ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 37 - ( ) Anuário da Produção Acadêmica Docente SOCIALIDADE E SUBJETIVIDADE NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 O blog do Moodle Anhanguera/Uniderp como chave de compreensão das comunidades virtuais de aprendizagem Josias Henrique Comin Universidade Anhanguera - Uniderp / Centro Universitário Anhanguera unidade Leme [email protected] RESUMO O ambiente virtual de aprendizagem Moodle oferece inúmeras possibilidades de interação que se revelam como espaços de expressão de subjetividades e construção de socialidades reconhecidas como necessárias ao processo ensino-aprendizagem na modalidade a distância. As crenças, os anseios e as expectativas reveladas pelas mensagens postadas na ferramenta blog constituem o material que embasa este estudo. As publicações foram escolhidas aleatoriamente e para a interpretação dos dados buscou-se fundamentação na pesquisa bibliográfica exploratória. A partir de uma análise sociológica é possível reconhecer que a socialidade que se constrói neste ambiente é chave para a compreensão dos agentes envolvidos e subsídio para a prática pedagógica. Palavras-Chave: interatividade; novas tecnologias; educação; ciberespaço; cotidiano. ABSTRACT The virtual learning environment Moodle offers many possibilities of interaction that reveal themselves as spaces of expression of subjectivities and construction of sociality, recognized as necessary to the teachinglearning in the distance. The beliefs, yearnings and expectations revealed by the messages posted on the blog are materials that form the basis this study. The publications were randomly and selected for the interpretation of the data we sought foundation in bibliographical research exploratory. From a sociological analysis is possible to recognize that the sociality that is built in this environment is the key to understanding the stakeholders involved and allowance to teaching practice. Keywords: interactivity; new technologies; education; cyberspace; quotidian. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 20/4/2011 Avaliado em: 26/5/2011 Publicação: 9 de agosto de 2011 37 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 38 - ( ) 38 Socialidade e subjetividade na Educação a Distância 1. INTRODUÇÃO A educação a distância, aparelhada atualmente pelas NTICs (Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação), é uma realidade indiscutível e irreversível no cenário educacional. Muito se tem escrito e inúmeros são os debates em torno do assunto com teses que sustentam a EAD (EAD) como um sistema educacional que atualmente deve ser expandido aos mais variados níveis educacionais e que deve prevalecer futuramente, como cita Belloni (2009, p.102): [...] o uso de tecnologias de informação e comunicação e de metodologias oriundas da experiência e do conhecimento produzido no campo da EAD aparece como a melhor solução para tornar mais eficientes e produtivos os sistemas de ensino convencionais em todos os níveis [...]. A discussão sempre em pauta é em que medida as NTICs favorecem o aprendizado no ensino a distância. Teria o aluno real autonomia neste modelo de educação? Belloni (2009, p.39) afirma que por suas características e natureza a educação a distância pode contribuir melhor do que a modalidade convencional de educação para a formação de um estudante mais autônomo. Para não perder o foco do assunto se faz necessário lembrar que a busca da autonomia no processo de ensino-aprendizagem não é uma preocupação exclusiva dos teóricos da educação a distância, mas atravessa gerações de educadores e pensadores. Não se trata aqui de discutir as teorias sobre a educação, mas reconhecer que o ambiente virtual de aprendizagem, com suas inúmeras ferramentas de interação, não se resume a um instrumento de transmissão de conhecimentos já consolidados, mas de verdadeiro espaço de construção de socialidade e cultura fundamentais em qualquer processo educacional. Acreditando como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como ciência interpretativa, à procura de um significado. (GEERTZ, 1989, p.15). No caso da educação a distância, a rede cultural é tecida não só ao redor dos conteúdos e da interação entre tutores e alunos em torno das tarefas e dos prazos, mas, também, na veiculação de mensagens que refletem a cultura dos participantes, instigando a interpretação do fenômeno. Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 39 - ( ) Josias Henrique Comin 39 No ambiente virtual de aprendizagem Moodle, o blog1 é uma importante ferramenta utilizada com freqüência por tutores e alunos e revela muito do perfil de seus participantes, se caracterizando como espaço da expressão de subjetividades. Como método para esta análise buscou-se fundamentação na pesquisa exploratória bibliográfica com o objetivo de aprimorar as idéias e a formação de subsídios que interpretem as possibilidades de interação e manifestação de subjetividades no blog do CEAD-Anhaguera/Uniderp. As publicações escolhidas para esta análise obedecem a uma lógica aleatória de temas que não se referem diretamente aos conteúdos das disciplinas e dos cursos oferecidos na instituição. Elas servem como amostras dos assuntos abordados no universo do blog. Preservando as respectivas identidades, transcrevem-se as postagens conservando apenas as iniciais de seus autores. A proposta é explorar as mensagens postadas no blog do ambiente Moodle dos cursos EAD do CEAD-Anhanguera/Uniderp para demonstrar como as pessoas se fazem presentes e recriam suas relações no ambiente virtual de aprendizagem. O compartilhamento de crenças, anseios, frustrações e alegrias, bem como de informações podem revelar mais sobre os participantes do que a própria mensagem que desejam veicular. 2. A CRISE DO MODELO FORDISTA E AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EAD Em que pese às controvérsias sobre o como fazer da EAD é necessário reconhecer na prática que as metodologias utilizadas nas instituições de EAD se organizam orientadas ainda pelo modelo Fordista de produção industrial característico do século XX, como afirma Belloni (2009, p.14). O Fordismo, segundo Raggat (1993 apud BELLONI, 2009, p. 11-12) é um sistema de produção industrial caracterizado, entre outras coisas pelo método de produção em massa, pela força de trabalho segmentada que exerce tarefas fragmentadas e especializadas e pelo controle centralizado. 1Trata-se de uma ferramenta de comunicação assíncrona usada na Web atualizada freqüentemente por seus autores. Normalmente as postagens seguem uma linha cronológica e são usadas de forma diversificada abrangendo uma infinidade de assuntos que vão desde diários, links, notícias, poesia, idéias, fotografias e quase tudo o que a imaginação do autor permitir. (Adaptado de: <http://blogger.globo.com/br/about.jsp>. Acesso em: 01 abr. 2011). Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 40 - ( ) 40 Socialidade e subjetividade na Educação a Distância Este sistema de produção se estabeleceu na base do desenvolvimento econômico capitalista entre as décadas de 1940/50, penetrou várias instâncias da vida social e norteou as ações de Estado em diferentes esferas se constituindo em um verdadeiro estilo de vida (BELLONI, 2009). Segundo Belloni (2009, p.18) a EAD conserva características deste modelo de produção industrial entre os quais a produção em massa de “pacotes educacionais” e a desumanização do ensino com a mediatização e burocratização das tarefas que envolvem os quadros acadêmicos e técnicos das instituições. Porém, as NTICs que colocaram em xeque o modelo fordista de gestão da economia e da produção industrial, pressionam o universo da educação na busca de práticas educativas que superem o antigo modelo. O sistema fechado em torno de currículos voltados para a preparação técnica do cidadão se vê desafiado a levar em consideração outros aspectos da vida, tendo que oferecer algo a mais que a formação exclusivamente técnica. Os participantes do ambiente virtual de aprendizagem reivindicam novas práticas educativas que considerem seus anseios por um espaço mais humano e afetivo na educação. Nesse sentido, não basta transpor os modelos educacionais convencionais para uma plataforma virtual sem compreender que este espaço se abre, também, para novas possibilidades cognitivas que refletem o esgotamento do modelo Fordista de massificação e centralização na educação. O aluno não quer se sentir mais um número ou apenas um elemento que oferece respostas. A construção do conhecimento no âmbito educacional, neste caso, exige o reconhecimento destes anseios. Não obstante, as NTICs podem favorecer o desenvolvimento cognitivo e oportunizar a construção coletiva do conhecimento. Pierre Lévy (1999, p.157) faz uma constatação sobre a educação em moldes cibernéticos: [..] o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas : memória(banco de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos), imaginação(simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios ( inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos) [...]. E ainda: [...] Como essas tecnologias intelectuais, sobretudo as memórias dinâmicas, são objetivadas em documentos digitais ou programas disponíveis na rede (ou facilmente Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 41 - ( ) Josias Henrique Comin 41 reproduzíveis e transferíveis), podem ser compartilhadas entre inúmeros indivíduos, e aumentam, portanto, o potencial de inteligência coletiva dos grupos humanos (LÉVY, 1999, p.157). É necessário reconhecer que a rede de conexões proporcionadas pelas tecnologias da informação e comunicação possibilita a formação de um gigantesco mosaico de comunidades virtuais; de agrupamentos humanos no ciberespaço onde as pessoas se reúnem com objetivos comuns e estabelecem relações que estimulam o imaginário. As relações no ciberespaço alimentadas pelo imaginário acabam favorecendo a manifestação de subjetividades nas mensagens do ambiente virtual de aprendizagem, antes ignorada no modelo Fordista aplicado à educação. Compreender esta manifestação é fundamental para orientar as ações pedagógicas no ambiente virtual de aprendizagem levando em consideração as múltiplas possibilidades de interação e de expressão que ele oferece. 3. O BLOG DO CEAD- ANHANGUERA/UNIDERP COMO ESPAÇO DE SUBJETIVIDADE Algumas instituições de EAD, como o CEAD-Anhanguera/Uniderp, prevêem espaços de trocas de experiências freqüentemente usados como ambiente de múltiplas manifestações, oferecendo ferramentas de expressão e comunicação mais livres além das salas de chat e fóruns dirigidos especificamente para os esclarecimentos de conteúdos e a facilitação do aprendizado. Entre as ferramentas de interação do ambiente virtual de aprendizagem Moodle utilizado pela referida instituição em seus cursos a distância, existe o blog, onde as postagens podem ou não estar relacionadas ao processo educativo formal das outras áreas do mesmo ambiente; onde se manifesta os anseios, as angústias, as inseguranças, as insatisfações e a até mesmo o proselitismo religioso. O blog caracteriza a forma mais livre de participação dos alunos da EAD na referida instituição e, por isso mesmo, é o que melhor capta as manifestações subjetivas revelando as nuanças de uma sociedade em mutação. Observamos que a saturação dos valores da modernidade e o advento de novas tecnologias de comunicação estão resultando em transformações profundas em todas as esferas da sociedade. A junção entre os meios de comunicação de massa e microinformática, aliada ao crescimento das redes comunicacionais, operam modificações não só no cotidiano, como também na maneira como o homem percebe o mundo e o seu semelhante (QUARESMA, 2005, p.82). Por serem mais livres, as postagens do blog no ambiente Moodle se constroem potencialmente fora do controle social e escapam de um controle mais rígido até da Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 42 - ( ) 42 Socialidade e subjetividade na Educação a Distância própria instituição, permitindo que as pessoas que utilizam o espaço formem uma rede de interesses comuns e agrupamentos em torno de objetivos nem sempre orientados pelo currículo oficial dos cursos oferecidos. [...] há uma boa parte da existência social que escapa à ordem da racionalidade instrumental. A esta racionalidade não se pode atribuir um fim nem se pode reduzi-la a uma simples lógica da dominação. A duplicidade, o ardil, o querer-viver, se exprimem através de uma multiplicidade de rituais, de situações, de gestuais, de experiências, que delimitam um espaço de liberdade (MAFFESOLI, 1998, p. 31-32). A postagem de uma mensagem religiosa, uma poesia, uma dica de estudo, uma notícia, de fotos de familiares, revelam o cotidiano de cada participante e o tira da invisibilidade cotidiana, amplificando o alcance de sua mensagem. Essas particularidades muitas vezes subjetivas e aleatórias são o que o que cria a socialidade constituinte das sociedades de todos os tempos e lugares segundo M. Maffesoli (1984 apud LEMOS, 1999, p.2): As relações que compõem a socialidade constituem o verdadeiro substrato de toda vida em sociedade, não só da sociedade contemporânea, mas de toda vida em sociedade. São os momentos de despesa improdutiva, de engajamentos efêmeros, de submissão da razão à emoção de viver o “estar junto” que agrega determinado corpo social. Assim, é a socialidade que “faz sociedade” [...]. As NTICs favorecem a construção de comunidades no ciberespaço que têm como substrato a manifestação de subjetividades e se agrupam por afinidades, despertando o sentimento de pertença ao grupo com o qual o indivíduo se relaciona, encorajando-o a compartilhar a multiplicidade de suas experiências cotidianas para além das formas institucionalizadas de relações. A “socialidade” marcaria (“daria o tom”) os agrupamentos urbanos contemporâneos, colocando ênfase na “tragédia do presente”, no instante vivido além de projeções futuristas ou morais, nas relações banais do cotidiano, nos momentos não institucionais, racionais ou finalistas da vida de todo dia. Isso a diferencia da sociabilidade que se caracteriza por relações institucionalizadas e formais de uma determinada sociedade (MAFFESOLI, 1984, apud LEMOS, 1999, p.2). Como espaço acadêmico virtual, o blog do ambiente Moodle, se não proporciona a quebra do paradigma Fordista na educação, abre um canal para que os participantes exponham de alguma maneira, suas expectativas, seus anseios, enfim, suas subjetividades. Assim, passa a significar reais possibilidades de interação que ultrapassa as formalidades do currículo se configurando como importante ferramenta no processo de ensino-aprendizagem a distância. Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 43 - ( ) Josias Henrique Comin 4. 43 AS POSTAGENS DO BLOG NO AMBIENTE MOODLE DO CEADANHANGUERA/UNIDERP A plataforma virtual que a instituição CEAD-Anhanguera/Uniderp escolheu para abrigar a sua proposta de EAD é o Moodle. Esta ferramenta se apresenta, segundo a própria instituição, como a mais adequada à sua prática pedagógica que, por sua vez, é alicerçada em suas crenças e valores (CARBONARI NETTO; CARBONARI; DEMO, 2009, p.13-26). O Moodle do CEAD-Anhanguera-Uniderp, proporciona a participação em diferentes ferramentas a fim de facilitar a disseminação das informações e o acompanhamento das atividades a distância. No blog, a participação não se limita à interferência pedagógica dos tutores e nem limita os participantes aos assuntos restritos aos temas propostos no currículo acadêmico oficial. A comunicação se dá de forma mais livre. Dessa forma, abrem-se as possibilidades para que esta análise se volte à interpretação das comunicações que se registram no ambiente virtual de aprendizagem conforme Ruben de Oliveira Nascimento reforça: [...] queremos frisar que no aspecto semântico da palavra, na comunicação, se movimentam subjetividades em diálogos pelos quais frui o pensamento e se elabora o conhecimento, e esse aspecto na EAD ganha importância pedagógica e psicológica (NASCIMENTO, 2010, p.2). Deve-se levar em consideração ainda que, explorando o ambiente Moodle do CEAD-Anhanguera/Uniderp, percebe-se que a participação e as comunicações são muito mais efetivas no blog do que em outras ferramentas, como nas interações com os tutores através do recurso “Mensagem” disponível a partir do perfil de cada participante ou nos fóruns “Tira Dúvidas” e de “Notícias”. A escolha aleatória das postagens quer revelar o que se tem em comum nas publicações: O sentimento de pertença ao grupo e a exposição de subjetividades. Características básicas da socialidade. 4.1. A família como referência e modo de se fazer presente A acadêmica S.M. posta uma foto de familiares sob o título F.P. que traz o seguinte enunciado (S.M., 2011)2: 2 Todas as postagens analisadas a partir desta parte do artigo apresentam apenas as iniciais dos nomes de quem às publicou e se encontram no endereço eletrônico da instituição http://cead.anhangueravirtual.com.br/blog/index.php, relacionado nas referências bibliográficas. Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 44 - ( ) 44 Socialidade e subjetividade na Educação a Distância “Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma... É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida...” (Fernando Pessoa) Citando um verso de Fernando Pessoa, esta participante do blog posta uma foto de familiares, o que normalmente não se faz em outra rede social, a não ser quando se pode escolher quem acessará suas fotos pessoais. O ciberespaço da EAD, onde há pessoas conectadas e com acesso em todas as partes do território nacional, não a intimida ao expor algo tão íntimo. Parece ficar claro que o sentimento de pertença é tão forte a ponto de se confiar a exposição de algo que normalmente as pessoas procuram preservar. A mensagem revela ainda com a citação de Fernando Pessoa, que a concepção de vida que a autora da postagem quer transmitir é o do valor da família e a de força diante dos desafios reconhecendo os limites que a própria vida impõe. A referência a Deus no trecho do poema não é escolha aleatória. Como poderemos observar mais adiante, a religião se faz presente em várias oportunidades e será assunto desta reflexão. 4.2. A poesia livre das críticas literárias O acadêmico L.F.C. utiliza o espaço do blog para publicar suas poesias. O que se vê é mais do que inspiração. Em suas poesias quer revelar seu cotidiano de forma estética e se faz membro do espaço comunitário acadêmico expondo esta sua dimensão. É alguém que percebe o espaço como de livre expressão, reforçando a tese inicial deste artigo: (L.F.C., 2011) Poema: “Quem sou eu?” OBS.: Acredito que este espaço seja livre, para podermos nos expressar e partilhar infinitas experiências que temos ao pegar um simples lápis e deixar a imaginação fluir... Por isso, aí está uma das poucas poesias que já escrevi. Quem sou eu? Quem sou eu? Será que sou um monstro, Ou será que sou um tronco; De uma árvore bem florida; Que segura toda vida; Será que sou um E.T.; Ou um humano que não pode vê; A beleza ao meu redor; Com medo de ficar só; Será que sou triste; Ou meu mundo não existe; Será que tenho vida; Ou só sou uma alma perdida; Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:56 - 45 - ( ) Josias Henrique Comin 45 Será que tenho família; Ou estou sozinho na vida; Será que tenho amor; Ou só ódio e rancor. Realmente não sei quem sou. Eu estou no coração de quem amou, No sonho de quem sonhou, Na vida de quem viveu, Eu só não sei quem sou eu... 4.3. A religião: Fé e proselitismo A religião é um assunto recorrente no Blog do CEAD-Anhanguera/Uniderp. Percebido como um espaço de livre expressão, ela também se faz presente na forma de mensagens diretas, embrulhadas em textos de auto-ajuda ou de forma proselitista. A acadêmica B.R.C.N. posta uma foto pessoal com a seguinte mensagem (B.R.C.N., 2011): “Preciso ser forte!!!! Peço a Deus e a Jesus a sua proteção...”. Ao que parece esta pessoa passa por momentos delicados e encontra junto à comunidade do Blog, um alento, uma força, um consolo. O fato de publicar em uma única frase sua crença inabalável em Deus é sabedora de que muitos irão partilhar não só de sua fé como também de sua oculta dor. O acadêmico R.G. utiliza a mensagem evangélica aplicada a uma data civil para interagir. Esta é também, uma das formas mais presentes em nossa sociedade de proselitismo religioso. Estar visível a um sem número de pessoas proporciona a oportunidade de propagar suas crenças (R.G., 2011): Homenagem ao dia Internacional da Mulher 7 diferenças entre a mulher sábia e a néscia 1. A mulher sábia edifica a sua casa. A insensata derruba a casa com as próprias mãos. 2. Força e dignidade são os vestidos da mulher sábia. Já a néscia orna-se a moda das prostitutas; é astuta de coração. [...]3 Espero que você, mulher, tenha refletido! Um grande abraço! O texto é uma coletânea de versículos bíblicos que versam sobre o papel da mulher e não conserva nenhuma relação empírica com o dia internacional da mulher. Ao homenagear a mulher o autor procura ressignificar o texto de acordo com as estruturas de plausibilidade que legitimam e dão sentido ao seu mundo socialmente construído (BERGER, 1985, p.58). 3Disponível também em http://novotempo.com/amiltonmenezes/2011/03/08/7-diferencas-entre-a-mulher-sabia-e-anescia/ acesso em 01/04/2011. Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:57 - 46 - ( ) 46 Socialidade e subjetividade na Educação a Distância Vale lembrar que, segundo Berger (1985), a construção social da realidade, que tem como importante ferramenta a religião, circunscreve determinada sociedade às trincheiras de sua visão de mundo, reinterpretando à luz desta as outras visões de mundo. 4.4. Espaço de protesto e indignação Em que pese mais uma vez a personagem Deus aparecer, não é para a religião que se quer chamar a atenção, mas para a indignação. Na mensagem o autor não especifica contra quem ou o quê está indignado. Exprime simplesmente sua indignação diante de algo que provocou um sentimento de repulsa. J.C.S. recorre à publicação para dar voz e compartilhar seu sentimento com a comunidade educativa: (J.C.S., 2011) Insensibilidade ou falta de amor ao próximo? Vivemos em uma sociedade onde há crise de relação interpessoal, já parou para pensar. Onde vamos chegar? Vivemos em uma sociedade onde as pessoas banalizam tudo e a todos. Vivemos em uma sociedade onde ás pessoas tem crise de identidade e é visto como normal. É possível o ser humano ainda se reconhece qual seu verdadeiro retrado (sic)? E sua Subjetividade? Podemos até viver sem Deus, Mas morrer sem ele jamais. Mesmo contra a própria instituição se voltam os protestos e as indignações demonstrando que o espaço ma livre de publicação do blog acaba por servir como uma ferramenta de autocrítica já que oferece feedback de sua postura e atuação. I.R.S.G.N. posta o seguinte (I.R.S.G.N., 2011): Boa tarde! Espero da coordenação da Anhanguera mais agilidade no que se refere aos livros, haja vista que este material nos ajuda a acompanhar o curso com mais ênfase. Grata, deixo meu abraço a todos que fazem parte da família desta instituição. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar os textos selecionados das postagens do blog do ambiente Moodle do CEADAnhanguera/Uniderp constata-se o potencial pedagógico das histórias vividas no cotidiano dos participantes. As subjetividades que formam o substrato das socialidades que moldam o universo dos participantes dos cursos do CEAD-Anhanguera/Uniderp, servem de subsídio para a compreensão de suas necessidades enquanto estudantes. Por estarmos obnubilados por estas grandes entidades que se impuseram a partir do séc. XVIII: a História, a Política, a Economia, o Indivíduo, é difícil focalizar o “concreto mais extremo (W. Benjamin) que é a vida de toda a gente” (MAFFESOLI, 1998, p.169). Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 8, Ano 2010 • p. 37-48 ANUDO_n8_miolo.pdf 25/01/2012 17:35:57 - 47 - ( ) Josias Henrique Comin 47 Para melhor atendê-los na modalidade a distância apoiada nas novas tecnologias de informação e comunicação é preciso ir além dos individualismos; do atendimento personalizado tão praticado na atualidade como diferencial das empresas competitivas no mercado. Sugere-se que na EAD leve-se em consideração o todo, mas construído de particularidades, valorizando o que é específico de cada grupo. Há momentos em que o indivíduo significa menos do que a comunidade na qual ele se inscreve. Da mesma forma, importa menos a grande história factual do que as histórias vividas no dia-a-dia, as situações imperceptíveis que, justamente, constituem a trama comunitária. (MAFFESOLI, 1998, p.169). Voltar as atenções para as expectativas e os anseios que emergem das interações e das mensagens postadas em ambientes virtuais como o blog do CEADAnhanguera/Uniderp se torna imperativo para a compreensão das socialidades que ali se formam e querem se fazer ouvir. Dessa forma acredita-se que na EAD, a instituição de ensino não pode prescindir de considerar as socialidades percebidas no âmbito de suas ferramentas como oportunidade de melhor adequar suas práticas pedagógicas. REFERÊNCIAS BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. Campinas: Editora Autores Associados, 2009. BERGER, P. O Dossel Sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1985. BLOG do Ambiente Virtual de Aprendizagem da Universidade CEAD-Anhanguera/Uniderp. Disponível em: <http://cead.anhangueravirtual.com.br/blog/index. php>. Acesso em: 01 abr. 2011. CARBONARI NETTO, A.; CARBONARI, M.E.E.; DEMO, P. A cultura da Anhanguera educacional - As crenças e valores, o bom professor, a pesquisa e a avaliação institucional como instrumental de melhoria da qualidade. Valinhos: Anhanguera Publicações, 2009. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: RTC, 1978. LEMOS, André. Ciber-Socialidade: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Disponível em: <http://www.andrelemos.info/artigos/cibersoc.html>. Acesso em: 02 abr. 2011. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MAFFESOLI, M. O Tempo das Tribos. O declínio do individualismo nas sociedades de massa. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. NASCIMENTO, Ruben O. Reflexões sobre intersubjetividade na EAD em seu caráter transcendente. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2010/trabalhos1.asp>. Acesso em: 09 abr. 2011. QUARESMA, Silvia J. Durkheim e Weber: inspiração para uma nova socialidade, o neotribalismo. 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