UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia Hospitalar FÁTIMA DE MORAIS PAULI DE CÓL ASPECTOS LITERÁRIOS REFERENTES À UTILIZAÇÃO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA EXACERBADA LINS-SP 2011 UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia Hospitalar FÁTIMA DE MORAIS PAULI DE CÓL ASPECTOS LITERÁRIOS REFERENTES À UTILIZAÇÃO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA EXACERBADA LINS-SP 3 2011 UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia Hospitalar FÁTIMA DE MORAIS PAULI DE CÓL ASPÉCTOS LITERÁRIOS REFERENTES À UTILIZAÇÃO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA EXACERBADA Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Fisioterapia Hospitalar sob a orientação dos Professores Me. Antônio Henrique Semençato Junior e Ma. Heloisa Helena Rovery da Silva. 5 LINS-SP 2011 De Cól, Fátima de Morais Pauli D349v Aspectos literários referentes à utilização da ventilação não invasiva na doença pulmonar obstrutiva crônica exacerbada / Fátima de Morais Pauli De Cól. – – Lins, 2011. 53p. il. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia Hospitalar, 2011. Orientadores: Antonio Henrique Semençato Júnior; Heloisa Helena Rovery da Silva 1. Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). 2. Exacerbação da DPOC. 3. Ventilação não invasiva na DPOC. I Título CDU 615.8 FÁTIMA DE MORAIS PAULI DE CÓL ASPECTOS LITERÁRIOS REFERENTES À UTILIZAÇÃO DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA EXACERBADA Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialização em Fisioterapia Hospitalar. Aprovado em: ___/____/___ Banca Examinadora: Professor Me. Antônio Henrique Semençato Júnior Mestre em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de UTI / IBRATI - SP ____________________________________________________________ Professora Ma. Heloisa Helena Rovery da Silva. Mestre em Administração pela CNEC/FACECA - MG ____________________________________________________________ LINS-SP 2010 “SE O HOMEM BUSCA RESULTADOS RÁPIDOS, DEVE CULTIVAR CEREAIS; SE BUSCA RESULTADOS A MÉDIO PRAZO, DEVE CULTIVAR UMA ÁRVORE; MAS SE BUSCA RESULTADOS ETERNOS DEVE CULTIVAR O CONHECIMENTO.” DITADO CHINÊS RESUMO A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é considerada um processo patológico sistêmico grave que está associado à altos índices de morbidade e mortalidade. Além das alterações respiratórias específicas encontradas no portador de DPOC, conseqüências sistêmicas são frequentemente observadas, tais como: descondicionamento físico, fraqueza muscular, perda de peso, desnutrição, redução significativa das atividades de vida diária, depressão, ansiedade e isolamento social. Com a progressão do processo patológico as exacerbações se tornam mais freqüentes, acarretando danos graves e muitas vezes fatais. O paciente com DPOC pode apresentar, cerca de 2 a 3 exacerbações ao ano, principalmente no inverno, causando progressivamente deteriorização da função pulmonar. O risco de morte pela exacerbação da DPOC está relacionado à gravidade da doença, ao desenvolvimento de acidose respiratória, à presença de comorbidades graves e à necessidade de suporte ventilatório. Pacientes com essas características, frequentemente, necessitam de supervisão médica cuidadosa e contínua, necessitando muitas vezes de internação hospitalar. Atualmente, a ventilação não invasiva (VNI) tem demonstrado ser um dos maiores avanços da medicina intensiva, benéfica para grupos selecionados de pacientes, vem se tornando cada vez mais,um recurso responsável pela diminuição da mortalidade e custos no tratamento, assim sua utilização se faz frequente tanto nas unidades de terapia intensiva (UTI) quanto nas emergências e demais ambientes hospitalares. Hoje, tal recurso vem se tornando consenso em unidades hospitalares que oferecem tratamento efetivo para insuficiência respiratória hipercápnica, sobretudo na DPOC. O uso da VNI durante as exacerbações da DPOC, melhora a acidose respiratória, aumentando o pH, diminuindo a necessidade de intubação, além de reduzir a PaCO2, freqüência respiratória, gravidade da dispnéia, permanência hospitalar e mortalidade. Tanto na prática quanto na literatura relacionadas à VNI aplicada aos quadros da DPOC, há indícios extremamente significativos sobre os benefícios de tal técnica na reversão da insuficiência respiratória aguda e no aumento da sobrevida. Palavras–chave: Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Exacerbação da DPOC. Ventilação não invasiva na DPOC. ABSTRACT The chronic obstructive pulmonary disease (COPD ) is considered a severe systemic pathological process, being associated with high indices of morbidity and mortality. Besides the specific breath alterations found in the COPD bearer, some systemic consequences are frequently observed, lack of physical condition, muscular debility, loss of weight, malnutrition, significant reduction of daily activities, depression, anxiety and social isolation. With the progressing pathological process, the exacerbations become more frequent, carrying with them severe and often fatal damages. The COPD patient may approximately present nearly two or three exacerbations an year, mainly in winter, progressively resulting in the deterioration of the pulmonary function. The risk of death resulting of the COPD is related with the desease severity, with the development of the breath acidosis, with the presence of severe co-morbidity and with the need of ventilating support. Patients with those characteristics often need a careful and continuous medical supervision, in general remaining interned in a hospital. Nowadays, the non invasive ventilation (NIV) is becoming one of the more advanced resources of the intensive medicine, being benefic to select groups of patients and being responsible for the decrease both of mortality and of the cost of the treatment. Due to these advantages it is more and more present not only in the Intensive therapy units (ITU) but also in other ambiances of hospital internation. Now it is of general consensus that NIV is an effective treatment for hypercapnic breath insufficiency, mainly in the COPD cases. The NIV use along the COPD exacerbations enhances the decrease of breath acidosis, increases the pH, reduces the need of intubation, decreases the PaCO2, the breath frequency, the severity of dyspnea, the hospital internment and the mortality. The practice as well as the literature concerning applied NIV to COPD occurrences points to very significant benefices in the acute breath insufficiency reversion and to the survival delay. Keywords: Chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Exacerbation of COPD. Non invasive ventilation in COPD. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Visões frontal e lateral de máscaras para ventilação não invasiva....38 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Estadiamento da DPOC .......................................................................................................................... 20 Tabela 2: Índice de dispnéia modificado do MRC .......................................................................................................................... 22 Tabela 3: Classificação das exacerbações da DPOC .......................................................................................................................... 27 Tabela 4: Causas de exacerbação da DPOC .......................................................................................................................... 44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BD: Broncodilatador BIPAP: Dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas (Bi-level Positive Airway Pressure) CRF: Capacidade Residual Funcional CPAP: Pressão positiva contínua nas vias aéreas (Continuous Positive Airway Pressure) CPT: Capacidade Pulmonar Total CVF: Capacidade Vital Forçada DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica EPAP: Pressão positiva expiratória (Expiratory Positive Airway Pressure) FiO2: Fração inspirada de Oxigênio GOLD: Global iniciative for chronic Obstructive Lung Disease (Iniciativa global para doença pulmonar obstrutiva crônica) IPAP: Pressão positiva inspiratória (Inspiratory Positive Airway Pressure) MRC: Medical Research Council (Consenso de pesquisa médica) PaO2: Pressão parcial de oxigênio no sangue PaCO2: Presão parcial de gás carbônico no sangue PEEP: Pressão positiva ao final da expiração (Positive end expiratory Airway Pressure) PH: Potência de Hidrogênio PS: Pressão de Suporte SatO2: Saturação de Oxigênio VEF1: Volume expiratório forçado no 1º segundo VM: Ventilação mecânica VNI: Ventilação não invasiva V/Q: Relação Ventilação/perfusão VR: Volume residual SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................11 CAPÍTULO I - DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)............14 1.1 Definição...........................................................................................................14 1.2 Prevalência.......................................................................................................15 1.3 Etiologia............................................................................................................15 1.4 Fisiopatologia....................................................................................................16 1.5 Diagnóstico.......................................................................................................18 1.5.1 Avaliação Radiológica...................................................................................18 1.5.2 Avaliação Espirométrica................................................................................19 1.5.3 Avaliação Gasométrica..................................................................................19 1.6 Estadiamento....................................................................................................20 1.7 Quadro Clínico..................................................................................................21 1.8 Conduta Terapêutica........................................................................................23 1.8.1 DPOC Estável................................................................................................23 1.8.1.1 Broncodilatador...........................................................................................24 1.8.1.2 Corticóides Inalatórios................................................................................26 1.8.1.3 Corticóides Sistêmicos...............................................................................26 1.8.1.4 N-Acetilcisteína...........................................................................................26 1.8.1.5 Oxigenioterapia Domiciliar..........................................................................27 1.8.2 DPOC Exacerbada........................................................................................27 1.8.2.1 Critérios de Internação...............................................................................29 1.8.2.2 Ventilação mecânica Invasiva e Não Invasiva...........................................30 CAPÍTULO II - VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA.....................................................32 2.1 Definição...........................................................................................................32 2.2 Efeitos da VNI...................................................................................................33 2.3 Indicações.........................................................................................................34 2.4 Contra-indicações.............................................................................................34 2.5 Vantagens e Desvantagens..............................................................................35 2.6 Interfaces..........................................................................................................36 2.6.1 Máscara Nasal...............................................................................................37 2.6.2 Máscara Oronasal (full face)..........................................................................37 2.6.3 Máscara Facial Total (total face)...................................................................37 2.6.4 Sistema tipo Capacete (Helmet)....................................................................38 2.7 Geradores de Fluxo..........................................................................................39 2.7.1 CPAP.............................................................................................................40 2.7.2 BIPAP.............................................................................................................40 2.8 Aplicação da VNI..............................................................................................41 2.9 Falência da VNI................................................................................................42 2.10 VNI na DPOC Exacerbada.............................................................................44 CONCLUSÃO.........................................................................................................49 REFERÊNCIAS.......................................................................................................50 11 INTRODUÇÃO Conforme mencionado por Langer et al, (2009) a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é considerada um processo patológco sistêmico grave com alto índice de morbidade e mortalidade. O documento do consenso da Organização Mundial de Saúde – Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) – sugere a definição de que a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica se trata de uma doença prevenível e tratável com alguns efeitos extrapulmonares que contribuem para a gravidade individualmente. O componente pulmonar da doença é caracterizado pela limitação ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível. Tal limitação ao fluxo aéreo é geralmente progressiva e associada à resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas nocivas ou gases. Além das alterações respiratórias específicas encontradas no portador de DPOC, consequências sistêmicas são frequentemente observadas, tais como descondicionamento físico, fraqueza muscular, perda de peso e desnutrição. Aliado a isto, ocorre uma redução significativa das atividades de vida diária, depressão, ansiedade e isolamento social. O diagnóstico precoce da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica favorece seu manuseio terapêutico, com tratamentos apropriados podendo reduzir os sintomas, a frequência e a severidade das exacerbações, melhorando o estado da saúde e a capacidade quanto a tolerância aos exercícios, reduzindo desta forma internações e mortalidade e prolongando a sobrevida dos acometidos. Durante a progressão do doença as exacerbações se tornam mais frequentes, agravamentos muitas vezes fatais. Tais exacerbações geram alterações sistêmicas significativas com grande impacto sobre o tempo de recuperação do paciente, podendo levar algumas semanas para a regressão sintomática e o retorno da função pulmonar a níveis basais. Segundo Borges; Vianna; Terra (2003) o risco de óbito pela exacerbação da DPOC está relacionado à gravidade do processo patológico, ao desenvolvimento de acidose respiratória, à presença de comorbidades graves e à necessidade de suporte ventilatório. Pacientes com tais características, frequentemente, necessitam de supervisão médica cuidadosa, geralmente em unidades hospitalares. 12 Guimarães; Orlando; Falcão (2008) discorrem que atualmente, a ventilação não invasiva (VNI) se trata um dos maiores avanços da medicina intensiva. Benéfica para grupos selecionados de pacientes, sendo responsável pela diminuição da mortalidade e custos no tratamento. Em virtude destes aspectos sua utilização se tornou mais freqüente tanto nas unidades de terapia intensiva (UTI) quanto nas emergências e demais ambientes de internação hospitalar. Hoje é consenso que a VNI é significativa no tratamento efetivo para insuficiência respiratória hipercápnica, principalmente na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Tanto a prática quanto as referências literárias relacionadas à ventilação não invasiva (VNI) aplicada aos quadros de exacerbações da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) indicam benefícios na reversão da insuficiência respiratória aguda e aumento da sobrevida. Para Fittipaldi (2009) o uso da ventilação não invasiva (VNI) durante as exacerbações da DPOC, melhora a acidose respiratória, aumenta o pH, diminui a necessidade de intubação, reduz a PaCO2, a frequência respiratória, gravidade da dispnéia, a permanência hospitalar e a mortalidade. Sarmento (2005) ainda considera como benefícios clássicos da ventilação não invasiva (VNI), a melhora nas trocas gasosas, diminuição da sensação de dispnéia e do trabalho muscular respiratório, além de redução do risco da necessidade do suporte ventilatório invasivo. Portanto diante da alta incidência de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e da efetividade observada pela aplicação prática da ventilação não invasiva (VNI), bem como o levantamento bibliográfico realizado de acordo com os aspectos atinentes a exacerbação dos sintomas nos portadores da mesma, tornou-se relevante tal assunto, sendo o mesmo objeto de abordagem no presente trabalho. Assim corroborando os mesmos realizou-se a presente pesquisa cujos objetivos foram descritos de acordo com a relevância do assunto na atualidade ea revisão literária contida nesta. Conforme os pressupostos práticos e teóricos concernentes a utilização da VNI em portadores de DPOC, surgiu a seguinte pergunta problema cuja finalidade última será nortear este: A VNI em portadores de DPOC exacerbada tem demonstrado benefícios terapêuticos em pesquisa conforme observado na prática fisioterapêutica? 13 Para elucidar o problema levantado fora realizada uma pesquisa com base nas referências bibliográficas observadas durante a execução desta, ponderando-se que a hipótese da VNI aplicada aos quadros de exacerbação da DPOC sugere indícios significativos tanto na prática terapêutica quanto na literatura de que tal recurso além de relevante para o progresso terapêutico dos pacientes, representa assunto com importância e significância nas especialidades que compreendem a multidisciplinaridade envolvida com o processo. Assim o principal objetivo destacado durante o processo de elaboração e execução da presente fora elucidar os aspectos supracitados. Desta forma a mesma fora metodologicamente dividida da seguinte maneira: O capítulo I apresenta a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; O capítulo II discorre acerca da ventilação não invasiva, bem como a aplicabilidade da mesma na DPOC. Sequencialmente na finalização desta seguem as conclusões e referências levantadas durante a execução desta. 14 CAPÍTULO I DOENÇA PULMONAR OBSTRTIVA CRÔNICA (DPOC) 1.1 Definição A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma enfermidade pulmonar crônica resultante da bronquite crônica e/ou do enfisema pulmonar. Caracterizada pela presença de tosse produtiva e dispnéia aos esforços, que geralmente é progressiva. A limitação do fluxo aéreo está associado a resposta inflamatória dos pulmões desencadeada por exposição a partículas ou gases tóxicos, sendo o tabagismo o agente agressor mais freqüente. Segundo Del Solar (2007) a enfermidade pulmonar obstrutiva crônica é uma patologia que se caracteriza por uma limitação progressiva ao fluxo aéreo e é produzida, principalmente, pelo tabaco. Sua prevalência está aumentando; em 10 anos será a 3ª causa de morte no mundo. Se não tratada precocemente, os pacientes desenvolvem, de forma progressiva, dispnéia, intolerância ao exercício e comprometimento de sua qualidade de vida, falecendo de insuficiência respiratória. Câncer de pulmão ou enfermidade coronariana. Hoje a DPOC é considerada uma patologia multissistêmica, por afetar vários órgãos além do aparelho respiratório. Disfunção dos músculos esqueléticos, perda de peso, depressão, são alguns dos efeitos extrapulmonares identificáveis na enfermidade. Os sintomas iniciam-se de forma leve e não constante, com variações de intensidade nos meses mais frios e nas infecções respiratórias (exacerbações), progredindo com limitações cada vez mais freqüentes, surgimento de hipoxemia, cor pulmonale e hipercapnia. O documento de consenso da Organização Mundial de Saúde - Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease, apud ( FITIPALDI, 2009) seguinte definição: sugere a A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma enfermidade evitável e tratável com alguns significativos efeitos extrapulmonares, os quais podem contribuir para a severidade do paciente em particular. Seu componente pulmonar é caracterizado por limitação do fluxo aéreo, a qual não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é usualmente progressiva e 15 associada a resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas e gases nocivos. 1.2 Prevalência De acordo com Guimarães, Falcão e Orlando (2008) sabe-se que, no Brasil a DPOC é a quarta causa de internação no Sistema Único de Saúde (SUS), com uma mortalidade de 12,2 por 100 mil habitantes, sendo maior nos homens, em faixas etárias avançadas. Segundo Machado (2008), não se conhece a real prevalência da DPOC no Brasil, porém estima-se que nos Estados Unidos cerca de 16 milhões de pessoas sejam portadores da doença, numa proporção de dois homens para uma mulher. Houve um crescimento de óbitos por DPOC nos últimos 20 anos (1980 – 2001) de 340%, em ambos os sexos, conforme relatos de Zamboni; Pereira (2006). Relatos obtidos por Jardim; Pinheiro; Oliveira (2009), no Brasil ocorrem anualmente mais de 150 mil hospitalizações somente no sistema público de saúde. Em relação à mortalidade, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), estima que no ano de 2020 a DPOC será a terceira causa de morte em todo mundo. No Brasil, é responsável por cerca de 30 mil óbitos por ano. A prevalência da DPOC aumenta gradualmente com a idade. Sete a cada 1000 pessoas com idade de 40 a 45 anos (0,7%) sofriam da doença em 2003, enquanto que a prevalência entre pessoas de 80 a85 anos foi de 150 a cada 1000 (15%). Como resultado do envelhecimento da população, a prevalência da DPOC continuará a crescer nas próximas décadas. A DPOC é a mais prevalente em membros de classes sociais mais baixas, de acordo com estudos de Langer et al, (2009). 1.3 Etiologia O desenvolvimento da DPOC está relacionado aos seguintes fatores etiológicos: a - deficiência de alfa 1 antitripsina, 16 b - exposição à poeira ocupacional, c - exposição à irritantes químicos por períodos de tempo prolongados, d - inalação de fumaça de lenha, e - infecções respiratórias e f - tabagismo. O tabagismo é a causa mais conhecida e freqüente relacionada ao aparecimento da DPOC, além de ser o responsável direto pela destruição de estruturas do pulmão, este interfere nos mecanismos de defesa da árvore brônquica. Tais alterações se agravam com a idade e o seu grau de comprometimento está relacionado ao número de cigarros diários e ao tempo de tabagismo. Mais de 95% dos casos de DPOC ocorrem em fumantes, que geralmente fumaram mais de 20 anos/maço. Os fumantes têm aproximadamente 10 vezes mais chances de morrer por problemas respiratórios do que os não fumantes. (Machado, 2008) 1.4 Fisiopatologia As alterações encontradas na DPOC envolvem vias aéreas proximais, distais, parênquima pulmonar e circulação pulmonar. Estas mudanças incluem inflamação crônica e modificações estruturais. Knobel (2004) destaca como alterações fisiopatológicas: a - diminuição da retração elástica do parênquima pulmonar, hipersecreção das glândulas da mucosa e inflamação das vias aéreas, decorrente da limitação crônica ao fluxo aéreo. b - contração da musculatura lisa dos brônquios por um outro mecanismo. c - aumento da resistência das vias aéreas levando ao incremento do trabalho expiratório. d - limitação ao fluxo aéreo podendo gerar hiperinsuflação pulmonar e levar ao aumento do trabalho inspiratório. e - fadiga muscular pode estar presente devido ao trabalho ventilatório aumentado e a hiperinsuflação. f – hipoxemia e hipercapnia decorrentes das alterações da relação ventilação/ perfusão. 17 g - a hipoxemia crônica e a redução do leito vascular podem ocasionar hipertensão pulmonar e cor-pulmonale. Conforme Guimarães; Orlando; Falcão (2008) sabe-se que a limitação crônica ao fluxo aéreo pode ser decorrente da retração elástica do parênquima pulmonar, hipersecreção, inflamação da vias aéreas, levando a fibrose e estreitamento. A limitação provoca hiperinsuflação e auto-peep, ocasionando aumento do trabalho expiratório. Por fim, a alteração na arquitetura pulmonar leva a distúrbios na relação ventilação/perfusão (V/Q), gerando hipercapnia e hipoxemia crônica, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. Segundo Presto (2009) o mecanismo básico da DPOC pode ser resumido da seguinte forma: a inalação crônica da fumaça do cigarro gera como resposta um mecanismo inflamatório. As células de defesa são recrutadas ao pulmão e, como conseqüência, liberam mediadores que podem gerar a destruição e dilatação do parênquima pulmonar. Além disso, este processo gera um remodelamento das vias aéreas, que consta na hiperplasia das glândulas mucosas, determinando maior produção de muco e hipertrofia da musculatura lisa dos brônquios. EO’Donnell et al, (2008) consideram a limitação do fluxo aéreo a marca fisiopatológica da DPOC. A limitação do fluxo expiratório associada ao colapso dinâmico das pequenas vias aéreas compromete a capacidade dos doentes para expelir o ar durante a expiração, resultando em aprisionamento aéreo e hiperinsuflação pulmonar. Fitipaldi (2009) destaca que a hiperinsuflação faz com que os músculos respiratórios fiquem em desvantagem. O diafragma retificado possui sarcômeros encurtados e, portanto, com a capacidade de gerar força diminuída. A pressão positiva expiratória final (PEEP intrínsica) impõe uma carga de trabalho adicional para gerar o próximo ciclo ventilatório. Além disto, o raio de curvatura do diafragma está aumentado, com aumento da tensão muscular, comprometimento do suprimento sanguíneo e diminuição da expansão torácica. O recrutamento de músculos inspiratórios adicionais, incluindo acessórios e intercostais, aumenta acentuadamente o consumo de oxigênio durante o ciclo ventilatório, o que, associado ao comprometimento do suprimento sanguíneo diafragmático, causará um desequilíbrio suprimento/demanda, predispondo à fadiga muscular crônica. 18 1.5 Diagnóstico A suspeita diagnóstica recai sobre o indivíduo que apresenta tosse crônica, dispnéia progressiva, presença ou não de sibilos, idade superior a 40 anos e tabagismo de longa data (média, mais de 1 maço/dia por mais de 20 anos). Geralmente o diagnóstico é feito tardiamente, pois muitas vezes os sintomas não são significativos mesmo na presença de limitação ao fluxo aéreo, visto que, muitas vezes os mesmos são atribuídos às limitações da idade ou exclusivamente ao hábito de fumar. O diagnóstico está baseado na história clínica, no exame físico e nos exames complementares. Para confirmação diagnóstica a espirometria é o exame primordial, onde de maneira objetiva se determina a limitação ao fluxo aéreo. Um VEF 1/CVF inferior a 70% e uma prova broncodilatadora com VEF1 inferior a 80% do previsto evidenciam a presença de obstrução ao fluxo aéreo. Loivos (2009) destaca que a gravidade da DPOC baseia-se no nível dos sintomas, na intensidade das anormalidades espirométricas e na presença de complicações. A DPOC é uma doença progressiva e apresenta curva de piora ao longo do tempo, os sintomas e a função pulmonar devem ser monitorados para determinar quando modificar a terapia. 1.5.1 Avaliação Radiológica O diagnóstico radiológico é feito pela radiografia simples de tórax de frente e perfil. Os achados radiológicos não são para definir a doença e sim para confirmar a clínica e afastar outras doenças, como por exemplo, neoplasia. As alterações radiológicas encontradas quando há predomínio de enfisema pulmonar são hiperluscência pulmonar bilateral, evidências de hiperinsuflação pulmonar, rebaixamento de cúpulas diafragmáticas, horizontalização das costelas, aumento dos espaços intercostais, coração centralizado ou em gota e aumento da vasculatura pulmonar e espessamento peribrônquico na presença de bronquite crônica. 19 A tomografia computadorizada de tórax está indicada nos casos duvidosos, na presença de bronquiectasia ou bolhas enfisematosas. No entanto não é um exame de rotina pois, pouco ou nada altera a terapia na DPOC. 1.5.2 Avaliação Espirométrica A espirometria é usada como teste obrigatório na suspeita clínica de DPOC. O exame deve ser realizado pré e pós broncodilatador, o paciente deve estar em fase estável da doença e devem ser feitas inspirações e expirações forçadas que permitem a medida de fluxos e volumes pulmonares. As alterações encontradas na DPOC mostram aumento da capacidade pulmonar total (CPT), da capacidade residual funcional (CRF) e do volume reserva (VR). Os dados de maior relevância e que indicam a limitação do fluxo aéreo são capacidade vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1) e a relação VEF1/CVF abaixo de 0,70 pósbroncodilatador. A espirometria é o único instrumento para o diagnóstico precoce da DPOC. Nos pacientes que apresentam sintomas iniciais e leves e que tem um nexo causal, como tabagismo ou ter trabalhado em locais poluídos por pó ou gases, a espirometria é fundamental para o diagnóstico. (JARDIM; PINHEIRO; OLIVEIRA, 2009) A prevalência da DPOC está aumentando em quase todos os países do mundo e um diagnóstico de alta precisão é um pré-requisito da conduta terapêutica ideal. O importante papel da espirometria para diagnosticar obstrução das vias aéreas, já foi demonstrado, segundo Schneider et al, (2009). Os mesmos concluem que a DPOC pode ser estimada com alta acurácia através da espirometria. 1.5.3 Avaliação Gasométrica Inicialmente, pode-se utilizar a oximetria de pulso para avaliação da oxigenação, sua vantagem é possibilitar uma leitura constante da saturação de oxigênio de forma não invasiva. Quando a saturação de oxigênio estiver igual ou inferior a 90%, a gasometria arterial está indicada. Através da gasometria arterial 20 pode-se avaliar as repercussões da DPOC sobre as trocas gasosas, a PaO2 determina o grau de hipoxemia, a PaCO2 o nível de ventilação alveolar e o equilíbrio do pH demonstra estabilização ou exacerbação da doença. O principal mecanismo de aparecimento da hipoxemia é o desequilíbrio da relação V/Q (ventilação/perfusão). De acordo com Lippincott; Williams; Wilkins (2006), a troca gasosa ineficaz entre os alvéolos e os capilares pulmonares chega a afetar todos os sistemas orgânicos, por alteração na quantidade de oxigênio fornecido para as células. Como mencionado por Machado (2008), na fase inicial da doença, a espirometria revela leve a moderada hipoxemia sem hipercapnia. Com a progressão da DPOC, a hipoxemia torna-se mais grave e a hipercapnia, compensada. As anormalidades gasométricas pioram durante as exacerbações e podem estar presentes durante atividades físicas ou sono. Nery; Fernandes; Perfeito (2006) consideram que a presença de hipoxemia arterial deve ser investigada em todo paciente com VEF 1 < 50% do previsto e/ou capacidade de difusão abaixo de 70% do previsto. A presença de hipercapnia com retenção crônica de bicarbonato indica doença avançada. 1.6 Estadiamento O estadiamento de uma doença tem por finalidade classificá-la segundo sua gravidade, permitindo propor condutas terapêuticas mais adequadas, definir prognóstico e comparar resultados. Tabela 1. Estadiamento da DPOC (GOLD) Denominação Doença leve Doença moderada Estádio Características pós-BD <0,70 I VEF1/CVF E VEF1 pós-BD >80% <0,70 II VEF1/CVF pós-BD E VEF1 pós-BD <80% e >50% 21 Doença grave Doença grave muito III VEF1/CVF pós-BD E VEF1 pós-BD <50% e >30% <0,70 IV VEF1/CVF pós-BD <0,70 E VEF1 pós-BD <30% Ou VEF1 pós-BD <50% e presença de sinais de falência respiratória crônica (PaO2 <60 mmHg com ou sem PaCO2 >50 mm Fonte: Jardim e Oliveira (2010) 1.7 Quadro Clínico Segundo Fitipaldi (2009), deve ser considerada como o primeiro sintoma de desenvolvimento da DPOC a presença de tosse crônica. Ela poderá começar de maneira intermitente, tornando-se diária e preceder a dispnéia ou aparecer simultaneamente com ela. Na fase inicial da doença a tosse aparece pela manhã, sendo denominada pelo paciente como um pigarro, ou seja, secreção persistente, em pequena quantidade, que permanece nas vias aéreas superiores sobretudo na garganta. Durante as exacerbações, a tosse se torna produtiva com expectoração purulenta em pequena ou média quantidade, mantendo-se por alguns dias. A dispnéia tem inicio apenas aos grandes esforços, como subir escadas ou andar depressa, sua característica progressiva leva, ao longo dos anos, à dificuldades nas atividades de vida diária, como tomar banho ou carregar uma sacola. Nesta fase ela domina o quadro clínico tornando-se o maior fator de incapacitação. A dispnéia é a razão pela qual a maioria dos pacientes procura auxílio médico, e é considerada a principal causa da deterioração da qualidade de vida. Uma forma simples de se quantificar a dispnéia é através do índice de dispnéia do MRC (Medical Research Council). 22 Tabela 2. Índice de dispnéia modificado do MRC (Medical Research Council) Grau Caracterização 0 Falta de ar ao realizar exercício intenso. 1 Falta de ar quando apressa o passo, ou sobe escadas ou ladeiras. 2 Precisa parar algumas vezes quando anda no próprio passo, ou anda mais devagar que outras pessoas da mesma idade. 3 Precisa parar muitas vezes devido à falta de ar quando anda perto de 100 metros, ou poucos minutos de caminhada no plano. 4 Sente tanta falta de ar que não sai de casa, ou precisa de ajuda para se vestir ou despir. Fonte: Jardim e Oliveira (2010) A sibilância pode estar ausente em alguns casos ou se apresentar em diferentes intensidades. Os sibilos podem ser observados durante a expiração forçada e a ausculta, sem solicitação de expiração forçada, é normal. As manifestações sistêmicas ou extrapulmonares estão associadas ao emagrecimento, fraqueza muscular, osteoporose, distúrbio de sono, anemia e glaucoma. Conforme relatos de Jardim; Pinheiro; Oliveira (2009) no início da doença os sintomas são leves e intermitentes, podendo haver intensificação dos mesmos (exacerbações) em intervalos variados. Com a progressão da doença os sintomas se tornam mais intensos e constantes e as exacerbações mais freqüentes. Nos estádios mais avançados a dispnéia torna-se incapacitante, limitando significativamente a vida do paciente. Folco; Anzueto (2008), o curso clínico da doença está caracterizado por agudizações freqüentes, promovendo um ciclo vicioso de deteriorização do paciente, caracterizado por aumento da dispnéia, diminuição da tolerância ao exercício com conseqüente inatividade que leva ao descondicionamento. A variação da intensidade e freqüência dos sintomas determinam as duas fases da doença. A fase estável que corresponde ao período em que os sintomas clínicos estão estabilizados (tosse, dispnéia e expectoração), as medicações são apenas de controle e, dependendo, alguns doentes chegam a ficar sem indicação de 23 medicamentos e assintomáticos. Já a fase de exacerbação compreende a intensificação dos sintomas, a acentuação da dispnéia, seguida de tosse com aumento da quantidade de muco e alteração da coloração, com ou sem febre. Pode ser tratada em domicílio ou necessitar de internação hospitalar. A gravidade da exacerbação está diretamente relacionada com o estadiamento da doença. 1.8 Conduta Terapêutica 1.8.1 DPOC Estável Os objetivos do tratamento da DPOC conforme Jardim; Oliveira (2010) são: a - prevenir a progressão da doença; b - aliviar sintomas; c - melhorar a tolerância aos exercícios; d - melhorar a qualidade de vida; e - prevenir e tratar as complicações; f - prevenir e tratar as agudizações; g - reduzir a mortalidade; h - prevenir ou reduzir os efeitos colaterais provocados pelo próprio tratamento. Segundo Eo’Donnel et al. (2008) os objetivos do tratamento da DPOC incluem a prevenção da progressão da doença, redução da freqüência e gravidade das exacerbações, alívio da dispnéia e outros sintomas respiratórios, melhora da tolerância ao exercício, tratamento imediato das exacerbações e complicações da doença, a melhoria do estado de saúde e redução de mortalidade. A DPOC é uma doença tratável em qualquer uma de suas fases e em todos os níveis de sua gravidade através da gestão de estratégias farmacológicas e não farmacológicas. Considerada também evitável, pois parar de fumar é a intervenção mais eficaz para reduzir o risco de aparecimento da doença. É importante que o paciente com DPOC tenha orientações sobre a sua doença, seja incentivado a cessar o tabagismo e a seguir adequadamente o tratamento, desta forma pode ocorrer retardo no desenvolvimento dos sintomas e melhora na qualidade de vida. O cigarro é o responsável pela grande maioria dos 24 casos, portanto, para os que apresentam alteração na função pulmonar ou sintomas clínicos da doença, parar de fumar é decisivo. Programas específicos e intensivos para cessação do tabagismo, adesivos de nicotina, chicletes, drogas antidepressivas, acupuntura, auxiliam no tratamento da dependência de nicotina. Mesmo para os que não conseguem parar de fumar, a redução do número de cigarros por dia deve ser incentivada constantemente. Fitipaldi (2009) enfatiza que a terapia medicamentosa para DPOC é usada para redução de sintomas e/ou diminuição das complicações, pois nenhuma das medicações existentes é capaz de modificar, à longo prazo, o declínio da função pulmonar. Segundo Nery; Fernandes; Perfeito (2006), infelizmente, não se conseguiu retardar, com a terapia medicamentosa, o declínio da função pulmonar ou mesmo aumentar a sobrevida. 1.8.1.1 Broncodilatador Os broncodilatadores são a base do tratamento medicamentoso da DPOC, estes agem sobre o tônus da musculatura das vias aéreas o que facilita o esvaziamento pulmonar e consequentemente a redução da hiperinsuflação dinâmica. Sua utilização tem a finalidade de aliviar os sintomas, especialmente a dispnéia e a intolerância ao exercício; a via mais utilizada para sua administração é a inalatória por apresentar ação direta sobre as vias aéreas e, portanto com menores efeitos colaterais sistêmicos. Para o tratamento da DPOC os broncodilatadores que podem ser utilizados são: beta-2 agonistas de curta duração (4-6 horas), beta-2 agonistas de longa duração (12 horas), anticolinérgicos de curta duração (6-8 horas), anticolinérgicos de longa duração (24 horas) e as xantinas (aminofilina com duração de ação de 4-6 horas ou bamifilina ou teofilina com duração de ação de 12 horas). De acordo com Zamboni; Pereira (2006) tradicionalmente, os beta-2 agonista de curta duração e os anticolinérgicos de curta duração tem sido indicados como opção inicial, como medicação de resgate para alívio sintomático. A utilização de associação das duas drogas é uma alternativa recomendada, considerando as evidências de efeito broncodilatador superior ao de cada substância isoladamente. Nos últimos anos foi demonstrado que os beta-2 agonistas de longa duração e o 25 tiotrópio, anticolinérgico de longa duração, produzem uma resposta mais acentuada e duradoura do que os broncodilatadores de curta duração. Desde que disponíveis, devem ser considerados de escolha para os pacientes que requeiram tratamento de manutenção. Jardim; Pinheiro; Oliveira (2009) relatam que os broncodilatadores de curta ação (beta-2 agonistas de curta ação e/ou ipratrópio) estão indicados como medicação de resgate ou alívio dos sintomas eventuais da DPOC. Assim, no tratamento de pacientes em fase inicial da doença (estádio I ou leve), o broncodilatador de curta ação pode ser a única medicação necessária para o tratamento desses pacientes. No entanto, o uso por mais de quatro a cinco vezes por semana pressupõe a necessidade de uso continuado de medicação broncodilatadora, sendo necessário, então, o tratamento com um broncodilatador de longa duração. Os broncodilatadores de longa ação (beta-2 agonista salmeterol ou formoterol ou anticolinérgico tiotrópio) estão indicados para o tratamento de pacientes com DPOC que apresentam sintomas persistentes. O seu uso deve ser contínuo e não há evidência definida por qual grupo de broncodilatadores deve ser iniciada a terapêutica de manutenção, podendo ser usado um beta-2 agonista ou o anticolinérgico tiotrópio. A associação das duas classes de broncodilatadores de longa duração está recomendada para pacientes que permanecem sintomáticos apesar do uso regular de um deles isoladamente. Também pode-se optar pela estratégia sugerida pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia em sua atualização no Consenso de DPOC (2006) que é a utilização desde o início, da combinação de um beta-2 agonista de longa duração com o tiotrópio, com reavaliação após 60 dias. Caso o paciente tenha melhorado da dispnéia e esteja estável, pode-se retirar um dos broncodilatadores e o paciente volta a ser avaliado em 30 ou 60 dias. Se o paciente mantiver-se estável e sem piora da dispnéia, mantém-se a conduta com só um broncodilatador. Se houver piora da dispnéia, retorna-se o broncodilatador que havia sido retirado. Folco; Anzueto (2008) relatam que as linhas de tratamento atuais recomendam que na primeira fase da terapia de manutenção para pacientes com DPOC de grau moderado a severo seja o uso de um ou mais broncodilatadores de longa duração. Os beta-2 agonistas de longa duração, como o salmeterol e o formoterol, tem demonstrado serem efetivos nos paciente com DPOC estável. Estas 26 medicações têm um efeito broncodilatador prolongado, diminuindo os sintomas noturnos, reduzindo a freqüência das exacerbações e melhorando a qualidade de vida e a capacidade ao exercício. As xantinas apresentam efeito terapêutico muito próximo ao efeito tóxico, seu efeito broncodilatador é inferior as demais drogas, por estas razões, são utilizadas no tratamento de pacientes com DPOC estável e que mantêm sintomatologia mesmo fazendo uso de beta-2 agonistas de longa duração e tiotrópio. 1.8.1.2 Corticóides Inalatórios Os corticóides inalatórios têm ação antiinflamatória sobre as vias aéreas, seu uso de forma regular está indicado no tratamento de pacientes com VEF1 menor que 50% e presença de exacerbações freqüentes, com uso de antibióticos e/ou corticóides sistêmicos em média 2 ou mais vezes por ano. Estudos recentes indicam que a associação de corticóides inalatórios e beta-2 agonistas de longa duração reduzem as exacerbações e melhoram a qualidade de vida do portador de DPOC. 1.8.1.3 Corticóides Sistêmicos O uso de corticóides sistêmicos não traz benefícios na grande maioria dos portadores de DPOC estável ou nos estádios iniciais da doença. Seu uso está sempre indicado nos casos de exacerbação, com ou sem infecção. Nery; Fernandes; Perfeito (2006) relatam que alguns pacientes nos estádios avançados (III e IV) podem necessitar do uso contínuo de corticóides oral com o intuito de reduzir a dispnéia e a produção de secreção, relacionados, provavelmente, a um importante componente inflamatório. 1.8.1.4 N- Acetilcisteína O estresse oxidativo presente na gênese da DPOC, ativa os mecanismos inflamatórios, inativa as antiproteases e estimula a produção de muco e a exudação 27 plasmática. Acredita-se que a N-acetilcisteína, substância antioxidante, pode reduzir as exacerbações, diminuir o tempo de internação emelhorar a qualidade de vida dos portadores de DPOC. 1.8.1.5 Oxigenioterapia Domiciliar A oxigenioterapia domiciliar está indicada para portadores de DPOC com hipoxemia, com o objetivo de prolongar a sobrevida, reduzir a progressão da doença e diminuir a morbi-mortalidade. Constituem como critérios de indicação da oxigenioterapia domiciliar prolongada, PaO2 < 55 mmHg ou SatO2 < 88% com ou sem hipercapnia e PaO2 entre 55 mmHg e 60 mmHg ou SatO2 de 88%, se houver evidências de hipertensão pulmonar, edema periférico sugerindo insuficiência cardíaca congestiva ou policitemia (hematócrito > 55%). Conforme referido por Jones (2006) é bem estabelecido que a oxigenioterapia de longa duração reduz a mortalidade e as internações em pacientes com insuficiência respiratória. Da mesma forma, o risco de vida que correm os portadores de insuficiência respiratória durante as exacerbações podem ser efetivamente gerenciados pela ventilação não invasiva (VNI). O doente respirando com dificuldade com cateter nas narinas ligado ao concentrador de oxigênio é a imagem clássica da doença. 1.8.2 DPOC Exacerbada Tabela 3. Classificação das exacerbações da DPOC Tipo de exacerbação Sintomas Tipo I Aumento do volume Purulência do Aumento da dispnéia Tipo II 2 dos 3 sintomas Tipo III 1 dos 3 sintomas Fonte: Carvalho, Oliveira e Jardim (2010) de escarro escarro 28 A exacerbação da DPOC tem como principal característica a intensificação dos sintomas, sobretudo alterações relacionadas à dispnéia, tosse e/ou produção de secreção. Pode ocorrer, também, a presença de sibilos, opressão torácica, indisposição, intolerância aos exercícios, fadiga, sonolência ou confusão mental que indicam casos mais graves de exacerbação. De acordo com Borges, Vianna e Terra (2010) a causa mais frequente das exacerbações é a infecção da árvore traqueobrônquica, podendo chegar até a 50% dos casos. Outras causas que devem ser investigadas são: poluição do ar, pneumonia, tromboembolismo pulmonar, pneumotórax, uso de sedativos ou outras drogas, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca direita ou esquerda, trauma torácico, aspiração e/ou refluxo gastroesofágico e deteriorização da doença de base. É fundamental tratar de forma adequada uma exacerbação de DPOC, de acordo com Carvalho; Jardim; Oliveira (2010), pois reduz as chances de óbito e melhora a qualidade de vida do paciente. Além disso, o tratamento é capaz de reduzir a recorrência precoce da exacerbação. Para tanto alguns objetivos devem ser alcançados: a - identificar e tratar a causa, se possível; b - otimizar a função pulmonar (broncodilatadores de forma intensiva); c - garantir oxigenação adequada; d - tentar prevenir, se possível, a intubação; e - prevenir as complicações relacionadas à imobilidade (descondicionamento físico e embolia pulmonar); f - garantir as necessidades nutricionais. Segundo Fitipaldi (2009), os pontos principais de conduta durante as exacerbações apresentados pela GOLD seriam: a - os broncodilatadores inaláveis, particularmente os beta-2 agonistas com ou sem anticolinérgicos, e os glicocorticóides orais são tratamentos efetivos; b - os pacientes que vivenciam a exacerbação da DPOC com sinais de infecção nas vias aéreas (ex.: aumento na purulência da secreção) podem se beneficiar do tratamento com antibióticos; c - a condução correta da exacerbação requer avaliação adequada da gravidade e conhecimento das causas comuns de exacerbação; e - o uso de ventilação não invasiva (VNI) durante as exacerbações melhora a acidose respiratória, aumenta o pH, diminui a necessidade de intubação, reduz a 29 PaCO2, a freqüência respiratória, a gravidade da dispnéia, a permanência hospitalar e a mortalidade; f - medicações e educação ajudam a prevenir futuras exacerbações e devem ser consideradas como parte integral do tratamento, uma vez que as exacerbações afetam a qualidade de vida e o prognóstico dos pacientes; g - as medidas espirométricas e o pico de fluxo expiratório não devem ser colhidos durante o período de exacerbação. A espirometria está relacionada ao período de resolução do quadro de exacerbação, para avaliação do declínio da função pulmonar; h - as radiografias torácicas são úteis na identificação de outras situações que podem estar mascarando os sintomas de exacerbação. A eletrocardiografia permite o diagnóstico da hipertrofia do ventrículo direito, arritmias e episódios isquêmicos. 1.8.2.1 Critérios de Internação O risco de morte pela exacerbação da DPOC está relacionada a gravidade da doença, ao desenvolvimento de acidose respiratória, a presença de co-morbidades graves e a necessidade de suporte ventilatório. Alguns quadros de exacerbação podem ser tratados a nível ambulatorial, outros requerem supervisão médica contínua através de internação hospitalar. Entre os critérios indicativos de internação, encontra-se: a - aumento acentuado da dispnéia; b - distúrbio de conduta ou hipersonolência; c - incapacidade para alimentar-se, dormir ou deambular; d - hipoxemia refratária e hipercapnia com acidose; e - DPOC em estágio avançado; f - oxigenioterapia domiciliar; g - exacerbações freqüentes; h - comorbidades significativas. Em algumas situações deve-se considerar a internação imediata em unidade de terapia intensiva (UTI): a - dispnéia grave com resposta inadequada à terapia inicial de emergência; 30 b - mudança no estado mental (confusão, letargia, coma); c - hipoxemia persistente ou agravada (Pao 2 < 40 mmHg), e/ou hipercapnia grave/piorando (PaCO2 > 60 mmHg), e/ou piora da acidose respiratória (pH < 7,25), apesar do oxigênio suplementar e ventilação não invasiva (VNI); d - necessidade de ventilação mecânica invasiva; e - instabilidade hemodinâmica com necessidade de vasopressores. 1.8.2.2 Ventilação Mecânica Invasiva e não Invasiva De um modo geral, a ventilação mecânica invasiva (VMI) e não invasiva, é indicada nas exacerbações da DPOC com hipoxemia grave e/ou hipercapnia com acidemia, que não respondem ao tratamento convencional. Schettino et al. (2007a) recomendam que a ventilação não invasiva deve ser utilizada como tratamento de primeira escolha para pacientes com agudização da DPOC, especialmente para as exacerbações graves com presença de acidose respiratória (pH < 7,35) que persiste ao tratamento médico máximo associado a oxigenioterapia controlada. A VNI diminui a necessidade de intubação e reduz a mortalidade hospitalar desses pacientes. Jezler et al. (2007) dizem que o suporte ventilatório mecânico na DPOC está indicado nas exacerbações com hipoventilação alveolar e acidemia e, menos frequentemente, naquelas com hipoxemia grave não corrigida pela oferta de oxigênio suplementar. Embora a ventilação mecânica não invasiva (VNI) seja o suporte ventilatório de escolha na exacerbação da DPOC, sua utilização é possível em um número limitado de pacientes. Aqueles com apresentação mais grave, em geral requerem intubação endotraqueal com ventilação invasiva, ou mesmo os que não responderam adequadamente a VNI. A ventilação mecânica invasiva não tem um indicador absoluto (PaCO2 ou pH), a avaliação clínica, sobretudo a alteração súbita do nível de consciência (desorientação, agitação, sonolência), é o fator determinante de sua indicação. O objetivo da ventilação mecânica é dar repouso para musculatura respiratória, manter uma PaCO2 inicial entre 45 e 65 mmHg, sem acidose. A proposta de manejo ventilatório do paciente com DPOC agudizado, de Guimarães; Orlando; Falcão (2008) compreende os seguintes critérios: 31 1º- PaO2 < 60 mmHg em ar ambiente, iniciar oxigenioterapia com FiO2 suficiente para manter SatO2 em 90%; 2º- Se PaCO2 entre 40 e 55 mmHg e pH > 7,25 - Manter conduta; 3º- Se PaCO2 > 55 mmHg ou pH < 7,25 devido à acidose respiratória - VNI ou VMI controlada por 48-72 hs; 4º- VMI controlada por 48-72 hs - com pressão de suporte máxima, evoluindo para desmame da pressão de suporte ou direto para tuboT; 5º- Desmame PS ou Tubo T - VNI ou Respiração espontânea com cateter de O2 ou máscara de Venturi; 6º- Se Respiração espontânea - Oxigenioterapia domiciliar ou Ar ambiente; 7º- Se VNI evolui para VMI - segue os itens 4º, 5º e 6º; 8º- Se VNI no item 3º - segue direto para item 6º ou VNI domiciliar. Outras medidas são adotadas para o restabelecimento do paciente e controle das exacerbações, entre elas, ajuste na dosagem de medicamentos contínuos, adequação da oxigenioterapia, orientações quanto a suplementação nutricional e reabilitação pulmonar. Após uma exacerbação é de se esperar redução da função pulmonar e da qualidade de vida, podendo levar semanas o retorno dos sintomas aos níveis basais. 32 CAPÍTULO II VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA (VNI) 2.1 Definição A ventilação não invasiva (VNI) consiste na administração de qualquer forma de assistência ventilatória sem a necessidade de uma via aérea artificial. Trata-se da aplicação de pressão positiva nas vias aéreas sem a utilização de tubo endotraqueal ou traqueostomia. A VNI inicialmente era empregada em portadores de doenças neuromusculares ou de deformidades da caixa torácica que cursavam com insuficiência respiratória crônica e no tratamento da apnéia obstrutiva do sono. Somente na década de 1990, com o avanço tecnológico e com estudos científicos metodologicamente adequados, é que a VNI passa a ter sua indicação comprovada na insuficiência respiratória aguda (IRA). Guimarães; Orlando; Falcão (2008) referem que atualmente a VNI é um dos maiores avanços da medicina intensiva e que hoje, é um tratamento efetivo para insuficiência respiratória hipercápnica, principalmente em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e algumas situações de insuficiência respiratória hipoxêmica, como no edema pulmonar cardiogênico. Diez (2005) relata que existem evidências estabelecidas na literatura com relação à indicação da VNI na exacerbação da DPOC e no edema agudo de pulmão cardiogênico. Seu benefício ainda é incerto na IRA secundária a síndrome de dificuldade respiratória, salvo no subgrupo dos imunossuprimidos. Como descrito por Schettino et al. (2007a) hoje não há dúvidas de que o uso da VNI em grupos selecionados de pacientes, como por exemplo, pacientes com exacerbação de (DPOC), é responsável pela diminuição da necessidade de intubação, mortalidade e custos do tratamento, motivo pelo qual o seu uso vem se tornando cada vez mais freqüente. Segundo Presto (2009), a VNI reduz os sintomas da IRA, evita a intubação traqueal e os efeitos deletérios da ventilação mecânica, reduz a taxa de mortalidade e o tempo de internação, sobretudo no grupo dos portadores de DPOC. 33 2.2 Efeitos de VNI Sendo a insuficiência respiratória aguda (IRA) a principal indicação da VNI, é importante lembrar que a mesma constitui uma condição clínica onde o sistema respiratório é incapaz de manter a oferta de oxigênio aos tecidos e as células, bem como de remover e eliminar o gás carbônico produzido. Com a falha das trocas gasosas, o sistema cardiorrespiratório na tentativa de compensar esta situação aumenta: o drive respiratório, a freqüência respiratória, o trabalho respiratório, a freqüência cardíaca e o trabalho cardíaco. Estas compensações antecedem as alterações gasométricas, que na presença de uma PaO2 menor que 60 mmHg e saturação de O2 menor que 90% sem hipercapnia determinam a IRA hipoxêmica, já a IRA hipercápnica apresenta as mesmas alterações seguidas de retenção de CO 2 (PaCO2 maior que 50 mmHg e pH menor que 7,34), e hipoventilação alveolar. A VNI proporciona auxílio mecânico direto à musculatura respiratória, melhorando a oxigenação e/ou reduzindo a retenção de CO 2, diminuindo o trabalho respiratório e, na maioria das vezes, evitando a intubação endotraqueal. Conforme elucidado por Zamboni; Pereira (2006), a VNI torna mais eficiente o padrão respiratório, diminui a sobrecarga do sistema cardiovascular, abre pequenas vias aéreas e unidades alveolares colapsadas tornando mais eficiente a troca gasosa e melhorando a impedância o sistema respiratório. O resultado final de uma VNI eficiente é uma melhora clínica da dispnéia, do padrão respiratório e das alterações gasométricas. Carvalho; Fonseca (2004) referem que a VNI melhora a ventilação alveolar por criar um gradiente de pressão transpulmonar sem a necessidade de uma via aérea artificial e que sua utilização em unidades de terapia intensiva demonstrou uma diminuição na freqüência de pneumonia intrahospitalar, de 20% em 1994 para 8% em 2001 e redução do risco de óbito. De acordo com relatos de Nickol et al. (2008), sobre os mecanismos de melhoria da insuficiência respiratória em pacientes portadores de DPOC com a utilização de VNI, supõem que a melhora das trocas gasosas se dá pela resposta aumentada ao dióxido de carbono, pela redução da fadiga muscular respiratória e/ou pela melhora da mecânica pulmonar. 34 2.3 Indicações a - insuficiência respiratória aguda (IRA) ou crônica (IRC); b - edema agudo de pulmão cardiogênico; c - doença pulmonar obstrutiva crônica; d - doença neuromuscular; e - doenças deformantes do tórax; f - pós-operatório de cirurgias toracoabdominais; g - insuficiência respiratória pós extubação e no auxílio do desmame; h - apnéia obstrutiva do sono; i - pneumonias intersticias; j - hipoventilação pulmonar; l - ventilação domiciliar; m - evitar atelectasias. Os seguintes valores são utilizados como referência para indicação da VNI, segundo Gambaroto (2006): PaCO2 > 45 mmHg; relação PaO2/FiO2 < 200; PaO2 < ou = 60 mmHg (ar ambiente); f > 30 rpm e SatO2 < 90%. As recomendações da American Association of Respiratory Care para o uso da VNI, (apud FITIPALDI, 2009), traz como critérios clínicos de inclusão: a - sinais e sintomas de estresse respiratório agudo; b - dispnéia severa a moderada aumentando com o tempo; c - freqüência respiratória maior que 30 rpm; d - uso de musculatura acessória; e - paradoxo abdominal; f - PaCO2 > 45 mmHg e pH < 7,35; g - relação PaCO2 e FiO2 < 200 mmHg. 2.4 Contra-indicações a - parada respiratória; b - necessidade imediata de intubação traqueal; c - hipotensão com necessidade de drogas vasopressoras; d - arritmias incontroladas; 35 e - isquemia miocárdica; f - queimadura ou trauma facial; g - inabilidade em eliminar secreções ou deglutir; h - rebaixamento do nível de consciência; i - sangramento gastrointestinal ativo; j - pneumoencéfalo ou fístula liquórica; l - pneumotórax não drenado, pneumomediastino ou fístula broncopleural; m - hemoptise e epistaxe maciça; n - paciente neurológico com perda de reflexo de deglutição; o - instabilidade clínica com falência de mais de dois órgãos; p - paciente pouco colaborativo ou que não se adapte à máscara; q - cirurgia facial, otolaríngea, esofágica ou gástrica recente; r - íleo paralítico ou distensão abdominal. O rebaixamento do nível de consciência, em portadores de DPOC, não é considerado como contra-indicação, pois a retenção de CO2 gera esta situação clínica e pode ser revertida com o uso da VNI. 2.5 Vantagens e Desvantagens A aplicação da VNI tem a vantagem de manter a função das vias aéreas superiores (proteção pulmonar, aquecer e umidificar o ar inspirado), preservar a fala e a deglutição. È de fácil manuseio e remoção, pode ser utilizada de forma intermitente, permite o envolvimento do paciente em seu processo de recuperação, necessita de menos sedação e previne complicações decorrentes da intubação traqueal. As complicações decorrentes da intubação traqueal podem ocorrer no ato da intubação, como lesões na boca, faringe, traquéia e cordas vocais, além de aspiração de conteúdo gástrico. A permanência da intubação e o fato dos mecanismos de defesa das vias aéreas superiores terem sido ultrapassados, facilita os processos de infecções do trato respiratório inferior e predisposição ao desenvolvimento de pneumonias nosocomiais. Além disto, durante a intubação e ventilação assistida, a necessidade de sedação acaba sendo maior, dificultando e prolongando o desmame, o tempo de internação e os custos hospitalares. 36 Uma das maiores vantagens da VNI é a prevenção da pneumonia nosocomial, por diminuir as taxas de morbidade e mortalidade hospitalar. Rahal; Garrido; Cruz (2005) relatam que a evidência disponível sugere que a VNI, além de melhorar a troca gasosa e a evolução clínica em diferentes tipos de insuficiência respiratória aguda, reduz o risco de pneumonia nosocomial, a necessidade de intubação e a mortalidade. Entretanto o sucesso da VNI está diretamente relacionado à tolerância e à colaboração do paciente. Entre outras vantagens da VNI estão a menor necessidade de sonda nasogástrica, pois a deglutição está preservada e a menor incidência de barotrauma. As desvantagens da VNI estão relacionadas às dificuldades próprias da técnica como, a necessidade de colaboração do paciente para os procedimentos, a dificuldade para remoção de secreções traqueobrônquicas, os problemas relacionados a adaptação da interface, a impossibilidade de se aplicar altas pressões no sistema respiratório e a correção dos distúrbios de troca gasosa é mais lenta. Outra desvantagem da técnica é que exige experiência, dedicação da equipe e maior consumo de tempo à beira do leito. Mais raramente, pode-se citar, o risco de vômitos, distensão abdominal e aspiração de conteúdo gástrico. Conforme mencionado por Pinheiro (2010), a principal desvantagem da VNI é que a correção das alterações gasométricas é mais lenta, de forma menos segura e exigem um tempo inicial de adaptação. Sendo assim, a VNI não deve ser tentada em pacientes já extremamente graves, com níveis de hipoxemia ou hipercapnia muito alterados, ou em pacientes com alterações da respiração tipo ritmo irregular, superficial, com apnéias. A retirada acidental e a dificuldade de adaptação à máscara podem levar à prejuízos na aplicação do suporte ventilatório ou até mesmo, a necessidade de suspender a técnica. 2.6 Interfaces Para que a aplicação da VNI tenha sucesso no tratamento da insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada, o primeiro passo é a escolha dos equipamentos, ou seja, seleção adequada da interface ventilador-paciente. Faz-se 37 também necessário a presença de uma equipe multiprofissional habilitada e capacitada para a realização da VNI. As máscaras ou interfaces ventilador-paciente que podem ser utilizadas na aplicação da VNI são: a - nasal, cobrindo apenas o nariz; b - oronasal ou facial, cobrindo nariz e boca; c - facial total, cobrindo todo o rosto; d - sistema tipo capacete ou helmet. 2.6.1 Máscara Nasal As máscaras nasais são menores, mais confortáveis e oferecem uma menor sensação de claustrofobia que as máscaras faciais, comumente são utilizadas em disfunções ventilatórias crônicas. Permitem a alimentação, comunicação e tosse com expectoração. Este tipo de máscara é mais tolerável, porém os vazamentos com perda de pressão são comuns, principalmente nos pacientes que têm dificuldade em manter a boca fechada, portanto o vazamento bucal as torna menos eficaz em manter a pressurização das vias aéreas ao longo de todo o ciclo respiratório. 2.6.2 Máscara Oronasal (Full Face) As máscaras oronasais talvez sejam as mais utilizadas na prática, sua maior vantagem é o reduzido escape aéreo durante a terapia. Permitem a correção mais rápida e eficiente dos distúrbios gasométricos comparadas às máscaras nasais. Por outro lado, não permitem a alimentação, comunicação e expectoração, geram maior sensação claustrofóbica e se associam a possibilidade de broncoaspiração em caso de vômitos. 2.6.3 Máscara Facial total (Total Face) 38 Este tipo de máscara é de tamanho único e possui um suporte de fácil utilização com boa vedação, Seu uso vem sendo cada dia mais freqüente em pacientes que necessitam de suporte ventilatório mais prolongado, apresenta menor risco de ferimentos, reduzida sensação de claustrofobia proporcionando ao paciente maior conforto. Suas desvantagens são o aumento do trabalho respiratório, o barulho em seu interior, o ressecamento de córnea e possíveis reinalações de CO 2. Outro ponto considerado como desfavorável é o maior risco de vômitos e de sua aspiração. Fonte: Holanda et al, (2009) Figura 1 - Visões frontal e lateral de máscaras para ventilação não invasiva. A1/A2: máscara facial total; B1/B2: máscara oronasal; C1/C2: máscara nasal. 2.6.4 Sistema Tipo Capacete (Helmet) Este tipo de máscara recobre toda a cabeça do paciente e possui alças para fixar a máscara para evitar vazamentos. Tanto a máscara facial total como o helmet são alternativas promissoras associadas à menor percepção de vazamentos, menos 39 dor nos pontos de contato com a face e mais aptas ao uso de pressões mais elevadas, porém impedem a alimentação, comunicação e expectoração. A experiência de uso do capacete é menor pois sua disponibilidade no mercado é menor, trazendo ainda como desvantagens a reinalaçao de gás carbônico, o risco de vômitos, o desconforto nas axilas e o ruído elevado. No estudo realizado por Holanda et al. (2009), referente aos efeitos causados pelas máscaras (facial total, facial e nasal) durante a VNI, concluiu-se que ao eventos adversos estão relacionados ao tipo de máscara e aos parâmetros de pressão. A máscara facial total é uma alternativa confiável comparada à facial e nasal e também mostra que a reinalação de CO2 em seu interior é menos provável de ocorrer. Segundo Keenan e Winston (2009), apesar de o potencial que a interface tem de influenciar a tolerância do paciente à VNI e alterar os benefícios desta ser aceito no geral, as evidências na literatura que corroboram uma interface em detrimento de outra são limitadas. Os mesmos sugerem mais estudos envolvendo pacientes com sintomas respiratórios agudos ou insuficiência respiratória no momento da instituição da VNI. 2.7 Geradores de Fluxo A aplicação da VNI depende de um mecanismo gerador de fluxo e pressão positiva. Esta pressão pode ser realizada pelo próprio ventilador mecânico, presente no uso contínuo das UTIs, por aparelhos específicos de CPAP ou BIPAP e ainda, por geradores de fluxo. Com o uso crescente da ventilação domiciliar e o desenvolvimento de dispositivos específicos para VNI, os geradores de fluxo com controle de pressão tipo CPAP ou BIPAP, têm se tornado cada vez mais populares. Estes novos dispositivos são pequenos, portáteis, de baixo custo e de fácil manuseio, o que vem facilitando e ampliando o uso da VNI em ambientes fora da UTI, enfermarias e pronto atendimentos. A principal vantagem dos equipamentos para BIPAP em relação aos ventiladores mecânicos que é a capacidade de compensar a fuga aérea. Hoje, os 40 novos equipamentos já oferecem controle da FiO2, alarmes e possibilidade de monitorização. Os geradores de fluxo são dispositivos que se adaptam ao sistema de ar comprimido e/ou de O2 da rede hospitalar, gerando fluxo e pressão. São de baixo custo, porém não permitem o controle da FR, VC, VM e ter grande fuga aérea. 2.7.1 CPAP A aplicação de CPAP significa administração de pressão positiva de forma contínua nas vias aéreas, ou seja, tanto na inspiração quanto na expiração. O ciclo respiratório é espontâneo e a freqüência respiratória não é ajustável. Como a aplicação da técnica é feita através de máscara, é freqüente haver fuga aérea e perda de cerca de 2 cmH2O na pressão aplicada, e quanto maior a pressão, maior a perda de gás pela máscara. Sabemos que a redução do trabalho da musculatura inspiratória está favorecida pelo fluxo contínuo da CPAP, porém se a PEEP for aumentada pode levar ao aumento do trabalho expiratório e hiperdistensão pulmonar, prejudicando a mecânica diafragmática. Por isto para garantir o sucesso da terapia deve-se iniciar com o menor nível de PEEP e aumentar gradualmente, observando a adaptação do paciente: conforto, nível de consciência e melhora do esforço respiratório. Segundo Presto (2009), ao administrar CPAP por meio de ventiladores mecânicos ou de aparelhos portáteis, a sugestão é a utilização de uma PEEP que gere uma SatO2 maior que 90%, priorizando FiO2 inferior a 50 a 60%. A CPAP tem sua indicação principal, nos casos de insuficiência respiratória tipo I ou hipoxêmica, por corrigir as alterações nas trocas gasosas, ou seja, reverter a hipoxemia. Schettino et al. (2007b) lembram que a CPAP não é capaz de aumentar a ventilação alveolar, motivo pelo qual, na presença de hipercapnia, é dada a preferência por ventilação não invasiva com dois níveis de pressão (BIPAP). 2.7.2 BIPAP 41 Assim como a CPAP, a BIPAP é a aplicação de pressão positiva nas vias aéreas, porém com dois níveis de pressão. A primeira auxilia a fase inspiratória, denominada IPAP, e a segunda favorece a fase expiratória, EPAP. A freqüência respiratória e/ou o esforço do paciente é que determinam a disparo do ciclo respiratório. A IPAP corresponde a uma pressão de suporte (PSV), portanto quanto maior a IPAP maior o volume corrente inspirado e maior será o auxílio à ventilação e, a EPAP corresponde ao PEEP, desta forma quanto maior a EPAP maior será o auxílio às trocas gasosas. Quanto maior a diferença entre as pressões, IPAP e EPAP, maior será o auxílio à ventilação, pois corrige os níveis elevados de CO2 e consequentemente, normaliza o pH. Geralmente, uma IPAP de 15 a 25 cmH 2O e uma EPAP de 5 a 10 cmH2O são adequadas e bem aceitas pelo paciente, segundo com Guimarães; Orlando; Falcão (2008). Quanto maior a diferença entre a IPAP e a EPAP maiores são os efeitos relacionados à ventilação alveolar, corrigindo os níveis elevados de CO2 e consequentemente normalizando o pH. Segundo Presto (2009), os valores de IPAP e EPAP a serem utilizados são, em média, IPAP 8 a 20 cmH2O, e EPAP 3 a 6 cmH2O; sem esquecer a possibilidade de fuga aérea. Também ressalta que se igualarmos a IPAP e a EPAP nos aparelhos portáteis, estaremos realizando CPAP, pois só haverá um nível de pressão positiva. Ressalta também que altos níveis de EPAP, podem levar aos efeitos deletérios da PEEP, e altos níveis de IPAP, podem resultar em hiperdistensão das vias aéreas. 2.8 Aplicação da VNI A VNI vem sendo utilizada nas unidades de terapia intensiva, enfermarias e pronto atendimentos em virtude de suas vantagens sobre a ventilação invasiva e suas complicações. Sua aplicação pode ser feita de forma intermitente ou contínua, variando de 30 a 45 minutos de terapia, ou de 1 a 2 horas, ou até mesmo 4 horas consecutivas. O sucesso de sua aplicação depende da paciência e conhecimento teórico da equipe, da aceitação do paciente, da escolha correta da máscara e da escolha de parâmetros confortáveis ao paciente. A monitorização cuidadosa e freqüente, bem 42 como a presença do fisioterapeuta junto ao paciente, tem o objetivo de verificar se os efeitos da VNI estão sendo atingidos. Alguns passos devem ser seguidos para a instituição da VNI: a - escolha do aparelho a ser utilizado; b - escolha o tamanho mais adequado de máscara; c - coloque o paciente em fowler 45°, se não houver contra-indicação; d - explique rapidamente o que irá acontecer e que o sucesso depende dele; e - segure a máscara até que haja adaptação paciente-ventilador; f - fixe a máscara através do fixador cefálico; g - inicie a terapia com baixas pressões, aumentando conforme a necessidade do doente; h - avalie constantemente o paciente, observando melhora da dispnéia, diminuição da freqüência respiratória, aumento de volume corrente; i - esteja ao lado do paciente para garantir conforto e tolerância; j - incentive o paciente a terminar a terapia; l - reavalie periodicamente o procedimento. A equipe multiprofissional deve estar atenta, através de supervisão constante, para que possa identificar falhas no procedimento, desde vazamentos excessivos de gás até insucesso da técnica. Alguns pacientes podem não responder satisfatoriamente à VNI, a presença de quadros inalterados ou com piora na condição clínica, sugerem a necessidade intubação traqueal. Os sinais clínicos devem ser monitorados e acompanhados durante toda aplicação da VNI, entre eles podemos citar: FR, VC, VM, respiração paradoxal, dispnéia (monitorização ventilatória), SatO2, cianose (monitorização das trocas gasosas); PA, FC, ECG (monitorização hemodinânica). De acordo com Sarmento (2005), a piora ou persistência das anormalidades nas condições clínicas e/ou nas trocas gasosas, assim como o surgimento de critérios listados como contra-indicação para o uso da VNI ou a intolerância do paciente ao método, são suficientes para considerar a falência do suporte ventilatório não invasivo. 2.9 Falência da VNI 43 A falha no suporte ventilatório não invasivo deve ser detectada até 2 horas após seu início, para que o estado geral do paciente não se agrave ainda mais. A necessidade de instituir a ventilação invasiva é mais freqüente em pacientes muito doentes, mais velhos, com diagnóstico de SARA ou pneumonia. Segundo Gambaroto (2006), existem algumas situações que estão relacionadas ao insucesso da VNI na insuficiência respiratória aguda (IRA), dentre elas estão: a - doença de base mais severa e a associação de complicações; b - baixos níveis de consciência; c - grandes alterações nas trocas gasosas (< pH; > PaCO2;< PaO2/FiO2); d - pior resposta inicial à VNI quanto aos parâmetros gasométricos e sinais clínicos; e - dificuldade de adaptação à máscara; f - presença de pneumonia; g - maior gravidade do fator desencadeante da IRA; h - necessidade de maior tempo para a reversão do quadro a partir do início da terapia medicamentosa. Pinheiro (2010) destaca que a insistência na VNI pode colocar o paciente em risco, pois ele pode deteriorar sua condição rapidamente, sendo necessária a intubação traqueal de urgência, por vezes na condição extrema de parada cardiorespiratória, com todos os seus riscos. Lista também os principais indicadores de falha da VNI: a - parada respiratória ou padrão irregular; b - inabilidade de tolerar a máscara por desconforto ou dor; c - ausência de melhoria da taquipnéia e/ou da gasometria arterial; d - necessidade de intubação traqueal por hipersecreção ou proteção das vias aéreas; e - instabilidade hemodinâmica, isquemia miocárdica descompensada, arritmias graves; f - manutenção do nível de consciência alterado, com letargia ou agitação. A ventilação mecânica de forma invasiva está indicada quando ocorre falha no suporte ventilatório não invasiva ou em situações onde a VNI é contra indicada. Após o paciente ser intubado, os objetivos estarão direcionados a estabilização do 44 quadro que o levou a ventilação mecânica e a retirada o mais breve possível da assistência ventilatória invasiva. 2.10 VNI na DPOC Exacerbada De acordo com Cruz (2004), a exacerbação da DPOC é um evento no decorrer natural da doença caracterizado por uma mudança basal da dispnéia, tosse e/ou expectoração do paciente além da variabilidade diária, suficiente para justificar alterações no tratamento. Martinez (2008) define exacerbação da DPOC como uma combinação de: piora da dispnéia, aumento da purulência da secreção (mudança na coloração) e aumento do volume de secreções. Nestes episódios ocorre a perda transitória da função pulmonar que, usualmente se restaura nos meses seguintes. Valdés (2010) refere que a exacerbação é caracterizada por piora da dispnéia habitual que excede as variações diárias, que não responde ao tratamento com drogas habituais (ou que não melhora com o aumento das doses das mesmas). Segundo Jardim et al. (2010), as exacerbações afetam a qualidade de vida e o prognóstico de pacientes com DPOC. A mortalidade hospitalar de pacientes internados por exacerbação de DPOC com elevação da CO2 é de aproximadamente 10%, e o prognóstico a longo prazo ruim. A mortalidade chega a 40% em um ano nos que precisam de ventilação mecânica e a mortalidade por qualquer causa ainda é maior (de até 49%) 3 anos após internação por exacerbação. As causas de exacerbação da DPOC podem estar relacionadas a fatores pulmonares e extra pulmonares, alguns casos podem ser tratados a nível ambulatorial e outros merecem internação hospitalar. Tabela 4 – Causas de exacerbação da DPOC CAUSAS PULMONARES CAUSAS EXTRAPULMONARES Infecção brônquica Insuficiência cardíaca Pneumonia Doença coronariana Embolia pulmonar Cirurgias de urgência Pneumotórax Uso de sedativos Agravamento da doença de base . 45 Broncoespasmo . Aspiração de conteúdo gástrico . Fonte: Carvalho; Jardim e Oliveira (2010) Os objetivos do tratamento da exacerbação da DPOC visão: tratar a causa da descompensação, melhorar a oxigenação do paciente (SatO2 entre 90 e 92%), diminuir a resistência das vias aéreas e melhorar a função da musculatura respiratória. Estes objetivos podem ser atingidos através do uso de broncodilatadores, corticóides, oxigenioterapia, antibióticos, ventilação não invasiva e ventilação invasiva, quando necessário. Gene et al. (2003) descreve que as exacerbações devem ser tratadas agressivamente com oxigênio, corticóides, antibióticos, associação de broncodilatadores, e eventualmente assistência respiratória. Zayas (2006) faz uma revisão dos tratamentos atuais da exacerbação da DPOC, e considera como condutas obrigatórias, oxigenioterapia em concentração adequada, broncodilatadores, corticóides e antibióticos. Por muitos anos, a ventilação mecânica invasiva era a primeira opção de escolha no tratamento das insuficiências respiratórias em unidade de terapia intensiva. A intubação traqueal e a ventilação mecânica invasiva eram condutas rotineiras, porém várias são as suas complicações. Contudo, é importante lembrar que o portador de DPOC apresenta uma mecânica respiratória desequilibrada em função da hiperinsuflação que vai se instalando com o tempo, predispondo à fadiga muscular crônica. Esta situação, caracterizada por rebaixamento diafragmático, uso da musculatura acessória, redução do recuo elástico pulmonar, auto-peep, se agrava durante os episódios de descompensação da doença ou exacerbações. Fitipaldi (2009) relata que nas exacerbações a demanda para desempenhar o trabalho da ventilação aumenta, enquanto a capacidade de suprir essa demanda passa a ser cada vez menor. Apesar das exacerbações serem acompanhadas de hipoventilação alveolar, o drive ventilatório é aumentado e a fadiga muscular se desenvolve. Na tentativa de compensar todas essas alterações, os pulmões tornamse cada vez mais hiperinsuflados, sobrecarregando a musculatura acessória. 46 A VNI pode ser capaz de reverter a falência respiratória que se instala nas exacerbações da DPOC, pois entre seus benefícios estão recuperar a função muscular, preservar a força muscular remanescente e controlar a fadiga muscular. De acordo com Pinheiro (2010), o objetivo da VNI na exacerbação da DPOC é reduzir a sobrecarga de trabalho da musculatura respiratória e aumentar o volume corrente, com conseqüente redução da freqüência respiratória. Com isso há aumento da ventilação alveolar e redução da hiperinsuflação, com melhora da dispnéia, da hipercapnia e da acidose respiratória. Pelo fato da VNI proporcionar repouso da musculatura respiratória e diminuir as complicações relacionadas à ventilação mecânica, sua indicação vem sendo amplamente difundida nas últimas décadas. Segundo Gomboski; Câmara (2004,) o recente desenvolvimento da aplicação da VNI, vem recebendo cada vez mais importância na literatura e na aplicação clínica. Tem sido utilizada com o objetivo de melhorar as trocas gasosas, reduzir o trabalho respiratório, evitar intubação, facilitar o desmame, reduzir permanência na UTI e tempo de internação hospitalar. Carratu et al. (2005) afirmaram que a VMNI reduz a necessidade de intubação em 80% dos pacientes com moderada a grave falência respiratória hipercápnica da DPOC. Segundo Gambaroto (2006), geralmente os portadores de DPOC desenvolvem a insuficiência respiratória devido à exacerbação da doença, o que se pode chamar de insuficiência respiratória crônica agudizada, normalmente associada a um quadro infeccioso ou de descompensação cardíaca. A VNI pode evitar a intubação em até 70% dos casos de portadores de DPOC que apresentam IRA hipercápnica. Zamboni; Pereira (2006) referem que a exacerbação da DPOC constitui a categoria diagnóstica mais bem estudada quanto à eficiência da VNI na IRA. O uso de BIPAP não apenas diminui a necessidade de intubação e suas complicações, como também reduz de modo significativo a mortalidade. Atualmente recomenda- se, o uso da VNI como estratégia de primeira escolha na DPOC exacerbada. Conforme Nery; Fernandes; Perfeito (2006) embora o uso da VNI em pacientes com DPOC exacerbada deva ser considerado como primeiro suporte ventilatório, alguns não respondem adequadamente e requerem intubação e ventilação convencional. 47 Ram e col. (apud PEÑUELAS; VIVAR; ESTEBAN, 2007) através de revisão sistemática relataram que a VNI está associada com menor mortalidade, menor necessidade de intubação, menor probabilidade de falha no tratamento e, em uma hora, melhoria do pH e freqüência respiratória. A VNI também foi associada com menor número de complicações relacionadas com o tratamento e menor tempo de internação hospitalar. Rocha; Carneiro (2008) relataram que comparando ventilação invasiva com ventilação não invasiva, a indicação precoce da VNI aponta para menor necessidade de intubação, menos tempo de internação hospitalar, redução do número de complicações, diminuição da PaCO2, alívio de sintomas como dispnéia ocasionada pela fadiga da musculatura respiratória. Keenan e col. não sugeriram benefícios importantes que justifiquem o uso rotineiro de VMNI para as exacerbações leves de DPOC. De acordo com Machado (2008), estudos comparando VNI com intubação traqueal evidenciaram que a VNI melhora progressivamente a hipercapnia, a hipoxemia, a relação V/Q e diminui parcial ou totalmente a sobrecarga muscular. O número de intubações e complicações relacionadas a esse procedimento, tempo de internação, mortalidade e custos diminuem quando os pacientes com falência respiratória aguda são submetidos a esse tratamento de forma precoce. Presto (2009) demonstra que a eficácia da VNI em melhorar as trocas gasosas, a ventilação, a freqüência respiratória e a redução do trabalho respiratório foi verificada em pacientes portadores de insuficiência respiratória aguda tipo II, principalmente nas exacerbações da DPOC. Sendo a modalidade BIPAP a mais utilizada pois a IRA hipercápnica geralmente apresenta como causa da exacerbação, distúrbios ventilatórios. Pinheiro (2010) considera que a melhor relação entre risco e benefício da VNI na exacerbação de DPOC parece ser entre os pacientes com gravidade intermediária, identificados sobretudo pelo pH (entre 7,25 e 7,35). Em pacientes menos graves (pH >7,35) a VNI parece não trazer benefícios adicionais ao tratamento clínico e com suplementação de oxigênio, ao passo que naqueles muito graves (pH <7,25), o risco de falha é elevado. Embora a VNI possa ser tentada nestes casos de maior gravidade, deve haver uma monitoração rigorosa, em ambiente de UTI, com a equipe preparada para a eventual necessidade de intubação de urgência. 48 Assim a VNI é uma alternativa terapêutica atual e eficaz para portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica exacerbada. 49 CONCLUSÃO A ventilação não invasiva tornou-se nas últimas décadas uma terapia amplamente difundida e pesquisada devido aos seus efeitos vastamente satisfatórios no suporte terapêutico apresentado durante o tratamento de portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica exacerbada. Sua maior vantagem se traduz na contribuição de se evitar a intubação transtraqueal e minimizar as complicações associadas a mesma. A VNI se traduz em uma terapia que se destacando cada vez mais nas diferentes unidades hospitalares, por reduzir o tempo de internação, custos hospitalares e taxas de morbimortalidade. Embora seja consenso que a assistência ventilatória através da VNI é benéfica e benéfica e deve estar disponível 24 horas em todos os hospitais, esta prática ainda não é realidade em muitas instituições. Assim, após a realização desta pesquisa, de acordo com processos terapêuticos desenvolvidos para profissionais na assistência fisioterapêutica oferecida a portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Exacerbada, sob hospitalização e corroborando ao pressupostos positivos e indicativos da utilização da ventilação não invasiva, realizou-se um levantamento e averiguação do conteúdo literário expresso durante o desvelamento da presente, pode-se constatar que a ventilação não invasiva em portadores de DPOC exacerbada se trata de um processo elucidado tanto na bibliografia quanto nas rotinas fisioterapêuticas em unidades hospitalares. Desta forma tanto os objetivos como o problema destacado nesta fora desvelado de forma positiva destacando a veracidade da hipótese da mesma. 50 REFERÊNCIAS AZEREDO, C. A. C. Fisioterapia respiratória moderna. 4. ed. São Paulo: Manole, 2002. BORGES, M. C.; VIANNA E. S. O.; TERRA J. F. Abordagem terapêutica na exacerbação da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). 2003. Disponível em: <http://www.fmrp.usp.br>. Acesso em: 28 maio 2010. CARRATU, P. et. al. Early and late failure of noninvasive ventilation in chronic obstructive pulmonary disease with acute exacerbation. Eur. J. Clin. Ivest., Berlin, v. 35, n. 6, p. 404-9, Jun, 2005. CARVALHO, E. V.; JARDIM, J. R.; OLIVEIRA, J. A. C.: DPOC: exacerbação. Disponível em: <http://www.pneumoatual.com.br>. Acesso em: 01 jul. 2010. CARVALHO, W. B.; FONSECA, M. C. M.: Ventilação não invasiva – evidências de diminuição da mortalidade e infecção em UTI. Revista Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 50, n. 1, p. 1-20, 2004. CRUZ, E. 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