V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 REIFICAÇÃO E RACIONALIDADE INSTRUMENT NTAL: A PRESENÇA DE MAX AX WEBER EM HISTÓRIA E CONSC SCIÊNCIA DE CLA LASSE, DE GEORG LUKÁCS. Mariana Oliveira do Nasci scimento Teixeira Mestrado – Universidade Estadual de Camp mpinas (Unicamp) B Bolsista FAPESP mariana.on.teixe [email protected] O objetivo deste traba abalho é investigar as maneiras pelas quais o ffilósofo húngaro Georg Lukács estabelece,, nno livro História e Consciência de Classe (de (d 1923) e, mais especificamente no ensaio io ““A reificação e a consciência do proletariad ado”, uma relação com teorias não-marxistas as e não-dialéticas, e especialmente com a ob obra do sociólogo alemão Max Weber. Lukács ács não trata deste tema de maneira direta ou si sistemática nesse importante ensaio. Essa re reflexão, não obstante, está presente no livro vro de Lukács de maneira dispersa, e isto pode po ser observado tanto em breves referên ências ao assunto quanto na forma pela qua ual o próprio autor se apropria de teoriass qque ele mesmo considera como representan tantes da ciência burguesa. Começaremos, po portanto, por uma breve apresentação do texto te em questão, passando, em seguidaa para a análise propriamente dita. Em “A reificação e a consciência do proletariado” Lukács procura ra mostrar como a sociedade baseada na form orma-mercadoria é composta por sujeitos ccuja consciência encontra-se cada vez mais ais profundamente reificada, isto é, tais sujeit jeitos obedecem a “leis” sociais que aparecem em para eles como uma segunda natureza, lei leis que, portanto, parecem dominar de forma ma exterior as ações dos homens na sociedade de – e isso atinge tanto a classe trabalhadora ra quanto a burguesia: a consciência reificada ada é a forma que domina o conjunto da soc sociedade capitalista. Assim, afirma Lukács, s, os homens, ao transformarem sua forçaa de trabalho em mercadoria, se limitam m a uma atitude contemplativa frente à real ealidade social, o que significa que eles nãoo ffazem mais que calcular, por meio de uma ma racionalidade meramente instrumental, oss melhores meios para alcançar fins postoss pprévia e exteriormente a eles próprios. Nes esse contexto da reificação, fica excluída a vverdadeira atitude prática, aquela em que o sujeito da ação age como tal, como sujeito to dos processos históricos e não como objeto, o, ccomo coisa, que obedece a leis naturais instr stransponíveis. ISSN 2177-0417 - 181 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 Contudo, mais do que que apontar a reificação que domina a todos (ta (tanto a burguesia quanto o proletariado) sob a sociedade capitalista, Lukács procura ra argumentar no sentido de que, apesar dee eessa realidade reificada ser, imediatamente,, a mesma para as duas classes, o conhecim cimento que cada uma pode ter dessa rrealidade difere completamente em cada ccaso: enquanto a classe burguesa permanec nece presa a essa realidade imediatamente dad dada, o proletariado é impelido para além dela. la. Lukács funda a difere ferença entre os pontos de vista do pensament ento burguês e do proletariado na posição que cada classe ocupa no processo de produçã ução do capital. O proletariado, por exemplo, o, caracteriza-se por vender a sua força de trab rabalho como uma mercadoria, produzindo out outras mercadorias que, apesar de serem frutos os do seu trabalho, não pertencem a ele, mass ssim a outrem. O seu próprio trabalho não ma mais lhe pertence; uma parte dele mesmo, port ortanto, não mais lhe pertence, e assim ele é dilacerado di no seu ser mais profundo. É ess essa dilaceração, não obstante, justamente o que impele o proletariado para a superaç ração dessa realidade reificada: para o homem em que vende a si mesmo como uma mercado doria, ir além dessa situação é uma questão dee vvida ou morte. Para Lukács, a classe se burguesa, por outro lado, não é impelida para ara a superação da reificação. Na posição em qque ocupa no processo de produção, a realidad dade imediata para a classe burguesa consiste ste em que ela é o sujeito da produção. Para ara o pensamento burguês, é ele próprio que uem está no comando, quem controla os pro processos da vida social, quem tomas as decis cisões fundamentais. Essa situação, diferentem mente da situação do proletariado, que se vêê vvendido como uma mercadoria, é bastante co confortável, e não há nela, portanto, nada que ue aponte para além dela mesma, que incite a cl classe burguesa a procurar as mediações des essa realidade, as tendências de sua superaçã ação. A burguesia permanece na imediatidade de dada da realidade social, o que impede qu que ela reconheça inicialmente que ela também ém é dominada pela reificação. Para Lukács, portanto nto, “Certamente, o conhecimento resultante do ponto de vista do proletariado é aquele oobjetiva e cientificamente superior”,256 já que, qu ao superar a imediatidade dos fatos em empiricamente dados e avançar no sentidoo de conhecer as mediações que os determ erminam, o ponto de vista do proletariad iado alcança um conhecimento dos diverso rsos elementos da realidade social em suaa relação com a totalidade do processo hist istórico. De acordo com Lukács, essa perspe pectiva da classe, portanto, supera o isolamen ento artificial e a fragmentação com que a cciência burguesa toma os fenômenos sociais iais como objetos de estudo. O ponto de par partida da ciência 256 Lukács, op. cit., p. 332. ISSN 2177-0417 - 182 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 burguesa é, afirma Lukács, cs, inevitavelmente o individualismo metodoló lógico, o que tem como consequência necessá ssária, além da incompreensão da totalidade da realidade, uma atitude contemplativa frente nte a essa realidade, visto que, do ponto de vis vista do indivíduo, o mundo ao seu redor só pode ser compreendido nos termos dee ““leis eternas da natureza” nas quais a ativida idade humana não pode exercer qualquer açãoo transformadora. Poderia se fazer deco correr dessa argumentação de Lukács que é ne necessário, então, ignorar toda a produção qu que parte do ponto de vista do pensamento bu burguês e conferir atenção somente ao que for produzido do ponto de vista do proletariado ado. Ora, como se explicaria, então, o recurso rso que Lukács faz diversas vezes das teorias rias de pensadores notoriamente “burgueses”, ”, como Max Weber e Georg Simmel, ou mes esmo o acalorado debate que Lukács trava co com o filósofo que ele mesmo considera o mai aior representante do pensamento burguês e rreificado, Imannuel Kant? No prefácio de seu se livro, Lukács faz algumas considerações ões sobre o método dialético que nos ajuda dam a esclarecer inicialmente essa questão. “É próprio da essência do método dialético que nele os conceitos falsos sejam am superados em sua unilateralidade abstrata.. No N entanto esse processo de superação obriga, ao mesm esmo tempo, a operar constantemente com conc nceitos unilaterais, abstratos e falsos, e a dar aos conceit eitos sua significação correta, menos por defini inição que pela função metodológica que recebem naa ttotalidade enquanto momentos superados” (Lu Lukács, op. cit., “Prefácio (1922)”, pp. 59-60). Na linha do pensame mento dialético iniciada por Hegel, Lukácss cconsidera que é importante partir do que é in inicialmente dado, isto é, dos conceitos “unila ilaterais, abstratos e falsos” colocados peloss ppensadores que representam os métodos não não-dialéticos. Ao serem operados no contexto xto de uma obra dialética – como Lukács pret retende que seja a sua –, tais conceitos ganh nham uma nova significação, sendo então in integrados como momentos numa totalidadee qque os supera em sua parcialidade. Desse modo, podemo mos compreender porque Lukács não descarta rta de saída toda e qualquer elaboração teórica ica feita por autores que ele reconhece serem re representantes do pensamento burguês. Qua uando confrontado com o ponto de vista dda burguesia, o pensamento do proletariado do não tem a necessidade de anular totalmente te aquele ponto de vista e partir novamente te do início: o ponto de partida do proletar tariado é própria existência da sociedade bur burguesa e do pensamento burguês, e não um m “recomeço sem pressupostos”.257 É necessár sário, então, partir dos avanços dessas teorias, s, qque são parciais: é necessário trazê-las paraa o seu fundamento material e inseri-las na tota otalidade e, assim, conferir-lhes um sentido,, ““[...] de modo que o ‘falso’, o ‘unilateral’ l’ dda compreensão 257 Lukács, op. cit., p. 332. ISSN 2177-0417 - 183 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 burguesa da história aparece ece como fator necessário para a construção [metodológica] [m do conhecimento social”.258 O diálogo e a inco corporação das contribuições do pensamento nto burguês têm, contudo, um outro sentido ido muito importante. Ainda no prefácio, Luk ukács continua a reflexão sobre o método ddialético ressaltando uma diferença da sua vversão hegeliana para a reformulação materia rialista feita posteriormente por Marx. Diz Luk ukács: “Pois, se os conceitos são apenas representações intelectuais de realidades históricas, hi sua forma unilateral, abstrata e fals alsa também faz parte, enquanto momento da unidade ade verdadeira, desta unidade verdadeira” (Luká ukács, op. cit., “Prefácio (1922)”, p. 60). Desse modo, o que temos tem não é somente o fato de que se deve part artir dos conceitos parciais e, ao integrá-los na totalidade dialética, superar a sua unilatera eralidade: trata-se, também, de tomar essas ex expressões teóricas como fenômenos da real ealidade social, e, assim, como partes de algoo verdadeiro, a realidade histórica. É nesse duplo sentido ido que podemos compreender a afirmação de Lukács de que “[...] o ‘falso’ é, ao mes esmo tempo, enquanto ‘falso’ e enquantoo ‘‘não-falso’, um momento do ‘verdadeiro’”. ’”.259 O falso, isto é, o pensamento reificado,, ppreso ao solo da sociedade burguesa, é um m momento do verdadeiro em dois sentidos: en enquanto “falso”, vale dizer, enquanto um momento m parcial que deve ser superado; e enquanto “nãofalso”, por outras palavras, as, enquanto um fenômeno que é produto de um uma determinada sociedade e, portanto, revela ela algo de verdadeiro sobre ela. É nesse sentid tido, então, que se dá todo o debate que Lukác ács realiza em torno das obras críticas kantiana nas: a importância de Kant está em que elee eexpressou com uma clareza incomparávell oos limites que o racionalismo moderno nece ecessariamente impõe-se a si mesmo, que são os limites que estão também dados na realidade re da sociedade capitalista. Como fic fica, então, nesse contexto, o caso da apropria riação da obra de Max Weber? O próprio Lukács cita ita longamente Weber, e em mais de uma ocasi asião, colocando-o entre os “historiadores rea realmente perspicazes do capitalismo modern erno”.260 De fato, vários aspectos da obra dee W Weber são utilizados por Lukács em seu livro vro. Podemos citar o conceito de “possibilidad dade objetiva”, a ideia de “capitalismo mode derno” e o termo “legalidades próprias”, por or exemplo. Mas nossa análise neste trabalhoo te terá como foco a apropriação da crítica webe beriana do processo de racionalização do mund ndo nos termos de uma racionalidade instrume mental. 258 Lukács, op. cit., p. 333. Lukács, op. cit., “Prefácio (19 (1922)”, p. 60. 260 Lukács, op. cit., p. 217. 259 ISSN 2177-0417 - 184 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 De maneira extrema mamente sucinta, podemos dizer que essa ssa racionalidade instrumental, a qual, segund undo Weber, está na base da atual cultura indus dustrial, surge e se fortalece com a dissolução ção da unidade substancial da razão e suaa dissociação em momentos abstratos e irreco econciliados. Trata-se de uma racionalidade relativa rel a fins, que rege esferas culturais de va valor que obedecem cada uma sua legalidade ade própria, e que penetra nas instituições daa ssociedade, substituindo gradualmente as antig tigas legitimações (e relações) baseadas nas cu culturas tradicionais por uma busca incessante nte pela dimensão calculável e racionalmente te pprevisível da realidade social. A primeira vez quee o problema da racionalização aparece no ttexto de Lukács sobre a reificação é logo no parágrafo de abertura da primeira seção: “A essência da estruturaa dda mercadoria já foi ressaltada várias vezes. Ela se bas baseia no fato de uma relação entre pessoas tom omar o caráter de uma coisa e, dessa maneira, o de uma ‘objetividade fantasmagórica’ que, em m sua legalidade própria [Eigengesetzlichkeit], rigoro orosa, aparentemente racional [rationellen] e inteiramente in fechada oculta todo traço de sua essên ência fundamental: a relação entre os homens”” ((Lukács, op. cit., p. 194). Vemos, aqui, que o ffilósofo acrescenta à “essência da estrutura ra da mercadoria” algumas características que ue não se encontram na obra de Marx. Lukácss aafirma, seguindo os passos de Marx, que a ““objetividade fantasmagórica” do fetichismo mo da mercadoria oculta uma relação entre pe pessoas, conferindo a ela o caráter de uma relaç lação entre coisas; mas acrescenta que isso so se dá por meio de sua “legalidade pró própria, rigorosa, aparentemente racional e inteiramente in fechada”. No desenrolar de seu texto, Lukács continua enfatizando o pap apel da crescente racionalização. Ela é crucia cial, por exemplo, no processo de desenvolvime imento do trabalho que culmina com a formaa ddo trabalho “livre” capitalista, cujo modeloo emblemático e éo da indústria mecânica. Nes esse desenvolvimento está presente, nas pala alavra de Lukács, uma “racionalização contin tinuamente crescente” (ständig zunehmende Ra Rationalisierung), que significa “uma eliminaç nação cada vez maior das propriedades qualitat tativas, humanas e individuais do trabalhador” or”.261 Vemos aqui que a racionalização está stá contraposta às noções de qualidade, huma manidade e individualidade. A racionalização ção crescente, em lugar de realizar plenament ente o homem, significa na verdade a própria ia negação de sua humanidade. Se, por um lado, ass iideias de qualidade, humanidade e individu idualidade são por Lukács contrapostas ao pro processo de racionalização, outros fenômenos, os, por outro lado, são sempre relacionados a esse processo, como fragmentação, dilacera eração, abstração, mecanização, operações e sistemas parciais, cálculo e calculabilid ilidade, repetição, 261 Lukács, op. cit., p. 201. ISSN 2177-0417 - 185 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 especialização, formalizaçã ação. A racionalização vai, destarte, no camin inho contrário do concreto, do processo total tal e da totalidade. Se o processo de racio cionalização é apontado, por Lukács, como um m momento muito importante do desenvolvime imento em direção ao trabalho moderno capitali talista e do próprio modelo capitalista de produ odução, pode-se dizer que capitalismo e raci acionalização têm uma relação muito profund nda na argumentação de Lukács (como também bém na de Weber, vale lembrar). Vejamos entã ntão alguns pontos em que essa relação aparece ece. Diz Lukács: “Para nó nós, o mais importante é o princípio que ass assim se impõe: o princípio da racionalização ão baseada no cálculo, na possibilidade de cál cálculo”.262 É esta racionalização de que fal fala Lukács – uma racionalização baseadaa no cálculo. A transformação decorrente ddesse princípio é dupla: ao se estudar precisa sa e exatamente as leis parciais específicas da produção de um objeto, separando-o em cada conjunto complexo de seus elemen entos, rompe-se a sua unidade orgânica,, qqualitativamente condicionada, baseada naa ““ligação tradicional de experiências concreta retas do trabalho”. Essa dilaceração do objeto to da produção causado pela racionalização cre crescente significa necessariamente a dilaceraç ração do sujeito dessa produção. Nas palavrass ddo autor: “Como conseqüência doo pprocesso de racionalização do trabalho, as propriedade des e particularidades humanas do trabalhadorr ap aparecem cada vez mais como simples fontes de erro quando q comparadas com o funcionamento dess essas leis parciais abstratas, calculado previamente. O hhomem não aparece, nem objetivamente, nem m em seu comportamento em relação ao processo de trabalho, como o verdadeiro portador desse se processo; em vez disso, ele é incorporado como part arte mecanizada num sistema mecânico que jáá eencontra pronto e funcionando de modo totalmente ind independente dele, e a cujas leis ele deve se subm bmeter” (Lukács, op. cit., pp. 203-204). A atitude contemplat lativa que assim surge é conseqüência tambbém do trabalho progressivamente racionali alizado e mecanizado, um processo de tra trabalho que “se desenrola independentemen ente da consciência e sem a influência po possível de uma atividade humana, ou seja eja, que se manifesta como um sistema acab cabado e fechado [...]”.263 Assim, à medida que ue o processo de trabalho se torna cada vez ma mais racionalizado e, portanto, dividido e pa parcelado de maneira minuciosamente calcu lculada, o sujeito observa uma acentuação cre crescente da dilaceração interna que ele já obse servava desde que começa a vender sua forçaa dde trabalho, isto é, que realiza essa cisão entr ntre o conjunto de sua personalidade e umaa faculdade específica (sua força de trabalho lho). Além disso, aumenta também a ruptur tura dos laços que ligam cada sujeito doo trabalho à sua 262 263 Lukács, op. cit., p. 202. Lukács, op. cit., p. 204. ISSN 2177-0417 - 186 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 comunidade. Reificação ee racionalização, assim, mais uma vez, see m mostram na sua grande afinidade. O trechoo sseguinte também é claro nesse sentido: “A separação do produtor tor dos seus meios de produção, a dissolução e a desagr agregação de todas as unidades originais de pro rodução etc., todas as condições econômicas e sociais ais do nascimento do capitalismo moderno age gem nesse sentido: substituir por relações racionalm almente reificadas as relações originais em quee eeram mais transparentes as relações humanas” (Lukác ács, op. cit., p. 207). Lukács afirma, na se sequência dessa passagem, que, se no mod odo de produção capitalista as relações soci ociais entre pessoas aparecem disfarçadas em relações entre coisas (os produtos do traba balho), “isso significa que o princípio da mecan canização racional e da calculabilidade deve ab abarcar todos os aspectos da vida”.264 O que observamos no nos trechos citados é uma complementaridadee pprofunda entre a forma moderna de organiza ização do trabalho baseada na produção de m mercadorias – ou seja, o modo de produçãoo capitalista – e o processo de racionalização. ão. A organização capitalista do trabalho apar arece justamente como aquela forma racional al de organização do trabalho “livre” assalaria ariado. Para Lukács, assim como para Max Weeber, a dimensão da calculabilidade é um do dos princípios fundamentais que caracteriza za a peculiaridade histórica do capitalismo m moderno – e consequentemente, acrescenta ntaria Lukács, da reificação. Desse modo, tanto W Weber quanto Lukács têm, cada um à su sua maneira, um diagnóstico crítico em relação re à predominância cada vez maior or desse tipo de racionalidade. Entretanto,, eenquanto Weber vê esse processo com um ma certa dose de pessimismo, Lukács não po pode deixar de enxergar, no horizonte, a sua sup superação. O que procuramos ap apontar neste trabalho foi, em primeiro lugar, ar, como pode ser justificada a apropriação qu que Lukács faz de teorias que se colocam for fora do âmbito do método dialético, visto que que, para ele, esse é o único ponto de vistaa qque permite um conhecimento correto daa realidade. Em segundo lugar, buscamos os identificar as aproximações que a teoria ia dda reificação tem com o diagnóstico weberia riano do crescente predomínio da racionalidad ade instrumental. Um próximo passo, que não ão poderemos dar nos limites dessa apresenta ntação, seria mostrar em que consiste o dist istanciamento que existe entre Weber e Lukác ács no que diz respeito ao método defendidoo ppor cada um, na forma como cada um conce cebe o processo de produção do conhecimento. to. Apenas a título de in indicação, lembramos aqui que, para Webe eber, não se pode privilegiar nenhum ponto de d vista explicativo sobre os demais. Não exis xiste, para ele, um ponto de vista da totalidade de, uma posição que tenha primazia sobre ass ddemais e da qual se possa compreender o ser concreto e objetivo da realidade social. O pa papel do cientista 264 Lukács, op. cit., p. 207. ISSN 2177-0417 - 187 - PP PPG-Fil - UFSCar V Seminá inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC Car 19 a 23 de outubro de 2009 é realizar um recorte espec pecífico em meio à realidade caótica e confe nferir a ela algum sentido (provisório) por meeio da sua comparação com tipos-ideais const nstruídos com esse fim. Esse perspectivismoo weberiano, somado ao seu individualismo mo metodológico, contrastam diametralmente te com a concepção do materialismo dialético tico defendido por Lukács. Assim, a apropriaç iação feita por Lukács de conceitos weberiano anos deve conferir um novo sentido a taiss cconceitos. Nesse sentido, Andrew Arato, o, um importante estudioso da obra de Luká kács, afirma que a apropriação de conceitos os weberianos em História e Consciência de Classe não se dá de maneira mecânica,, mas m apenas “na medida em que eles são ão requeridos pelo desdobramento de um qquadro marxista dinâmico”. 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