www.conhecer.org.br MANEJO DE PLANTAS OLEAGINOSAS PROMISSORAS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO BRASIL Elaboração: Felipe Pianna Costa, Engenheiro Agrônomo, [email protected]. Lima Deleon Martins, Engenheiro Agrônomo, [email protected]. Wagner Nunes Rodrigues, Eng. Agrônomo, Mestre em Produção Vegetal, [email protected]. PREFÁCIO Este curso tem como objetivo elucidar de forma clara, eficiente e econômica, o manejo de plantas oleaginosas promissoras para a produção de biodiesel no Brasil. Esta apostila é composta por três capítulos englobando as principais técnicas para o manejo de plantas oleaginosas promissoras para a produção de biodiesel no Brasil. Ao fim do curso, haverá um pequeno teste para verificação da sua aprendizagem. Boa leitura e bons estudos. Sucesso nos estudos! 1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DO BIODIESEL O conhecimento e a atual divulgação do efeito ambiental causado pela utilização dos combustíveis fósseis indicam a necessidade da criação de um modelo energético baseado no aproveitamento de fontes de energia alternativas. As fontes de energia renováveis ou energia limpa são combustíveis que usam elementos renováveis para a natureza como matériaprima, ao exemplo da energia eólica, biomassa, energia hídrica e energia solar. A humanidade tem sido movida a custa de recursos esgotáveis que levaram milhões de anos para se formar. Desta forma, o uso de combustíveis fósseis, que apresentam grande eficiência de produção de energia, ocasionou uma dependência do petróleo em larga escala, que tem acarretado uma mudança na composição da atmosfera e do balanço térmico do planeta. Considerando-se a reabsorção pelas plantas, o biodiesel pode reduzir em 78% as emissões líquidas de gás carbônico, comparado ao diesel derivado de petróleo. Além disso, as emissões de fumaça podem ser reduzidas em 90 % e as emissões de óxido de enxofre praticamente são eliminadas. É importante salientar que o biodiesel pode ser usado em qualquer motor de ciclo diesel com pouca ou nenhuma necessidade de adaptação (HOLANDA, 2004). A produção do biodiesel no Brasil ainda é recente, portanto, a formação dos arranjos estruturais e planejamentos integrados ainda estão sendo processados. A utilização de rotas alternativas de produção de energias renováveis em substituição aos combustíveis fósseis, como o Biodiesel é viável e vantajosa (PAULILLO et al, 2007). O Brasil é um dos países que reúnem as maiores vantagens comparativas para liderar a agricultura de energia. A primeira vantagem comparativa que se destaca é a perspectiva de incorporação de áreas à agricultura de energia, sem competição com a agricultura de alimentos, e com impactos ambientais circunscritos ao socialmente aceito. O segundo aspecto a considerar é a possibilidade de múltiplos cultivos dentro do ano calendário (EMBRAPA, 2005). Nesse contexto, Segundo a Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, Biodiesel é um “biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil”. Desta forma, visando colocar no mercado a produção de Biodiesel o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, que prevê a obrigatoriedade da adição de 2% de Biodiesel ao petrodiesel, a partir de 2008 e de 5% a partir de 2012. Estima-se que o piso do mercado de Biodiesel será superior a 2 bilhões de litros, em 2012. Segundo Miragaya (2005), a área plantada necessária para atender ao percentual de mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é estimada em 1,5 milhões de hectares, o que equivale a 1% dos 150 milhões de hectares disponíveis para a agricultura no Brasil, não incluídas aqui as regiões ocupadas por pastagens e florestas. O Biodiesel é um combustível derivado de fontes renováveis que pode ser produzido a partir de óleos vegetais, gorduras animais e até sobras de óleos de frituras, podendo ser obtido por diferentes processos tais como o craqueamento, a esterificação ou pela transesterificação. O Biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em motores de ciclodiesel automotivos (de caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc) ou estacionários (geradores de eletricidade, calor, etc). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas proporções. A mistura de 2% de Biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de B2 e assim sucessivamente, até o Biodiesel puro, denominado B100. Estudos realizados nos Estados Unidos revelam que um óleo B100, ou seja, totalmente composto por Biodiesel, permite reduzir em 48% as emissões de monóxido de carbono dos motores de veículos, quando comparado com o diesel convencional. Fora isso, há a redução de 47% na emissão de partículas inaláveis e quase a eliminação das emissões de enxofre, muito prejudiciais à saúde. No momento em que a demanda por fontes alternativas de energia se torna expressiva em todas as partes do mundo, criam-se novas perspectivas para os países pobres e de sustentabilidade para os países ricos intensificando a busca por informações técnico-científicas para a produção de Biodiesel a fim de contribuir e viabilizar a implantação de culturas que forneçam esta matéria prima. O fomento ao desenvolvimento das tecnologias para o aproveitamento das fontes renováveis poderá beneficiar comunidades rurais e regiões afastadas bem como a produção agrícola através da autonomia energética e conseqüente a melhoria global da qualidade de vida dos habitantes. Deve-se ressaltar que o fomento para a produção de Biodiesel pode ser realizada razoavelmente bem em zonas áridas e em solos degradados de utilidade marginal para a agricultura, não utilizando áreas propicias para a produção de alimentos e nem utilizando alimentos para a produção de energia como é o caso da mamona, pinhão manso e outros. O desenvolvimento de projetos de produção e comercialização do Biodiesel no Brasil deverá levar em consideração a produção e a oferta de matéria-prima (oleaginosas), tanto com relação à quantidade necessária quanto à possibilidade de uso de espécies regionais; o desenvolvimento de mercados para os subprodutos (ou derivados) do processo; as resoluções quanto à emissão de poluentes; a redução na dependência de petróleo e derivados; e a exportação de créditos de carbono relativos ao Protocolo de Kyoto (Efeito Estufa), com conseqüente reserva do fluxo de capitais no setor de combustível para motores do ciclo diesel (IVIG, 2005). Deve-se destacar a agricultura familiar como um importante agente na cadeia produtiva do Biodiesel, considerando os benefícios dados pelo Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel às empresas que adquirem matéria-prima desse segmento. A agricultura familiar assentada, por sua vez, apresenta vantagens no que diz respeito à concentração de produtores em uma dada região, o que reduz custos de transportes e de transação, como coleta de informações e estabelecimento de contratos. No Brasil, as discussões sobre biodiesel têm priorizado as oleaginosas que venham a gerar maior emprego de mão-de-obra e que possam incluir regiões que estão à margem do processo de desenvolvimento econômico. A produção de oleaginosas em lavouras familiares faz com que o biodiesel seja uma alternativa importante para erradicação da miséria no País, pela possibilidade de ocupação de enormes contingentes de pessoas (AMORIM, 2005). Com o fomento da (Petrobras), do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel e do projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em pinhão manso (Jatropha curcas L.) para a produção de Biodiesel, coordenado pela Embrapa Agroenergia e outros as plantas oleaginosas estão se consolidando como uma alternativa cada vez mais vantajosa para a produção de biodiesel. Enumeras são as vantagens da produção do Biodiesel de acordo com o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, coordenado pela Embrapa Agroenergia como: oportunidades de expansão do emprego, apoiar a mudança na matriz energética nacional, subsidiar políticas públicas, redução das emissões de gases poluentes (enxofre, aromáticos e monóxido de carbono), redução da contribuição para o aquecimento global, produção de energia limpa e renovável, fortalecimento do agronegócio a partir de novos investimentos, desenvolvimento regional sustentado, balanço de pagamentos através da redução de importações de diesel, fixação do homem no campo, desenvolvimento da agricultura em áreas degradadas ou secas, melhoria da distribuição de renda, geração de novos empregos na cadeia produtiva, geração de emprego e renda no campo, reduzindo o êxodo rural. Com uma elevada extensão territorial o Brasil é um continente, com cinco macro regiões bem definidas, com características discrepantes de solos, clima e regime de chuvas específicos. Desta forma, agronomicamente seria imprudente definir uma oleaginosa para o Brasil inteiro, se destacando assim com uma diversidade de condições edafoclimáticas o Brasil é considerado como um dos países mais propícios para a exploração de biomassa para fins alimentícios, químicos e energéticos. 1.2 PLANTAS OLEAGINOSAS Diversas são as alternativas para a produção de óleos vegetais no Brasil, o que constitui num dos muitos diferenciais para a estruturação do programa de produção e uso do biodiesel no país. Todavia o desafio é do aproveitamento da vocação agrícola de cada região neste país com dimensões continentais e da utilização de espécies não alimentar para a produção do Biodiesel. Lembrando que as diversidades sociais, econômicas e ambientais geram distintas motivações regionais para a sua produção e consumo. Segundo Bilich e DaSilva, (2008), as principais fontes para extração de óleo vegetal com potencialidade para o uso na produção de biodiesel são: baga de mamona, amêndoa do coco de dendê, amêndoa do coco de babaçu, semente de girassol, amêndoa do coco da praia, caroço de algodão, grão de amendoim, semente de canola, semente de pinhão manso, semente de maracujá, polpa de abacate, semente de linhaça e de nabo forrageiro e entre as plantas nativas pode se contar com o pequi, o buriti e a macaúba entre outras que apresentaram resultados relevantes nos testes laboratoriais. A mamona (Ricinus communis L.) vem se tornando um atraente mercado em razão de sua enorme aplicabilidade em mais de 400 produtos industriais, destacando-se principalmente em matéria prima da biomassa para a produção de energia renovável. Diversas são as vantagens da utilização da mamona para o fornecimento de matéria prima para o biodiesel como a sua adaptabilidade a diversos climas, solos, manejos, possibilidade de consorciá-la com a maioria das culturas, além de uma maior rusticidade do que outras culturas. O pinhão-manso (Jatropha curcas) é considerado uma cultura rústica, adaptada às mais diversa condições edafoclimáticas, que sobrevive bem em condições de solos marginais de baixa fertilidade natural sendo altamente promissora como fonte energética renovável sob o ponto de vista econômico e social, (ARRUDA et al., 2004; SATURNINO et al., 2005; DIAS et al., 2007). O pinhão-manso pode ser considerado uma das mais promissoras oleaginosas do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil para substituir o diesel de petróleo (BIODIESELBR, 2008). O dendê (Elaeis guineensis) é produzido a partir do fruto de uma palmeira perene de grande porte conhecida como Dendezeiro. A importância econômica do azeite-de-dendê vai além do seu uso culinário, como é mais conhecido no Brasil. É empregado como biocombustível, como proteção de folhas-de-flandres e chapas de aço, na fabricação de sabão, vela, graxas, lubrificantes e artigos vulcanizados, e na produção de gorduras vegetais e margarinas. As práticas culturais adotadas no seu cultivo constituem-se de um sistema de produção agroindustrial, com aceitável estabilidade ecológica e baixos impactos negativos ao ambiente, sendo de grande importância para projetos de colonização e desenvolvimento da agricultura familiar. O girassol (Helianthus annus L.) é uma planta com características muito rústica, principalmente no que diz respeito ao seu potencial para aproveitamento econômico na produção de biodiesel. Com raízes profundas e um porte alto é uma planta tolerante às variações climáticas, e às variações de do solo. Utilizando-se as mesmas máquinas de plantio e de colheita do milho, com pequenas adaptações o girassol pode ser usado com sucesso na rotação de culturas, pois diminui a incidência de pragas, doenças e ervas daninhas podendo ser incorporado ao solo favorecendo o plantio direto. A prensagem das sementes produz um teor de óleo que pode oscilar entre 38 e 48%, dependendo do solo, do clima e do tipo de adubação usada. O coco de babaçu é o principal produto do extrativismo vegetal do estado do Maranhão, tendo em vista que um quarto do território maranhense é coberto por esta palmeira nativa (Orbignya martiana). As atividades envolvidas com o coco babaçu geram cerca de 300 mil empregos, desde a coleta (quebradeiras de coco) até o refino do óleo (PENSA/USP, 2000). Para fins de produção de biodiesel, o óleo de babaçu extraído das amêndoas, por ter composição predominante de triacilglicerídeos de ácidos láuricos, possui excelentes qualidades para a transesterificação devido à sua cadeia curta que interage mais efetivamente com o agente transesterificante, obtendo-se um biodiesel com excelentes características físico-químicas (LIMA et al., 2007). A canola (Brassica napus) está inserida na categoria de plantas oleaginosas. Dela se extrai o óleo de canola, que vem a ser o produto mais saudável para esta categoria pelos baixos teores de gordura saturada (RENARD et. al, 1994 e TOMM, 2000). Além disso, o óleo de colza era conhecido por ter alto teor de ácido eicosanóico e erúcico (Óleos e Gorduras de Varias Procedências, 2000). A canola cultivada no Brasil (Pará e Rio Grande do Sul, principalmente) é uma seleção geneticamente modificada da colza (Brassica napus). É uma oleaginosa da família crucífera que possui de 40-46% de óleo no grão, e de 34-38% de proteína no farelo. Além do alto teor de óleo, apresenta excelente qualidade pela composição em ácidos graxos. O interesse dos produtores no plantio de canola tem crescido em função da garantia de compra e preço pago, constituindo-se alternativa de cultura de inverno (TOMM, 2000). O crambe (Crambe abyssinica) surge como planta com grande potencial para a produção de matéria-prima para biodiesel. A planta tem despertado interesse dos produtores de soja, porque todo seu cultivo é mecanizado e principalmente, por ser uma cultura de inverno (mais uma alternativa para a safrinha), plantada após a colheita da soja em março/abril e ter baixo custo de produção. A extração do óleo pode ser feita mecanicamente com o uso de extrusora e prensa, com percentual de óleo total entre 26% e 38% (VEDANA, 2007). Figura . Plantas oleaginosas descritas acima. 2 RECOMENDAÇÃO TÉCNICA PARA A CULTURA DA MAMONA 2.1 PLANTA A mamona (Ricinus communis L.) pertence à família Euphorbiaceae, é uma planta que se destaca no Brasil e no mundo pelo seu grande potencial produtivo oleaginoso. Matéria prima de aplicações exclusivas, devido a características peculiares que a torna o único óleo vegetal hidroxilado naturalmente, além de uma composição com predominância de um ácido graxo, ricinoléico, o qual lhe confere propriedades químicas atípicas (GONÇALVES et al., 2007). Devido suas inúmeras aplicações industriais a mamoneira vem se destacando como uma cultura de relevante importância econômica e social. A mamona depois de industrializada origina dois produtos: A torta, que é geralmente empregada como fertilizante orgânico devido à sua composição de nutrientes (em média de 4,37% de nitrogênio, 1,85% de fósforo e 1,39% de potássio); o óleo, entre as diversas utilidades, é empregado na indústria de plástico, siderurgia, saboaria, perfumaria, curtume, tintas e vernizes, além de ser excelente lubrificante para motores de alta rotação e carburante de motores a diesel (EMBRAPA, 2006). A mamoneira é uma espécie composta por uma grande variabilidade de variações em diversas características. São encontrados tipos botânicos com portes que variam do anão ao arbóreo, caule e folhas de coloração verde, vermelho ou rosa, com presença ou não de cera, frutos inermes ou com espinhos, deiscentes ou indeiscentes, sementes de vários tamanhos e colorações, diferentes teores de óleo, variações no número e tipos de flores nas inflorescências e outros. Em geral, o sistema radicular da planta é vigoroso, do tipo pivotante e profundo (MAZZANI, 1983; WEISS, 1983). Ao longo das raízes ocorre grande emissão de radícelas, o que confere maior eficiência na absorção de água e nutrientes. Segundo Amorim Neto et al. (2001) trata-se de uma planta xerófila altamente resistente à seca. As folhas da mamoneira são alternas, exceto para as duas folhas opostas que surgem no nó imediatamente acima dos cotilédones, palmatiformes com limbo peltado, com cinco a onze lóbulos, glabras, verdes, sendo que existe o tipo de folhas vermelho-escura com nervuras de tom um pouco mais claro, porém essa coloração raramente é encontrada no Brasil (SALUNKHE & DESAI, 1986; RODRIGUES et al., 2002). A principal característica de desenvolvimento da parte aérea da mamoneira é o crescimento de ramos laterais logo após a emissão da inflorescência primária na haste principal; cada ramo termina em uma inflorescência, sendo a planta normalmente monóica e a inflorescência, também denominada racemo ou cacho, composta de uma ráquis. O racemo monóico é composto por flores femininas na parte superior e masculinas na inferior. Figura 2. Ilustração das diferentes partes da espécie Ricinus communis. (Fonte: John Poulakis). 2.2 Latitude e altitude A mamoneira vegeta bem em climas tropicais e subtropicais e é explorada comercialmente entre as latitudes 40o N e 40o S. No Brasil ela é encontrada como planta silvestre desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia. Apesar de serem encontradas mamoneiras em altitudes variando desde o nível do mar até 2.300 m, para a produção comercial recomenda-se o cultivo em áreas com altitude na faixa de 300 a 1.500 m acima do nível médio do mar. Quando cultivada em regiões com altitude abaixo de 300 m há maior produção de massa verde em detrimento da produção de cachos (EMBRAPA, 2006). 2.3 Pluviosidade A mamoneira por ser considerada planta tolerante à seca, resiste a pouca quantidade de chuva, provavelmente devido ao seu sistema radicular bem desenvolvido, que busca água em grandes profundidades, chegando a alcançar, nos tipos comerciais, até três metros de profundidade. A precipitação anual deve estar na faixa de 500 a 1.500 mm, com ótimo em torno de 800 mm. Principalmente na fase de maturação dos frutos a falta de umidade no solo, favorece a produção de sementes pouco pesadas e com baixo teor de óleo, proveniente da síntese de carboidratos (EMBRAPA, 2006). Pluviosidade entre 600 e 700 mm proporcionam rendimentos superiores a 1500 kg/ha, associadas à outras técnicas de manejo, sendo viável economicamente em áreas onde a precipitação pluvial mínima esteja entre 400 e 500 mm (AZEVEDO & GONDIM, 2010). 2.4 Temperatura A mamona é uma planta de clima tropical e por isso prefere locais de temperatura do ar que variam entre 20 e 30 oC. Sendo que iniciada a germinação, a temperatura precisa manter-se acima de 12 ºC, pois baixas temperaturas na ocasião do plantio retardam a germinação das sementes, prolongando a permanência das mesmas no solo, o que favorece o ataque de microrganismos e insetos. No cultivo da mamona a temperatura pode variar de 20 a 35 o C para que haja produções que assegurem valor comercial, estando a temperatura ótima para a planta em torno de 28 o C. Temperaturas muito elevadas, superiores a 40 º C, provoca aborto das flores, reversão sexual das flores femininas em masculinas e redução do teor de óleo nas sementes (ARAÚJO et al., 2007). 2.5 Fotoperíodo A mamoneira é considerada uma planta de dias longos, embora se adapte bem às regiões com fotoperíodos curtos, desde que não inferiores a nove horas. Seu melhor desenvolvimento ocorre em áreas com boa insolação, com pelo menos 12 horas de sol/dia (NETO et al, 2001). 2.6 Produtividade O Brasil já foi o maior produtor mundial de mamona, todavia atualmente ocupa a terceira posição, com uma produção estimada na safra de 2006/07 de 152,3 mil toneladas, numa área de 209,1 mil hectares, sendo superado pela Índia e pela China. Dados da Conab (2007) revelam que a produtividade na Bahia é extremamente baixa, visto que o rendimento médio dos últimos cinco anos foi de 730,1kg ha-1, bem inferior, por exemplo, a média da Região Sudeste para o mesmo período (1377 kg ha-1). 2.7 Solo A mamoneira não é muito exigente em solo, desenvolvendo e produzindo em vários tipos de solo, de preferência solos de textura média, não muito argilosos, planos ou de relevo suave ondulado, sem perigo de encharcamento ou inundação. Desta forma, solos profundos, com boa drenagem, de textura franca e bem balanceados quanto aos aspectos nutricionais, favorecem o seu desenvolvimento. O sistema radicular da mamona é do tipo pivotante, com uma raiz principal que atinge grandes profundidades, apresentando grande quantidade de raízes laterais, responsáveis pela nutrição da planta, permitindo esta explorar as camadas mais profundas do solo, que normalmente não são atingidas por outras culturas anuais, como soja, milho e feijão, promovendo o aumento da aeração e da capacidade de retenção e distribuição da água no solo, principalmente em períodos de escassez de chuva. De uma forma geral, pode-se dizer que a mamoneira é exigente em fertilidade, devendo ser cultivada em solos com teores médios a alto de nutrientes. Segundo Weiss (1983), a mamoneira é capaz de crescer em uma grande variedade de solos, com teores de nutrientes bastante variáveis; mas em solos inférteis, a produtividade é baixa e a tolerância da planta a pouca chuva é freqüentemente confundida com tolerância à baixa fertilidade. Para a mamoneira produzir 1.700 kg ha -1 de sementes, estima-se que ela extraia do solo o equivalente a 50 kg ha-1 de N, 20 kg ha-1 de P2O5 e 16 kg ha-1 de K2O, sem contar as quantidades absorvidas para compor outras estruturas como raízes, caules, cascas e folhas (WEISS, 1983). A cultura prefere solos com pH entre 5 e 6,5, produzindo em solos de pH até 8,0. Para a conservação do solo deve-se fazer cobertura vegetal, em função da topografia do terreno, dos tratos culturais utilizados e do espaçamento. As curvas de nível devem ser utilizadas para ajudar na conservação, retenção da umidade do solo, contenção de água da chuva, como também a calagem, a rotação de cultura e a adubação adequada (ARAÚJO et al., 2007). 2.8 Variedade Existe uma gama de variedades de mamoneira disponíveis para o plantio. Eles diferem em porte, deiscência dos frutos, tipo dos cachos, produtividade, entre outras características. Com isso, deve-se verificar entre os vários genótipos existentes qual o mais adaptado a determinada região (AMARAL, 2002). O cultivar IAC-80 é uma cultivar de porte alto, com altura média de 3,00 - 3,50 m apresentando o ciclo vegetativo de 240 dias com frutos semi-deiscentes (quatro para cinco colheitas parceladas), com um potencial produtivo de 1.500 a 4.000 kg/ha, 47% de óleo nas sementes (SAVY FILHO, 2005; MATOS, 2007). O cultivar IAC-226 é de porte alto, podendo atingir uma altura média 3,50 m com um ciclo vegetativo de 180 a 200 dias, com um potencial produtivo de 1.500 a 4.000 kg/ha apresentando frutos indeiscentes (colheita única), 48% de óleo nas sementes (SAVY FILHO, 2005; MATOS, 2007). O cultivar Guarani é de porte médio, com altura de 1,80 - 2,00 m com um ciclo vegetativo de 180 dias apresentando frutos indeiscentes com um potencial produtivo de 1.500 a 4.000 kg/ha com aproximadamente 47% de óleo nas sementes (SAVY FILHO, 2005; MATOS, 2007). O cultivar IAC - 2028 é de elevado potencial produtivo, ciclo precoce com florescimento aos 75 dias e frutos indeiscentes, com altura de 1,50 - 1,80 m (SAVY FILHO, 2005; MATOS, 2007). Desta forma, cada condição climática e nível tecnológico exigem a escolha de uma cultivar apropriada, pois há grande variação nas características das variedades plantadas no Brasil. 2.9 Escolha do local Na escolha do local para implantação do plantio de mamona é recomendável que este seja bem drenado, pois a planta é extremamente sensível ao encharcamento, mesmo que temporário, cerca de três dias pode provocar morte das plantas. O solo para o plantio não deve apresentar alta salinidade, pois a presença de alta concentração de sais pode prejudicar o crescimento da planta. Lembrado que o cultivo da mamoneira por apresentar uma pequena habilidade de proteção ao solo pode acarretar num sério fator de degradação dos solos de uma região, pois esta cultura permite a exposição do solo aos agentes erosivos, como chuva, raios solares e ventos. 2.10 Preparo do solo O preparo do solo é fundamental na exploração racional da mamoneira. Essa prática tem alguns objetivos como: controlar plantas daninhas, aumentar a aeração do solo e aumentar a proteção do solo. Ambos os fatores são de grande importância, na conservação do solo e no desenvolvimento da mamoneira, pois a mamoneira é muito sensível à concorrência com as plantas daninhas e muito exigente em aeração do solo, e por não produzir cobertura vegetal densa, em função da arquitetura da planta esta cultura oferece uma menor proteção ao solo. Desta forma, alguns procedimentos deverão ser adotados para minimizar o problema de erosão do solo cultivado com a mamoneira, como: utilização de cobertura vegetal, realização de um preparo adequado do solo, usando-se curvas de nível no sentido perpendicular ao escoamento das águas, rotação de culturas, consorciação com outras culturas. 2.11 Espaçamentos O espaçamento no qual a mamoneira é explorada no Brasil é definido em função da fertilidade do solo e da variedade cultivada. Não podendo ser pequeno ao ponto de promover estiolamento devido à ausência de luz e nem tão grande ao ponto de favorecer crescimento de plantas daninhas. Desta forma, a mamoneira é cultivada no Brasil em dois sistemas distintos de cultivo: isolado e consorciado (EMBRAPA, 2006). Sistema Isolado De acordo com estudo de cultivares de porte médio da Embrapa Algodão para as áreas de sequeiro e nas condições de cultivo isolado, recomendam-se os seguintes espaçamentos: 2.11.1 Material de porte médio Solos de Baixa Solos de Média Solos de Alta fertilidade fertilidade fertilidade 2x1m 3x1m 4x1m Fonte: Embrapa,(2006). 2.11.2 Material de porte anão Solos de Baixa Solos de Média Solos de Alta fertilidade fertilidade fertilidade 1 x 0,5 m 1 x 0,7 m 1,5 x 0,5 m Fonte: Embrapa, (2006). Utilizando sistemas de cultivo mecanizado, com variedades de porte baixo e precoce, o cultivo solteiro é feito em combinações de espaçamentos e densidades de semeadura com populações de plantas variando de aproximadamente 9 mil plantas/ha a 15 mil plantas/ha, como se segue: Espaçamento (m) Densidade (m) Área (m2/planta) Número de plantas/ha 0,80 0,90 1,35 1,35 1,35 0,80 0,64 15.625 0,80 0,72 13.888 0,70 0,95 10.582 0,75 1,01 9.876 0,80 1,08 9.256 Fonte: Savy Filho (2005). Sob condições de sequeiro, plantas de mamoneira precoce (ciclo de 120 a 140 dias), com populações entre 15 mil plantas/ha e 45 mil plantas/ha, produziu 898 kg/ha e 1538 kg/ha, respectivamente (GONDIM et al., 2004). Sistema Consorciado O consórcio de culturas é prática tradicional de produção de alimentos e biomassa nas regiões tropicais, onde pequenas propriedades e operações intensivas predominam. No trópico semi-árido do Nordeste brasileiro esta prática tem sido uma das formas de aumento da produção de culturas entre os pequenos agricultores (BEZERRA NETO et al., 1991; BEZERRA NETO & ROBICHAUX, 1996, BEZERRA NETO & ROBICHAUX, 1997). A associação de culturas tem como principal objetivo maximizar a utilização dos recursos ambientais da área, além de reduzir o uso de mão-de-obra nas diversas operações com aplicação de insumos e tratos culturais, reduzindo assim o custo de produção. O arranjo das culturas dentro do consórcio vai depender do sistema de plantio a ser usado. De acordo com Embrapa (2006), no consórcio da mamoneira com culturas alimentares e oleaginosas dois sistemas de plantio podem ser usados: 2.11.3 Plantio em fileiras simples Mamoneira Solos de Baixa fertilidade Solos de Média fertilidade Solos de Alta fertilidade 4 x 0,5 m 4 x 0,8 m 4x1m Fonte: Embrapa, (2006). Culturas Consortes Solos de Baixa fertilidade Solos de Média fertilidade Solos de Alta fertilidade Algodoeiro 3 linhas(1,0 x 0,1 m) 3 linhas(1,0 x 0,2 m) 3 linhas (1,0 x 0,25 m) Caupi 3 linhas(1,0 x 0,4 m) 3 linhas(1,0 x 0,4 m) 3 linhas (1,0 x 0,6 m) 5 linhas( 0,1 x 0,25 m) 5 linhas (0,5 x 0,25 m) Feijão ou amendoim 5 linhas(0,5 x 0,2 m) Fonte: Embrapa, (2006). Figura 3. Consórcio da mamoneira com o algodoeiro anual, milho ou caupi. (Fonte: Azevedo et al., 1997). Figura 4. Consórcio da mamoneira com o feijoeiro ou amendoim. (Fonte: Azevedo et al., 1997). 2.11.4 Plantio em fileiras duplas Mamoneiras Solos de Baixa fertilidade Solos de Média fertilidade Solos de Alta fertilidade 1 x 0,8 x 4 m (Fonte: Embrapa, 2006). 1x1x5m 1 x1 x 6 m Culturas consortes O número de fileiras variará de acordo com os espaçamentos entre fileiras duplas da mamoneira (4,0m; 5,0m ou 6,0m) e os espaçamentos e densidades de plantio das culturas consortes serão idênticos ao do sistema de fileiras simples. Figura 5. Consórcio da mamoneira em fileiras duplas com culturas alimentares e algodão. (Fonte: Azevedo et al., 1997). Figura 6. Consórcio da mamoneira em fileiras duplas com culturas alimentares e algodão. (Fonte: Azevedo et al., 1997). Figura 7. Consórcio da mamoneira em fileiras duplas com culturas alimentares e algodão. (Fonte: Azevedo et al., 1997). Figura 8. Consórcio da mamoneira em fileiras duplas com culturas alimentares e algodão. (Fonte: Arquivo Embrapa Algodão). 2.12 Plantio A profundidade indicada é de 8 a 10 cm no início da estação chuvosa (novembro a dezembro) após pelo menos, 30 mm de chuva. Essa profundidade é indicada para solos de textura média a arenosa que retém pouca água, pois a profundidade de semeadura deverá fixar-se em função da capacidade de armazenamento de água do solo, de forma que, quanto maior a capacidade de retenção de água do solo, menor a profundidade de plantio. Dependendo da germinação e do vigor das sementes, deixa-se cair três ou mais sementes por cova. Utilizando de 5 a 15 quilos de sementes por ha. Quando a planta alcançar 10-12 cm é realizado o desbaste deixando 1 ou 2 plantas por cova, (SAVY FILHO, 2005). Figura 9. Germinação de plantas de mamona. (Fonte: Arquivo Embrapa Algodão). 2.13 Época de plantio A época de plantio da mamoneira se inicia na estação chuvosa, no final de setembro e inicio de outubro de forma a aproveitar ao máximo o período chuvoso, mas sendo a colheita feita em época seca. Na escolha da melhor época de plantio, deve-se observar o ciclo da cultivar a ser plantada, afim de que a colheita seja realizada em uma época seca e este período deve também está relacionado à uma menor incidência de pragas, doenças, plantas daninhas com finalidade de aumentar a viabilidade da cultura e a renda do produtor. 2.14 Sementes A qualidade final da semente a ser utilizada para o plantio deve ser monitorada desde quando esta é obtida no campo, tomando o cuidado em manter, durante o beneficiamento e o armazenamento as condições necessárias, evitando principalmente as injúrias mecânicas A capacidade de uma semente de produzir uma planta normal pode ser reduzida ou anulada por injúrias mecânicas causadas durante o beneficiamento (GREGG et al., 1970). A injúria mecânica é causada por choques e/ou abrasões das sementes contra superfícies duras ou contra outras sementes, resultando em sementes quebradas, trincadas, fragmentadas, arranhadas e inteiramente danificadas. Não só o aspecto físico da semente é atingido, pois sementes mecanicamente danificadas dificultam as operações de beneficiamento e apresentam menor germinação e vigor (ANDREWS, 1965; DELOUCHE, 1967). O uso de sementes de boa qualidade e de uma cultivar adaptada à região é uma das tecnologias mais simples, baratas e possibilitando a obtenção de produtividades mais altas. A semente deve ser adquirida de um produtor idôneo e detentor de Registro no Ministério da Agricultura. A produção de uma semente de qualidade deve ser feita com diversos cuidados para impedir a mistura genética com outras variedades, principalmente com as mamonas asselvajadas, e garantir a germinação e vigor das plantas. Por essa razão, não se recomenda que a semente colhida na propriedade seja utilizada para plantio, pois se o produtor não tiver o cuidado necessário nesse processo, a semente irá se contaminar geneticamente, provocando perda de produtividade ou surgimento de problemas como deiscência dos frutos e aumento da susceptibilidade a doenças (MATOS, 2007). Figura 10. Sementes de diferentes genótipos de mamona. (Fonte: http://www.mfrural.com.br). 2.15 Adubação e calagem A mamoneira é uma planta exigente em nutrientes, e responde bem à aplicação de fertilizantes, tanto químicos quanto orgânicos. Desta forma, as sementes possuem elevadas concentrações de óleo e proteínas, acarretando em uma demanda razoável por nutrientes essenciais, como o nitrogênio, potássio, fósforo, cálcio e magnésio. A análise química do solo é de fundamental importância, no qual permitirá também a identificação de barreiras químicas, a exemplo do alumínio, que poderão prejudicar o desenvolvimento do sistema radicular das plantas e o conhecimento dos teores de nutrientes disponíveis no solo que forneceram base para as formulações das recomendações mais acertadas para a adubação das plantas, diminuindo assim o desperdício e o uso inadequado de adubos e corretivos e prejuízo, que haveria tanto nas despesas com adubação como na redução das colheitas. Para a recomendação dos corretivos é sugerido o método de saturação por bases, elevando a para 60% conforme recomendação proposta por Prezotti et al., (2007). A adubação mineral recomendada para a mamona segundo o manual de recomendação de calagem e adubação para o Estado do Espírito Santo (5ª aproximação) segue abaixo: Adubação Nitrogênio de Plantio Kg/ha de N 15 Fósforo Baixo Médio Alto -----------kg/ha de P2O5------------70 50 30 Potássio Baixo Médio -----------kg/ha de K2O------------40 30 Fonte: Prezotti et al., (2007). 2.16 Controle das Plantas daninhas É recomendado o controle das plantas espontâneas até os primeiros 60 a 70 dias, quando representa o período critico de competição, pois a planta da mamoneira é sensível a alelopatia. Quando é feito esse controle há uma diferença significativa na produção do primeiro cacho (AZEVEDO & BELTRÃO, 2007). O método químico consiste no uso de produtos químicos denominados herbicidas para controle de plantas daninhas. Os herbicidas recomendados para o controle de plantas daninhas em mamoneira são: Alachlor, Diuron, Linuron, Eptc, Norea, Simazine e Trifluralin (AZEVEDO et al., 2001). 2.17 Rotação de Cultura A disponibilidade de água e nitrogênio são fatores importantes na agricultura. Práticas agrícolas, como rotação de cultura, plantio direto e uso de cultura de cobertura, usados na melhoria do armazenamento de água e no aumento do nitrogênio do solo, devem ser recomendadas como estratégia na estabilização de produção de culturas exploradas em condições de sequeiro, como é o caso da mamoneira (EMBRAPA, 2006). A rotação de culturas pode ser citada como benéfica para a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo, ao controle de plantas daninhas, bem como ao de doenças e pragas, à reposição de restos orgânicos, e à proteção do solo contra a ação dos agentes climáticos; é recomendável usar espécies das plantas fixadoras de nitrogênio com sistema radicular profundo ou abundante, espécies capazes de aproveitar os fertilizantes residuais das culturas comerciais; para o Paraná, indica-se como cobertura vegetal o lab-lab, mucunas, crotalárias e guandu para cultivos de verão (IAPAR, 1995). O manejo da matéria orgânica mediante rotação de culturas, adubação verde e consorciação de culturas pode proporcionar melhor aproveitamento de adubos químicos e possibilitar redução nos custos com adubação nitrogenada mineral, uma vez que propicia aumento da atividade biológica do solo (HERNANI et al., 1995). 2.18 Combate a doenças Mofo cinzento – Amphobotrys ricini O mofo cinzento, causado pelo fungo Amphobotrys ricini, encontrada no Brasil desde 1932, sendo considerada hoje a doença mais importante da mamoneira, devido à rápida e completa destruição dos cachos, principalmente quando as condições climáticas são favoráveis (MASSOLA JR & BEDENDO, 1995). O fungo ataca a inflorescência e os frutos da mamoneira em qualquer fase de desenvolvimento, começando como manchas de coloração azulada com exsudação amarela nas folhas, caules e cachos, e em condições climáticas ideais (temperaturas próximas de 25 oC e umidade elevada) o fungo continua a sua colonização podendo envolver todo o cacho com sua massa micelial olivácea (MASSOLA JR & BEDENDO,1995). O uso de cultivares resistentes é o método mais adequado para controle da doença. No entanto, não existem, ainda, cultivares da mamoneira exploradas economicamente que possuam alto nível de resistência a este patógeno (LIMA et al, 2001). A tática recomendada é quando as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento dos patógenos e os níveis de infecção são baixos, de preferência antes que ocorra a sua esporulação. O controle dessa doença pode ser feito com aplicação dos fungicidas carbendazim (0,5 L/ha) e tebuconazole (0,25 L/ha) no início do aparecimento sintomas da doença (ARAÚJO et al., 2007). Controles alternativos são citados na literatura como controle utilizando Trichoderma harzianum sobre cachos de uva, no Chile, controlando de maneira satisfatória a incidência de Botrytis cynerea e ainda diminuindo a indução de resistência à fungicidas no patógeno (CONCHA & ENRIQUE,1995; PINTO & DANIEL-ALEXANDRO, 2001) . Testes comerciais na América do Sul e pesquisa no Canadá e nos EUA sugerem que Clonostachys rosea é uma alternativa viável ao uso de fungicidas para o controle de Botrytis sp. (SURGEONER, 1998). Outro método de controle bastante interessante seria o uso de compostos secundários presentes no extrato bruto ou em óleo essencial de plantas medicinais, podendo constituir em mais uma potencial forma de controle alternativo de doenças em plantas (SCHWAN-ESTRADA & STANGARLIN, 2000). Murcha-de-Fusarium - Fusarium oxysporum f. ricini A murcha de fusarium é uma doença bastante comum, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. ricini (Wr.) Snyd e Hans, ocorrendo em praticamente todo o Brasil, porém em Santa Catarina não há relatos da ocorrência deste patógeno. Dependendo das condições edafoclimáticas, da densidade do inóculo do patógeno nos restos culturais ou no solo e do nível de resistência da cultivar, esta doença pode causar sérios danos à cultura da mamona (MASSOLA JR & BEDENDO, 2005). Um sintoma típico da doença é o escurecimento dos vasos da planta. A dispersão de F. oxysporum f. sp. ricini ocorre por meio do transporte de partículas de solo contaminado. Em função do agente causal da doença ser transmitido por sementes, é aconselhável o tratamento das sementes com o intuito de eliminar ou reduzir o inóculo associado às sementes, evitando-se, desta forma, a introdução do patógeno em áreas isentas; recomenda-se também a rotação de culturas e a eliminação dos restos culturais para reduzir a densidade de inóculo do patógeno no solo (EMBRAPA, 2006). Podridão de Macrophomina – Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid No estágio inicial caracteriza-se pelo amarelecimento das folhas e murcha da planta, assemelhando-se externamente à murcha causada por Fusarium, distingue-se deste por não apresentar enegrecimento dos vasos do caule e da planta. No inicio dos primeiros sintomas observa-se ao arrancar uma planta, a necrose total ou parcial da raiz a qual pode evoluir para o caule, tornando-o total ou parcialmente enegrecido, a qual apresenta abundantemente micélio escuro do fungo a ela aderente. Para o seu controle recomenda-se o uso de variedades resistentes e a rotação de cultura. Baixa umidade do solo e alta temperatura são as condições mais favoráveis à ocorrência da podridão de macrophomina (LIMA et al., 2001). O controle da doença se inicia antes do plantio por meio de medidas de exclusão, destacando-se a utilização de sementes sadias, provenientes de campos de produção isentos da doença. Outro importante aspecto é a rotação de culturas, tendo em vista a sobrevivência do patógeno na forma de escleródios no solo, o que possibilita o aumento do nível de inóculo de uma safra para outra. A eliminação de restos de cultura constitui uma medida eficaz para a redução do inoculo primário, contribuindo para reduzir a incidência da doença na safra subseqüente. Mancha-de-Cercospora - Cercospora ricinella É mais freqüente em regiões que registram precipitações pluviais elevadas, a doença não tem causado prejuízos à produção; entretanto, quando incide em plântulas pode ser fatal. Alta umidade do ar e temperaturas elevadas favorecem o desenvolvimento da doença (KIMATI et al., 1997). Os principais sintomas são manchas circulares, com centro pardo, margens escuras, algumas com halo amarelado; algumas áreas amarelecidas. A medida mais eficiente de controle é a utilização de cultivares resistentes genéticamente. Diversos fungicidas podem ser usados no controle da cercosporiose, mas é uma prática de custo elevado. Um método bastante eficaz já citado anteriormente para outras doenças é a rotação de culturas com espécies não suscetíveis, que é uma forma eficiente para reduzir a fonte de inóculo primário. Mancha Foliar Bacteriana - Xanthomonas campestris pv. Ricini A Mancha Foliar Bacteriana é causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. ricini . Os sintomas se caracterizam por pequenas manchas nas folhas, inicialmente de aspecto aquoso e coloração verde-escura, evoluindo para marrom-escura, de formato, geralmente, angular, e, algumas vezes, circular. A coalescência de lesões, em alguns casos, causa necrose de áreas extensas da folha, induzindo sua queda prematura. Os pecíolos e ramos jovens podem apresentar lesões escuras e alongadas. Frutos e racemos também podem ser afetados (EMBRAPA, 2006). A medida mais eficiente de controle é o uso de cultivares resistentes constituindo no método mais eficaz para controle desta doença, tendo em vista a ineficiência e alto custo do controle químico. A utilização de sementes sadias também é uma medida que deve ser considerada, tendo em vista a transmissão da bactéria através desta via de disseminação. Mancha-de-Alternaria - Alternaria ricini A mancha-de-alternária, causada pelo fungo Alternaria ricini, tem ocorrido de forma generalizada nas regiões produtoras de mamona no Brasil, porém não é de grande importância econômica; entretanto, nos Estados Unidos e na Índia tem ocasionado perdas de até 85% na produção (Embrapa , 2006). Os sintomas da mancha-de-alternária são manchas foliares de coloração parda que, de formato irregular, podendo formar anéis concêntricos que podem coalescer com a evolução da doença. Pode ocorrer desfolha total com a evolução da doença e os frutos afetados tornam-se marrom-escuro e podem murchar, havendo necrose do pedicelo e má formação da semente, podendo também causar tombamento de plântulas. A doença pode reduzir a população de plantas em função da morte das sementes ou tombamento das plântulas (KIMATI et al., 1997). O agente causal pode ser disperso por meio do vento, da chuva e de sementes contaminadas (EMBRAPA, 2006). No manejo dessa doença podem ser empregadas algumas táticas como, maior espaçamento entre plantas, uso de sementes sadias, tratamento das sementes com fungicidas. Porém ainda não há fungicidas registrados para o cultivo da mamoneira no Brasil (ARAÚJO et al., 2007). Figura 11. Doenças importantes na cultura da mamona. (Fonte: Bernardo Ueno). 2.19 Colheita Na colheita da mamona podem ser utilizadas máquinas adaptadas na plataforma de milho para a colheita mecanizada, pois os fabricantes de colheitadeiras ainda não produzem uma máquina exclusiva para colheita de mamona. Uma medida para uma maior eficiência da colheita mecanizada é a utilização de uma cultivar indeiscente (que não solta as sementes quando o fruto seca), o que possibilita que a colheita seja feita apenas uma vez quando todos os cachos da lavoura estiverem secos. A cultivar também deve ter porte baixo e pouca ramificação lateral para permitir a passagem da máquina (EMBRAPA, 2006). A colheita manual é indicada para pequenas e médias propriedades, em que a mão-de-obra disponível for abundante. Os cachos são quebrados ou cortados pela base, com canivete, podão ou tesoura (AZEVEDO & BELTRÃO, 2007). Na colheita manual recomenda-se que a planta apresente frutos semideiscentes e tenha porte variando de médio a alto, e vários cachos. A fim de diminuir os custos, deve-se procurar fazer o menor número possível de passagens na lavoura, observando-se na lavoura se os frutos estão se abrindo e derrubando as sementes. Desta forma, a colheita pode ser um pouco adiada, reduzindo custos com mão-de-obra na operação de colheita, possibilitando o menor numero de passagens (EMBRAPA, 2006). Figura 12. Colheita da mamona para a produção de Biodiesel. (Fonte: Flickriver; http://flickriver.com/photos/maisbrasil2009/tags/brasil/). 2.20 Secagem A secagem natural é o processo de secagem mais utilizado para mamona no Brasil. É recomendada para pequenas produções e feita expondose os frutos ao sol, após o seu desprendimento do cacho, em terreiros cimentados ou de alvenaria. As sementes de mamona devem ser espalhadas em camadas de no máximo 10 cm e revolvidas várias vezes durante o dia. Durante o dia recomenda-se fazer o revolvimento várias vezes, para uniformizar a secagem e, à tardinha, amontoá-los e cobri-los com lona plástica, para evitar a umidade da noite. O mesmo procedimento deve ser adotado se houver ameaça de chuva. Para o dimensionamento do terreiro, deve-se considerar uma área de aproximadamente 200 m² para a secagem da produção de 1 ha de mamona. A principal desvantagem desse sistema é o alto tempo de processamento e a exposição a intempéries (EMBRAPA, 2006). Figura 13. Secagem de mamona em terreiro. (Fonte: http://www.plantemamona.com.br/colheita.html). 2.21 Descascamento O descascamento é muito importante para obtenção de um produto de boa qualidade. A operação de descascamento pode ser realizada por diversos modelos de máquinas, podendo variar o princípio de funcionamento, a mobilidade e a necessidade ou não de retirada dos talos. Algumas máquinas podem ser acopladas ao trator, sendo levadas para dentro da lavoura e evitando o transporte dos frutos para um ponto específico. Muitos modelos também dispensam a necessidade de separação dos talos do cacho, diminuindo a necessidade de mão-de-obra e reduzindo os custos de produção (MATOS, 2007). Para obter uma boa eficiência no descascamento, é preciso que os frutos estejam bem secos e a máquina descascadora esteja bem regulada. Muitas vezes, além de estar seco, o fruto precisa ser exposto ao sol antes de ser colocado para descascar. As sementes de mamona têm tamanhos muito variados entre diferentes cultivares e as máquinas geralmente são reguladas para um único tamanho. Por isso, é importante não haver mistura de sementes de diferentes tamanhos na hora de descascar (MATOS, 2007). Figura 14. Batedora de mamona em operação e chicote com borrachas para o batimento (descascamento) dos frutos da mamona.. (Fonte: Arquivo Embrapa Algodão). 2.22 Armazenagem No armazenamento da mamona existem alguns aspectos que devem ser considerados, sementes danificadas têm menor longevidade que as intactas, as injúrias servem para entrada e disseminação de fungos e a presença destes acelera o processo de deterioração, afetando diretamente a germinação e o vigor das sementes prejudicando a qualidade do óleo. O principal cuidado necessário ao armazenamento é que a umidade do grão seja mantida baixa, sendo desejável também que se tenha baixa temperatura, baixa umidade do ar e boa aeração. Quando a semente de mamona é bem armazenada, pode permanecer até 1 ano quando se trata de sementes para plantio ou até 2 anos para os grãos destinados à indústria. O óleo das sementes quebradas se acidifica rapidamente durante o armazenamento, portanto, se as sementes tiverem sido muito quebradas durante o descascamento deve-se evitar armazenar o produto por muito tempo (MATOS, 2007). Após o descascamento e limpeza das sementes, procede-se ao ensacamento, utilizando-se sacos de aniagem com capacidade para 50 a 60 kg. Caso a mamona não seja imediatamente comercializada, os sacos deverão ser empilhados em depósitos ou armazéns arejados, secos e isentos de insetos e roedores (RIBEIRO FILHO, 1966). 2.23 Comercialização A comercialização da mamona se dá principalmente por intermédio da indústria de extração de óleo, seja para produção de biodiesel ou para atender ao mercado de ricinoquímica, que é a indústria à base de óleo de mamona. O preço de venda da mamona é definido a cada dia pelo mercado, podendo ser influenciado pela produção mundial (principalmente da Índia que é o principal produtor), pela cotação do dólar (já que a maior parte do óleo é exportada) e por condições locais, como distância até a indústria e impostos. A comercialização é um dos passos mais importantes que o agricultor toma, pois pode definir entre o lucro ou prejuízo. Portanto, recomenda-se que o produtor procure contatar os prováveis compradores e, se possível, acertar o preço antes do plantio para reduzir estes problemas (MATOS, 2007). A semente de mamona geralmente é vendida pelo produtor já descascada e ensacada (sacos de 60 kg). A venda do óleo da mamona diretamente pelo produtor é muito rara, pois o processo de extração em pequena escala é ineficiente, sendo viável apenas para indústrias de maior porte (MATOS, 2007). 3 Recomendação técnica para a cultura do Pinhão manso 3.1 Planta Segundo Laviola & Dias (2008), a cultura do pinhão manso (Jatropha curcas) é uma espécie perene, originária da América Latina pertencente à família das Euforbiáceas, a mesma da mamona, mandioca e seringueira. É um arbusto grande, de crescimento rápido, cuja altura normal é dois a três metros, mas pode alcançar até cinco metros em condições especiais. O diâmetro do tronco é de aproximadamente 20 cm, este possui raízes curtas e pouco ramificadas, caule liso, de lenho mole e medula desenvolvida, mas pouco resistente. O tronco ou fuste é dividido desde a base, em compridos ramos, com numerosas cicatrizes produzidas pela queda das folhas na estação seca, as quais ressurgem logo após as primeiras chuvas (CORTESÃO, 1956; BRASIL, 1985). Segundo Cortesão (1956) e Brasil (1985), as folhas do pinhão são verdes, esparsas e brilhantes, largas e alternas, em forma de palma com três a cinco lóbulos e pecioladas, com nervuras esbranquiçadas e salientes na face inferior. A planta é monóica, com flores masculinas e femininas na mesma inflorescência. As masculinas surgem em maior numero, nas extremidades das ramificações, e as femininas na base delas. Estas flores são amareloesverdeadas e diferenciam-se também pela ausência de pedúnculo articulado nas femininas, as quais são largamente pedunculadas. A polinização é realizada por insetos (abelhas, formigas, trips e moscas) e da flor ao fruto maduro são decorridos cerca de 60 dias (DIAS et al., 2007). O fruto é capsular, ovóide, com diâmetro de 1,5 a 3,0 cm, trilocular, com uma semente em cada cavidade, formado por um pericarpo ou casca dura e lenhosa, indeiscente, inicialmente verde, passando a amarelo, castanho e por fim preto, quando atinge o estádio de maturação. Contém de 53 a 62% de sementes e de 38 a 47% de casca, pesando cada uma de 1,53 a 2,85 g. A semente é relativamente grande; quando secas medem de 1,5 a 2 cm de comprimento e 1,0 a 1,3 cm de largura, apresenta tegumento rijo, quebradiço de fratura resinosa. Debaixo do invólucro da semente existe uma película branca cobrindo a amêndoa, albúmen abundante, branco, oleaginoso, contendo o embrião provido de dois largos cotilédones achatados. A semente de pinhão, que pesa de 0,551 a 0,797 g, pode ter, dependendo da variedade e dos tratos culturais, de 33,7 a 45% de casca e de 55 a 66% de amêndoa (HELLER, 1996; SWOT, 2002; ARRUDA et al., 2004; SATURNINO et al., 2005). O teor de óleo na semente varia de 30 á 35% com relação ao peso da semente. Este óleo contém muito poucos componentes e tem uma excelente qualidade para queima, sendo muito adequado para a transesterificação do biodiesel (SATURNINO et al., 2005). Sua fase reprodutiva inicia-se a partir do décimo mês após o plantio, período em que ocorre aumento progressivo de produção até o terceiro ou quarto ano, quando se estabiliza, podendo chegar a quatro metros de altura e manter o período produtivo até 40 anos (ARRUDA ET AL., 2004; MARTINS et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2007). Figura 15. Diferentes partes da planta de pinhão manso. (Fonte: Arquivo Embrapa Agroenergia; http://www.uff.br). 3.2 Zoneamento agrícola Conforme Santos (1999) o zoneamento agrícola constitui uma tarefa de fundamental importância na organização dos programas de trabalho e suporte do planejamento da agricultura. Ele se baseia no levantamento dos fatores que definem as aptidões agrícolas, encontradas em diferentes faixas da região estudada. Com base nas exigências hídricas (HENNING, 1996) e de temperatura (SATURNINO et al., 2005), Gonçalves e Sentelhas (2008) propuseram as seguintes classes de aptidão climática para a cultura do pinhão manso: a) Apta - temperatura média anual entre 18 e 28,5 oC e chuva anual maior que 1000 mm; b) Restrito por deficiência hídrica - temperatura média anual entre 18 e 28,5 oC e chuva anual entre 600 e 1000 mm; c) Restrito por deficiência térmica - risco de geadas ou temperatura média anual menor que 18,5 oC; d) Restrito por excesso de temperatura - temperatura média anual maior que 28,5 oC; e) Inapta - chuva anual menor do que 600 mm. Desta forma, no estado da Bahia, quase que a totalidade do território apresenta temperatura média anual superior a 18°C, essa característica permite o desenvolvimento do pinhãomanso sem restrições de ordem térmica. Por outro lado, a grande variação no total anual das chuvas, faz com que haja a existência de três zonas distintas de favorabilidade ao cultivo dessa oleaginosa, sendo uma favorável na faixa litorânea e no extremo oeste (20,89% do estado), uma marginal em grande parte da região central e sul do (63,95% do estado), e uma desfavorável no norte (15,16% do estado). De acordo com Saturnino et al. (2005) e Andrade Júnior et al. (2006), Toledo et al., (2009) identificaram, respectivamente, para a cultura do pinhãomanso no estado do Espírito Santo um área apta de 6513,54 Km² no estado, distribuída em frações nos 34 dos 78 municípios do estado, principalmente na macrorregião Sul e Metropolitana, e ainda abrangindo uma pequena parte do Nordeste do estado. 3.3 Latitude e altitude Segundo Cortesão (1956), sua distribuição geográfica é bastante vasta devido a sua rusticidade, resistência a longas estiagens, bem como às pragas e doenças, sendo adaptável a condições edafoclimáticas muito variáveis, desde o Nordeste até São Paulo e Paraná. Segundo estes autores o pinhão manso se desenvolve bem tanto nas regiões tropicais secas como nas zonas equatoriais úmidas, assim como nos terrenos áridos e pedregosos, podendo, sem perigo, suportar longos períodos de secas. A Planta nasce praticamente em todo tipo de terreno e altitude, tanto em terrenos de encosta como áridos e úmidos, apresentando as melhores condições entre altitudes de 500 m a 800 m (SATURNINO et al., 2005). Desta forma, a planta pode se desenvolver economicamente viável praticamente em diversas regiões do Brasil, entretanto em virtude das diferenças de latitude e altitude, é necessário adaptar e ajustar tecnologias à essas condições. 3.4 Pluviosidade Essa planta cresce bem com chuvas anuais acima de 600 mm, sendo, entretanto, tolerante ao longo período de estiagem, porém, com precipitações inferiores a 600 mm, ela paralisa seu crescimento (HENNING, 1999). Segundo Severino et al. (2006) o pinhão manso desenvolve-se sob condições climáticas diversas, desde regiões tropicais muito secas à úmidas, tolerando precipitações pluviométricas entre 600 e 1.500 mm ano-1. O desenvolvimento do pinhão manso é favorecido em regiões tropicais onde a precipitação anual esteja acima de 600 mm, sendo acima dos 1000 mm anuais o nível ideal de precipitação para que se atinja altas produtividades. Avaliando a primeira colheita, Drumond et al. (2007) obtiveram produtividade de 871 kg ha-1 em plantas irrigadas e, em regime normal de chuvas (sequeiro), 246 kg ha-1. A produção é drasticamente afetada com valores anuais inferiores a 600 mm (HENNING, 1996). 3.5 Temperatura Saturnino et al. (2005) consideraram que a faixa ótima de desenvolvimento para o pinhão-manso situa-se entre 18 ºC e 28,5 ºC, sendo que a espécie não tolera geadas fortes (temperaturas de abrigo abaixo de 0 ºC) e pode sobreviver a geadas fracas (temperaturas de abrigo acima de 2 ºC), perdendo, entretanto todas as folhas, o que provavelmente reduzirá a produção de sementes. Já Heller (1996) indicou temperaturas médias anuais entre 20 e 28°C como uma faixa de temperatura ideal para um desenvolvimento adequado da cultura. 3.6 Produtividade A produtividade da planta está condicionada ao número de frutos, número de sementes por frutos e peso de sementes, portanto, quanto maior o período de tempo disponível para a planta com condições ambientais favoráveis, maior será o número de lançamentos de frutos e, portanto, maior a produtividade (AVELAR et al., 2006). A produtividade da cultura no primeiro ano pode alcançar até 500 kg por hectare, dependendo das condições locais, de clima e de solo. No segundo ano a produtividade aumenta para cerca de 1.500 kg por hectare, passando para aproximadamente 3.000 kg no terceiro ano, subindo para cerca de 5.000 a partir do quarto ano (BIODIESELBR, 2008). De acordo com informações mais atuais, a planta produz, em média, 100, 500, 2.000 e 4.000 g planta-1de sementes no primeiro, segundo, terceiro e quarto anos de cultivo, respectivamente (TOMINAGA et al., 2007). Dependendo do espaçamento, a produtividade pode passar dos 6.000 kg ha-1 de sementes. Com essa produtividade, é possível produzir mais de 2.000 kg ha-1 de óleo. No entanto, com o melhoramento genético e aprimoramento do sistema de produção, acredita-se que o pinhão manso possa produzir acima de 4.000 kg ha-1 de óleo (LAVIOLA & DIAS, 2008). 3.7 Solo A planta deve ser cultivada, preferencialmente, em solos profundos, bem estruturados e não compactados, com pH em torno de 6 a 9, para que o sistema radicular possa se desenvolver e explorar maior volume de solo. Devem ser evitados os solos muito argilosos, com umidade constante, pouco arejados e de difícil drenagem, sendo os solos drenados e de textura média os mais ideais. Solos muito arenosos e solos muito argilosos são aceitáveis, todavia a drenagem é essencial. A planta não tolera áreas encharcadas ou alagadiças, podendo o solo encharcado por mais de 4 dias levar a planta a morte (DIAS et al., 2007). Segundo Foidl et al. (1996), a cultura desenvolve-se em todos os solos, exceto em Vertissolos, por preferir solos arenosos. Adicionalmente à capacidade de produzir óleo vegetal, ele é tido como uma espécie com excelente capacidade de recuperação de áreas degradadas em função de suas raízes profundas, crescendo em solos de baixa fertilidade (TEIXEIRA, 2005). 3.8 Escolha do local Apesar de uma distribuição geográfica bastante vasta devido a sua rusticidade, adaptabilidade e resistência a longas estiagens, alguns pontos devem ser observados e seguidos na escolha de um local de plantio, visando uma maior longevidade da cultura. Devem ser evitadas áreas em baixadas com um histórico de alagamento, áreas de inclinação impedindo à mecanização, áreas sujeitas à ação prolongada de ventos no qual podem vim ser prejudiciais na época de floração. Áreas planas ou levemente inclinadas são mais ideais para o cultivo, sem impedimento a mecanização com tendência a apresentar uma maior fertilidade natural do solo. 3.9 Preparo do solo O preparo do solo é importante para permitir condições idéias de desenvolvimento para o plantio das mudas ou semeadura das sementes. De acordo com Dias et al., (2007) deve-se realizar uma aração com no mínimo 60 dias de antecedência do plantio e em profundidade de (25 a 30 cm), sendo recomendado duas gradagens para incorporação do calcário e marcação das covas. Segundo Arruda et al. (2004), o solo deve ser limpo, preparado com arado, de preferência de aiveca, devido ao melhor revolvimento e diminuição da propagação das plantas daninhas, sendo em seguida nivelado por uma grade leve. O solo pode ser preparado seco ou no ponto de friabilidade, dependendo de sua textura e estrutura. Abreu et al. (2006), em experimento acerca do crescimento aéreo e radicular do pinhão-manso, sob diferentes níveis de compactação do solo, concluíram que a espécie é sensível à compactação do solo, sendo, portanto, necessário o prévio preparo em áreas com tais condições. 3.10 Espaçamentos Diversos são os fatores que podem vim a influenciar nos espaçamentos utilizados na cultura, tendo como principais o relevo, a fertilidade do solo e a possibilidade de consórcio com outras culturas. Todavia a escolha de um determinado espaçamento pode ser convertido em outro por diminuição da linha de plantio, caso ocorra a redução da produtividade por competição entre plantas. Saturnino et al. (2005) sugerem o uso de espaçamentos de 3 x 3 m e de 3 x 4 m, com covas de 30 x 30 x 30 cm em solos arenosos e de 50 x 50 x 50 cm em solos mais firmes, e 75 cm de profundidade em terrenos acidentados e muito compactados, como pastagens degradadas. Como os espaçamentos ideais para cada situação ainda estão sendo pesquisados, serão dadas algumas sugestões de espaçamentos (Tabela 1) de acordo com Dias et al., (2007). Tabela 1. Espaçamentos sugeridos para o plantio de pinhão. Situação de cultivo Espaçamento (m x m) Estandes (plantas/há) Consórcio com 4x2 1250 culturas anuais 4x3x3* 952 3x3 1111 3x2 1667 Consórcio com 6 x 1,5 1111 pastagem 6x2x2* 1250 Plantio Solteiro Fonte: Dias et al., (2007). Dependendo do espaçamento utilizado podem-se selecionar plantas, arrancando as de baixa produtividade para aumentar a área de exploração das demais ou enxertando com material das mais produtivas. O plantio pode ser em xadrez, quadrado ou em outra forma. Segundo literatura, no modelo cercas vivas, o espaçamento deve ser de 20 a 50 cm entre as sementes ou estacas que são preferíveis (BIODIESELBR, 2006). 3.11 Plantio O pinhão manso inicia a produção já no segundo ano. É aconselhável fazer suas mudas em viveiro nos primeiros meses do ano e fazer o transplante para o local definitivo no início das chuvas na primavera. A melhor época para o plantio é no início das primeiras chuvas, para assegurar bom desenvolvimento das plantas. No entanto, quando se dispõe de água para irrigação, o plantio pode ser feito em qualquer época (BIODIESELBR, 2006). Figura 16. Mudas de pinhão manso prontas para o plantio. (Fonte:http://www.mfrural.com.br). 3.12 Adubação e calagem No plantio deve- se realizar adubação suplementar na cova de plantio, com a aplicação de pelo menos 10 L de esterco, 200 gramas de calcário e 300 gramas do formulado 06-30-06, para que as mudas tenham um bom desenvolvimento, pois na fase de muda o sistema radicular apresenta baixa eficiência de absorção (DIAS et al., 2007). Arruda et al. (2004), relataram que em solos ácidos, com pH abaixo de 4,5, as raízes do pinhão-manso não se desenvolvem, sendo necessária a realização de calagem com base em análise química do solo. A calagem deve ser realizada cerca de três meses antes do plantio, com o calcário incorporado a profundidade de até 20 cm do solo, em duas aplicações, antes da aração e quando da gradagem específica para a correção do solo. Segundo Saturnino et al. (2005), a correção do solo, realizada quanto a seu teor de alumínio livre, pela calagem, tem efeito positivo sobre o desenvolvimento do pinhão-manso. Foidl et al. (1996), por sua vez, citaram a espécie como demandante de grandes quantias de nitrogênio e fósforo, devido à alta produção de biomassa. Openshaw (2000) relatou que a cultura necessita do uso de fertilizantes e que em situações de altos níveis de nitrogênio, ocorre aumento de produtividade. Arruda et al. (2004) indicaram solos com altos teores de matéria orgânica, sendo recomendado o uso de adubação verde com leguminosas, pois, de modo geral, fornecem altos rendimentos por unidade de área plantada, fixando o nitrogênio atmosférico e transferindo aos solos, por decomposição orgânica, os nutrientes essenciais como fósforo, cálcio ou enxofre, além do nitrogênio. 3.13 Tratos culturais Sabendo que o Brasil possui a capacidade de expandir sua produção de oleaginosas de forma sustentável para a produção de biodiesel a partir de recuperação de áreas já degradadas ou em áreas cujo processo de degradação já se iniciou, em substituição as áreas de pastagem, o manejo da cultura do pinhão manso é de elevada importância. Apesar de se tratar de uma planta rústica, deve-se manter o terreno sempre livre de plantas daninhas, principalmente em volta das plantas, pois a concorrência daquelas em água, ar, luz e nutrientes pode prejudicar e atrasar o desenvolvimento do pinhão, além de abrigar pragas e/ou insetos transmissores de doenças. O espaçamento ideal permite que sejam feitas capinas mecanizadas ou com tração animal, até mesmo quando em consórcio com outras culturas, o que deve ser feito com a finalidade de reduzir custos com a cultura principal (SATURNINO, 2006). A recomendação da poda do pinhão manso ainda esta sob pesquisa, todavia o manejo da planta com porte baixo, para facilitar a colheita, e aumentar o numero de ramos é importante para se obter um maior numero de fruto. Desta forma, a produção parece estar relacionada com a multiplicação do numero de frutos pelo numero de ramos. Segundo Dias et al., (2007), o produtor deve praticar a poda sempre que as suas plantas, de quatro a seis meses de campo, apresentarem tendência de crescimento de caule único. Neste caso é denominada poda de formação e deve ser realizada recepando-se o tronco a 60 centímetros de altura do solo. A poda de produção deve ser realizada no inverno, logo após o fim da colheita, com objetivo de aumentar a ramificação da planta. O pinhão é uma planta, até o momento, pouco infestada por parasitas, as doenças e os insetos raramente a atacam, pois ela secreta um leite prejudicial a seus parasitas. Atualmente, têm-se verificado algumas ocorrências de ataques com formigas, cupins, ácaros e tripes (SATURNINO, 2006). 3.13.1 Combate a Pragas Formigas As formigas cortadeiras do gênero Atta e Acromyrmex podem ser consideradas as pragas mais importantes nesta cultura, causando uma desfolha e corte de brotos e ramos secundários. Visando obter sucesso no empreendimento, as formigas precisam ser combatidas em todas as fases de desenvolvimento da cultura. Segundo pesquisas, os cuidados maiores devem ser tomados antes da implantação e, também, na fase inicial de brotação (PELLICANO, 2005). Existem três fases distintas de combate às formigas, o combate inicial que é realizado em toda a área a ser plantada, em seguida realiza-se o repasse, que é a operação que visa combater os formigueiros que não foram totalmente extintos no combate inicial, bem como aqueles que não foram localizados na primeira operação, e a realização de rondas durante todo o período de formação e maturação do plantio (PELLICANO, 2005). O controle das formigas deve ser realizado antes da instalação da cultura no local e em áreas vizinhas principalmente com o uso de iscas, gases formicidas, pós e líquidos. Cupins Os cupins representam um grande inimigo do pinhão quando novo, podendo esta praga matar a planta em qualquer idade de desenvolvimento da mesma por dessecação, destruindo a casca na região basal do caule e das raízes das mudas e das plantas adultas. Segundo Dias et., (2007) no controle do cupim recomenda-se arrancar toda a planta atacada, inclusive raízes, e providenciar sua retirada da área de cultivo, devendo aplicar cupinicida no local. Após a eliminação da praga, podese efetuar o plantio. O controle químico pode ser efetuado com alguns cupinicidas como carbofuran, imidacloprid, terbufós, fipronil. Ácaros O acaro é uma praga polífaga e de elevada importância para a cultura do pinhão manso. O ataque desta praga geralmente causa a morte do meristema apical das plantas e conseqüentemente a brotação lateral excessiva. A maior intensidade de ataque desta praga ocorre no período de seca. O ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) é uma das principais pragas que atacam o pinhão manso, esta paralisa o crescimento da planta atacada, ficando suas folhas brancas prateadas e aparecendo em focos, formando reboleiras. A aplicação de enxofre em pó nas plantas afetadas, logo que a planta aparece, controla-a bem. Esta aplicação deve ser feita ao amanhecer, sem ventos, ou molhando-se as plantas primeiramente com pulverização de água pura, principalmente os brotos terminais da planta (BIODIESELBR, 2006). Esses ácaros-praga são eficientes controlados por ácaros-predadores da família Phytoseiidade. Normalmente as espécies comuns a vários agroecossistemas são Neoseiulus ideaus, N. californicus e Amblyseius herbicolus. Estudos ainda precisam comprovar a sua ação na cultura do pinhão manso (DIAS et al., 2007). Trips O trips tem como preferência de ataque folhas jovem do primeiro terço superior da planta. Em função do ataque intenso, as folhas ficam com uma coloração acinzentada, ocorrendo desfolha precoce e mumificação dos frutos. O uso de adubação adequada, a melhoria da aeração das plantas, a eliminação dos restos de poda e o controle de plantas daninhas auxiliam no controle cultural do trips. O controle biológico, por sua vez, é realizado por percevejos predadores, ácaros predadores da família Phytoseiidae que se alimentam das fases imaturas, e por joaninhas. A aplicação de inseticida de ação sistêmica, assim como o corte e queima das partes infestadas da plantas, é apresentada como ações de controle (BIODIESELBR, 2006). 3.13.2 Combate a Doenças Oídio Conhecido por uma massa pulvurulenta de cor branca que ataca na forma de manchas isoladas cobrindo a superfície de diferentes órgãos das plantas (folhas na superfície adaxial, ramos novos, gemas e frutos). O ataque severo pode provocar queda de folhas e frutos podendo causar redução na produtividade. A aplicação de fungicidas específicos a base de enxofre é uma boa medida de combate (BIODIESELBR, 2006). A utilização de 1 litro de leite cru misturado com 19 litros de água apresenta-se como uma eficiente forma de controle natural. Ferrugem Pode ser identificada através da presença de lesões amareladas, de aspecto ferruginoso, que emergem do tecido vegetal atacado, geralmente as folhas. No pinhão manso é o agente etiológico é o fungo Phakopsora arthuriana que afeta principalmente as folhas causando na parte de cima pequenas pontuações necróticas amareladas com a presença de um halo necrótico e na parte de baixo da folha lesões acinzentadas. O controle da ferrugem pode ser efetuado com produtos cúpricos protetores. 3.14 Colheita A maturação dos frutos é muito desuniforme, o que obriga os produtores a realizar inúmeras passagens na lavoura durante a fase de produção, no qual pode-se observar em um mesmo cacho, frutos em diferentes estágios de maturação, verdes, amarelos, castanhos e pretos. A colheita é realizada principalmente de forma manual com colhedores utilizando uma sacola com alça, onde os frutos maduros de coloração amarela são colhidos e depositados. A fim de facilitar o recolhimento dos frutos pode-se adaptar uma lona sobre o solo para tornar a colheita mais simples por baixo da planta, como os utilizados na colheita do café. Embora a produção se distribua entre janeiro e julho, sua colheita pode ocorrer somente uma vez, em condições de desenvolvimento espontâneo da planta para uma única floração (PLANTEBIODIESEL, 2006). Figura 17. Frutos de pinhão manso evidenciando a maturação desuniforme. (Fonte: http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1604; Foto: Verena Glass). 3.15 Beneficiamento Posteriormente a colheita a carga de fruto colhida deverá passar por um processo inicial de secagem, podendo ser ao sol, e em terreiro pavimentado ou lona para em seguida serem debulhadas. Para o debulhamento e o armazenamento das sementes secas é necessário que estas atinjam a umidade de 11 a 13%. No debulhamento manual, as sementes são extraídas com o auxilio de varas de madeira (varas de bater feijão), sendo os frutos envolto em uma lona e em seguida bate-se a vara para quebrar a cascas e soltar as sementes. Este sistema é recomendado para pequenas áreas de plantio de pinhão manso, com no máximo dois hectares. Para áreas maiores recomenda-se o uso de máquinas (DIAS et al., 2007). 3.16 Armazenagem As sementes poderão ser armazenadas na propriedade, para posterior comercialização, ou na indústria. Em qualquer das duas situações, deverá ser armazenadas em ambiente limpo, arejado, livre de focos de umidade, com ausência de insetos e roedores. É recomendada a utilização de sacos de pano ou de ráfia, empilhados sob estrados de madeira, com pouca luminosidade sem incidência direta da luz, quando armazenado na própria propriedade (DIAS et al., 2007). 3.17 Comercialização O Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), por intermédio da Agência Nacional de Petróleo (ANP), promove leilões eletrônicos para a aquisição de biodiesel, destinados para adição a 2% ao diesel mineral. As empresas aptas a concorrência devem ter seus projetos enquadrados ao Selo Combustível Social, que consiste em certificação outorgada pelo MDA para produtores de biodiesel e projetos de produção que atendam a critérios voltados à integração de agricultores familiares na cadeia produtiva do biodiesel, contendo três requisitos básicos exigidos pelo MDA para concessão do Selo Combustível Social; 1 - adquirir de agricultor familiar matéria prima para a produção de biodiesel em uma quantidade mínima definida pelo MDA; 2 - celebrar contratos com os agricultores familiares, negociados com a participação de uma representação dos agricultores familiares, especificando as condições comerciais que garantam renda e prazos compatíveis com a atividade; e 3 - assegurar assistência e capacitação técnica aos agricultores familiares (MDA, 2006). Certas partes da planta possuem características apreciadas pela indústria medicinal, tais como as folhas, que têm ação anti-sifilítica, a seiva com propriedades hemostáticas (cura e cicatrizam feridas) e as raízes com propriedade antileucêmica (PLANTEBIODIESEL, 2006). 3.18 Produção de Biodiesel O biodiesel pode ser usado puro ou em mistura com o óleo diesel mineral. Tem aplicação singular quando em mistura com o óleo diesel de baixo teor de enxofre, porque confere a este, melhores características de lubricidade. Este pode ser usado em motor de ignição a compressão (ciclo diesel) sem necessidade de modificação mecânica ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil (Macedo, 2006). Atualmente com a evolução tecnológica na produção do biodiesel a transesterificação é utilizada como o principal processo de obtenção, que consiste numa reação química em meio alcalino, onde se fazem reagir óleos vegetais (ou gorduras animais) e um álcool (etanol ou metanol) (Macedo, 2005). Este processo gera dois produtos: ésteres e a glicerina. Essa reação tem como produto preponderante o biodiesel (éster de ácidos graxos). Todavia a glicerina tem aplicações na indústria química, e possui alto valor agregado. Além deste, a cadeia produtiva do biodiesel gera dois importantes co-produtos agrícolas (torta, farelo), que podem agregar valor e se constituir em uma fonte de renda alternativa para os produtores agrícolas. Hoje, no Brasil, existem algumas empresas que detêm tecnologia para construção de usinas de biodiesel com alta tecnologia agregada, comercializando usinas com capacidade de produções em torno de 1000 litros/dia, a preços finais superiores a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), o que deixa impraticável aquisição desses equipamentos pelos pequenos produtores rurais e assentamentos (Nascimento, 2006). Entretanto para iniciar a produção de biodiesel em menores escalas por pequenos produtores, é necessária a criação de usinas de baixo custo e adaptado às suas necessidades e potencialidades. Outro ponto a se destacar quanto à utilização do biodiesel é a mistura deste ao óleo diesel no abastecimento de tratores agrícolas, que possibilita uma maior economia de combustível e maior lubricidade do motor. Testes realizados mundialmente, com várias formas de biodiesel, comprovam que há viabilidade técnica para o uso em motores diesel convencionais. Acrescenta-se, no entanto, que qualquer alteração no combustível ou mesmo a adoção de combustíveis alternativos, diferentes do óleo diesel, pode exigir adaptações no motor. Contudo, no caso de misturas de óleo diesel com biodiesel, não há necessidade de modificação do motor, sendo necessário que o biodiesel tenha padrão de qualidade (HOLANDA, 2004). A utilização de biodiesel do tipo destilado em trator agrícola, na operação de escarificação, resultou em aumento de 15,5% no consumo horário volumétrico, 18,1% no consumo horário ponderal, 16% no consumo operacional (ha h-1) e 18% no consumo específico de combustível em relação ao diesel (B0). Ressalva-se que este biodiesel (B100), foi resultante de uma mistura de 50% de metílico e 50% de etílico, produzido à base de óleo residual de frituras (SORANSO et al., 2008). CORTEZ et al. (2007) avaliaram biodiesel etílico, filtrado de óleo residual de soja, em trator agrícola Valtra BM100, 4 x 2 TDA (tração dianteira auxiliar), 73,6 kW (100 cv) de potência no motor, com 2.000 rotações no motor. Foi acoplada à barra de tração uma grade aradora de arrasto com as seguintes características: Marchesan/Tatu, 16 discos recortados com diâmetro de 24”. Os autores observaram que, nessa condição, o aumento da proporção de biodiesel no diesel bem como o aumento da velocidade resultam em aumento no consumo de combustível. Desta forma, o desenvolvimento, a montagem e a utilização de uma micro usina de biodiesel de baixo custo e de fácil operação, utilizando qualquer tipo de óleo vegetal com metanol ou etanol, abre caminho para novos projetos que permitirá que pequenos produtores iniciem a produção de biodiesel em pequenas escalas podendo obter uma fonte de renda diferenciada agregando valores financeiros. A micro usina de produção de biodiesel é basicamente constituída por quatro tanques, sendo um reator para a preparação do catalisador; um reator principal com aquecimento e agitação por reciclo; um tanque decantação e lavagem com aquecimento e sistema de lavagem por borbulhamento e um tanque para a recepção do álcool destilado sob pressão reduzida. Atualmente já surgem algumas opções para a montagem de micro usinas de biodiesel no Brasil, todavia deve se atentar para a correta instalação e funcionamento da mesma, pois o processo de obtenção do biodiesel utiliza o metanol que é um derivado do petróleo, o qual deve ser controlado evitando possíveis dispersões deste gás no local das instalações causando impacto no meio ambiente. Assim, a produção de biodiesel a partir de micro usinas, está centrada em uma menor produção principalmente para o auto-consumo, utilizando um equipamento que propicie a diminuição dos custos de produção da propriedade com a aquisição de combustíveis não renováveis, redução de impactos ambientais, aumento de renda com a diversificação de culturas e consequentemente fixação do agricultor no campo. Para refletir sobre a produção agrícola brasileira, veja o vídeo que foi feito pela BASF, em reconhecimento ao progresso do Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=aoiP-WK3V8o REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS: ABREU, H. A.; GUERRA, G. M.; MESQUITA, D. N.; PEREIRA, V. C.; ASSIS, R. L.; SILVA, O. A.; SILVA, G. P.; PIRES, F. P.; IMOLESI, A. S. Crescimento aéreo e radicular de pinhão-manso sob diferentes níveis de compactação do solo. In: CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE BIODIESEL, 1, 2006, Brasília. Anais... Brasília: MCT/ ABIPTI, 2006, v. 1, p. 144-149. ANDRADE JÚNIOR, A. S.; BARROS, A. H. 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