O poder da confiança na misericórdia de Cristo, segundo o pregador do Papa Padre Cantalamessa comenta o Evangelho do Domingo de Ramos ROMA, quinta-feira, 6 de abril de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Evangelho da liturgia eucarística do Domingo de Ramos --9 de abril-- do padre Raniero Cantalamessa OFM Cap (pregador da Casa Pontifícia). *** Domingo de Ramos – B (Isaías 50, 4-7; Filipenses 2, 6-11; Marcos 14, 1-15, 47) - cf.par. Mt 26; Lc 22 Com Pedro ou com Judas O Domingo de Ramos é a única ocasião, em todo o ano, em que se escuta por inteiro o relato evangélico da Paixão. O que mais impressiona, lendo a paixão segundo Marcos, é a relevância que se dá à traição de Pedro. Primeiro é anunciada por Jesus na Última Ceia; depois se descreve em todo seu humilhante desenvolvimento. Esta insistência é significativa, porque Marcos era uma espécie de secretário de Pedro e escreveu seu Evangelho unindo as recordações e as informações que lhe chegavam precisamente dele. Foi, portanto, o próprio Pedro quem divulgou a história de sua traição. Fez uma espécie de confissão pública. Na alegria do perdão encontrado, a Pedro não importou nada seu bom nome e sua reputação como líder dos apóstolos. Quis que nenhum dos que posteriormente caíssem como ele ficasse desesperado. É necessário ler a história da negação de Pedro paralelamente à da traição de Judas. Também esta é pré-anunciada por Cristo no cenáculo, depois consumada no Horto das Oliveiras. De Pedro lê-se que Jesus voltou-se e «olhou» para ele (Lc 22, 61); com Judas fez mais ainda: beijou-o. Mas o resultado foi bem diferente. Pedro, «saindo, rompeu a chorar amargamente»; Judas, saindo, foi enforcar-se. Estas duas históricas não estão fechadas; prosseguem, afetam-nos de perto. Quantas vezes temos de dizer que fizemos como Pedro! Nós nos vimos na situação de dar testemunho de nossas convicções cristãs e preferimos nos fechar para não correr perigos, para não nos expor. Dissemos, com os fatos ou com nosso silêncio: «Não conheço esse Jesus de quem vós falais». Igualmente a história de Judas, pensando bem, não nos é alheia. O padre Primo Mazzolari teve uma pregação famosa uma Sexta-Feira Santa sobre «nosso irmão Judas», fazendo ver como cada um de nós poderia ter estado em seu lugar. Judas vendeu Jesus por trinta denários, e quem pode dizer que não o traímos às vezes até por muito menos? Traições, certo, menos trágicas que a sua, mas agravadas pelo fato de que nós sabemos, melhor que Judas, quem é Jesus. Precisamente porque as duas histórias afetam-nos de perto, devemos ver o que marca a diferença entre uma e outra: por que as duas histórias, de Pedro e de Judas, acabam de modo tão diferente. Pedro arrependeu-se do que havia feito, mas Judas também teve remorsos, tanto que gritou: «Traí sangue inocente!», e devolveu os trinta denários. Onde está então a diferença? Só em uma coisa: Pedro teve confiança na misericórdia de Cristo, Judas não! No Calvário, de novo, ocorre o mesmo. Os dois ladrões pecaram igualmente e estão manchados de crimes. Mas um maldiz, insulta e morre desesperado; o outro grita: «Jesus, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino», e se Lhe ouve responder: «Eu te asseguro: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). Viver a Páscoa significa viver uma experiência pessoal da misericórdia de Deus em Cristo. Uma vez uma criança, à qual se lhe havia relatado a história de Judas, disse com o candor e a sabedoria das crianças: «Judas equivocou-se de árvore para enforcar-se: elegeu uma figueira». «E o que deveria ter elegido?», perguntou-lhe surpresa a catequista. «Devia ter-se colocado no colo de Jesus!». Tinha razão: se tivesse se colocado no colo de Jesus para pedir-lhe perdão, hoje seria honrado como é São Pedro. Conhecemos o antigo «preceito» da Igreja: «Confessar-se uma vez ao ano e comungar ao menos na Páscoa». Mais que uma obrigação, é um dom, um oferecimento: é aí onde nós é oferecida a ocasião para nos «colocarmos no colo» de Jesus. [Traduzido por Zenit] ZP06040601 Evangelho segundo S. Marcos 14,12-16.22-26. – cf.par. Mt 26-26-3ß; Lc 22,15-20 No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, os discípulos perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?» Jesus enviou, então, dois dos seus discípulos e disse: «Ide à cidade e virá ao vosso encontro um homem trazendo um cântaro de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: O Mestre manda dizer: 'Onde está a sala em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’ Há-de mostrar-vos uma grande sala no andar de cima, mobilada e toda pronta. Fazei aí os preparativos.» Os discípulos partiram e foram à cidade; encontraram tudo como Ele lhes dissera e prepararam a Páscoa. Enquanto comiam, tomou um pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e entregou-o aos discípulos dizendo: «Tomai: isto é o meu corpo.» Depois, tomou o cálice, deu graças e entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse-lhes: «Isto é o meu sangue da aliança, que vai ser derramado por todos. Em verdade vos digo: não voltarei a beber do fruto da videira até ao dia em que o beba, novo, no Reino de Deus.» Após o canto dos salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla Homilias sobre a 1ª carta aos Coríntios Adorar o Corpo de Cristo Cristo, para nos levar a amá-lo mais, deu-nos a sua carne como alimento. Vamos, pois, até ele com muito amor e devoção... Este corpo é o que os magos adoraram quando estava deitado numa mangedoura. Esses pagãos, esses estrangeiros deixaram a sua pátria e a sua casa, empreenderam uma longa viagem para o adorarem com temor e tremor. Imitemos ao menos esses estrangeiros, nós que somos cidadãos dos céus... Vós mesmos já não o vedes numa mangedoura mas sobre o altar. Já não vedes uma mulher que o segura nos braços, mas o sacerdote que o oferece e o Espírito Santo que, com toda a sua generosidade, paira por cima das oferendas. Não só vedes o mesmo corpo que viram os magos mas, além disso, conheceis o seu poder e a sua sabedoria, e não ingorais nada do que ele realizou, após toda a iniciação aos mistérios que vos foi minuciosamente facultada. Acordemos, pois, e despertemos em nós o temor de Deus. Mostremos muito mais piedade para com o Corpo de Cristo do que aqueles estrangeiros manifestaram... Esta mesa fortalece a nossa alma, congrega o nosso pensamento, suporta a nossa confiança; ela é a nossa esperança, a nossa salvação, a nossa luz, a nossa vida. Se deixarmos a terra munidos com este sacramento, entraremos mais confiantes nos átrios sagrados... Mas para quê falar do futuro? Já neste mundo, o sacramento transforma a terra em céu. Abri, pois, as portas do céu..., vereis então o que vos acabo de dizer. O que há de mais precioso no céu, vo-lo mostrarei sobre a terra. O que vos mostro não são anjos, nem arcanjos, nem os céus dos céus, mais aquele que é o Senhor deles todos. „Ora, enquanto comiam, Jesus tomou do pão … e depois um cálice“ – Mc 14,22+23 [:Um cálice foi levantado / um pão entre nós partilhado / o povo comeu e bebeu / e anunciou: o Amor venceu:!] 1. Ó Pai, tua Palavra enviaste / ó Verbo, tua tenda entre nós levantaste / Senhor, ao mundo vieste qual luz / e a todos tu nos iluminas, Jesus! 2. Ó povo, escuta a Palavra do Mestre / pra nós Jesus olha e se compadece / ovelhas disperas, lutamos em vão / sem rumo … Jesus, tem de nós compaixão! 3. Ó gente, que estás no deserto com fome / a noite já vem e do dia a luz some / reparte a terra, o trabalho e o pão / dos céus nos vem a multiplicação 4. Ó ceia: Jesus pão e vinho tomou / e o cálice o o pão igualmente abençoou. /Ó mesa: o Cristo se dá em comida / comunga e entrega também sua vida. 5. Ó Igreja, da mesa de Deus te alimentas; / do pão, da ceia do amor te sustentas; / do cálice, o vinho da festa maior bebendo, / revive e anuncia o amor! 6. Cristãos de todo recanto, ajuntai-vos / em torno da única mesa encontrai-vos / unidos, fazei o anúncio mais forte / da vida que vence pra sempre a morte. Cantemos ….. n° 688