EDUCAÇÃO, COTIDIANO ESCOLAR E DIFERENÇA CULTURAL: pensando a educação na dinâmica social contemporânea. Profª Anna Maria Salgueiro Caldeira Profª Sandra de Fátima Pereira Tosta PPGE-PUCMinas Este artigo expressa o resultados do levantamento e análise das dissertações e dos projetos de pesquisa produzidos no Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCMinas, no eixo de pesquisa Educação, cotidiano escolar e diferença cultural1 no período 19982008. Neste período de 10 anos, foram apresentadas e defendidas, nas referidas linhas e eixo, 31 dissertações abordando diferentes temas, referenciais teóricos e metodologias de pesquisa e desenvolvidos 11 projetos de pesquisa como será apresentado no final deste texto. O eixo de pesquisa Educação, cotidiano escolar e diferença cultural foi constituído com o objetivo de fomentar um espaço de estudos, de pesquisas e de intercâmbio e de consolidar um grupo de pesquisadores docentes e discentes, mobilizados para o aprofundamento do debate acerca da educação, da cultura, da escola, da formação docente e do cotidiano escolar. No sentido de efetivar esse espaço acadêmico e compreendendo a necessidade de conversar com outros campos de conhecimento, dada, inclusive, a formação das professoras da Linha, adotamos uma perspectiva interdisciplinar. Tal perspectiva é entendida como a convergência de saberes comuns a um ou mais ramos do conhecimento, dimensão necessária a qualquer projeto pedagógico que se pretenda implementar visando alcançar avanços em termos teóricos e práticos no campo da educação, uma vez que os encontros disciplinares têm sido tema de constantes diálogos entre pesquisadores de diferentes áreas. Dentre elas, a Antropologia, reconhecendo que esta ciência vem se constituindo numa esfera privilegiada, que oferece muitas possibilidades para o aprofundamento desses debates, por sua reconhecida capacidade de abordar a cultura como dimensão fundadora da sociedade e, historicamente, tomar como objeto de estudo os homens e as razões pelas quais uns e outros fazem o que fazem (TOSTA, 1999). 1 O Programa de Mestrado em Educação da PUC- Minas passou, nos seus 10 anos de funcionamento, por duas reformas curriculares. Assim, as dissertações e projetos de pesquisa referidos neste artigo foram desenvolvidos, num primeiro momento em duas linhas: O professor, o aluno e o conhecimento escolar e Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. E, num segundo momento, passou a constituir um dos 3 eixos da linha: Educação Escolar, Currículo e Práticas curriculares, Cotidiano e Cultura. 1 Desse ponto de vista, nosso trabalho tem sido orientado centralmente pelos conceitos de cultura, de diferença e de cotidiano, sem desconhecer a densidade e a complexidade, as tensões e as várias polêmicas que cercam estes conceitos. Tentando precisar minimamente como entendemos tais noções, diremos que a cultura é um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo social pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas (DAMATTA, 1986, in ROCHA; TOSTA, 2008, p.84). Para usarmos de uma metáfora, a cultura é uma espécie de óculos por meio do qual enxergamos o mundo, vemos o outro e olhamos para nós mesmos, dando sentido à nossa existência e às nossas experiências de vida. Em resumo: A Cultura é a lente humana por excelência, e ser antropocêntrico é enxergar o mundo através dela. (...) Por conseguinte, o próprio dessa lente antropocêntrica é ser multifocal. Não existe rigorosamente A Cultura, que é apenas um conceito totalizador, um artifício de raciocínio; mas miríades de culturas, correspondentes à multiplicidade dos grupos humanos e os seus momentos históricos. A Cultura é uma abstração, um artefato de pensamento por meio do qual se faz economia da extraordinária diversidade que os homens apresentam entre si e com o auxílio do qual se organiza o que os homens tem de semelhantes. A Cultura é também o que os distingue das demais formas vivas: a capacidade de diferir de seus coespecíficos (RODRIGUES, 1989, in ROCHA; TOSTA, 2008, p 85). Também pensamos a cultura conforme nos ensina Geertz, que, apoiado em Weber, afirma que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu (1989,p.15). Ou, ainda, que as culturas são “sistemas de significados criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção às nossas vidas” (1989, p.64). Em relação ao entendimento da diferença, é também Geertz (1989) que explicita que esta é uma noção, uma preocupação antiga entre os homens, o que já justificaria o seu uso tão comum entre nós, principalmente se considerarmos as últimas décadas do século XX. Os movimentos culturais e sociais, principalmente da segunda metade dos anos 70, são responsáveis não só por reafirmar seu uso, como por estabelecer uma nova relação com o termo diferença. Nessa nova relação mantém-se o direito à igualdade, que passamos a desejar menos, e ocupam-se, de forma imperativa com o direito de sermos particular e coletivamente diferentes. Ou seja, passamos a pensar e a agir orientados pelo lema conhecido como o direito à diferença (PIERUCCI, in MAIA,1999). É importante ressaltar, então, que os termos diversidade e diferença usados comumente como se fossem equivalentes, são contrastantes. No livro, A interpretação das culturas, Geertz (1989) afirma que não há dúvida de que existem diferenças entre os homens, mas sua dimensão empírica é discutida por Pierucci: 2 (...) as cores são diferentes, os narizes são diferentes, os olhos são diferentes, as raças são diferentes, os sangues são diferentes, as famílias são diferentes, as tribos são diferentes, as nações são diferentes, as etnias são diferentes, os gêneros são diferentes, as idades são diferentes, as ordens são diferentes (...) as culturas são diferentes. (PIERUCCI, 1999, p. 30). Ou seja, empiricamente a diferença se mostra na constatação de uma infinita variedade de características entre nós, que, segundo Geertz, inviabiliza que sejamos iguais. Com isso, é pertinente dizer que a diferença é um fato da natureza humana, e ser humano é ser diferente, conclui Geertz. Partilhando desse debate, Bhabha (1998) também discute a diferença no seu aspecto de essência e de visibilidade. Sobre a visibilidade, esse autor, assim como Pierucci, considera que a compreensão do termo diferença fica reduzida quando a vemos apenas pelo aspecto físico, visível, como na identificação da estatura ou da cor de pele, por exemplo. A diferença, segundo Bhabha, também diz respeito às posições que os indivíduos assumem de acordo com categorias conceituais básicas, como o gênero ou a classe. Nesse sentido, a diferença aparece não só como algo que é exterior ao ser humano e visível ao outro, mas como algo que também lhe é interior – no nível das idéias - explicando, por exemplo, nossas preferências, manifestações, posturas e ideologias. Por isso se diz que a diferença é um fato e que não podemos nos despir dela. Assim, a diferença deve ser entendida como uma variedade humana, como um dado incontornável da natureza, que se manifesta e/ou se apresenta de um ser humano para outro ser humano na forma exterior (visível) ou interior (nível das idéias). Sintetizando, para Pierucci, Geertz e Bhabha, a manifestação de nossa diferença (física ou simbólica) se expressa na diversidade: ‘outros campos’, dizem os javaneses, ‘outros gafanhotos’. (GEERTZ, 1989, p. 65). E a diversidade é entendida, assim, como a expressão de pertencimentos vários, constituindo-se na forma de manifestação da diferença. Buscando a relação entre os dois termos, podemos afirmar: diferença é o que somos, isto é, seres exteriores produzidos socialmente e simbolicamente diversos; diversidade é a manifestação dessa variedade humana. Já o conceito de cotidiano foi por nós apropriado, a partir das contribuições de Agnes Heller (1977), entendido como as atividades voltadas para a reprodução dos indivíduos e, através deles, da sociedade, não podendo ser entendido como sinônimo de dia-a-dia. Portanto, em toda sociedade há uma vida cotidiana e todo homem tem uma vida cotidiana, pois já nascemos inseridos na cotidianidade. Daí, podemos supor que existe também uma vida cotidiana na escola e em outros espaços educativos. Assim, no cotidiano escolar e não escolar estão presentes práticas repetitivas, necessárias ao trabalho do professor e, também, práticas criativas, construídas no 3 enfrentamento dos desafios de seu trabalho cotidiano. É nesses momentos que ocorre a suspensão do cotidiano, em que há a ruptura, quando concentramos nossa atenção em uma única questão, em que decolamos do cotidiano em direção ao humano-genérico. Também é importante salientar que uma dimensão relevante do cotidiano é a sua historicidade e que é preciso ter sempre presente que o cotidiano é produto de uma construção histórica. Esta perspectiva permite pensar os professores e os alunos como sujeitos que incorporam e objetivam, ao seu modo, práticas e saberes dos quais se apropriaram em diferentes momentos e contextos de vida, depositários que são de uma histórica acumulada durante séculos (ROCKWELL; EZPELETA, 1989, p.28). Assim, é possível romper com a cotidianidade e transformar o cotidiano escolar. Desde essas perspectivas teóricas, conscientes das tensões e desafios que elas nos apresentam, entendemos que o eixo de pesquisa,“Educação, Cotidiano e Diferença Cultural”, se insere em uma região de fronteiras que tem a Antropologia e a História como disciplinas de perspectivação (SILVA; PINTO, 2000. in: TOSTA, CALDEIRA, 2005), mantendo um diálogo permanente, relacional e dialético com outros campos de conhecimento, tais como, a Psicologia, a Sociologia, e a Comunicação Social. Assim ela pode ser caracterizada: - no nível teórico, pela convergência de campos disciplinares: Antropologia, História (em sua modalidade de História Cultural), Sociologia (especialmente a Nova Sociologia e o Interacionismo Simbólico), Psicologia (Social e Histórico-Cultural) e os Estudos Culturais (na abordagem pós-estruturalista de pesquisa e de análise); - no nível metodológico, pela pesquisa qualitativa com a descrição e análise de processos históricos e socioculturais que articulam as dimensões micro e macro e compreende como os recursos materiais e simbólicos se organizam em determinadas situações. ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES2 Todas as pesquisas realizadas são de natureza qualitativa sem desprezar os dados quantitativos quando esta apropriação se fez necessária, principalmente na busca da contextualização sócio-histórica e econômica da unidade pesquisada. A unidade pesquisada não foi exclusivamente a escola, por entendermos que pensar e analisar a educação escolar não implica, necessariamente, que as investigações sejam feitas no interior dessa instituição, na medida em que, como explicitado neste texto, compreendemos que educação e escola se constituem e instituem na relação com a sociedade. 2 As referências sobre as dissertações mencionadas encontram-se nos quadros apresentados no final do texto. 4 O propósito, então, é não confinar nossos estudos no espaço escolar, pois, mesmo quando nos afastamos desse espaço não o abandonamos como nossa principal referência empírica. Ao contrário, nossa intenção tem sido ampliá-lo observando-o do exterior, do seu entorno, do contexto macro, nas articulações que mantém com a realidade social na qual a escola está plenamente inserida. Seja pela presença ou, paradoxalmente, pela ausência. Nesta perspectiva, as pesquisas que orientamos, sejam as dissertações, sejam nossos projetos, individuais ou coletivos, incluem, por exemplo, grupos culturais, movimentos sociais, trajetórias pessoais e profissionais de professores e professoras, saberes docentes e discentes, ciberespaços, observando-os de dentro e de fora da escola. Em relação aos diálogos interdisciplinares e à convergência de campos de conhecimento, tendo sempre como foco, como problema de investigação, questões ligadas à educação e à escola, nossas abordagens teóricas podem ser vistas como um conjunto coerentemente articulado de matrizes disciplinares e formulações conceituais que sustentam nossas indagações e estimulam novas questões. Do ponto de vista metodológico, buscamos enfrentar o difícil exercício de estabelecer o diálogo entre empiria e teoria, desde que iniciamos a constituição de um problema sociológico referendado na e pela realidade, e ao longo de todo o processo de pesquisa. Outra preocupação foi a busca do exercício de pensar com a história, ou seja, manter um esforço de diálogo permanente com a disciplina história, sobretudo na versão da História Cultural, tomando-a como o grande pano de fundo que abrigou nossas temáticas. A pergunta sempre foi: como o conteúdo da história pode nos ajudar a entender as questões atuais propostas em nossas investigações? A História Oral tem sido uma alternativa metodológica em nossos trabalhos, sem esquecer que realizar tal empreendimento não é apenas fazer coleta de depoimentos orais, mas compreender este tipo de pesquisa como uma rearticulação no interior do próprio conhecimento histórico em seus movimentos teóricos. Concomitantemente nossas pesquisas carregam, também, o desafio de pensar com a antropologia, sua história e suas categorias de interpretação ou análise que permitem ampliar e atualizar o debate sobre os processos educacionais, entendendo que sociedade humana e cultura configuram “duas faces de uma mesma moeda”. Nesta busca de diálogos interdisciplinares, alguns recortes podem ser claramente identificados nas dissertações: entender e trabalhar a cultura como categoria central e, a partir dela, com outras categorias como identidade e identidade de gênero (MELO, 2002; RAMALHO, 2002; SILVA, 2006, SOUZA, 2006); a problemática da identidade religiosa é discutida por Dantas (2002) e a identidade geracional é trabalhada por Melo (2002) e Parreiras 5 (2000). Já a categoria corpo foi bem e originalmente incorporada nas dissertações de Silva (2006), Souza (2006) e Freitas (2008) como construções históricas e culturais. As categorias diferença cultural e diversidade como referenciadas nesse artigo são discutidas em várias pesquisas, especialmente, na dissertação de Maia (2006). Em algumas investigações arriscamos nos estudos etnográficos, reconhecendo, contudo, os limites para se fazer, efetivamente, uma etnografia em um programa de mestrado em educação3. Porém, as dissertações de Maia (2004) e Freitas (2008) primam pelo rigor metodológico, consistência teórica e alcance na análise cultural. Dialogando com a Psicologia Social, as dissertações de Souza (2003), Moura (2004) e Chueiri (2005) adotam o conceito de representação social, proposto por Moscovici (1978), na busca de compreender as lógicas que ordenam a formulação de discursos e a explicação de valores sobre a escola, a aprendizagem, o professor, a avaliação. Nas unidades pesquisadas, sejam escolas, salas de aula, demais espaços escolares, grupos culturais, dentre outros, uma das chaves de observação, descrição e análise tem sido a categoria cotidiano. Para tal recorremos, seja à perspectiva histórico-marxista tão bem formulada por Agnes Heller, seja à noção mais contemporânea apoiada nos estudos da antropologia do simbólico, do francês Michel Mafesolli. Dessa forma, temos a intenção de aprofundar e verticalizar nossas investigações, como é característico dos Estudos de Caso, buscando captar atentamente o acontecer diário, rotineiro, cotidiano das realidades pesquisadas. É o que se pode constatar nas dissertações de Almeida Júnior (2002), Capdeville (2002), Oliveira (2002), Maia (2004), Marra (2004), Costa (2005), Domingos (2005), Maia (2006), Silva (2006), Souza (2006), Carvalho (2008), Freitas (2008), Teixeira (2008) e Dos Anjos (2008). Empregando a proposta teórica e metodológica da Etnometodologia, Oliveira (2002) e Freire (2004) observaram, descreveram e analisaram professores e alunos adolescentes em ação, respectivamente, no colegiado e nos usos do uniforme escolar. A História Oral foi o procedimento central discutido e bem apropriado nas pesquisas empreendidas por Melo (2002), para reconstituir os processos identitários de três gerações de mulheres professoras e por Silva (2006), para compreender como se construíram identidades de três homens professores das séries iniciais da educação básica. Já a pesquisa de Costa (2005) discutiu os processos de constituição de três educadoras de uma creche comunitária. Santiago (2003) reconstruiu o percurso profissional de enfermeiras-professoras. Na perspectiva da relação com o saber, proposta por Charlot (2000), destacamos o estudo de Ferreira (2006), ao analisar a relação com o aprender de educadores sociais. 3 Tais limites, não impossibilidades, foram pesquisados por Tosta (2007) 6 Também Lambertucci (2007) faz um recorte original ao estudar a relação com o saber de bolsistas do PROUNI em cursos acadêmicos da PUC - Minas. A análise dos processos de interação na sala de aula foi enfocado por Carvalho (2002) e Ferreira (2007), ambas recorrendo às contribuições de Vygotsky, relativas ao papel mediador do professor no processo de ensino – aprendizagem, na alfabetização no 1º ciclo e na educação infantil, respectivamente. Parreiras (2000) e Leite (2002) desenvolveram suas pesquisas no interior de escolas, em salas de aula, discutindo, descrevendo e analisando formação e práticas docentes. A primeira, que também foi autora da primeira dissertação defendida no Programa, discutiu a EJA e suscitou uma indagação que, à época da conclusão de seu trabalho, estimulou a reflexão sobre a questão geracional e de pertencimento religioso nessa modalidade de ensino. Abordando a recepção da pedagogia Freinet no Brasil, destacamos a investigação empreendida por Mendoza (2001) que analisou a experiência de uma escola alternativa no Brasil, na década de 80, em meio aos movimentos sociais que marcaram esse tempo, incorporando em tal trabalho a memória dos primeiros alunos daquela escola. Ampliando o debate sobre educação, escola e formação docente, investigamos a relação prática docente, aprendizagem, mídia e tecnologias digitais. É o caso das dissertações apresentadas por Mello Júnior (2001) que abordou em estudo exploratório e inovador, a percepção de professores de um curso superior sobre o uso de tecnologias nessa modalidade de ensino; e Santos (2003), que analisa a interface mídia e educação e as percepções de alunas-professoras sobre os usos dos meios de comunicação em sua prática. Ambos trazem para o nosso curso de mestrado um debate mais que oportuno, em vista da importância da mídia para a formação e prática docente, ou melhor, para a educação no mundo contemporâneo. Finalmente, Carvalho (2008) e Dos Anjos (2008) entraram em duas escolas públicas para entender práticas de alunos e professores. Ambas se apropriando de categorias antropológicas. A primeira abordou os modos como alunos adolescentes apropriam e significam os espaços e tempos escolares fora da sala de aula, e a segunda investigou os tempos e espaços escolares no ensino da arte pós LDB/96. 7 PROJETOS DE PESQUISA Paralelamente ou de modo articulado às atividades de orientação e realização das dissertações, desenvolvemos projetos de pesquisa que, desde 2007, organizaram as atividades do Grupo de Pesquisa, EDUC - Educação e Culturas. O EDUC tem buscado enfocar a investigação das diferentes culturas presentes no cotidiano escolar e não escolar e em suas relações com os demais processos educativos. A intenção é compreender a constituição dos sujeitos, dos saberes, das práticas e das representações destes processos em seus múltiplos condicionantes. Pretendemos, também, entender os modos como a escola se coloca frente a uma realidade social marcada por diferenças e desigualdades. Atualmente estão em curso duas pesquisas: Violência na Escola e Vida de Professor. Esta primeira em parceria com o Grupo de Pesquisa: GIS - Sistemas de Informação Geográfica e Observatório da Educação, do Programa de Pós- graduação em Tratamento da Informação Espacial da PUC- Minas e o Sindicato dos professores da Rede Particular de MG- SINPRO. Uma das etapas da pesquisa é a realização do geo - referenciamento das escolas e dos docentes, no nível municipal, da rede particular de ensino de MG, tendo como fonte a base de dados do SINPRO. E outra etapa é o mapeamento crítico do estado do conhecimento sobre violência em meio escolar e, na sequência, a aplicação de questionário junto a uma amostra da população de professores visando obter as seguintes informações: evidências de indicadores ou fatos de violência escolar e sua freqüência; descrição do tipo de violência que ocorre nas escolas; a percepção de como o professor se vê e se sente diante da violência; levantamento de situações de envolvimento direto do professor em atos de violência; conseqüências da violência escolar em sua vida; e o tratamento dado pela gestão escolar às situações de violência na escola. A investigação encontra-se em fase de conclusão para divulgação de seus resultados. A outra pesquisa submetida a financiamento é sobre a percepção de alunos da PUC - Minas sobre a identidade confessional da universidade e se isto influencia sua formação acadêmica. Finalizamos ainda mais três pesquisas cujos relatórios estão disponibilizados no site do Mestrado. A primeira analisa o uso da etnografia na pesquisa educacional e a segunda estuda o saber docente de uma professora em relação ao trato das diferenças socioculturais de alunos do 1º ciclo de formação do ensino fundamental de uma escola pública do município de Contagem (MG). E a terceira focaliza a percepção de professores de duas escolas da rede municipal de Belo Horizonte sobre a formação continuada de professores4. 4 Esta pesquisa recebeu menção honrosa na área de Ciência Humanas da Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação da PUC Minas, no 15º Seminário de Iniciação Científica, 2007. 8 Os dois primeiros projetos foram desenvolvidos com financiamento do FIP-PUC Minas e o último com bolsas do PROBIC. É fundamental ressaltar que é notável o crescimento dos bolsistas que têm integrado nossos projetos de pesquisa em termos de sua formação pessoal e acadêmica. Inúmeros deles ingressaram em nosso mestrado e em outros cursos de pós-graduação e vários já são professores do ensino superior, inclusive na universidade. A seguir, apresentamos os quadros das dissertações desenvolvidas e das pesquisas realizadas no EDUC, no eixo de pesquisa: “Educação, Cotidiano e Diferença Cultural”. 9 ANNA MARIA SALGUEIRO CALDEIRA 10 Nome ELVIRA MARIA ALVAREZ LEITE ADMIR SOARES DE ALMEIDA JÚNIOR SIMONE MEDEIROS DE CARVALHO NILZA BERNARDES SANTIAGO FELIX DE ARAÚJO SOUZA NATÉRCIA ACIPRESTE MOURA CÉLIA AUXILIADORA DOS SANTOS MARRA MARY STELA FERREIRA CHUEIRI MARIA BERNADETE DINIZ COSTA MARIA EUGENIA ALVES DOS SANTOS MAIA MÁRCIA CAMPOS FERREIRA ROBERTA JABOR FERREIRA GLÓRIA MARIA LAMBERTUCCI AMANDA FONSECA SOARES FREITAS DANIEL MARANGON DUFFLES TEIXEIRA Título A ruptura com a lógica transmissiva e a construção de novas práticas pedagógicas no ensino da matemática. Saber docente e Prática cotidiana: construindo uma nova proposta de ensino de educação física na escola. Professor mediador: um estudo sóciohistórico sobre o papel do professor. Enfermeira-professora: um estudo sobre a formação docente no ensino superior. O bom professor: o olhar do estudante de odontologia na perspectiva das representações sociais. Escola – que lugar é este? A representação social de alunos sobre a escola no percurso do ensino fundamental. Violência escolar: um estudo de caso sobre a percepção dos atores escolares a respeito dos fenômenos de violência explícita e sua repercussão no cotidiano escolar. Representações sociais sobre a avaliação escolar no discurso de professores de Psicologia da PUC Minas Betim. Processos formativos de educadoras da infância de uma creche comunitária de Belo Horizonte: suas histórias e seus saberes. Vida cotidiana e Educação Escolar: espaços de formação humana, espaços que se completam. A relação com o aprender a ser educador: processos formativos de educadores sociais e suas contribuições para a formação do professor – um estudo de caso. É brincando que se Aprende: a brincadeira de faz-de-conta em uma escola particular de Belo Horizonte/MG Um olhar sobre o curso acadêmico de bolsistas do PROUNI da PUC Minas, na perspectiva da relação com o saber. Ano 2002 Linha de Pesquisa O Professor: o aluno e o conhecimento escolar. 2002 O Professor: o aluno e o conhecimento escolar. 2002 O Professor: o aluno e o conhecimento escolar. O Professor: o aluno e o conhecimento escolar. Corpo, Movimento e Linguagem: em busca do conhecimento na escola de educação infantil. 2008 Práticas docentes produzidas no cotidiano escolar, no processo de implantação de uma nova proposta de educação física, no Estado de Minas Gerais. 2003 2003 O Professor: o aluno e o conhecimento escolar. 2004 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. 2004 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. 2005 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. 2005 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. 2006 2006 2007 2007 2008 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação Escolar: Políticas e Práticas Curriculares, Cotidiano e Cultura - Eixo temático: Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação Escolar: Políticas e Práticas Curriculares, Cotidiano e Cultura - Eixo temático: Educação, 11 Cotidiano e Diferença Cultural. SANDRA DE FÁTIMA PEREIRA TOSTA Nome Título Ano Linha de Pesquisa O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. PATRÍCIA DA CONCEIÇÃO PARREIRAS Jovens e Adultos em processo de escolarização: contribuições para a formação do professor alfabetizador. 2000 ODON FERREIRA DE MELLO JÚNIOR Percepções do professor universitário sobre a incorporação e o uso de novas tecnologias na sua prática pedagógica. 2001 ALZIRA MARIA QUIROGA MENDOZA Associação Educativa Pés no Chão: trajetória inicial de uma proposta pedagógica de trabalho cooperativo. 2001 EVELY NAJJAR CAPDEVILLE Cidadanias em construção: um estudo de caso junto à escola municipal governador Ozanam Coelho, no bairro Capitão Eduardo – Belo Horizonte/MG 2002 PATRÍCIA ELIANE DE MELO Na urdidura da história, vozes de mulheres professoras: compondo identidades de gênero Santo Antônio do Monte (1950-1990) 2002 DOUGLAS CABRAL DANTAS O ensino religioso na rede pública estadual de Belo Horizonte, MG: história, modelos e percepções de professores sobre formação e docência. 2002 O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. MARIA NAILDE MARTINS RAMALHO Bendito é o fruto entre as mulheres: um estudo sobre professores que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental na região norte de Minas Gerais. 2002 O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. BENTA MARIA DE OLIVEIRA LETÍCIA DE FREITAS CARDOSO FREIRE CARLA VALÉRIA VIEIRA LINHARES MAIA O colegiado na escola pública: uma experiência compartilhada no exercício da cidadania? Um estudo de caso junto ao colegiado do colégio estadual “Governador Milton Campos” - Belo Horizonte/MG Cá entre nós! Deixa que eu seja eu: um estudo de caso sobre usos que alunos do Colégio Imaculada conceição de montes claros/mg fazem do uniforme escolar. Entre gingas e berimbaus: um estudo de caso sobre culturas juvenis, grupos e escola. IVNA SÁ DOS SANTOS Nem inimiga, nem Aliada! Um estudo de caso sobre as percepções que alunas/professoras do curso de pedagogia da PUC Minas têm da mídia. MARISA APARECIDA DOMINGOS A escola como espaço de inclusão: sentidos e significados produzidos por alunos e professores no cotidiano de uma escola do sistema regular de 2002 2004 2004 O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. O Professor, o Aluno e o Conhecimento Escolar. Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. 2005 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. 2005 Educação, 12 ensino, a partir da inclusão de portadores de necessidades educacionais especiais. VANESSA GUILHERME SOUZA Entre quadras, bolas e redes: um estudo de caso sobre o incorporar de rituais no corpo feminino nas aulas de educação física no ensino médio em uma escola particular de Belo Horizonte. WESLEI LOPES DA SILVA Homens na roda: vivências e interações corporais nas séries iniciais da educação básica. ANDRÉA PINHEIRO TOMAZ DE CARVALHO Adolescência (s) – apropriação e usos de espaço/tempos escolares externos aos espaços/tempos de sala de aula: um estudo de caso em uma escola pública da rede municipal de contagem / mg CLÁUDIA REGINA DOS ANJOS Imagens visíveis, imagens invisíveis: um estudo de caso sobre o ensino da arte numa escola da rede municipal de Belo Horizonte. Cotidiano e Diferença Cultural. 2006 2006 2008 2008 Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação Escolar: Políticas e Práticas Curriculares, Cotidiano e Cultura. Eixo temático: Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. Educação Escolar: Políticas e Práticas Curriculares, Cotidiano e Cultura. Eixo temático: Educação, Cotidiano e Diferença Cultural. PROJETOS DE PESQUISA DESENVOLVIDOS ANO TÍTULO 1997 Catolicismo e Sociedade Brasileira: 2000 da Politização dos Anos 60 a Espiritualidade dos Anos 90 1998 O Professor frente aos desafios da 2002 Sociedade Global: qualidade e produtividade... 2002 O PROINFO: Informática Educativa PESQUISADORES FINANCIA MENTO Sandra de Fátima Pereira Tosta, Alberto Antoniazzi, FAPEMIG Amauri Carlos Ferreira, Leonardo Lucas Pereira (curso E FIPde Filosofia), Lucília de Almeida Neves, Solange PUCBicalho (curso de História) Yonne Grossi (Curso de MINAS Sociologia). Bolsistas: José Otávio Aguiar, Verônica Mendes de Souza,Tereza C. De Laurentys, Rodrigo Coppe Caldeira, Gabriela Clemente de Oliveira, Patrícia Corrêa. Sandra de Fátima Pereira Tosta, Maria Auxiliadora FAPEMIG Monteiro Oliveira, Maria Inez Salgado de Souza. E FIPBolsistas: Isabel de Araújo Pádua, Flávia Menicucci. PUCMINAS Sandra de Fátima Pereira Tosta, Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira. FAPEMIG E FIP- 13 2004 - O caso de MG 2004 2005 Bolsistas: Juliana Resplande, Ana Amélia Alves, Isabel de Araújo Pádua, Andressa Xavier Projeto Veredas: uma Sandra de Fátima Pereira Tosta, Anna Maria Salgueiro inovação na formação Caldeira, Vera Lucia Ferreira Alves de Brito, Maria de professores? Auxiliadora Monteiro Oliveira. Bolsistas: Daniela Carolina Coelho, Fabiana Ricoy 2004 Para Casarepresentações 2005 sociais de adolescentes sobre os afazeres domésticos e a escola 2004 Estrada Real: trajeto de muitas histórias e 2006 memórias 2005 2007 2007 2008 2005 2007 2006 2008 2007 Sandra de Fátima Pereira Tosta, Maria Ignez Costa Moreira (PPG em Psicologia Social-PUC) Bolsistas: Márcia Antônia da Silva Patrícia Alessandra S. Dias. Sandra de Fátima Pereira Tosta, Liana Maria Reis. Virginia Maria Trindade Valadares (Curso de História) Rogata Soares Del Gaudio (Geografia-UFMG) Bolsistas: Mateus Cotta Ribeiro Jansley Ap. da Costa Silva, Keylla dos S. Kerche, Larissa B. da Cruz, Luciana Gonçalves e Patrícia Gonçalves, Ana Paula Rocha. O uso da Etnografia Sandra de Fátima Pereira Tosta na Pesquisa Bolsistas: Heloisa de Lourdes Moreira, Renata Educacional Buonicontro. Rede Particular de Sandra de Fátima Pereira Tosta, Anna Maria Salgueiro Ensino: vida de Caldeira, José Irineu Rangel Rigotti (PPG Geografia e professor e violência Tratamento Espacial - PUC), Célia Auxiliadora dos S. escolar Marra Bolsistas: Heloisa de Lourdes Moreira, Bruna Guzman, Érika de Jesus Gonçalves, Emanuel Demolay, Fádua Vivecananda, Débora Antônia Medeiros, Erica Cristina Almeida, Roberta R. de Souza. O saber docente em Anna Maria Salgueiro Caldeira relação ao trato das diferenças sócio culturais de alunos do 1° ciclo do E.F. O estado de Anna Maria Salgueiro Caldeira, Eustáquia S. de Sousa, conhecimento sobre a Samira Zaidán, Ana Lúcia F. Azevedo, Cláudia C. rede municipal de Belo Soares Horizonte Formação continuada deAnna Maria Salgueiro Caldeira Professores: um Bolsistas: Elizabeth Mª Pinto e Inamar Ribeiro Souza. estudo sobre a percepção de professores do E. F. de duas escolas da rede municipal de Educação de BH PUCMINAS FAPEMIG E FIPPUCMINAS FIP- PUCMINAS FAPEMIG FIP- PUCMINAS SINPRO E FIP- PUCMINAS FIP- PUCMINAS Sindicato Único dos Trabalhado res em Educação / FaE-UFMG / Secretaria Municipal de Educação de BH PROBIC PUC – Minas 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos afirmar que as dissertações realizadas e as pesquisas desenvolvidas e em desenvolvimento dão conta de articular problemas e indagações relativos aos objetivos e preocupações da Linha (eixo) de Pesquisa “Educação, Cotidiano e Diferença Cultural”. Os resultados apresentados pelos referidos trabalhos têm sido reconhecidos não apenas nos fóruns científicos da área de educação, como também de campos com os quais procuramos manter nossos diálogos. É o caso da Antropologia, Psicologia Social, História e Comunicação Social, nos quais nós e nossos alunos encontram receptividade às nossas pesquisas5 Da mesma forma, podemos afirmar nosso esforço em publicar artigos em coletâneas e em publicações especializadas e livros6 de nossa autoria como pesquisadoras do mestrado e de nossos alunos. Aliás, o estímulo a que nossos alunos produzam para publicação tem sido um traço marcante de nossas atividades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber- elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000. HELLER, Agnes. Sociología de la vida cotidiana. Barcelona: Península, 1977. MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. GEERTZ, Cliford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Koogan, 1989. MAIA, Maria Eugênia A. dos Santos. Vida cotidiana e educação escolar: espaços de formação humana, espaços que se completam. Dissertação (Mestrado em Educação) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Mestrado em Educação, Belo Horizonte. 5 Referimos-nos à apresentação de trabalhos nos congressos nacionais da ABA- Associação Brasileira de Antropologia; da ANPHUL- Associação Nacional de pesquisa em História; da ABHO- Associação Nacional de História Oral, nos encontros regionais da ABHO, na INTERCOM- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e, evidentemente, na ANPED- Associação Nacional de Pesquisa e Pós- graduação em Educação, os encontros regionais da ANPED e no ENDIPE- Encontro Nacional de Didática e Práticas Educacionais. 6 Dentre outros, destacamos os livros de Marra (2007), Maia e Oliveira(2008). 15 PIERUCCI, Antônio Flávio. Ciladas da diferença. São Paulo: Ed. 34, 1999. ROCHA, Gilmar; TOSTA, Sandra de F. Pereira. Antropologia e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008 (no prelo) ROCKWELL, Elsie; EZPELETA, Justa. A escola: relato de um processo inacabado de construção. Pesquisa participante. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1989. SILVA, Augusto S. PINTO, José Madureira. Metodologia das ciências sociais. Porto: Afrontamento, 1987. TOSTA, Sandra de F. Pereira. Antropologia e educação: tecendo diálogos. EducaçãoRevista do Departamento de Educação da PUC-Minas. v.1, n.4, Belo Horizonte: PUCMinas, 1999. TOSTA, Sandra de F. Pereira. CALDEIRA, Anna Maria Salgueiro. Educação, cotidiano e diferença cultural: apontamentos sobre a linha de pesquisa. Texto fotocop. PPG em Educação/ PUC- Minas,. Belo Horizonte, 2005. 16