemplo, ao avaliar o consumo de combustível de dois carros, testar um deles na estrada e outro na cidade. Neste caso, teremos duas variáveis influenciando o resultado, os carros e o percurso. Da mesma forma, caso o cirurgião mais experiente opere somente o grupo da LIO multifocal, estaremos testando o desempenho das LIOs e dos cirurgiões ao mesmo tempo. O ideal é que a variável a ser estudada esteja isolada, ou seja, apenas ela influencie no resultado. No exemplo das LIOs, ou o mesmo cirurgião deve realizar todas as cirurgias ou sorteiase o cirurgião para cada procedimento. Assim, principalmente para fins de atualização continuada, não é confiável considerar somente o título e o resumo dos artigos, sem verificar se a metodologia está adequada, que, em ultima análise, é a indicação de que se pode acreditar nos resultados apresentados. Todo pesquisador está sujeito a cometer erros, que podem interferir no resultado do estudo. Se os erros forem sistemáticos, podem viciar o bom andamento da pesquisa. Para dar maior confiabilidade ao trabalho, o pesquisador deve estar atento para que não ocorra tal viés. Assim como editores, revisores e, principalmente, leitores, precisam estar atentos para a metodologia empregada na obtenção dos resultados. Quando uma pesquisa clínica é idealizada, o objetivo é que uma dúvida seja esclarecida. A resposta para a dúvida do pesquisador, em geral, também é um anseio dos demais profissionais, a fim acrescentar informações que possam melhorar sua prática. Desta forma, é de se esperar que os resultados obtidos reflitam, dentro do possível, a verdade para a realidade do momento (9). Enfatizamos que somente ler a conclusão dos artigos não é confiável, por esta, em geral, representar a interpretação pessoal dos resultados, por parte do pesquisador. E a interpretação pessoal também pode estar enviesada (10). Por exemplo, se estimarmos que a temperatura externa média em São Paulo no próximo inverno será de 21OC, uma pessoa do Recife poderá interpretar este dado como sendo frio, assim como um indivíduo de Curitiba poderá interpretar que estará quente. O ideal é que o leitor reflita sobre os resultados dos estudos, segundo sua razão e conjuntura, pois a verdade pode se apresentar de forma diferente para cada pessoa. Carlos Drummond de Andrade assim definiu a “verdade” no livro O Corpo: “a porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim, não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam... Derrubaram a porta! Chegaram ao lugar luminoso, onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes, uma diferente da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das metades era totalmente bela. E carecia optar... Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia”. Newton Kara-Junior Professor Colaborador, Livre-Docente e de Pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo, SP, Brasil REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Kara-Junior N. A democratização do conhecimento médico e seus desafios. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(1):5-7. Portes AJ. A RBO na era da informação digital. Rev Bras Oftalmol. 2011;70 (1):5-6. Rocha e Silva M. Reflexões críticas sobre os três erres, ou os periódicos brasileiros excluídos. Clinics. 2011;66(1):3-7. Chamon W, Melo JR LA . Fator de impacto e inserção do ABO na literatura científica mundial. Arq Bras Oftalmol. 2011;74(4):241-2. Moraes Jr. HV, Rocha EM, Chamon W. Funcionamento e desempenho do sistema de revisão por pares. Arq Bras Oftalmol. 2010;73(6):487-8. Lira RP, Arieta CE. Boas práticas de redação e o CONSORT. Arq Bras Oftalmol. 2012;75(2):85. Temporini ER, Kara N Jr, Jose NK, Holzchuh N. Popular beliefs regarding the treatment of senile cataract. Rev Saúde Pública. 2002;36(3):343-9. 8. Santhiago MR, Netto MV, Barreto J Jr, Gomes BA, Mukai A, Guermandi AP, Kara-Junior N. Wavefront analysis, contrast sensitivity, and depth of focus after cataract surgery with aspherical intraocular lens implantation. Am J Ophthalmol. 2010;149(3):383-9.e1-2. 9. Kara-Junior N. Como escolher o tema de um estudo científico. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(2):5-7. 10. Chamon W. Paixão, publicação, promoção e pagamento: quais “Ps” motivam os cientistas?. Arq Bras Oftalmol. 2012;75(6):381-2. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 155-6 EDITORIAL 157 Cefaleia rinogênica: visão otorrinolaringológica Sinonasal Headache: Otolaryngologic view Q ueixas compatíveis com cefaleia de alguma natureza etiológica são muito comuns em consultórios de neu rologistas, clínicos, otorrinolaringologistas, oftalmologistas odontologistas e até psiquiatras. A Sociedade Internacional de Cefaleia (IHS – InternationalHeadacheSociety) (1) divide essa doença em dois grandes grupos: primárias e secundárias. Dentre as secundárias estão as cefaleias ou dores faciais atribuídas a distúrbios do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outras estruturas craniofaciais. O termo cefaleia rinogência pode estar relacionado a qualquer doença nasossinusal, como as rinossinusites agudas ou agudizações de rinossinusites crônicas. Entretanto, esse termo refere-se também a cefaleias originadas de pontos em que ocorre contato mucoso entre estruturas do nariz(1,2). Nesse contexto, pacientes apresentam cefaleia, congestão nasal e pontos de gatilho sem rinorréia ou outras características da rinossinusite, sendo que a maioria deles se enquadra na classificação de enxaqueca sem aura. As chamadas cefaleias de pontos de contato são aquelas causadas por persistente contato mucoso resultante de alterações anatômicas como desvio septal, pólipos nasais, anormalidades de conchas e estreitamentos anatômicos do infundíbulo etmoidal ou recesso do seio frontal (2). Ainda que controversa, a fisiopatologia dessa entidade baseia-se no modelo de inervação da mucosa nasal. As divisões oftálmica e maxilar do nervo trigêmeo possuem uma vasta rede de fibras adrenérgicas e colinérgicas, cuja maioria passa pelo gânglio pterigopalatino e controla ações dos vasos e glândulas da mucosa. Estudos recentes demonstraram que, além dos clássicos neurotransmissores noradrelina e acetilcolina, há pelo menos um terceiro grupo de mediadores: os neuropeptídeos. Dentre os neuropeptídeos, o mais importante para a fisiologia e patologia nasal parece ser a substância P, um polipeptídeo constituído por 11 aminoácidos, um dos mediadores de fibras nervosas sensitivas e vagais, que são fibras do tipo C, não mielinizadas (1,2). Tais mediadores induzem na mucosa nasal vasodilatação, hipersecreção, aumento da permeabilidade mucosa e da atividade mucociliar, resultando em hiperemia e edema dessa mesma.A partir desse modelo, a congestão nasal e a obstrução de um óstio sinusal rico em terminações nervosas podem servir como gatilho para desenvolvimento de diversas formas de cefaleia neurovascular.Além desse modelo descrito acima, a contato entre as estruturas, promove um processo inflamatório local devido à disfunção mucociliar, o que pode levar à liberação de mediadores que se relacionam com o processo doloroso. Para confirmação dessa suspeita diagnóstica, além de uma anamnese bem detalhada, é fundamental o exame físico otorrinolaringológico, nasofibrolaringoscopia e tomografia computadorizada de seios paranasais. A nasofibrolaringoscopia permite visibilização de pontos de contato da mucosa nasal, características do meato médio como estado da mucosa, presença ou de secreção, tipo de secreção e direção de drenagem dessa secreção. Ou seja, esse exame é importante para definir se há sinais de inflamação dos seios paranasais. A tomografia é um exame complementar imprescindível em casos de queixas álgicas na face. Ela permite uma avaliação tridimensional dessas áreas de contato, assim como o grau de opacificação dos seios paranasais em doenças nasossinusais. Ainda que não seja a nossa rotina, apalpação dos seios paranasais para avaliação de dor pode ser feita, mas não substitui a riqueza de detalhes provenientes da nasofibrolaringoscopia e tomografia computadorizada (2-4). Deste modo, o tratamento das cefaleias rinogênicas está focado em diminuir áreas de contato seja por tratamento clínico focado na diminuição do edema inflamatório da mucosa nasal, seja por cirurgias que diminuam a possibilidade de áreas de contato. É justamente no tópico de indicação cirúrgica onde encontramos polêmicas sobre a real eficácia desse tipo de procedimento. Do ponto de vista prático, por não haver ainda embasamento científico e fisiopatológico robusto sobre o papel das cirurgias nasais para o tratamento desse tipo de cefaleia, a indicação de cirurgia é somente válida mediante a presença de outros sintomas nasais como obstrução nasal importante, rinorréia persistente(2,5-7). Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 157-8 158 Bento RF, Pinna FR A indicação de cirurgia nasal com o intuito único e exclusivo de melhorar a dor mediante a presença de áreas de contato ainda é incerta e, frente ao paciente, merece ser encarada como uma tentativa, após falência de diversas outras alternativas clínicas. Ricardo Ferreira Bento Professor titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP Fabio de Rezende Pinna Doutor em Ciências pela FMUSP- Médico Assistente da Divisão de Otorrinolaringologia do HCFMUSP REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. International Headache Society (HIS). The International Classification of Headache Disorders (ICHD II), first revision, 2005 [Internet]. [cited 2013 July 7]. Available from: http://www.i-h-s.org/ Stammberger H, Wolf G. Headaches and sinus disease: the endoscopic approach. Ann OtolRhinolLaryngolSuppl. 1988; 134:3-23. Santos Júnior RC,Santos AC, Jesus EP.AbudLN. 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Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 157-8 ARTIGO ORIGINAL 159 Interfaces da relação entre o médico e a dupla mãe-filho em um hospital público Interfaces of the relationship between physician and mother-child in a public hospital Ondina Lúcia Ceppas Resende1, Rosa Maria de Araujo Mitre 2 RESUMO Objetivo: Investigar a percepção dos médicos sobre a experiência de atenderem ambulatorialmente crianças com doença ocular grave e como compreendem sua interferência na relação mãe-filho. Métodos: Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os oftalmologistas (setores de retina, glaucoma, segmento anterior e oftalmopediatria) e observação das consultas ambulatoriais durante três meses. Resultados: Idealização da figura do médico e da mãe; dificuldades na hora de transmitir o diagnóstico; e reconhecimento de que o profissional interfere na relação da dupla durante seus encontros. Conclusão: O desafio do médico está em dar as informações sobre diagnóstico e tratamento; ter disponibilidade para escutar, esclarecer e orientar e nos casos graves mostrar que a criança tem outras potencialidades além da visão. Descritores: Relações médico-paciente; Relação mãe-filho; Comunicação; Doenças oculares/diagnóstico; Deficiência ABSTRACT Purpose: To investigate the perception of physicians about the experience of ambulatory with children who have a serious eye disease and how they understand their interference in the mother-child relationship.Methods: Semi-structured interviews were performed with ophthalmologists (sectors of retina, glaucoma, anterior segment and pediatric ophthalmology), and observation of outpatient appointments of a public hospital during three months. Results: Idealization of the physician’s and mother’s role; physician’s difficulties on giving the diagnosis; and the acknowledgment that the professionals have an influence on mother-child relationship during the assistance.Conclusion: The challenge for physicians are giving information on diagnosis and treatment; being accessible to listening, clarifying and guiding showing that the child has others capabilities beyond vision. Keywords: Physician-patient relationships; Mother-child relationship; Communication; Eye diseases/diagnosis; Deficiency 1 2 Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. O presente trabalho é parte da dissertação de mestrado de Ondina Lucia Ceppas Resende. A pesquisa foi realizada no ambulatório de oftalmologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 18/10/2012 - Aceito para publicação em: 27/3/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 159-63 160 Rezende OLC, Mitre RMA INTRODUÇÃO A discussão da relação médico-paciente até hoje se mostra como um ponto central na prática médica. Não podemos esquecer que o encontro entre médico e paciente é, antes de tudo, um encontro entre sujeitos e, como tal, desde o primeiro momento vem carregado de significados e expectativas que cada um tem em relação ao outro(1). Além disso, a convivência com o sofrimento do outro traz um sofrimento também para quem cuida, sendo o momento do diagnóstico e da comunicação de más notícias (nos casos graves) extremamente delicado, cabendo ao médico este papel. No entanto, há um despreparo dos profissionais em saber como, quando e onde transmitir essas notícias(2). Nesse panorama vem sendo discutido um novo modelo de relação baseada no diálogo, numa conjugação do conhecimento científico com o campo das vivências e o saber do censo comum. Este modelo busca também enfatizar a necessidade de médico e paciente se verem como parceiros, para que haja colaboração e participação do paciente e da família no tratamento(3). A partir dessa perspectiva, o médico precisa levar em conta a experiência da doença, as percepções e representações do paciente para poder, desta forma, desenvolver a sensibilidade e capacidade de escuta para além da dimensão biológica. Dentro de uma prática humanizada na assistência à saúde da criança, é fundamental que o profissional compreenda o sofrimento a partir da valorização das experiências, expectativas, valores e necessidades da criança e da sua família, bem como das limitações que existem na relação entre médico e paciente/família(4). Importante considerar que a doença ocular grave pode deixar sequelas, indo desde uma baixa acuidade visual até a cegueira total. Quando ocorre na infância, acarreta diversas interferências na vida da criança, da família e da relação maternoinfantil que se encontra atravessada pelo adoecimento(5-7). Contudo, pela própria formação acadêmica - ainda restrita ao modelo biomédico - muitas vezes o médico não se sente preparado para lidar com angústias e sentimentos mobilizados (principalmente nos casos mais graves) de frustração, impotência, limitação e a conscientização da própria finitude(8-10). Sendo a transmissão do diagnóstico um momento especial na prática médica, estudos mostram que a forma como ele se dá repercute diretamente sobre o tratamento(11). A comunicação interfere tanto na relação do médico com o paciente e sua família, como na relação que estes terão com o processo de diagnóstico e tratamento. Quer dizer, o diálogo e a parceria são imprescindíveis neste processo(11) . Na verdade, encontramos um grande desafio na assistência à criança com doença ocular grave. De um lado, uma situação que envolve dor e sofrimento para a criança e sua família, e de outro, a pressão sobre o profissional para dar conta de demandas, muitas vezes além das possibilidades, visto que há uma escassez de serviços especializados dentro da rede pública e uma grande demanda de pacientes. Este trabalho procurou investigar a percepção dos médicos sobre a experiência de atenderem ambulatorialmente crianças com doença ocular grave e como percebem sua interferência na relação mãe-filho com doença ocular grave. MÉTODOS O estudo foi realizado em um hospital federal do município do Rio de Janeiro. Trata-se um hospital geral de grande porRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 159-63 te e referência em oftalmologia pediátrica, que recebe um grande contingente de crianças com traumatismos oculares e doenças oculares graves. Optamos pelo método qualitativo por se tratar de uma relação entre sujeitos, nos possibilitando analisar em profundidade as relações e vivências e captar a subjetividade da realidade(12). Os sujeitos da pesquisa foram os médicos (staffs e residentes) do serviço de oftalmologia de um hospital geral da rede pública. Os critérios de inclusão foram: atender às crianças com até cinco anos de idade, dos setores de retina, glaucoma, segmento anterior e oftalmopediatria; não estar de férias no momento da ida ao campo; se mostrar disponível e aceitar a observação das consultas (com observadora dentro da sala). Nos interessava avaliar a relação entre o médico e a dupla mãe-filho com doença ocular grave, a experiência de atender esse tipo de criança em um hospital público, as dificuldades encontradas pelo médico e o momento mais difícil durante a assistência. A escolha dos setores se deu pelo fato de as crianças ali serem acompanhadas por um período mais prolongado, o que poderia interferir na relação do médico com a dupla. A partir da observação inicial do campo foram feitos os ajustes necessários para a coleta de dados, que se deu por um período de três meses. Foram utilizadas basicamente duas técnicas: a observação das consultas ambulatoriais e entrevistas semiestruturadas com os médicos, numa combinação entre perguntas abertas e fechadas. A coleta de informações foi encerrada a partir do critério de saturação, quando em um determinado momento não surgiu mais nenhuma informação significativamente nova(13). Tanto os médicos quanto as mães das crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital onde foi realizado o estudo. Para analisar o material colhido, utilizamos a análise de conteúdo adaptada e sistematizada, privilegiando a técnica da Análise Temática, que classifica o material coletado segundo temas. A análise das entrevistas se baseou na articulação de aspectos temáticos com o referencial teórico utilizado(14) . RESULTADOS Foram entrevistados treze (13) médicos, sendo nove (9) homens e quatro (4) mulheres. Destes, quatro eram staffs e nove residentes sendo, um R1, três R2 e cinco R3 (denominação para residentes de primeiro, segundo e terceiro ano respectivamente). A faixa etária dos entrevistados ficou entre 27 e 55 anos. Em relação ao tempo em que trabalhavam no hospital, o mais antigo tinha 30 anos de serviço e o mais novo, quatro meses. A partir da observação das consultas no ambulatório de oftalmologia notamos que, apesar da sobrecarga de trabalho, os médicos se mostravam bastante cuidadosos e atenciosos com os pacientes: cumprimentavam a dupla mãe-filho quando entravam na sala; conversavam olhando nos olhos, davam as orientações e respondiam às perguntas em linguagem accessível; marcavam retorno, lembrando que a garantia de continuidade na assistência é extremamente importante no suporte à mãe e a criança com doença ocular grave, a qual necessita de acompanhamento médico ao longo de toda sua vida. A vinculação dos entrevistados ao serviço devia-se a uma escolha de ordem afetiva (foram residentes ou tiveram familiar que trabalhou no local) ou à qualidade do serviço (tanto para Reflexões sobre a ceratite fúngica por meio dos achados de exames histopatológicos residência como para local de trabalho). O fato de o hospital oferecer residência exige uma constante atualização e reciclagem da equipe, favorecendo o crescimento destes profissionais. Além disso, sendo um hospital público, permite atender uma grande variedade de casos e cirurgias de pequeno e grande porte, propiciando uma experiência ímpar para o aprendizado e aprimoramento. Entretanto, a despeito da qualidade da formação clínica, a grande maioria dos entrevistados destacou o despreparo do médico para lidar com situações emocionalmente difíceis, como no caso das doenças oculares graves, de difícil tratamento e cura, que mobilizam sentimentos de impotência e fracasso. Também apontaram a necessidade do médico obter maior conhecimento que favoreça o estabelecimento de uma relação empática médico e dupla mãe-filho, ajudando a mãe a lidar melhor com a doença do filho e acolhê-lo. Na percepção dos entrevistados, a responsabilidade pela adesão ao tratamento está na maneira como o médico estabelece a comunicação com o paciente e seus familiares. - Depende da abordagem do médico para a pessoa saber lidar melhor com a doença (sujeito 8). - O médico tem sempre que ser o mais claro possível e tem que se fazer entender. Faz parte da função do médico se fazer entender (sujeito 5). As dificuldades do atendimento à criança A análise dos resultados apontou uma grande categoria sobre a especificidade de atender às crianças, que requer um manejo especial, assim como um desejo do médico em exercer esse tipo de assistência. É importante destacar que não estamos falando de profissionais que a princípio escolheram trabalhar com criança (pediatra), mas especialistas em oftalmologia, formados em sua maioria para atenderem adultos. No caso dos sujeitos da pesquisa, os residentes de primeiro e segundo ano precisavam passar por todos os setores, atendendo à criança e adulto, diferentemente dos residentes de terceiro ano que escolhiam o setor onde desejavam se especializar. Entretanto, independente de gostar ou não, todos reconheceram a importância de um atendimento especializado e a necessidade de melhoria na assistência a essa clientela. Atender à criança na prática do especialista, muitas vezes é considerado como um desafio, na medida em que depende da cooperação dela (que nem sempre ocorre), exige mais tempo e disponibilidade da equipe, além de requerer uma boa interação do médico com a família. - [...] a criança não atende, chora, não coopera no exame, é mais difícil (sujeito 3). - A criança é mais difícil. Você tem que ter mais paciência e maior dedicação (sujeito 4). Em relação à interação com a família um fator que pode interferir no encontro médico-dupla, na população pesquisada, é o rodízio dos residentes pelos diversos setores a cada três meses. Apesar de necessário para oferecer uma maior experiência, não favorece ao acompanhamento dos casos ao longo do tempo nem a um maior vínculo. Devido à rotatividade, e dependendo da periodicidade das consultas, muitas vezes o paciente é atendido cada vez por um profissional diferente. Desta maneira, o paciente é referendado ao setor e não ao médico, e o vínculo acaba sendo mais com a instituição do que com o profissional. Existem também diversos fatores que ocorrem durante a consulta ambulatorial e podem comprometer a qualidade da escuta e a fluidez do diálogo. Durante as observações, encontramos vários médicos atendendo em uma mesma sala, sem privacidade, sofrendo frequentes interrupções. Muitas vezes precisavam formar fila para examinar o paciente (vários residentes divi- 161 diam o mesmo aparelho), e não raro, para agilizar o atendimento, acabavam atendendo mais de um paciente ao mesmo tempo. Particularmente em relação aos residentes foi observada uma sobrecarga de trabalho e, em alguns, certa desmotivação por ter que atender em setores que não eram de sua escolha. Apesar das dificuldades observadas, os entrevistados apontaram como sendo fundamental, ter uma boa relação com a família devido à estreita relação de dependência entre criançafamília. Os profissionais percebem o quanto os familiares são afetados pela doença da criança, principalmente a figura materna sobre a qual, geralmente, recai a responsabilidade pelos cuidados e por conseguir o atendimento adequado. - Eu me sinto fazendo um benefício não só para o atendimento da criança com doença ocular grave, para a relação dos dois, mas para fazer entender melhor a relação da doença, da mãe e do filho (sujeito 3). No entanto, se por um lado atender à criança traz dificuldades (na ótica de alguns), diagnosticá-la e tratá-la a tempo, evitando a cegueira infantil, traz uma imensa gratificação para aqueles que cuidam, assim como, logicamente, para a criança e família. - [...] atender à criança traz um resultado e um benefício porque ela tem uma vida pela frente (sujeito 3). Observamos que a doença ocular grave na infância é impactante tanto para a família (pela desidealização do filho sonhado), para a vida da criança (pelas limitações e repercussões), quanto para o médico (pelos sentimentos de frustração e fracasso pela impossibilidade de cura). - O momento mais difícil é quando a gente não pode fazer mais nada que devolva a visão da criança, ou quando temos como única hipótese tirar o olho, e às vezes um olho que ainda tem visão (sujeito 9). O sofrimento do médico na assistência à criança com doença ocular grave apareceu principalmente pela percepção de que será uma infância marcada por uma série de impedimentos e restrições que geralmente acompanham estes quadros. - O mais difícil é quando você não consegue reverter o quadro [...]. Você tenta atuar de uma maneira e não consegue reverter a doença [...]. Um prematuro que está perdendo a visão, você vai lá e faz o laser, mas ele ainda assim continua e perde a visão [...], e aí, o médico tem que informar que, apesar do seu esforço, não conseguiu salvar a criança. É o momento mais difícil porque há sempre a possibilidade da família não acreditar e achar que você foi culpado. Para o médico, no caso das doenças muito graves, você tentar salvar um dos olhos e não conseguir, e ter que tirar... No prematuro, você tentar salvar, não conseguir e perder... Isso tudo leva o médico a uma situação difícil, pois ele tem que passar isso para a família que tem esperanças e não consegue se conformar com a cegueira, e acha que você poderia ter feito alguma coisa que não fez (sujeito 12). Ligado a isto, surgiram alguns sentimentos experimentados pelos profissionais – como frustração, decepção, impotência e desidealização da figura do médico – diante dos casos graves, difíceis de tratar e que podem deixar sequelas. Um exemplo disto pode ser observado quando um terço dos entrevistados relatou o mesmo caso, destacando-o como o mais marcante em sua prática, ao serem perguntados à respeito das situações mobilizantes que haviam vivenciado. Quando questionados sobre o momento mais difícil na assistência à criança com doença ocular grave, destacaram a hora de transmitir o diagnóstico aos pais. Também foram unânimes em reconhecer suas dificuldades diante dos casos mais graves e com prognóstico ruim, quando se deparam com a sua impotência e suas limitações. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 159-63 162 Rezende OLC, Mitre RMA - O momento mais difícil é quando você tem que dar a primeira notícia para a mãe e para o pai, que o filho tem um tumor, que vai ter que tirar o globo ocular, que o filho não enxerga [...]. Os pais chegam com a esperança de que você vai dar uma boa notícia, dizer que tem tratamento e tem cura, e você quebra uma ilusão. Esse é o momento mais difícil de lidar (sujeito 2). - O momento mais difícil é a hora de dar o diagnóstico de que a doença ocular é grave, e que não é uma doença que a gente possa tratar e curar (sujeito 4). Ao se deparar com os casos mais graves, o médico experimenta sentimentos de ansiedade com os quais por vezes não sabe lidar e por isso, muitos apresentam uma atitude de aparente frieza, assumindo uma postura apenas técnica, evitando conversas longas, não dando muito espaço para perguntas que talvez não possa ou não saiba responder. DISCUSSÃO A visão sobre a responsabilidade do médico na adesão ao tratamento nos remete para a questão da relação dialógica e de troca existente nas relações humanas(3,15,16), mas também à associação existente entre o exercício da medicina e a gratificação em ajudar o outro e sentir-se indispensável. A natureza da interação médico-paciente depende da forma como o encontro acontece a partir de alguns fatores, tais como: setting, aspectos psicossociais do paciente e do médico (medos, expectativas, ansiedades, etc.), experiências anteriores, personalidade de cada um, fatores psicológicos (estresse, frustração, etc) e treinamento técnico do profissional. De modo geral em sua formação, o médico não é estimulado a pensar o paciente como um ser biopsicossocial e a perceber o significado do adoecer para o paciente(17). Faz-se necessário haver uma sensibilidade por parte do profissional para conhecer a realidade do paciente, ouvir suas queixas e encontrar, junto com ele, estratégias que o auxiliem na adaptação ao estilo de vida exigido pela doença(8). É importante estabelecer uma relação de parceria para favorecer a adesão ao tratamento. Para isso, os membros da dupla médico-paciente precisam se comunicar, se reconhecer como parceiros e se compreender. E o médico precisa demonstrar que valoriza a colaboração e participação do paciente(3). Dois indivíduos somente estão dialogicamente ligados e voltados um para o outro, se eles se reconhecerem como sendo mutuamente influenciados e se compreenderem(16). Na perspectiva da humanização da saúde, o processo comunicacional surge como um dos desafios, pois implica na possibilidade de produzir entendimento através do diálogo. Entretanto, isto não significa um consenso de opiniões e ideias, mas sim a possibilidade de profissionais e usuários (pacientes e familiares) estarem dispostos a esta construção(18). É preciso articular procedimentos técnicos com compromisso emocional para compreender o valor do sujeito, suas experiências, expectativas e limitações(4). Entretanto, a sobrecarga de trabalho, aliada ao fato de não ter sido uma escolha trabalhar com determinada clientela (como no caso de crianças), são outros fatores que também podem afetar o estabelecimento de uma relação empática do médico com a díade mãefilho. Cabe lembrar que a empatia é fundamental para uma boa relação entre profissional de saúde e paciente dentro do ambiente hospitalar(4). Ao mesmo tempo, a proximidade com o sofrimento do outro produz um impacto sobre a figura do médico, principalmente dentro do ambiente hospitalar e diante de certas situaRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 159-63 ções, como a doença grave em um paciente de pouca idade(4). Além de possíveis dificuldades pessoais, em geral há um despreparo do médico na sua formação acadêmica para lidar com o sofrimento(19). No caso da atenção à criança esta situação pode ser potencializada, uma vez que culturalmente aprendemos que a infância é um período de desenvolvimento e realizações. Na verdade, independente da idade do paciente, o médico ao se deparar com as suas limitações diante dos casos graves, pode experimentar sentimentos de frustração, decepção e quebra da onipotência, levando-o a uma desidealização da sua própria figura(20,21) e podendo afetar seu narcisismo(22). Por outro lado, o remete a valores e afetos pessoais, e à sua dimensão humana (23). Não podemos esquecer que, antes de tudo, o médico é uma pessoa atendendo a outra pessoa (24). Apesar de lhe ser atribuído as funções de autenticar a doença e viabilizar a cura, os casos graves que podem levar à morte, trazem o confronto com sua limitação e insignificância diante de situações irreversíveis, assim como da sua própria finitude(4,9,23,). Os casos mais marcantes, que mobilizam a equipe durante a assistência, nos faz refletir sobre a vulnerabilidade do médico, o quanto o afeto está presente nas relações, além da identificação empática permeando a prática médica(12). Ocorre que o médico é formado para curar e salvar vidas e uma das expectativas quando busca a carreira da medicina é curar todos os males onipotentemente(21,23). Apesar das dificuldades mobilizadas diante dos casos mais graves, é fundamental o manejo adequado da informação, pois a forma como ela é dada interfere diretamente na relação do paciente com o diagnóstico e o tratamento(2,3). No entanto, o que se percebe de forma geral é um despreparo do médico em relação à comunicação de más notícias(2,19,20). CONCLUSÃO A grande maioria dos médicos considerou que através da escuta, fala e postura, o profissional interfere na relação da dupla mãe-filho com doença ocular grave. Entretanto, observamos que existe por parte dos profissionais uma idealização tanto da figura do médico quanto da mãe. Nesta percepção, o médico surge como o único responsável pela compreensão da mãe acerca da doença do filho. E a mãe, como sendo capaz de superar todas as dificuldades e, se corretamente orientada, funcionando como um espelho para o comportamento da criança. O tempo de consulta surge como um fator que pode interferir não-somente na relação do médico com a dupla, mas na própria escuta e qualidade do atendimento. Ainda existe na rede pública uma defasagem entre número de pacientes e número de profissionais, além da pressão de produtividade diária a ser cumprida por cada um desses profissionais, que pode afetar esse encontro. No entanto, as diferenças de ponto de vista e postura entre os médicos, não parece estar associada apenas ao fator tempo. Está relacionada a outros fatores, como a sensibilidade e a capacidade de escuta, remetendo à questão da formação médica, ao sofrimento pessoal que a doença grave gera no profissional, à ferida narcísica diante das impossibilidades vividas como fracasso e às características pessoais de cada um. Não basta o médico fornecer as informações para a mãe sobre diagnóstico e tratamento, mas é preciso ter disponibilidade para escutar suas dúvidas e medos, esclarecer e orientar, de Reflexões sobre a ceratite fúngica por meio dos achados de exames histopatológicos forma que ela possa compreender a gravidade da doença do filho e se conscientizar da necessidade de acompanhamento médico, geralmente por toda a vida da criança (no caso das doenças graves). É importante que os profissionais possam estar conscientes de quanto suas ações e palavras promovem um impacto. No caso do adoecimento de crianças, particular atenção deve ser dada às relações estabelecidas com as famílias, geralmente representadas pelas mães. A partir do momento que recebem o diagnóstico sobre a gravidade (ou cronicidade) da doença do filho, as mães saem carregando nos ombros novas tarefas, que irão desencadear mudanças de hábitos pessoais e familiares. REFERÊNCIAS 1. Ayres JRCM. 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Autor correspondente: Ondina Lúcia Ceppas Resende Rua Miguel Lemos, nº 78/ 801 – Copacabana CEP 22071-000 – Rio de Janeiro – (RJ), Brasil Tel: (21) 25490854/(21)99534577 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 159-63 ARTIGO ORIGINAL 164 Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido Progressive addition lenses: analysis of the power of induced astigmatism Celso Marcelo Cunha¹, Renato José Bett Correia², Antonio Augusto Sardinha Neto³ RESUMO Objetivo: Avaliar a potência do astigmatismo induzido nas lentes progressivas em um deflexômetro. Métodos: Foram incluídas onze lentes progressivas com poder longe de +1,00D e adição 2,00D para perto. Avaliou-se o astigmatismo induzido em doze pontos do campo intermediário, sendo seis de cada lado do corredor progressivo no deflexômetro. Resultados: Existem diferenças significativas entre as somas dos astigmatismos induzidos de cada lado do corredor progressivo e no total geral nestas lentes estudadas, com coeficiente de variação com forte dispersão (CV 10 a 13%). Conclusão: Existe uma variação importante das potências dos astigmatismos induzidos nas lentes progressivas. Descritores: Refração; Lentes oftálmicas; Lentes progressivas; Óptica; Presbiopia; Equipamentos e provisões; Brasil. ABSTRACT Objective: Evaluate induced astigmatism in progressive addition lenses into deflectometer measurements. Methods: Eleven progressive addition lenses were included with power away from +1.00D and addition 2.00D. Induced astigmatism was assessed twelve points in the zone intermediate, with six on each side of the progressive corridor in deflectometer.Results: There are significant differences between the sums of induced astigmatism on each side of the corridor and in the general in progressive addition lenses studied, with coefficient of variation with strong dispersion (CV 10-13%). Conclusion: There is an important variation of the power of induced astigmatism in progressive addition lenses. Keywords: Refraction; ophthalmic lens, Progressive addition lenses; Optics: Presbyopia; Equipment and supplies; Brazil Oftalmocenter Santa Rosa. Cuiabá (MT), Brasil; Hospital Geral Universitário – UNIC- Cuiabá (MT), Brasil; 3 Acadêmico de Medicina 3o ano, Universidade Gama Filho – UGF. Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 1 2 Trabalho vencedor do 40º Prêmio Varilux 2011 - Catregoria Incentivo à Pesquisa: Refração Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 4/4/2012 - Aceito para publicação em: 4/8/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7 Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido A 165 INTRODUÇÃO presbiopia está presente na maioria dos pacientes na quinta década de vida, sendo uma redução natural da capacidade acomodativa(1). A utilização das lentes progressivas (LP) no tratamento da presbiopia nos indivíduos amétropes tem ocorrido com muita freqüência(2).. Tem sido notória a evolução das LP nos últimos 30 anos, porém ainda mantêm áreas em volta do corredor de progressão com aberrações em todas elas, chamadas de Astigmatismo Induzido (AI), em variáveis quantidades e distribuições, sendo que são diretamente proporcionais ao aumento da adição e inversamente proporcionais ao comprimento do corredor para um mesmo modelo dessas lentes(3,4). Existem vários fabricantes de LP, e cerca de 140 modelos disponíveis no Brasil, no entanto poucas informações técnicas sobre os AI são fornecidas aos oftalmologistas e ópticos. Existem poucos estudos sobre estas informações na literatura mundial, sendo a maioria estudos subjetivos baseados na satisfação dos pacientes(5). Foi proposta neste estudo a avaliação de LP com adição 2,00D por meio de um deflexômetro (Rotlex Class Plus). Observaram-se as potências (Poderes Dióptrico Cilíndrico – DC) dos astigmatismos induzidos em pontos específicos delas. O objetivo deste estudo foi apresentar as diferenças existentes entre as potências dos astigmatismo induzido em algumas lentes progressivas disponíveis no Brasil. MÉTODOS Foram selecionados onze tipos de LP, de diferentes fabricantes, com poder dióptrico de +1.00 esférico para longe e adição 2,00D para perto (Anexo 1). Todas as lentes eram do olho direito, em resina e recebidas surfaçadas. Foram selecionadas pela freqüência que são encontradas em nossa região (Mato Grosso) e pela variedade de altura mínima de montagem. As LP foram analisadas pelos autores no Rotlex Class Plus da empresa Rotlex (1994) de Israel. Este instrumento detecta em segundos todas as medições dióptricas de uma lente em uma única medida. Ele é um deflexômetro do tipo “Móire”, que utiliza uma fonte divergente de “laser”, onde seus raios incidem sobre a lente testada. Os raios refratados pela lente sob medida passam por duas grades e formam um padrão (Móire) em uma tela difusora, que é captada para formar mapas com poderes esférico, cilindro e eixo em cada milímetro da lente (Figura 1). As lentes foram centradas pelos pontos permanentes de remarcação destas. Os arquivos das onze LP foram avaliados no software de análise do Rotlex e registrados em doze pontos laterais ao corredor progressivo, sendo seis de cada lado. Lateralmente os pontos se Figura 1: Mapa de análise do deflexômetro. A esquerda mapa isoesférico, e a direita mapa isoastigmático Tabela 1 Agrupamentos dos locais das medidas dos AI Agrupamentos Locais e somas dos AI Soma nasal 1 Soma nasal 2 Soma temporal 1 Soma temporal 2 Total nasal Total temporal Total Altura 3 mm Total altura 11 mm Total geral N1 + N3 + N5 N2 + N4 + N6 T1 + T3 + T5 T2 + T4 + T6 Soma nasal 1 + Soma nasal 2 Soma temporal 1 + Soma temporal 2 N1 + N2 + T2 + T1 N5 + N6 + T6 + T5 Total nasal + Total temporal posicionaram a 5 e 10 milímetros de uma linha média entre a cruz de montagem e o ponto central do campo perto, na altura mínima de montagem orientada pelos fabricantes de cada uma destas lentes. Verticalmente a 3, 7 e 11 milímetros abaixo da mesma cruz. O raio de cada local avaliado tinha 0,5mm na forma DST. Um desenho esquemático destes pontos é mostrado na figura 2. Os valores encontrados nos doze locais foram agrupados como se segue na tabela 1. Para determinar a altura do corredor de progressão foi medido o poder esférico da cruz de montagem até a área de perto. O inicio do corredor foi considerado quando o poder atingia acréscimo de 0,25DE, e o final ao atingir 1,75DE. Para análise dos resultados adotou-se nível de significância de 5% (α =0,05), correspondente a probabilidade de erro (p) <0,05, valor considerado estatisticamente significativo. Empregou-se o teste estatístico não paramétrico Wilcoxon Signed Ranks Test para comparar as somas. Houve diferenças estatísticas significativas entre as somas 1 e 2 de ambos os lados, e entre as somas da linha 3 e 11 mm de altura. Não houve diferença estatística entre as somas do total nasal e temporal. Empregaram-se os programas Microsoft Excel 2000. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Hospital Geral Universitário Registro: UNIC – 2011/048. RESULTADOS Os resultados das onze LP estudadas se encontram na tabela 2 e a estatística descritiva se encontra na tabela 3. No gráfico 1 observa-se a distribuição das LP quanto ao AI do Total nasal, Total temporal e Total geral. No gráfico 2 demonstra-se uma fraca tendência de linearidade negativa entre a altura do corredor e o AI Total geral. No gráfico 3 demonstra-se uma forte tendência de linearidade positiva entre AI Total geral e a soma do AI da linha de 3 mm abaixo da cruz de montagem. Figura 2: Localizações dos doze locais das medidas das potências dos AI (nos quadrados) Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7 166 Cunha CM, Correia RJB, Sardinha Neto AA Tabela 2 Somas dos AI e alturas dos corredores progressivos coletados no deflexômetro Lentes progressivas Soma Nasal 1 Soma Nasal 2 Soma Temp 2 Soma Temp 1 Soma Total nasal Soma Total temp Soma Total Geral Soma na Altura de 3 mm A B C D E F G H I J L 4,77 3,97 5,80 4,44 5,38 4,71 4,83 4,60 3,71 4,68 4,34 2,60 2,66 3,58 2,91 3,13 3,48 3,16 2,70 2,59 3,04 2,77 3,49 2,94 3,30 2,42 3,83 3,65 3,48 3,49 3,01 3,73 3,27 5,18 4,20 5,16 4,08 5,40 5,03 4,98 5,00 3,87 5,06 4,61 7,37 6,63 9,38 7,35 8,51 8,19 7,99 7,30 6,30 7,72 7,11 8,67 7,14 8,46 6,50 9,23 8,68 8,46 8,49 6,88 8,79 7,88 16,04 13,77 17,84 13,85 17,74 16,87 16,45 15,79 13,18 16,51 14,99 4,32 3,33 4,98 3,83 4,60 4,65 4,78 4,07 3,47 4,80 3,92 Soma na Altura em mm Altura do corredor de 11 mm progressivo 5,86 5,52 6,60 5,20 6,67 6,06 5,40 5,95 4,84 5,63 5,71 14 13 10 14 13 12 12 12 12 10 13 Obs. Soma dos AI em DC ( Dioptrias Cilíndricas) Tabela 3 Estatísticas descritivas dos dados coletados Lentes progressivas Media Mediana Desvio Padrão Coeficiente de variacao Soma Soma Nasal 1 Nasal 2 4,66 4,68 0,58 13% 2,97 2,91 0,35 12% Soma Temp 2 3,33 3,48 0,41 12% Soma Soma Temp 1 Total nasal 4,78 5,00 0,51 11% DISCUSSÃO As LP são caracterizadas pelo aumento gradual e contínuo do poder esférico até atingir a adição desejada, sem linhas visíveis de demarcação. As vantagens ópticas e cosméticas das LP são conhecidas há muitas décadas, e cada vez mais este conceito estético tem sido solicitado pelos pacientes. Todavia, para aquele aumento gradual existir, a mudança de curvatura em uma das superfícies é necessária, ao qual leva ao astigmatismo induzido nas laterais do corredor progressivo. O máximo empenho dos projetistas para diminuir o AI tem sido observado em todos os fabricantes deste setor óptico, com os projetos de desenhos sendo mantidos em sigilo pelas razões comerciais óbvias. Os AI não são as aberrações astigmáticas presente nas lentes esféricas quando os raios de luz passam de forma oblíqua ao eixo principal delas. Os usuários de LP podem queixar-se do AI de diversas formas, tais como: distorção, borramento, e/ou flutuação da imagem, que podem se relacionar com a inclinação do eixo do AI, poder do AI e variação do poder do AI ou do equilíbrio binocular do poder DE e DC, respectivamente(6). Observa-se neste estudo a diferença das potências/poderes do AI nos pontos estudados nas lentes, e entre elas, como mostrado nas tabelas 2, 3 e no gráfico 1, com valores estatísticos significativos. O coeficiente de variação (CV 10%) do AI total geral demonstra este fato com alto valor. No gráfico 2, a fraca tendência linear negativa (0,19) entre o AI Total geral e a altura do corredor de progressão nos mostra o intenso trabalho dos fabricantes na redução daquele, sem aumentar tanto a altura do corredor, contrapondo os conceitos constatados na literatura por estudos com LP que relacionam a altura deste com a área de campo intermediário(7), onde demonstram uma corRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7 7,62 7,37 0,87 11% Soma Total temp Soma Total Geral 8,11 8,46 0,89 11% 15,73 16,04 1,60 10% Soma na Soma na Altura em mm Altura de Altura de do corredor 3 mm 11 mm progressivo 4,25 4,32 0,56 13% 5,77 5,71 0,55 10% 12,27 12,00 1,35 11% Gráfico 1 Distribuição das LP quanto as somas das potências dos AI nos campos Nasal e Temporal, e Total Geral (em DC) relação linear positiva forte entre eles. No entanto, as duas LP com menores corredores (10 mm) estão entre os maiores AI (C : 17,84 e J : 16,51 DC) no total geral. Estas LP são sugeridas para serem montadas em armações com pequeno tamanho vertical. Em contra partida, as LP A e D que possuem os maiores corredores de progressão (14 mm) não são as lentes com menores poderes de AI. No gráfico 3 observa-se uma forte tendência linear positiva (0,86) entre o AI Total geral com o AI da soma da linha de 3 mm abaixo da cruz de montagem, demonstrando claramente que um início de progressão suave deixa o total do AI menor. O número elevado de desenhos de LP disponíveis nos dias atuais no Brasil e no mundo, e a pouca informação técnica sobre elas dificultam a sua indicação, no entanto as novas LP com corredores médios e altura mínima de montagem próxima de 17mm, quando mon- Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido 167 Gráfico 2 Gráfico 3 Dispersão entre as somas dos AI Total Geral e a altura do corredor progressivo Dispersão entre as somas dos AI do Total Geral com a soma da linha da altura de 3 mm Anexo 1 equilíbrio binocular, indução prismática e outros, podem deixar um desenho mais tolerável que outro. Relação das lentes progressivas estudadas e seus fabricantes CONCLUSÃO Lentes estudadas Nomes das LP Fabricantes das LP A B C D E F G H I J L Espace Selective Gradal Top Multivis Ampla Multivis Extra Sapphire LP Sola Elan Solamax Varilux Comfort Varilux Physio Varilux Pix Zeiss GT2 Brasilor Zeiss Multivis Multivis Segment Zeiss Zeiss Essilor Essilor Essilor Zeiss tadas nesta, normalmente, deixam o campo de perto com área mais restrita nesta adição estudada, como já constatada na literatura(7). A classificação das LP quanto ao seu desenho em Dura (Hard) e Suave (Soft) pouco deveriam ser aplicados nas lentes atuais, pois elas são um meio termo destas categorias, e somente deveriam ser consideradas como mais suaves ou mais duras. Deve-se ressaltar ainda que muitos modelos atuais de LP são oferecidas com desenhos distintos pela variação das adições (Multi Design – em adições menores mais suaves, e nas maiores mais duros)(5). Possuem também tamanhos verticais dos corredores maiores com o aumento da adição, porém com aumentos desproporcionais entre cada uma delas, demonstrando que esta análise não pode ser estendida a todas as adições disponíveis de cada uma destas LP. Todavia, ainda pode-se considerar conforme o Teorema de Minkwitz, aqui simplificado, quanto maior a adição, maior o AI(4), em um mesmo desenho de lente. Nos casos de pacientes míopes, ou nos emétropes que vão utilizar as LP pela primeira vez, ou nos que necessitam campo amplo de longe (ex. motorista caminhão), deve-se sugerir lentes com início do corredor progressivo o mais distante possível da cruz de montagem e ter o mínimo possível de AI, neste estudo estas LP são a B, I, D e L. Isto, provavelmente, facilitará a adaptação a estas lentes. Não podemos, de maneira alguma, deixar de considerar que apenas um dos aspectos relacionados às LP foi estudado, e outros fatores importantes, tais como: eixo do AI, tamanho dos campos de baixo AI (<0.50DC), aberrações de segunda ordem, Comprovadamente existe um grande número de combinações de desenhos de LP, com uma importante variação da potência do AI, e consequentemente com as variações dos tamanhos dos campos intermediário e perto. Logo, a indicação adequada da LP para o paciente é importante para diminuir a insatisfação a estas lentes. Outros estudos devem ser realizados para demonstrarem outras variáveis já citadas, para um melhor entendimento das LP disponíveis no Brasil. Agradecimentos Agradecemos às empresas: Zeiss, Essilor, Multivis, Segment pelo fornecimento das lentes solicitadas e ao prof. Gilmar J. de Oliveira Jr pelo suporte estatístico. Notas Outras empresas nacionais e multinacionais foram contactadas, mas não manifestaram interesse em participar deste estudo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Netto AL, Alves MR, Lui AC, Lui GA, Giovedi Filho R, Lui TA, Murer EB, et al. Avaliação clínica comparativa de lentes progressivas na correção da presbiopia. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68(3):129-33. Karp A. Lenses by the numbers. Lenses and Technology. 2004; 50-4. Sheedy J, Hardy RF, Hayes JR. Progressive addition lenses- measurements and ratings. Optometry. 2006; 77(1): 23-39. Minkwitz G. On the surface astigmatism of a fixed symmetrical aspheric surface. Opt Acta (Lond). 1963; 10: 223-7. German. Monte FQ, Carvalho CJFilho. Proposta para uma visão clínica das lentes progressivas. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67(6): 69-81. Schwendeman FJ, Ogden BB, Horner DG, Thibos LN. Effect of spherocylinder blur on visual acuity. Optom Visc Sci. 1997; 74: 180-1. Sheedy JE. Progressive addition lenses - matching the specific lens to patient need. Optometry. 2004; 75(2): 83-102. Comment in Optometry. 2004;75(7):412-3; author reply 413. Optometry. 2004;75(5):274. Autor correspondente Celso Marcelo Cunha Hospital Universitário Geral de Cuiabá (UNIC) Rua 13 de Junho, nº 2101 Bairro Porto Cuiabá - Mato Grosso (MT), Brasil Email:[email protected] Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7 ARTIGO ORIGINAL 168 Desempenho escolar: interferência da acuidade visual School performance: visual acuity interference Cibele Maria Ferreira da Silva1, Driellen Rodrigues de Almeida1,Rafael Ribeiro Bernardes1, Félix Carlos Ocáriz Bazzano1, Marcos Mesquita Filho1,Carlos Henrique de Toledo Magalhães1, Dênia Amélia Novato Castelli Von Atzingen1 RESUMO Objetivo: Avaliar a prevalência de distúrbios visuais em alunos de 8 a 10 anos de idade em uma escola pública no município de Pouso Alegre, Minas Gerais, e verificar a possível legitimidade da correlação entre um baixo desempenho escolar e algum tipo de deficit visual. Métodos: Estudo transversal e quantitativo realizado em alunos matriculados de 2a a 4ª série na Escola Municipal Pio XII durante o ano letivo de 2009. Foram realizados o exame de acuidade visual com o uso da Escala optométrica de Snellen e a análise do boletim escolar. Resultados: Foram avaliadas 201 crianças. Quanto à acuidade visual, 11,4% da amostra apresentou acuidade visual alterada. Na análise das notas de Matemática, foi observado que os alunos que tinham deficit visual apresentaram notas significantemente menores que aqueles sem deficit (p=0,032). Não se observou significância estatística na comparação das notas de português dos alunos com e sem deficit durante a triagem inicial. Conclusão: Este estudo demonstrou que um distúrbio visual não diagnosticado pode interferir no desempenho escolar infantil. Descritores: Acuidade visual; Baixo rendimento escolar; Distúrbios visuais; Saúde escolar; Saúde ocular; Desenvolvimento infantil; Criança ABSTRACT Objective: We intend to evaluate the prevalence of visual disorders among 8 to 10-year-old students from a public school in Pouso Alegre, state of Minas Gerais, as well as verify the possible legitimacy of the correlation between a poor school performance and some kind of visual deficit. Methods: We conducted a transversal and quantitative study whose target were the students enrolled in the elementary course (2nd to 4th grade) of Pio XII Municipal School in the academic year of 2009. We examined the students’ visual acuity using Snellen optometric chart and investigating their report card. Results: We assessed 201 children. In what concerns visual acuity, 11.4% of the sample showed altered visual acuity. When we analyzed their Mathematics grades, we observed that the students with visual deficit had grades significantly lower than those ones with normal acuity (p = 0.032). We did not notice any statistical significance in the comparison between their Portuguese grades during this initial sorting out. Conclusion: This study demonstrated that a non-identified visual disorder may interfere in child school performance. Keywords: Visual acuity; Underachievement; Visual disorders; School health; Eye health; Child development; Child Faculdade de Ciências da Saúde Dr. José Antônio Garcia Coutinho - Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS) – Pouso Alegre (MG), Brasil. 1 Este trabalho foi apoiado pela Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS) – Pouso Alegre (MG), Brasil pelo do Programa de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 24/4/2012 - Aceito para publicação em: 3/9/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 168-71 Desempenho escolar: interferência da acuidade visual 169 INTRODUÇÃO MÉTODOS olho é a janela do corpo humano pela qual ele abre os caminhos e se deleita com a beleza do mundo” (Leonardo da Vinci). Sabe-se que 85% do contato do homem com o mundo dá-se por meio da visão(1). A visão, essencial para o aprendizado, é responsável pela maior parte da informação sensorial que recebemos do meio externo(2). Devido ao rápido crescimento e desenvolvimento do aparelho ocular, a criança apresenta maior vulnerabilidade aos distúrbios visuais(3). Até a idade escolar, a deficiência visual pode passar despercebida pelos pais e familiares porque, no ambiente doméstico, a criança não tem noção que não enxerga bem, pois não exerce atividades que demandem esforço visual. Isso fica agravado, principalmente, devido à ausência de exames oftalmológicos periódicos(4). A deficiência visual na infância pode acarretar ônus ao aprendizado e à socialização, alterando o desenvolvimento da motricidade, cognição e linguagem durante os anos sensíveis do desenvolvimento da criança(5,6). Os problemas oftalmológicos destacam- se como a 3a causa mais frequente de problemas de saúde entre escolares, observando-se estreita relação entre os problemas visuais e o rendimento escolar. A quase totalidade das crianças brasileiras em idade escolar nunca passou por exame oftalmológico, sendo que menos de 10% das crianças que iniciam sua vida escolar, receberam exame oftalmológico prévio(7). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 7,5 milhões de crianças em idade escolar sejam portadoras de algum tipo de deficiência visual e apenas 25% delas apresentem sintomas; os outros três quartos necessitariam de teste específico para identificar o problema(2). Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 10% dos alunos primários necessitam de correção por serem portadores de erros de refração: hipermetropia, miopia e astigmatismo; destes, aproximadamente 5% têm redução grave de acuidade visual, isto é, menos de 50% da visão normal(8). A deficiência visual é uma questão de saúde pública responsável pela evasão escolar de 22,9% dos estudantes de ensino fundamental no Brasil, conforme levantamento do programa Alfabetização Solidária(9). A importância de se detectar os problemas de deficiência visual na criança ainda em idade pré-escolar e escolar se deve ao fato de que nesta faixa etária ocorre o pleno desenvolvimento do aparelho visual; logo, o poder de resolução dos problemas detectados seria muito maior, e as consequências da deficiência visual poderiam ser atenuadas ou mesmo evitadas, uma vez que a deficiência visual interfere no processo de aprendizagem e no desenvolvimento psicossocial da criança(10). Nota-se também que a implementação dos programas de detecção de baixa acuidade visual e de prevenção de problemas oftalmológicos em países desenvolvidos têm demonstrado que os custos dessas ações são incomparavelmente menores do que aqueles representados pelo atendimento a portadores de distúrbios oculares(11). O exame de rotina da acuidade tem por objetivo assegurar boa saúde visual, colaborar na atenuação dos elevados índices de evasão escolar ou repetência, e prevenir diversas complicações oculares de maior âmbito(6). O presente estudo tem como intuito avaliar a prevalência de distúrbios visuais em alunos de 8 a 10 anos de uma escola pública no município de Pouso Alegre e verificar a possível legitimidade da correlação entre um baixo desempenho escolar e algum tipo de deficit visual. Trata-se de um estudo transversal e quantitativo realizado em alunos matriculados de 2a a 4ª série na Escola Municipal Pio XII, no município de Pouso Alegre - Minas Gerais, durante o ano letivo de 2009. O total de alunos, matriculados da 2ª a 4ª série, na escola estudada, no quantitativo de 381, todos foram convidados a participar deste estudo. Deste total, 94 se encontravam fora da faixa etária proposta para o estudo (8 a 10 anos) e 86 não obtiveram autorização dos responsáveis, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo, portanto, excluídos do estudo. Assim, foram avaliados 201 alunos. O estudo obedece a Resolução nº 196/96, a qual normatiza pesquisas com seres humanos, e foi realizado com a prévia autorização da instituição. Após a aprovação pelo Comitê de Ética da UNIVÁS, sob protocolo n° 1016/09, e assinatura pelos responsáveis do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a Escala optométrica de Snellen foi aplicada individualmente pelos pesquisadores, de acordo com o dia e o horário estabelecido pela instituição. O examinador, previamente treinado, anotava o valor equivalente a última linha lida sem dificuldade, ou seja, a melhor acuidade visual em cada olho. Considerou-se normal a acuidade visual superior a 0,7, estabelecendo-se como deficit de acuidade visual valores iguais ou inferiores a este, de acordo com critérios propostos pela OMS. Os escolares que não conseguiram ler a 8a linha da escala foram encaminhados a um especialista, para que o diagnóstico do distúrbio fosse realizado e também seu devido tratamento. Então foi realizada uma análise comparativa do desempenho escolar dos alunos que apresentaram algum deficit na acuidade visual com os alunos com visão satisfatoriamente normal, por meio da análise de boletins escolares. O teste utilizado para a análise estatística foi o não paramétrico de Mann-Whitney. “O RESULTADOS Foram avaliadas 201 crianças. Da amostra estudada, 59 crianças estavam cursando a 2ª série, 68 a 3ª série e 74 se encontravam na 4ª série (tabela 1). Em relação ao gênero, 56,2% da amostra era do gênero masculino (tabela 2). Quando investigadas sobre como consideravam sua visão, 103 crianças (51,2%) disseram enxergar bem, 32 (15,9%) relataram dificuldade visual e 66 (32,8%) não conseguiram classificar a própria visão (tabela 3); 61,7% da amostra estudada referiu a presença de cefaleia (tabela 4). Quanto à acuidade visual, 23 crianças (11,4% da amostra) apresentaram acuidade visual alterada (tabelas 5, 6 e 7). Os alunos que apresentaram baixa acuidade visual foram encaminhados ao ambulatório de oftalmologia do Hospital das Clínicas Samuel Libânio (HCSL). Destes, 8,7% não compareceram a nenhuma de 3 consultas previamente agendadas, e, dos que compareceram, 33,3% tiveram seu diagnóstico de baixa acuidade visual confirmado, sendo prescrito o uso de óculos (tabela 8). Na análise das notas de matemática, foi observado que os alunos que tinham deficit visual apresentaram notas significantemente menores que aqueles sem deficit (p=0,032). Não se observou significância estatística na comparação das notas de português dos alunos com e sem deficit durante a triagem inicial. A média de nota da disciplina de português entre os alunos foi 30,34 (em um total de 45), enquanto a média da disciplina de matemática foi 29,10 (em um total de 45). Em relação aos alunos com acuidade visual alterada durante a aplicação da escala de Snellen, a média de nota da disciplina de português foi Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 168-71 170 Idade Total Silva CMF, Almeida DR, BernardesRR, BazzanoFCO, Mesquita Filho M,Magalhães CHT, Von Atzingen DANC Tabela 1 Tabela 2 Distribuição de acordo com a série e a idade Distribuição de acordo com o gênero 8 9 10 2a Série 3a 4a 59 18 5 82 0 47 28 75 0 3 41 44 Total 59 68 74 201 Gênero Masculino Feminino Total N % 113 88 201 56,2 43,8 100 Fonte: Questionário sócio demográfico Fonte: Questionário sócio demográfico Tabela 3 Tabela 4 Distribuição de acordo com o julgamento da própria capacidade visual Capacidade visual Enxerga bem Enxerga mal Não sabe informar Total Distribuição de acordo com a presença de cefaléia N % 103 32 66 201 51,2 15,9 32,8 100 Fonte: Questionário sócio demográfico Cefaléia N Não Sim Total 77 124 201 % 38,3 61,7 100 Fonte: Questionário sócio demográfico Tabela 5 Tabela 6 Distribuição de acordo com o deficit visual na leitura da escala de Snellen Distribuição das crianças sem deficit visual de acordo com a idade e gênero Deficit visual Não Sim Total N % 178 23 201 88,6 11,4 100 Fonte: Questionário sócio demográfico Gênero Idade Masculino Feminino Total 8 9 10 Total 23 42 36 101 25 20 32 77 48 62 68 178 Tabela 7 Tabela 8 Distribuição de acordo com a prescrição de óculos na consulta com o oftalmologista Distribuição das crianças com deficit visual de acordo com a idade e gênero Gênero Idade 8 9 10 Total Masculino 6 4 2 12 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 168-71 Feminino Total 5 2 4 11 11 6 6 23 Prescrição de óculos N % Não Sim Total 14 7 21 66,7 33,3 100 Fonte: Questionário sócio demográfico 171 Desempenho escolar: interferência da acuidade visual 28,52 (Total =45) e para a disciplina de matemática foi 25,83 (Total =45). Os alunos que não relataram cefaleia apresentaram média de 31,30 em português e 30,27 em matemática; enquanto que os escolares que referiram cefaleia tiveram média de 29,41 e 27,77, respectivamente. REFERÊNCIAS 1. 2. DISCUSSÃO 3. A avaliação da saúde ocular de crianças deveria fazer parte do exame pediátrico(12). A avaliação e a detecção de possíveis agravos oculares deve ser o mais precoce possível já que, quanto maior o atraso na determinação de problemas visuais, menores serão as chances de recuperação e correção do problema, além de contribuir para o deficit de aproveitamento escolar e de socialização e estar relacionado a alterações nos estados emocional e psicológico das crianças(11). A prevalência de acuidade visual alterada encontrada nesse estudo (11,4%) coincide com dados obtidos no município de São Carlos (11,9%) e também com os resultados de pesquisa realizada no Canadá, os quais variam de 10,5% a 13,8%(13,14). Com relação a disciplina de português, os resultados não obtiveram significância estatística entre os alunos com acuidade visual normal e os alunos com alteração da acuidade visual (p=0,183), mesmo as melhores notas pertencentes ao grupo de acuidade visual satisfatória. As melhores notas de matemática foram obtidas pelos alunos sem deficit visual. Houve significância estatística (p=0,032). Apesar de ser bem conhecido que as causas visuais, especialmente os erros refrativos, não são causas frequentes de cefaleia na infância(5,6), os alunos que possuíam dor de cabeça apresentaram nota média significantemente menor para ambas as disciplinas analisadas (p=0,010 para português e p=0,018 para matemática. CONCLUSÃO Este estudo ratifica que um distúrbio visual não diagnosticado pode interferir no desempenho escolar. Tratando e corrigindo afecções oculares e, por conseguinte, promovendo boa eficiência visual criam-se condições favoráveis para melhor aproveitamento escolar. Agradecimentos Ao médico oftalmologista Dr. José Arnaldo Tiburzio Rezende pela sua colaboração no atendimento das crianças triadas pela escala de Snellen. À direção administrativa da Escola Municipal Pio XII pela sua colaboração na realização deste trabalho, mediante disponibilização de acesso aos alunos previamente autorizados pelos responsáveis. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Ventura R, Ventura L, Brandt C, Ferraz D, Ventura B. Experiência em projeto: “Enxergando através das mãos”. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(5):823-6. Granzoto JA, Ostermann CSPE, Brum LF, Pereira PG, Granzoto T. Avaliação da acuidade visual em escolares da 1ª série do ensino fundamental. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(2):167-71. Albuquerque RC, Alves JGB. Afecções oculares prevalentes em crianças de baixa renda atendidas em um serviço oftalmológico na cidade do Recife - PE, Brasil. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(6):831-4. Gasparetto MERF, Temporini ER, Carvalho KMM, Kara-José N. Dificuldade visual em escolares: conhecimentos e ações de professores do ensino fundamental que atuam com alunos que apresentam visão subnormal. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(1):65-71. Haddad MAO, Lobato FJC, Sampaio MW, Kara-José N. Pediatric and adolescent population with visual impairment: study of 385 cases. Clinics. 2006;61(3):239-46. Gianini RJ, Masi E, Coelho EC, Oréfice FR, Moraes RA. Prevalência de baixa acuidade visual em escolares da rede pública, Sorocaba. Rev Saúde Pública. 2004;38(2):201-8. Adam Netto A, Oechsler RA. Avaliação da acuidade visual de alunos do primeiro grau de uma escola municipal de Florianópolis. ACM Arq Catarin Med. 2003;32(1):21-4. Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Campanha “Veja Bem Brasil”: manual de orientação. [s.l.]: Imprensa Oficial; 1998. Turazzi E. Software permite avaliação visual precoce em crianças. Portal da oftalmologia; 2006 [internet]. 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Autor correspondente: Cibele Maria Ferreira da Silva Rua Paula Augusta Garcia, nº 30 – Colinas de Santa Bárbara CEP 37550-000 – Pouso Alegre (RG), Brasil Tel: (21) 25490854/(21)99534577 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 168-71 ARTIGO ORIGINAL 172 Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina Knowledge in refractive surgery among medical students State University of Londrina Aluisio Rosa Gameiro Filho1, Nathalia Mayumi Thomaz de Aquino2, Eliana Barreiros de Arruda Pacheco3, Ana Paula Miyagusko Taba Oguido3, Antonio Marcelo Barbante Casella3 RESUMO Objetivo: Avaliar o conhecimento de estudantes de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em cirurgia refrativa, assim como analisar o percentual de estudantes que são portadores de ametropias, seus métodos de correção e seu interesse ou não na realização do procedimento cirúrgico. Métodos: Realizou-se um levantamento através de questionário autoaplicável, previamente testado, entre 154 estudantes do primeiro ao quarto ano de Medicina da Universidade Estadual de Londrina entre setembro e novembro de 2011. Resultados: Foi relatado que 70,8% dos estudantes possuíam algum tipo de erro de refração, sendo a miopia o erro mais prevalente, com 72,5% dos estudantes amétropes apresentando-a, associada ou não a outros erros de refração. Os óculos foram o método de correção visual referido como o mais utilizado, por 80% dos pesquisados. Quanto à cirurgia refrativa, 85,7% dos estudantes já haviam ouvido falar a respeito, porém, apenas 42,9% sabiam como o procedimento é realizado, sendo o oftamologista a principal fonte de informação sobre o tema, para 23,5% dos alunos. Apenas 43,2% dos alunos têm interesse na realização da cirurgia, e apenas 3 (1,9%) estudantes já foram submetidos ao procedimento. Conclusão: Apesar da importância da cirurgia refrativa na Oftalmologia verificou-se baixo conhecimento acerca do tema entre os estudantes, o que afeta o interesse dos mesmos em serem submetidos ao procedimento. Observou-se também uma taxa relativamente alta de falsa expectativa quanto ao seu resultado, principalmente entre os estudantes que querem ser submetidos ao procedimento, provavelmente pelas fontes pouco confiáveis alegadas pelos estudantes. Considerando o fato de que se tratam de futuros médicos, fica clara a necessidade de maiores esclarecimentos sobre o tema na graduação. Descritores: Estudantes de medicina; Miopia; Acuidade visual;Erros de refração; Conhecimento ABSTRACT Objective: Evaluate the knowledge of medical students from Universidade Estadual de Londrina (UEL), about refractive surgery, as well as analyzing the percentage of students that presents refractive errors, their correction methods and their interest (or not) in the surgical procedure. Methods: We conducted a survey using self-evaluation questionnaire (previously tested) among 154 medical students from first to fourth year, between september and november 2011. Results: It was reported that 70.8% of students had some type of refractive error, and myopia was the most prevalent,with 72.5% of students with refractive erros presenting it, with or without other refractive errors associated. The glasses were the most used method of visual correction . About refractive surgery, 85.7% of students had already heard about, but only 42.9% knew how the procedure is performed, and the ophthalmologist was the main source of information on the subject, to 23.5% of students. Only 43.2% of students have an interest in surgery, and only 3 (1.9%) students have been undergoing the procedure. Conclusion: There has been little information and knowledge about refractive surgery among medical students,which affects their interest in undergoing the procedure, which maybe due the fact that many of them do not have the most adequate source of information to obtain knowledge about the subject. Keywords: Students, medical; Myopia; Visual acuity; Refractive errors; Knowledge Acadêmico do sexto ano de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina (PR), Brasil; Acadêmica do sexto ano de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina (PR), Brasil; 3 Docentes da Disciplina de Oftalmologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina (PR), Brasil. 1 2 Trabalho realizado na Universidade Estadual de Londrina - UEL – Londrina, PR, Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 19/6/2012 - Aceito para publicação em: 29/1/2013 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7 Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina 173 INTRODUÇÃO RESULTADOS irurgia refrativa consiste em todo o procedimento cirúrgico que tem como finalidade a correção de um erro refracional. É uma modalidade cirúrgica relativamente recente já que foi no ano de 1898 que o dr. Lendeer Jans Lans publicou seus resultados de ceratectomias e termoceratoplastias em coelhos, para tratar astigmatismo(1). Em 1933, o oftalmologista japonês Sato iniciou estudo em um paciente com ceratocone agudo associado à rotura da membrana de Descemet que desenvolveu um achatamento da córnea e diminuição do grau de miopia, o que o levou a realizar, em 1939, as primeiras ceratotomias anteriores e posteriores para tratamento de astigmatismo e ceratocone. Porém, foi apenas após o estudo Perk (Prospective Evaluation of Radial Keratomy) do National Eye Institute, em 1981, que a ceratotomia radial começou a apresentar importância mundial. Desde então, os procedimentos evoluíram em uma velocidade impressionante, motivada pelo grande interesse de pacientes, médicos e pesquisadores, de achar uma alternativa definitiva ao uso de óculos. São vários os tipos de procedimentos cirúrgicos que podem ser realizados a fim de corrigir olhos amétropes, tais como lentes intraoculares, e implantes intracorneanos. Porém, atualmente, os métodos mais utilizados são os que utilizam o excimer laser(2), como o PRK (PhotoRefractiveKeratectomy) e o Lasik (Laser Assisted in Situ Keratomileusis), que são procedimentos rápidos e seguros, com menor incidência de complicações em relação aos procedimentos mais utilizados no passado. No presente estudo, realiza-se uma análise da prevalência dos erros de refração em estudantes de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL), assim como de métodos de correção visual mais utilizados, número de estudantes que já foram submetidos à cirurgia refrativa, e, com base em estudo de Kara José(3) realizado com estudantes da Faculdade de Medicina do ABC, avaliar o conhecimento e interesse em cirurgia dos estudantes referidos. Dos 154 estudantes de Medicina, 109 (70,8%) afirmaram apresentar algum tipo de erro de refração, 38 (24,7%) referiram não apresentar deficiências visuais, 4 (2,6%) não souberam referir, e apenas 3 (1,9%) afirmaram terem sido submetidos à cirurgia refrativa. Dos 109 estudantes com problemas refracionais, 44 (40,4%) apresentavam apenas miopia, 35 (32,1%) miopia e astigmatismo, 21 (19,3%) apenas astigmatismo, e 9 (8,3%) apresentavam outros erros refracionais (ou combinações de erros) não mencionadas previamente, conforme demonstra-se na tabela 1. Os estudantes apresentavam uma idade média de 21,88 anos (desvio padrão: 3,2). Quanto à raça, 126 (81,8%) se autodeclararam brancos, 17 (11%) amarelos, 10 (6,5%) pardos e apenas 1 (0,6%) negro. Em relação ao sexo, 68 (44,2%) eram homens e 86 (55,8%) mulheres. Entre os homens, 68,7% apresentavam algum problema de refração, sendo o percentual maior entre as mulheres 72,4%. Foram contabilizados 143 (92,8%) alunos que referiram já terem sido consultados por oftalmologista, sendo que 76 (53,1%) destes referiram a última consulta há menos de um ano, 49 (34,3%) entre 1 a 3 anos, e 18 (12,6%) foram consultados pela última vez há mais de 3 anos. Quando levado em conta apenas os alunos que referiram erros refracionais encontramos 66 (60,5%) que se consultaram há menos de um ano, 39 (35,5%) entre 1 a 3 anos e apenas 4 (3,7%) referiram última consulta há mais de 3 anos. Quanto ao tipo de correção visual utilizada, a maior parte dos estudantes utiliza óculos (79,7% dos míopes e 60% com outros erros), associado ou não a lente de contato, além disso, 10,1% dos míopes declararam que não utilizam nenhum tipo de correção visual, apesar de indicado, valor que se eleva para 26,7% dos estudantes com erros refracionais que não a miopia, o que pode se ver na tabela 2. Conforme demonstra a tabela 3, dos 154 estudantes, 132 (85,7%) referiram já ter ouvido falar sobre a cirurgia refrativa, sendo que apenas 65 (49,2%) disseram saber como o procedimento é realizado. Dos estudantes que já ouviram falar, 95 apresentam erros de refração, o que corresponde a 72% destes. Quanto às fontes de informação a respeito da cirurgia, o oftalmologista foi o mais citado com 23,5% das respostas, seguido por familiares, com 17% das respostas, conforme demonstrado na figura 1. Os estudantes portadores de erros refracionais foram também indagados quanto ao desejo de serem submetidos à cirurgia refrativa, ao que 43,2% dos estudantes confirmaram, 38,9% declinaram e os 17,9% restantes não sabiam ou não responderam. O principal motivo para a não realização do procedimento pelos que desejam ser submetidos à cirurgia refrativa é a contraindicação médica, correspondendo a 30,2% das respostas, seguido por problemas financeiros, motivo de 24,5% dos estudantes, o que pode ser visualizado no esquema a seguir na figura 2. Já os alunos que não desejam ser submetidos ao procedimento, 74,4% alegam o baixo deficit visual como principal motivo. Dentre os que não sabiam o último argumento também foi o mais mencionado, porém, com um prevalência de 35,5% das respostas, o que é demonstrado na figura 3. Quanto às expectativas, 89 (67,4%) dos estudantes que referem conhecimento a respeito do procedimento esperam apenas uma diminuição da dependência visual após a realização da cirurgia refrativa (tabela 4), sendo a porcentagem dos que esperam a cura através da cirurgia é maior entre os estudantes que querem realizá-la, conforme demonstra a figura 4. Percebemos também que, dentre os erros de refração, os estudantes míopes são os que mais veem o procedimento como uma opção, já que 69,8% dos míopes desejam ser submetidos à cirurgia. C MÉTODOS O estudo foi realizado no período de setembro a novembro de 2011, nas dependências do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com 320 estudantes de Medicina do primeiro ao quarto ano, utilizando-se um questionário autoaplicável padronizado (Anexo 1), que consistia em 28 perguntas, sendo 26 de múltipla escolha, previamente testado com alunos do primeiro ano de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina, como instrumento de coleta de dados. No questionário os estudantes foram indagados quanto a características epidemiológicas, prevalência referida de miopia e outros erros de refração (astigmatismo, hipermetropia, presbiopia) e métodos de correção utilizados, conhecimento e interesse sobre cirurgia refrativa, expectativas quanto ao procedimento e fontes de informações utilizadas, tomando-se como base estudo semelhante realizado na Faculdade de Medicina do ABC (3). Os questionários foram aplicados durante o horário letivo, sendo que apenas os alunos presentes no momento da aplicação do teste e que quiseram participar da pesquisa, responderam ao mesmo, o que corresponde a 154 estudantes. Foram utilizados apenas dados selecionados do questionário, sendo os excedentes disponibilizados para possíveis futuros estudos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Curso de Medicina (CEP), parecer nº 039/2011, da Universidade Estadual de Londrina, e todos os voluntários receberam informações a respeito dos objetivos e procedimentos do trabalho e participaram do estudo, após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7 174 Gameiro Filho AR, AquinoNMT, Pacheco EBA, OguidoAPMT, Casella AMB Tabela 1 Tipos de erro de refração encontrados na população estudada (n=109) Erro de refração Número Miopia Miopia e astigmatismo Astigmatismo Hipermetropia Astigmatismo e hipermetropia Presbiopia Total Frequência (%) 44 35 21 5 3 1 109 40,4 32,1 19,3 4,6 2,8 0,9 100,0 Tabela 2 Tipos de correção visual entre os portadores de erros refracionais (n=109) Método de correção visual Miopia Frequência (%) Número total Somente óculos Somente lente de contato Óculos e lente de contato Não foi indicado Não usa, apesar de indicado Não respondeu Total 38 4 25 4 8 0 79 Outros erros refracionais* Número total Frequência (%) 48,1 5,1 31,6 5,1 10,1 0,0 - 18 0 0 3 8 1 30 60 0 0 10 26,7 3,3 *Por outros erros, entende-se qualquer erro não associado com miopia, indivíduos com miopia+astigmatismo foram contabilizados no item miopia Tabela 3 Estudantes, separados de acordo com seus erros refracionais, que já ouviram ou não falar sobre cirurgia refrativa(n=151) Outros erros refracionais Miopia Já ouviu falar? Sem erros refracionais Não sabem referir ametropia Número total % Número total % Número total % Número total % 69 10 87,3 12,7 26 4 86,7 13,3 30 8 78,9 21,1 4 0 100,0 0,0 Sim Não Tabela 4 Expectativas quanto à cirurgia refrativa (n=132) Expectativas Cirurgia Diminuição da dependência Miopia % Outros erros % Não tem % Não sabe % Operou % Total % 25 44 36,2 63,8 4 22 15,4 84,6 10 20 33,3 66,7 1 3 25 75 3 0 100 0 43 89 32,6 67,4 O n se refere ao número de alunos que já ouviram falar do procedimento Apenas 3 estudantes referem já ter realizado cirurgia refrativa, sendo dois homens e uma mulher, com idades de 22, 23 e 33 anos. Todos referiram terem sido consultados com oftalmologista há menos de 1 ano. Observou-se também que o diagnóstico da ametropia foi feito entre os 6 e 12 anos de idade nos três estudantes. Foi observado que ambos os pais dos estudantes em questão também apresentavam algum erro de refração. Os três referiram que tinham como expectativa a cura completa antes da realização da cirurgia, e, no momento da aplicação do questiRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7 onário, nenhum referia apresentar deficit visual, sendo assim, declararam terem ficado satisfeitos com o resultado. Quanto à fonte de informações em relação à cirurgia, todos assinalaram a opção oftalmologista, e, mesmo já tendo realizado o procedimento 1 dos estudantes (33,3%) refere que ainda gostaria de saber mais. As cirurgias citadas foram realizadas no mesmo ano da aplicação do questionário, sendo uma realizada através de convênio médico, e duas particulares. Quanto ao grau de deficit vi- Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina 175 Figura 1 Figura 2 Fontes de informação sobre cirurgia refrativa entre os estudantes que já ouviram falar do procedimento (n=132) Motivos referidos pelos que têm interesse em ser submetido à cirurgia refrativa mas não a realizam Figura 4 Como cada alternativa das contempladas na tabela, permitem mais de uma resposta, algumas apresentam um total de respostas maior que o N Comparação de expectativas da cirurgia refrativa entre estudantes que conhecem o procedimento, que têm ou não interesse em serem submetidos ao procedimento Figura 3 Motivos referidos para o não interesse em ser submetido à cirurgia refrativa Cirurgias sual antes da cirurgia, dois apresentavam entre -1,25 a -3,00 dioptrias e 1 mais que -3 dioptrias. A renda familiar de todos era superior a 15 salários mínimos. DISCUSSÃO Entre os estudantes de Medicina pesquisados, 109 (70,8%) referiram apresentar algum erro de refração. A miopia foi o erro refracional mais encontrado, referida por 40,4% dos estudantes pesquisado. Essa prevalência é o dobro da encontrada em estudos anteriormente realizados na população em geral, que gira em torno de 25%(4). Esse dado corrobora com estudos prévios realizados com estudantes de Medicina, que também encontraram prevalência dobrada nessa população(5,6). Um exemplo foi o estudo realizado na Universidade Federal do Paraná, no qual 48,23% dos estudantes de Medicina eram míopes(7). Entre os estudantes pesquisados, apenas 82 (85,7%) já haviam ouvido falar sobre cirurgia refrativa, índice considerado baixo já que os indivíduos pesquisados são estudantes de Medicina e a cirurgia refrativa é uma das mais notórias na Oftalmologia. Esse índice é menor que o encontrado no estudo de Kara José(3) realizado na Faculdade de Medicina do ABC, que era de 92,8%. Por outro lado, no presente estudo, apenas 32,6% dos alunos referiam esperar a cura total com a realização da cirurgia, em contraste com 69% dos alunos do estudo de Kara José(3), que referiram apresentar tal falsa expectativa. Ainda em relação a Diminuição da Dependência esse tema, percebe-se que os indivíduos que expressam desejo de serem submetidos ao procedimento são os que mais esperam a cura como resultado final. Outro dado relevante verificado na análise dos questionários foi a qualidade da informação e quanto a mesma depende da fonte. O percentual de alunos que receberam informações do oftalmologista é maior entre os alunos que referem saber como o procedimento é realizado, assim como entre os que conhecem os riscos da cirurgia. Por outro lado, entre os alunos que já tinham ouvido falar de cirurgia refrativa, mas não sabiam como esta é realizada, as principais fontes de informação encontradas foram televisão e amigos, consideradas fontes precárias, por proverem apenas informações restritas, o que poderia explicar o conhecimento parcial sobre o assunto nesse grupo. Os principais motivos que levam os alunos que desejam ser submetidos ao procedimento mas não a realizaram ainda são a contraindicação médica e problemas financeiros, com 30,2% e 24,5%, respectivamente. Esse dado condiz com trabalho semelhante realizado na Faculdade de Medicina do ABC, no qual 39,6% das respostas indicaram contraindicação médica e 24,7%(3) problemas financeiros. Já o principal motivo citado como responsável pela ausência de vontade de ser submetido à cirurgia foi o baixo grau de deficit visual, que também foi o mais encontrado no estudo na Faculdade de Medicina do ABC(3). Outra observação relevante é a de que o medo do procedimento ou de seus resultados foi declarado como motivo quase Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7 176 Gameiro Filho AR, de Aquino NMT, Pacheco EBA, Oguido APMT, Casella AMB Anexo 1 QUESTIONÁRIO 1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 2. Cor : ( ) Branco ( ) Negro ( ) Pardo ( ) amarelo ( ) vermelho 3. Idade: ____ 4. Curso: ( ) Medicina ( ) Moda 5. Já foi consultado(a) por um oftalmologista? ( ) Sim ( ) Não 6. Se sim, quando foi sua última consulta? ( ) Menos de um ano ( ) 1-3 anos ( ) Mais de 3 anos. 7. Enfrenta alguma dificuldade para enxergar? ( ) Não ( ) Sim, para longe ( ) Sim, para perto ( ) Sim, para perto e longe 8. Foi diagnosticado pelo MÉDICO como portador de algum vício de refração (miopia, astigmatismo, hipermetropia, presbiopia)? (mais de uma opção pode ser marcada) ( ) Sim, miopia (dificuldade para visão longe) ( ) Sim, astigmatismo (dificuldade para visão de longe e perto. Borramento visual heterogêneo, ou seja, algumas partes da imagem são mais nítidas ou mais borradas que outras.) ( ) Sim, hipermetropia (dificuldade para visão de perto) ( ) Sim, presbiopia (dificuldade de visão para perto que, em geral, se inicia a partir dos 40 anos) ( ) Não sei (pular para questão 13) ( ) Não foi diagnosticado como portador de vícios de refração (pular para questão 13) 9. Com que idade foi diagnosticado o problema? ( ) entre 1 e 5 anos ( ) entre 6 e 12 anos ( ) entre 13 e 15 anos ( ) entre 16 e 18 anos ( ) mais de 18 anos 10. Qual o grau de seu deficit visual? (mais de uma opção pode ser marcada) Miopia: ( ) -1,00 DO ou menos ( ) entre -1,25 e -3,00 DO ( ) mais que -3,00 DO ( ) não tem miopia ( ) tem miopia mas não sabe o grau Hipermetropia: ( ) +1, ,00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não tem hipermetropia ( ) tem hipermetropia mas não sabe o grau Astigmatismo: ( ) 1,00 DO ou menos ( ) entre 1,25 e 3,00 DO ( ) mais que 3,00 DO ( ) não tem astigmatismo ( ) tem astigmatismo mas não sabe o grau Presbiopia: ( ) +1, 00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não tem presbiopia ( ) tem presbiopia mas não sabe o grau 11. Usa lentes de contato ou óculos para correção? ( ) Sim, usa óculos ( ) Sim, usa lentes de contato ( ) Sim, usa óculos e lentes de contato ( ) Foi indicado mas não usa ( ) Não foi indicado ( ) Não usa mais pois fez cirurgia de correção 12. Se usa métodos de correção (óculos ou lentes de contato), em qual (quais) momento(s)? (marque todas as situações em que usa): ( ) o tempo todo ( ) para trabalho e ou estudo ( ) para dirigir ( ) para assistir TV ou cinema ( ) para computador ( ) outros. Qual (quais)?__________________ 13. Seu pai já foi diagnosticado pelo MÉDICO como portador de algum vício de refração? (pode ser marcada mais de uma alternativa) ( ) sim, miopia ( ) sim, astigmatismo ( ) sim, presbiopia ( ) sim, hipermetropia ( ) sim, mas não sei qual vício de refração ( ) não ( ) não sei 14. Sua mãe já foi diagnosticada pelo MÉDICO como portadora de algum vício de refração? (pode ser marcada mais de uma alternativa) ( ) sim, miopia ( ) sim, astigmatismo ( ) sim, presbiopia ( ) sim, hipermetropia ( ) sim, mas não sei qual vício de refração ( ) não ( ) não sei 15. Quantas horas, em média, você gasta por semana lendo? ( ) 18 horas ou mais ( ) 14-17 horas ( ) 10-13 horas ( ) 6-9 horas ( ) 3-6 horas ( ) menos de 3 horas 16.Quantas horas por semana você gasta, em média, realizando as seguintes atividades ? Televisão: ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais Videogame: ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais Computador : ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais Escrita ou desenho: ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais 17. Já ouviu falar de cirurgia refrativa (cirurgia para correção de problemas visuais de refração)? ( ) sim ( ) não (pular para questão 28) 18. Sabe como o procedimento é realizado? ( ) Sim, sei ( ) Não sei 19. Como você se informou a respeito? (pode ser marcada mais de uma alternativa): ( ) oftalmologista ( ) médico não o oftalmologista ( ) outro profissional da saúde ( ) faculdade ( ) jornal ( ) TV ( ) familiares ( ) amigos ( ) não sei nada a respeito ( ) outros 20. Conhece os riscos da cirurgia?( ) Sim ( ) Não 21. Quais as suas expectativas quanto a cirurgia refrativa? ( ) cura definitiva ( ) diminuição da dependência de correção 22. Você já fez cirurgia refrativa? ( ) Já fiz ( ) Nunca fiz (pular para questão 25) 23. Se sim, ficou satisfeito(a) com o resultado? ( ) Sim ( ) Parcialmente ( ) Não Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7 Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina 177 24. Qual é a sua renda familiar mensal? ( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) 3 a 5 salários mínimos ( ) 5 a 10 salários mínimos ( ) 10 a 15 salários mínimos ( ) 15 a 20 salários mínimos ( ) Mais que 20 salários mínimos ( ) Não Sei 25. Como foi realizado o procedimento? ( ) Através de convênio médico ( ) Particular ( ) Outros Quais: ________________________________________ 26. Qual foi tipo e o grau de deficit visual corrigido pela cirurgia refrativa? OLHO DIREITO: Miopia: ( ) -1,00 DO ou menos ( ) entre -1,25 e -3,00 DO Hipermetropia: ( ) +1, ,00 DO ou menos ( ) mais que -3,00 DO ( ) não sei ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei Astigmatismo: ( ) 1,00 DO ou menos ( ) entre 1,25 e 3,00 DO ( ) mais que 3,00 DO ( ) não sei Presbiopia: ( ) +1, 00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei OLHO ESQUERDO: Miopia: ( ) -1,00 DO ou menos ( ) entre -1,25 e -3,00 DO Hipermetropia: ( ) +1, ,00 DO ou menos ( ) mais que -3,00 DO ( ) não sei ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO Astigmatismo: ( ) 1,00 DO ou menos ( ) entre 1,25 e 3,00 DO ( ) mais que 3,00 DO Presbiopia: ( ) +1, 00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei ( ) não sei ( ) não sei 27. Que idade você tinha quando foi realizado o procedimento? ___________________________________________________________________________________________________________________________________ 28. Se nunca fez, pensa em fazer? ( ) Sim ( ) Não (pular para questão 27) ( ) Não sei (pular para questão 27) 29. Se você gostaria de fazer a cirurgia refrativa, por que ainda não a fez? (mais de uma alternativa pode ser marcada): ( ) contra-indicação médica ( ) problemas financeiros ( ) falta de confiança no médico e/ou procedimento ( ) falta de conhecimento ( ) falta de oportunidade ( ) medo dos resultados ( ) outros 30. Se você não gostaria de fazer ou não sabe, qual é o motivo? (mais de uma alternativa pode ser marcada): ( ) baixo grau de deficit visual ( ) falta de interesse ( ) falta de confiança ( ) falta de conhecimento ( ) medo dos resultados ( ) problemas financeiros ( ) contra--indicação médica ( ) outros 31. Gostaria de saber mais a respeito? ( ) Sim ( ) Não que exclusivamente por estudantes que referiam não saber como o procedimento é realizado. Esse grupo foi também o que menos referiu interesse em realizar a cirurgia. Foram encontrados apenas 3 estudantes que foram submetidos à cirurgia refrativa na amostra estudada. Isso se deve provavelmente à baixa idade dos indivíduos, que apresentavam uma média de idade de 21 anos, idade em que normalmente ainda não houve a estabilização do grau visual, um pré-requisito indispensável para a realização da mesma. CONCLUSÃO O ensino médico brasileiro atual tende a priorizar certas áreas da Medicina em detrimento de outras, sendo a Oftalmologia pouco valorizada no currículo médico. Esse dado fica evidente quando se analisa que apesar de um número significativo de estudantes referirem conhecer o procedimento, menos da metade dos mesmos sabem como esse é realizado. Desta forma, observa-se uma evidente falta de conhecimento a respeito de um dos procedimentos mais frequentes e comentados da área, o que pode ser demonstrado pelo fato de que o Lasik é uma das cirurgias mais realizadas no mundo. Percebe-se que faltam informações a respeito da área a amostra, a qual, por lógica, deveria ter muito mais conhecimento sobre o assunto, se tratando da área médica. Percebe-se também que a falta de conhecimento a respeito do assunto acaba por afetar o interesse dos entrevistados em realizar a cirurgia, considerando que, entre os que não sabiam como a cirurgia era realizada o índice de falta de desejo de realizar a cirurgia foi consideravelmente maior. O principal objetivo da cirurgia refrativa é a diminuição da dependência de métodos de correção. Fato peculiar é que os estudantes que referiram desejo de serem submetidos à cirurgia apresentam um índice maior de falsa expectativa quando em comparação aos que não querem realizá-la, isto é, esperam a cura total do erro de refração. Essa situação foge do ideal, já que, a satisfação dos pacientes tende a ser maior quanto mais realistas forem suas expectativas. Percebe-se, dessa forma, a necessidade de maiores esclarecimentos quanto ao assunto para a população em geral e principalmente aos estudantes da área médica. Esse fato assume grande importância considerando que esses também terão, no futuro, a função de tirar dúvidas da população leiga em relação ao assunto. Agradecimentos Marcelo Rosa Gameiro e Leonardo Thomaz de Aquino Filho REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Alves AA. Refração. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2008. Victor G, Urbano A, Marçal S, Porto R, Francesconi CM, Forseto AS, et al. Primeiro censo brasileiro em cirurgia refrativa. ArqBras Oftalmol. 2005;68(6):727-33. Kara-José FC, Passos LB, Jervásio AC, Salomão GH. Interesse e conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina. ArqBras Oftalmol.2002;65(1):71-4. Sperduto RD, Seigel D, Roberts J, Rowland M. Prevalence of myopia in the United States. Arch Ophthalmol. 1983;101(3):405-7. Midelfart A, Aamo B, Sjøhaug KA,Dysthe BE. 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Métodos: Os prontuários dos pacientes submetidos à facoemulsificação sob anestesia tópica no período de janeiro de 2009 a abril de 2011 foram revisados. Os dados pré-operatórios avaliados foram: sexo, idade, cor, a presença de doenças sistêmicas, comorbidades oculares, o tipo da catarata e a acuidade visual pré-operatória. As informações intra e pós-operatórias colhidas foram: acuidade pósoperatória, complicações intra e pós-operatórias, a necessidade de conversão anestésica e o poder da LIO utilizada. Foram excluídos pacientes com prontuários incompletos. Resultados: Cento e onze (111) casos foram avaliados. Apenas comorbidades oculares mostraram significância estatística na acuidade visual pós-operatória (p=0,004). Conclusão: A análise indica que a facoemulsificação realizada sob anestesia tópica em casos com complexidades variadas é eficaz e segura. Descritores: Facoemulsificação; Anestesia tópica; Anestesia/métodos, Comorbidades Registrado no clinicaltrials.gov com a seguinte ID: NCT01381783 ABSTRACT Purpose: To evaluate the outcome and safety of phacoemulsification performed under topical anesthesiain cases with several complexities. Methods: Cases performed under topical anesthesia from january 2009 to april 2011 were analyzed. Variables analyzed included patients age, sex, race, systemic diseases, eyes comorbidities, type of cataract, visual acuity before and after the surgery, complications, number of conversions to peribulbar anesthesia and IOL power. Patients with uncompleted data were excluded from analysis. Results: A total of 111 eyes were analyzed; only cases with ocular comorbidities were statistically significant (p=0,004). Conclusion: the data analysis suggests that phacoemulsification performed under topical anesthesia is safeand effective in cases of different complexities. Keywords: Phacoemulsification; Anesthesia,topical; Anesthesia/methods; Comorbidity Registrado no clinicaltrials.gov com a seguinte ID: NCT01381783 Residente do Instituto de Oftalmologia Ivo Correa-Meyer – Porto Alegre (RS), Brasil; Médico Preceptor do Instituto de Oftalmologia Ivo Correa-Meyer – Porto Alegre (RS), Brasil; 3 Pós-Doutor; Professor Titular de Oftalmologia, Universidade Federal de Pelotas (RS), Brasil. 1 2 Trabalho realizado na Universidade Federal de Pelotas (RS) e Curso de Especialização Prof. Ivo Corrêa-Meyer, Porto Alegre (RS), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 19/6/2012 - Aceito para publicação em: 11/2/2013 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 178-80 Facoemulsificação sob anestesia tópica: série de casos A INTRODUÇÃO anestesia tópica vem se popularizando nas cirurgias de catarata como uma opção segura e barata. Ela tem ampla aceitação especialmente nos EUA onde Ezra e Allan estimam que é adotada por 61% dos cirurgiões(1). Pode ser acompanhada de anestesia intracameral e de sedação do paciente. Mesmo que ambos diminuam a dor, nos estudos disponíveis na literatura não se encontra nenhuma diferença estatística significante a favor da necessidade dessa suplementação(1,2). Como vantagens desta técnica, destaca-se a ausência dos riscos das injeções na órbita e a recuperação funcional muito mais rápida. Além disso, elimina o risco de diplopia no pós-operatório, reduz o tempo e o custo da cirurgia(3), dispensa uso de oclusor, minimiza o risco de náuseas e mal-estar, permitindo a possibilidade de operar via transcorneana casos com distúrbio de coagulação(4). Estudos mostram que, apesar de potencialmente mais prováveis de produzir dor, as anestesias tópicas resultam em níveis de satisfação comparáveis às técnicas de anestesia tradicionais(5-7). A anestesia tópica, por outro lado, deve ser usada em pacien-tes selecionados e por um cirurgião experimentado. Não propiciando acinesia, pode ser perigosa em doentes pouco colaborativos(8,9). Deve-se estar preparado para usar formas de imobilização ocular caso necessário(10). A percepção de experiências visuais durante a cirurgia pode causar ansiedade ao paciente e convém ser informada no pré-operatório(11,12). Reflexo óculo-cardíaco pode ocorrer nessa modalidade de anestesia(13). Outra possível intercorrência é o risco de irritação causada pela instilação do anestésico, causando instabilidade do filme lacrimal, toxicidade corneana e reação alérgica(4). Existem poucos artigos na literatura disponíveis sobre a anestesia tópica relacionando com complicações trans e pós-operatórias. Desta forma a proposta deste trabalho foi a de analisar o uso desta técnica em uma série de casos. 179 colírio de cloridrato de tetracaína 1% (Anestésico® colírio) via transcorneana, sem o uso de suplementação intracameral, com e sem comorbidades. Todos foram operados pelo mesmo cirurgião, experimentado com a técnica (VS), utilizando-se dos equipamentos Universal II e Infinity (Alcon). Os dados pré-operatórios avaliados foram: sexo, a idade, a cor, a presença de doenças sistêmicas, comorbidades oculares e a acuidade visual pré-operatória. As informações intra e pósoperatórias colhidas foram: acuidade pós-operatória, complicações intra e pós-operatórias, a necessidade de conversão anestésica e o poder da LIO utilizada. Foram excluídos os casos sem as informações completas disponíveis nos prontuários e procedimentos onde trabeculectomia estava combinada. As variáveis foram analisadas através do programa STATA 11.0, utilizando-se os testes T de Student, Qui-Quadrado e Regressão Logística. Dois desfechos foram analisados: necessidade de conversão e acuidade pós-cirúrgica. Foram considerados significantes valores de p<0,05. RESULTADOS Foram analisados retrospectivamente os prontuários das cirurgias realizadas no setor de catarata de nossa instituição no período de janeiro de 2009 a abril de 2011. Os casos incluídos foram aqueles submetidos à facoemulsificação com o uso de Todos os casos operados neste período tinham as informações necessárias nos prontuários e foram incluídos no estudo (sem perdas). A média de idade foi de 72 anos (36-91 anos, DP=12), sendo que as mulheres representaram 56,4% dos casos. Doenças sistêmicas estavam presentes em 59,5% dos pacientes, sendo as mais comuns as moléstias cardiocirculatórias e o diabetes. Trinta e cinco por cento (35%) dos pacientes tinham comorbidades oculares, sendo as mais comuns o glaucoma (11 casos) e a DMRI (9 casos). Seis (6) casos com descolamento de retina prévio foram operados, três destes com silicone presente. Três (3) casos com retinopatia diabética proliferativa e 2 casos com buraco macular foram submetidos à cirurgia de catarata e foram incluídos no estudo. Os pacientes operados tinham acuidade visual média antes da cirurgia de 0,3 (0,4-0,7) (figura 1). A acuidade visual média pós-operatória foi de 0,8 (0,4-1,0) (p<0,001, teste T) (figura2). Cinco pacientes (4,5%) tiveram complicações transoperatórias, sendo que 3 tiveram ruptura de cápsula e 2 perda de vítreo. Em nenhum caso foi necessário converter a anestesia. Figura 1 Figura 2 Acuidade visual pré-operatória média de 0.3 Acuidade visual pós-operatória média de 0.8 MÉTODOS Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 178-80 180 Tavares VN, Colossi CG, Saalfeld V, Vilela MAP Não houve complicações pós-operatórias significativas. Em apenas um paciente foi necessário o uso de sedação (<1%). Sutura na incisão foi necessária em 2 pacientes (1,8%). Na regressão logística apenas um fator (comorbidade ocular) mostrou associação com acuidade visual pós-cirúrgica (p=0,004). Os demais (sexo, idade, raça, comorbidade sistêmica, tipo de catarata, acuidade pré-operatória, necessidade de sutura, tipo de implante) não mostraram associação. 2. DISCUSSÃO 5. Apesar do uso cada vez maior da anestesia tópica não são muitos os trabalhos comparativos e com adequado tamanho amostral disponíveis. Em 1996, Rezende e Bernardes apresentaram um estudo sobre a anestesia tópica na facotranscorneana temporal em 50 casos. A técnica mostrou-se eficaz e segura, permitindo conforto e rápida recuperação visual dos pacientes(14). Em uma série de 476 cirurgias, Jacobi et al. não encontraram diferença nas complicações intra e pós-operatórias comparando a anestesia tópica com a retrobulbar em olhos considerados de maior risco(15). Os mesmos autores, em outro estudo, não detectaram aumento nas complicações usando a anestesia tópica em pacientes glaucomatosos(16). Menapace analisou a capsulotomia posterior primária em uma série de 500 casos e escolheu a anestesia tópica como método, e esta se mostrou uma opção segura(17). Zhaoet al., em uma meta-análise de 15 estudos, mostraram que, apesar de uma maior percepção de dor por parte dos pacientes, a anestesia tópica foi preferida em relação às técnicas tradicionais(6). Em sua série de 40 cirurgias, Roman et al. registraram queixa de dor em 10% dos casos(18). Weller et al., em 281 olhos operados, obtiveram relato de dor em 16% das vezes(19). Fichman investigou a pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória dos pacientes submetidos à anestesia tópica e as outras modalidades, e não percebeu diferença nesses parâmetros(20). Não há, igualmente, diferença significativa no nível de cortisol durante a cirurgia, indicando que o procedimento é bem tolerado e não gera stress adicional ao paciente(20). Em nosso estudo, depois de testadas todas as variáveis, os casos com comorbidades oculares foram os mais relacionados com baixa acuidade visual e foram os únicos que tiveram significância estatística (p=0,004, qui-quadrado). Todas as outras variáveis não foram estatisticamente significantes na relação com baixa acuidade visual, ou necessidade de conversão. A amostra do estudo permite inferir que existe segurança na anestesia tópica, para casos com diferentes complexidades, quando feitas por cirurgiões experimentados. Nossa série incluiu olhos com glaucoma, vitrectomizados, com e sem óleo de silicone, e com ruptura capsular. O número de complicações encontradas nas cirurgias realizadas foi de 4,5%, percentual compatível com os dados encontrados na literatura e comparável com a chance de complicações de outras técnicas cirúrgicas(21).O manejo das intercorrências foi feito sem necessidade de conversão anestésica. A anestesia tópica é uma opção atrativa, de menor custo, segura e confortável, mesmo em casos com diferentes formas de complexidades. REFERÊNCIAS 1. Ezra DG, Allan BD. Topical anesthesia alone versus topical anaesthesia with intracamerallidocaine for phacoemulsification. Cochrane Database Syst Rev. 2007;(3):CD005276. Review. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 178-80 3. 4. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Ezra DG, Nambiar A, Allan BD. Supplementary intracamerallidocaine for phacoemulsification under topical anesthesia. A meta-analysis of randomized controlled trials. Ophthalmology. 2008;115(3):455-87. Malot J, Combe C, Moss A, Savary P, Hida H, Ligeon-LigeonnetP.[Cost of cataract surgery in a public hospital]. J FrOphtalmol. 2011;34(1):10-6. French. The Royal College of Anaesthetists and The Royal College of Ophthalmologists,Local anaesthesia for intraocular surgery. London; 2001. Disponível em http://www.anestesiaclinic. net/documents/oft/Ophthalmologic%20 Anesthesia%20Guidelines%20-%20RCARCO.pdf Gupta SK, Kumar A, Kumar D, Agarwal S. Manual small incision cataract surgery under topical anesthesia with intracameral lignocaine: study on pain evaluation and surgical outcome. Indian J Ophthalmol. 2009;57(1):3-7. Comment in Indian J Ophthalmol. 2010;58(1):83-4; author reply 84. Zhao LQ, Zhu H, Zhao PQ, Wu QR, Hu YQ. Topical anesthesia versus regional anesthesia for cataract surgery: a meta-analysis of randomized controlled trials.Ophthalmology. 2012; 119(4):659-67. Coelho RP,WeissheimerJ, RomãoE, Cruz AA. Comparação entre a dor provocada pela facoemulsificação com anestesia tópica e a pela infiltração peribulbar sem sedação. Arq Bras Oftalmol.2005;68(1):45-8 Ermisº SS, Öztürk F, Inan UU. Comparing the efficacy and safety of phacoemulsification in white mature and other types of senile cataracts.Br J Ophthalmol. 2003;87(11):1356-9. Rand WJ, Stein SC, Velazquez GE.Rand-Stein analgesia protocol for cataract surgery.Ophthalmology. 2000;107(5):889-95. The Royal College of Anaesthetists and the Royal College of Ophthalmologists. Local Anaesthesia for ophthalmic surgery: Joint guidelines from the Royal College of Anaesthetists and the Royal College of Ophthalmologists. London; 2012.Disponível em http:// www.rcoa.ac.uk/node/2272 Ang CL, Au Eong KG, Lee SS, Chan SP, Tan CS. Patients’ expectation and experience of visual sensations during phacoemulsification under topical anaesthesia.Eye (Lond). 2007;21(9):1162-7. 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Autor correspondente: Vinicius Neumann Tavares Rua Felix da Cunha, nº 496 Bairro Floresta Temuco Porto Alegre (RS), Brasilo - Fax: (51) 3346-3423 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL181 Relação entre estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico dos estudantes do quinto ano de medicina Relationship between learning styles and academic performance of fifth graders enrolled in the medical course Mario Pellón1,2, Sandra Nome3, Angélica Arán4 RESUMO Objetivo: O objetivo deste estudo foi determinar o(s) estilo(s) de aprendizagem dos estudantes do quinto ano do curso de medicina que frequentaram a disciplina de Oftalmologia e o nível de relação com o seu rendimento acadêmico. Métodos: Foram aplicados questionários de estilos de aprendizagem de Kolb e Programação Neurolinguística (PNL) para determinar o estilo de aprendizagem dos estudantes e estes foram relacionados com as avaliações finais obtidas. As variáveis foram analisadas através do teste r de Pearson. Resultados: Foi observado que existe relação entre as variáveis estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico (p ≤ 0,05). Segundo o modelo de Kolb os estudantes com estilo reflexivo obtiveram melhor rendimento e de acordo com o modelo PNL, foram os estudantes com estilo visual. Conclusão: As variáveis estilos de aprendizagem a partir dos modelos de PNL e Kolb atuam independentemente do rendimento acadêmico dos estudantes do curso de medicina, indicando predomínio dos estilos visual e reflexivo. Descritores:Aprendizagem; Estudantes; Oftalmologia; Fenômenos e processos psicológicos; Programação neurolinguística; Questionários ABSTRACT Objective: The aim of this study was to determine the learning styles of fifth-year medical students who attended the ophthalmology course and to also determine the correlation with their academic performance. Methods: Kolb’slearning style and neurolinguistic programming (NLP) questionnaires were applied and related tothe final grades obtained. The variables were analyzed using Pearson’s r test. Results:I trevealed a relation between the variables of learning styles and academic performance (p ≤ 0.05).According to Kolb’s model, students with better performance were reflective style and according to the NLP model, students with visual style.Conclusion: learning styles variables from the NLP mode land Kolb, actingin dependently of the academic performance of students ina medical career, marking the highest preference forthe visual style andreflective questionnaires applied based on both models.this study is consistent with other research in this field conducted with students of the samerace. Keywords: Learning; Students; Ophthalmology; Psychological phenomena processes; Neurolinguistic programming; Questionnaires Professor Associado da Universidad de La Frontera, Temuco, Chile; Programa de Doutorado em Ciências Morfológicas, Universidad de La Frontera, Temuco, Chile; 3 Professora, Escola de Educação da Universidad Mayor, Sede Temuco, Chile; 4 Doutora em Psicologia Humana, Universidad Mayor, sede Temuco - Temuco, Chile. 1 2 Instituição onde o trabalho foi desenvolvido: Universidade Mayor Temuco Chile. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 3/9/2012 - Aceito para publicação em: 24/11/2013 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 181-4 182 Pellón M, Nome S, Arán A A INTRODUÇÃO formação profissional na área médica se fortalece quando os profissionais que participam dessa formação se interessam em conhecer os processos cognitivos envolvidos no aprendizado de seus alunos, o que lhes possibilita ativar à luz desse conhecimento os processos cognitivos que permitem a seus alunos aprender melhor, fortalecer competências específicas sob a égide das mesmas e, portanto, garantir no futuro um melhor desempenho profissional (1). Reconhecer os estilos de aprendizagem baseados no Modelo de Kolb(2) e na Programação Neurolinguística de Bandler e Grinder(3-5), permite implementar estratégias de ensino que possibilitam a geração da ativação cognitiva específica necessária para uma determinada aprendizagem. A partir dos modelos de aprendizagem por experiência, que supõem que para aprender alguma coisa é necessário processar a informação recebida partindo de uma experiência direta ou concreta, foram identificados quatro modelos de estilos de aprendizagem: ativo, reflexivo, teórico e pragmático(2,3). Para aprender, o aluno deve trabalhar ou processar a informação recebida, a qual pode ser de uma experiência direta e concreta (ativo); de uma experiência abstrata, a qual é obtida através da leitura ou contada por alguém (teórico); de experiências concretas ou abstratas que se transformam em conhecimento quando se reflete ou se pensa sobre elas (reflexivo) ou experimentando de forma ativa a informação recebida (pragmático)(2). O modelo de estilos de aprendizagem da Programação Neurolinguística (PNL)(4) considera que a via de ingresso da informação ao cérebro é fundamental nas preferências daquele que aprende ou ensina. Este modelo estabelece que as pessoas possuem três sistemas para representar mentalmente a informação: visual, auditivo e sinestésico, os quais são utilizados de forma desigual, potencializando uns sobre os outros, com a capacidade de desenvolver-se ou formar-se intencionalmente (4,5). Algumas pesquisas sobre estilos de aprendizagem com estudantes de medicina são coincidentes em observar uma tendência dos mesmos para o estilo reflexivo baseado no modelo de Kolb. Em uma pesquisa com estudantes universitários e médicos residentes da Argentina foram confirmadas a presença de um estilo teórico e reflexivo (assimilador) no início do curso, contudo, ao finalizá-lo e no pós-graduação foi constatada a diminuição do estilo “assimilador”, especialmente às custas do crescimento “convergente” (6). Na mesma linha, num estudo realizado na Europa e na América Latina, verificou-se que no perfil dos estudantes de medicina predominavam os traços reflexivos e teóricos, os quais sobreporiam os estilos ativos e pragmáticos (7). Em outra pesquisa, foi comparada a média dos escores de estilos de aprendizagem em estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Valparaíso. Em média, o resultado foi 15,12 para o estilo de aprendizagem reflexivo, 13,35 para o teórico, 12,67 para o pragmático e 11,25 para o ativo (8). Neste estudo, se considerou importante incorporar a mensuração dos estilos de aprendizagem a fim de melhorar o planejamento das disciplinas em relação aos métodos de ensino-aprendizagem utilizados. Além disso, num estudo realizado com estudantes que entram no curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC), os resultados obtidos foram condizentes com os da literatura que indica, que em geral, as ciências básicas atraem preferencialmente aprendizes abstratos, enquanto que as carreiras artísticas e humanísticas a aprendizes concretos.(9) Neste sentido, podemos esperar que o desempenho acadêmico dos estudantes com habilidades abstrato-reflexivas proporcione vantagens no ciclo básico do curso e os concreto-ativos no ciclo clínico e internato. O estudo conclui que de cada 10 estudantes que entram na escola de medicina da PUC, 7 se caracterizam por analisar a informação de uma forma lógica, objetiva e imparcial. Na Universidade Autônoma do México, por sua vez, ao se idenRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 181-4 tificar os estilos de aprendizagem em estudantes de medicina e sua relação com a escola de procedência, gênero e mudança no estilo, o estilo reflexivo volta a ter maior predomínio e o estilo ativo a mais baixa predominância(10). Uma avaliação comparativa dos estilos de aprendizagem em estudantes de graduação na disciplina de patologia, médicos residentes e profissionais da carreira docente, resultou na preponderância que vem sendo apontada, que nos estilos de alunos de medicina, de médicos residentes e de profissionais que estão exercendo a carreira docente há predominância do estilo reflexivo (11). Em função da importância que tem o domínio do conhecimento sobre a maneira como os estudantes processam a informação e desenvolvem competências específicas a partir de seus estilos de aprendizagem (12), procurou-se neste estudo abordar o reconhecimento dos estilos de aprendizagem dos estudantes do quinto ano do curso de Medicina que frequentaram a disciplina de Oftalmologia na Universidade Mayor, sede Temuco - Chile. Com isso espera-se melhorar a prática docente no sentido de fortalecer a ativação dos processos cognitivos e de processamento da informação(1), de forma que permita aos clínicos gerais fazer um diagnóstico diferencial correto e assim instaurar o tratamento adequado e, além disso, saber quando encaminhar ou não o paciente ao especialista. MÉTODOS Foi projetado um estudo do tipo descritivo, transversal e correlacional para determinar os estilos de aprendizagem dos estudantes do quinto ano de Medicina da Universidade Mayor, sede Temuco - Chile, que frequentaram a disciplina de Oftalmologia no segundo semestre de 2011. A disciplina foi cursada por 26 estudantes, dos quais 19 (13 mulheres e 6 homens) aceitaram participar deste estudo. Os modelos de estilos de aprendizagem foram determinados aplicando o Questionário de Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem (QHAEA) a partir do modelo de Kolb(2) e o questionário para identificar o tipo de inteligência de percepção dominante (Modelo PNL) Bandler e Grinder (4,5), aplicados no início da disciplina. Os estudantes fizeram 3 provas parciais (70%, o peso relativo da nota ponderada) e um exame final (30%, o peso relativo da nota ponderada), dos quais se obteve a média final. As avalia-ções foram teórico-práticas. Foi analisada a correlação entre as variáveis dos modelos de estilo de aprendizagem e as médias finais dos estudantes através do teste r de Pearson, com nível de significância de p ≤ 0,05. RESULTADOS Apresenta-se primeiramente os resultados associados à distribuição dos exames finais na disciplina de Oftalmologia (figura 1), em seguida, as correlações entre os estilos de aprendizagem e desempenho acadêmico, e finalmente a predominância dos estilos de acordo com o modelo de Kolb e da PNL (tabela 1). Os estudantes têm em média um desempenho que se concentra em valores superiores a 5,0. Não existe dispersão de casos entre os valores 4,4 e 5,8. Os estudantes que mostraram um melhor rendimento tendem para um estilo de aprendizagem reflexivo e teórico baseado no modelo de Kolb(2), e visual e cinestésico, segundo PNL(4). Aplicado o coeficiente de correlação r de Pearson, as variáveis estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico obtêm valores a nível de significância inferiores a 0,5 e portanto, podemos afirmar que ambas as variáveis atuam com independência. Realizada a análise descritiva de relações entre variáveis quantitativas (rendimento) e qualitativas (estilos de aprendizagem) observa-se que os resultados tendem a concentrar-se nas categorias visual e sinestésica conforme o modelo de estilos de aprendizagem PNL. Isto implica que os sujeitos deste estudo que possuem um estilo visual têm melhor rendimento na disciplina de Oftalmologia, seguidos daqueles cujas representações mentais da informação situam-se no sinestésico. Relação entre estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico dos estudantes do quinto ano de medicina Figura 1 Distribuição dos exames finais dos estudantes do quinto ano do Curso de Medicina da Universidade Mayor, sede Temuco - Chile, na disciplina de Oftalmologia 183 Como mostra a figura 2 a média mais alta dos estilos de aprendizagem dos estudantes do quinto ano do Curso de Medicina na disciplina de Oftalmologia da Universidade Mayor (sede Temuco) determinados pelo QHAEA, baseado no modelo de Kolb,(2)ocorreu no estilo reflexivo com uma média de 15,3 seguido do estilo teórico com um valor de 14,1. Os resultados obtidos do questionário de estilos de aprendizagem do Modelo PNL(4) mostraram o valor mais alto para o estilo visual com 47%, seguidos dos estilos cinestésico e auditivo, com valores de 28% e 24%, respectivamente(Figura 3). DISCUSSÃO A formação universitária de um médico requer, no campo da Oftalmologia, o desenvolvimento de competências específicas para realizar um bom diagnóstico da patologia ocular, o que implica em melhorar suas capacidades de aprendizagem visual, para que a partir da clínica geral possa contribuir para a saúde dos pacientes evitando riscos posteriores com diagnósticos mal realizados e patologias não detectadas oportunamente. Neste aspecto é de grande ajuda o uso de realidades virtuais(13), uma vez que os campos clínicos são cada vez mais escassos e com limitações em seu uso. Tabela1 Correlação de Pearson entre as variáveis dos estilos de aprendizagem segundo modelo de Kolb(3) e as notas dos estudantes do quinto ano de Medicina na disciplina de Oftalmologia da Universidade Mayor, sede Temuco – Chile Correlações Média final do aluno Estilo ativo Estilo reflexivo Estilo teórico Estilo pragmático Correlação de Sig. (bilateral) N Correlação de Sig. (bilateral) N Correlação de Sig. (bilateral) N Correlação de Sig. (bilateral) N Correlação de Sig. (bilateral) N Pearson Pearson Pearson Pearson Pearson Média final do aluno Estilo ativo Estilo reflexivo Estilo teórico Estilo pragmático 1,000 0,307 0,201 19 1 0,344 0,150 19 -0,220 0,365 19 1 -0,091 0,711 19 -0,383 0,105 19 0,601** 0,007 19 1 0,174 0,477 19 0,431 0,065 19 0,259 0,284 19 0,209 0,391 19 1 19,00 0,307 0,201 19 -0,344 0,150 19 -0,091 0,711 19 0,174 0,477 19 19 -0,220 0,365 19 -0,383 0,105 19 0,431 0,065 19 19 0,601** 0,007 19 0,259 0,284 19 19 0,209 0,391 19 19 (**) A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral) Figura 2 Figura 3 Caracterização dos estilos de aprendizagem de acordo com o modelo de Kolb Caracterização dos estilos de aprendizagem de acordo com o modelo de Programação Neurolinguística (PNL) Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 181-4 184 Pellón M, Nome S, Arán A Metodologicamente os docentes nem sempre utilizam uma informação que lhes permita conhecer seus alunos sob esta perspectiva(4,6,14), e ainda, identificar aqueles condicionantes, que no âmbito da Oftalmologia, possibilitem ativar processos cognitivos que desenvolvam a capacidade para um bom exame oftalmológico. Este fato se torna relevante em função do alto número de pacientes que chegam aos serviços de urgência com patologias oculares que não foram diagnosticadas oportunamente pelo médico generalista, o que pode prejudicar o curso clínico de uma doença. Considerando os estilos de aprendizagem baseados no modelo de Kolb, as conclusões deste estudo são coincidentes com as de outros trabalhos realizados nesta linha com estudantes de medicina no que diz respeito à prevalência do estilo reflexivo. Assim, estes estudantes percebem a informação de maneira mais abstrata, mas procedem reflexivamente, ou seja, respondem de modo mais assimilador e analítico, com um enfoque de pensamento divergente. Por sua vez, a partir deste estilo assumem uma postura de observador, analisando suas experiências de distintos pontos de vista, o que os faz precavidos, observando todas as implicâncias de qualquer ação antes de atuar. O estilo teórico marcou a segunda tendência de aprendizagem, onde os sujeitos adaptam e integram as observações que realizam em teorias complexas e bem fundamentadas logicamente. Analisam e sintetizam a informação e em suas atuações primam a lógica e a racionalidade. A distribuição das melhores avaliações obtidas pelos estudantes na disciplina de Oftalmologia tendem a concentrar-se com maiores pontuações nas categorias visual e sinestésica, conforme o modelo de estilos PNL(4). Destes, o primeiro estilo se observou na maioria dos estudantes. No estilo visual, os estudantes preferem o estético, dando importância à imagem, falam rápido e as imagens em sua cabeça passam em alta velocidade(12). Com este estilo, se aprende observando demonstrações e procedimentos. Nos processos de leitura preferem as descrições, com um olhar minucioso imaginam as cenas de forma intensa e detalhada. No estilo sinestésico, os estudantes aprendem fazendo, envolvendo-se diretamente, movem-se quando leem, lembram melhor o que realizaram e não dão maior importância às imagens. Os estilos são relativamente estáveis, mas podem ser modificados nos ambientes de aprendizagem nos quais os estudantes convivem quando é possível direcionar, a partir da função docente, o descobrimento dos mesmos para aprender a adaptalos às suas experiências educativas. Assim, existem experiências de ensino no uso de novos instrumentos para examinar o fundo de olho, com resultados na aprendizagem de seu uso e capacidade diagnóstica em apenas oito semanas.(15) A implementação de protótipos didáticos ou estratégias específicas de ensino(16), baseados no reconhecimento dos estilos de aprendizagem, podem favorecer aos futuros médicos na realização de um diagnóstico preciso e oportuno das patologias oculares em seus pacientes a partir da clínica geral, contribuindo para melhorar a saúde visual da população (17). Limitações Dentro das limitações do presente estudo deve ser mencionado que se desconhece o estilo de aprendizagem que os estudantes tinham no seu ingresso na escola de medicina, e, além disso, se este estilo mudou no decorrer dos quatro primeiros anos. Da mesma forma, ao longo do tempo não foi feito um acompanhamento do grupo de estudantes participantes deste estudo de maneira que fosse possível detectar eventuais efeitos em seu rendimento proveniente do conhecimento que cada um deles teve do seu estilo de aprendizagem. Outra limitação foi não contar com estudos prévios neste grupo de estudantes que permitissem comparar o possível efeito de outros métodos de ensino-aprendizagem que tenham sido aplicados nos mesmos. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 181-4 CONCLUSÃO Os estilos de aprendizagem dos estudantes do quinto ano de medicina, na disciplina de Oftalmologia, não afetam seu rendimento acadêmico, ou seja, ambas as variáveis atuam com independência uma da outra. Ainda que as variáveis não se correlacionem a um nível de significância superior a 0,05 os melhores rendimentos acadêmicos indicam tendência para o estilo visual baseado no modelo de PNL e reflexivo baseado no modelo de Kolb. Considerando os estilos de aprendizagem e suas predisposições, baseado no modelo de PNL aplicado nos sujeitos desse estudo, os mesmos indicam maior tendência ao estilo visual. Conforme a aplicação do questionário QHAEA baseado no modelo de Kolb, o estilo reflexivo, seguido do teórico foram os mais frequentes nos estudantes que fizeram parte desse estudo. A formação profissional no campo da medicina e Oftalmologia, poderia melhorar caso os docentes conhecessem os processos cognitivos implicados na aprendizagem de seus alunos e direcionassem técnicas docentes que determinassem um melhor rendimento acadêmico. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Biggs J. Calidad del aprendizaje universitario. 2a ed. Madrid: Narcea; 2006 Kolb DA. 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Autor correspondente: Dr. Mario Pellón Oftalmólogo Mcs Profesor Asociado Facultad de Medicina Universidad de la Frontera, Casilla 54-D Temuco - Chile - Teléfono: 56-45-325570 - Fax: 56-45-325600 E-mail: [email protected] RELATO DE CASO185 Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from exsudative age-related macular degeneration treated with intravitreal ranibizumab therapy Lesão neovascular predominantemente hemorrágica da degeneração macular relacionada à idade, tratada com ranibizumab intravítrea Miguel Hage Amaro1; Aaron Brock Holler2 ABSTRACT The authors relate a predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from neovascular. Age-related macular degeneration patient case treated with intravitreal ranibizumab therapy. Monthly ranibizumab (six intravitreal injections) displayed a promising response but this limited report is insufficient to guarantee the indication for all predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from neovascular age-related macular degeneration. Further studies will be necessary for complete validation of our results for all predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions from CNV due to AMD. Keywords: Macular degeneration/drug therapy; Choroidal neovascularization/drug therapy; Angiogenesis inhibitors/therapeutic use; Antibodies monoclonal; Case reports RESUMO Os autores apresentam um caso de paciente com lesão neovascular predominantemente hemorrágica com degeneração macular relacionada à idade, tratada mensalmente com injenções intravítrea com ranibizumab. Discutem sua evolução, que apesar da boa resposta terapêutica, necessita de maiores estudos para confirmação de seus resultados. Descritores: Degeneração macular /quimioterapia; Neovascularização coroidal/quimioterapia; Inibidores da angiogênese/uso terapêutico; Anticorpos monoclonais/uso terapêutico; Relato de casos 1 2 Private Practice. Belém (PA) Brazil; Retina Service, University of Iowa, USA. Study carried out at Retina Service,University of Iowa,USA The authors declare no conflicts of interest Recebido para publicação em: 22/7/2011 - Aceito para publicação em: 10/6/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 185-7 Amaro MH, Holler AB 186 P INTRODUCTION redominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions are defined as present when at least 50% of the choroidal neovascular lesion is occupied by blood under the retina (1,2) . Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions are caused by choroidal neovascularization (CNV) from agerelated macular degeneration (AMD) and display a poor prognosis.1-4 At three years of follow-up, the visual outcomes in such cases are reported to be 20/1700 and patients have lost an average of 3.5 lines of Snellen visual acuity (VA) (3,4). The hemorrhage thickness impacts more highly on the final visual acuity than the hemorrhage area, although both display significant visual effects (3). One mechanism of damage is from a subretinal blood barrier effect that prevents photoreceptors from receiving metabolic support from the retinal pigment epithelium and choroids.3,5 The natural course of hemorrhages improve in those not affected by AMD, even in thick hemorrhages, although some experimental models have shown irreversible photoreceptor damage (5). The visual prognosis improves when the hemorrhage is subretinal, as compared to below the retinal pigment epithelium (RPE), in that when patients with subretinal neovascularization from AMD bleed, the blood spreads beneath the RPE and penetrates the subretinal space (6,7). In other conditions, such as trauma or the presumed ocular histoplasmosis syndrome, the hemorrhage is present almost exclusively in the subretinal space.6,7 No randomized clinical trials have provided an effective treatment for predominantly hemorrhagic lesions. Submacular surgical trials (SST) found that evacuation of the hemorrhage and associated CNV did not improve or stabilize vision (2) . The pneumatic displacement of the hemorrhage to avoid possible photoreceptor toxicity and allow visualization of the underlying CNV with subsequent photodynamic therapy treatment or intravitreal agents has also been suggested as a treatment approach. However, no definitive evidence of the precise risks and benefits, Figure 1: Geographic atrophy from AMD Figure 4: Late phase of fluorescein angiography showing blockage of subretinal hemorrhage and staining in areas of geographic atrophy Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 185-7 as compared to no-treatment or intravitreal anti-vascular endothelial growth factors and drugs including ranibizumab or bevacizumab, have been demonstrated (4-16). The aim of this report was to assess the results of a predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from a exsudative AMD patient treated with intravitreal ranibizumab therapy. CASE REPORT A caucasian 78-year old woman who was followed due atrophic geographic AMD (figure 1), right eye color image in both eyes using AREDS formulation displayed a subtle visual loss in her right eye. Through ophthalmological evaluation, the visual acuity was counting fingers in the right eye and 20/200 in the left eye. The anterior segment was unremarkable in both eyes. Fundoscopic examination (figure 2) displayed a predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion overlying an inferior region of the extense area of a pre-existing geographic AMD. Fluorescein angiography (figure 3 and 4) showed a blockage of fluorescein due to extensive subretinal hemorrhage (predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions) and dye staining in the residual atrophic area. The stratus OCT presented a central subfield thickness of 649 microns. The patient was treated with monthly intravitreal ranibizumab (0.5 mg/0.05ml), receiving six injections for a total of six months. During this time, Argon green laser photocoagulation around the site of choroidal neovascularization was performed. At the end of the treatment period, the subretinal hemorrhage reabsorbed and subretinal fibrosis developed (figure 5). The visual acuity improved to 20/ 200 in the eye, with no recurrences in the two years of follow-up. DISCUSSION Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions due to AMD have not been enrolled in clinical studies. 17-20 However, randomized trials using photodynamic therapy with Figure 2: Color picture showing subretinal hemorrhage Figure 3: Fluorescein angiography showing blockage of dye due subretinal hemorrhage Figure 5: Color picture showing reabsortion of hemorrhage and residual subretinal fibrosis Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from exsudative age-related macular degeneration treated with intravitreal ... verteporfin, intravitreal pegaptanib or intravitreal ranibizumab specifically excluded this type of lesion.17-20 Data from MARINA and ANCHOR trials for predominantly hemorrhagic lesions must be performed with caution as it is unclear whether the efficacy of ranibizumab for predominantly hemorrhagic lesions is modulated by the presence of large areas of subretinal blood.19,20 Current research has not indicated whether these drugs can penetrate the target site of the CNV. Although clinical trials have provided no effective treatments for predominantly hemorrhagic lesions, submacular surgery trials (SST) found that surgery for hemorrhages and associated CNV did not improve or stabilize vision.2 A report of a case series reported that the visual acuity of the subjects treated may have been limited through pre-existing retinal damage and subretinal fibrosis due to CNV or the subsequent loss of retinal tissue from the hemorrhage or from the ensuing fibrotic destruction of retinal tissue.15 Intravitreal bevacizumab and ranibizumab therapy for predominantly hemorrhagic CNV has been reported.(15,16) A case series of bevacizumab in 21 eyes of 19 patients found an improvement in the Snellen VA based on at least a single letter improvement in 48% of the treated eyes, no letter changes in 9%, and a single letter or greater decrease in the Snellen VA in 43% of subjects, 4 months following the first injection(17). The median VA did not change from baseline to 4 months and remained at 20/100. When 12 of these eyes were followed for 1 year, only 25% maintained an improvement in vision, 17% displayed no changes and 58% lost at least a single letter of vision. In the ranibizumab series at 12 months, the median visual acuity letter score was 30 (Snellen equivalent: 20/250), with a median change from baseline to last follow-up of +7 letters.16 Three of 7 subjects (43%) gained 2 or more lines of vision, whilst no subjects lost 2 or more lines. Three months of treatment with Sulfur hexafluoride gas, an intravitreal tissue plasminogen activator, and bevacizumab injection in 19 patients with relatively small hemorrhagic lesions, improved the mean VA from 20/133 to 20/74 (21). However, this study included only small sized hemorrhages and no extended follow up was performed. In the present case, monthly ranibizumab (six intravitreal injections) displayed a promising response but this limited report is insufficient to guarantee the indication for all predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions from CNV due to AMD. Further studies will be necessary for complete validation of our results. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Acknowledgement To professor James Folk, MD, chief of the Vitreoretina service of Iowa University REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. Solomon SD, Bressler SB, Hawkins BS, Marsh MJ, Bressler NM; Submacular Surgery Trials Research Group. Guidelines for interpreting retinal photographs and coding findings in the Submacular Surgery Trials (SST): SST report no. 8. Retina. 2005;25(3):253-68. Bressler NM, Bressler SB, Childs AL, Haller JA, Hawkins BS, Lewis H, MacCumber MW, Marsh MJ, Redford M, Sternberg P Jr, Thomas MA, Williams GA; Submacular Surgery Trials (SST) Research Group. 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N Engl J Med. 2006;355(14):1493-5. Meyer CH, Scholl HP, Eter N, Helb HM, Holz FG. Combined treatment of acute subretinal haemorrhages with intravitreal recombined tissue plasminogen activator, expansile gas and bevacizumab: a retrospective pilot study. Acta Ophthalmol. 2008;86(5):490-4. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 185-7 RELATO DE CASO 188 Alterações eletrofisiológicas na doença de Oguchi Electrophysiological findings in Oguchi disease Regina Halfeld Furtado de Mendonça1, Stefania Abbruzzese2, Rocco Plateroti3, Pasquale Plateroti4, Eliana Lucia Ferreira5 RESUMO Descrever as alterações eletrofuncionais em um caso raríssimo da Doença de Oguchi. Paciente do sexo feminino, italiana de 17 anos de idade se queixava de cegueira noturna. A resposta escotópica de bastonetes, do ERG era não registrável. A resposta escotópica ao estímulo branco forte demonstrava uma diminuição de amplitude da onda B. As respostas ao flicker de 30Hz e ao EOG eram dentro dos limites da normalidade. Era presente o fenômeno de Mizuo-Nakamura. Os exames eletrofuncionais são muito importantes no diagnóstico de certeza da doença de Oguchi. É nítida, no presente caso, a discordância entre EOG e ERG. Considerando a função dos bastonetes, as respostas normais do EOG contrastam com a ausência de respostas dos bastonetes em condições escotópicas no ERG. Mais estudos são necessários para entender o complexo mecanismo eletrofuncional dessa doença e melhor definir a origem dos componentes sensíveis à luz do EOG. Descritores: Cegueira noturna; Doença de Oguchi; Eletrorretinografia; Eletro-oculografia; Fenômeno de Mizuo-Nakamura; Relatos de casos ABSTRACT To describe the electrophysiological alterations in a very rare case of Oguchi's disease. A 17-year-old italian girl complaining of night blindness underwent complete ophthalmological exams, including electrophysiological tests. Rod responses were nondetectable in fullfield electroretinogram (ERG). The photopic ERG funtions, including the 30 Hz flicker ERG response was normal, while the scotopic b-wave was diminished in amplitude. The electrooculography (EOG) ratios within the normal range were 208% in the right eye and 222% in the left eye. The Mizuo-Nakamura phenomenon was present. The electrophysiological tests are important tools in Oguchi's disease diagnosis. In the present case, it's clear the non correspondance between EOG and ERG. Considering the rod function, the normal EOG ratio contrast with non-detectable rod ERG responses. More studies are necessary to understand the compless electrofuntional mecanism of the disease helping to understand the origin of the light-sensitive component of the EOG. Keywords: Night blindness; Oguchi's disease; Electroretinography; Electrooculography; Mizuo-Nakamura phenomenon; Case reports 1 2 3 4 5 Doutor, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil; Professor convidado da Universidade La Sapienza, Roma - Itália; Especialista pela Universidade La Sapienza, Roma - Itália; Professor da Universidade La Sapienza, Roma - Itália; Aluno da graduação da Universidade La Sapienza, Roma - Itália; Doutor, professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil. Trabalho realizado na Universidade La Sapienza - Roma - Itália; Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 7/8/2011 - Aceito para publicação em: 24/10/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 188-90 Alterações eletrofisiológicas na doença de Oguchi INTRODUÇÃO E xistem três formas de cegueira noturna estacionária (CNE): cegueira noturna congênita estacionária(CNCE), fundus albipunctatus e doença de Oguchi. A doença de Oguchi é uma forma rara, congênita, autossômica recessiva de CNE, caracterizada por uma peculiar descoloração acinzentada ou verde-amarelada do fundo do olho 1, que reverte à normalidade após uma prolongada adaptação ao escuro (fenômeno de Mizuo-Nakamura)(2). Pacientes com doença de Oguchi podem ser classificados em dois tipos, dependendo da morfologia da curva de adaptação ao escuro1. No tipo I, a adaptação dos bastonetes é marcadamente lenta. Nesse caso, a função se recupera totalmente após horas de adaptação ao escuro e os traçados são normais ou discretamente alterados. No tipo II, a adaptação de bastonetes não é evidenciada, a alteração da retina é menos evidente e o fenômeno de Mizuo pode ser ausente. As alterações eletrofuncionais são muito importantes no diagnóstico de certeza na doença de Oguchi. Os exames de eletrorretinograma e eletro-oculograma ajudam a entender o complexo mecanismo dessa doença. O objetivo deste trabalho é descrever as alterações eletrofuncionais em um caso raríssimo da doença de Oguchi. RELATO DE 189 O potencial oscilatório era alterato (figura 2C). As respostas fotópicas (figura 2D) e ao flicker de 30Hz (figura 2E) eram dentro dos limites da normalidade. A resposta do eletro-oculograma (EOG) era de 208%, no olho direito, e de 222%, no olho esquerdo (Figura 2F). Era presente o fenômeno de Mizuo-Nakamura. CASO Paciente do sexo feminino, branca, italiana de 17 anos de idade se queixava de cegueira noturna. Negava doenças sistêmicas ou outros antecedentes pessoais. A paciente foi submetida a exame oftalmológico completo, incluindo exames eletrofuncionais na Universidade la Sapienza em Roma no ano de 2007. O eletrorretinograma de campo total foi realizado com o aparelho da Metrovision (MONPAK3 Moniteur Ophtalmologique Electrophysiologie visuelle). Os estímulos utilizados foram os padronizados pela ISCEV: resposta de bastonetes (luz branca fraca em condições escotópicas), resposta máxima (luz branca forte em condições escotópicas), potencial oscilatório, resposta de cones (luz branca forte em condições fotópicas), e flicker de 30 Hz. O eletrooculograma, de oscilação lenta, foi realizado com o aparelho da Biomedica Mangoni BM6000-MAXI. O paciente foi pré-adaptado por um período de 15 minutos. A acuidade visual era de 20/20 nos dois olhos. Os exames de biomicroscopia e tonometria eram normais. No exame fundoscópico, evidenciava-se o aspecto amarelo metálico, com vasos de coloração acentuada (figura 1). No ERG, a resposta de bastonetes (luz branca fraca em condições escotópicas), não era registrável(figura 2A). A resposta máxima (luz branca forte em condições escotópicas) demonstrava uma diminuição de amplitude da onda b (Figura 2B). Figura 2 : A) A resposta de bastonetes (luz branca fraca em condições escotópicas), não era registrável; B) A resposta máxima (luz branca forte em condições escotópicas) demonstrava uma diminuição de amplitude da onda B; C) Resposta do potencial oscilatório; D e E) A resposta fotópica e ao flicker de 30Hz era dentro dos limites da normalidade; F) EOG dentro dos limites da normalidade em ambos os olhos COMENTÁRIOS Figura 1: A retinografia documenta o aspecto amarelo metálico com vasos de coloração acentuada, típica da doença de Oguchi. A doença de Oguchi é uma forma de CNE muito rara. No Brasil, poucos casos foram descritos(2). Talvez a mais relevante característica da resposta elétrica na Doença de Oguchi seja a Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 188-90 190 Mendonça RHF, Abbruzzese S, Plateroti R, Plateroti P, Ferreira EL falta de correspondência entre a sensibilidade visual e a amplitude da onda B, apesar dos traçados escotópicos se normalizarem geralmente após 4 horas de adaptação ao escuro; a onda b permanece muito reduzida(4). No exame fundoscópico, evidenciava-se o aspecto amarelo metálico, típico da doença de Oguchi (5,6). O fenômeno de Mizuo-Nakamura era presente (2,5,6) e a adaptação dos bastonetes era marcadamente lenta, tratando-se, provavelmente, de uma doença de Oguchi tipo I. É importante ressaltar que os fenômenos de Mizuo-Nakamura, verificados no fundo do olho, e a curva de adaptação ao escuro podem não se correlacionar (4). No ERG, a resposta de bastonetes (luz branca fraca em condições escotópicas), era não registrável e a resposta máxima (luz branca forte em condições escotópicas) demonstrava uma diminuição de amplitude da onda B, concordando com a literatura segundo a qual, em condições escotópicas, a amplitude da onda a é normal e da onda B é marcadamente diminuída ou ausente (7) . As respostas dentro dos limites da normalidade ao flicker de 30 Hz confirmam a perfeita função dos cones, fato comum na doença de Oguchi (4). O EOG dentro dos limites da normalidade concorda com alguns casos já relatados (4) e discorda de outros (8). Exames histológicos demonstram que os bastonetes estão presentes e que existe uma adaptação secundária, demonstrando que, em certas circunstâncias, esses bastonetes podem funcionar. Acredita-se também que os bastonetes possam ter dificuldades de converter a energia luminosa em nervosa por causa da menor concentração ou ausência de pigmentos fotossensíveis(9). De qualquer modo, a resposta normal do EOG confirma a hipótese de que a fase sensível à luz do EOG pode não depender somente da função dos bastonetes. Os exames eletrofuncionais são muito importantes no diagnóstico de certeza da doença de Oguchi. É nítida, no presente caso, a discordância entre EOG e ERG. Considerando a função dos bastonetes, as respostas normais do EOG contrastam com a ausência de respostas dos bastonetes em condições escotópicas no ERG. Mais estudos são necessários para se entender o complexo mecanismo eletrofuncional dessa doença e melhor definir a origem dos componentes sensíveis à luz do EOG. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 188-90 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Krill AE. Congenital stationary night-blindness. In: Krill AE. Krill's hereditary retinal and choroidal disease. Maryland, USA: Harper & Row; 1977. v. 2. p. 391-420. Mizuo G. On new discovery in dark adaptation in Oguchi's disease. Acta Soc Ophthalmol Jpn. 1913;17:1148-50. 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Autor correspondente: Regina Halfeld Furtado de Mendonça Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Faculdade de Educação Física e Desportos, Grupo de Pesquisa em Inclusão, Movimento e Ensino à Distância - Campus Universitário s/nº Bairro - Martelos CEP 36036-900 - Juiz de Fora (MG), Brasil Fone: 55 (32) 2102-3283 E-mail: [email protected] RELATO DE CASO191 Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade anoftálmica com injeção intralesional de ácido tricloroacético (ATA) a 25% Treatment of conjunctival cysts in anophthalmic socket with intralesional injection of trichloroacetic acid (ATA) 25% Fabricio Lopes da Fonseca1, Renata de Iracema Pulcheri Ramos2 , Suzana Matayoshi3 RESUMO Cistos conjuntivais em cavidades anoftálmicas podem ter implicações funcionais e estéticas negativas para os pacientes. Dentre as opções terapêuticas disponíveis, o uso do ácido tricloroacético é relativamente recente. Os casos relatados apresentaram boa evolução após 30 dias do tratamento, sendo bem tolerado pelos pacientes e possibilitando maior preservação de tecido conjuntival. Descritores: Doenças da túnica conjuntiva/quimioterapia; Órbita; Ácido tricloroacético/uso terapêutico; Ácido tricloroacético/ administração & dosagem; Prótese ocular; Relatos de casos ABSTRACT Conjunctival cysts in anophthalmic socket may have functional and aesthetic implications for the patients. Among the available treatment options, the use of trichloroacetic acid is relatively recent. Our reported cases showed a good outcome after 30 days of treatment, that was well tolerated by patients, with greater conjunctival tissue preservation. Keywords: Conjunctival diseases/drug therapy; Orbit; Trichloroacetic acid/therapeutic use; Trichloroacetic acid/administration & dosage; Eye, artificial; Case reports Médico Oftalmologista; Fellow do Setor de Plástica Ocular, divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil; 2 Médica Oftalmologista, preceptora da Divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil; 3 Livre-docente, professora associada e Chefe do Setor de Plástica Ocular, divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. 1 Setor de Plástica Ocular - Divisão de Clínica Oftalmológica - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 14/10/2011 - Aceito para publicação em: 21/12/2011 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 191-3 192 Fonseca FL, Ramos RIP, Matayoshi S INTRODUÇÃO C isto cojuntivais são complicações que ocorrem em cavidades anoftálmicas, podendo acarretar descon- forto local e dificuldade na aposição da prótese ocular na superfície anterior da cavidade. As opções terapêuticas incluem excisão, marsupialização e alcoolização (1,2). O uso de ácido tricloroacético (ATA) é relativamente novo nessa situação (3,4). Relatamos o uso de ATA 25% em três casos de cistos conjuntivais. Figura 1: Aspecto antes (esquerda) e depois (direita) da injeção de ATA 25% MÉTODOS Os pacientes foram posicionados em decúbito dorsal horizontal. Instilou-se uma gota de colírio de proximetacaína a 0,5% 5 minutos e imediatamente antes do procedimento. Após antisepsia, assepsia e colocação de blefarostato, o cisto foi puncionado com agulha 31 x 4 mm conectada a seringa de 3ml, contendo 1 ml de solução aquosa de ATA 25%. O conteúdo aspirado foi então reinjetado, até o cisto adquirir aparência esbranquiçada. O conteúdo foi então novamente aspirado até o colabamento das paredes do cisto. Os pacientes utilizaram colírios de ofloxacino 0,3% e prednisolona 1%, uma gota a cada 6 horas, por 7 dias. Foram reavaliados após 1 semana e também após 1 mês do procedimento. RELATO DE CASOS Caso 1: Paciente de 54 anos de idade, sexo masculino, submetido à evisceração de olho esquerdo após perfuração ocular há 2 anos. Encaminhado ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival à esquerda de aumento gradual há 3 meses e dificuldade de uso da prótese ocular. O paciente foi submetido à injeção de 1ml de ATA 25% intralesional (Figura 1), porém não retornou para seguimento ambulatorial. Caso 2: Paciente de 56 anos de idade, sexo feminino, submetida a 2 transplantes de córnea tectônicos em olho esquerdo, sendo o último há 1 ano. Evoluiu com phitisis bulbi. Encaminhada ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival de aumento gradual há 6 meses. Relatava desconforto local ao piscar. A paciente foi submetida à injecão de 1ml de ATA 25% intralesional. Em seguimento atual de 1 mês pós procedimento, apresenta-se sem queixas (figura 2) . Caso 3: Paciente de 78 anos de idade, sexo feminino, submetida à evisceração de olho esquerdo há 3 anos por endoftalmite pós-operatória. Encaminhada ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival de aumento gradual há 9 meses e desconforto ao uso da prótese ocular. A paciente foi submetida à injecão de 1ml de ATA 25% intralesional. Em seguimento atual de 1 mês pós-procedimento, apresenta-se sem queixas (figura 3) . DISCUSSÃO O procedimento foi bem tolerado por todos os pacientes, que relataram leve desconforto durante a aplicação do ATA 25%. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 191-3 Figura 2: Em sentido horário, da figura superior à esquerda: aspecto antes, imediatamente após, no 7o dia e no 30o dia após a injeção de ATA 25% Figura 3: Em sentido horário, da figura superior à esquerda: aspecto antes, imediatamente após, no 7o dia e no 30o dia após a injeção de ATA 25% Não houve complicações no período de estudo, com regeneração conjuntival adequada e ausência de recidiva nas 2 pacientes que retornaram para seguimento. O tratamento dos cistos conjuntivais em cavidades anoftálmicas se faz necessário quanto dificulta o uso da prótese ocular, causa desconforto ou acarreta implicações cosméticas negativas para o paciente. Dentre as opções terapêuticas descritas, as mais consagradas são excisão e marsupialização(1). Entretanto, é necessário Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade anoftálmica com injeção intralesional de ácido tricloroacético (ATA) a 25% novo procedimento cirúrgico e a ressecção completa do cisto pode ser difícil, o que aumenta o risco de recidivas. Hornblass et al. (2) descreveram uma série de 4 casos tratados com injeção intralesional de álcool absoluto. Houve resolução em 2 casos, porém o tempo de seguimento não foi informado. O uso de ATA é descrito por Owji et al.,(3) em série de casos de 4 pacientes com cistos conjuntivais anteriores gigantes em cavidades anoftálmicas. Foi realizada injeção intralesional de ATA 20% em todos os pacientes. O tempo médio de seguimento foi de 16 meses (variando de 8 a 33 meses). Nesse período nenhum paciente apresentou recidiva . Sánchez et al.(4) utilizaram solução de ATA para tratamento de cisto conjuntival posterior em cavidade anoftálmica, observando resolução da lesão e ausência de recidiva em seguimento de 10 meses. O uso de ATA 25% nos casos estudados se mostrou simples, seguro e eficaz no período de seguimento. Novos estudos são necessários para avaliação da eficácia a longo prazo, em maior número de pacientes. 193 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. McCarthy RW, Beyer CK, Dallow RL, Burke JF, Lessell S. Conjunctival cysts of the orbit following enucleation. Ophthalmology. 1981;88(1):30-5. Hornblass A, Bosniak S. Orbital cysts following enucleation: the use of absolute alcohol. Ophthalmic Surg. 1981;12(2):123-6. Owji N, Aslani A. Conjunctival cysts of the orbit after enucleation: the use of trichloroacetic acid. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2005;21(4):264-6. Sánchez EM, Formento NA, Pérez-López M, Jiménez AA. Role of trichloroacetic acid in treating posterior conjunctival cyst in an anopthalmic socket. Orbit. 2009;28(2-3):101-3. Autor correspondente: Fabricio Lopes da Fonseca Rua Xavier de Almeida, nº 1135 apto. 121 - Ipiranga CEP 04211001 - São Paulo (SP), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 191-3 R 194 ELATO DE CASO Correção de estrabismo em paciente com síndrome de Saethre-Chotzen Strabismus surgery in a patient with Saethre-Chotzen syndrome Thiago Gonçalves dos Santos Martins1, Veridiana Valence Melo Meuleman2, Fábio Richieri Hanania2, Mariza Polati2 RESUMO A síndrome de Saethre-Chotzen é uma doença rara, que pode causar alterações craniofaciais e estrabismo. A incidência é de 1 para 50.000 nascidos vivos. A inteligência costuma ser normal, mas alguns casos podem ter retardo mental. Crianças com essa síndrome devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. A correção do estrabismo nesses pacientes pode ser mais difícil, devido à ocorrência frequente de inserções anômalas dos músculos extraoculares. Recomendam-se técnicas de imagem para avaliar eventuais alterações das inserções e trajeto dos músculos extraoculares. Descritores: Estrabismo/diagnóstico; Síndrome de Saethre-Chotzen; Relato de casos ABSTRACT Saethre-Chotzen syndrome is a very rare congenital syndrome characterized by craniosynostosis. The incidence of it is around 1: 50,000 live births. Intelligence is usually normal, but a few affected individuals may have mild to moderate mental retardation. Children with Saethre-Chotzen syndrome should be evaluated by members of an experienced interdisciplinary team as treatment usually involves many different specialities. The strabismus surgery in these patients is difficult, because they usually have anomalous insertion and misdirection of the extraocular muscles. Imaging techniques are recommended in order to investigate the anatomical aspects of the extraocular muscles and their insertions. Keywords: Strabismus/diagnosis; Saethre-Chotzen syndrome; Case reports 1 2 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil; Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Setor de Estrabismo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 14/11/2011 - Aceito para publicação em: 26/9/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 194-6 Correção de estrabismo em paciente com síndrome de Saethre-Chotzen A INTRODUÇÃO síndrome de Saethre-Chotzen é uma cranios- sinostose de herança autossômica dominante.Possui incidência de 1:50000 nascidos vivos (1). É anomalia decorrente da fusão prematura das suturas cranianas. A plagiocefalia decorre do fechamento prematuro de apenas um lado da sutura coronal, levando a quadro de assimetria facial, com elevação da órbita e supercílio ipsilateral. A inteligência desses pacientes não costuma ser afetada e o quadro pode estar associado com sindactilia e estrabismo. RELATO DE CASO A paciente T.A.L feminina, 13 anos, estudante e procedente de Mauá-SP, foi encaminhada ao serviço de estrabismo do HCFMUSP referindo posição viciosa de cabeça desde o nascimento. Era acompanhada desde os 8 anos de idade no setor de genética médica e neurocirurgia, onde foi realizado o diagnóstico de Síndrome de Saethre-Chotzen. A cirurgia para a correção da craniossinostose foi realizada em julho de 1998, após o diagnóstico de plagiocefalia. 195 Antecedentes Nascimento de parto cesariano a termo, sem intercorrências, com 3750 gramas. Apresentava desenvolvimento neuropsico-motor adequado para idade. Exame oftalmológico Acuidade visual com correção 0,2 (+ 4,00 DE -1,00 DC X 90) no olho direito e 0,6 (+1,00 DE) no olho esquerdo. Exame de biomicroscopia e fundoscopia normais. O primeiro exame da motilidade ocular extrínseca realizado em 05/10/2001 revelou: Fixação monocular central, estável em cada olho. Fixação Binocular = sem correção e com correção óptica longe e perto, exotropia (XT) e hipotropia direita, desvio de olho direito. Exciclotropia direita 50 no teste de duplo Maddox Teste de cobertura Alternado com prismas: com correção (figura 1A) e versões (figura 1B). Durante o exame observou-se que a paciente inclinava a cabeça para o ombro direito e na avaliação das versões apresentava aparente anisotropia em "X" (desvio aumentava quando olhava para cima e para baixo), embora o fato não se confirmasse nas medidas Os quadros superiores são das medidas fixando olho direito e os inferiores fixando olho esquerdo. Para perto medidas feitas em frente e para baixo. Figura 1A : Primeiro exame da motilidade ocular extrínseca (05/10/2001) Os quadros superiores são das medidas fixando olho direito e os quadros inferiores fixando olho esquerdo. Para perto medidas feitas em frente e para baixo. Figura 2A: Exame da motilidade ocular em 21/08/2002. Figura 1B: Primeiro exame da motilidade ocular extrínseca em 05/10/2001 Rotações binoculares: Hiperfunção oblíquo inferior + 2 ambos os olhos Hiperfunção oblíquo superior + 3 ambos os olhos Figura 2B: Exame da motilidade ocular extrínseca em 21/ 08/2002 Rotações binoculares: Hipofunção reto lateral direito -1 Hipofunção reto medial esquerdo -1 Hiperfunção oblíquo superior +3 ambos os olhos Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 194-6 196 Martins TGS, Meuleman VVM, Hanania FR, Polati M Os quadros superiores indicam as medidas fixando olho direito e os inferiores fixando olho esquerdo. Para perto medidas feitas em frente e para baixo. Figura 3A: Exame da motilidade ocular realizado no dia 12/11/2008 Figura 3B: Exame da motilidade ocular extrínseca em 12/ 11/2008 Não apresentava mais torcicolo. Rotações binoculares: Hipofunção obliquo inferior direito -1 Hiperfunção obliquo superior +3 ambos os olhos Leve abaixamento dos dois olhos em adução Programou-se a segunda cirurgia no olho esquerdo, realizada dois anos após a cirurgia do olho direito. Na prova das duções forçadas passivas não havia restrição do movimento ocular. No per-operatório observou-se que o músculo reto lateral se inseria a 8,0mm e o reto medial a 6,0mm do limbo (as inserções não eram oblíquas), e a inserção do reto lateral era mais inferior sendo que a sua extremidade superior correspondia ao meridiano corneano das 3-9h. Nessa cirurgia foram feitos o retrocesso do reto lateral de 6,0 mm e a ressecção do reto medial de 6,0 mm. O retrocesso do reto lateral foi feito seguindo a orientação anômala da inserção. Um ano e meio após a segunda cirurgia, o exame da motilidade ocular extrínseca apresentava: fixação binocular = sem correção e com correção óptica, para longe e perto, exotropia, desvio do olho direito (XT OD); teste de cobertura alternada com prismas: com correção óptica (figura 3A) e versões (figura 3B). A paciente não tinha mais torcicolo, mas ainda mantinha discreta hiperfunção dos músculos oblíquos. A tomografia de controle realizada quatro anos após a primeira cirurgia não mostrava alterações anatômicas dos músculos extraoculares (Figura 4). REFERÊNCIAS Figura 4 : Tomografia de controle realizada 4 anos após a primeira cirurgia. realizadas no teste de cobertura alternada com prismas. Realizou-se a primeira cirurgia no olho direito em 18/04/2002, pois este apresentava a pior acuidade visual. Não havia restrição de movimento dos dois olhos na prova das duções forçadas passivas. Realizaram-se o retrocesso do reto lateral de 6,0 mm e a ressecção do reto medial de 6,0 mm, com deslocamento superior destes músculos meia inserção, corrigindo-se a obliqüidade das inserções musculares. Observou-se que o músculo reto lateral tinha trajeto oblíquo, de baixo para cima até a sua inserção. Além disso, as inserções esclerais dos dois músculos tinham orientação oblíqua, sendo a extremidade superior deles 1,0mm mais próxima do limbo que a inferior. O exame de motilidade ocular extrínseca quatro meses após a primeira cirurgia revelou: Teste de cobertura alternado com prismas: com correção óptica (figura 2A) e versões (figura 2B) A paciente mantinha a inclinação da cabeça sobre o ombro direito e anisotropia em X, porém havia diminuído a hiperfunção dos músculos oblíquos. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 194-6 1. 2. 3. Behrman RE,Jenson HB,Kliegman RM,editors.Nelson tratado de pediatria. Tradução da 17a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 2113-4. Somani S, Mackeen LD, Morad Y, Buncic JR, Armstrong DC, Phillips JH, et al. Assessment of extraocular muscles position and anatomy by 3-dimensional ultrasonography: a trial in craniosynostosis patients. J AAPOS. 2003;7(1):54-9. Kanski JJ. Clinical ophthalmology: a systematic approach. 7th ed. Edinburgh: Elsevier; 2011. p. 736-80. Autor correspondente: Thiago Gonçalves dos Santos Martins Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - Serviço de Oftalmologia Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, prédio dos ambulatórios 6º andar, sala 8 CEP 05403-000 - São Paulo (SP) E-mail: [email protected] RELATO DE CASO197 Adult foveomacular vitelliform dystrophy Distrofia viteliforme foveomacular do adulto Valdir Balarin 1, Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira1, Michel Berezowsky1, Andrea Mara Simões Torigoe1 ABSTRACT Adult foveomacular vitelliform dystrophy is a rare pathology. Less than 1% of the reported cases display perifoveal capillary permeability. The three-year follow-up period of the case revealed a rare form, which had not yet been documented. The patient was a 40-year-old female with normal visual acuity, and a minor complaint of metamorphopsia on the left eye. Retinography showed a perifoveal yellowish subretinal area OS. Angiography showed perifoveal leakage OS. Follow up showed that, over 3 years, capillary incompetence disappeared and the yellow area underwent alterations, becoming atrophic OS. Angiography also showed hyperfluorescence (windows defect). Towards the end, it resembled the appearance of late stage of Best's Disease. Keywords: Macula; Macular degeneration; Macular edema; Telangiectasis; Case reports RESUMO Distrofia viteliforme foveomacular do adulto é uma patologia rara. Menos de 1% dos casos relatados mostram permeabilidade capilar perifoveal. O acompanhamento de 3 anos deste paciente revelou uma forma rara, ainda pouco documentada. O paciente era uma mulher de 40 anos de idade com acuidade visual normal, mas com queixa de metamorfopsia leve no olho esquerdo. A retinografia mostrou uma área sub-retiniana amarelada, perifoveal, com hiperfluorescência na angiofluoresceinografia. O seguimento mostrou, em 3 anos, que a incompetência capilar desapareceu e que a área, antes amarelada, tornou-se atrófica, com hiperfluorescência na angiografia, lembrando o aspecto tardio da doença de Best. Keywords: Mácula; Degeneração macular; Edema macular; Telangiectasia; Relatos de casos 1 Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Campinas (SP), Brasil. The authors declare no conflicts of interest Recebido para publicação em: 21/12/2011 - Aceito para publicação em: 15/7/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 197-9 198 Balarin V, Lira RPC, Berezowsky M, Torigoe AMS INTRODUCTION T he differential diagnosis of macular pathologies in adults includes a myriad of conditions, both acquired and inherited. In general, age related macular degeneration is the prime suspect in patients over 50 years of age, whereas hereditary conditions are the most frequent in the first two decades of life(1). Adult foveomacular vitelliform dystrophy (AFVD) was first described by Gass in 1974(2). The onset typically occurs between the ages of 30 and 50. Patients report mildly blurred vision or metamorphosis. Macular telangiectasia (MacTel) type 2 consists of a retinal vascular anomaly exclusive of the capillaries of the juxtafoveolar region, which may result in retinal edema and progressive vision loss(3). The typical AFVD angiogram shows the yellow area as hypofluorescent, surrounded by a hyperfluorescent ring(1,4). The angiographic aspect of perifoveal capillary permeability is described in only 0,83% of registered AFVD cases. Angiography evolution in cases of the disease which initially manifest as the three cases described by Dubovy has never been registered before, as well as the follow up(5). The diagnosis is confirmed by angiographic changes in a three years follow up. CASE REPORT A 40-year-old female consulted an ophthalmologist in 2003 after realizing that she had a scotoma in the central field along with minor complaint of metamorphosis in the left eye (OS). Visual acuity without correction was 20/20 and J1, photomotor pupillary reflexes were normal, as well as external ocular motility, and biomicroscopy of the anterior segment, with no signs of inflammation, transparent lens, vitreous without cells or Tyndall. Goldman tonometry was 12 mm Hg and chromatic vision, according to HRR-AO test, was also normal. Amsler test showed mild pericentral metamorphosis in the OS. Binocular indirect ophthalmoscopy and retinal biomicroscopy showed, in the OS, a yellowish subretinal lesion in the temporal and upper foveal region. The complementary tests ordered were hemogram, immunofluorescence for toxoplasmosis and lues, fasting glucose - all with normal results. Full-field ERG was normal, as was EOG, with an Arden index of 2 in the right eye (OD) and 2,1 on the OS. Retinography revealed a normal OD (figure 1A) and a perifoveal subretinal yellowish area OS (figure 1B). Angiography of the OD was normal, with only a small area of alteration in the perifoveal capillary ramification (figure 1C). Fluorescent angiography of the OS showed a slightly hypofluorescent area in the region corresponding to the lesion and permeability of juxtafoveolar capillaries, which became more noticeable during the exam, creating a final scenario of diffuse macular edema with no cystoids characteristics (figure 1D-F). In 2004, exams were repeated. Retinography of the OS showed signs of epithelium atrophy in the upper edge of the yellow lesion, with a decrease in the vitelliform area (figure 1G). Angiography, of the same eye shows a significant decrease in the retinal capillary permeability, in the area of altered pigment epithelium, where an early transmitted hyperfluorescent point appears, in more advanced phases there is a moderate staining of the surrounding area, which suggests that the scar tissue was Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 197-9 Figure 1: Adult foveomacular vitelliform dystrophy retinography, 2003 (OD fig.1A and OS fig.1B); angiography (OD fig.1C and OS fig.1D/ 1F); retinography, 2004, OS (fig.1G); angiography, OS (fig.1H); retinography, 2006, OS (fig.1L); angiography, OS (fig 1J). impregnated by the dye. There was also a hypofluorescent area, which was smaller than the one previously found (figure 1H). In 2006, exams were repeated. In the OS there was an increase in area of atrophy of the epithelium in the upper edge of the yellow lesion, with a concurrent decrease in the vitelliform aspect figure 1L). Angiography showed, in early stages, growth of the hyperfluorescent area transmitted on the upper edge of the lesion, and disappearance of retinal capillary permeability. Adult foveomacular vitelliform dystrophy In later stages, the hypofluorescent area showed a decrease in size, with liquid level; the upper area showed impregnation of scarring tissue (figure 1J). Visual acuity of the OS in this occasion had decreased to 20/25. DISCUSSION Diagnosis of AFVD was based on normal visual acuity, normal EOG and ERG, minor distortion of Amsler grid, the presence of a single subretinal perifoveal round yellowish lesion, in the OS, and also on the bibliographic research which confirmed the similarity with uncommon angiographic aspect of perifoveal capillary permeability as described by Fishman(3). Dubovy registered three cases of macular capillary permeability, with subretinal yellowish lesion, and named this pathology pseudovitelliform macular degeneration (PMD), whose angiographic findings are very similar to the ones described in this case we were able to describe its follow up(4). Even though this disease usually presents bilaterally, unilateral forms, as well as development of bilateral conditions after unilateral onsets, have been reported. Visual prognosis is usually good(5,6). Conditions with subretinal macular yellow deposits include: foveomacular vitelliform dystrophy, dominant slowly progressive macular dystrophy, butterfly-shaped and pattern dystrophy with yellow plaques. All these hereditary conditions have common characteristics. Whether they present phenotypic expressions regardless of age, or are multiple pathological dysfunctions of foveal EPR caused by different genetic defects, remains to be established. Epstein and Rabb state, for the cases they studied, that as the vitelliform lesion progresses, there is an increase in retinal exudation, and that this would be the cause of retinal leakage in later stages, probably from choir-capillaries(7). In the case at hand, such evolution has not been observed. The disappearance of retinal capillary permeability occurred before retinographic and angiographic alterations of the vitelliform lesion took place. In the angiography, perifoveal capillary permeability disappears at the same time that atrophic areas of pigment epithelium appear in the vitelliform lesion area. And, finally, alterations which 199 resemble the pseudohypopyon phase of Best's disease appear the yellow area. At present, new diagnostic methods enable a better characterization of AFVD. Optical coherence tomography (OCT) shows a hyper-reflective structure in the region of the vitelliform lesion, located between the pigment epithelium and the photoreceptor layers. The pigment epithelium remains without elevation, while the neurossensorial retina over the hyperreflective structure is elevated due to the presence of vitelliform material, but with diminished thickness(7). In the future, similar cases that may present will benefit from these new diagnostic and characterization methods. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Renner AB, Tillack H, Kraus H, Kohl S, Wissinger B, Mohr N, et all. Morphology and functional characteristics in adult vitelliform macular dystrophy. Retina. 2004;24(6):929-39. Gass JD. A clinicopathologic study of a peculiar foveomacular dystrophy. Trans Am Ophthalmol Soc. 1974;72:139-56. Fishman GA, Trimble S, Rabb MF, Fishman M. Pseudovitelliform macular degeneration. Arch Ophthalmol. 1977;95(1):73-6. Sabates R, Pruett RC, Hirose T. Pseudovitelliform macular degeneration. Retina; 1982; 2(4):197-205. Dubovy SR, Hairston RJ, Schatz H Schachat AP, Bressler NM, Finkelstein D Grenn WR. 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Corresponding Author: Valdir Balarin Rua 6, nº1353 CEP 13500-190 - Rio Claro - São Paulo Phone (19) 3524.2711 - Fax (19) 3524.9334 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 197-9 R 200 ELATO DE CASO Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo Femtosecond laser-assisted Cvintal topoplasty Alexandre Takayoshi Ishizaki1, Frederico Guerra2, Issac Ramos3, Renato Ambrosio Jr.4 RESUMO Apresentamos um relato de astigmatismo tardio progressivo pós-transplante de córnea para ceratocone, associado à afinamento periférico na junção doador-receptor, o que presumidamente pode ser considerado como recorrência da ectasia. O caso foi tratado por meio de Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo para a confecção da incisão com geometria "top hat", seguido de sutura com ajuste per-operatório guiado por ceratoscopia. Descritores: Astigmatismo/etiologia; Córnea/patologia; Ceratoplastia penetrante/efeitos adversos; Ceratocone/cirurgia; Terapia a laser/métodos; Complicações pós-operatórias; Relatos de casos ABSTRACT We present a case of late high progressive astigmatism following penetrating keratoplasty for keratoconus, which was associated with peripheral thinning in the donor-receptor area, which may be recognized as recurrence of ectasia. Treatment was accomplished with Cvintal's Topoplasty assisted by femtosecond laser for a "top hat", followed by resuture with peroperative adjustment guided by ceratoscopy. Keywords: Astigmatism/etiology; Cornea/pathology; keratoplasty, penetrating/adverse effects; keratoconus/surgery; Lasers therapy/ methods; Postoperative complications; Case reports Residente segundo ano do Serviço de Oftalmologia do Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ) Brasil; Colaborador do Setor de Córnea do Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Colaborador no Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 4 Professor associado do programa de pós-graduação em Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Consultor da Oculus. 1 2 Estudo realizado no Instituto Benjamin Constant e Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 21/3/2012 - Aceito para publicação em: 3/9/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3 Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo 201 INTRODUÇÃO O astigmatismo é a causa mais comum de baixa acuidade visual após transplante de córnea. Estu-dos descrevem que o astigmatismo médio é de 2,76 dioptrias (D) aos 24 meses após o procedimento, sendo em 15% dos casos maior que 5D(1). Entretanto, o astigmatismo irregular associado a aberrações de alta ordem, limita o resultado visual pois não é totalmente corrigido com uso de óculos (2,3). Com isso, a adaptação de lentes de contato especiais apresenta importante papel para reabilitação visual nestes casos. O controle do astigmatismo pós-transplante é um grande desafio para qualquer cirurgião de córnea. A tentativa de controle do astigmatismo começa durante a cirurgia, ao se realizar uma sutura estável, com tensão equilibrada em todos os eixos da ceratoplastia. A remoção seletiva de pontos separados com base na evolução topográfica tem papel fundamental na abordagem do astigmatismo pós-CP. Opções cirúrgicas para correção do astigmatismo pós-transplante incluem incisões relaxantes, cirurgia refrativa foto-ablativa a laser (LASIK ou ablação de superfície), inserção de segmentos de anel intraestromal, ressecção em cunha com sutura de compressão, lentes intraoculares fácicas tóricas e retransplante(4). O advento do laser de femtossegundo (FS) proporcionou um aumento da precisão e eficiência das cirurgias corneanas (5). O transplante de córnea assistido por laser FS permite a combinação de uma menor taxa de complicações intraoperatórias e pode facilitar o controle do astigmatismo pós-operatório(5,6). A topoplastia, técnica descrita pelo Dr. Tadeu Cvintal, apresenta-se também como uma opção cirúrgica para casos com alto grau de astigmatismo após transplante de córnea (7). O objetivo deste trabalho é descrever o primeiro caso de topoplastia de Cvintal assistida por laser FS em um paciente com alto grau de astigmatismo associado a afinamento na córnea do receptor, presumidamente relacionado com recidiva da ectasia após CP. RELATO DE Figura 1: Biomicroscopia OD: botão corneano transparente 15 anos após transplante penetrante para ceratocone; botão levemente descentrado na direção nasal, com afinamento (recorrência presumida da ectasia) na junção doador-receptor em meridiano correspondente com o mais plano e mais elevado na tomografia CASO Paciente do sexo feminino, com 54 anos de idade, raça caucasiana, em acompanhamento oftalmológico no departamento de córnea do Instituto Benjamin Constant. A paciente referiu histórico de ceratocone, tendo sido submetida à ceratoplastia penetrante no olho direito há 16 anos e, no olho esquerdo há 8 anos. O transplante do olho esquerdo evoluiu com rejeição imunológica e glaucoma, com perda da transparência. A paciente referia piora progressiva da visão em olho direito e não se adaptava a lentes de contato rígidas nem óculos. Ao exame oftalmológico, a acuidade visual (AV) não corrigida era de 20/200 no olho direito e vultos no olho esquerdo. A acuidade visual corrigida do olho direito era de 20/80 com uma refração manifesta de -2,75 -8,00 x 8º. A acuidade visual do olho esquerdo não apresentava melhora com correção. O exame biomicroscópico do olho direito revelou enxerto corneano transparente e levemente descentrado na direção nasal, com adelgaçamento na junção doador-receptor e afinamento na córnea do receptor (Figura 1). A biomicroscopia do olho esquerdo revelou enxerto corneano opacificado com edema difuso. O mapa de curvatura sagital ou axial obtido por topografia corneana de reflexão de Placido em olho direito (Figura 2) demonstrou um astigmatismo corneano superior a 14D. Os mapas de curvatura e elevação obtidos pelo tomógrafo com fotografia de Scheimpflug rotacional (Pentacam HR, Oculus, Alemanha) Figura 2: Topografia OD - alto grau astigmatismo corneano apresentou achados similares, com toricidade elevada nas superfícies anterior e posterior da córnea. Além disso, o estudo tomográfico demonstrou o afinamento corneano inferior, compatível com o exame clínico à lâmpada de fenda (Figura 3) (8). O exame de aberrometria total ou análise de frente de onda (iTrace, Tracey Technologies Corp. EUA) demonstrou achados compatíveis com os observados nos exames de topografia e de tomografia, com similaridade no padrão do astigmatimso. Observou-se contagem de 888 células endoteliais por milímetro quadrado no exame de microscopia especular. Considerando a paciente não ter boa visão com óculos e não apresentar adaptação com lentes de contato, a solução cirúrgica mostrou-se necessária. A paciente apresentava indicação de novo transplante penetrante por dois cirurgiões de córnea, considerando-se a magnitude do astigmatismo e o afinamento encontrado, bem como a contagem celular endotelial relativamente baixa. Entretanto, considerando os achados, optou-se pela realização da topoplastia descrita por Cvintal assistida pelo laser de femtossegundo. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3 202 Ishizaki AT, Guerra F, Ramos I, Ambrósio Jr R Figura 4: Primeiro dia pós-operatório; note suturas mais apertadas no eixo que era mais plano Figura 3: Tomografia de córnea com pentacam OD e imagem de Scheimpflug demonstrando afinamento corneano inferior Tabela 1 Plano cirúrgico com Intralase Parâmetros femtossegundo Diâmetro externo Diâmetro interno Energia Profundidade posterior Profundidade anterior Corte lamelar completo Incisões alinhamento Corte lateral anterior e posterior iEK 8.6mm 7.4mm 1.70 330µm 270µm Desligado Desligado Ligado Resumo da técnica cirúrgica tradicional A técnica cirúrgica da topoplastia de Cvintal, previamente citada(7), será apenas brevemente descrita aqui. É uma combinação de quatro atos cirúrgicos: - Ceratotomia marginal; - Ceratectomia marginal seletiva com broca; - Delaminação profunda das margens cirúrgicas; realizada em direção ao centro nos meridianos mais curvos e à periferia nos meridianos mais planos; - Ressutura com aposição corretiva das margens da incisão: No meridiano mais plano a agulha da sutura é inserida no terço superficial da margem corneana central e na camada mais profunda na margem periférica. No meridiano mais curvo, a agulha é introduzida na camada mais profunda, no lado corneano central e no terço superficial do lado periférico. Técnica cirúrgica realizada A cirurgia foi realizada sob sedação leve associada à anestesia tópica. Não foram registradas intercorrências intraoperatórias. O laser FS utilizado foi o Intralase iFS (AMO, EUA) para realizaRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3 Figura 5: Mapa sagital diferencial e imagem de Scheimpflug: Pré x Pós-op ção de incisões corneanas, evitando-se o uso de lâminas e trépano (tabela 1). Realizou-se uma trepanação circunferencial de espessura parcial e geometria complexa de top hat (9,10) no botão doador com auxílio de laser de FS (Intralase iFS, AMO. EUA) Durante a aplicação do laser FS, verificou-se a presença de bolhas de ar na câmara anterior, sendo uma consequência da interação do laser com o humor aquoso. Uma vez completada a etapa de trepanação, a paciente foi transportada a outra sala onde, sob microscópio cirúrgico e cuidados de assepsia e antissepsia, procedeu-se à injeção de viscoelástico para estabilização da câmara anterior. Foram realizados 24 pontos de sutura separados, usando fio mononylon 10/0. Os pontos mais apertados foram elaborados no eixo mais plano. O astigmatismo final foi ajustado recorrendo a um dispositivo de ceratoscopia intraoperatório. No primeiro dia de pós-operatório, a biomicroscopia do olho direito revelou enxerto de córnea transparente, câmara anterior formada, sem Seidel, pupila regular, fotorreativa e lente intraocular bem posicionada (figura 4). A acuidade visual sem correção do olho direito foi de 20/40. No primeiro mês evoluiu com AV de 20/60, que melhorou com a retirada de um ponto para 20/50. A paciente evoluiu bem no pós operatório e mantém-se com quadro estável há 4 meses. O último exame de tomografia corneana ilustra bem o resultado do tratamento (figura 5). Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo Formatos incisionais, sendo os mais frequentemente realizados o top hat, o mushroom, o zigzag e o christmas tree(9,10). Estas incisões com formatos complexos melhoram o encaixe e a estabilidade da junção doador-hospedeiro(6). Assim, teoricamente, menos suturas são necessárias e a sua remoção pode ser realizada mais precocemente. Na literatura encontramos vários estudos que testam diferentes técnicas para atenuar o astigmatismo decorrente do transplante de córnea. Chamberlain et al. descreveram o astigmatismo pós-operatório numa série de casos submetidos à CP, comparando a técnica manual com a assistida por laser FS (11). A segunda opção contribuiu para um melhor controle do astigmatismo no pós-operatório precoce. No entanto, ao final de 6 meses de seguimento não se verificou diferença significativa no astigmatismo pós-operatório entre os dois grupos. O laser FS é uma opção para a ressecção em cunha arqueada, com o intuito de corrigir o astigmatismo pós-CP. O procedimento guiado por laser permite uma excisão controlada e precisa do tecido. Após a cirurgia, pode haver uma redução de 14,5 D no astigmatismo corneano, conforme descrito previamente (12). Nubile et al. estudaram a eficácia da ceratotomia astigmática guiada por laser FS para tratar astigmatismo pós-ceratoplastia(13). O procedimento consiste na realização de incisões no meridiano corneano mais curvo, localizadas na periferia do enxerto e numa profundidade de 90% da espessura total do estroma. Os resultados demonstraram uma redução do astigmatismo pré-operatório de 7.16 D (+/- 3.07) para 2.23 D (+/- 1.55), e estabilidade refrativa. Desfechos semelhantes foram descritos por outros autores.(14) No caso clínico apresentamos uma paciente submetida previamente à CP bilateralmente devido a ceratocone. Esta moléstia é uma doença ectásica e degenerativa da córnea, sendo a sua progressão um evento raro na faixa etária em que se enquadrava a paciente. O olho esquerdo apresenta falência endotelial do transplante, o que justifica a opacificação do enxerto. O botão doador do olho direito apresentava boa transparência, no entanto, evidenciava-se um adelgaçamento na junção doador-receptor, sinal clínico de recorrência de ceratocone. O elevado grau de astigmatismo do caso clínico deve-se não só à recorrência de ceratocone mas também a provável presença de astigmatismo pós-transplante. A recidiva do processo ectásico contribui para a desorganização da estrutura corneana, tornando o astigmatismo mais elevado e irregular. A baixa acuidade visual do olho direito da paciente reflete o impacto deste erro refrativo no sistema óptico. Optou-se pela topoplastia assistida pelo laser de FS por tratar-se de uma cirurgia mais simples, precisa, com maior redução do astigmatismo quando comparado com as demais técnicas descritas e pela disponibilidade do aparelho. Entretanto esta técnica carece de instrumental de elevado custo financeiro, disponível em apenas poucos centros cirúrgicos no Brasil. CONCLUSÃO A recorrência de ceratocone em olho submetido previamente à CP pode ser considerada uma indicação para novo transplante de córnea. No entanto, a realização de uma nova CP é uma abordagem muito complexa. A técnica cirúrgica descrita permite manter o tecido do enxerto corneano, evitando a exposição a novos antigenos que poderiam desencadear uma resposta imunológica de rejeição. Outro aspecto importante associado a esta técnica é a possibilidade de regularizar o astigmatismo e a topografia da córnea. No primeiro dia de pós-operatório verificou-se melhora do resultado visual, refrativo e topográfico. Durante o período de se- 203 guimento não houve qualquer registro de intercorrências, sinais biomicroscópicos e topográficos de progressão da ectasia corneana. Assim, a topoplastia assistida por laser FS facilita a abordagem do astigmatismo e o tratamento da recidiva de ectasia em olhos previamente transplantados, garantindo excelentes resultados pós-operatórios. Esta cirurgia mostrou-se eficaz no tratamento do alto astigmatismo associado à recorrência de ceratocone após CP. A paciente em questão apresentou uma melhora significativa da acuidade visual e estabilidade refrativa e topográfica após um mês de pós-operatório, com manutenção até 4 meses após o último procedimento. Até o momento, com um ano de seguimento, não houve necessidade de realizar um novo transplante de córnea. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Olson RJ, Pingree M, Ridges R, Lundergan ML, Alldredge C Jr, Clinch TE. Penetrating keratoplasty for keratoconus: a long-term review of results and complications. J Cataract Refract Surg. 2000;26(7):987-91. Krachmer JH, Fenzl RE. Surgical correction of high postkeratoplasty astigmatism. Relaxing incisions vs wedge resection. Arch Ophthalmol. 1980;98(8):1400-2. Rajan MS, O'Brart DP, Patel P, Falcon MG, Marshall J. 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Autor correspondente: Instituto de Olhos Renato Ambrósio Rua Conde de Bonfim, nº 211/712 - Tijuca CEP 20520-050 - Rio de Janeiro - (RJ), Brasil Tel/Fax: 55 (21) 2234-4233/2264-4430 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3 ARTIGO DE REVISÃO 204 Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética Surgical management of diabetic retinopathy Nelson Alexandre Sabrosa1, Almyr Sávio Sabrosa1,2, Katia Cocaro Gouvea1, Paiva Gonçalves Filho1 RESUMO A retinopatia diabética é a causa mais frequente de cegueira na população ativa nos países desenvolvidos. A prevalência da retinopatia diabética aumenta com a duração da diabetes, e praticamente 100% dos pacientes com diabetes tipo I (DM I) e mais do que 60% dos pacientes com o tipo II (DM II) apresentarão algum sinal de retinopatia após 20 anos. Além de um controle sistêmico rigoroso dos níveis glicêmicos, lipídicos, colesterol e da pressão arterial, o exame oftalmológico de rotina, com a identificação precoce da retinopatia diabética, podem detectar anormalidades em estágios primários, o que possibilita o tratamento ainda na fase inicial do problema; o uso adequado da fotocoagulação e a utilização da terapia antiangiogênica pode reduzir o número de pacientes com hemorragia vítrea ou descolamento tracional da retina. Infelizmente, em vários pacientes, a retinopatia progride mesmo com as melhores condutas tomadas pelo paciente e pelo oftalmologista, embora vários olhos podem se beneficiar com o tratamento cirúrgico, a vitrectomia posterior via pars plana. Esta revisão apresenta as indicações atuais para cirurgia vitreorretiniana em pacientes portadores de retinopatia diabética proliferativa. Descritores: Retinopatia diabética/cirurgia; Doenças retinianas/cirurgia ABSTRACT Diabetic retinopathy is the leading cause of blindness among the working population in the developed world. The prevalence of diabetic retinopathy increases with duration of diabetes, and nearly 100 percent of patients with type I diabetes and more than 60 percent of those with type II have some signs of diabetic retinopathy after 20 years. A number of approaches have proved to be useful in the treatment of diabetic retinopathy, such as laser photocoagulation and tight systemic control of blood glucose, lipids, cholesterol and blood pressure. Unfortunately, in many patients the retinopathy progresses in spite of the best efforts on the part of the patient and of the ophthalmologist. Many such eyes may be helped by vitrectomy surgery, however. About 5 percent of patients with proliferative diabetic retinopathy, as well as carefully selected patients with diabetic maculopathy, require pars plana vitrectomy, despite ostensibly adequate laser treatment and good glycemic and hypertensive control. This article reviews the current indications for vitreous surgery in severe diabetic retinopathy and strategies and techniques employed to minimize surgical complications. Keywords: Diabetic retinopathy/surgery; Retinal diseases/surgery Residência em Oftalmologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), doutor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo (SP); Setor de Retina e Vítreo Departamento de Oftalmologia 1ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 1,2 Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. 1 Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em: 15/11/2011 - Aceito para publicação em: 16/3/2012 Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9 Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética A 205 INTRODUÇÃO retinopatia diabética (RD) é a causa mais frequente de cegueira na população economicamente ativa nos países desenvolvidos. A prevalência da RD aumenta com a duração da diabetes(1), e praticamente 100% dos pacientes com diabetes tipo I (DM I) e mais do que 60% dos pacientes com o tipo II (DM II) apresentarão algum sinal de RD após 20 anos. Uma série de condutas já pré-estabelecidas são úteis no tratamento da RD, como a fotocoagulação com laser e a terapia anti-VEGF, além de um controle sistêmico rigoroso dos níveis glicêmicos, lipídicos, colesterol e da pressão arterial (2,3). Infelizmente, em vários pacientes, a retinopatia progride mesmo com as melhores condutas tomadas pelo paciente e pelo Oftalmologista, embora vários olhos podem se beneficiar com o tratamento cirúrgico, a vitrectomia posterior via pars plana(4). Em torno de 5% dos pacientes com RD proliferativa, como também em alguns pacientes com maculopatia relacionada à diabetes, necessitam da vitrectomia, independente do tratamento à laser (fotocoagulação) adequado, e o bom controle glicêmico e pressórico(5). Essa revisão ilustra as indicações atuais para cirurgia vítreorretiniana na RD avançada, estratégias e técnicas empregadas para minimizar complicações cirúrgicas. Patogênese da Retinopatia Diabética A retinopatia diabética é uma complicação microvascular da diabetes e é caracterizada pela perda funcional dos pericitos e pela oclusão capilar progressiva, ocasionando uma isquemia retiniana e quebra da barreira hemato-retiniana. Isso pode resultar em alterações edematosas na retinopatia diabética nãoproliferativa (RDNP) e em proliferação de neovasos e na formação de membranas fibrocelulares contráteis na superfície retiniana na retinopatia diabética proliferativa (RDP)(6,7). A perda visual na RDP é causada pela combinação de isquemia retiniana, hemorragia vítrea e/ou descolamento de retina tracional (DRT). Geralmente se inicia com a proliferação neovascular no disco óptco (NVD) e na retina (NVE). O crescimento dos neovasos (NV) ocorrem ao mesmo tempo que a proliferação fibroblástica na interface vitreorretiniana, usando como suporte a hialóide posterior(8). Contrações subsequentes das membranas fibrocelulares causam tração progressiva nos NV, resultando em hemorragia intravítrea e/ou sub-hialóidea. A tração mais acentuada e generalizada pode-se complicar com um DTR ou a combinação de um descolamento tracional e regmatogênico da retina - descolamento de retina misto (DRTR)(9). Indicações de Cirurgia na RDP A vitrectomia posterior via pars plana (VVPP) para tratar as complicações da RDP foi descrita pela primeira vez há mais de 25 anos(10). A VVPP permite a remoção de opacidades do meio, como a hemorragia vítrea além de proporcionar a liberação de eventuais trações vitreorretinianas. Além disso, a fotocoagulação retiniana no intraoperatório ajuda a estabilizar o processo vasoproliferativo intraocular(9,11). A ultrassonografia ocular em pacientes com opacidades densas é imprescindível para se fazer o diagnóstico de descolamento de retina e para diferenciar o DRT e DRTR (DR misto) no pré-operatório. Embora a acuidade visual final após a vitrectomia pode variar muito, a maioria dos pacientes se beneficiam do procedimento(12,13). Hemorragia Vítrea A hemorragia vítrea é a complicação mais frequente da RDP, a qual pode ocasionar uma redução importante na acuidade visual além de interferir no exame e tratamento do paciente. Em pacientes Figura 1: Ultrassonografia: descolamento de retina tracional (DRT) com DM II, a hemorragia vítrea recente pode ser tratada de forma conservadora, na esperança de uma resolução espontânea para que o tratamento com laser possa ser realizado. A hemorragia vítrea crônica e persistente (maior do que 3 meses) pode ser indicação de VVPP e endofotocoagulação. Em contraste, o "Diabetic Retinopathy Vitrectomy Study" (DRVS) mostrou um evidente benefício na cirurgia precoce em pacientes com DM I, já que esses pacientes tendem a uma proliferação fibrovascular mais agressiva(14,15). O DRVS mostrou também que 25% dos pacientes submetidos à vitrectomia precoce recuperam uma boa acuidade visual, em torno de 20/40 ou melhor, comparados a 15% dos pacientes tratados convencionalmente(15). Embora tenha havido um maior risco ligado ao tratamento, é importante ressaltar que a técnica cirúrgica evoluiu consideravelmente desde a conclusão desse estudo (ex. uso do endolaser). A vitrectomia precoce também pode ser considerada em casos de hemorragia vítrea retro-hialóidea, já que nesse espaço o sangue tende a ser reabsorvido mais lentamente do que quando ele atravessa a hialóide posterior para cavidade vítrea. O tempo certo para a cirurgia é também influenciado pela condição do olho contralateral e a presença de outras alterações, como DRT com envolvimento macular e/ou a presença de glaucoma neovascular (figura 1). Nesta última situação, a espera para a absorção da hemorragia pode causar danos irreversíveis. Outros fatores, que também podem ser usados como indicação para cirurgia precoce são a falta de fotocoagulação prévia e ocasionalmente pacientes que necessitam de uma recuperação visual rápida (ex. trabalho/profissão que requer boa estereopsia) (16). Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9 206 Sabrosa NA, Sabrosa AS, Gouvea KC, Gonçalves Filho P Descolamento de Retina O descolamento de retina tracional (DRT) envolvendo a fóvea causa uma perda visual importante e é uma indicação comum de cirurgia em pacientes com RDP (figura 2). Uma recente publicação ilustrou que em olhos com DRT com envolvimento macular, 57% alcançaram uma acuidade visual melhor ou igual a 20/400, enquanto que em olhos sem descolamento macular, 84% alcançaram uma acuidade visual melhor ou igual a 20/400(13). A urgência para realização da cirurgia vitreorretiniana varia de paciente para paciente, porém na maioria dos pacientes esse tipo de procedimento é melhor planejado quando todas as condições, como centro cirúrgico, equipe médica e material estão disponíveis. Olhos com história recente de descolamento foveal, têm uma chance melhor de recuperação visual quando comparados a olhos com história mais antigas, mesmo que um bom resultado anatômico seja alcançado(17). Os DRTs fora da área macular podem ser monitorados de maneira conservadora, já que se mantêm estáveis e o risco de complicações intraoperatória ou pós-operatória podem ser inaceitáveis(18). Outro estudo mostrou que somente 14% dos olhos com DRT extramacular tiveram perda visual em um ano(19). De qualquer maneira, a VVPP deve ser considerada eventualmente, mesmo antes do comprometimento macular, quando a fotocoagulação não pode ser realizada devido à hemorragia vítrea ou à presença de tecido fibrovascular sobre a superfície retiniana, ou quando a progressão do descolamento tracional paramacular for documentado. O descolamento de retina misto (DRTR) é relativamente incomum e pode ocorrer tanto durante o estágio da proliferação fibrovascular quanto numa complicação tardia. Na maioria dos casos, as roturas retinianas se localizam na região posterior ao equador e são frequentemente associadas a membranas fibrovasculares altamente aderentes. Esse tipo de descolamento progride rapidamente, resultando em uma configuração bolhosa do fluido sub-retiniano, estendendo-se até a ora serrata. A VVPP imediata geralmente é necessária, com o objetivo de liberar as trações vitreorretinianas, para que então a fotocoagulação seja realizada ao redor das roturas, uma vez que a retina esteja aplicada com o uso de um tamponante intraocular, como por exemplo ar, gás ou óleo de silicone(20). Indicações Cirúrgicas na Retinopatia Diabética NãoProliferativa (RDNP) Edema Macular O edema macular diabético (EMD) ou o espessamento retiniano é a principal causa de diminuição da acuidade visual em pacientes com Diabetes Mellitus. Enquanto que a patogênese do EMD é multifatorial, o vítreo pode contribuir para o desenvolvimento do EMD em alguns casos (21). Vazamento vascular e isquemia são responsáveis por grande parte da perda visual relacionada à maculopatia diabética. O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), considerado o fator de crescimento mais importante, causa uma quebra na barreira hemato-retiniana interna, resultando um aumento na permeabilidade vascular retiniana e edema retiniano (22). Enquanto que a retina saudável também contêm VEGF, as mudanças induzidas pela diabetes causam uma alteração na sua regulação (23) . Desse modo, os níveis de VEGF estão bem elevados em olhos com EMD(24). O papel do vítreo no desenvolvimento do EMD ainda não está totalmente compreendido, mas é intrigante que estudos que avaliam a história natural, o edema macular parece se resolver seguido da separação vitreomacular espontânea. Enquanto que Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9 Figura 2: Olho direito de um paciente com descolamento de retina tracional com envolvimento macular Figura 3: Tomografia de coerência óptica (OCT): hialóide posterior esticada/espessada em um paciente com retinopatia diabética. a VVPP mostrou resultados anatômicos e funcionais positivos em olhos com membrana hialóide posterior esticada/espessada (MHE) e tração macular (figura 3)(21,25), outros estudos sugerem que a VVPP pode também ser útil em casos sem nenhuma evidência clínica de tração. Acredita-se que a com a remoção do córtex vítreo, com ou sem remoção (peeling) da membrana limitante interna (MLI), a liberação de trações vitreomaculares subclínicas, melhora a oxigenação retiniana e/ou reduz a concentração de fatores de crescimento (ex. VEGF) no segmento posterior, além de outras citoquinas liberadas pela retina isquêmica (26,27). Em um estudo controlado, randomizado, comparando a VVPP com remoção da MLI versus fotocoagulação com laser focal, não houve nenhuma diferença nos resultados anatômicos ou funcionais entre as duas modalidades de tratamento(28). Um estudo piloto, randomizado com pacientes com EMD sem tração macular também não mostrou nenhum benefício visual ou na redução da espessura macular(29). Técnicas Cirúrgicas Quando há hemorragia vítrea, a VVPP padrão é realizada primeiramente e a hialóide posterior identificada; se houver uma grande quantidade de sangue atrás da hialóide posterior, cria-se uma pequena abertura na mesma para que o sangue retrohialóideo possa ser aspirado, permitindo então que se tenha uma visão adequada da retina(30). É fundamental que seja liberado qualquer tipo de tração por membranas pré-existentes na retina. Geralmente essas membranas são vascularizadas, logo elas não podem ser simplesmente removidas da superfície retiniana, já que isso pode resultar em hemorragias significativas e/ou roturas na retina(30,31). As principais técnicas cirúrgicas de manipulação de tecidos fibróticos epirretinianos são a segmentação, Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética 207 delaminação, ressecção em bloco (en bloc) e a dissecção bimanual, empregadas na cirurgia de vitrectomia no paciente diabético(30,31,32). A finalidade é alcançar os melhores resultados em benefício do paciente; enfim, uma combinação das técnicas previamente descritas pode ser utilizada. Segmentação A segmentação baseia-se na dissecção de fibroses epirretinianas, geralmente com o uso de tesouras verticais ou com a própria ponteira do vitreófago. Inicialmente remove-se a hialóide posterior 360 graus seguida pela identificação de plano de clivagem entre a retina e as membranas fibróticas. Reduz-se a a tração tangencial com auxílio da tesoura, cortando as membranas e separando-as dos epicentros. A técnica é empregada para liberação de trações circunferenciais quando outros métodos, como a delaminação são difíceis devido à mobilidade da retina na presença de roturas. Não é necessário a remoção total das membranas, ficando geralmente no final da cirurgia, pequenas ilhas de fibrose sobre a retina. Isso pode ser considerado uma desvantagem dessa técnica, já que esses tecidos fibrovasculares residuais podem tornar a proliferar e sangrar novamente (30,31,32). Laser (Fotocoagulação) A endofotocoagulação é sempre empregada até mesmo em olhos previamente tratados com panfotocoagulação, com o objetivo de diminuir o estímulo neovascular e minimizar hemorragias recorrentes ou retardar novos sangramentos. Uma avaliação de toda retina periférica é realizada antes do final da cirurgia, na tentativa de se identificar qualquer tipo de rotura retiniana pré-existente ou iatrogênica (ex. roturas nas esclerotomias). Caso seja encontrado alguma rotura, a mesma deve ser tratada com fotocoagulação ou com crioterapia, associada ao uso de algum agente tamponante (ex. ar, gás expansor ou óleo de silicone). Em um estudo prospectivo de 174 vitrectomias consecutivas, 39% dos olhos apresentaram rotura retiniana; 27% das roturas eram posteriores, e ocorreram durante dissecção das membranas, enquanto que 17% desses olhos apresentaram roturas no sítio das esclerotomias. No total, 49% desses olhos necessitaram de algum agente tamponante: 8% ar, 24% SF6, 10% C3F8 e 7% óleo de silicone(13). Delaminação O risco de novo sangramento no pós-operatório pode ser reduzido com a remoção completa das membranas fibrovasculares aderidas à retina. Nessa técnica, a remoção dessa membrana é feita através da dissecção horizontal no plano de clivagem entre a fibrose e a retina. Encontrar o plano de clivagem correto entre a hialóide posterior e a retina próximo do epicentro vascular é crucial, para se evitar roturas iatrogênicas(30,31). Normalmente são usadas tesouras horizontais o que permite que a membrana fibrótica seja removida completamente. Como na técnica anterior, logo no início do procedimento é feita a retirada da hialóide posterior. Após a remoção, a membrana é removida com o vitreófago(30,32,33). Ressecção em Bloco A dissecção em bloco utiliza técnicas de delaminação de membranas, porém sem remoção da hialóide. Procura-se de forma delicada a separação da hialóide posterior mantendo-se aderida aos tecidos fibróticos e a base vítrea. O diferencial nessa técnica é a manutenção da hialóide intacta. Uma pequena abertura na hialóide posterior, parcialmente descolada, é realizada para que então uma tesoura horizontal possa ser introduzida no espaço retro-hialóideo. O uso desta técnica aproveita a tração anteroposterior da hialóide como auxiliar na remoção das membranas. Toda a hialóide e o tecido fibrótico são removidos em bloco, utilizando-se pinças e tesouras, e depois os tecidos separados são cortados e aspirados pela sonda de vitrectomia(32,33). Dissecção Bimanual Nos descolamentos mistos pode ser útil a combinação da delaminação e da segmentação, devido à dificuldade de separar completamente as membranas fibróticas de uma retina descolada. A técnica de dissecção bimanual pode ser empregada em casos complexos com a utilização de uma iluminação/fonte de luz auxiliar, o que permitirá ao cirurgião o uso de dois instrumentos para dissecção(30,32). Com o avanço dos sistemas e aparelhos de vitrectomia, principalmente com as aberturas mais distais das sondas de vitrectomia, a maioria das membranas e cirurgias de DRT podem ser realizadas com a sonda do vitreófago. A sonda de vitrectomia fica posicionada próximo das membranas, e por meio de corte e aspiração, retira-se as mesmas da superfície retiniana, com toda cautela para não provocar roturas iatrogênicas. Vitrectomia no Edema Macular Diabético (EMD) A VVPP para o EMD pode ser realizada com ou sem a remoção da membrana limitante interna. A cromovitrectomia com corantes como a indocianina verde e o azul brilhante, pode ser utilizada durante a vitrectomia, com a finalidade de corar a membrane limitante interna e melhorar a sua visualização. Um estudo comparativo de vitrectomia para o tratamento do edema macular difuso clinicamente significativo, demonstrou uma melhora estrutural na Tomografia de Coerência Óptica (OCT) - espessamento foveal e melhora significativa no volume macular - porém uma melhora limitada da acuidade visual no décimo segundo mês de pós-operatório(34). Terapia Antiangiogênica Os antiangiogênicos foram introduzidos na prática oftalmológica há poucos anos para o tratamento da degeneração macular relacionada à idade. Diversos estudos vêm também demonstrando o benefício de sua utilização na retinopatia diabética proliferativa(35,36). Esses estudos descrevem a utilização do ranibizumabe e do bevacizumabe, como monoterapia, em pacientes com hemorragia vítrea ou como preparação para realização de vitrectomia. Nas hemorragias vítreas, com o possível bloqueio temporário da atividade neovascular, parece haver um favorecimento na absorção da hemorragia vítrea. Em casos mais complicados, com proliferação fibrovascular e DRT, esses drogas parecem exercer um papel importante na rápida involução da neovascularização da retina e íris, bem como facilitar a remoção das membranas, diminuindo diretamente o sangramento intraoperatório(37-39). Alguns casos mostram piora do DRT ou mesmo surgimento de DR regmatogênico associado, após à administração dos antiangiogênicos. Essas complicações geralmente surgem devido a contração vítrea nas primeiras 2 a 3 semanas, sendo importante a realização da vitrectomia num período de até duas semanas após a injeção do antiangiogênico(38,40). Complicações Cirúrgicas As principais complicações cirúrgicas em pacientes diabéticos submetidos à VVPP incluem a hemorragia vítrea recorrente, descolamento de retina regmatogênico (DRR), rubeosis iridis e glaucoma neovascular. A hemorragia vítrea no pós-operatório imediato é comum Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9 208 Sabrosa NA, Sabrosa AS, Gouvea KC, Gonçalves Filho P e geralmente se resolve de forma espontânea após algumas semanas. A hemorragia vítrea no pós-operatório tardio ocorre apenas em 10% dos olhos diabéticos, e pode estar relacionada à proliferação neovascular na base vítrea, normalmente no local das esclerotomias. Uma publicação recente mostrou que a complicação pós-operatória mais comum foi a hemorragia vítrea, a qual ocorreu em 22% dos olhos(13). Crioterapia anterior, endofotocoagulação confluente e posterior à ora serrata e laser transescleral podem reduzir o risco de crescimento fibrovascular e hemorragia recorrente(41). A realização de ecografia periódica, em olhos sem possibilidade de visualização do fundo de olho, deve ser resalizada para excluirmos a presença de descolamento de retina. O descolamento de retina regmatogênico (DRR) após a vitrectomia, geralmente é devido às roturas retinianas não encontradas no intraoperatório e requer tratamento cirúrgico de urgência na tentativa de se prevenir o desenvolvimento da vitreorretinopatia proliferativa (PVR) e/ou rubeosis iridis(14,42). Em outro estudo, uma incidência de 4,7% de DRR foi encontrado(43). O risco de DRR após a vitrectomia em pacientes diabéticos parece está diminuindo, provavelmente devido ao uso de sistemas de visualização de grande angular, que permitem uma avaliação mais detalhada e precisa de retina periférica (43,44), e dos novos sistemas de vitrectomia de 23-gauge e 25-gauge(45,46). O descolamento de retina associa-se a rubeosis iridis em até 83% dos casos(32). O glaucoma neovascular apresenta taxa de incidência variável, de acordo com a gravidade pré-opertória do caso, podendo chegar até 20% dos casos operados(32). No segmento anterior, defeitos epiteliais da córnea também tornaram-se menos comuns, devido à introdução dos sistemas de visualização de não-contato (ex. BIOM). Embora a catarata nuclear se desenvolve normalmente após a VVPP, isso é menos comum em pacientes diabéticos. Uma publicação, demonstrou uma incidência da remoção da catarata em 15% após VVPP em pacientes diabéticos, comparado a 66% e 53% após vitrectomia para tratamento do buraco macular e da membrana epirretiniana respectivamente(47). A cirurgia combinada de VVPP e facoemulsificação com implante de lente intraocular (facovitrectomia) está ganhando popularidade. Entretanto, não está recomendada para pacientes com isquemia retiniana acentuada, rubeosis iridis e em pacientes com DRT(48). Considerações Finais De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 150 milhões de indívíduos são atualmente afetados pela diabetes, número que pode duplicar nos próximos 10/ 15 anos. A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira nos países industrailizados entre as populações ativas, correspondendo a 30% dos pacientes cegos. O diagnóstico precoce e o tratamento oportuno podem reduzir em mais de 80% diagnóstico precoce e o tratamento oportuno podem reduzir o risco de cegueira entre aqueles pacientes. Nos últimos anos, publicou-se inúmeros avanços no tratamento da retinopatia diabética, graças a estudos multicêntricos e novas perspectivas de melhores resultados que apareceram com o advento de melhores técnicas cirúrgicas, equipamentos mais modernos e novas medicações para aplicações intravítreas. REFERÊNCIAS 1. Lein R, Klein BE, Moss SE, CVruickshanks KJ. The Winsconsin Epidemiologic Sutdy of Diabetic Retinopathu: XVII. The 14-year incidence and profession of diabetic retirnopathy and associated risk factors in type 1 diabetes. Ophthalmology. 1998; 105(10):1801-15. 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Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9 210 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) - ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http://www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A versão “on-line” da revista poderá ter artigos apenas em inglês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliograRev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 210-2 fia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http://clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e sequencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas sequencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saber-se o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente 211 para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style”, conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível, na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http:// www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=journals. Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident age-related macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word (r) e as demais em arquivos Microsoft Excel (r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. Versão português-inglês: Seguindo os padrões dos principais periódicos mundiais, a Revista Brasileira de Oftalmologia contará com uma versão eletrônica em inglês de todas as edições. Desta forma a revista impressa continuará a ser em português e a versão eletrônica será em inglês. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares e Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa, se comprometem a custear a tradução dos artigos para língua inglesa, porém seus autores uma vez que tenham aprovado seus artigos se disponham a traduzir a versão final para o inglês, está será publicada na versão eletrônica antecipadamente a publicação impressa (ahead of print). * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http:/ /clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos poderão ser submetidos pelos Correios ou pela Internet. a) Internet: submissão pelo site - “rbo.emnuvens.com.br” b) Correios: Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 210-2 212 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (é necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 210-2