Os ciganos em Sousa-PB: Refletindo os modos de ser cigano a partir do atual cenário político brasileiro. MÉRCIA REJANE RANGEL BATISTA1 JAMILLY RODRIGUES DA CUNHA2 RESUMO Ao nos debruçarmos sobre os diferentes textos que tem por tema os ciganos, percebemos que as caracterizações e fundamentações sobre estes são bastante discutíveis. Questões como cultura e identidade, quase sempre estão ausentes, e nos textos mais jornalísticos ou até mesmo literários repetese uma imagem nitidamente estereotipada. Desse modo, os ciganos quase sempre são colocados como seres culturalmente atrasados e socialmente inconvenientes. Contudo, por um efeito indireto, ao nos defrontarmos com os grupos que se projetam e se reivindicam como distintos na cena contemporânea, somos levados a (re)pensar os ciganos numa chave menos evolucionista e a-histórica. Ao mesmo tempo em que ciganos são apresentados como não possuindo histórias (e, por isso mesmo, não sendo capazes de se modernizar), existe da parte de alguns estudiosos uma obsessão por identificar o ponto de origem de todos os ciganos e uma busca por uma cultura cigana essencializada, o que parece indicar a um pesquisador um campo e um tema que demanda um estudo mais cuidadoso. No caso do Brasil, percebemos que os poucos estudos que se apresentaram até a década de 1970 colocavam os ciganos na chave do folclore. Queremos então participar do momento no qual se começa a investir em etnografias que descrevam as comunidades ciganas percebidas enquanto grupos étnicos, sem se ater ao repertório clássico e não discutido: nomadismo, tradição, violência, estigma. Finalmente, ao se construir uma incursão / pesquisa qualitativa em Sousa, fomos levados a perceber como os ciganos que aí vivem estão projetando um passado e indicando possibilidades para um futuro, no qual a presença de bens e serviços oriundos do Estado brasileiro é colocada como significativos. Finalmente, acreditamos que ao construir o percurso de discussão do texto, vamos demonstrar que a ‘modernização’ dos ciganos – e a chamada sedentarização seria um dos índices - não conduz ao desaparecimento de modos próprios de existência. Palavras-chave: Etnicidade; Comunidades ciganas; Sousa; Estado brasileiro. ABSTRACT When we look into the different texts whose theme Gypsies, and realize that the foundations of these characterizations are highly debatable. Issues such as culture and identity, often are absent, and journalistic texts or even literary repeats an image clearly stereotyped. Thus, the Gypsies are often 1 Professor a Adjunto da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais, UFCG, Campina Grande - PB, E-mail: [email protected] e do PPGCS/UFCG. 2 Aluna do Mestrado do Programa de Pós Graduação em Antropologia, UFPE. E-mail: [email protected] placed as being culturally backward and socially inconvenient. However, by an indirect effect, when encountering groups that protrude and are claimed as distinct on the contemporary scene, we are led to (re) think the gypsies least one key evolutionary and ahistorical. At the same time that Gypsies are shown as having no stories (and, therefore, not being able to modernize), there's part of an obsession by some scholars identify the point of origin of all Gypsies and a search for a essentialized Gypsy culture, which seems to indicate a field researcher and a subject that demands a more careful study. In Brazil, we realized that the few studies that have presented themselves to the 1970s placed the key in Roma folklore. We want to participate then the moment at which you begin to invest in ethnographies describing the Roma communities perceived as ethnic groups, without sticking to the classical repertoire and not discussed: nomadism, tradition, violence, stigma. Finally, to build a raid / Sousa in qualitative research, we were taken to see how the gypsies who live there are projecting a past and indicating possibilities for a future in which the presence of goods and services from the Brazilian State is placed as significant . Finally, we believe in building the route of discussing the text, we show that the 'modernization' of the Gypsies - and the call would be one of sedentarization indexes - does not lead to the disappearance of their own modes of existence. Keywords: Ethnicity, Gypsy Communities; Sousa; Brazilian state. INTRODUÇÃO O presente artigo analisa os grupos ciganos que vivem em Sousa-PB3 através da discussão antropológica sobre etnicidade e identidade étnica. Para tal, fez-se necessário a incursão nas discussões sobre o tema e, posteriormente, nas leituras que dessem conta do fazer antropológico. No nosso caso, o método de observação participante, nos fez realizar um exercício de pesquisa onde o componente principal foi à perspectiva do ator, como nos indica Guber (2004). Ou seja, nosso trabalho se articula em torno dos elementos que são sublinhados pelos próprios ciganos, especialmente nas situações de interação social. As nossas escolhas teóricas nos permitiram compreender as dinâmicas sociais instauradas sem que necessariamente ficássemos presas a uma avaliação do potencial de integração e de perdas culturais. Uma das conclusões a que chegamos é que, mesmo após 30 anos sedentarizados na cidade, estes indivíduos continuam mantendo e demarcando um modo de ser distinto e, mais do que isso, atualmente passaram a assumir uma nova postura, exteriorizando demandas e reivindicando direitos frente ao Estado brasileiro. Desse modo, iniciemos o nosso movimento, apontando como o campo da etncidade emergiu nas Ciências Sociais e, mais especificamente, na Antropologia, arena essa que nos ajuda a pensar os grupos ciganos numa chave menos evolucionista e a-histórica. OS CIGANOS NA PARAÍBA: PESQUISANDO UM GRUPO ÉTNICO Nas Ciências Sociais, especialmente no campo da Antropologia, podemos identificar temas e questões que vão acompanhando o desenvolvimento das pesquisas e discussões teóricas. O parentesco e a cosmologia foram sempre áreas que despertaram grande interesse. Ao contrário, a etnicidade é uma perspectiva que demorou a emergir e apenas nos últimos cinqüenta anos é que vem se apresentando enquanto um campo de estudos cada vez mais expressivo. Percebido com mais interesse, a partir da década de 1970 4 o tema se desdobrou, 3 A cidade de Sousa está localizada na mesorregião do Sertão Paraibano, situada acerca de 430 km da capital do estado. De acordo com os dados retirados do IBGE o município possui uma população de 65.803 habitantes, sendo 31.580 homens e 34.350 mulheres, e 48.990 reside em área urbana e 16.940 em área rural. O número de eleitores é de 45.207, estando em 6º lugar no Estado. Seu território está dividido em 31 bairros, sendo que o Jardim Sorrilândia III é onde estão localizados os “ranchos ciganos”. Tal bairro, apesar de ser considerado perímetro urbano, está mais afastado da cidade, localiza-se a margem da BR230, próximo ao presídio da cidade, ao Batalhão da Polícia e ao Instituto Federal da Paraíba. 4 Ver Eriksen & Nielsen em Historia da Antropologia (2007, p. 136) dentre outras possibilidades, numa tentativa de rejeitar as teorias assimilacionista e deterministas que até então prevaleciam. A percepção que se tinha da etnicidade era de uma qualidade a qual se associaria a grupos e comunidades mais tradicionais, o que implicava na obrigatoriedade de, conforme a sociedade se deparasse com processos de desenvolvimento, instaurar-se-ia igualmente uma progressiva assimilação. Logo, com a perspectiva de um desenvolvimento que englobasse todas as sociedades, teríamos que os grupos culturalmente distintos se constituíam num fenômeno datado, sendo superado pela dinâmica de desenvolvimento (econômico e político), gerando assim uma nação única e homogênea5. Com a crítica realizada a partir dos anos de 1960, a etnicidade, não reduzida apenas ao aspecto cultural, passou a ser foco de vários pesquisadores. Barth ainda na década de 1970 afirmava que o fenômeno étnico dependia da interação social, o que vai contradizer a ideia de que a etnicidade era resultado direto de uma cultura estática, homogênea e isolada. Outro antropólogo que contribuiu nesse campo foi Abner Cohen, este deu um passo importante nessa perspectiva, ao associar o “caráter dual, emocional e político dos símbolos étnicos”, ao processo no qual a etnicidade está sujeita aos mecanismos de manipulação realizados pelos agentes / empreendedores políticos (ERIKSEN E NIELSEN, 2007, p.154). Além disso, a publicação de Grupos Étnicos e suas Fronteiras (1969) em inglês e a rápida circulação da perspectiva apresentada e confrontada com pesquisas realizadas em realidades múltiplas assinalou de modo mais preciso a importância do fenômeno étnico no campo das Ciências Sociais. Mantendo as concepções defendidas por Weber em 1922, Barth6 a partir de pesquisas etnográficas, as amplia, introduzindo a importância de se pensar fronteira enquanto definidora de um grupo étnico, contestando assim a visão simplista, mecanicista e ahistórica na qual tais grupos apareceriam como dependentes do isolamento social e geográfico para continuarem existindo. A partir do momento em que o campo das ciências sociais foi desafiado a substituir de modo definitivo o termo raça por etnia e seguindo na percepção de que estávamos diante de um campo através do qual grupos construíam, manipulavam e tornavam operativas as 5 Existiu a ideia de que nos Estados Unidos da América, os emigrantes, por meio do contato com a sociedade abrangente, incorporariam seus aspectos, passando a ser simplesmente americanos. Com o passar do tempo, isso passou a não fazer sentido, contrariamente, foi no confronto com o outro, que esses grupos tornaram-se mais fortes (POUTIGNAT e STREIFF-FENART,1988:79). 6 Barth (1969) convida os pesquisadores de campo a realizarem estudos que levem em conta a dicotomia entre os “nós e eles”, afirmando que tal processo é fundamental na manutenção das fronteiras étnicas. diferenças pensadas enquanto heranças culturais, tivemos no Brasil uma produção de pesquisas que buscaram refletir esses novos contextos7. Cardoso de Oliveira, por exemplo, aponta que a “essência” da identidade étnica é a identidade contrastiva produzida a partir da oposição (1976:05). Esta não se afirma isoladamente, mas sim a partir da negação de outra identidade (como por exemplo, os calon versus brasileiros)8. De acordo com estes autores, é possível afirmar que o isolamento cultural não é o determinante, uma vez que o contato interétnico e a interdependência entre os grupos sociais garantem a tenacidade do fenômeno étnico9. Ademais, as leituras realizadas até o momento nos sugerem a incorporação da perspectiva processualista ao se analisar grupos como ciganos, percebendo-os enquanto perpassados por fluxos contínuos e com diferenças culturais em seu interior. Como podemos depreender da discussão realizada por Hannerz: Entretanto, como já afirmei em outro lugar, quando se brinca intelectualmente com uma metáfora, é importante saber onde parar. Se para certos fins parece válido pensar a cultura como fluxo, não é preciso acreditar que ela seja uma substância que se possa colocar dentro de garrafas. [...] O que a metáfora do fluxo nos propõe é a tarefa de problematizar a cultura em termos processuais, não a permissão para desproblematizá-la, abstraindo suas complicações. (1997: 14) Logo, “[...] qualquer população que decidamos observar, descobriremos que esta se encontra num fluxo, sendo contraditória e incoerente, e que se encontra distribuída de formas diferente por várias pessoas posicionadas de diversas formas [...]” (BARTH, 2003:22). Nessa acepção, incorporamos essa discussão teórica compreendendo os ciganos como constituídos por variações internas, de tal modo que ao entrar em interação com o outro, se estabelece um 7 É importante dizer que concomitante aos processos de mudanças políticas instauradas entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, os movimentos sociais puderam se (re) organizar e as demandas instauradas na arena política puderam se apresentar, o que se refletiu no campo acadêmico. Os antropólogos (não só eles) discutiram os processos de mudança envolvendo populações indígenas, em paralelo com as demandas das chamadas comunidades remanescentes de quilombo, que passaram a se tornar visíveis e que geraram mudanças no cenário das políticas públicas. O que se revelou extremamente importante em termos do cenário no qual passou-se a visibilizar-se outras minorias.7. De maneira geral, podemos dizer que a Antropologia tendeu a se debruçar sobre problemas de pesquisa que refletissem concepções teóricas determinadas. No caso específico, os ciganos foram advogados como objetos privilegiados para os estudos folclóricos ou linguísticos, de modo que não se configurava enquanto um problema a ser investigado. Por outro lado, no caso do campo de estudos da antropologia brasileira, a ênfase recaiu em grupos que estivessem sofrendo o impacto dos contatos, referenciados pelas teorias culturalistas (aculturação e assimilação) ou pelas questões de se refletir sobre a formação da nacionalidade. Sobre a produção de pesquisas ver: Cardoso de Oliveira (1976) ; Arruti (2006); Oliveira (2004) dentre outros. 8 “Ao analisar como as identidades são construídas, sugeri que elas são formadas relativamente a outras identidades, relativamente ao “forasteiro” ou ao “outro”, isto é, relativamente aquele ao que não é. Essa construção aparece, mais comumente, sob a forma de oposições binarias”. (SILVA, 2011:50) 9 “(...) A integração não pode, com efeito, ser entendida como assimilação, como uma dissolução na sociedade nacional (...)” (CUNHA, 1986, P. 109) esforço de marcar, atravessar e explicitar a fronteira, possibilitando deste modo assinalar uma identidade. É importante destacar que a elaboração desse quadro de análise e a realização do método de observação participante, nos possibilitou compreender que os grupos ciganos não ficaram alheios a processo de mudança e incorporação de elementos, apesar de viverem, pelo menos em sua maioria, em situações de grande pressão social, para que se misturassem à sociedade abrangente. Logo, estamos pensando os ciganos em situações processuais, ressignificando ou incorporando aspectos legitimados pela sociedade em geral, sem que com isso possamos decretar o desaparecimento dos mesmos enquanto grupos que são vistos e se vêem como culturalmente distintos10. Em Sousa, por exemplo, os ciganos até onde conseguimos perceber pelas leituras e descrições, se apresentam de modos diferenciados de outros cenários da Paraíba, ou até mesmo do Brasil11. Apesar disso, sempre quando confrontados, demarcam um modo próprio de pensar e agir quase sempre bastante semelhante ao de outros grupos ciganos. Esse quadro denota formas específicas de organização local12 e, porque não dizermos, formas de ação política que por meio do confronto interacional, vai se demonstrando os elementos mais contrastantes que respondendo ao mecanismo social posto ao longo da história, constrói um lugar e um conjunto de características ao qual associamos a condição cigana. Outro ponto bastante discutível entre aqueles que se dizem e são conhecidos como “ciganólogos” corresponde à busca por uma origem cigana. As histórias que envolvem o tema são quase sempre marcadas por suposições e por um caráter lendário, pois estamos diante de um povo ágrafo, e que não gerou registros que atestem de fato uma (suposta) origem (única), e nos parece que para os ciganos permanecem várias formas de contar seu passado, sobretudo por que narrar - inclusive de modo distinto - é um mecanismo que os faz, no seu contexto específico, se dizer em face de algo. Tanto os ciganos como seus estudiosos voltaram-se à bíblia para explicar sua origem e dispersão. Alegou-se serem eles descendentes de Caim, buscando no Gênesis a maldição caída sobre o irmão de Abel, de quem descenderia um povo nômade. “Sela, de teu lado deu a luz, Tubal-Caim, o pai de todos aqueles que trabalham o 10 Ver BARTH, F. (1998) O isolamento geográfico ou social não é um garantidor das diferenças culturais e que podem ser projetadas enquanto étnicas, pois este fenômeno pode permanecer mesmo havendo contato entre as etnias. 11 Ora confrontados e demarcados através dos estigmas, ora ignorados. Ver Camilo (2011), Ferrari (2010) e Batista (2012). 12 “Essa consciência é também política, no sentido em que pode ser acionada em momentos específicos, tais como nas situações de embates com a sociedade envolvente”. (SULPINO, 1999, 28) cobre e o ferro.” (Gênesis, cap. 4 vers.22). [...] Outra versão afirma que por terem roubado um dos quatro pregos da cruz, ante da crucificação de Jesus, os ciganos foram condenados a uma peregrinação com a duração de sete séculos. (SANT’ANA, 1983, p.23) Nesse contexto, percebemos que ao longo do tempo algumas imagens passaram a ser associadas aos ciganos, o mais interessante é compreender que as narrativas que envolvem a diáspora, está, em muitas casos, em conexão com as tradições do grupo. Destaca-se o trabalho com os metais, representação recorrente dos ciganos na Europa, fazedores de panelas, o que também gera a ideia de uma especialização, típico de castas na Índia. Por outro lado, o metal agora aparece como uma maldição por ter implicado no roubo de um prego da cruz de Cristo. É importante destacar que essa questão que tem revelado um grande apelo dentre os interessados pelo mundo cigano, certamente, tem refletido e se desdobrado entre os próprios ciganos que são postos na condição de interlocutores com o mundo acadêmico e literário. Conforme se vê, perduram várias associações, lendas e conseqüentemente fantasias que geram um quadro abstruso para aqueles que procuram uma única origem. Vale notar que nosso esforço não é definir uma história ou uma origem para os ciganos. Ao contrário, nos detemos naquilo que é e tem sido a vida dos ciganos na Paraíba, e mais especificamente no universo de Sousa, como também, o modo pelo qual os ciganos vão se contando em face de nossa presença em campo. TRINTA ANOS APÓS A “SEDENTARIZAÇÃO”: OS DESAFIOS DE VIVER EM SOUSA. É interessante perceber que os trabalhos produzidos sobre os ciganos de Sousa – Sulpino (1999), Moonen (2011), Godfarb (2004), Siqueira (2012) e Cunha (2013) praticamente contam uma mesma história a respeito da formação da comunidade que vive no local. Sendo essa iniciada em 1982, com a articulação de alianças entre os chefes dos grupos e o então deputado federal Antônio Mariz. Deste modo, segundo os autores, inicialmente houve a sedentarização do grupo liderado pelo cigano Pedro Maia, e posteriormente, em 1986, outros dois grupos chegam à cidade, liderados pelos ciganos Vicente e Eladio. Como uma conseqüência desse processo de fixação na cidade, na qual a chegada de um grupo foi antecedido pela de outro, eles permaneceram mantendo uma divisão espacial, ou seja, existem dois grupos conhecidos e reconhecidos inclusive pelos moradores da cidade: Ranho de Baixo e Ranho de Cima. Buscando descrever os dois locais, inicialmente podemos dizer que são cenários muito divergentes. O Rancho de Cima apresenta uma “melhor” infraestrutura, casas de pau a pique, por exemplo, praticamente não são vistas, inversamente a maioria apresenta uma boa estrutura, muradas em tijolos e bem acabadas. O cigano Coronel nos informou que existem mais de 300 ciganos vivendo no local e todos sob a liderança de um ‘presidente’13 identificado como o cigano Nestor. Já no Rancho de Baixo é possível perceber famílias vivendo em condições materiais de deficitárias, com esgoto passando entre as portas das habitações e a maioria das casas se apresentando em mau estado de construção e conservação. Além disso, fica claro que no espaço vive um número maior de ciganos, avaliação impressionística, pois não temos dados numéricos. Permanecem neste local, duas chefias enunciadas pelos seus membros, embora não se tenha aqui algum tipo de divisão espacial que enunciaria de modo mais claro a divisão dos dois grupos. Ao contrário, esta identificação se faz pela forma de enunciação por parte dos indivíduos diante de seus respectivos líderes. Além disso, as pesquisas até o momento realizadas apontam que na cidade de Sousa, quando se fala em ciganos, prevalece um discurso articulado em torno de categorias que revelam preconceito e estigma, um quadro que, ao que tudo indica, acabou se tornando homogêneo, indicando aí uma conjuntura que se reflete na visão dos que morando em Sousa pensam os ciganos enquanto externos ao próprio mundo social no qual vivem. Com o uso de termos bastante pejorativos, os autores revelam que ali há uma demarcação nítida de mundos. Uma vez que apesar da sedentarização, num primeiro momento aqueles que viviam em Sousa operaram a partir da visão dos ciganos enquanto externos ao mundo social, de tal modo que o fato deles viverem nos ranchos, não alterou a paisagem significativamente. Contudo, na pesquisa que construímos percebemos uma mudança no cenário local, com os ciganos querendo e passando a transitar, conviver e se relacionar com aqueles que, aparentemente, não desejavam sua presença há até pouco tempo. Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas. As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um relacionamento com “outras pessoas” previstas sem atenção ou reflexão particular. Então quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua “identidade social” – para usar um termo melhor do que “status social”, já que nele se incluem atributos como “honestidade”, da mesma forma que atributos estruturais, como “ocupação”. (GOFFMAN, 1988:11-12) 13 Esta categoria é recente, não se encontrando descrita nos trabalhos da década de 1990 e 2000. No processo indicado por Goffman, aciona-se não apenas uma identidade, mas tudo que ela representa. Como dissemos, na Paraíba, sobretudo na década de 1980, ser cigano implica também em ser percebido através de aspectos negativos. Ademais, a sociedade em geral, quando afrontada14 parece agir enquadrando sujeitos em categorias, categorias em tipos de relação, e assim vão se criando cenários de rejeição ou de agregação. Acreditamos que o processo descrito por Moonen e Goldfarb realmente permaneceu na cidade, no sentido de indicar uma situação na qual os que moram em Sousa projetam e identificam a negatividade nos ciganos. No entanto, após nossa incursão (2012/2013), compreendemos que está havendo deslocamentos (mudanças nos significados atribuídos) no modo pelo qual os ciganos são concebidos. A utilização de termos como “sujeira, feiura, imoralidade”15, tornaram-se indevidos porque há uma pressão social para que não mais se utilizem, afinal passou a existir também uma convergência entre políticas públicas nacionais e mudanças no cenário estadual e municipal, e os líderes ciganos, por sua vez, enfrentam e assumem os desdobramentos do “tempo de parada”16. Após realizarmos algumas entrevistas17, percebemos que hoje estes são indicados na categoria de moradores de Sousa, mantendo, inclusive, relações com a sociedade local, seja por meio de trabalho, da escola ou do comércio. “Eles são cliente bom, compram direto, o defeito é só que pechincha muito, mas a gente já conhece eles.” (Maria, 56 anos, comerciante) Hoje já têm cigano trabalhando, muitos trabalha na prefeitura, na CAGEPA, tão ganhando o dinheiro de forma honesta. (Pedro, 42 anos, comerciante) Antigamente tinha um conversando aqui comigo e outro já ‘tava roubando por trás. Mas hoje tão tudo sossegado, tudo com dinheiro. (Seu Juvenal, 56 anos, comerciante) Logo, de “ladrões para honesto”, de “preguiçoso para trabalhador”, na cidade de Sousa parece que a forma com que os ciganos são encarados está sendo reelaborada e é assim percebida e indicada pelos ciganos, quando instados a discorrer sobre a situação dos mesmos na vida em Sousa. O interessante é perceber que estes refletem uma mudança e procuram explicá-las na forma de uma narrativa coesa e que privilegia a presença de mediadores especiais. Diante desse processo de “ressignificação social”, os ciganos apontam duas figuras 14 A utilização do termo “afrontada” diz respeito ao fato de que para a população não legitimando a vida num só lugar, ou a prática do trabalho, entre outros aspectos, os ciganos estão afrontando (desafiando) um modelo social aceito e estabelecido. 15 “São muito sujos e fedorentos. Eles vivem pedindo demais, é uma coisa horrível! Sabe, um dia eu fui num barzinho lá no rancho dos ciganos, num barzinho que tem lá, e fui no banheiro, estava um nojo, horrível mesmo! (Fábia, Estudante do ensino fundamental)”. (GOLDFARB, 2004:73) 16 Esta é uma categoria nativa que se utiliza nos discursos para descrever o momento no qual o grupo se estabelece na cidade de Sousa. 17 A última visita a comunidade se fez em janeiro de 2013. como principais responsáveis: Salomão Gadelha e Aline Pires Benevides Gadelha, ambos oriundos do mundo da política, sendo o primeiro da política partidária 18 e a segunda, de origem familiar conectada a tal cenário. Salomão Gadelha concorreu à prefeitura de Sousa em 2000, sendo derrotado pelo candidato João Estrela com uma diferença superior de 2.500 votos, o que não tem muita representatividade numa cidade com um colégio eleitoral de pouco mais de 47 mil eleitores. No entanto, no ano de 2002, João Estrela após ser cassado19 perde seu mandato e o título de prefeito passa a ser de Salomão Gadelha e do vice Leonardo Gadelha 20. Aline Pires, esposa de Salomão, torna-se a primeira-dama e mesmo com a formação em Direito, assume a Secretaria de Saúde. O carisma da esposa e a idéia de se fazer um governo popular acabam levando Salomão à reeleição em 2004, sendo que desta vez tendo como vice-prefeito o irmão André Gadelha, atual prefeito de Sousa (posse em 2013). Entre as ações que realizou em prol da comunidade cigana de Sousa, Salomão Gadelha nomeou alguns ciganos para sua equipe de governo, e na narrativa destes, o prefeito Salomão Gadelha ‘construiu’ o Centro Calon de Desenvolvimento Integral (CCDI), o que não condiz com a realidade, pois o centro é obra do Governo Federal, porém tal evento entra na lógica discursiva dos ciganos tornando-se então uma realização do político. Cargos comissionados gerados governo de Salomão Gadelha: no Ações realizadas no mandato do Prefeito Salomão Gadelha: Cigano Marizinho – Secretário do Pregação do fim do preconceito. Gabinete do Prefeito Cigano Coronel – Gerente do Meio Oportunidade de emprego no funcionalismo Ambiente público. Cigana Joana – Cozinheira do CAPES Construção do Posto de Saúde. Cigano Nestor – Secretário do CAPES Produção do projeto da construção do CCDI e a busca de recursos junto a ELETROBRÁS para a construção do mesmo. Cigano Damião – Agente de saúde Melhorias na infra-estrutura do Rancho de Cima. 18 Não faço referência aqui a partido político, sobretudo por que não se percebeu e discutiu qualquer aspecto nesse sentido. 19 O processo ficou conhecido como a “A máfia do IPTU”. 20 Fontes: Agenda de Sousa 2011 e http://pt.wikipedia.org/wiki/Salom%C3%A3o_Benevides_Gadelha. O quadro acima indica ações realizadas durante o governo de Salomão Gadelha (2002 – 2008). Sem dúvida, tais atos repercutiram na cidade, sobretudo pelo fato de que, com os contínuos discursos acerca dos preconceitos, e a relação de confiança que fora instaurada, a sociedade passa a se deparar com outra imagem do cigano. Agora uma imagem do cigano enquanto trabalhador, responsável, digno de confiança, ademais a palavra de um prefeito tem um efeito performativo e sua liderança certamente tem grande impacto, especialmente numa cidade como Sousa, local que sempre protagonizou grandes disputas políticas. Em conversas com moradores do local, por todos nos foi indicado à luta do político para o fim do preconceito e o incentivo para a inserção do grupo na cidade. Com isso podemos dizer que as mudanças sentidas perante os quadros que nos foi indicado por Moonen e Goldfarb são também conseqüências das ações instauradas pelo político. Talvez a coisa mais importante que meu pai fez, foi muito mais a palavra, a retórica, em todos os discursos meu pai incluía os ciganos, ele saia com os ciganos. As pessoas vendo que a maior liderança tem essas atitudes, as pessoas incorporam esse discurso. Meu pai trouxe os ciganos para o governo, criou [...], incluiu os ciganos, fez posto de saúde no rancho, o CCDI que ele foi buscar, a inclusão dos ciganos no funcionamento [quer dizer, funcionalismo] público e sempre massificando isso na palavra. (Lafayette Gadelha, maio de 2012) Compreendemos assim que, atualmente, em Sousa os ciganos são apreendidos através de sua identidade, sobretudo pelo fato de que ali existe um sistema de representação (significação) capaz de identificá-los. E apesar de estarem “divididos” internamente, para a sociedade de Sousa essa separação é apenas física, uma vez que os ciganos são apreendidos enquanto um único grupo. Os ciganos construíram ao longo do tempo formas especificas de classificar o mundo. Como todo grupo possuidor de uma cultura, edificaram o seu próprio sistema classificatório e é a partir disso que rotulam os nós e os outros. Para os ciganos de Sousa, antes de qualquer coisa, existe uma identidade que é coletiva e acionada a partir do que não se é. Portanto, a nosso ver, por mais que se perceba uma “integração” entre ciganos e não ciganos permanece uma fronteira simbólica /social/ cultural, pois que há um processo cotidiano de demarcação de diferenças21. A identidade e a diferença são estreitamente dependentes da representação. É por meio da representação. É por meio da representação, assim compreendida, que a “Melhor dizendo, as identidades étnicas só se mobilizam com referência a uma alteridade, e a etnicidade implica sempre a organização de agrupamentos dicotômicos Nós/Eles.” (POUTIGNAT E STREIFF-FENART, 1998:152). 21 identidade e a diferença adquirem sentido. É por meio da representação que, por assim dizer, a identidade e a diferença passam a existir. Representar significa, neste caso dizer: “essa é a identidade”, “a identidade é isso. (SILVA, 2011:91) Tal fato faz sentido, sobretudo por que existe essa identidade que é coletiva22, haja vista que os próprios ciganos se dizem enquanto pertencentes a uma comunidade, nesse caso, a “comunidade cigana de Sousa”. Lembrando que: A identidade, que pode ser desenvolvida no plano das ações ou das narrativas, representa um recurso indispensável para a criação de um nós coletivo, recurso fundamental ao sistema de representações coletivas, através do qual os grupos podem reivindicar um espaço de visibilidade e de atuação sócio-política, a partir do estabelecimento de suas especificidades culturais. (GOLDFARB, 2004, p.19) Nesta acepção, afirmamos que o discurso de reconhecimento da existência de uma comunidade, faz sentido diante do novo cenário que vem se instalando em Sousa. É perceptível que entre os ciganos está havendo um processo de conscientização política. Esse movimento, realizado especialmente por agentes “externos” está se desdobrando num fortalecimento dos ciganos enquanto grupo social e étnico. O uso prático do termo comunidade nasce no pós-nomadismo. Noção de origem não cigana, sua pertinência restringe-se ao período pós-nômade e pressupõe o tratamento recebido como grupo social compreendido como parte da sociedade não cigana. O termo prevalece em textos científicos, jornalísticos, discursos políticos, documentos policiais e noutras menções de naturezas várias, além de constar no vocabulário usual dos próprios ciganos ante as interações com não ciganos. (SIQUEIRA, 2012, p. 20) OS CIGANOS DE SOUSA: A CONSCIENTIZAÇÃO POLÍTICA E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES INTERNAS É interessante perceber que o século XX, especialmente as últimas décadas, foi um período de avanço no cenário da “legitimação” de grupos étnicos. Pensando no Brasil, podemos dizer que a Constituição Federal promulgada em 1988 demarca, dentre os muitos avanços, algumas mudanças referentes a tais povos (minorias étnicas ou sociais). Entretanto, a idéia de se instalar no Brasil uma sociedade que afirmasse a diversidade e a partir disso passasse a agir de forma igualitária, revelou-se um processo de extrema dificuldade. O fato é que após a promulgação da Constituição Federal e dos tratados internacionais23 os povos e comunidades tradicionais passam a ser sujeitos de direito. A este 22 Ao pensarmos a respeito das identidades individuais e coletivas, ponderamos ser a diferença um componente principal na fabricação das mesmas. Afinal, assumimos uma identidade a partir da negação de outra. Mais do que isso são nas relações sociais que as distinções podem ser reconhecidas, demarcadas e estabelecidas por meio de um sistema classificatório que dá sentido a vida dos indivíduos. (SILVA, 2011:40) cenário soma-se a aplicação de políticas afirmativas reivindicadas pelas minorias sociais, que ganham espaço e se concretizam na atual conjuntura governamental brasileira. Nesta acepção, medidas contra a discriminação vêm sendo discutidas, bem como a promoção de ações positivas no combate a pobreza e desigualdade social. Após 1988 ocorreram algumas mudanças. A Constituição Federal do Brasil de 1988 atribuiu ao Ministério Público Federal também a defesa dos direitos e interesses indígenas (CF, Art. 232), antes atribuição exclusiva da Fundação Nacional do Índio. Alguns anos depois, a Lei Complementar 75, de 20.05.1993, ampliou ainda mais a ação do MPF ao atribuí-lo também a proteção e defesa dos interesses relativos às comunidades indígenas e minorias étnicas (Art. 6, VII, “c”). Diante disto, em abril de 1994, foi criada a Câmara de Coordenação e Revisão dos Direitos das Comunidades Indígenas e Minorias, incluindo-se nestas também as comunidades negras isoladas (antigos quilombos) e as minorias ciganas. Ficou conhecida como a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, também chamada a Câmara dos Índios e Minorias (http://ccr6.pgr.mpf.gov.br). Até hoje ignora-se o que a 6ª Câmara fez em favor dos ciganos. (MOONEN 2011, p.03) Nesse contexto, povos historicamente oprimidos vêm conquistando pequenas vitórias, no sentido de um reparo histórico de exclusão. Questionáveis ou não, fato é que estas políticas estão sendo efetivadas, enquanto outras minorias (os ciganos se encaixam nesse quadro), com pouca ou sem visibilidade, permanecem com uma escassa participação na discussão política e acadêmica. Em alguma medida se construiu uma retórica na qual certos grupos ou povos se instauram e passam a demandar ações, inclusive as compensatórias. Contudo, e considerando aspectos históricos, sociais e culturais, podemos identificar outros que lidam com a retórica reivindicatória de direitos identitários de modo profundamente distinto. Parece-nos que no caso dos ciganos, temos um cenário bastante delicado, quando comparado aos citados indígenas e descendentes afro-brasileiros. Sobretudo por que a lógica cigana durante muitos anos foi outra – a do “não contato”, a do “isolamento”. No caso do grupo estudado, no ‘pós-nomadismo’ (após a sedentarização), alguns bens passaram a ser socialmente legitimidados - casa, escola, trabalho. Esse movimento, também é conseqüência das ações realizadas pelos ciganos, uma vez que na fronteira com o outro e nas interações cotidianas com a sociedade de Sousa, existem os processos de incorporação e exclusão de elementos. O mais interessante é pensar que o “acesso” até pouco tempo advinha através dos ‘favores’, seja de políticos, seja de empresários, seja dos moradores de Sousa. 23 Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT (1989); Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH (1948). Antônio Mariz, por exemplo, grande político na Paraíba, é conhecido pelo grupo, como “pai dos ciganos”. A doação dos terrenos onde atualmente a comunidade vive, foi, para os ciganos, ofertada pelo ex-governador24. Nesse sentido, ao longo do tempo, vários “benfeitores” surgiram, e são apontados como amigos, como aqueles que olharam para o sofrimento daquele povo25. Com isso, estamos dizendo que por muito tempo, persistiu uma outra lógica entre o grupo, sobretudo por que as questões de acesso a direitos e uma possível conscientização política do grupo parece ser um movimento bastante atual. Os ciganos de Sousa, por exemplo, só há pouco tempo se apercebem como um grupo tradicional no sentido político do termo. Afinal o próprio direito de moradia e conseqüentemente cidadania oferecidos ao grupo ainda na época de Antônio Mariz (1980) os coloca na chave de cidadãos brasileiros, e por isso detentores dos mesmos direitos dos não ciganos. A isto se soma o fato de que por se constituírem enquanto minorias étnicas, estes possuem direitos especiais que atendam as suas necessidades e garanta uma melhor condição de vida. Percebemos assim que nos últimos anos em Sousa houve algumas mudanças nos discursos de alguns chefes ciganos. Afinal, ali também está se formando lideranças políticas. Não bastando apenas resolver conflitos internos ou mediar “ajudas”. O líder cigano atualmente é alguém que os representa frente ao mundo social, é aquele que transmite as demandas do grupo para os que podem fornecer. É importante dizer que nesse esforço de pesquisa pudemos perceber que os “chefes”, com o grupo sedentarizado, acabaram retendo a função de manter a tranqüilidade e harmonia do grupo, resolvendo assim problemas internos, até por que no “pós-nomadismo” (tempo da parada) a necessidade de mediar locais para pouso passa a não existir. No entanto, atualmente, os chefes ciganos voltam a atuar para “fora”. Só que agora oferecendo um discurso bem mais polido, deixando claro que ali existe uma consciência que também é política. A mediação passa a ser então frente ao Estado, e no discurso que se faz para os pesquisadores se enfatiza que “não se pede mais “esmolas e sim, recursos”. Na nossa concepção uma situação e dentro dela um evento, foram essenciais na formação e conscientização política dos chefes ciganos de Sousa. Estamos falando da construção do primeiro centro de cultura cigana do Brasil, o Centro Calon de 24 25 Os ciganos não possuem documentos que atestem a possa das terras. Ver em FIGUEIREDO (2012). Desenvolvimento Integral - CCDI. Ao que tudo indica essa ação de “reconhecimento” instaurada pelo governo Federal gera um novo processo entre os ciganos que vivem em Sousa. Haja vista que a inserção do Estado com implantação de políticas tende a gerar um cenário de circulação de recursos que não estão ligados apenas ao período eleitoral. O Centro Calon de Desenvolvimento Integral – CCDI é uma pessoa jurídica de direito privado e sem fins lucrativos, elaborado por iniciativa conjunta entre articuladores não ciganos locais e autoridades Calon. A construção de sua sede em 2008, proveniente de uma coalizão de forças políticas das três esferas de governo, simboliza a sua elevação a condição de centro de referência cigana, um centro modelo para proteção e promoção da cultura cigana. (SIQUEIRA, 2012, p.91) O CCDI foi inaugurado em 06 de agosto de 2009, no entanto, desde o anuncio de sua construção um novo clima pairou na comunidade cigana de Sousa, uma vez que a idéia de instalar um centro de manutenção cultural os fez perceber também o novo cenário político brasileiro, onde atualmente existem ações de reconhecimento e valorização cultural. Tal quadro certamente surte com grande efeito, uma vez que, se os ciganos por muito tempo precisaram “esconder” a sua identidade para “sobreviverem”, agora são chamados a demarcála e mais do que isso, são incentivados a criar mecanismos que fortaleçam suas tradições. Afinal, a proposta de construção do centro se deu, segundo Lafayette Gadelha, a partir da iniciativa de seu pai, o ex-prefeito Salomão Gadelha, que após uma reunião na SEPPIR, cria um projeto de um espaço onde se possa “produzir cultura” e a partir disso busca recursos com a ELETROBRAS. O centro era um local tanto de produção cultural interna, ensaios, preparação, enfim, um espaço pra os próprios ciganos. Falta atrevimento para colocar esse para funcionar, tem que ter vontade política. Então o centro era pra isso, venda de cultura e produção cultural. (Lafayette Gadelha, maio de 2012) Mesmo sem aparente funcionamento – a falta de recursos para gerir é uma das reclamações – a presença de inúmeras lideranças políticas nacionais e estaduais na inauguração do prédio, sempre destcando a cultura do grupo e os incentivando a preservá-la os faz perceber que existe um apelo para que não se “perca cultura”. A dinâmica que está sendo imposta atesta esse cenário. Nos dois ranchos existem jovens lideranças, que quando “falam” exteriorizam um discurso que também é político. Tais líderes sabem o “poder e o significado” que os termos têm e ao que tudo indica estão reorganizando seus discursos. Torna-se claro que no interior do grupo nos últimos anos passam a existir dois tipos de comando. A primeira seria o chefe, ressaltada anteriormente, sempre pautada nas mediações internas. E a figurar do líder, aquele que media relações, que indica demandas e por sua vez é capaz de organizar um discurso numa arena política. Temos alguns exemplos desse novo movimento em Sousa, os ciganos, Coronel e Maninho26 representam essa condição, sendo reconhecidos pelos próprios ciganos como aqueles que “devem falar”. Se antes a preocupação com a manutenção cultural advinha principalmente dos mais velhos, esse desejo atualmente também perpassa entre os mais jovens. Ao que tudo indica, o fenômeno é recente e especifico da cidade de Sousa, no entanto, tal afirmação merece ser melhor investigada. O livro publicado em 2012 com o título “Calon História e Cultura Cigana” condiz com o cenário que percebemos. De autoria de Francisco Soares de Figueiredo, ou mais precisamente, Cigano Coronel, a publicação parece ter o objetivo de apresentar a cultura do grupo e por isso afirmá-los enquanto detentores desta identidade. Através de uma parceria com a UFPB na figura da Prof. Drª Janine Marta Coelho Rodrigues, o cigano Coronel pode escrever o que ele diz tratar-se de um resgate da cultura de seu povo. Sem dúvida a publicação de um livro atesta a intervenção de agentes no interior do grupo, sobretudo pelo fato de que a elaboração do mesmo foi feita, especialmente, para os de “fora”, ou seja, para aqueles que se interessam em conhecer e pesquisar a cultura do grupo. O mais interessante é que a todo o momento é demonstrado uma preocupação com respeito à perda de cultura e a inserção de elementos “não ciganos” no interior do grupo. Durante muito tempo pesquisadores e escritores pesquisaram sobre a vida desse povo misterioso. Alguns escreveram, mas muitas coisas escritas por eles não compatisa com a verdadeira história que vocês vão poder conhecer. Os leitores vão se surpreender ao ler este livro que fala sobre costumes e tradições milenar que vem passando de geração para geração. Pois, muitos desses costumes deixam-nos muito preocupados por está extinto mais que através do Centro Calon de Desenvolvimento Integral (CCDI) vamos poder resgatar um pouco de nossa cultura, apesar de sabermos que é difícil, mais não impossível. (FIGUEIREDO, 2012, p.10) Além disso, há um outro apelo para que se compreenda a importância da comunidade cigana de Sousa e o fortalecimento de alianças políticas, vejamos: Sousa é uma cidade com pouso mais de setenta mil habitantes fixo, localizada as margens dos Rios do Peixe e Piranhas, à aproximadamente 500 km da capital João Pessoa, mais ou menos 5 a 6 horas de viagem de carro. É a onde fica localizado a maior quantidade de ciganos do Nordeste, são cerca de 1500 ciganos que vivem na cidade de Sousa e há várias décadas seguem a orientação política do Deputado Federal Marcondes Gadelha e seu irmão Salomão Gadelha. (FIGUEIREDO, 2012, p.11) 26 Os nomes que constam no registro respectivamente são: João Francisco Figueiredo e Cicero Romão Batista.. Optamos por indicar a forma como são reconhecidos pelos ciganos e como se apresentam. As quarenta e seis páginas da obra são utilizadas principalmente para apresentar os aspectos recuperados pelo exercício de memória27, no entanto, um aspecto chama atenção: Figueiredo, e aqui o utilizo enquanto escritor, procura traçar distinções entre os ciganos nordestinos e aqueles que o autor chama de “ciganos gringos”. O mais interessante é compreender que os costumes que aqui indico como “exóticos” diante da sociedade envolvente, são atribuídos, sobretudo aos ciganos gringos. Rituais como morte, luto, casamento, nascimento, entre outros, são indicados como distintos daqueles praticados pelos ciganos de Sousa. Sabemos que a cultura do povo cigano tornou-se conhecida, especialmente, pela prática de tais tradições, desse modo questionamos se será essa uma tentativa de mostrar que mesmo sem tais práticas, ainda sim se trata de um grupo cigano. Outro ponto que merece destaque aqui corresponde ao fato de que recentemente entre o grupo foi realizado, um grande “casamento cigano”. Noticiado em todo o cenário nacional, o pai do noivo, o cigano Coronel, nos afirmou que este foi o primeiro casamento com tradições ciganas da Paraíba. Acontecido no dia 30 de novembro de 2012, todos apontam que havia a promessa de união desde os nascimentos dos noivos. Além disso, uma cerimônia na igreja católica e uma grande comemoração num salão de festa da cidade foram realizadas, o que acaba por demonstrar a afirmação da religião católica e a incorporação de elementos culturais28 da sociedade de Sousa. Certamente a abertura para casamentos externos, ou ainda, a incorporação de elementos que para os de “fora” não são condizentes com a cultura cigana, os faz buscar novas maneiras de garantir a continuidade da tradição. Sendo assim, a questão que parece perpassá-los é o desejo de mostrar para Sousa a realização de um casamento tradicional, 27 Não é suficiente reconstituir peça por peça a imagem de um acontecimento do passado para se obter uma lembrança. É necessário que esta reconstrução se opere a partir de dados ou de noções comuns que se encontram tanto no nosso espírito como no dos outros, porque elas passam incessantemente desses para aquele e reciprocamente, o que só é possível se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma sociedade. Somente assim podemos compreender que uma lembrança possa ser ao mesmo tempo reconhecida e reconstruída. (HALBWACHS, 2006, p,34). 28 É preciso compreender que quando falamos em etnicidade, não podemos pensar em processos fixos, descontínuos, mas em fluidez e dinamização. Com isso, afirmamos que os traços culturais, ou seja, os marcadores que asseguram essas fronteiras podem mudar ao longo do tempo, isso envolve processos de exclusão e incorporação de elementos culturais/sociais e consequentemente processos de interação vividos pelos atores étnicos. Além disso, para Barth (1969) a manutenção das fronteiras o contato interétnico torna-se essencial, uma vez que as diferenças culturais podem persistir apesar do contato interétnico e da interdependência entre as etnias. De tal modo teorias como aculturação, não fazem sentido para esses autores, pois para Barth pensar que o isolamento social e geográfico foram os fatores para a manutenção da diversidade cultural é uma visão simplista e que deve ser abandonada. revelando que ali existe um grupo que antes de tudo, detém cultura. Afinal, segundo o Sr. Coronel o casamento foi abençoado por Santa Sarah (padroeira dos ciganos) e para sacramentar o simbólico laço de sangue, punhais foram utilizados. A cerimônia só foi concluída com uma “dança cigana”, que conforme nos foi indicado representa a paixão e o amor.Vale notar ainda que o ritual foi realizado pela presidente do Centro de Estudo e Resgate da Cultura Cigana – CERCI, Yaskara Kalin. Com nome de batismo Márcia Yáskara Guelpa, a cigana se diz como liderança feminina e representante do “seu povo” no Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os esforços realizados até o momento, não apenas no contexto de Sousa, mas em outras cidades da Paraíba nos forneceu vários dados e algumas possibilidades de pesquisa. Uma vez que mesmo estando espacialmente próximos, muitos elementos divergem entre os grupos ciganos. São formas aparentemente distintas de relação/interação com a sociedade envolvente, bem como de manutenção da identidade. Ademais, as bibliografias lidas até o momento acabam por trazer um quadro mais amplo desses cenários. Ferrari (2010) atenta para a performatividade cigana, logo, é importante notar que certamente estes quadros de demarcação de identidade, camuflamento, ou invisibilidade correspondem também aos contextos em que vivem os grupos e conseqüentemente a questões que envolvem os estigmas, preconceito, discriminação, entre outros aspectos. Nesse sentido, na pesquisa percebemos que em Sousa os ciganos são apreendidos enquanto pertencentes a uma comunidade, a utilização desta categoria também é realizada pelo grupo frente às interações com os não ciganos. Logo, a identidade coletiva que ali existe os faz manter uma organização interna de compartilhamento e manutenção dos seus valores culturais. Torna-se claro que mesmo vivendo em situações análogas a outros grupos e minorias sociais, os ciganos são grupos étnicos que estão organizados socialmente e demarcados por uma fronteira social. Além disso, a idéia de consciência grupal é marcada pelo sentimento de uma origem comum, de compartilhamentos de trajetórias e de um sentimento de pertencimento. Neste exercício de pesquisa procuramos compreender também como os ciganos que vivem em Sousa estão organizados socialmente e como são pensados pela população da cidade. A partir dos quadros indicado por Sulpino / Goldfarb percorreu-se caminhos que levaram a percepção de outra imagem dos ciganos que ali vivem. Nesse caso, termos depreciativos – ladrões, sujos, preguiçosos – não são mais conexos com os discursos dos sousenses. No entanto, ao questioná-los se o preconceito acabou, encontramos respostas mais sutis, pois para os próprios ciganos, a resposta é que “ele nunca vai acabar”, porém, tem abrandado sucessivamente, e para tal fenômeno ali se atribui uma relevância muito grande às ações instauradas pelo governo municipal de Salomão Gadelha. Como afirmamos anteriormente, esse movimento de integração realizado pelo político surtiu efeito entre os moradores de Sousa, entretanto, sabemos que os próprios ciganos também tiveram suas performances29 habituadas, quero dizer que a figura de um cigano circulando na rua, na igreja, ou na escola os fazem normatizar as ações desempenhadas pelo grupo, mesmo que ainda assim, continue sendo diferentes. A própria intervenção do Estado – nas suas três esferas – no interior da comunidade produziu mudanças significativas nas concepções de vida desses indivíduos. Uma vez que os discursos e práticas de valorização cultural ou ainda de incentivos a cultura os fez reorganizar um discurso e perceber o atual cenário que vivem. Os ciganos, mais do que nunca, agora sabem dos direitos que têm, sabem do valor políticos dos termos e utilizam como forma de garanti-los. Se o CCDI na prática encontra-se fechado e o desejo do prefeito Salomão Gadelha de que ali se “fabricasse” cultura não pode ser realizado, não devemos esquecer que a cultura já está produzida e os ciganos agora atentam para não perdê-la. Logo, mesmo fechado e sem aparente utilidade, à construção do Centro trouxe mudanças significativas para o interior do grupo, mesmo acentuando querelas pré-existentes, o discurso de um “Brasil” que parece não querer perder a cultura de um dos grupos mais discriminados os faz viver um novo momento. A partir do encontro com os chefes ciganos, foi possível perceber e destacar alguns pontos importantes reveladores do que significa ser cigano em Sousa. Através das conversas com os Srs. Maninho e Coronel, compreendemos os tipos de liderança que os mesmos exercem. Prova disso está na performance desempenhada, haja vista que agora estes indivíduos tornaram-se também lideranças políticas. E as contínuas lembranças do “tempo de atrás”, a própria necessidade de afirmar que Sousa “sempre foi lugar de cigano”, ou ainda a realização de rituais tradicionais entre o grupo, indica um desejo de afirmar uma identidade e comprovar que a cultura do grupo está viva. 29 Ferrari fala em uma performance apropriada de um modo de ser Calor, no entanto, autora afirma que os índices de calonidade não são fixos, o que acaba por permitir uma grande elasticidade à essa performance. (2010: p.141, 148) REFERÊNCIAS ARRUTI, José Maurício P. A. Mocambo: antropologia e história do processo de formação quilombola. 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