4 - Jornal ABO ES ENTREVISTA Dr Carlos Alexandre Camara, Ortodontista especialista pela UERJ, e diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia, antecipa nesta entrevista alguns assuntos que abordará no curso ABOR Seção ES “A ESTETICA DO SORRISO: UM OBJETIVO MULTIDISCIPLINAR” , que acontece no dia 3 de dezembro, no NovoHotel (Praia do Canto – Vitória), promovido pela ABOR-ES (Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial), com apoio da ABO-ES. 1 – O Sr. criou dois diagramas para avaliação estética, um para a face e outro para os dentes, o DREF e o DRED. Qual acredita ser o principal ganho do uso dos diagramas na análise estética do paciente? A intenção dos diagramas (DREF e DRED) é ajudar o entendimento das relações e proporções das estruturas estudadas. O diagrama de Referências Estéticas Dentárias (DRED) tem a finalidade de mostrar, em uma vista frontal, os posicionamentos e as proporções que os dentes ântero-superiores guardam entre si e a relação desses com a gengiva e os lábios. No caso dos Diagramas de Referências Estéticas Faciais (DREF) procura-se, de uma forma simplificada, avaliar e identificar os padrões morfogenéticos faciais, utilizando-se os diagramas como gabaritos que darão uma noção das proporções entre as estruturas analisadas. O principal ganho para aqueles que utilizam os diagramas é a possibilidade de avaliar esteticamente as estruturas dentofaciais sem a necessidade de informações numéricas para serem interpretadas. Em verdade, o grande objetivo dos diagramas é facilitar a leitura das características estéticas dentofaciais feita pelos profissionais envolvidos com tratamentos estéticos e funcionais, e também melhorar a comunicação com os pacientes. 2. Além dos diagramas o senhor propõe que se avalie as seis linhas do sorriso. Em que essas linhas podem ajudar no diagnóstico estético? As seis linhas do sorriso foram acrescentadas na análise do DRED para facilitar ainda mais a avaliação estética do sorriso. Com a observação e estudo das seis linhas podemos diagnosticar com uma maior precisão as características que estão contribuindo ou prejudicando a estética do sorriso e que, realmente, podem e/ou precisam ser corrigidas. Essa avaliação é importante porque dá uma oportunidade ao profissional de avaliar as estruturas que interferem de forma positiva ou negativa na estética do sorriso e as suas possibilidades de tratamento. 3. Hoje em dia, palestrantes em congressos, tanto nos EUA quanto no Brasil, dizem que fazer dobras em fios é algo antiquado, que os braquetes e fios com tecnologias inovadoras farão todo o serviço e com mais rapidez. O que acha disso? Qualquer ortodontista com alguns anos de experiência sabe, se o seu objetivo for uma finalização ortodôntica de excelência, que isso não é verdade. As variáveis que envolvem as estruturas dentárias e as limitações clínicas da montagem do aparelho ortodôntico tornam praticamente impossível a possibilidade de evitar-se dobras ou “recolagem” de brackets. As novas tecnologias vieram para facilitar e otimizar diversos procedimentos clínicos. Podem e devem ser utilizadas quando forem necessárias, mas não é prudente acreditar que substituirão as manobras clínicas necessárias para uma boa finalização do tratamento ortodôntico. A Ortodontia tem um lado técnico e outro artístico. Somos tecnicistas, mas também somos artesões. Esse lado artesão de todo profissional que lida com tratamentos estéticos jamais será substituído por qualquer tecnologia. Afinal, a arte pode até receber o auxílio da tecnologia, mas nunca será criada através dela. 4. Na última década, os avanços da tecnologia digital utilizada na Ortodontia foram intensos. Primeiro vieram as radiografias digitais, depois os modelos tridimensionais e, mais recentemente, as tomografias de feixes cônicos. Qual o impacto dessas novas tecnologias na Ortodontia e especialmente em sua clínica diária? Você acha fundamental, para o planejamento ortodôntico a utilização dos softwares com as tomografias de feixe cônico? Acredito que toda tecnologia só é bem-vinda quando se torna útil. Facilitar a vida das pessoas é o grande objetivo tecnológico. Com a Ortodontia esse preceito não é diferente. Todos os avanços tecnológicos que facilitem a nossa clínica diária serão bem recebidos. Esses avanços que você citou são alguns exemplos que podem auxiliar o nosso desempenho clínico. Mas cada ortodontista pode ter uma percepção diferente do auxílio tecnológico. Alguns se acostumam com determinados procedimentos e tem uma certa dificuldade em mudar. Outros absorvem rapidamente as mudanças e estão sempre ávidos por evoluções tecnológicas. Acho que me encontro no meio termo. Procuro avaliar, evitando preconceitos, o que a tecnologia tem a oferecer e absorvo aquilo que me interessa. Todos os procedimentos que facilitem a minha interpretação de da- dos e melhorem a comunicação com o meu paciente são vistos com bons olhos. No caso, os softwares que trabalham com tomografias, exibindo-as em imagens tridimensionais, auxiliam bastante a análise de dados e possibilitam, de uma forma bastante esclarecedora, a apresentação de imagens ao paciente. Entretanto, embora utilize um programa de computador, bastante conhecido pelos ortodontistas, acredito que não seja fundamental para o planejamento ortodôntico. Afinal, a Ortodontia viveu muitos anos sem esse recurso e esse fato não trouxe prejuízo para os pacientes. 5. Em sua opinião, casos de agenesia de incisivos laterais superiores, qual a seria a melhor alternativa? O fechamento do espaço ou a abertura para a instalação de implantes? Uma boa resposta para essa pergunta só pode ser feita escrevendo-se um livro. Sim, porque um artigo científico seria pouco para uma completa explicação do problema e a exposição do ponto de vista do autor. Mas de uma forma extremamente resumida posso responder com uma única palavra: Depende. Depende dos seguintes fatores: desejo do paciente, da proporção dos dentes anteriores, do tipo de sorriso, da ausência ser uni ou bilateral, da má oclusão que está presente, da idade do paciente e das condições periodontais. Acredito que durante o curso poderei explicar melhor. 6. Qual critério o senhor considera mais importante para avaliar os resultados do tratamento ortodôntico, dados cefalométricos ou harmonia facial? A harmonia facial é quem dita os meus protocolos de tratamento. É através dela que elaboro os procedimentos necessários para que eu possa alcançar os três maiores objetivos ortodônticos: estética, oclusão funcional e estabilidade. Os dados cefalométricos servem como parâmetros e referências para auxiliar a obtenção desses objetivos. Em outras palavras, os dados cefalométricos são meios auxiliares da análise da harmonia dentofacial. Sendo assim, a avaliação dos meus resultados de tratamento ortodôntico é conduzida pela relação de interdependência entre a harmonia facial e oclusal. 7. Como o senhor individualiza seu planejamento ortodôntico em pacientes adultos, a fim de minimizar o custo-benefício biológico para esses pacientes? Costumo classificar o paciente adulto em dois tipos: os que apresentam uma condição bucal com um histórico importante e aqueles com boas condições bucais. Os pacientes adultos que tem boas condições bucais, que são semelhantes a pacientes jovens, e cuja maior diferença com os pacientes mais novos é a ausência de crescimento, trato da mesma forma que os jovens. A grande diferença de tratamento é quando há a necessidade de corrigir discrepâncias esqueléticas. Nesses casos, claro, recorro ao auxílio da cirurgia ortognática. Entretanto, quando me deparo com pacientes adultos com um histórico desfavorável das condições bucais assumo outra postura. Esses pacientes, na maioria das vezes, apresentam problemas específicos e particulares que precisam ser analisados de uma forma mais ampla. Nesses casos não é producente tratar de forma convencional. Muitas vezes o tratamento desses pacientes só é possível através de uma equipe multidisciplinar. São casos que requerem uma metodologia própria e um planejamento específico e diferenciado a fim de proporcionar a melhor relação de custo-benefício biológico, funcional, estético e financeiro. Esse será um dos temas do nosso curso. Fonte: ABOR-ES