Unesp desenvolve trabalhos pioneiros com células

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IV
II – São Paulo, 126 (92)
Diário Oficial Poder Executivo - Seção I
quinta-feira, 19 de maio de 2016
Estudos buscam
formas de tratamento
para enfisema pulmonar
e feridas de difícil
cicatrização causadas
por diabetes
O médico geneticista e professor João Tadeu Ribeiro Paes, do
Departamento de Ciências Biológicas da Unesp de Assis, está à frente dessas pesquisas, como coordenador do Laboratório de Genética e
Terapia Celular (GenTe Cel) e orientador de vários pesquisadores, tanto
na Unesp quanto na Universidade
de São Paulo (USP). Em 2011, trabalho desenvolvido no laboratório
rendeu a primeira publicação científica, em nível mundial, sobre o uso
de células-tronco no tratamento de
enfisema pulmonar.
GenTe Cel – Pesquisas básicas
em várias frentes são
importantes para aplicações
práticas em outros projetos
Os trabalhos do GenTe Cel em
pesquisa básica são desenvolvidos em
várias frentes. Sua importância é
grande, segundo o professor João
Tadeu Ribeiro Paes, para o desenvolvimento de aplicações práticas testadas em outros projetos. “Um dos trabalhos recentes estuda os efeitos
genotóxicos, ou seja, efeitos de danos
genéticos de células-tronco em cultura”, diz Paes. Como essas células
podem vir a ser utilizadas no tratamento de seres humanos, é importante ampliar o conhecimento a respeito
de eventuais danos.
As terapias exigem grande número
de células-tronco e, para obter a quantidade necessária, é preciso cultivá-las
no laboratório, em recipientes plásticos semelhantes a garrafinhas. A
forma de cultivo é passar as células,
que estão num meio de cultura, de
uma garrafinha para outra, à medida
que proliferam. O estudo avalia quantas passagens podem ser feitas de
forma segura.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
aprovou projeto para utilização de
biorreator no laboratório, o que
amplia a possibilidade de proliferação
das células-tronco em larga escala.
Está prevista também a modernização
dos equipamentos, a partir de verba
recebida do Ministério da Educação.
Trabalhos com células-tronco poderão influenciar positivamente no tratamento de várias doenças
à fumaça do cigarro”. Esse equipamento,
construído no laboratório, consiste em uma
caixa acrílica acoplada a uma bomba de
máquina de lavar que aspira a fumaça e a
joga na caixa, onde estão os animais.
Durante seis meses, de forma ininterrupta, os animais foram submetidos à fumaça. Depois de contraírem o enfisema,
houve a aplicação de células-tronco, para
estudo de seus efeitos. “Conseguimos uma
resposta morfológica, ou seja, comprovamos que o tecido dos pulmões foi reconstruído”, afirma o professor da Unesp.
Pacientes humanos – A partir
desses resultados, os pesquisadores fizeram
pedido à Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério
da Saúde, para a realização de testes em
PAULO CESAR DA SILVA
Modelo animal – O enfisema pulmonar é uma doença resultante da degradação das paredes dos
alvéolos que compõem o pulmão.
Sua causa principal é o tabagismo. A
pessoa com enfisema passa a ter dificuldade respiratória crescente. Nos
casos terminais, o paciente sente
falta de ar até em tarefas simples,
como a de vestir uma camisa.
“É uma doença que não tem tratamento curativo, apenas paliativo.
Tentamos então idealizar a possibilidade de emprego das células-tronco como alternativa terapêutica”,
explica Paes.
O trabalho passou por várias
fases. Em 2006, teve início o modelo
animal. No decorrer dessa etapa, diz
o pesquisador, “desenvolvemos um
aparato para indução do enfisema em
ratos e camundongos por exposição
Importância da
pesquisa básica
VANESSA TONIN GARRIDO
P
esquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) do câmpus de
Assis desenvolvem pesquisas com
células-tronco que poderão influenciar positivamente no tratamento
de várias doenças. Uma das iniciativas mais promissoras é a que lida
com pessoas que têm enfisema
pulmonar. Outra trata de feridas
causadas por diabetes, com resultados palpáveis.
VANESSA TONIN GARRIDO
Unesp desenvolve trabalhos
pioneiros com células-tronco
Talita – Pesquisa com células-tronco para tratamento de feridas teve orientação do prof. Paes
humanos. A instituição autorizou o estudo
com quatro pacientes.
Nessa fase, a pesquisa não avaliaria a
eficácia do tratamento, mas apenas a
segurança, para comprovar que a infusão
de células-tronco não traria complicações
à saúde dos participantes. Paes relata o
resultado: “Tivemos grande sucesso. Mostramos que a terapia não trazia nenhum
efeito adverso aos pacientes. Um deles,
após 23 meses de terapia, apresentava
discreta melhora”. Isso significa que, pelo
menos nesse caso, ainda que não fosse o
objetivo da pesquisa, comprovou-se que o
tratamento surtiu efeito.
A continuidade é o trabalho que está em
desenvolvimento agora. Projeto financiado
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e realizado pelo GenTe Cel em parceria com uma
entidade sem fins lucrativos da capital, o
Instituto de Ensino e Pesquisa São Lucas
(IEP), fará a infusão de células-tronco em
20 pacientes com enfisema pulmonar, para
avaliar os resultados da terapia.
Os participantes da pesquisa foram
divididos em quatro grupos. O primeiro
receberá tratamento convencional, sem uso
de células-tronco; o segundo receberá infusão de células-tronco retiradas da medula
do próprio paciente; o terceiro também
será tratado com células-tronco, mas provenientes do tecido adiposo (da barriga); e
o último receberá uma combinação de células-tronco da medula e do tecido adiposo.
Essa técnica híbrida, de acordo com Paes, é
inédita, não existe ainda em nenhuma pesquisa sobre o assunto.
Diabetes – Uma das orientandas do
professor Paes, Talita Stessuk, obteve o
título de doutora, neste mês, ao defender
na USP tese com base em sua pesquisa
com células-tronco para cuidar de feridas
causadas por diabetes. “Eram seis pacientes, todos com feridas crônicas, que não
cicatrizavam há mais de seis meses”, afirma Talita. De cada um deles foram retirados 5 gramas de gordura, a partir da qual
a pesquisadora isolou as células-tronco e
as cultivou.
Num procedimento pioneiro, Talita
coletou também sangue dos pacientes e
separou o plasma rico em plaquetas, que
juntou às células-tronco como um suporte.
“A mistura transformou-se em uma biomembrana, que foi aplicada sobre as feridas. É uma película bem fina, um gel que
cobre toda a lesão”, explica a pesquisadora.
Os resultados foram animadores,
segundo Talita: “As feridas menores já
apresentavam melhoras a partir de sete
dias. Os seis pacientes tinham nove lesões
no total. Em cinco delas, houve 100% de
cicatrização e, na média, o índice de cicatrização foi de 70%”.
Paes diz que a pesquisa chamou a atenção da banca examinadora da tese por sua
qualidade. Seus resultados podem ser aplicados de forma imediata, segundo a pesquisadora, não apenas no caso de pessoas
com diabetes, mas em situações como a de
tratamento de pacientes que estão em UTI
e desenvolvem escaras (necroses).
Cláudio Soares
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quinta-feira, 19 de maio de 2016 às 03:59:19.
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