DESEMPENHO AGRONÔMICO DE LEGUMINOSAS NATIVAS

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DESEMPENHO AGRONÔMICO DE LEGUMINOSAS
NATIVAS (Adesmia) E EXÓTICAS (Lotus, Trifolium)
SOB DIFERENTES REGIMES DE CORTE
MARICE CRISTINE VENDRUSCOLO
Dissertação apresentada à Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária da
UPF, para obtenção do título de Mestre em
Agronomia – Área de Produção Vegetal.
Passo Fundo, junho de 2003.
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE LEGUMINOSAS
NATIVAS (Adesmia) E EXÓTICAS (Lotus, Trifolium)
SOB DIFERENTES REGIMES DE CORTE
MARICE CRISTINE VENDRUSCOLO
ORIENTADOR: PROFª. DRª. SIMONE MEREDITH SCHEFFER-BASSO
Dissertação apresentada à Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária da
UPF, para obtenção do título de Mestre em
Agronomia – Área de Produção Vegetal.
Passo Fundo, junho de 2003.
iii
AGRADECIMENTOS
À DEUS, por tudo... Muito obrigada pelas bênçãos recebidas.
Á minha família: meu pai Omar Antonio, minha mãe Talita
Maria, minha irmã Marta Virginia e meu irmão Mateus, por tudo...
Muito obrigada pelo amor, carinho, dedicação, apoio, união,
compreensão, paciência e pela oportunidade de realizar o curso
superior de Agronomia e este curso de Mestrado em Agronomia.
Às minhas amigas Dulce Maria Pimentel e Marivone Agazzi,
pelo apoio, compreensão e amizade sincera. À Dulce e ao seu filho
Luiz, pela acolhida em seu apartamento, por ocasião da realização do
término deste trabalho.
À professora orientadora Dra. Simone Meredith SchefferBasso, pelo apoio, confiança, incentivo, dedicação, compreensão,
paciência, orientação, pelos ensinamentos, e, acima de tudo, pela
amizade. Muito obrigada por tudo o que fez por mim.
À coordenação do curso de Mestrado em Agronomia da
FAMV-UPF, de maneira especial, ao professor Dr. Alexandre
Augusto Nienow, pela compreensão, apoio e amizade. Muito
obrigada!
Ao Dr. Aino Victor Ávila Jacques e ao Dr. Miguel Dall’Agnol,
pelas valiosas sugestões ao trabalho.
À CAPES, pela concessão de bolsa.
À todos os
professores
da FAMV-UPF,
pelos seus
ensinamentos e pela amizade.
À professora Dileta Cecchetti, pelo auxílio na realização das
análises estatísticas e pela amizade.
iv
Aos estagiários da professora Simone, pela ajuda nos trabalhos
de campo e de laboratório e pela amizade; e aos funcionários da
FAMV-UPF, Sadi, Elói, Crescêncio e Alcir, pela ajuda nos trabalhos
de campo.
Aos funcionários da FAMV-UPF, pelo apoio e amizade.
Aos colegas e amigos, pelo apoio e amizade.
Aos meus parentes, familiares e amigos, pelo apoio e pelos
bons momentos que passamos juntos.
À todos que de uma maneira ou de outra contribuíram para a
realização deste trabalho, muito obrigada!
v
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS............................................................................
vi
LISTA DE FIGURAS.............................................................................
vii
RESUMO................................................................................................
1
SUMMARY............................................................................................
3
1 INTRODUÇÃO...................................................................................
5
2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................
9
2.1 Adesmia DC..................................................................................
9
2.2 Lotus L..........................................................................................
14
2.3 Trifolium L....................................................................................
22
3 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................
29
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................
35
4.1 Fenologia e estatura......................................................................
35
4.2 Estatura das leguminosas ao início dos cortes..............................
41
4.3 Produção total de forragem...........................................................
43
4.4 Distribuição percentual da produção de forragem........................
53
4.5 Padrão geral de alocação da massa seca na forragem...................
55
4.6 Material morto..............................................................................
60
4.7 Padrão estacional dos componentes da forragem.........................
61
4.8 Capacidade de competição e persistência das leguminosas.........
70
5 CONCLUSÕES...................................................................................
74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................
76
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela
1
Dados
meteorológicos
correspondentes
ao
período
experimental e médias normais para Passo Fundo, RS................
2 Datas dos cortes nas leguminosas, em função do regime de
cortes.............................................................................................
3 Fenologia das leguminosas hibernais ao longo do período de
avaliação, em função do estádio fenológico por ocasião do
início dos cortes............................................................................
4 Produção de forragem e estatura das leguminosas (Adesmia,
Lotus, Trifolium) por ocasião do primeiro corte, em função do
estádio fenológico........................................................................
5 Produção total de forragem de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do
início dos cortes............................................................................
6 Produção estacional de forragem de leguminosas (Adesmia,
Lotus, Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião
do início dos cortes.......................................................................
7 Distribuição percentual da forragem total de leguminosas
(Adesmia, Lotus, Trifolium) cortadas em função do estádio
fenológico por ocasião do início dos cortes..................................
8 Composição da forragem de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do
início dos cortes............................................................................
9 Produção de caules e folhas de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do
início dos cortes............................................................................
10 Produção de folhas ativas e senescentes de leguminosas
(Adesmia, Lotus, Trifolium) em função do estádio fenológico
por ocasião do início dos cortes....................................................
11 Material morto presente na forragem colhida de leguminosas
(Adesmia, Lotus, Trifolium) em função do estádio fenológico
por ocasião do início dos cortes....................................................
12 Produção total de plantas invasoras e índice de competição das
leguminosas (Adesmia, Lotus, Trifolium) em função do estádio
fenológico por ocasião do início dos cortes..................................
Página
30
34
36
42
44
46
54
56
57
58
61
71
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Página
Detalhe da área experimental, mostrando, em primeiro
plano, uma parcela de A. tristis Lages, por ocasião de um
corte (novembro/00)...............................................................
Detalhe de duas parcelas com A. latifolia, no estádio de
florescimento..........................................................................
Estatura das leguminosas (Adesmia, Lotus, Trifolium)
durante os cortes efetuados no regime Vegetativo.................
Estatura das leguminosas (Adesmia, Lotus, Trifolium)
durante os cortes efetuados no regime Florescimento............
Detalhe de uma parcela de T. repens no estádio de
florescimento..........................................................................
Detalhe de uma parcela de L. pedunculatus...........................
Detalhe dos rizomas e raízes de L. pedunculatus ao final do
período experimental (outubro/01).........................................
Detalhe da área experimental, mostrando, em primeiro
plano, à esquerda, A. tristis Lages, e à direita, L.
corniculatus............................................................................
Produção estacional dos componentes da forragem de
Adesmia latifolia Bagé, nos dois regimes de corte.................
Produção estacional dos componentes da forragem de
Adesmia latifolia Lages, nos dois regimes de corte................
Produção estacional dos componentes da forragem de
Adesmia tristis Lages, nos dois regimes de corte...................
Produção estacional dos componentes da forragem de
Adesmia tristis Painel, nos dois regimes de corte...................
Produção estacional dos componentes da forragem de Lotus
corniculatus, nos dois regimes de corte..................................
Produção estacional dos componentes da forragem de Lotus
pedunculatus, no regime Vegetativo......................................
Produção estacional dos componentes da forragem de
Trifolium repens, nos dois regimes de corte...........................
Detalhe de uma parcela de A. latifolia, ao final do período
experimental, com visualização do retângulo metálico,
utilizado na coleta das amostras.............................................
31
38
39
41
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49
50
51
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63
64
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66
68
69
72
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE LEGUMINOSAS
NATIVAS (Adesmia) E EXÓTICAS (Lotus, Trifolium ) SOB
DIFERENTES REGIMES DE CORTE
Marice Cristine Vendruscolo; Simone Meredith Scheffer-Basso
RESUMO
O manejo de espécies forrageiras requer um entendimento de sua
resposta à desfolhação. Este trabalho teve como objetivo comparar o
desempenho produtivo, fenologia e persistência de leguminosas
nativas (Adesmia latifolia, A. tristis) e exóticas (Lotus corniculatus, L.
pedunculatus e Trifolium repens), em função do estádio de
desenvolvimento das plantas quando foi realizado o primeiro corte
(vegetativo, EV e florescimento, EF). As leguminosas foram
estabelecidas em monocultura, no campo, e avaliadas entre maio/2000
a setembro/2001, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil. A.
latifolia e T. repens foram cortados a 4 cm acima do nível do solo e A.
tristis, L. corniculatus e L. pedunculatus a 8 cm. Foram realizados
nove cortes no manejo EV e sete no EF. O regime de cortes teve efeito
na produção de T. repens (EV= 9 t MS/ha, EF= 7 t MS/ha) e A. tristis
(EV= 4 t MS/ha, EF= 8 t MS/ha). L. corniculatus produziu cerca de
15 t MS/ha e A. latifolia 2-3 t MS/ha, independente do manejo. O L.
pedunculatus não floresceu, produzindo 7 t MS/ha. Em Lotus sp., a
forragem produzida na primavera apresentou maior proporção de
folhas, sendo que no verão houve maior proporção de caules; no
trevo-branco, houve maior quantidade de folhas senescentes no verão,
2
em relação à primavera. As espécies nativas mostraram pouca
persistência, com a morte de plantas (A. tristis) ou de estolões (A.
latifolia) no final da estação de crescimento. Possíveis alternativas
para aumentar a persistência dessas espécies incluem a ressemeadura
natural (A. latifolia) e a redução da freqüência dos cortes (A. tristis).
Palavras-chave: cornichão, persistência, produção de forragem,
trevo-branco
3
AGRONOMIC PERFORMANCE OF NATIVE LEGUMES
(Adesmia) AND EXOTIC (Lotus, Trifolium) UNDER DIFFERENT
CUTTING REGIME
Marice Cristine Vendruscolo; Simone Meredith Scheffer-Basso
SUMMARY
The management of forage species requires an understanding of their
response to defoliation. This study had the purpose to compare the
productive performance, phenology and persistence of native legumes
(Adesmia latifolia, A. tristis) to exotic legumes (Lotus corniculatus, L.
pedunculatus, Trifolium repens) considering the stage of plant
development at time of the first cut was performed (VS= vegetative,
FS= flowering). The legumes were established as monoculture in the
field and evaluated from May/2000 to September/2001, in Passo
Fundo, Rio Grande do Sul, Brazil. A. latifolia and T. repens were cut
at 4 cm above ground level and A. tristis, L. corniculatus and L.
pedunculatus, 8 cm. Nine cuts were performed at the VS and seven at
the FS stage. The cutting regime affected the production of T. repens
(VS= 9 ton DM/ha, FS= 7 ton DM/ha) and A. tristis (VS= 4 ton
DM/ha, FS= 8 ton DM/ha). L. corniculatus produced about 15 ton
DM/ha and A. latifolia, 2-3 ton DM/ha, independent of the
management. There was no flowering in the L. pedunculatus, which
produced 7 ton DM/ha at the VS. For Lotus species the forage
produced in spring presented higher proportion of leaves, while in the
summer the stem proportion was higher; in T. repens there was a
4
higher amount of senescent leaves in the summer in relation to spring.
The native species showed low persistence with the deaths of plants
(A. tristis) and stolons (A. latifolia) at the end of the growing season.
Possible alternatives to improve the persistence of these species
include the natural reseeding (A. latifolia) and the reduction of the cut
frequency (A. tristis).
Key-words: birdsfoot trefoil, forage production, persistence, white
clover
5
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país que possui vasta extensão territorial e um
clima privilegiado para o crescimento de plantas herbáceas, cujas
condições são excelentes para um bom desenvolvimento da pecuária.
A formação de boas pastagens assume real importância,
tornando-se a melhor opção para a alimentação do rebanho Nacional,
pois, além de se constituir no alimento mais barato disponível, se bem
manejada, oferece todos os nutrientes necessários para um bom
desempenho dos animais. O animal é uma máquina de transformação
e a forragem é a matéria-prima. O resultado final, a precocidade, a
qualidade e a performance dos animais dependem muito da matériaprima.
O principal suporte alimentar da pecuária no Estado do Rio
Grande do Sul é a vegetação dos campos naturais, que atualmente
ocupa 10,5 milhões de hectares, o que perfaz 37% da cobertura
vegetal do Estado (IBGE, 1996).
Miotto (1994), num estudo sobre os gêneros de leguminosas
ocorrentes no Sul do Brasil, encontrou 683 espécies nativas, presentes
nos mais diferentes tipos de vegetação e de ambientes.
De acordo com Silveira et al. (2002), a busca de espécies
perenes nativas, de crescimento hibernal, para utilização como planta
forrageira cultivada, pode ser uma alternativa para solucionar a falta
de forragem no inverno na região sul do Brasil. Além disso, Olmos &
Sosa (2002), trabalhando com cornichão, evidenciaram a importância
da manutenção da produtividade das espécies nativas para permitir a
atenuação
dos
freqüentes
impactos
produtividade das espécies introduzidas.
climáticos
negativos
na
6
As leguminosas são importantes nos sistemas produtivos, devido
à sua capacidade de fixar nitrogênio atmosférico por meio da simbiose
com bactérias fixadoras. Nas regiões pastoris do subtrópico, as
leguminosas forrageiras permitem incrementar a produção e o valor
nutritivo das pastagens de forma sustentável. Das 17.250 espécies de
leguminosas, só umas poucas se encontram em uso comercial como
forrageiras, mas potencialmente há muitas. Normalmente se dividem
em temperadas ou tropicais e a classificação como subtropicais não é
freqüente na literatura, já que o subtrópico é uma região menor na
escala mundial (Real, 2002).
A habilidade das leguminosas em fixar nitrogênio confere uma
vantagem competitiva sobre outras plantas em solos com baixo
suprimento de nitrogênio (Mannetje et al., 1980), e o seu uso, isolado
ou em associação com gramíneas, é altamente desejável para se
alcançar um melhor desempenho animal. Se a fixação simbiótica de N
for eficiente, a economia com uso de fertilizantes se torna
extremamente vantajosa ao produtor.
Por isso, a necessidade de um bom estabelecimento da
leguminosa torna-se economicamente muito importante para a
agricultura, assim como uma boa nodulação trará conseqüências de
uma maior produção de matéria seca, maior qualidade da forragem e
melhoria da fertilidade do solo. Em sistemas menos intensivos, a
utilização de leguminosas forrageiras tem refletido de forma decisiva
no incremento da produtividade, tanto em pastagens naturais como em
cultivadas. Esse aumento passa pela capacidade de fixação simbiótica
de nitrogênio e pela sua reciclagem, bem como pela melhoria da dieta
animal (Barcelos & Vilela, 1994).
A importância de leguminosas forrageiras para sistemas de
7
produção tem sido ressaltada há muito tempo. No Rio Grande do Sul,
há predomínio de utilização de leguminosas temperadas cultivadas e
um razoável conhecimento sobre essas espécies, especialmente as
pertencentes aos gêneros Trifolium e Lotus, assim como em relação à
alfafa (Medicago sativa L.). Em relação às espécies nativas, observase que os esforços para obtenção de maior conhecimento das
pastagens naturais e de suas espécies componentes foram acelerados a
partir de 1961, quando se desenvolveu o projeto S3-Cr-11 ‘Estudos da
Pastagem Nativa do Rio Grande do Sul’ (Dall’Agnol et al., 2002).
Na
Argentina,
segundo Goldfarb
e
Altuve
(2002),
o
conhecimento atual sobre leguminosas forrageiras para esse país
deriva das atividades de introdução, recoleção e avaliação em campos
experimentais e de produtores. As principais limitações encontradas
em todos os casos estudados estiveram relacionadas com o
estabelecimento e a persistência das espécies. Ensaios realizados em
campos de produtores mostraram uma tendência similar. Em muitos
casos houve problemas no estabelecimento e em outros, no primeiro
ano, a contribuição das leguminosas foi mínima. Em todas as
pastagens implantadas com leguminosas a produção animal foi maior
que naquelas sem leguminosas, apesar de sua baixa persistência. No
entanto, a superfície implantada com leguminosas em campo natural,
associações e bancos de proteína em nível dos sistemas de produção, é
pouco significante. O germoplasma atualmente disponível é escasso e
foi selecionado essencialmente para sistemas forrageiros.
De acordo com Garcia (1992), em nível de produtor, os
problemas de diminuição das leguminosas como resultado de manejos
incorretos são muito acentuados, pois na prática, o manejo do
pastoreio se realiza mais em função dos animais que dos
8
requerimentos da pastagem. As leguminosas forrageiras são usadas
em mesclas com gramíneas e outras espécies de leguminosas, e estão,
portanto, sujeitas à competição. A isto, deve-se levar em conta o fato
de que em uma pastagem, normalmente aparecem espécies não
desejadas, dicotiledôneas ou gramíneas agressivas.
No sul do Brasil, a introdução de leguminosas exóticas em
campos nativos requer a correção da acidez e da fertilidade do solo,
elevando
os
custos
de
estabelecimento,
sendo
que
em
sobressemeadura é aplicada somente de 1/3 a 1/4 da dose de calcário
recomendada. Entre as principais espécies estão o cornichão (Lotus
corniculatus L.) e o trevo-branco (Trifolium repens L.). Por outro
lado, as leguminosas nativas de estação fria, que são adaptadas a essas
condições naturais de
clima e
solo são pouco estudadas,
permanecendo o seu comportamento morfofisiológico desconhecido,
com exceção das espécies do gênero Adesmia DC., que estão sendo
bastante pesquisadas.
Este trabalho teve como objetivo geral avaliar o desempenho de
leguminosas hibernais perenes, com o fim de verificar a adaptação e
caracterizar a produção de forragem, em função de estádios
fenológicos distintos por ocasião do início das desfolhações. Por outro
lado, os principais objetivos específicos foram a comparação entre
Adesmia latifolia (Spreng.) Vog. e trevo-branco, ambas estoloníferas,
e entre Adesmia tristis (Vog.) e cornichão cv. São Gabriel, de hábito
ereto. Além disso, o trabalho teve como objetivo específico avaliar o
comportamento de Lotus pedunculatus Cav. cv. Maku, na região do
Planalto Médio, em virtude das escassas informações agronômicas
sobre essa espécie nessa região.
O presente trabalho apresenta-se como uma continuação do
9
estudo de Scheffer-Basso (1999), que avaliou as mesmas espécies,
com exceção do trevo-branco, em condições de casa-de-vegetação. As
informações obtidas no campo são fundamentais para a continuidade
das pesquisas com as espécies acima relatadas.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Adesmia DC.
Adesmia latifolia (Spreng.) Vog.
Adesmia tristis Vog.
Adesmia é um gênero exclusivamente sul-americano, com cerca
de 230 espécies. No Brasil, ocorrem 17 espécies, sendo que 13 delas
têm ocorrência no Rio Grande do Sul. A. tristis é considerada uma
possível espécie forrageira, enquanto Adesmia araujoi e A. latifolia
são tidas como ótimas forrageiras (Miotto e Leitão Filho, 1993).
Coelho e Battistin (1998) obtiveram dados que indicam que as
plantas
do
gênero
Adesmia
são
meioticamente
estáveis
e
potencialmente férteis, aparentemente sem problemas para uso em
programas de seleção, cruzamentos e produção de sementes viáveis.
Tedesco et al. (2000), ao estudarem o modo de reprodução em 15
espécies de Adesmia, concluíram que se reproduzem principalmente
por polinização cruzada (alogamia), sendo sugerida a existência de um
mecanismo de autoincompatibilidade. Para A. latifolia, Tedesco et al.
(1998) obtiveram resultados que demonstraram que a espécie pode se
reproduzir por polinização cruzada (alogamia) e por autopolinização
(autogamia).
10
Miotto e Leitão Filho (1993) relataram que A. latifolia tem
ampla distribuição no Rio Grande do Sul, no sul de Santa Catarina,
Argentina (Províncias de Corrientes e Entre Rios) e Uruguai. É a
única espécie citada para o Brasil que ocorre em banhados e campos
alagadiços. Além disso, é a espécie que apresenta folhas maiores,
sendo facilmente reconhecível por esta característica, além de seu
hábito rasteiro, estolonífero. É hiberno-primaveril, isto é, começa a
vegetar no outono, permanecendo verde durante os meses de inverno e
iniciando sua floração em outubro, a qual pode se estender até abril.
Pode formar grandes manchas, pelo acentuado desenvolvimento de
seus estolões e pelo volume de sua folhagem, ocupando áreas mais ou
menos extensas.
A. tristis é a espécie que tem, junto com Adesmia ciliata, a maior
área de ocorrência no Brasil. Ambas têm um padrão de distribuição
extremamente semelhante, ocorrendo desde o sudoeste e centro do Rio
Grande do Sul, sendo bem representadas no Estado de Santa Catarina
e atingindo o sudeste do Paraná. Essa espécie tem o hábito
subarbustivo, alcançando até 1,50 m de estatura, com caules
decumbentes a eretos, muito ramificados. Durante o verão fica com a
parte aérea reduzida aos caules e ramos, perdendo quase que
completamente suas folhas que começam a reaparecer no outono, em
grande quantidade. O começo do período vegetativo é no outono,
atravessando os meses de inverno com a parte aérea verde e
apresentando o florescimento e a frutificação nos meses de dezembro
e janeiro (Miotto e Leitão Filho, 1993).
Os estudos têm se intensificado com as espécies de Adesmia,
especialmente A. latifolia e A. tristis. A primeira, por ser estolonífera,
e a outra, por ser subarbustiva, o que pressupõe acumular maior
11
quantidade de forragem em relação às espécies herbáceas do mesmo
gênero. No entanto, para a última, esse acúmulo de forragem significa,
para uma planta de seu hábito, maior conteúdo de fibras, pelo aumento
relativo dos caules. Scheffer-Basso et al. (2001a) verificaram, na
espécie, valores entre 7,34% e 12,22% de proteína bruta (PB) nos
caules, com uma digestibilidade in vitro da matéria orgânica
(DIVMO) entre 34,85% e 44,73% na mesma fração. Isso sugere a
necessidade de um manejo que permita maior quantidade relativa de
folhas, que apresentam no mesmo trabalho citado anteriormente,
elevados teores de PB (27,72%) e de DIVMO (75,05%).
A. tristis forma uma coroa lignificada, apresentando um maior
potencial de formação de gemas, tanto basilares como superiores, em
relação à A. latifolia, cujas gemas são principalmente basilares,
localizadas nos nós dos estolões. Essa última demonstra um padrão
cíclico de formação de gemas, indicando a importância de práticas de
manejo que promovam a renovação do estande através da emissão de
novos estolões. (Scheffer-Basso et al., 2000).
Em trabalho de Bellaver et al. (1998), em casa-de-vegetação,
comparando o desenvolvimento inicial de A. latifolia e A. tristis, a
última apresentou peso seco de parte aérea significativamente
semelhante à A. latifolia nas primeiras semanas de desenvolvimento.
Isso se deveu ao fato de A. tristis apresentar o maior número de folhas.
No entanto, com o aumento do crescimento, A. latifolia foi superior,
devido ao maior tamanho das folhas. No estudo de Scheffer-Basso et
al. (2001a), também em casa-de-vegetação, a disponibilidade de
forragem foi de 276 g MS/m2 para A. latifolia e de 201 g MS/m2 para
A. tristis.
Num dos poucos trabalhos sobre o efeito de manejo de cortes
12
em A. tristis, Rosa (1998) verificou que, à medida em que se
aumentava a altura de corte, de 10 para 15 cm, a produção de massa
seca era aumentada, assim como quando era aumentado o intervalo
entre os cortes, de três para sete semanas. A persistência aumentou
com o aumento da altura de corte, independente do intervalo entre os
cortes.
Com A. latifolia, Dutra et al. (1998), avaliando três épocas
(abril, maio e junho) e quatro densidades de semeadura (1, 2, 4, 6
kg/ha) em campo nativo, observaram que a semeadura realizada em
junho proporcionou maior produção de matéria seca (3.655 kg/ha),
seguindo-se as épocas de maio (1.770 kg/ha) e abril (1.416 kg/ha). A
ocorrência de estiagens prolongadas, coincidentes com as duas
primeiras épocas (abril e maio) prejudicou drasticamente a resposta. A
produção de matéria seca respondeu linearmente aos acréscimos nas
densidades de semeadura até 6 kg/ha. Os autores concluíram que a
introdução dessa espécie, como melhoradora de campo nativo,
mostrou ser uma prática viável para a região de Pelotas. Pelos
resultados de Aguinaga et al. (2002), essa espécie pode se estabelecer
bem em sobressemeadura, uma vez que os melhores resultados em
germinação foram a profundidades entre 0 e 1 cm.
Em outro trabalho de introdução dessa espécie em campo
nativo, Menezes et al. (1999), obtiveram entre 110 e 201 kg MS/ha,
dependendo do intervalo entre cortes. Foi verificado um maior
desaparecimento da mesma no início do verão, atribuído à baixa
precipitação e à competição com as espécies nativas.
Em A. latifolia, os estudos anatômicos de Carneiro e Rodella
(2002) revelaram a presença de tecidos pouco lignificados, refletindo
uma elevada degradabilidade, confirmada entre 69,40% (pecíolo) e
13
97,90% (limbo foliar). Os teores de taninos condensados foram de
0,38%, não sendo suficientemente altos para serem considerados
prejudiciais à digestibilidade (2% a 4%). No trabalho de SchefferBasso et al. (2001a), foram observados teores de proteína bruta de até
23,47% nas folhas e digestibilidade in vitro da matéria orgânica de
72,28%.
Scheffer-Basso et al. (2001b) avaliaram, ao final de 65 dias, em
casa-de-vegetação, o comprimento e volume de raízes, o número e o
peso de nódulos, o acúmulo de matéria seca e a fixação biológica de
nitrogênio em plantas de A. latifolia e L. corniculatus. A primeira
destacou-se pelo maior número de nódulos (126/vaso) e peso total de
nódulos (82,22 mg MS/vaso) em relação ao cornichão, com 82
nódulos/vaso e 20,25 mg MS/vaso. A fixação biológica de nitrogênio
foi mais efetiva em A. latifolia, cujas plantas inoculadas produziram,
em média, 37% de matéria seca em relação às plantas supridas com
nitrogênio mineral, sendo que no cornichão, esse percentual foi de
apenas 15%. A quantidade de nitrogênio fixado simbioticamente foi
de 43,12 mg N/vaso em Adesmia e de 9,92 mg N/vaso em cornichão.
Concluíram que, mediante a resposta positiva à aplicação de
nitrogênio mineral, as leguminosas avaliadas merecem trabalhos de
seleção de estirpes de rizóbio mais efetivas.
Scheffer-Basso et al. (2002b), ao avaliarem o desempenho de A.
latifolia em mistura com festuca (Festuca arundinacea Schreb.),
concluíram que a espécie apresenta limitações no estabelecimento em
solos bem drenados, devendo ser analisada a possibilidade de cultivo
restrito a áreas baixas, sem limitação de umidade ou sobre pastagens
já estabelecidas.
14
2.2 Lotus L.
Lotus corniculatus L.
Lotus pedunculatus Cav.
O gênero Lotus contém espécies anuais e perenes, adaptadas a
uma ampla gama de ambientes. O cornichão (L. corniculatus L.) é
cultivado e já pode ser considerado naturalizado em algumas áreas,
como já ocorre com o L. pedunculatus Cav. (sin.: L. uliginosus Schk.;
L. major Scop. Sm.) na Argentina (Arambarri, 1999). Das espécies de
Lotus utilizadas como plantas forrageiras, essas são as mais
importantes.
As espécies de Lotus são reconhecidamente de difícil
estabelecimento,
com
pobre
vigor
de
plântulas,
o
que
é
freqüentemente associado com o pequeno tamanho de folhas. Os lotes
de sementes freqüentemente contêm muitas sementes duras e a
escarificação pode ser necessária para assegurar rápida germinação.
Normalmente, suas espécies possuem especificidade quanto a
Rhizobium, para uma efetiva nodulação (Blumenthal e McGraw,
1999). Uma das características das plantas desse gênero é a presença
de taninos no conteúdo celular e a baixa solubilidade das proteínas
foliares em água, inibindo a formação de espuma estável e, evitando,
portanto, o timpanismo (Langer, s.d.).
O cornichão é resistente à seca, palatável e pode ser utilizado
como feno, pastagem ou silagem. Já o L. pedunculatus é limitado a
regiões com temperaturas hibernais médias, possui hábito rizomatoso
e estolonífero e se adapta melhor que o cornichão a solos ácidos e mal
drenados (Allen e Allen, 1981). O primeiro se apresenta bastante
difundido no Rio Grande do Sul, onde as pastagens naturais paralisam
15
o crescimento no inverno (Araújo e Jacques, 1974) e sua popularidade
está alicerçada no seu alto valor nutritivo e na sua pouca exigência
quanto às condições do solo (Lopez et al., 1970).
O manejo do cornichão e do L. pedunculatus é similar, com
exceção de que os mecanismos de rebrote do último são menos
eficientes (Carámbula et al., 1994). No entanto, L. pedunculatus tem
seu valor atrelado à sua excelente capacidade colonizadora, através da
habilidade de propagar-se vegetativamente, ao passo que o cornichão
depende de um eficiente processo de sementação.
O cornichão possui características incomuns quando comparado
à maioria das leguminosas forrageiras, como: pronta formação de
gemas adventícias de raízes quando a coroa é removida, não causa
timpanismo e não parece acumular nitratos (Smith, 1966).
Nos Estados Unidos, onde a alfafa é uma das principais
forrageiras cultivadas, o cornichão foi considerado como uma das
espécies com maior potencial para substituí-la, em sistemas de
pastejo, principalmente, por ser mais produtivo em solos inférteis,
imperfeitamente drenados e por tolerar pH mais baixo (Seaney e
Henson, 1970). Para Formoso (1993), o emprego do cornichão
aumentou consideravelmente devido a características como: ampla
adaptação às variadas condições de solo, ausência de risco de
timpanismo, menor requerimento de fósforo em relação ao trevobranco e ao trevo-vermelho e ao seu bom valor nutritivo.
As
diferenças
entre
alfafa
e
cornichão,
quanto
ao
desenvolvimento morfológico, foram detalhadas por Nelson e Smith
(1968), com o objetivo de estabelecer técnicas de manejo para o
cornichão. Nesses estudos, os autores verificaram que o aumento de
matéria seca dessa leguminosa foi dependente, primariamente, da
16
produção da parte aérea, enquanto a alfafa (cv. Vernal) apresentou,
também, aumento no peso das raízes e das coroas. O cornichão
rebrotou, basicamente, de gemas axilares localizadas nos nós
superiores das hastes remanescentes após o corte, e apresentou uma
incessante ramificação, mesmo após ter iniciado o florescimento,
caracterizando um hábito de crescimento indeterminado.
Em outro estudo, Smith (1962) demonstrou que, em contraste
com o trevo-vermelho e a alfafa, o cornichão produziu somente um
crescimento da coroa, quando não cortado. Após sua expansão
vegetativa inicial, na primavera, foi mais dependente de carboidratos
sintetizados na parte aérea do que aqueles acumulados nas raízes. Isso
explica, em parte, porque essa espécie deve ser mantida com alguma
área foliar fotossintética quando cortada ou pastejada. Seu rebrote é
dependente de gemas axilares mantidas após as desfolhações. Nelson
e Smith (1968) também enfatizaram esse aspecto, verificando uma
falta de formação de gemas nas partes inferiores dos caules, devido ao
crescimento muito ativo de gemas axilares superiores. Além disso,
como há uma contínua ramificação vegetativa, mesmo após ter
iniciado o processo de florescimento, os níveis de reservas orgânicas
são baixos.
O cv. São Gabriel, “desenvolvido” a partir de introdução na
Estação Experimental de mesmo nome, segundo Caroso et al. (1981),
apresenta rápido crescimento inicial, boa produtividade e qualidade,
longo ciclo vegetativo e boa ressemeadura natural. O padrão
estacional
de
crescimento
de
forragem
desse
cultivar
é
quantitativamente similar ao descrito por outros autores para
variedades de folha larga, porte ereto ou semiereto, floração precoce e
correspondente ao tipo europeu (Formoso, 1993).
17
No Uruguai, os cultivares São Gabriel e Ganador são muito
cultivados, sendo que sua persistência depende, em boa medida, da
perenidade da planta, embora a ressemeadura natural seja importante,
apesar de errática (Garcia, 1992). Já para Beuselinck e McGraw
(1988), a persistência de estandes de cornichão é dependente da
ressemeadura natural.
Inicialmente, o manejo do cornichão, no Brasil, foi baseado
principalmente nas pesquisas realizadas no norte dos Estados Unidos,
descritas por Alison e Hoveland (1989b). Em seu trabalho, esses
autores observaram que a produção de cornichão foi reduzida entre
17% e 26% quando o intervalo de cortes dos dois anos anteriores foi
de 21 dias em vez de 42 dias, sendo que uma maior altura de corte
reduziu as flutuações nas reservas de carboidratos durante o rebrote
(Alison e Hoveland, 1989a).
Com base nos trabalhos de Smith (1962) e Nelson e Smith
(1968), cujos resultados apontaram as baixas reservas de carboidratos
não estruturais no cornichão durante a estação de crescimento, as
práticas de manejo recomendadas são que as desfolhações podem ser
freqüentes, desde que não sejam de forma intensa, ou seja, a baixas
alturas. Com tal manejo é possível deixar uma determinada área foliar,
capaz de promover um adequado rebrote.
Numa referência a tais resultados, Bosworth e Stringer (2003)
recomendam que no ano do estabelecimento, o primeiro corte do
cornichão deve ocorrer no estádio de florescimento pleno. No caso de
estandes já estabelecidos, o primeiro corte deve ocorrer no início de
florescimento, com seqüência de cortes a cada seis semanas de
intervalo. McGraw e Marten (1986), ao cortarem cornichão no estádio
de florescimento pleno, obtiveram cerca de 7 t MS/ha, verificando que
18
a curva de acúmulo total de forragem acompanhou a curva da fração
caule. A importância dessa fração na composição da forragem da
espécie foi relatada por Scheffer-Basso et al. (2002a), num estudo que
mostrou a correlação positiva entre tais variáveis.
No Brasil, Araújo e Jacques (1974), trabalhando com o cv. São
Gabriel, observaram que cortes feitos em estádios de crescimento mais
avançados promoveram uma maior produção de matéria seca, bem
como houve benefício com alturas de corte de 6 cm em relação a 3
cm, à semelhança do que foi observado por Nelson & Smith (1968)
com o cv. Empire. Os autores indicaram a necessidade de preservar as
gemas axilares, no cv. São Gabriel, para promover um rebrote mais
rápido, embora esse cultivar tenha apresentado crescimento constante
de hastes da coroa.
De acordo com Ayala et al. (1998), o cornichão é sensível a
manejos intensos e freqüentes, assim como a desfolhações tardias no
outono, o que se manifesta através de diminuições do estande, vigor
de plantas e sobrevivência invernal, entre outras. Em seu trabalho, no
Uruguai, comparando alturas (2, 6 e 10 cm) e freqüência de corte (20
e 40 dias de intervalo) no cv. Goldie (hábito semi-ereto), os autores
verificaram que a morte de plantas no inverno se situou em torno de
11% no tratamento que teve maior freqüência de corte (até junho), em
relação ao tratamento com cortes menos freqüentes (até abril), que
mostrou diminuição de 6%. A formação de novas hastes laterais no
começo da primavera foi maior para o tratamento com descanso de
outono. Com freqüência de 40 dias, aumentaram o número de hastes
laterais por metro quadrado, hastes laterais da planta e massa de coroa
da planta. A intensidade de desfolhação foi a variável que mais afetou
a sobrevivência da população e o vigor de plantas.
19
No Uruguai, Formoso (1993) relatou que a produção do
cornichão é maximizada através de um sistema de manejo rotativo que
permita o acúmulo de forragem antes do corte. Com o cv. São Gabriel,
a diminuição da freqüência de corte, obtida pelo corte das plantas,
quando alcançassem 24 cm ao invés de 12 cm, aumentou a produção
de forragem acumulada em dois anos em 207% ou em 69% em um
ano. Nesse trabalho foram obtidos rendimentos anuais de 4.130 a
10.008 kg de MS/ha, com um crescimento máximo de 74,4 kg de
MS/ha/dia para a primavera do segundo ano. Foi constatado que com
o aumento da idade do cultivo, a produção de forragem se concentrou
cada vez mais na primavera-verão.
Olmos (2001) relatou produções similares de cornichão (11.800
kg MS/ha) e trevo-branco (11.600 kg MS/ha), no Uruguai, com a
diferença de que o primeiro tem melhor desempenho no verão. Em
Santa Catarina, Flaresso e Almeida (1992) obtiveram 4.043 kg MS/ha
de cornichão.
Além do potencial forrageiro, Formoso e Allegri (1982)
constataram, num ensaio de comparação de misturas, que aquelas que
continham o cornichão apresentaram a menor proporção de plantas
daninhas e maior estabilidade de produção. Também trabalhando com
misturas, Scheffer-Basso et al. (2002b) obtiveram 13.663 kg MS/ha de
uma mistura de cornichão e festuca, na qual a leguminosa contribuiu
com 86% na mistura, no outono-inverno, e com produção de 3.500 kg
MS/ha na primavera.
O L. pedunculatus é uma leguminosa perene, com uma coroa
bem desenvolvida, possuindo rizomas e estolões. Seu sistema
radicular é superficial, constituído por raízes fibrosas e finas, sendo a
espécie de Lotus mais amplamente distribuída em locais úmidos e
20
pantanosos (Langer, s.d.). Essa espécie tem demonstrado ter muito
boa adaptação às condições ecológicas do Uruguai, integrando-se à
vegetação nativa com sucesso. As observações e estudos realizados
mostram sua alta capacidade produtiva, com uma importante
contribuição hibernal, o que o converte em material promissor para
esse país (Carámbula et al., 1994).
O cv. Maku de L. pedunculatus foi desenvolvido a partir de
materiais originários da Nova Zelândia e Portugal, apresentando
plântulas mais vigorosas e uma produção anual maior que o
cornichão. As plantas possuem um sistema subterrâneo extenso, que
consiste em uma coroa primária central e uma raiz pivotante à que se
agrega uma importante rede de rizomas, estolões e raízes fibrosas.
Tem rebrote lento e responde melhor a pastoreios rotativos ou
contínuos pouco intensos, admitindo, em geral, pastoreios severos
somente em verões úmidos ou em situações de muito baixa
competição (Carámbula et al., 1994).
Um dos primeiros estudos sobre a morfofisiologia e a resposta
ao corte com esse cultivar, foi realizado por Sheat (1980ab), na Nova
Zelândia. Com cortes intensos e pouco freqüentes, o crescimento do
dossel foi dominado por hastes dos rizomas e a quantidade de
fragmentos de hastes e restos de material morto diminuíram. Sheat
(1980a) observou que os rizomas foram, também, o principal local
para a iniciação dos brotos, e, portanto, determinaram o hábito de
crescimento das plantas. As produções obtidas, foram entre 8 e 11 t
MS/ha num intervalo de oito meses, sendo que, com cortes iniciados
no estádio reprodutivo, foi obtida a maior produção de forragem
(Sheat, 1980b).
Com base em tais resultados, Carámbula et al. (1994)
21
recomendaram cortes a 5-7 cm e especial cuidado no verão-outono,
época em que a espécie produz os novos rizomas, através de intervalos
mais longos. Esses autores relataram produção máxima do cv. Maku,
em sobressemeadura, de 1.373 kg MS/ha no primeiro ano, com 7% de
florescimento.
De acordo com Bemhaja e Risso (1998), as características
morfológicas e fisiológicas do cv. Maku permitem um bom
estabelecimento, produção e persistência. A persistência é através de
mecanismos vegetativos, já que a floração e produção de sementes é
uma limitante desse cultivar no Uruguai. Os autores obtiveram
aumentos da ordem de até 100% na produção de um campo nativo
através da introdução dessa espécie, que se mostrou bem adaptada ao
pastejo de ovinos e bovinos, permitindo uma melhor oferta de
forragem em quantidade, qualidade e distribuição.
No Brasil, também há dificuldade de adaptação desse cultivar,
por apresentar escasso florescimento, como foi constatado por
Scheffer-Basso et al. (2000), em condições de casa-de-vegetação e por
Scheffer-Basso et al. (2002b), no campo. No entender de Paim e
Riboldi (1991), é necessário um grande esforço para adaptação e
seleção de material mais adequado às condições do Rio Grande do
Sul, onde seu uso tem sido restringido pelo lento estabelecimento e
pela baixa produção e difícil colheita de sementes. Tal característica
parece estar aliada ao esparso ou, até mesmo, à ausência de
florescimento no ano de estabelecimento.
Monteiro (1981), na região da Depressão Central do Rio Grande
do Sul, observou florescimento tardio do cv. Maku, apenas aos 233
dias após a semeadura. Já, Oliveira e Paim (1990) constataram maior
precocidade (florescimento aos 188 dias) em material previamente
22
selecionado em Lages, SC, indicando uma resposta à seleção.
Num estudo de avaliação de misturas de leguminosas com
festuca, Scheffer-Basso et al. (2002b) obtiveram 1.400 kg MS/ha do
cv. Maku no outono e 760 kg MS/ha no inverno. No Uruguai, Olmos
(2001) relatou produções de 6.133 kg Ms/ha desse cultivar, em
semeadura sobre campo nativo. Em Santa Catarina, no Alto Vale do
Itajaí, Flaresso e Almeida (1992) obtiveram 2.828 kg MS/ha de
forragem desse cultivar.
2.3 Trifolium L.
Trifolium repens L.
As espécies do gênero Trifolium, que constituem os trevos
verdadeiros, produzem forragem no período em que as pastagens
naturais do sul do Brasil estão com seu desenvolvimento diminuído.
Além disso, contribuem decisivamente para o melhoramento da
fertilidade dos campos, uma vez que fixam grande quantidade de
nitrogênio através de seus nódulos radiculares (Moraes et al., 1989).
No Rio Grande do Sul, o trevo-branco é uma das espécies de
leguminosas mais usadas em pastagens consorciadas, para utilização
direta em pastejo, durante o inverno e a primavera. Nas regiões mais
frias e com boa distribuição de chuvas, vegeta o ano inteiro. Em
regiões mais quentes e sujeitas a estiagens, tem o seu período de
produção
reduzido
e,
em
situações
extremas,
apresenta
o
comportamento de espécie anual, de ressemeadura natural (Paim e
Riboldi, 1994).
Quanto à adaptação, a temperatura ótima para seu crescimento é
de aproximadamente 24°C (Hart, 1987). Essa variável pode ter uma
23
influência diferenciada se os pontos de crescimento estão em estádio
vegetativo ou reprodutivo. No seu trabalho, o autor verificou que a
formação de flores, no trevo do tipo Ladino, aumentou com altas
temperaturas (25 a 30ºC) e isto, juntamente com a diminuição da
formação de ramificações, contribuiu para uma diminuição da área
foliar.
O crescimento de trevo-branco é mínimo durante o verão,
devido à falta de tolerância à seca. A ausência de um vigoroso e
perene sistema radicular é geralmente apontada como a causa para a
falta de tolerância à seca e persistência de trevo-branco (Pederson,
1989).
Segundo
Beinhart
(1963),
o
trevo-branco
cresce
mais
rapidamente durante a primavera e o outono, quando moderadas
temperaturas prevalecem. Em seu trabalho foi observado que a
produção de folhas foi afetada pela temperatura, mas não pela
intensidade luminosa. Por outro lado, sob elevada intensidade
luminosa houve um aumento do número de ramificações, o que
ocorreu na primavera e no outono. Em contraste, as ramificações
diminuíram durante o verão. Esse resultado pode explicar, em parte, o
menor desempenho do trevo-branco, nessa estação (700 kg MS/ha),
quando comparado com o outono (2.550 kg MS/ha), inverno (2.550
kg MS/ha) e primavera (5.800 kg MS/ha), relatado por Olmos (2001),
no Uruguai.
Devido ao hábito estolonífero do trevo-branco e a ausência de
uma coroa, o entendimento da dinâmica de formação dos estolões é
fundamental para o estabelecimento do manejo da espécie e para a
seleção de cultivares.
De acordo com Garcia (1992), inicialmente a planta do trevo-
24
branco desenvolve uma raiz pivotante, que, porém, dura muito pouco,
no máximo um ano. Posteriormente, seu crescimento e sobrevivência
dependem de uma eficiente renovação de estolões e raízes, já que a
maioria dos órgãos do trevo-branco são de vida curta. O estolão é a
unidade estrutural básica da planta e contém os primórdios radiculares
que, se a umidade é adequada, desenvolvem raízes adventícias, que se
localizam nos primeiros 10 a 15 cm do solo.
Segundo Caradus & Chapman (1991) a persistência do trevobranco em regiões temperadas depende do contínuo crescimento dos
estolões, especialmente dos estolões secundários. Anteriormente,
Beinhart (1963) já havia evidenciado que o número de estolões é a
característica mais importante na persistência do trevo-branco e que
essa persistência desempenha um papel importante na produção de
forragem.
Todavia, parece haver uma correlação negativa entre a
persistência e a produção de forragem, conforme observado por
Caradus e Chapman (1991), com maior persistência para genótipos
que possuem elevado número de estolões e, conseqüentemente, um
baixo índice de colheita, comparado com genótipos não-persistentes.
Nos estudos de Hay (1983) sobre a variação estacional na
distribuição de estolões de trevo-branco, ficou evidente a existência de
uma grande população de estolões enterrados, em todas as épocas do
ano, principalmente, desde o fim do outono até o início da primavera.
Com 85% a 99% do total dos estolões abaixo da superfície do solo, é
obviamente essencial, para a sobrevivência do trevo-branco, que ele
tenha a habilidade de estabelecer pontos de crescimento sobre a
superfície do solo outra vez.
Para Nassiri e Elgersma (1998), o intervalo de desfolhação é o
25
principal fator a mostrar as diferenças de produção entre cultivares de
trevo-branco. Os trevos do tipo Ladino são beneficiados por cortes
menos freqüentes e o contrário se observa com trevo-branco de folhas
pequenas.
Elgersma e Schlepers (1997), ao compararem diferentes
freqüências de corte, promovidas por inícios de desfolhação em duas
situações de acúmulo de forragem do trevo-branco em mistura com
gramínea (2.000 kg MS/ha x 1.200 kg MS/ha), verificaram maior
produção de forragem para o primeiro tratamento. Contudo, os autores
destacaram a probabilidade desse regime ocasionar menor persistência
do trevo, pelas condições de luminosidade desfavoráveis no dossel.
Trabalhos desenvolvidos na década de 50 já indicavam que, em
geral, desfolhações mais freqüentes resultam em crescimento
reduzido, mas, em alguns estudos, dependendo da severidade da
desfolhação, o número de plantas é aumentado. Tem sido estabelecido
o princípio de que, após os cortes, o rebrote do trevo-branco envolve o
restabelecimento do equilíbrio entre as variáveis ambientais (luz e
temperatura) e o número e quantidade de folhas presentes no dossel.
Pastejos freqüentes e intensos promovem o crescimento do trevobranco, ao passo que seu estabelecimento é geralmente pobre onde o
pastejo é pouco freqüente (Brougham et al., 1978).
De qualquer modo, para que haja um rebrote adequado e a
manutenção da produção ao longo do tempo, é importante que sejam
mantidos elevados números de estolões, com intenso grau de
ramificações. É reconhecida, no entanto, que a resposta produtiva do
trevo-branco à desfolhação varia com o tamanho da folha (Kang e
Brink, 1995), ou seja, com o genótipo. Além disso, as interações entre
genótipo e ambiente são evidentes, especialmente em relação à
26
intensidade de radiação.
Caradus e Chapman (1991) observaram que sob elevado
sombreamento houve um aumento no comprimento do pecíolo e uma
diminuição da proporção de nós nas ramificações de trevo-branco.
Todavia, foi significativa a interação cultivar x intensidade luminosa
para taxa de elongação de estolão, tamanho de folha, comprimento de
pecíolo, comprimento de entrenó e proporção de nós nas ramificações.
Assim, genótipos que mantém uma alta taxa de ramificação sob
sombreamento podem ser interessantes, uma vez que os estolões são
sombreados quase todo tempo, nas condições de campo.
Thompson (1993) relatou que o crescimento de plantas de trevobranco sob sombreamento da vegetação, sem suplementação de
radiação, produziu uma baixa proporção de ramificações nos nós, com
poucas folhas por ramos e maiores entrenós e pecíolos do que plantas
não sombreadas. No trabalho de Davies e Jones (1992), a taxa de
aparecimento de folhas foi reduzida pela desfolhação e declinou
quando o comprimento dos pecíolos no campo aumentou em resposta
ao aumento da massa de forragem.
Também Beinhart (1963) havia observado que o crescimento e a
ramificação dos estolões foram reduzidos pela diminuição na
irradiação. Em seu estudo, com plantas espaçadas de trevo do tipo
Ladino, o maior número de folhas formado entre primavera e outono
foram de estolões ramificados, sendo que as ramificações não foram
freqüentes no verão, provavelmente devido às altas temperaturas.
É amplamente reconhecido que a severa, precoce ou freqüente
remoção da folhagem da pastagem leva, em geral, ao declínio da
produção. O efeito de repetidas desfolhações em trevo-branco é
cumulativo e a intensa e freqüente desfolhação baixa os níveis de
27
reservas de carboidratos (May, 1960). Hay e Newton (1996)
concluíram que, sob severa desfolhação, o potencial do crescimento
vegetativo do trevo-branco, representado pelas gemas axilares
vegetativas viáveis, foi mantido, sob dispêndio do crescimento
reprodutivo e que a perda da viabilidade das gemas axilares foi
associada com a repentina mudança no processo fisiológico induzido
pela desfolhação.
Brink e Pederson (1993) constataram que, quando a precipitação
durante a estação de pastejo foi 59% acima da normal, o método de
pastejo não teve influência na área foliar, peso seco de estolão e
densidades dos pontos de crescimento dos estolões. Em contraste, essa
resposta foi reduzida quando a precipitação foi 32% abaixo da normal,
no ano seguinte. Apesar de diversos efeitos de métodos de pastejo no
crescimento e morfologia, a sobrevivência de estolões de trevo-branco
foi sempre maior sob sistemas rotativos.
Segundo Kang et al. (1995), a desfolhação durante os estádios
iniciais de desenvolvimento de plântulas pode influenciar o
crescimento do trevo-branco. Assim, recomenda-se que as plântulas
de
trevo-branco
devem
atingir
um
adiantado
estádio
de
desenvolvimento foliar antes do início da desfolhação e deve ser
aumentado o tempo do intervalo de corte antes da subseqüente
desfolhação, a fim de elevar o crescimento de plântulas e o potencial
de sua sobrevivência.
Moraes et al. (1989), em Bagé, registraram diferenças
significativas entre os cultivares de trevo-branco, que apresentaram
um rendimento anual de massa seca variando de 3.042 kg/ha (cv.
Bagé) a 4.057 kg/ha (cv. Jacuí), no ano de estabelecimento, sendo que
o cultivar Regal produziu 3.835 kg/ha. No segundo ano, o cv. Jacuí
28
produziu 3.277 kg/ha em comparação com 944 kg/ha para o cv. Regal.
Dall’Agnol et al. (1982) obtiveram produções de 1.511 kg
MS/ha no período inverno/primavera e de 2.147 kg MS/ha no verão,
com o cultivar de trevo-branco Ladino Regal, quando cortado a 2 cm
do solo e constataram que todas as progênies e cultivares avaliados de
trevo-branco, persistiram bem no verão.
Na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, SchefferBasso et al. (2002b), ao avaliar o desempenho de dois cultivares de
trevo-branco (Yi e Regal) em mistura com festuca, destacaram a
maior produção total do cv. Yi (6.000 kg MS/ha) em relação ao cv.
Regal (2.100 kg MS/ha).
Considerando-se que a ressemeadura natural também auxilia na
persistência de estandes de trevo-branco, o padrão de florescimento
foi analisado nas condições do Rio Grande de Sul por Franke e
Nabinger (1991). Os autores observaram que há um comportamento
cíclico, com vários picos de emissão de botões florais, sendo o
primeiro pico o principal responsável pelo rendimento de sementes,
tanto no primeiro como no segundo ano. Segundo Paim e Riboldi
(1994), mesmo com pastejo intenso ou cortes freqüentes, em época de
floração intensa, ocorre a produção de sementes, porque os estolões
estão ao nível do solo e entre o surgimento do botão floral e a
maturação das sementes são necessários, em períodos quentes, apenas
de 20 a 30 dias.
A relação entre o florescimento e o crescimento do trevo-branco
é complexa e a resposta imediata ao início desse processo é um
estímulo ao crescimento, porém, seguido de uma redução no vigor
vegetativo e conseqüentemente, na persistência. Por ocasião do
florescimento, cada inflorescência produzida significa a eliminação do
29
potencial de uma gema produzir um estolão. Portanto, segundo Frame
e Newbould (1986), se, por um lado, o florescimento profuso pode
afetar negativamente a persistência, por outro, se as sementes forem
formadas, a longevidade do estande será garantida.
As chances do trevo-branco persistir de uma estação de
crescimento a outra são fortemente influenciadas pelo grau de
florescimento. Segundo Thomas (1987), as razões para isso seriam: a)
a iniciação do primórdio floral tem um efeito inibitório no
crescimento, b) o crescimento lateral dos estolões e raízes é reduzido
como um resultado da competição por nutrientes entre flores não
fertilizadas, sementes em desenvolvimento e órgãos vegetativos, c) a
maioria dos nós formados estão comprometidos com a formação da
inflorescência e poucos, com a formação de novos estolões.
3 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido de maio de 2000 a setembro de
2001, no Campo Experimental da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, localizada no
município de Passo Fundo, rodovia BR 285, km 171.
Passo Fundo está localizado na região fisiográfica do Planalto
Médio, Rio Grande do Sul, com coordenadas 28°15’S e 52º24’W e
687 m de altitude média, na Zona Climática Fundamental Temperada
C, apresentando clima fundamental úmido e variedade subtropical.
Desse modo, o clima local é descrito como subtropical úmido, com
chuvas bem distribuídas durante o ano e com temperatura média do
mês mais quente superior a 22 °C (Moreno, 1961). Na Tabela 1
30
constam as informações sobre temperatura e pluviosidade normais da
região de Passo Fundo, bem como os dados meteorológicos do
período experimental.
O solo da unidade de mapeamento Passo Fundo é classificado
como latossolo vermelho-escuro distrófico, com textura argilosa
(42%). Após a adubação, o solo apresentou as seguintes características
químicas, no início do período experimental: pH (SMP)=5,8,
M.O.=3,6%, P=11 mg/L, K=176 mg/L, Al=0 cmolc/L, Ca=4,1
cmolc/L, Mg=3,2 cmolc/L.
A área experimental onde foi estabelecido o ensaio é o alto de
uma coxilha (Figura 1), com ótimas condições de drenagem, sendo
que no verão anterior havia sido cultivada com soja (Glycine max).
Tabela 1. Dados meteorológicos correspondentes ao período
experimental e médias normais para Passo Fundo, RS
Meses
Temperatura média
Precipitação
Média
Normal
Total
Normal
Junho/2000
14,4
12,7
205,5
129,4
Julho/2000
9,6
12,8
148,1
153,4
Agosto/2000
13,8
14,0
83,8
165,7
Setembro/2000
15,0
14,8
169,0
206,8
Outubro/2000
18,8
17,7
339,3
167,1
Novembro/2000
19,8
19,8
164,2
141,4
Dezembro/2000
21,5
21,5
159,9
161,5
Janeiro/2001
22,0
22,1
212,5
143,4
Fevereiro/2001
22,7
21,9
196,5
148,3
Março/2001
22,0
20,6
110,5
121,3
Abril/2001
19,9
17,6
118,4
118,2
Maio/2001
13,6
14,3
164,6
131,3
Junho/2001
13,5
12,7
106,3
129,4
Julho/2001
13,3
12,8
103,5
153,4
Agosto/2001
16,6
14,0
28,1
165,7
Setembro/2001
15,5
14,8
240,0
206,8
Fonte: www.cnpt.embrapa.br
31
O ensaio constou de um bifatorial, no qual sete genótipos de
leguminosas, incluindo duas populações de A. latifolia (Bagé e
Lages), duas populações de A. tristis (Lages, acesso BRA 001457 e
Painel, acesso BRA 001499), cornichão cv. São Gabriel (L.
corniculatus), L. pedunculatus cv. Maku e trevo-branco cv. Regal (T.
repens), foram submetidos a dois regimes de desfolhação em função
do estádio fenológico por ocasião do primeiro corte: final do estádio
vegetativo e florescimento pleno. O final do estádio vegetativo foi
considerado quando foi observado o primeiro sinal de formação de
botão floral. Os tratamentos foram dispostos em sistema de parcelas
subdivididas, nas quais a parcela principal alocou as leguminosas e as
subparcelas, o regime de corte. O delineamento foi em blocos ao
acaso, com três repetições.
Figura 1. Detalhe da área experimental, mostrando, em primeiro
plano, uma parcela de A. tristis Lages, por ocasião de um
corte (novembro/00).
32
As parcelas principais mediram 2,0 m de largura por 6,3 m de
comprimento, formadas por cinco linhas, distantes 0,4 m, com
espaçamento entre plantas de 0,3 m. As subparcelas eram de 2,0 m de
largura por 3,15 m de comprimento, tendo uma área útil de 3,42 m2
(1,20 m de largura x 2,85 m de comprimento), pois foram
consideradas somente as três linhas centrais, sendo desprezadas as
bordaduras e a primeira fileira.
Como havia quantidade limitada de sementes das espécies
nativas e do cv. Maku, as plântulas foram obtidas através de
germinação em caixas Gerbox. As sementes de Adesmia foram
colocadas em água fervente durante cinco minutos, para a superação
da dureza, e, posteriormente, permaneceram no germinador a 25°C,
até a emissão da radícula e dos cotilédones. Em seguida, as plântulas
foram transplantadas para bandejas multicelulares (128 células) com
uma plântula/célula. Para as demais leguminosas não foi realizada
escarificação. Após o transplante, foi aplicado inoculante específico
para cada espécie, na água de irrigação. As bandejas permaneceram
em casa-de-vegetação até as plântulas atingirem o estádio de três a
quatro folhas, quando então, foram transplantadas para o campo, nos
dias 22 e 23 de maio de 2000.
A área experimental foi previamente submetida à aplicação de
herbicida de ação total e adubada com 300 kg/ha de NPK (5-25-20).
Durante a primeira semana após o plantio foi feita irrigação para
garantir a sobrevivência das plantas, assim como o aplicação de iscas
e inseticidas para controle de grilos, gafanhotos e formigas. Na fase de
estabelecimento, as plantas daninhas foram retiradas manualmente.
Foi aplicado inoculante em via líquida nas parcelas de Adesmia
latifolia, após verificação da ausência de nódulos. Mesmo assim, as
33
populações de A. latifolia apresentaram poucos nódulos e de tamanho
reduzido, indicando ineficiência do rizóbio.
Na primavera-verão do primeiro ano, a elevada pluviosidade
promoveu uma maior incidência de dicotiledôneas, o que impediu a
aplicação de herbicidas. Dessa forma, eliminaram-se apenas as
espécies eretas, e não foi possível controlar espécies rasteiras, como
gorga (Spergula arvensis L.) e poaia (Richardia sp.), principalmente
nas parcelas das leguminosas estoloníferas e rizomatosas.
Os cortes, para as espécies estoloníferas (A. latifolia, trevobranco), foram realizados a 4 cm da base das plantas, e, para as
demais espécies, a 8 cm da superfície do solo. Imediatamente antes
dos cortes foi determinada a estatura do dossel e o estádio de
desenvolvimento das plantas. A partir do corte inicial, os demais
foram realizados com intervalos de 45 dias. Para a decisão do início
dos cortes referentes ao estádio vegetativo, escolheu-se o trevo-branco
como padrão para A. latifolia, ao passo que para A. tristis e L.
pedunculatus, a referência foi o cornichão.
As avaliações referentes à produção e composição da forragem
foram realizadas em amostras retiradas de uma área de 0,30 m x 0,80
m, delimitado por um retângulo metálico (0,24 m2) localizado no
centro das duas linhas centrais das parcelas. O corte era realizado com
tesouras de esquilar.
De cada subamostra foram separadas: folhas verdes, folhas
senescentes, inflorescências e frutos, material morto e plantas
daninhas. Para as espécies com presença de caules eretos (A. tristis,
Lotus sp.) foram escolhidas as dez hastes de maior comprimento para
a estimativa do percentual de contribuição dessas frações. Tais frações
foram colocadas em estufa a 65 °C, até peso constante e,
34
posteriormente, pesados. Após a retirada da amostra, as parcelas
foram cortadas nas alturas pré-determinadas, com auxílio de tesouras
de esquilar e, à medida em que o crescimento aéreo foi mais intenso,
com uma segadora costal, sendo
a posterior retirada do material
presente sobre as parcelas, através de ancinhos.
O índice de competição leguminosas x plantas invasoras foi
determinado dividindo-se a produção de forragem disponível pela
produção de plantas daninhas, conforme (Braun-Blanquet, 1979).
O cronograma dos cortes nas diferentes leguminosas, em
função do regime de corte é apresentado na Tabela 2.
Tabela 2. Datas dos cortes nas leguminosas, em função do regime de cortes
Regime do 1º
Leguminosas
corte
Adesmia Adesmia Lotus
Lotus
Trifolium
latifolia tristis
corniculatus pedunculatus repens
Vegetativo
1o
23/08/00 26/09/00 26/09/00
26/09/00
23/08/00
2o
07/10/00 11/11/00 11/11/00
11/11/00
07/10/00
3o
21/11/00 27/12/00 27/12/00
27/12/00
21/11/00
4o
08/01/01 09/02/01 09/02/01
09/02/01
08/01/01
5o
21/02/01 21/03/01 21/03/01
21/03/01
21/02/01
6o
10/04/01 +
08/05/01
08/05/01
10/04/01
7o
25/05/01 +
22/06/01
22/06/01
25/05/01
8o
09/07/01 +
06/08/01
06/08/01
09/07/01
9o
24/08/01 +
24/09/01
24/09/01
24/08/01
Florescimento
1o
11/11/00 01/12/00 23/12/00
*
11/11/00
2o
27/12/00 24/01/01 07/02/01
*
27/12/00
3o
08/02/01 09/03/01 21/03/01
*
08/02/01
4o
21/03/01 +
08/05/01
*
21/03/01
5o
08/05/01 +
22/06/01
*
08/05/01
6o
22/06/01 +
06/08/01
*
22/06/01
7o
06/08/01 +
24/09/01
*
06/08/01
+ plantas mortas; * plantas não floresceram.
35
Dois procedimentos de análise estatística foram realizados, em
virtude de que o L. pedunculatus não floresceu e, portanto, não foi
submetido a cortes no estádio de florescimento. Assim, a análise da
variância para os dados relativos às demais espécies foi realizada
conforme esquema de parcela subdividida. Para comparar a produção
de forragem do L. pedunculatus com as demais espécies, foi realizada
a análise de variância dentro de cada regime de cortes.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4. 1 Fenologia e estatura
A fenologia das leguminosas ao longo do período experimental
consta na Tabela 3, na qual se observa que apenas o L. pedunculatus
não floresceu. Essa espécie tem mostrado limitação para sua expansão
no sul do Brasil, em função de problemas no florescimento, como foi
constatado por Scheffer-Basso et al. (2002b), no mesmo local deste
trabalho. A superação desse problema, no entender de Paim & Riboldi
(1991), é a seleção de material mais adequado às condições do Rio
Grande do Sul.
A espécie mais precoce foi o trevo-branco, que, por ocasião do
segundo corte, no regime Vegetativo (out/nov), já estava em
florescimento pleno. Essa leguminosa foi a que apresentou maior
número de ciclos de florescimento, estendendo-se até o final do verão.
Franke e Nabinger (1991) também observaram a ocorrência de mais
de um ciclo de florescimento em cultivares de trevo-branco, na
Depressão Central, com maior concentração de inflorescências entre
outubro e janeiro.
36
Tabela 3. Fenologia das leguminosas hibernais ao longo do período de
avaliação, em função do estádio fenológico por ocasião do início
dos cortes
Regime do 1º
Leguminosas
corte
ALB
ALL
ATL ATP LC
LP TR
Vegetativo
1º (ago/set)
V
V
V
V
V
V
V
2º (out/nov)
IF
IF
IF
IF
IF
V
FP
3º (nov/dez)
FP/FR FP/FR V
V
FR
V
FP
4º (jan/fev)
V
V
IF
FP
FP/FR V
IF
5º (fev/mar)
V
V
V
V
V
V
FF/V
6º (abr/mai)
V
V
V
V
V
7º (mai/jun)
V
V
V
V
V
8º (jul/ago)
V
V
V
V
V
9º (ago/set)
V
V
V
V
V
Florescimento
1º (nov/dez)
FP
FP
FP/FR FP/FR FP/FR V
FP
2º (dez/jan)
V
V
FP
FP/FR FP
V
V
3º (fev/mar)
V
V
V
V
V
V
FP
4º (mar/mai)
V
IF
V
V
V
5º (mai/jun)
V
V
V
V
V
6º (jun/ago)
V
V
V
V
V
7º (ago/set)
V
V
V
V
V
IF= início de florescimento, FF= final do florescimento, FP= florescimento
pleno, FR= frutificação, V= vegetativo.
Pelas observações, o intervalo de 45 dias foi suficiente para que
as plantas de trevo-branco rebrotassem e iniciassem um novo ciclo
reprodutivo, formando sementes. Segundo Paim e Riboldi (1994),
mesmo com pastejo intenso ou cortes freqüentes, em época de
floração intensa, ocorre a produção de sementes, porque os estolões
estão ao nível do solo e entre o surgimento do botão floral e a
maturação das sementes são necessários, em períodos quentes, apenas
de 20 a 30 dias
Quanto à A. latifolia, a população Bagé mostrou maior
sincronia de florescimento em relação às demais espécies, iniciando e
finalizando seu ciclo reprodutivo na primavera, especialmente no
37
regime Florescimento. A população Lages floresceu novamente no
final do verão, embora com menor intensidade em relação ao primeiro
ciclo de florescimento.
A estacionalidade dos eventos fenológicos observados nessa
espécie estão de acordo com Miotto e Leitão Filho (1993), que a
descreveram como hiberno-primaveril, isto é, começa a vegetar no
outono, permanecendo verde durante os meses de inverno e iniciando
sua floração em outubro, a qual pode se estender até abril, quando as
plantas não são submetidas a cortes.
A sincronia de florescimento (outubro e novembro), nessa
espécie, quando submetida a cortes, facilita o processo de colheita de
sementes. Ao mesmo tempo, exige um manejo criterioso quanto à
época de diferimento para que ocorra a ressemeadura natural (Figura
2). Em contrapartida, se o florescimento ocorre em época de
adversidade climática, as inflorescências podem se tornar inférteis,
deixando de produzir sementes. Vendo por esse contexto, em campo
nativo, é interessante que não haja essa sincronia de florescimento,
permitindo assim, um escalonamento da formação de inflorescências,
para garantir a sobrevivência da espécie.
As duas populações de A. tristis também não diferiram entre si,
quanto ao início da floração (meados da primavera), com
comportamento similar ao cornichão. No entanto, sob o regime
Vegetativo, esse último frutificou em meados do verão, ao passo que
na A. tristis, o intervalo entre cortes não foi suficientemente longo
para que ocorresse a frutificação.
A população Painel apresentou maior precocidade em relação à
Lages, estando em florescimento pleno nos meses de janeiro-fevereiro
no regime Vegetativo (Tabela 3). Segundo Miotto e Leitão Filho
38
(1993) essa espécie inicia seu crescimento vegetativo no outono,
atravessando os meses de inverno com a parte aérea verde e
apresentando o florescimento e frutificação nos meses de dezembro e
janeiro, tal como foi verificado neste estudo.
Figura 2. Detalhe de duas parcelas com A. latifolia, no estádio de
florescimento.
O cornichão apresentou três ciclos de florescimento no regime
Vegetativo e dois no Florescimento, demonstrando capacidade de
rebrote suficiente para permitir novas florações.
As alterações fenológicas normalmente têm relação com a
estatura das plantas, uma vez que por ocasião do início do
florescimento, as espécies eretas alongam os entrenós e, portanto,
aumentam sua estatura.
Neste trabalho, foi observado que, no regime Vegetativo, as
espécies estoloníferas, A. latifolia e T. repens, apresentaram as
39
menores estaturas, uma vez que são dependentes unicamente da
expansão das folhas (Figura 3).
A. latifolia Bagé
30
A. latifolia Lages
Estatura (cm)
25
T. repens
20
15
10
5
0
ag-00
out-00 nov-00 jan-01
fev-01
abr-01 mai-01
jul-01
ag-01
Estatura (cm)
Meses
70
A. tristis Lages
60
A. tristis Painel
50
L. corniculatus
L. pedunculatus
40
30
20
10
0
ag-00
out-00 nov-00 jan-01 fev-01 abr-01 mai-01 jul-01
ag-01
Meses
Figura 3. Estatura das leguminosas (Adesmia, Lotus, Trifolium)
durante os cortes efetuados no regime Vegetativo.
As maiores estaturas ocorreram na primavera e no verão, e as
menores, no outono. O dossel formado pelo trevo-branco foi mais alto
em relação às populações de A. latifolia e, dentro dessas, a população
Lages sempre foi superior à Bagé.
40
As espécies eretas (cornichão, A. tristis) ou semi-eretas (L.
pedunculatus) diferiram quanto à época de maior estatura: A. tristis
teve maior estatura na primavera, ao passo que os Lotus apresentaramse mais altos no verão, caracterizando diferenças quanto à
estacionalidade de crescimento. O outono foi a estação na qual essas
leguminosas estavam com menor estatura do dossel, à semelhança das
outras espécies.
Entre as populações de A. tristis, a Lages teve estatura superior,
indicando um hábito mais ereto em relação à Painel, também
constatado por Scheffer-Basso (1999).
No regime Florescimento, as estaturas foram similares àquelas
obtidas no Vegetativo, com exceção das populações de A. tristis, que
tiveram tempo suficiente para expressar seu hábito subarbustivo
(Figura 4), confirmando descrição de Miotto & Leitão Filho (1993) a
esse respeito.
Estatura (cm)
41
35
A. latifolia Lages
30
T. repens
A. latifolia Bagé
25
20
15
10
5
0
Nov/Dez
Dez/Jan
Fev/Mar
Mar/Mai
Mai/Jun
Jul/Ago
Ago/Set
Estatura (cm)
Meses
140
A. tristis Painel
120
L. corniculatus
100
A. tristis Lages
80
60
40
20
0
Nov/Dez Dez/Jan
Fev/Mar Mar/Mai Mai/Jun
Jul/Ago
Ago/Set
M eses
Figura 4. Estatura das leguminosas (Adesmia, Lotus, Trifolium)
durante os cortes efetuados no regime Florescimento.
4.2 Estatura das leguminosas ao início dos cortes
As leguminosas, por ocasião do início dos cortes, estavam com
estatura variando entre 6 e 23 cm, no regime Vegetativo, e entre 15 e
121 cm, no regime Florescimento (Tabela 4), demonstrando a
variabilidade interespecífica do material estudado.
42
Tabela 4. Produção de forragem e estatura das leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) por ocasião do primeiro corte, em função do estádio
fenológico
Leguminosas
Estádio fenológico
Vegetativo
Florescimento
Forragem
Estatura
Forragem
Estatura
(kg MS/ha)
(cm)
(kg MS/ha)
(cm)
L. corniculatus
953 a
22 a
6.095 a
39 c
A. tristis Lages
621 ab
23 a
7.737 a
121 a
L. pedunculatus
439 bc
11 b
--------A. tristis Painel
159 cd
14 ab
5.162 ab
93 b
T. repens
37
d
10 b
1.687 bc
29 cd
A. latifolia Lages
7
d
8 b
1.080 c
20
d
A. latifolia Bagé
5
d
6 b
1.091 c
15
d
Média
317
14
3.809
53
Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem pelo teste de
Tukey (P>0,05).
Para o regime Vegetativo, as leguminosas estoloníferas, A.
latifolia e trevo-branco, estavam com baixa estatura, o que ocasionou
as baixas produções de forragem (Tabela 4). Nessa época, os estolões
estavam em estádio inicial de desenvolvimento. Uma vez que essas
espécies dependem de tais estruturas para produzir e persistir, é
fundamental que o início dos pastejos coincidam com uma condição
de maior desenvolvimento dos mesmos. Por outro lado, considerandose a situação comumente utilizada, de consorciação com gramíneas,
há que se ter o cuidado de promover boa luminosidade na base do
dossel, para garantir o bom desenvolvimento dos estolões.
Segundo Kang et al. (1995), as plântulas de trevo-branco devem
atingir um adiantado estádio de desenvolvimento foliar antes do início
da desfolhação e deve ser aumentado o tempo do intervalo de corte
antes da subseqüente desfolhação, a fim de elevar o crescimento de
plântulas e o potencial de sua sobrevivência.
43
Para as demais espécies, as estaturas foram superiores a 10 cm,
com os maiores valores na A. tristis Lages e no cornichão, no regime
Vegetativo, demonstrando seu hábito mais ereto em relação às demais.
As produções de forragem foram, de certa forma, relacionadas
com a estatura. O L. pedunculatus pode ser considerado uma exceção,
pois apesar de sua baixa estatura, teve produções relativamente
elevadas em relação às demais. Isso pode ser atribuído ao seu hábito
rizomatoso, que induz à expansão horizontal e o conseqüente
surgimento de hastes aéreas.
Apesar
do
cornichão
ter
apresentado
uma
estatura
significativamente inferior (P<0,05) às duas populações de A. tristis
no regime Florescimento, a produção de forragem entre essas espécies
foi similar, indicando uma estratégia de produção de biomassa aérea
diferente. O cornichão é uma leguminosa mais compacta, com maior
ramificação basilar e maior tamanho de folíolos, em relação à A.
tristis.
4.3 Produção total de forragem
A produção total de forragem compreendeu a soma dos cortes
efetuados, perfazendo um período de 9 e 12 meses, para os regimes
Florescimento e Vegetativo, respectivamente. Para tal variável, a
análise da variância mostrou efeito significativo da interação
Leguminosa x Regime de corte. Para o cornichão e as populações de
A. latifolia não houve efeito do regime de corte, ao contrário do que
foi observado para as demais espécies (Tabela 5).
Considerando-se as produções dentro de cada regime, o
cornichão superou as demais espécies (P<0,05), produzindo quase 15 t
44
MS/ha, num período de dezesseis meses entre o transplante e o último
corte. No regime Vegetativo, o trevo-branco e o L. pedunculatus não
diferiram entre si, com média de 8 t MS/ha, ao passo que foi obtido,
no máximo, cerca de 4 t MS/ha de A. tristis Lages). Em compensação,
no regime Florescimento, as populações de A. tristis se assemelharam
ao trevo-branco.
Tabela 5. Produção total de forragem de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do início
dos cortes
Leguminosas
Estádio fenológico
Vegetativo
Florescimento
-----------------------MS (kg/ha) --------------------L. corniculatus
14.909 a A
14.311 a A
T. repens
9.403 b A
6.964 b B
L. pedunculatus
7.095 b
----A. tristis Lages
3.930 c B
8.240 b A
A. latifolia Lages
2.617 c A
3.035 cd A
A. tristis Painel
2.591 c B
5.988 bc A
A. latifolia Bagé
1.867 c A
1.356
dA
Média
6.073
6.649
Médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas
linhas, não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05).
A produção do cornichão pode ser considerada excelente,
superior às obtidas (10 t MS/ha) por Formoso (1993) e similar às
verificadas por Olmos (2001), no Uruguai. Isso confirma sua
adaptação para a região do Planalto Médio, já observada por SchefferBasso et al. (2002b), salientado-se que, no período experimental, as
condições de precipitação foram excelentes, assim como as
temperaturas da primavera-verão.
Os regimes de corte não afetaram significativamente as
produções de forragem de cornichão, havendo, portanto, uma
compensação. No regime Florescimento a média de produção/corte foi
de 2.044 kg MS/ha, sendo que no Vegetativo foi de 1.657 kg MS/ha,
45
numa conseqüência do diferente número de cortes entre os dois
regimes. O atraso de cerca de 90 dias entre o início dos cortes nos dois
regimes de corte permitiu um acúmulo adicional de 5.142 kg MS/ha
(Tabela 6). No entanto, com a antecipação dos cortes, no Vegetativo,
foi acumulado, no mesmo período, 6.224 kg MS/ha, evidenciando
diferentes possibilidades de manejo.
Esse
comportamento indica
que não ocorreram perdas
consideráveis de material verde, o que pode ser atribuído ao seu hábito
de crescimento ereto, que condiciona uma boa penetração da luz. A
estrutura vertical traz a vantagem da atenuação gradual da radiação ao
longo do dossel, em relação às espécies prostradas (Pearson e Ison,
1997). Tal vantagem se traduz na já reconhecida versatilidade de seu
uso: pastejo, feno, produção de sementes ou banco de proteína. Com
base nas produções obtidas neste trabalho, numa situação de pastejo, a
utilização do cornichão pode iniciar antes do florescimento,
permitindo boas produções de forragem até meados do outono.
Observa-se na Tabela 6, que no sexto corte do regime
Vegetativo, foi colhida cerca de 1 t MS/ha, numa época crítica em
produção de forragem (outono). Por outro lado, caso seu cultivo tenha
a finalidade de produção de feno, o primeiro corte pode ser atrasado
até o florescimento pleno, sendo possível dois cortes com cerca de 5 a
6 t MS/ha, num intervalo de apenas 45 dias. Esse comportamento
condiz com a afirmação de Seaney e Henson (1970), de que é possível
de duas a três colheitas de cornichão para feno, dependendo da
extensão da estação de crescimento. McGraw e Marten (1986), em
corte de cornichão no estádio de florescimento pleno, obtiveram cerca
de 7 t MS/ha. No Florescimento obteve-se, ainda, uma ótima produção
no terceiro corte, quando já era final do verão. Em ambos os regimes
46
de corte foi verificada uma pequena produção dos rebrotes no inverno,
atestando seu caráter macrotérmico, ou seja, produção primaveroestival (Formoso, 1993).
Tabela 6. Produção estacional de forragem de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do início
dos cortes
Leguminosas
a) Vegetativo
Ag/
Set
Época dos cortes
Out/ Nov/ Jan/ Fev/ Abr/ Mai/ Jul/
Nov Dez Fev Mar Mai Jun Ag
Ag/
Set
------------------------------- MS (kg/ha) ------------------------------953 3205 2066 3937 2807 1172 150 156 463
a
a
a
a
a
c
b
b
a
A. tristis Lages
621 2158 378 527 246 ab
ab
bc
c
c
L. pedunculatus
439 1002 403 2345 1573 381 244 240 467
bc
bc
b
b
b
b
b
b
bc
A. tristis Painel
159 2024 81
284 44
cd
ab
c
c
c
T. repens
37
1865 2003 618 1653 878 730 753 866
d
ab
a
c
b
a
a
a
a
7
289 2177 28
67
19
11
6
13
A. latifolia Lages
d
c
a
c
c
c
d
c
c
A. latifolia Bagé
5
289 1286 198 73
6
2
4
4
d
c
ab
c
c
c
d
c
c
b) Florescimento
Leguminosas
Cortes
Nov/ Dez/ Fev/ Mar/ Mai/ Jun/ Ag
Dez Jan Mar Mai Jun Ag Set
----------------------MS (kg/ha)---------------------L. corniculatus
6095 5067 2117 479 93
73
387
a
a
a
b
b
b
b
A. tristis Lages
7737 197 306 a
b
b
A. tristis Painel
5162 471 355 ab
b
b
T. repens
1687 512 1507 1011 791 590 866
bc
b
a
a
a
a
a
A. latifolia Lages
1080 48
116 1011 685 47
48
c
b
b
a
a
bc
c
A. latifolia Bagé
1091 73
91
17
29
30
26
c
b
b
c
b
bc
c
Para cada regime de cortes, médias seguidas de mesma letra, na coluna, não
L. corniculatus
diferem significativamente pelo teste de Tukey (P>0,05).
47
No Brasil, há poucos trabalhos sobre manejo de cornichão,
especialmente considerando os estádios fenológicos, em situação de
campo. Uma das poucas referências é de Araújo e Jacques (1974), que
obtiveram maior produção de massa seca em cortes feitos em estádios
de crescimento mais avançados. Nos Estados Unidos, Bosworth e
Stringer (2003) recomendam que no ano do estabelecimento, o
primeiro corte do cornichão deve ocorrer no estádio de florescimento
pleno. No caso de estandes já estabelecidos, o primeiro corte deve
ocorrer no início de florescimento, com seqüência de cortes a cada
seis semanas de intervalo.
Juntamente com o cornichão, o trevo-branco (Figura 5) foi a
espécie com melhor desempenho, num reflexo da domesticação e dos
esforços das pesquisas com tais leguminosas nas últimas décadas.
Figura 5. Detalhe de uma parcela de T. repens no estádio de
florescimento.
48
Ao contrário do cornichão, o trevo-branco não mostrou a mesma
compensação entre as produções nos dois regimes. Obteve-se
significativamente (P<0,05) maior produção de forragem dessa
espécie no regime Vegetativo (+26%), em relação ao regime
Florescimento (Tabela 5), em função do maior número de cortes
realizado com tal manejo, uma vez que a produção média/corte foi
muito similar, 1.041 (Vegetativo) e 995 kg MS/ha (Florescimento).
No trevo-branco, nos três primeiros cortes do regime Vegetativo,
período de tempo similar ao do primeiro corte no regime
Florescimento, obteve-se 3.905 kg MS/ha, em relação a apenas 1.687
kg MS/ha nesse último (Tabela 6). Isso demonstra a vantagem em se
iniciar a utilização dessa espécie mais cedo, uma vez que os rebrotes
posteriores
não
foram
prejudicados
pelo
manejo
precoce,
possibilitando boas produções de forragem na primavera.
Assim, considerando-se que houve um intervalo de cerca de 90
dias entre o início dos cortes nos dois regimes, e que nesse mesmo
período foi possível efetuar três cortes no Vegetativo, deixou-se de
colher 2.218 kg MS/ha, pelo simples atraso na utilização.
Essa perda de massa pode ser creditada ao hábito de crescimento
da espécie, que depende da ramificação dos estolões para formar
novas folhas. Com o crescimento excessivo, que ultrapassa o índice de
área foliar ótimo, há um sombreamento que limita a ativação das
gemas, e, portanto, a ramificação dos estolões e surgimento de novas
folhas. Segundo Thompson (1993), o crescimento de plantas de trevobranco sob sombreamento produz uma baixa proporção de
ramificações nos nós, com poucas folhas por ramos e maiores
entrenós e pecíolos do que plantas não sombreadas.
49
O L. pedunculatus (Figura 6) mostrou produção intermediária (7
t MS/ha) entre o cornichão e o trevo-branco. Observa-se, portanto, que
para o mesmo cronograma de cortes seguido para o cornichão, sua
produção foi a metade em relação a esse último. Trata-se de uma
planta com outro hábito de crescimento, cuja formação de rizomas
promove a alocação de fotossintatos, sendo um forte dreno (Figura 7).
Figura 6. Detalhe de uma parcela de L. pedunculatus.
As produções do cv. Maku foram similares às obtidas por Olmos
(2001), no Uruguai (6.133 kg MS/ha), em semeadura sobre campo
nativo, e superiores às relatadas (2.828 kg MS/ha) por Flaresso e
Almeida (1992), no Vale do Itajaí (SC), atestando diferenças
ambientais e de manejo. Scheffer-Basso et al. (2002b), trabalhando
com misturas de leguminosas com festuca, obtiveram 1.400 kg MS/ha
do cv. Maku, no outono, e 760 kg MS/ha no inverno.
50
Figura 7. Detalhe dos rizomas e raízes de L. pedunculatus ao final do
período experimental (outobro/01).
Quanto ao desempenho produtivo das leguminosas nativas,
observou-se efeito do regime de cortes apenas para as populações de
A. tristis, que dobraram sua produção quando submetidas ao regime
Florescimento (Tabela 5), como uma conseqüência da expansão
vertical das plantas, uma vez que seu hábito é subarbustivo.
Isso significa que, ao contrário do trevo-branco e do cornichão,
o atraso na utilização de A. tristis implica numa produção muito
superior (P<0,05) à obtida sob regimes de utilização mais precoce.
Evidentemente que, em função de seu hábito (Figura 8), essa maior
produção deve estar atrelada a uma considerável redução da qualidade
da forragem, pelo aumento proporcional de caules, que, nessa espécie
tem sua DIVMO muito baixa (34,85% a 44,73%) (Scheffer-Basso et
al., 2001).
51
Figura 8. Detalhe da área experimental, mostrando, em primeiro
plano, à esquerda, A. tristis Lages, e à direita, L.
corniculatus.
Na comparação entre as duas populações de A. tristis, apesar de
não haver diferença significativa entre ambas, quanto à produção de
forragem, a população Lages apresentou maiores produções em ambos
os regimes de corte, o que pode ser atribuído ao seu hábito mais ereto
(Tabela 5).
Quanto à A. latifolia, se comparada com o trevo-branco, numa
menção ao mesmo hábito de crescimento, não houve resposta ao
manejo imposto, indicando um modelo diferenciado de crescimento e
que merece ser investigado. Na época do segundo corte, no regime
Vegetativo, as populações possuíam em média 125 estolões/0,24 m2,
superior ao trevo-branco, com 91 estolões/0,24 m2. Em compensação,
no início do outono (março/01), o trevo-branco possuía cerca de 140
estolões/0,24 m2, em relação a 17 estolões/0,24 m2 nas populações de
A. latifolia. Comparando os dados fenológicos (Tabela 3) com as
52
produções de cada corte (Tabela 6), verifica-se que as maiores
produções
de
forragem
ocorreram
no
mesmo
estádio
de
desenvolvimento, isto é, quando as plantas estavam em florescimento,
em novembro.
Em relação ao desempenho das duas populações de A. latifolia,
a Lages mostrou maior produção (P>0,05), especialmente no regime
Florescimento (Tabela 5), devido, principalmente, ao melhor rebrote
no final do verão, quando produziu o mesmo que o trevo-branco
(1.011 kg MS/ha) (Tabela 6). Essa população teve dois picos
produtivos (Tabela 7 e Figura 10), ao passo que a Bagé mostrou maior
estacionalidade (Tabela 7 e Figura 9). Essa diferença pode ser devido
a fatores como número de estolões, comprimento de entrenós, entre
outros.
Em nível de campo, comparando-se o grau de expansão
horizontal de trevo-branco com A. latifolia, verificou-se que essa tem
maior capacidade de exploração das áreas em nível de distância
percorrida pelos entrenós, mais longos do que o trevo-branco (Fávero
et al., 2002). O trevo-branco, por sua vez, tem entrenós curtos,
adquirindo uma forma mais compacta e com maior potencial de
formação de folhas e entrenós numa mesma área. Tais diferenças de
estratégia de crescimento podem explicar as diferenças de produção e
persistência.
Assim, o pobre rebrote da A. latifolia pode estar vinculado ao
seu modelo de crescimento, caracterizado por longos estolões e
entrenós e baixa capacidade de ramificação dos primeiros. Observouse, neste estudo, um deslocamento da área de produção de forragem
ao longo do ano, havendo um desaparecimento quase total das plantas
no local de plantio, assemelhando-se a uma planta anual. À medida
53
que o tempo passou, a massa verde se concentrou cada vez mais
distante do ponto de origem dos primeiros estolões, abrangendo os
caminhos e as áreas externas do ensaio. Burkart (1952) descreveu as
espécies de Adesmia de hábito estolonífero como “viajantes”. Tal
comportamento
demográfico
sinaliza
para
a
necessidade
do
diferimento para que ocorra a ressemeadura natural e, dessa forma,
seja obtida a persistência da espécie na pastagem.
Esses resultados confirmam constatação de Miotto e Leitão
Filho (1993) de que a ocorrência dessa espécie é esporádica, às vezes
luxuriante, às vezes quase nula e explicam, de certa maneira, o que
Valls (1984) comenta sobre sua baixa freqüência em campos
pastejados.
4.4 Distribuição percentual da produção de forragem
O comportamento estacional das leguminosas pode ser melhor
analisado pela Tabela 7. Do total produzido, foi observado que, em
geral, o regime de cortes Vegetativo proporcionou uma produção de
forragem mais equilibrada, considerando o período de maior
crescimento das leguminosas. Isso ficou mais evidenciado no
cornichão e trevo-branco, com produções de forragem nas estações de
primavera-verão.
O cornichão, que produziu quantidade similar de forragem em
ambos os regimes de corte, distribuiu de forma mais uniforme sua
produção no regime Vegetativo, onde cerca de 81% da sua produção
total foi repartida entre quatro cortes, abrangendo os meses de outubro
a março; com o regime Florescimento, 78% da produção foi obtida em
apenas dois cortes, entre novembro e final de dezembro. No Uruguai,
Formoso (1993) relatou que com o aumento da idade do cultivo do cv.
54
São Gabriel, a produção de forragem se concentrou cada vez mais na
primavera-verão.
Tabela 7. Distribuição percentual da forragem total de leguminosas
(Adesmia, Lotus, Trifolium) cortadas em função do estádio
fenológico por ocasião do início dos cortes
a) Vegetativo
Leguminosas
A/S O/N N/D
J/F F/M A/M M/J J/A A/S
------------------------------------- % --------------------------------A. latifolia Bagé 0,29 15,48 68,90 10,60 3,91 0,32 0,11 0,19 0,20
A. latifolia Lages 0,27 11,08 83,47 1,07 2,57 0,73 0,08 0,23 0,50
A. tristis Lages
19,10 66,36 11,62 0,86 2,06 0,00 0,00 0,00 0,00
A. tristis Painel
6,13 78,09 3,13 10,96 1,70 0,00 0,00 0,00 0,00
L. corniculatus
6,39 21,50 13,86 26,41 18,83 7,86 1,01 1,05 3,11
L. pedunculatus
6,19 14,12 5,68 33,06 22,17 5,37 3,44 3,38 6,58
T. repens
0,39 19,83 21,30 6,57 17,58 9,34 7,76 8,01 9,21
b) Florescimento
Leguminosas
A. latifolia Bagé
A. latifolia Lages
A. tristis Lages
A. tristis Painel
L. corniculatus
T. repens
N/D D/J F/M M/M M/J J/A A/S
--------------------------%-------------------------80,45 5,40 6,71 1,24 2,10 2,23 1,89
35,60 1,58 3,82 33,30 22,57 1,55 1,58
93,90 2,40 3,71 0,00 0,00 0,00 0,00
86,21 7,87 5,93 0,00 0,00 0,00 0,00
42,59 35,41 14,79 3,35 0,65 0,51 2,70
24,22 7,35 21,66 14,51 11,36 8,47 12,43
As espécies com maior estacionalidade foram as nativas, com
exceção da população Lages de A. latifolia, no regime Florescimento.
Tanto A. tristis como A. latifolia concentraram suas produções no mês
de novembro, sendo, portanto, primaveris. Dentre as duas populações
de A. latifolia, a Bagé foi a que mostrou maior concentração da
produção de forragem, ocorrida na primavera, sendo que após esse
corte o rebrote foi pouco vigoroso. A população Lages, porém, teve
um segundo pico de crescimento, atingindo uma produção idêntica ao
trevo-branco. Esse comportamento indica, provavelmente, a maior
sobrevivência de estolões dessa população.
55
O L. pedunculatus, avaliado apenas no regime Vegetativo,
concentrou sua produção entre fevereiro e março, com seu pico de
crescimento em fevereiro, o que é altamente desejável, pois é uma
época crítica em termos de quantidade e qualidade de forragem. As
pastagens de verão estão finalizando seu ciclo, e as espécies de
inverno ainda não estão aptas a fornecer forragem. Isso demonstra que
a introdução de espécies de Lotus nos campos nativos ou pastagens
perenes implantadas pode melhorar a dieta dos animais numa época
crítica em qualidade de forragem, como foi constatado por Bemhaja e
Risso (1998).
O trevo-branco foi a leguminosa com maior equilíbrio na
distribuição de forragem. Em ambos os regimes, o pico de produção
foi em novembro, o que pode ter ocorrido em função da excepcional
quantidade de chuvas no mês de outubro (Tabela 1). A diferença
fundamental entre os dois regimes impostos foi a produção adicional
de 2 t MS/ha no regime Vegetativo (9 t MS/ha) em relação ao
Florescimento (7 t MS/ha).
4.5 Padrão geral de alocação da massa seca na forragem
A forragem foi composta por estruturas vegetativas (folhas e
caules) e reprodutivas (flores e frutos). Em termos absolutos, observase na Tabela 8, que houve diferença entre as leguminosas nos dois
regimes de corte, para ambas as frações.
Considerando as estruturas vegetativas, em termos absolutos, o
cornichão foi o que mais produziu folhas e caules, em ambos os
regimes de corte. Com exceção da A. tristis e de A. latifolia Bagé, o
regime de cortes não afetou a produção das frações vegetativa e
56
reprodutiva das leguminosas. Na A. tristis, o regime Florescimento
promoveu maior alocação na fração reprodutiva em relação ao regime
Vegetativo, ao contrário do que ocorreu com a população Bagé, de A.
latifolia (Tabela 8). Nessa última, o corte no Vegetativo teve um
efeito estimulador do florescimento/frutificação, sendo que quando o
primeiro corte ocorreu no florescimento, não houve um novo ciclo de
florescimento.
Tabela 8. Composição da forragem de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do início
dos cortes
Leguminosas
Vegetativo
Folha+Caule
L. corniculatus
T. repens
L. pedunculatus
A. tristis Lages
A. tristis Painel
A. latifólia Lages
A. latifolia Bagé
Estádio fenológico
Reprodutivo
Flor+Fruto Folha+Caule
Flor+Fruto
-----------------------kg MS/ha --------------------
14..551 aA
( 97,6%)
8.774 bA
(93,3%)
7.095 b
(100%)
358 abA
14.185 aA
126 bA
629 aA
6.640
bA
324 abA
7 bB
7.499
bA
741 aA
12 bB
5.576
bcA
412 abA
(2,4%)
(6,7%)
3.923
cB
2.579
cdB
2.142
cdA
475 abA
1.381
dA
486 abA
(99,8%)
(99,5%)
(81,8%)
(74,0%)
(0,2%)
(99,1%)
(95,3%)
(91%)
(0,5%)
(93,1%)
(18,2%)
(92,3%)
(26,0%)
(0,9%)
2.801
cdA
1.290
dA
(95,1%)
(4,7%)
(9%)
(6,9%)
234 abA
(7,7%)
66 bB
(4,9%)
Média
5.777
328
6.332
317
Na comparação das mesmas estruturas (folhas+caules e flores+frutos),
médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas
linhas, não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05).
Entre as populações de A. latifolia, observa-se que a Lages
alocou proporcionalmente maior quantidade de massa na formação de
folhas, ao contrário da Bagé. Já, na A. tristis, os cortes no Vegetativo
tiveram um efeito supressor do florescimento/frutificação.
57
O padrão de alocação de biomassa relativo às frações folha e
caule pode ser observado na Tabela 9.
Tabela 9. Produção de caules e folhas de leguminosas (Adesmia, Lotus,
Trifolium) em função do estádio fenológico por ocasião do início
dos cortes
Leguminosas
Estádio fenológico
Vegetativo
Reprodutivo
Folhas
Caules
Folhas
Caules
-----------------------kg MS/ha -------------------T. repens
8.774 a A
0 dB
6.640 aB
0 cB
(100%)
(100%)
L. corniculatus
7.910 a A
6.641 aA
6.683 aB
7.502 aA
(54,4%)
(45,6%)
(47,1%)
(52,9%)
L. pedundulatus 4.421 b
2.674 b
------------(62,3%)
(37,7%)
A. tristis Lages
2.238 bcA 1.685 cB
2.693 bA 4.806 bA
(57%)
(43%)
(35,9%)
(64,1%)
A. latifolia Lages 2.142 cA
0
dA 2.801 bA
0 cA
(100%)
(100%)
A. latifolia Bagé 1.381 cA
0
dA 1.290 bA
0 cA
(100%)
(100%)
A. tristis Painel
1.252 cA 1.327 cB
2.074 bA 3.502 bA
(48,5%)
(51,5%)
(37,2%)
(62,8%)
Média
4.017
1.760
3.697
2.635
Na comparação das mesmas estruturas (folhas e caules), médias seguidas de
letras iguais, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem
pelo teste de Tukey (P>0,05).
Para as espécies estoloníferas, A. latifolia e trevo-branco, a
forragem colhida foi formada por folhas, estruturas reprodutivas e
nenhum caule. Para as espécies eretas, cornichão e A. tristis, houve a
participação de caule na forragem colhida, em maior proporção no
Florescimento.
A análise da variância mostrou efeito significativo para a
interação Leguminosas x Regimes de corte para produção de caules e
folhas. O estádio fenológico por ocasião do início das desfolhações
afetou a produção de folhas somente para o trevo-branco e cornichão.
58
O cornichão mostrou maior proporção de caules no regime
Florescimento em relação ao Vegetativo.
O regime de cortes afetou significativamente a produção de
caules apenas nas populações de A. tristis (Tabela 9). Observa-se que
no regime Reprodutivo houve cerca de 60% de caules na forragem
colhida, como resultado do seu hábito subarbustivo, evidenciado
somente nesse estádio fenológico.
Quanto à quantidade de folhas ativas e folhas senescentes, a
análise da variância mostrou efeito significativo da interação
Leguminosas x Regimes de corte apenas para trevo-branco e
cornichão (Tabela 10).
Tabela 10. Produção de folhas ativas e senescentes de leguminosas
(Adesmia, Lotus, Trifolium) em função do estádio fenológico
por ocasião do início dos cortes
Leguminosas
Estádio fenológico
Vegetativo
Reprodutivo
Ativas
Senescentes Ativas
Senescentes
---------------------------------- MS (kg/ha) ---------------------L. corniculatus
7.651 aA
259 b
6.223 aB
460 bc
(96,7%)
(3,3%)
(93,1%)
(6,9%)
T. repens
7.087 aA
1687 a
5.025 aB
1.615 a
(80,8%)
(19,2%) (75,7%)
(24,3)
L pedunculatus
4.090 b
331 b
--------(92,5%)
(7,5%)
A. tristis Lages
2.186 bcA
52 b
2.480 bA
213 bc
(97,7%)
(2,3%)
(92,1%)
(7,9%)
A. latifolia Lages 1.880
cA
262 b
2.171 bA
630 b
(87,8%)
(12,2%)
(77,5%)
(22,5%)
A. latifolia Bagé 1.249
cA
132 b
1.142 bA
148 c
(90,5%)
(9,5%)
(88,5%)
(11,5%)
A. tristis Painel
1.249
cA
3 b
1.917 bA
157 c
(99,8%)
(0,2%)
(92,4%)
(7,6%)
Média
3.627
389
3.160
537
Na comparação das mesmas estruturas (folhas ativas e senescentes),
médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas colunas e maiúsculas
nas linhas, não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05).
59
O regime Vegetativo proporcionou uma maior produção de
folhas ativas em relação ao Florescimento, em função da remoção
antecipada da forragem acumulada, promovendo melhores condições
de luminosidade. Essas espécies também superaram as demais quanto
a essa variável, evidenciando, não somente sua capacidade de
produção, mas também de qualidade estrutural da forragem produzida.
O trevo-branco foi a espécie que apresentou a maior
quantidade de folhas senescentes, o que representou cerca de 20% do
total das folhas produzidas. Tal comportamento pode ser atribuído ao
seu hábito estolonífero, com entrenós curtos, o que ocasiona um maior
sombreamento de folhas basilares em relação às demais espécies. Isso
indica a importância do intervalo entre cortes no seu manejo, de forma
que não seja perdida uma expressiva quantidade de material verde.
Assim, o intervalo imposto, de 45 dias, pode ter sido excessivo para a
espécie,
nas
condições
climáticas
do
período
experimental,
especialmente na primavera-verão, quando houve seu pico de
produção.
Comparando-se as produções de forragem obtidas nos dois
regimes, para o trevo-branco, juntamente com os dados acima
expostos, pode-se inferir que, uma vez não havendo diferença na
senescência foliar, nem nas estruturas reprodutivas entre os dois
regimes, as 2 t MS/ha obtidas a mais com o regime Vegetativo devem
ter sido um efeito da melhor luminosidade dentro do dossel, que
possibilitou uma maior expansão dos estolões e/ou atividade das
gemas.
A outra espécie estolonífera, A. latifolia, não apresentou o
mesmo comportamento, provavelmente pelos seus estolões e entrenós
longos, que retarda o sombreamento das folhas vizinhas e a
60
senescência precoce. Além disso, os folíolos distribuídos ao longo da
raque, contribuem para uma melhor condição de luminosidade na base
da planta, em relação ao trevo-branco. Nesse, a posição apical dos
folíolos confere um fechamento horizontal do dossel relativamente
mais cedo.
Por outro lado, para as demais espécies, eretas, a pouca
quantidade de folhas senescentes sugere a validade do intervalo
imposto (45 dias) no manejo das mesmas.
4.6 Material morto
Quanto ao material morto presente na forragem colhida,
apenas para cornichão e A. tristis Lages houve efeito do regime de
cortes (Tabela 11). No cornichão e A. tristis Lages, a elevada
quantidade relativa do material morto pode ser atribuída às elevadas
produções de forragem obtidas por ocasião do primeiro corte no
florescimento. Nessas duas espécies observou-se maior quantidade de
hastes basilares mortas nesse regime de corte, ao passo que no
vegetativo isso não ocorreu.
O trevo-branco e o L. pedunculatus foram as espécies com
maior quantidade de material morto no regime Vegetativo, sendo que
para o primeiro a quantidade foi similar ao regime Florescimento.
Esse
comportamento
“fechamento”
do
se
dossel
deve,
da
em
espécie,
parte,
que
ao
característico
promove
maior
sombreamento basilar em relação às demais. No caso do L.
pedunculatus, também foi uma conseqüência dos danos causados
pelas geadas, para o que demonstrou menor tolerância em relação às
demais espécies.
61
Tabela 11. Material morto presente na forragem colhida de leguminosas
(Adesmia, Lotus, Trifolium) em função do estádio fenológico por
ocasião do início dos cortes
Leguminosas
Estádio fenológico
Vegetativo
Florescimento
------------------ MS(kg/ha)-----------------------T. repens
519 a A
537 bA
L. pedunculatus
421 a
L. corniculatus
187 bB
899 aA
A. latifolia Lages
148 bA
285 cA
A. latifolia Bagé
115 bA
187 cA
A. tristis Painel
67 bA
35
dA
A. tristis Lages
54 bB
221 cA
Médias
217
361
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha
não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05).
4.7 Padrão estacional dos componentes da forragem
Nas Figuras 9 e 10 pode ser observado o padrão estacional dos
componentes da forragem das duas populações de A. latifolia.
Verifica-se que houve uma sincronia no pico de produção de
folhas ativas e de flores/frutos para ambas as populações, na
primavera. As populações diferiram no regime Florescimento, quando
a população Lages teve um segundo pico produtivo em março,
evidenciando a produção basicamente de folhas ativas e senescentes.
62
FA
FS
MS (kg/ha)
C
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
A. latifolia Bagé
Regime Vegetativo
FOR
REP
ag-00 out-00 nov- jan-01 fev-01 abr-01 mai- jul-01 ag-01
00
01
Meses
1200
MS (kg/ha)
1000
A. latifolia Bagé
Regime Florescimento
800
600
400
200
0
nov-00
dez-00
fev-01
mar-01
mai-01
jun-01
ag-01
M eses
Figura 9. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Adesmia
latifolia Bagé, nos dois regimes de corte.
63
2500
FA
FS
MS (kg/ha)
2000
C
A. latifolia Lages
Regime Vegetativo
1500
FOR
REP
1000
500
0
ag-00
out-00 nov-00 jan-01 fev-01 abr-01 mai-01 jul-01
ag-01
M eses
1200
A. latifolia Lages
Regime Florescimento
MS (kg/ha)
1000
800
600
400
200
0
nov-00
dez-00
fev-01
mar-01
mai-01
jun-01
ag-01
M eses
Figura 10. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Adesmia
latifolia Lages, nos dois regimes de corte.
Para as populações de A. tristis (Figuras 11 e 12), a fração caule
foi tão importante na composição da forragem quanto a folha,
evidenciando a importância de um manejo que promova uma maior
contribuição de folhas, de modo a melhorar a qualidade da forragem.
Os resultados obtidos neste estudo sugerem que para tal condição é
64
preferível iniciar os cortes quando as plantas ainda estão no estádio
vegetativo, mesmo que isso signifique sacrificar um maior volume de
forragem conseguido em estádios mais avançados.
2500
2000
MS (kg/ha)
FA
A. tristis Lages
Regime Vegetativo
FS
C
FOR
1500
REP
1000
500
0
set-00
nov-00
dez-00
fev-01
mar-01
M eses
9000
A. tristis Lages
Regime Florescimento
MS (kg/ha)
7500
6000
FA
FS
C
FOR
4500
REP
3000
1500
0
dez-00
jan-01
mar-01
M eses
Figura 11. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Adesmia tristis
Lages, nos dois regimes de corte.
No regime Vegetativo houve uma tendência da população
Painel apresentar maior produção de caules do que de folhas ativas,
65
em relação à Lages, o que não foi observado no outro regime. No
regime Florescimento, observou-se nas duas populações, que a
produção de forragem foi mais relacionada com a produção de caules,
ao invés de folhas ativas.
2500
2000
MS (kg/ha)
FA
A. tristis Painel
Regime Vegetativo
FS
C
FOR
1500
REP
1000
500
0
set-00
nov-00
dez-00
fev-01
mar-01
M eses
6000
A. tristis Painel
Regime Florescimento
MS (kg/ha)
4500
FA
FS
C
FOR
3000
REP
1500
0
dez-00
jan-01
mar-01
M eses
Figura 12. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Adesmia
tristis Painel, nos dois regimes de corte.
66
Para o cornichão, no regime Vegetativo, observa-se que a
fração folha ativa teve maior contribuição na forragem colhida durante
a primavera (1,9 t MS/ha), ao passo que no verão (fevereiro), a fração
caule teve maior contribuição relativa na forragem, sendo que em
fevereiro atingiu cerca de 2,6 t MS/ha (Figura 13).
MS (kg/ha)
L. corniculatus
Regime Vegetativo
4500
FA
4000
FS
3500
C
3000
FOR
2500
REP
2000
1500
1000
500
0
set-00
nov-00
dez-00
fev-01
mar-01
mai-01
jun-01
ag-01
set-01
Meses
7000
6000
L. corniculatus
Regime Florescimento
MS (kg/ha)
5000
4000
3000
2000
1000
0
dez-00
fev-01
mar-01
mai-01
jun-01
ag-01
set-01
M eses
Figura 13. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Lotus
corniculatus, nos dois regimes de corte.
67
No regime Florescimento, a fração caule foi de 3,3 t MS/ha no
mesmo mês. Portanto, nessa espécie, a produção de verão é
caracterizada por uma menor relação folha:caule, em comparação com
a primavera e outono. Isso se deve ao alongamento dos entrenós das
ramificações axilares, nessa época do ano (Formoso, 1993). McGraw
e Marten (1986), em corte de cornichão no florescimento pleno,
verificaram que a curva de acúmulo total de forragem acompanhou a
curva da fração caule.
Observa-se que a fração folha flutuou, com picos na primavera
e outono, promovendo uma melhor qualidade estrutural da forragem
colhida. Formoso (1993) afirma que na fase vegetativa, o cornichão
contém 60-70% de folhas, ao passo que na maturidade essa fração
pode cair para 20-30%.
O L. pedunculatus apresentou tendência similar ao cornichão,
mostrando a máxima produção de caules em fevereiro, com cerca de
1.500 kg MS/ha (Figura 14).
Da mesma forma, a primavera e outono foram caracterizados
por uma maior relação folha:caule, ao contrário do que se verificou
com o verão, independente da condição fenológica, pois essa espécie
não floresceu.
68
L. pedunculatus
FA
FS
C
2500
FOR
MS (kg/ha)
2000
1500
1000
500
0
set-00 nov-00 dez-00 fev-01 mar-01 mai-01 jun-01 ago-01 set-01
Meses
Figura 14. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Lotus
pedunculatus, no regime Vegetativo.
O trevo-branco mostrou tendências similares nos dois regimes
de corte, sendo que as folhas ativas formaram a principal fração da
forragem ao longo do período avaliado (Figura 15).
A senescência foliar foi mais acentuada no verão e, no geral, foi
mais evidente no regime Florescimento. Assim, o corte de fevereiro
foi o que mostrou maior quantidade relativa de folhas senescentes na
forragem colhida, com reduções progressivas até o final do período
experimental. A partir de junho mostrou-se uma tendência ao aumento
relativo das folhas ativas, indicando um dossel com melhores
condições de luminosidade.
69
FA
T. repens
Regime Vegetativo
FS
C
FOR
2500
REP
MS (kg/ha)
2000
1500
1000
500
0
ag-00
Out-00 Nov-00
Jan-01
Fev-01
Abr-01
Mai-01
Jul-01
ag-01
Meses
T. repens
Regime Florescimento
1800
MS (kg/ha)
1500
1200
900
600
300
0
Nov-00
Dez-00
Fev-01
Mar-01
Mai-01
Jun-01
ag-01
Meses
Figura 15. Produção estacional dos componentes da forragem
(FA=folhas ativas; FS=folhas senescentes; C=caules;
FOR=forragem total; REP=flor+fruto; de Trifolium
repens, nos dois regimes de corte.
A elevada senescência observada no corte de fevereiro pode
ser atribuída ao próprio vigor do rebrote do período, no qual as plantas
estavam reiniciando o crescimento vegetativo, após o primeiro ciclo
de florescimento pleno. Por ocasião desse corte o trevo-branco
70
apresentou sua maior estatura (Figuras 3 e 4), numa resposta às
condições climáticas favoráveis dessa época. A elevação do dossel,
por sua vez, promoveu maior sombreamento e, conseqüentemente,
maior senescência. Essas alterações no perfil do dossel têm relação
com a duração das folhas do trevo-branco, estimada entre 15 e 21 dias,
em condições sombreadas e não sombreadas, respectivamente
(McCree e Troughton, 1966), mas que, sob condições de baixas
temperaturas pode chegar a 40 dias (Gibson e Cope, 1985).
Portanto, para as condições climáticas presentes no período
avaliado,
a
composição
da
forragem
do
trevo-branco
teve
características bem distintas: no período compreendido entre o
estabelecimento e o final da primavera, a forragem foi de melhor
qualidade, com maior quantidade de folhas ativas; no verão a meados
do outono, a forragem teve maior quantidade de folhas senescentes,
denotando uma forragem de menor qualidade. Wilman e Mares
Martins (1977) também observaram dois períodos distintos de
magnitude de senescência nessa espécie, que foi maior no final do
verão em relação ao outono. A menor quantidade de folhas
senescentes e material morto ocorrida no segundo período foi
atribuída a uma menor taxa de reposição de folhas, associada às
menores temperaturas.
4.8 Capacidade de competição e persistência das leguminosas
As leguminosas tiveram, em função de seu hábito de
crescimento e da capacidade de rebrote, diferentes índices de
competição com as plantas invasoras, conforme Tabela 12.
71
Tabela 12. Produção total de plantas invasoras e índice de competição das
leguminosas (Adesmia, Lotus, Trifolium) em função do estádio
fenológico por ocasião do início dos cortes
Leguminosas
Estádio fenológico
Vegetativo
Florescimento
Plantas
Índice de
Plantas
Índice de
invasoras
competição invasoras
competição
A. tristis Painel
6.840 aA
0,38
1.270 bB
4,71
A. latifolia Lages 6.529 aA
0,40
5.075 aB
0,60
A. latifolia Bagé
6.056 abA
0,31
5.850 aA
0,23
A. tristis Lages
3.883 bA
1,01
1.208 bB
6,82
L. corniculatus
1.098 cA 13,58
1.812 bA
7,90
T. repens
995 cA
9,45
526 bA 13,21
L. pedunculatus
899 c
7,89
-----------------Médias
3.757
2.623
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna
não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05).
O regime de cortes afetou apenas as duas populações de A. tristis
e A. latifolia Lages, sendo que a menor quantidade de plantas
invasoras ocorreu no regime Florescimento. Nesse regime foram
obtidas as maiores produções de forragem dessas populações,
indicando, portanto, uma condição de dossel mais fechado, e
conseqüentemente maior índice de competição. As parcelas de A.
latifolia foram paulatinamente invadidas por plantas rasteiras (Figura
16), sendo observada uma expressiva morte dos estolões de ambas as
populações.
As espécies com maior capacidade competitiva foram os Lotus e
o trevo-branco, indicando melhor estabelecimento e vigor de rebrotes.
Formoso e Allegri (1982) em trabalhos com misturas contendo essas
leguminosas, verificaram que naquelas onde estava presente o
cornichão houve uma maior estabilidade produtiva e menor conteúdo
de plantas invasoras.
As diferenças competitivas verificadas, estão atreladas à própria
persistência das espécies, pois aquelas leguminosas capazes de
72
rebrotar e sobreviver ao longo do período de avaliação foram também
as mais persistentes.
Figura 16. Detalhe de uma parcela de A. latifolia, ao final do período
experimental, com visualização do retângulo metálico,
utilizado na coleta das amostras.
A. tristis foi a espécie com menor persistência, com a totalidade
das plantas mortas após o 5º corte no regime Vegetativo e o 3º corte
no Florescimento, ambos no início do outono (março), apresentando
um comportamento de planta anual. Atribui-se isso, em parte, à altura
de corte na qual as plantas foram submetidas (8 cm), o que para uma
espécie de seu porte significa a remoção quase total da área
vegetativa. Num dos poucos trabalhos sobre o efeito de manejo em A.
tristis, Rosa (1998) verificou que na medida em que se aumentava a
altura de corte, de 10 para 15 cm, a produção de massa seca era
aumentada, da mesma forma quando era aumentado o intervalo entre
os cortes, de três para sete semanas. Isso indica que se trata de uma
73
espécie com coroa pouco vigorosa, e cujo rebrote depende mais de
gemas axilares, o que já foi atestado por Scheffer-Basso et al.(2000).
Quanto às populações de A. latifolia, seu comportamento sugere
um crescimento cíclico similar às plantas anuais. Isso pode ter
ocorrido devido à falta de nodulação e à inadaptação da espécie à
áreas bem drenadas, pois o experimento foi instalado numa coxilha, e
esta espécie ocorre em banhados e campos alagadiços. Scheffer-Basso
et al. (2000) evidenciaram um padrão cíclico de formação de gemas,
indicando a importância de práticas de manejo que promovam a
renovação do estande através da emissão de novos estolões. Portanto,
o diferimento da pastagem à época do florescimento é quase que
obrigatório nessa espécie, de modo a renovar o estande através do
surgimento de novas plântulas, pela ressemeadura natural.
Para as demais espécies, o manejo imposto promoveu sua
persistência ao longo do período avaliado, não havendo degradação
dos estandes. O cornichão mostrou excelente persistência, com
sobrevivência de 80% (Vegetativo) a 93% (Florescimento) das plantas
na área útil da parcela (dados não mostrados).
A persistência do L. pedunculatus, que se manteve em
permanente
estádio
vegetativo,
depende
basicamente
do
desenvolvimento de rizomas e dos rebrotes a partir das gemas de
caules aéreos, conforme o trabalho clássico de Sheat (1980b).
74
5. CONCLUSÕES
O desempenho produtivo e a persistência das espécies exóticas
(L. corniculatus, L. pedunculatus e T. repens) é superior às espécies
nativas (A. latifolia e A. tristis).
O cornichão cv. São Gabriel e a A. latifolia são espécies
versáteis, quanto ao estádio fenológico, por ocasião do início da
utilização, compensando as produções de forragem de acordo com o
número de cortes.
O cornichão cv. São Gabriel confirma sua versatilidade e/ou
dupla aptidão (feno/pastejo) e excelente adaptação para regiões de
temperaturas amenas.
L. pedunculatus tem potencial similar ao trevo-branco, porém
apresenta problemas de adaptação quanto ao florescimento e à
produção de sementes.
O trevo-branco expressa melhor seu potencial produtivo com
cortes iniciados no estádio vegetativo, em função do seu hábito de
crescimento. Das leguminosas estudadas, é a mais precoce em
produção de forragem (primaveril).
As populações de A. latifolia apresentam sincronia de
florescimento, o que sugere facilidade no manejo para colheita de
sementes.
Na composição da forragem de Lotus, a fração folha tem maior
contribuição durante a primavera e o outono, sendo que no verão, a
fração caule apresenta a maior contribuição relativa. No trevo-branco,
a primavera condiciona maior proporção de folhas ativas e o verão, de
folhas senescentes.
Em geral, o manejo com o primeiro corte da forragem no
estádio Vegetativo, proporciona uma produção de forragem mais
75
equilibrada.
As espécies nativas tendem a concentrar sua produção
de forragem na primavera e as exóticas, ao longo da primavera e
verão.
76
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