A HISTÓRIA ORAL COMO MÉTODO QUALITATIVO DE PESQUISA A História Oral é uma metodologia de pesquisa qualitativa que envolve a “apreensão de narrativas usando meios eletrônicos e destina-se a recolha de testemunhos, promover análises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do meio imediato”.(MEIHY, 2002: p.13). A história oral é uma parte do conjunto de fontes orais e sua manifestação mais conhecida é a entrevista. Como procedimento específico, a entrevista em história oral é uma fórmula programada e responde à existência de projetos que a justificam. Utiliza a entrevista, como uma técnica base no trabalho da História Oral.É um momento de interação. Essa característica apresenta-se, segundo Lüdke e André (1986), como um diferencial em relação a outros instrumentos de pesquisa como a observação unidirecional ou aplicação de questionários que, em geral, estabelecem uma certa hierarquia entre pesquisador e pesquisado (Cf p.33). História oral é procedimento de coleta de dados utilizado principalmente nas pesquisas históricas. É um recurso que possibilita ao pesquisador a recorrer além de documentos escritos, aos documentos orais como elementos significativos no resgate de uma história. A História Oral, tem fundamentos historiográficos; Tem procedimentos cuidadosos na constituição de fontes históricas. O seu desenvolvimento pode trazer à tona documentos escritos e fotografias cujo acesso, de outro modo, seria sensivelmente mais difícil ou até mesmo impossível. MEIHY (2002), refere que um trabalho só pode ser reconhecido na vertente da História Oral,quando este, for reconhecida sua intenção, os procedimentos e a devolução pública de seus resultados. O pesquisador recorre à História oral como técnica de pesquisa com intuito de chegar ao conhecimento de fatos vivenciados num dado momento histórico em que somente os documentos escritos não se podia revelar por si só todos os sentidos circundantes num determinado meio social. Segundo MEIHY (1996), refere a história oral como uma “percepção do passado,algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado”. CHARTIER (2002), segunda a afirmação, dizendo que o relato, constitui uma singularização da história oral, pelo fato de manter uma relação específica com a verdade, pois as construções narrativas pretendem ser a “reconstituição do passado que existiu”. Segundo SOUSA (1998), “os dados podem ser obtidos por meio de fontes vivas de informação: história de vida, biografia, depoimentos pessoais e entrevistas, etc. material que precisa passar por um minucioso processo de análise.” MEIHY (1996), categoriza três elementos fundamentais para construir uma história oral: O entrevistador, o entrevistado e aparelhagem de gravação. PASSOS OU PROCEDIMENTOS DA HISTÓRIA ORAL Elaboração de um projeto e escolha do grupo alvo a ser entrevistado. O projeto prevê: 1.O planejamento da condução das gravações; 2. Definição de locais; 3.Definição do tempo de duração 4.Fatores ambientais; 5.Transcrição, 6. Estabelecimento de textos; 7. Conferência do produto escrito; 8. Autorização para o uso; 9. Arquivamento e 10. Publicação A Memória como Matriz da História Oral A memória não só transmite conhecimentos e significações, mas produz significados. Tem de ser entendida como uma ação, e uma ação produtora de significados. A neurociência coloca que o cérebro não trabalha com informação, mas com significado, o que significa dizer, que o cérebro trabalha com dados históricos. Os significados, como tudo o que é histórico, são mutáveis. (Menezes, p. 15)Só é possível falar de memória, portanto, como um dado histórico. A função da memória como ‘objeto’Uma das funções desejáveis da memória é a de aumentar a capacidade de perceber as transformações da sociedade pela ação humana, permitindo que se tenha a experiência da dinâmica social, da ação das forças que constroem a sociedade e que podem mudá-la a todo o instante. A elaboração do passado se dá no presente e para responder questões do presente. É do presente sim, que a rememoração recebe incentivos, tanto quanto as condições para se efetivar. Às Ciências Sociais interessa a memória individual somente nos quadros da interação social: é preciso que haja pelo menos duas pessoas para que a rememoração se produza de forma socialmente apreensível. É este fenômeno da memória condividida que tem relevância. A memória coletiva é um sistema organizado de lembranças cujo suporte são redes de interrelação estruturadas, imbricadas em circuitos de comunicação. Essa memória assegura a coesão e a solidariedade do grupo. Memória VS História É imprópria qualquer coincidência entre memória e história. A memória, como construção social, é formação de imagem necessária para os processos de constituição e reforço da identidade individual, coletiva e nacional. A História é forma intelectual de conhecimento. É a disciplina da diferença e que usa o passado para identificar e explicar a diferença. Porque pela diferença se compreende a transformação, a dinâmica que rege as nossas vidas. História de vida História de vida é entrevista prolongada que apresenta as experiências e as definições vividas por uma pessoa, um grupo ou uma organização. Preocupa-se mais com a fidelidade das experiências e interpretações do autor sobre o seu mundo. Na História de vida, o pesquisador se interessa mais em compreender o desenvolvimento da vida do sujeito investigado e traça com ele uma biografia que descreva sua trajetória até o momento atual. Enfatiza determinada etapa ou setor da vida pessoal ou de uma organização. O pesquisador, deve permitir a que o narrador escolha do que quer contar, dos fatos que lhe interessam socializar.QUEIROS (1988), refere que a história de vida não difere tanto da História oral, uma vez que na coleta de dados também usa, depoimentos, entrevistas, biografias, autobiografia. O narrador também é quem decide o que narrar. CARACTERÍSTICAS Entrevistas são feitas com base nas memórias e são seletivas, fazendo com que o entrevistado aborde os assuntos com profundidade. A História de Vida é geralmente extraída de uma de uma ou mais entrevistas denominadas entrevistas prolongadas, nas quais a interação entre o pesquisador o colaborador se da de forma continua. (THIOLLENT,1982).O interesse e a disponibilidade do entrevistado, são fatores cruciais para uma boa entrevista. GRANDES DIFICULDADES APONTADAS COMO ENTRAVE NA HISTÓRIA ORAL Uma das grandes limitantes apontadas no uso da história oral como método de pesquisa, é o fato da História Oral não pertencer a um campo estrito do conhecimento. Portanto, a sua especificidade está no fato de se prestar a diversas abordagens, de se mover num terreno pluridisciplinar. ALBERTI (1989,p.41). Em virtude dessa abrangência a história oral comporta três tipos de abordagens, a saber: história oral de vida, temática e tradição oral. Para CAMARGO (1989,p.52), a história oral de vida particularmente garantiu “o rigor, a fidedignidade e a riqueza que a técnica que a história oral por si mesma não possuía” segue afirmando que “nada mais consistente do que uma longa vida que se decifra, com a chancela de um gravador”. A história oral possibilita a construção e a reconstituição da história por meio dos individuais ou coletivos. O fato de ser considerada um campo multidisciplinar possibilita que algumas disciplinas, (entre elas a antropologia, psicologia, psicanálise, sociologia, etc...), possam dar suas contribuições teóricas, especialmente no tratamento e na análise da informação oral.Observa-se essa contribuição através dos estudos que trazem reflexões sobre as relações entre pesquisadores e sujeitos. Etno significa, em grego, povo, raça ou grupo cultural. Grafia significa escrita. Etnografia é uma subdisciplina da antropologia descritiva que dedica-se a compreender crenças, valores, desejos e comportamentos dos sujeitos por meio de uma experiência vivida. Tem como premissa “a tentativa de apreender, numa perspectiva evolucionista e global, o comportamento humano em situação natural, e de compreender esse comportamento dentro do quadro de referências no qual os indivíduos interpretam seus pensamentos sentimentos e ações” segundo Domingues (1988). Dois pilares modelam e sustentam o método etnográfico: 1-a interação prolongada entre o pesquisador e o sujeito da pesquisa e 2-a interação cotidiana do pesquisador no universo do sujeito. Compreensões pós-modernas da etnografia são marcadas pela concepção de que todo aspecto da existência humana é culturalmente construído, o que os torna particulares e localizados, sem possibilidades de generalização. Nesta concepção, o significado social de uma situação histórica é sempre relativo e temporário. A etnografia dedica-se “compreender como este momento histórico universaliza a si próprio na vida de indivíduos específicos” (Denzin Apud Vidich & Lyman, 2000). O etnógrafo não é um mero observador da história, mas sim um participante e informante do processo.