Mestrado Integrado Engenharia Biomédica, IST/FML 1.º Ano, 2.º Semestre Lisboa, Portugal Bio-Electricidade Dispositivos Eléctricos Oxímetro de Pulso Fonte: www.gaesca.com Ana Luísa Batista, n.º 69443 Bárbara Caravela, n.º 69776 Bárbara Góis, n.º 70305 18 de Maio de 2011 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis Índice INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 3 PALAVRAS-CHAVE ................................................................................................................................... 3 HISTÓRIA DO OXÍMETRO......................................................................................................................... 4 OXÍMETRO DE PULSO .............................................................................................................................. 5 Tipos .................................................................................................................................................... 5 Funcionamento ................................................................................................................................... 6 Métodos de envio de radiação........................................................................................................ 6 Lei de Beer-Lambert ........................................................................................................................ 6 Constituição e funções do oxímetro de pulso ................................................................................. 7 Ratio V/IV e SpO2 ............................................................................................................................. 8 Aplicações Clínicas............................................................................................................................... 9 Meios clínicos e aplicações da oximetria de pulso.......................................................................... 9 Limitações ......................................................................................................................................... 10 CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 11 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 12 2 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis INTRODUÇÃO O assunto investigado para a realização deste trabalho é o oxímetro de pulso, integrado no tema Dispositivos Eléctricos. As principais razões que levaram o grupo ao estudo desse assunto foram o acesso a bastante informação acerca do mesmo, bem como a sua grande aplicabilidade na área da Medicina. Para a elaboração da monografia, optou-se por fazer uma pesquisa o mais detalhada possível sobre o tema escolhido, dividindo tarefas, de maneira equitativa, pelos três elementos do grupo. Posteriormente, reuniu-se toda a informação e procedeu-se à discussão dos resultados obtidos, de modo a obter o produto final desejado. As fontes utilizadas são todas provenientes da Internet, uma vez que o grupo não encontrou qualquer informação em livros ou outro tipo de material em suporte de papel. Mesmo assim, conseguiu-se consultar alguns artigos em suporte digital, e pensa-se que a informação recolhida é suficiente para atingir os objectivos do trabalho. A estrutura do trabalho inicia-se com a referência à história do oxímetro, seguida da definição de oxímetro de pulso e dos tipos de oxímetros de pulso existentes. Também estão incluídos na estrutura o modo de funcionamento do dispositivo, as suas aplicações clínicas e as suas limitações, com o objectivo de aprofundar o tema desenvolvido e de mostrar o quão útil é um aparelho como o oxímetro de pulso nos nossos dias. PALAVRAS-CHAVE • • • Oxigénio Hemoglobina Radiação 3 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis HISTÓRIA DO OXÍMETRO A oximetria teve a sua origem no ano de 1935, quando uma equipa de investigadores alemães, nomeadamente Karl Matthes, conseguiu medir continuamente a saturação de oxigénio no sangue in vivo por transiluminação tecidual. Para tal, utilizaram um espectrofotómetro, instrumento que mede diferentes comprimentos de onda e intensidades de luz. Em 1940, um investigador britânico, Glenn Millikan (Ilustração 1), inventou um fone de ouvido de pouco peso que utiliza a luz vermelha e a infravermelha para medir a saturação de oxigénio da hemoglobina. Aquele era usado na pesquisa da aviação, na investigação de problemas de hipoxia em alta altitude. Nasceu, assim, o primeiro oxímetro de orelha. Os seus valores eram subjectivos, porque o equipamento não estava calibrado. Foi ainda Millikan que utilizou pela primeira vez o termo oxímetro. Após inúmeros aperfeiçoamentos, Robert Shaw, em 1964, conseguiu construir um oxímetro de auto calibragem de orelha. Em 1970, a Hewlett-Packard Corporation introduziu no mercado o oxímetro para uso na Medicina. No ano seguinte, Takuo Aoyagi (Ilustração 2) conseguiu a patente do primeiro oxímetro de pulso. A maior alteração que ocorreu desde os oxímetros 8-wavelength Hewlett-Packard dos anos 70 até aos oxímetros de hoje foi a inclusão da pulsação arterial, para diferenciar a absorção de luz no local de medição devido à pele, tecido e sangue venoso da absorção por parte do sangue arterial. Ilustração 1 - Glenn Millikan. Ilustração 2 - Takuo Aoyagi. 4 Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso OXÍMETRO DE PULSO O oxímetro de pulso é um dispositivo eléctrico médico, não-invasivo, que permite a medição da saturação de oxigénio no sangue, bem como da frequência cardíaca. Graças a este equipamento, é possível realizar uma rápida detecção de situações de hipoxia, que por vezes se podem tornar fatais. A monitorização em tempo real da saturação de oxigénio no sangue também permite o acompanhamento da progressão da condição médica do paciente. Tipos De uma forma geral, os oxímetros de pulso têm todos os mesmos princípios de funcionamento, diferindo apenas no seu design, portabilidade e modo de colocação. De seguida, são apresentados alguns exemplos (Ilustrações 3, 4 e 5): Ilustração 3 - Oxímetro de pulso portátil (de colocação no dedo). Ilustração 4 - Oxímetro de pulso portátil (de colocação no pulso). Ilustração 5 - Oxímetro de pulso hospitalar. 5 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis Funcionamento Métodos de envio de radiação Existem dois métodos de envio de radiação (Ilustração 6) através do local de medição: • • Transmissão – o emissor e o fotodetector estão opostos um ao outro com o local de medição entre eles. A luz pode então passar através do local. Reflexão – o emissor e o fotodetector estão um ao lado do outro no topo do local de medição. A luz sai do emissor para o detector através do local. O método de transmissão é o tipo mais comum, pelo que será o método abordado neste trabalho. Ilustração 6 - Métodos de envio da radiação num oxímetro de pulso. Lei de Beer-Lambert A lei de Beer-Lambert Lambert (Ilustração 7) é o fundamento básico para o funcionamento do oxímetro de pulso. Para medir a intensidade de luz que passa através de um meio, aquela a lei pode ser expressa pela seguinte equação: ࡵ ൌ ࡵ ൈ ࢋିࢻࢊࢉ solução I – Intensidade luminosa transmitida (mcd); I0 – Intensidade de luz incidente (mcd); α – Coeficiente de absorção do meio (cm2/mol); d – Distância percorrida pela luz (cm); c – Concentração do meio (mol/cm3). Ilustração 7 - Esquema ilustrativo da Lei de Beer-Lambert. O conhecimento da saturação de oxigénio do sangue arterial resulta da aplicação deste princípio, que estabelece que a concentração de um soluto dissolvido num solvente pode ser determinada pelo seu grau de absorção luminosa. lumino 6 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis Constituição e funções do oxímetro de pulso A funcionalidade do oxímetro de pulso baseia-se na transmissão de duas luzes com diferentes comprimentos de onda através do tecido e da camada vascular pulsátil. São usadas duas fontes distintas de luz, devido às diferentes propriedades da hemoglobina oxigenada e desoxigenada (Gráfico 1). Especificamente, a hemoglobina oxigenada (HbO2) – sangue arterial – absorve de forma máxima na região infravermelha – IV – (dos 850nm aos 1000nm), enquanto a hemoglobina desoxigenada (Hb) – sangue venoso – absorve maximamente na banda da radiação vermelha – V – (dos 600nm aos 750nm). Consequentemente, os oxímetros de pulso modernos são construídos com díodos emissores de luz (LEDs) IV de 910nm/940nm e V de 660nm. Gráfico 1 - Relação entre comprimento de onda da radiação e capacidade de absorção do meio. Quando é colocada uma sonda de um oxímetro de pulso numa extremidade do paciente, os dois LEDs transmitem luz através dessa extremidade. Uma porção de luz é absorvida pela pele, tecido muscular, osso e sangue venoso. Esta porção de luz absorvida é considerada a componente estática do sinal (DC). Contudo, existe uma variação da intensidade da luz, que é detectada pelo oxímetro de pulso, que se deve ao fluxo pulsátil nas artérias e arteríolas durante a diástole e a sístole (Ilustração 8). Esta parte do sinal é vista como a componente alterna do sinal (AC), que compromete apenas uma pequena componente do mesmo e pode ser isolada removendo a componente DC. Ilustração 8 - Esquema da absorção de luz no meio (componentes AC e DC). A frequência cardíaca é calculada por medição do intervalo de tempo entre a detecção dos picos da forma de onda luminosa IV. O inverso desta medida é mostrado como frequência cardíaca. As luzes V e IV dos LEDs passam através de um local razoavelmente translúcido com um bom fluxo de sangue. Os locais típicos de medição nos adultos são o dedo da mão, o dedo do pé, o topo ou o lobo da orelha, enquanto nas crianças são o pé ou a palma da mão e o polegar do pé ou da mão. No local de medição existem absorvedores de luz constante que estão sempre presentes, já referidos anteriormente, como a pele, o tecido, o sangue venoso e o sangue arterial. Apesar disso, 7 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis com cada batimento cardíaco, o coração contrai e há uma vaga de sangue sangu arterial, que momentaneamente aumenta o volume de sangue arterial através do local de medição. Esta situação resulta numa maior absorção de luz durante a vaga. Os sinais de luz recebidos no fotodetector são vistos como uma ‘forma de onda’, pelo que existem existem picos com cada batimento cardíaco e depressões entre batimentos cardíacos (Gráfico 2). 2). No caso de a absorção de luz na depressão (que deve incluir todos os absorvedores constantes) ser subtraída à absorção de luz no pico, então, teoricamente, os resultados dos são as características de absorção devidas ao volume adicionado de sangue, que é arterial. Uma vez que os picos ocorrem com cada batimento do coração ou pulso, foi criado o termo “oximetria de pulso”. Gráfico 2 - Absorção de luz através de tecido vivo. Ratio V/IV e SpO2 Depois de os sinais V e IV transmitidos atravessarem o local de medição e serem recebidos pelo fotodetector, o ratio V/IV é calculado da seguinte forma: A componente AC é a variação pico a pico pico do sinal na frequência cardíaca e a componente DC é a média de toda a intensidade de luz transmitida, tanto para o comprimento de luz vermelha ((v) como para o da infravermelha (iv iv). O valor obtido é comparado com uma tabela ‘modelo’ que converte o ratio num valor de SpO2 (nível de saturação de oxigénio no sangue). sangue). A maioria dos fabricantes tem as suas próprias tabelas ‘modelo’, com base em curvas de calibração provenientes de indivíduos saudáveis a vários níveis de SpO2. Tipicamente, um ratio V/IV de 0.5 equivale aproximadamente a 100% de SpO2, um ratio de 1.0 corresponde aproximadamente a 81%/82% de SpO2, e um ratio de 2.0 equivale a 0% de SpO2. 8 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis Aplicações Clínicas O oxímetro de pulso tem ganho aprovação a nível clínico nos últimos anos. O desenvolvimento do microprocessador, o melhor design do sensor aplicado ao paciente e o aperfeiçoamento dos algoritmos utilizados no processamento da informação recolhida, contribuíram para uma maior aceitação por parte dos profissionais de saúde relativamente ao uso deste dispositivo eléctrico. Actualmente, todos os pacientes que necessitam de oxigénio ou ventilação mecânica, independentemente do local em que se encontrem, podem beneficiar do uso do oxímetro de pulso. Esta situação pode consistir numa monitorização contínua ou em testes de diagnóstico ocasionais. Meios clínicos e aplicações da oximetria de pulso 1. Anestesia a. Em bloco operatório /Anestesia geral (Ilustração 9) b. Monitorização durante uma sedação consciente (Ilustração 10) 2. Unidades de cuidados intensivos 3. Neonatologia a. Cuidados intensivos b. Enfermagem neonatal c. Salas de parto 4. Transportes a. Interno (dentro do hospital) b. Externo (Ambulância/Transporte aéreo) Ilustração 9 - Anestesia. 5. Diagnóstico de laboratório a. Laboratório PFT (Pulmonary Function Testing) b. Laboratório de exercício c. Laboratório de sono (Ilustração 11) 6. Centros de cuidados subagudos 7. Cuidados domiciliários 8. Outras condições do paciente a. Avaliação do fluxo sanguíneo b. Paragem cardiorespiratória c. Asma d. Convulsões Ilustração 10 - Monitorização. 9. Em conjunto com outras modalidades a. Oximetria Dual (SpO2 e SvO2) b. Outros Ilustração 11 - Laboratório de sono. 9 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis Limitações Existem muitas variáveis que afectam as leituras dos oxímetros de pulso. A presença de hemoglobina disfuncional pode produzir erros na leitura do aparelho médico. A hemoglobina disfuncional representa a hemoglobina que é incapaz de vincular e transportar o oxigénio. O oxímetro de pulso mede a hemoglobina funcional que pode transportar oxigénio e não detecta qualquer hemoglobina disfuncional que pode estar presente. Portanto, a leitura calculada do oxímetro de pulso é maior do que a saturação de oxigénio arterial (SaO2). SaO2 define-se como o nível de saturação de oxigénio na hemoglobina, medida através de amostras obtidas de punção arterial e é geralmente calculado com um co-oxímetro, uma técnica invasiva que é a peça chave para a medição clínica da saturação de oxigénio. Há outras condições médicas que podem causar leituras imprecisas do oxímetro, por exemplo, qualquer condição que provoca vasoconstrição, hipotermia, estado de choque ou baixa perfusão. Além disso, a utilização de determinados corantes durante procedimentos cirúrgicos, como o indiocarmine ou o metileno azul, pode interferir com a transmissão de luz através das extremidades e causar um erro na leitura do oxímetro de pulso. Por outro lado, existem alguns factores não médicos que podem causar leituras imprecisas, nos quais se destacam a interferência da luz causada por fontes externas, grandes movimentos frequentes pelo sujeito ou a utilização de um sensor impróprio para uma área de aplicação. Em suma, faz-se uma indicação de vários factores que perturbam o funcionamento normal do oxímetro de pulso: 1. Movimentos corporais 2. Perfusão baixa 3. Carboxi-hemoglobina 4. Metaemoglobina 5. Hemoglobina (Ilustração 12) disfuncional 6. Bilirrubina Ilustração 12 - Hemoglobina. 7. Interferência luminosa 8. Corantes intravasculares (Ilustração 13) 9. Unhas envernizadas 10. Electrocautério Ilustração 13 - Corantes intravasculares. 11. Hipoxia localizada 12. Imagem por ressonância magnética (MRI) 13. Sensor mal posicionado (efeito penumbra) 14. Anemia falciforme (Ilustração 14) Ilustração 14 - Anemia falciforme. 15. Nível de SaO2 baixo (<70%) 16. Sensor de temperatura local 17. Queimaduras 18. Necrose por pressão (Ilustração 15) Ilustração 15 - Necrose por pressão. 10 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis CONCLUSÃO O oxímetro de pulso é, sem dúvida, um dispositivo essencial nos dias que correm, tendo permitido melhorar substancialmente o diagnóstico de várias situações clínicas, por vezes potencialmente graves. Ainda assim, aquele equipamento apresenta algumas limitações quanto ao seu normal funcionamento, que espera-se que com a evolução da tecnologia e da ciência possam vir diminuindo, inovando-se até a forma de leitura e análise de dados realizada pelo aparelho. Como possibilidade para posteriores trabalhos sobre o mesmo assunto, fica a sugestão de se realizar um estudo mais aprofundado acerca do modo como a calibração do oxímetro de pulso é feita, de forma a dar-se a conversão do ratio V/IV para o nível de SpO2. 11 Dispositivos Eléctricos – Oxímetro de Pulso Ana Luísa Batista, Bárbara Caravela, Bárbara Góis BIBLIOGRAFIA AA.VV. «Pulse Oximetry – Principles, History, Clinical Applications, Limitations», oximetry.org, 2002. www.oximetry.org, consultado em 12/5/11. CORREIA, Rogério Oliveira, «Oxímetro de Pulso», SlideFinder, 2007. www.slidefinder.net, consultado em 12/5/11. 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