ESTUDO DO MEIO COMO PROPOSTA PEDAGÓGICA NA DIMENSÃO INTERDISCIPLINAR* BATISTA, Maria Luiza Lampert¹; BATISTA, Natália Lampert²; OLIVEIRA, Daniel Feltrin de²; AUZANI, Gislaine Mocelin³; ORTIZ, Ail Conceição Meireles³. *Trabalho de pesquisa, Centro Universitário Franciscano _ (UNIFRA). ¹ Acadêmica do curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, 2012. ² Acadêmicos do curso de Geografia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, 2012. ³ Professoras do curso de Geografia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, 2012. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. RESUMO Este trabalho teve como objetivo apresentar uma análise teórico-prática acerca da possibilidade em construir uma proposta pedagógica na dimensão interdisciplinar pelo estudo do meio. A análise da paisagem representa método de ensino fundamental à aproximação de fundamentos teóricos à prática social, em exercício de atitudes de observação, descrição, comparação e produção de conclusões. O trajeto de trabalho atingiu momentos que partiram da discussão de temáticas relacionadas à fundamentação teórica acerca da interdisciplinaridade, estudo do meio e do lugar e produção de hipertextos. Em seguimento foram definidos pontos para análise do recorte espacial eleito para estudo. Ao longo do trajeto executado pelos participantes da atividade foram expostas informações geográficas e históricas sobre a paisagem visualizada. O trajeto analisado foi registrado por imagens, com o objetivo de produção do hipertexto. Em momento final ocorreu a construção da ferramenta digital. Para isso, utilizou-se se o programa Microsoft Office Power Point 2003. O material digital foi finalizado com catorze slides, os quais dão uma visão sobre o roteiro realizado e permite a integração entre a teoria (fundamentação teórica) e prática (observação da realidade). Assim, o estudo do meio, como proposta pedagógica na dimensão interdisciplinar carrega sentido e signifcado, frente ao processo de ensino e aprendizagem, favorecendo a construção da noção de pertencimento e, por conseguinte, de cuidado com o local. PALAVRAS-CHAVE: Oficina. Estudo do Meio. Interdisciplinaridade. Santa Maria. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho teve como objetivo apresentar uma análise teórico-prática acerca da possibilidade em construir uma proposta pedagógica na dimensão interdisciplinar pelo estudo do meio. O estudo do meio, como estratégia pedagógica à educação básica, promove a análise espacial sob múltiplos aspectos, abrangendo diversas áreas do currículo escolar, como a Geografia, História, Artes, Ciências, Língua Portuguesa, Matemática, dentre outras. A paisagem, visualizada e percebida sobre a dimensão espacial e temporal constitui importante ferramenta de ensino para um exercício de percepção e exame crítico do movimento social, compreendendo o entendimento dos processos de formação e transformação do meio. As estratégias para a análise da paisagem podem ocorrer sobre diversas formas, desde a produção textual à combinação entre texto, sons, imagens e animação, portanto, a contribuição de tecnologias de informação e comunicação constituem importante incremento à atitude investigativa sobre a realidade como objeto de estudo pedagógico. A análise da paisagem representa método de ensino fundamental à aproximação de fundamentos teóricos à prática social, em exercício de atitudes de observação, descrição, comparação e produção de conclusões. O olhar amplo sobre a realidade espacial promove acima de tudo uma compreensão integrada de fatores interferentes na dinâmica de organização social, bem como a busca de interrelações no entendimento de questões sócio espaciais. 2. REFERENCIAL TEÓRICO O ensino de Geografia objetiva a formação da consciência crítica diante da realidade espacial, seja ela local, regional e/ou mundial. A construção do conceito de espacialidade deve ser proporcionada, sobre a prática pedagógica, pela inserção de metodologias instigadoras à atitude de observação, comparação, descrição e produção de conclusões a partir da análise da paisagem. Como ressalta Oliveira (2002, p. 224), É preciso mostrar aos nossos alunos que podemos entender melhor o mundo em que vivemos, se pensarmos o espaço como um elemento que ajuda a entender a lógica, não raro absurda, do mundo. Mostrar que sabemos Geografia não é sabermos dados ou informações atuais ou compartimentadas, mas sim, relacionarmos as informações ao mundo cotidiano de nossos alunos. Parece que falta, em muitos professores, a palavra e, sobretudo, o sentido do fazer e do transformar o espaço. E o quanto essa transformação e construção do espaço nos constitui, nos forma e nos transforma. A Geografia escolar hoje, exige (re)significar sua base teórica e metodológica, em que se possa sublinhar a construção de conceitos fundamentais à análise espacial. O contexto socioeducacional atual impõe a produção e execução de práticas pedagógicas desafiadoras, porém com sentido à preparação de seres humanos autônomos e capacitados à organização de sua auto-formação intelectual sobre um mundo de rápidas transformações técnico-científicas. A análise da paisagem pelo estudo do meio corresponde a uma atividade escolar potencializadora ao exercício de pesquisa. Pesquisa compreendida como ação reflexiva e indagadora. Este exercício de questionamento deve acontecer, sobre a ambiência pedagógica, por meio da organização de atividades metódicas e sistemáticas, que correspondam ao planejamento de propostas de ensino direcionadas ao desenvolvimento de habilidades e construção de competências importantes à produção de saberes com significado. Nesta direção, o estudo do meio poderá proporcionar a construção de um saber amplo, produto de articulações e conexões epistemológicas, que supere as especificidades conceituais das disciplinas curriculares e potencialize a dimensão totalizadora do conhecimento. O estudo do meio busca a abordagem integradora, possibilitando múltiplos olhares ao recorte espacial em análise. Assim como destaca Pontuschka (2004, p. 267), O estudo do meio é um caminho político que estabelece uma relação viva e dinâmica entre escola, a especificidade de seu trabalho e a sociedade, com base nos relacionamentos e nas condições de vida e trabalho. Esta atividade pedagógica encerra a oportunidade de um olhar problematizador à realidade local, incitando ao educando a formulação de soluções e saídas às questões do espaço vivido. Este meio, condicionado à análise, suscita a chamada de várias áreas do conhecimento escolar, ultrapassando fronteiras disciplinares e conjugando interpretações a uma realidade multidimensional. Como diz Passini (2007, p. 176), O estudo do meio é um método ativo e interativo, pois os espaço não é fragmentado. Ele abre possibilidades para projetos interdisciplinares nos quais professores de diferentes disciplinas participam do plano de elaboração fazendo-se a pergunta: como minha disciplina pode auxiliar o aluno a entender melhor o fenômeno? Portanto, a intenção de potencializar o saber geográfico de significado e importância à formação de um ser humano autônomo e crítico para viver na contemporaneidade, pode buscar nesta atividade, fortes motivos. 3. METODOLOGIA O estudo empreendido apresenta-se sob a abordagem qualitativa, uma vez que busca uma análise de significados manifestados acerca da construção e aplicação de uma proposta pedagógica, sob a dimensão interdisciplinar. A atividade envolveu professores e acadêmicos de várias áreas do conhecimento escolar: Geografia, Anos Iniciais, Língua Portuguesa, Química, História e Filosofia. O trajeto de trabalho atingiu momentos que partiram da discussão de temáticas relacionadas à fundamentação teórica acerca da interdisciplinaridade, estudo do meio e do lugar e produção de hipertextos. Em seguimento foram definidos pontos para análise do recorte espacial eleito para estudo. Ao longo do trajeto executado pelos participantes da atividade foram expostas informações geográficas e históricas sobre a paisagem visualizada. O trajeto analisado foi registrado por imagens, com o objetivo de produção do hipertexto. Em momento final ocorreu a construção da ferramenta digital. Para isso, utilizouse se o programa Microsoft Office Power Point 2003. O material digital foi finalizado com catorze slides, os quais dão uma visão sobre o roteiro realizado e permite a integração entre a teoria (fundamentação teórica) e prática (observação da realidade). O texto produzido seguiu a abordagem de indicadores norteadores, como introdução (apresentação da importância da proposta pedagógica diferenciada), desenvolvimento (apresentação de fundamentação teórica sobre paisagem. estudo do meio, saída de campo, atitude de pesquisa, interdisciplinaridade, descrição da atividade), conclusão (apresentação do hipertexto produzido). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A atividade realizada evidenciou principais momentos descritos a seguir. Por meio da atividade pedagógica “Estudo do meio como proposta pedagógica na dimensão interdisciplinar” efetivou-se um diálogo entre presente e passado com enfoque no local, ou seja, no estudo do lugar podendo ser realizada com alunos das mais distintas séries da educação básica. O recorte espacial de estudo envolveu o Centro Histórico da cidade de Santa Maria, RS. Para a realização da atividade, primeiramente, fez-se um levantamento bibliográfico sobre o Centro Histórico da cidade de Santa Maria. Em momento seguinte ocorreu uma saída de campo para observação in loco do lugar e coleta de material fotográfico. O texto produzido envolveu principais informações a serem apresentadas. Santa Maria está localizada na Depressão Periférica e parte da Serra Geral, o que pode ser observado nas paisagens da cidade. As feições arredondadas das vertentes dos morros comprovam que estiveram sujeitas a erosão e sob a atuação de clima úmido. O substrato geográfico de Santa Maria é antigo e composto por inúmeros intertraps (sanduíches) de derrames vulcânicos e camadas de arenito. Há resquícios da Mata Atlântica e ainda da Floresta Subtropical. Os cursos de água que abastecem a cidade são o Vacacaí-Mirim e o Ibicuí. A globalização faz com que as pessoas passem a valorizar mais o estrangeiro que o local que vivem, conhecendo o lugar pode-se comprovar a riqueza que existe nos locais de origem cada um. Na Rua Ernesto Beck, observou-se o Colégio Manuel Ribas, construído em 1885, no auge da instalação da Viação Férrea. Inicialmente a escola era destinada a educação feminina, administrada pelas irmãs Franciscanas e denominava-se Escola Nossa Senhora Santa Terezinha do Menino Jesus. Atualmente, existe um museu no interior da escola, onde é possível ver lousas utilizadas para escrita em épocas anteriores. Após observou-se à Vila Belga (figura 1), que foi o 1º conjunto habitacional no Rio Grande do Sul, criado em 1898, com 84 casas, no estilo das casas operárias da Bélgica e da França. Essas eram destinadas aos funcionários da "Compagne Auxiliare Des Chemis De Feur Au Brésil". Figura 1: Vista parcial da Vila Belga, Santa Maria, RS. . Dos sólidos casarões coloridos com calçadas de arenito pode-se observar o rebordo do Panalto Meridional que contorna a cidade, assim como as luminárias (reconstituídas), as ruas estreitas, que certamente deram passagem a tantas idas e vindas, no passado. A Vila Belga passou por um processo de revitalização - iniciativa do poder públicos de Santa Maria - sendo tombada como Patrimônio História Municipal, em 1997. O próximo lugar a ser visitado foi a GARE da Estação Férrea (figura 2), local de embarque e desembarque, inaugurado em 1900 (?), com implantação do sistema ferroviário que foi fundamental ao crescimento econômico, social e cultural de Santa Maria, RS. Figura 2: Vista parcial da GARE da Estação Férrea, Santa Maria, RS. Em 1885, a cidade comandava o tráfego de trens que cortavam o Estado. Ao passear pelas plataformas da viação férrea pode-se imaginar como, outrora, o apito do trem era aguardado, o vaivém das pessoas, a disputa por hospedagem nos hotéis próximos a ela como o Hotel Glória. O desfilar de pessoas elegantes usando ternos, bengalas e cartolas ou simplesmente o amontoado de malas antigas mesclando conversas ansiosas de quem aguardava a chegada do trem. Os sobrados que dá acesso à plataforma foram incendiados, mas ainda continuam em pé, depois dessa visita, torce-se para que seja realizada, brevemente, a revitalização desse espaço pela importância cultural que pode trazer a nossa cidade e fica uma interrogação de porque não investir num sistema de trânsito que poderia trazer tantos benefícios no processo de deslocamento de pessoas e de produtos, desafogando rodovias, por exemplo. Retornando a Avenida Rio branco constata-se a riqueza das testemunhas do passado que no atribulado cotidiano passa despercebido. Em 1819, a essa chama-se Rua General Pinto Bandeira e possuía cerca de três quadras. Em 1898, passou a chamar-se Rua Progresso e a atual denominação surgiu em 07 de outubro de 1908. Nela situam-se dois templos religiosos a Catedral Diocesana de Santa Maria e a Catedral do Mediador (Igreja Episcopal Brasileira), bem como o primeiro prédio construído em Santa Maria - o Edifício Mauá - e por anos abrigou a matriz das casas “Eny”, que é um marco na história comercial da cidade; e o segundo prédio construído - o Taperinha -. Após observação, analise e correlação entre os aspectos locais e coleta de material fotográfico, produziu-se um produto visual no programa Microsoft Power Point 2010, utilizando a técnica hiperlink. O produto virtual (figura 3), finalizado com 14 slides, mostra o roteiro de forma interativa e permite a contextualização e observação dos pontos apresentados no decorrer texto, bem como dá uma visão sobre o roteiro realizado e permite a integração entre a teoria (fundamentação teórica) e prática (observação da realidade). Figura 3: Identidade visual do produto virtual. Desse modo, “a leitura da organização do espaço deve ser iniciada pelos espaços conhecidos dos alunos” (CASTROGIOVANNI, 2009. p. 63), pois essa organização dele deve ser pensada indivídual e coletivamente, através de um pensamento crítico-reflexivo que integre a percepção das interrelações que se dão no espaço e sobre o espaço. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A paisagem constitui objeto de investigação de múltiplas áreas do conhecimento escolar, evidenciando que o passado implica em marca sobre o espaço contemporâneo e, por isso, necessita ser pensado, a fim de que compreendamos suas configurações atuais. Assim, o estudo do meio, como proposta pedagógica na dimensão interdisciplinar carrega sentido e signifcado, frente ao processo de ensino e aprendizagem, favorecendo a construção da noção de pertencimento e, por conseguinte, de cuidado com o local. 6. REFERÊNCIAS CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Org.); CALLAI, Helena. Copetti. KAERCHER, Nestor André. Ensino de Geografia: práticas e textualização no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2009. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. (Org,). Geografia em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002. PASSINI, Elza. Yasuko. Práticas de ensino de geografia e o estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007. PONTUSCHKA, Nídia Nacib. O conceito de estudo do meio transforma-se... Em tempos diferentes, em escolas diferentes, com professores diferentes in VESENTINI, José William. O ensino de Geografia no século XXI. São Paulo: Papirus, 2004.