A Igreja como Sacramento de reconciliação

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A IGREJA COMO SACRAMENTO DE RECONCILIAÇÃO
Pe. Fidelis Stockl, ORC1
Resumo
O mundo aparece cada vez mais dividido e dilacerado Ainda que hoje em dia possamos comunicar com
todo o mundo pelos meios modernos de comunicação, mesmo que possamos saber e ver via satélite o
que está acontecendo no outro canto do mundo, não vivemos ainda num mundo unido, mas ao contrário
continuam as divisões e conflitos. A raiz de todos estes conflitos e divisões não vem de fora, mas está
dentro do próprio coração humano: é, no final de contas, a rejeição do amor de Deus, a ruptura com
Deus, ou em outras palavras: o pecado. Os homens de boa vontade têm o desejo de um mundo unido,
de relações pacíficas e harmoniosas com os outros. Como poderemos superar as divisões, como
ajudaremos a resolver os conflitos? O homem, por si mesmo, é incapaz de se reconciliar com Deus de
quem se afastou pelo pecado. Portanto, a iniciativa de Deus é aqui decisiva. É Deus que enviou o seu
Filho como Redentor para nos reconciliar com Deus pelo seu sacrifício da Cruz. A saudação do Senhor
ressuscitado é a saudação da paz. Cristo anuncia, portanto, o dom do perdão dos pecados e, com isto, a
reconciliação entre Deus e o homem e dos homens entre si. Essa reconciliação é possível através da
Igreja pelo sacramento da reconciliação.
Palavras-chave: divisão; pecado; reconciliação; paz; igreja.
1. Introdução: A ruptura com Deus, fonte de conflito e divisão
Se nós olhamos a sociedade contemporânea, se observamos o mundo atual, constatamos que
apesar da crescente globalização, o mundo aparece cada vez mais dividido e dilacerado. Há tantos
conflitos e guerras, terrorismo e crimes no mundo atual. Há tantas divisões e inimizades dentro das
próprias famílias, das comunidades, e mesmo dentro da própria Igreja.
Ainda que hoje em dia possamos comunicar com todo o mundo pelos meios modernos de
comunicação como, por exemplo, a internet, mesmo que possamos saber e ver via satélite o que está
acontecendo no outro canto do mundo, não vivemos ainda num mundo unido, mas ao contrário
continuam as divisões e conflitos.
1.1. A raiz mais profunda de todos os conflitos e divisões
1
Doutor em Teologia, especializado em Eclesiologia e Mariologia. Professor do Curso de Teologia da Faculdade Católica
de Anápolis.
1
De onde vêm, então, as divisões e conflitos que dilaceram a sociedade humana e que
experimentamos mesmo dentro das nossas próprias famílias e comunidades? O que está na raiz deles?
A raiz de todos estes conflitos e divisões não vem de fora, mas está dentro do próprio coração
humano: é, no final de contas, a rejeição do amor de Deus, a ruptura com Deus, ou em outras palavras:
o pecado.
Rejeitando a Deus, o homem prejudica-se a si próprio porque vai destruindo a imagem de Deus
segundo a qual foi criado. Então, entra numa contradição consigo mesmo. De fato, pecando, o homem
perde o seu equilíbrio interior e, precisamente, no seu íntimo irrompem contradições e conflitos. E
assim, com esta desordem interior, o homem produz, quase inevitavelmente, uma desordem ao seu
redor. Como conseqüência, ele se torna fonte de divisão e dilaceração nas suas relações com os outros
homens e com a criação.2
1.2. Superar as divisões e resolver os conflitos na sua fonte
Do outro lado, não há dúvida que todos os homens de boa vontade têm o desejo de um mundo
unido, de relações pacíficas e harmoniosas com os outros. Especialmente como cristãos temos o desejo
ardente de viver em paz e harmonia com todos. Então, o que devemos fazer? Como poderemos superar
as divisões, como ajudaremos a resolver os conflitos?
Sabemos que no mundo de hoje há muitas tentativas de criar paz e harmonia, há muitas
iniciativas de resolver os conflitos. Contudo, para eficazmente superar e curar os conflitos e divisões o
homem precisa atingir aquele conflito primordial que é a raiz escondida de todos os outros: o conflito
dentro do próprio coração humano que é a ruptura com Deus, que é o pecado.3
É necessário resolver o conflito na sua fonte, é necessário uma reconciliação com Deus que
atinge o coração e a consciência do homem.
2. A reconciliação como dom de Deus e missão da Igreja
2
3
Cf. João Paulo II, Exortação pós-sinodal Reconciliatio et Penitentia, 2.
Ibid., 3.
2
Sabemos que o homem, por si mesmo, é incapaz de se reconciliar com Deus de quem se afastou
pelo pecado. Portanto, a iniciativa de Deus é aqui decisiva. ―Foi Deus que nos reconciliou consigo por
meio de Cristo (2 Cor 5, 18). Como diz São Paulo na sua carta aos Colossenses:
―Aprouve a Deus fazer habitar nele (em Cristo) toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar
consigo todas as criaturas. E Cristo, ao preço do próprio sangue na cruz, estabeleceu a paz a tudo
quanto existe na terra e no céu.‖ (Col 1, 19-20).
2.1. A Cruz como sinal da nossa reconciliação com Deus e com todas as criaturas
A Cruz se torna assim o sinal da nossa reconciliação. A cruz nos faz lembrar as duas dimensões de
reconciliação, a dimensão ―vertical‖ que diz respeito à relação Deus-homem, e a dimensão ―horizontal‖
que se refere à reconciliação entre os homens e do próprio homem com as outras criaturas. Sabemos
que a reconciliação ―horizontal‖, isto é, aquela entre os homens, não é e não pode ser senão o fruto
daquela reconciliação ―vertical‖, isto é, do ato redentor pelo qual Cristo restabeleceu nossa amizade
com Deus, resolvendo deste modo o conflito dentro do coração humano. É por esta razão que a Cruz se
tornou o sinal insubstituível deste grande dom da reconciliação universal que manifesta a gratuidade e a
eficácia do inexaurível amor de Deus.4
2.2. A reconciliação é o dom do Cristo Crucificado e Ressuscitado
Leiamos agora aquele trecho do Evangelho segundo São João que trata da aparição do Ressuscitado
aos seus discípulos na tarde do Domingo da Páscoa:
Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do
lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes Ele:
―A paz esteja convosco!‖ Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao
ver o Senhor. Disse-lhes outra vez: ―A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também
Eu vos envio a vós.‖ (Jo 20, 19-21)
Vimos que a reconciliação é dom de Deus que vem a nós através do lado aberto de Cristo
crucificado. Por isso, o Senhor ressuscitado, ao transmitir aos seus discípulos o dom da paz, que é o
4
Ibid., 7.
3
dom da reconciliação, mostrou-lhes as Suas chagas e o seu lado, como que se Ele quisesse dizer: Esta
minha paz que vos dou provém destas chagas, este meu lado aberto na Cruz se tornou a fonte de toda a
reconciliação.
É interessante constatar que a saudação do Senhor ressuscitado é a saudação da paz: ―A paz esteja
convosco!‖ (Jo 20,19.21). Esta saudação tem, de fato, um significado pascal. Ela emerge do mistério
pascal, daqueles acontecimentos que se concentraram entre a Quinta-feira Santa e o Domingo da
Páscoa. Com efeito, a ―Paz‖ que o Ressuscitado traz aos seus discípulos exprime a reconciliação que
Ele nos alcançou mediante a Sua Cruz e que foi confirmada por meio da Sua ressurreição. Esta
reconciliação foi iniciativa salvífica de Deus, realizada em Jesus Cristo. Saudando os seus discípulos
com as palavras: ―A paz esteja convosco!‖, Cristo anuncia, portanto, a reconciliação de Deus com o
mundo - a reconciliação de Deus com o homem no mundo. Esta reconciliação é o imenso dom da
infinita misericórdia de Deus. Portanto, é muito apropriado que a Igreja celebra o Domingo da Divina
misericórdia na Oitava da Páscoa.
2.3. A reconciliação como missão da Igreja
Depois de ter anunciado este dom imenso, a reconciliação e a paz, Jesus continua dizendo: ―Como
o Pai me enviou, assim também Eu vos envio a vós.‖ (Jo 20, 21). Com isto, Ele quis dizer que a
reconciliação que Ele trouxe é um dom e contemporaneamente é uma missão. È um dom divino porque
só Deus nos pôde reconciliar consigo e com toda a criação, mas, ao mesmo tempo, é a uma missão, é
uma tarefa confiada a nós porque este dom deve ser acolhido e transmitido para produzir fruto.
Os Apóstolos que foram os primeiros a receber de Cristo o dom da reconciliação, estavam
conscientes da sua missão de proclamar e transmitir este dom aos outros. Eles estavam conscientes de
que Cristo lhes tinha confiado ―o ministério da reconciliação‖ (Cor 5, 18). Foi esta a razão por que
Pedro, logo na sua primeira pregação no dia de Pentecostes, anuncia o dom da reconciliação aos que se
encontravam lá: ―Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado no nome de Jesus Cristo para a
remissão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo!‖ (At 2, 38). E São Paulo se dirige aos
Coríntios com a angustiada exclamação: ―Suplicamo-vos em nome de Cristo, deixai-vos reconciliar
com Deus‖ (2 Cor 5, 20.)
2.4. A reconciliação: dom gratuito e exigente
4
Desde que a Igreja recebeu de Cristo o dom da reconciliação, ela deve proclamá-lo e transmiti-lo
em toda a sua realidade e verdade. Este dom é, por meio da Igreja, dirigido ao homem, ao homem de
todos os tempos e de todas as nações. Este dom é para a humanidade inteira, para cada comunidade
humana. È um dom gratuito que tem sua origem no amor misericordioso de Deus, mas, ao mesmo
tempo, é um dom exigente porque exige a conversão:
 a passagem do estado de ―inimizade‖ ao estado de ―amizade‖;
 a transformação do coração de pedra em coração de carne.5
Também para nós, a reconciliação é Dom gratuito de Deus e, ao mesmo tempo, é dom exigente
porque pede de nós uma contínua conversão, exige o nosso empenho de sempre de novo acolher este
dom na nossa vida para sermos capazes de transmiti-lo aos nossos irmãos e irmãs e ao mundo inteiro.
Uma questão que precisa ser tratada ainda é esta: Como é que podemos receber o dom da
reconciliação? Qual é o lugar onde este dom é transmitido à humanidade? A estas duas perguntas
procuraremos responder abaixo
3. A Igreja, o grande sacramento de reconciliação
Diz o Concílio Vaticano II com palavras muito significativas: ―A Igreja é em Cristo como que
um sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e entre os homens‖ (Lumen
Gentium, 1). Ou com outras palavras: Cristo fez da sua Igreja o sinal e instrumento da reconciliação da
humanidade com Deus e dos homens entre si. De fato, a reconciliação, este imenso fluxo de graça e de
perdão que vem do coração de Cristo, passa através da Igreja. A Igreja tem a missão de anunciar esta
reconciliação e de ser o seu sacramento, isto é, o seu sinal e instrumento.
Então, como é que a Igreja pode ser o sinal visível e o instrumento eficaz da reconciliação da
humanidade com Deus e dos homens entre si?
3.1. A Igreja, comunidade reconciliada
Disse o servo de Deus o Papa João Paulo II, que ―a Igreja, para ser reconciliadora, deve
começar por ser uma Igreja reconciliada‖6. Com efeito, para anunciar e propor de modo eficaz ao
5
Cf. Homilia de João Paulo II no dia 11 de Abril de 1985 em Loreto; Osservatore Romano Edição Portuguesa 21–IV1985,
pág. 8.
5
mundo o dom da reconciliação, a Igreja deve ser uma comunidade reconciliada, uma comunidade em
que o dom da reconciliação produz frutos visíveis de paz e de unidade.
A Igreja é chamada a dar o exemplo de reconciliação, antes de mais, no seu interior. Ela deve
ser uma comunidade dos discípulos de Cristo, unidos no empenho em se converterem continuamente
ao Senhor e em viverem como irmãos e irmãs no espírito de amor fraterno segundo o mandamento
novo: ―Amai-vos uns aos outros como Eu vos amo!‖ (Jo 15, 12).
O próprio Cristo nos ensinou a reconciliação no perdão. Inverteu as relações de poder e de
domínio, dando Ele mesmo o exemplo de como servir e colocar-se no último lugar. Portanto, todos nós
devemos aprender a servir e colocar-nos no último lugar. Devemos esforçar-nos por superar as
divisões, moderar as tensões, sanar as feridas eventualmente infligidas entre irmãos. Devemos aprender
a renunciar à nossa vontade própria, e procurar estar unidos naquilo que é o essencial para a fé e a vida
cristã, segunda a antiga máxima:7
 In dubiis libertas (liberdade naquilo que é duvidoso),
 in necessariis unitas (unidade no que é necessário),
 in omnibus caritas (e caridade em todas as coisas).
3.2. A Igreja, comunidade reconciliadora
Como vimos, para a Igreja poder ser ―sinal e instrumento da íntima união com Deus e entre os
homens‖ (Lumen Gentium, 1), ela deve viver em Cristo esta indissolúvel unidade antes de mais nada
dentro de si mesma, a ponto de ser ela mesma Igreja reconciliada, ou melhor, como disse
Sant’Agostinho, ―primícia do mundo reconciliado‖8. Só então, a Igreja poderá partilhar o dom da
reconciliação que ela recebe continuamente da Cruz de Cristo, do Seu sacrifício de reconciliação. O
servo de Deus, o Papa João Paulo II disse: É aqui, somente aqui, junto da Cruz de Cristo que devemos
haurir o estímulo e a coragem para todo o esforço de reconciliação,
 A partir da reconciliação dentro da Igreja,
 a fim de nos impelirmos àquela em âmbito ecumênico,
6
Reconciliatio et Penitentia, 9.
Cf. Ibid.
8
Cf. Agostinho, Sermo 96, 8.
7
6
 E nos projetarmos, com impulso missionário, para a reconciliação do mundo.9
Para ser inteiramente reconciliada, a Igreja deve buscar a unidade entre todos os cristãos. A
unidade dos cristãos separados deve ser o resultado de uma verdadeira conversão de todos, do perdão
recíproco, do diálogo, da oração e da plena docilidade à ação do Espírito Santo, que é também Espírito
de reconciliação.
Por fim, para cumprir plenamente a sua missão no mundo, a Igreja deve levar a Boa Nova de
reconciliação a todos os povos fazendo conhecer de geração em geração o desígnio do amor
misericordioso de Deus de reconciliar tudo e todos em Cristo. Ela deve ser medianeira deste amor
misericordioso de Deus que é o princípio de toda a comunhão e reconciliação. Ao mesmo tempo, ela
deverá indicar os caminhos concretos de reconciliação e, deste modo, impregnar a humanidade inteira
com o dom da reconciliação com Deus e entre os homens.
4. O sacrifício eucarístico, fonte da ação reconciliadora da Igreja
Comunidade reconciliada e reconciliadora, a Igreja não pode esquecer que na origem do seu
dom e da sua missão de reconciliação se encontra o sacrifício da Cruz, pelo qual fomos reconciliados
com Deus. A Igreja só pode ser o sacramento da reconciliação da humanidade com Deus porque ela
tem no seu seio o Sacrifício da Missa qual fonte inesgotável da reconciliação universal. Afirma o servo
de Deus, o Papa João Paulo II:
Todas as vezes que na Missa são pronunciadas as palavras da consagração e o Corpo
e o Sangue de Cristo se tornam presentes no ato do sacrifício, está também presente
o triunfo do amor sobre o ódio, e da santidade sobre o pecado. Toda a celebração
eucarística é mais forte do que todo o mal do universo; significa um cumprimento
real, concreto, da Redenção, e uma reconciliação cada vez mais profunda da
humanidade pecadora com Deus na perspectiva de um mundo melhor.10
4.1. A Eucaristia, fonte inesgotável de reconciliação
9
Cf. Discurso de João Paulo II no dia 11 de Abril de 1985 em Loreto; Osservatore Romano Edição Portuguesa 21–IV1985,
pág. 5.
10
João Paulo II, Audiência geral , 1 de Junho de 1983; Osservatore Romano 5-VI-1983, pág. 12.
7
Renovando sacramentalmente o sacrifício redentor, o Eucaristia tende a aplicar aos homens de
hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo, para a humanidade de todos os tempos.
As palavras que o sacerdote pronuncia no momento da consagração do vinho exprimem mais
diretamente esta eficácia, pois afirmam que o Sangue de Cristo, tornado presente no altar, foi
derramado pela multidão dos homens ―pela remissão dos pecados‖. São palavras eficazes; toda a
consagração eucarística obtém o efeito da remissão dos pecados para o mundo e contribui assim para a
reconciliação da humanidade pecadora com Deus.11
Aqueles, portanto, que participam no sacrifício eucarístico recebem uma graça especial de
perdão e de reconciliação. O Concílio de Trento neste sentido fala da Eucaristia como de um ―remédio
mediante o qual somos libertados das culpas quotidianas e preservados dos pecados mortais‖. 12 Por
conseguinte, quanto mais nos unirmos à oferta sacrifical de Cristo, tanto mais poderemos receber o
fruto da remissão dos nossos pecados e da reconciliação para nós e para a humanidade inteira. Diz o
servo de Deus, o Papa João Paulo II:
Cristo, mediante a Sua Cruz e a Sua morte no Calvário, reconciliou-nos com o Pai e
ofereceu-nos esta reconciliação para sempre. Nós vivemos na reconciliação com
Deus. E, todas as vezes quando nos reunimos para participar da Santíssima
Eucaristia, entramos de novo nesta realidade da reconciliação com Deus que nos foi
oferecida em Jesus Cristo e mediante Jesus Cristo na Sua morte.13
4.2. Eucaristia e Sacramento da Reconciliação
É verdade que o sacrifício da Missa qual atualização do sacrifício da Cruz é a fonte inesgotável
de toda a remissão dos pecados e de toda a reconciliação. Todavia, o fruto principal da Eucaristia não é
a remissão dos pecados daqueles que nela participam, mas a união com Cristo através da comunhão
sacramental. Esta união com Cristo exige uma grande pureza de coração.
Lavando os pés dos seus discípulos no início da Última Ceia, Jesus não quis somente dar-lhes
uma lição de humilde serviço. Antes Ele desejava fazer-lhes compreender que, para poder unir-se com
Ele na sagrada comunhão, era necessária também uma pureza de coração que só Ele, o Redentor,
estava em condição de dar. Podemos dizer que o lava-pés já era uma antecipação simbólica do
11
Cf. João Paulo II, Audiência geral , 15 de Junho de 1983; Osservatore Romano 19-VI-1983, pág. 12.
Decreto De SS. Eucharistia, cap. 2, Denz.-Schön. 1638; cf. 1740)
13
João Paulo II, Homilia 14 de Julho 1985 em Castelgandolfo; Osservatore Romano 22-IX-1985, pág. 10.
12
8
sacramento da penitência em vista do sacramento da Santíssima Eucaristia. Foi por isso que nosso
Senhor instituiu o sacramento da penitência na mesma sala da Última Ceia em que tinha celebrado a
Eucaristia na véspera da Sua Paixão salientando assim a conexão entre os dois sacramentos.
Qual é, então, a relação entre a SS. Eucaristia e o sacramento da Penitência? O Concílio de
Trento fala da Eucaristia como do sacramento que obtém a remissão dos pecados graves, mas através
da graça e do dom da penitência, a qual é orientada e inclui pelo menos na intenção – in voto – a
confissão sacramental.14 Isto significa que a Eucaristia, como sacrifício de reconciliação, não se
substitui nem se põe em paralelo com relação ao sacramento da reconciliação. O sacrifício Eucarístico
é antes a fonte da qual deriva e o fim para o qual se orienta o sacramento da reconciliação.
Resumindo podemos dizer que nosso Senhor confiou o efeito completo e íntegro da nossa
reconciliação ao sacrifício eucarístico porque este faz presente o sacrifício da Cruz até o fim dos
tempos. Ao mesmo tempo, Ele instituiu um outro sacramento, o sacramento da penitência para nos
conceder a remissão dos nossos pecados para podermos receber o fruto mais excelente do sacrifício da
Cruz que é a comunhão com Ele. São Paulo exorta os Coríntios: ―Examine-se cada qual a si mesmo e,
então, coma desse pão e beba desse cálice‖ (1 Cor 11, 28). Estas palavras do Apóstolo indicam, de fato,
o estreito laço que existe entre a Eucaristia e a penitência. Estes dois sacramentos tornam-se assim uma
dimensão dúplice e, ao mesmo tempo, intimamente conexa da vida cristã. Diz o servo de Deus Papa
João Paulo II:
O CRISTO que convida para o banquete eucarístico, é sempre o mesmo Cristo que
exorta à penitência, que repete o ―convertei-vos‖. Sem este constante e renovado
esforço pela conversão, a participação na Eucaristia ficaria privada da sua plena
eficácia redentora.15
5. A Igreja, ministra da reconciliação
Como já ouvimos, a reconciliação é dom de Deus e missão da Igreja. Foi na tarde do Domingo
da Páscoa que Jesus confiou à sua Igreja a missão e o poder de reconciliar os homens com Deus.
Ouçamos o trecho do Evangelho segundo São João onde Jesus confere esta missão e este poder aos
seus Apóstolos:
14
15
Decreto De SS. Eucharistia, cap. 2, Denz.-Schön. 1743)
Cf. João Paulo II, Encíclica Redemptor Hominis, 20.
9
Jesus disse-lhes outra vez: ―A paz esteja convosco!‖ Depois destas palavras, soprou
sobre eles, dizendo-lhes: ―Recebei o Espírito Santo! Àqueles a quem perdoardes os
pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.‖
(Jo 20, 21-23)
Infelizmente hoje em dia há muitos cristãos, mesmo católicos, que sentem dificuldade a respeito
do sacramento da penitência. Eles preferem pedir o perdão dos seus pecados diretamente a Deus, mas
não querem confessar ao padre. Eles não querem admitir uma mediação da Igreja na reconciliação com
Deus. No entanto, se levamos a sério as palavras de Jesus aos Seus Apóstolos -―Àqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados‖ - não há dúvida alguma que Jesus quis a mediação da
Igreja no que diz respeito ao perdão dos pecados. Qual é a razão disso?
5.1. Cristo conferiu à Igreja a missão e o poder de perdoar os pecados
Em primeiro lugar, Cristo se identifica com Sua Igreja. Ele confiou à Igreja a Sua própria
missão. ―Como o PAI me enviou, assim Eu vos envio a vós!‖ (Jo 20, 21). Ora, Jesus é o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29). Ele veio precisamente para nos libertar dos pecados.
De fato, durante a sua vida aqui na terra, Ele já tinha perdoado os pecados de homens e mulheres em
vista do seu sacrifício redentor. Quantas vezes Ele tinha dito: ―Vai em paz, os teus pecados são
perdoados!‖ (cf. Lc 5, 20). Aos escribas e fariseus que reclamaram dizendo ―Quem pode perdoar
pecados senão unicamente Deus!‖ (Lc 5, 21) Jesus retrucou quando certa vez tinha colocado um
paralítico diante dele: ―O que é mais fácil dizer: Os teus pecados são perdoados; ou: Levanta-te e anda?
Ora, para saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar pecados (disse Ele ao paralítico),
Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito e vai para a casa!‖ (Lc 5, 23). Deste modo, Ele tinha dado a
prova de que Ele, como Filho de Deus e Redentor do mundo, tem a autoridade e o poder de perdoar os
pecados aqui na terra. No Domingo da Páscoa Jesus transfere esta autoridade e este poder aos seus
Apóstolos, isto é, à sua Igreja. E, deste modo, Ele a constituiu ministra e medianeira da reconciliação
da humanidade com Deus. Diz o Beato Isaac della Stella:
A Igreja nada pode perdoar sem Cristo e Cristo nada quer perdoar sem a Igreja. A
Igreja não pode perdoar senão a quem é penitente, isto é, a quem Cristo tocou com a
sua graça; e Cristo nada quer considerar perdoado a quem despreza a sua Igreja.16
16
Isaac della Stella, Sermo 11, (In dominica III post Epiphania, I): PL 194, 1729.
10
5.2. Cada pecado há um duplo aspecto de ofensa a Deus e de ferida à Igreja
Em segundo lugar, o pecado tem sempre um duplo aspecto, uma dimensão ―vertical‖ e uma
dimensão ―horizontal‖. É em primeiro lugar ofensa a Deus, mas causa também uma ferida à
comunidade de irmãos e irmãs em Cristo que é a Igreja. Por isso diz o Concílio Vaticano II:
Os pecadores que se aproximam do sacramento da penitência obtêm da misericórdia
de Deus o perdão da ofensa que Lhe fizeram e, ao mesmo tempo, reconciliam-se
com a Igreja, que também é atingida pelo pecado e sempre procura levá-los à
conversão pela caridade, pelo exemplo e pela oração.17
Com estas palavras o Concílio nos lembra que o pecado é também uma ferida infligida à Igreja.
De fato, cada pecado prejudica a santidade da comunidade eclesial. Dado que todos os fiéis são
solidários na comunidade cristã, não há nunca pecado algum, mesmo o mais íntimo e secreto, que não
tenha um efeito negativo sobre toda a comunidade. Por esta razão cada pecado, mesmo o mais pessoal,
tem uma dimensão social.
Se é verdade que o bem praticado por uma só pessoa traz um benefício e um auxílio a todos,
infelizmente também é de igual modo verdade que o mal cometido por uma só pessoa prejudica a
todos. Se cada alma que se eleva, levanta o mundo inteiro, também é verdade que uma pessoa que se
rebaixa pelo pecado arrasta consigo a Igreja e, de certa maneira, o mundo inteiro.18
5.4. A dimensão pessoal e eclesial do sacramento da penitência
É verdade que não há nada mais pessoal e íntimo do que o Sacramento da Penitência, no qual o
pecador se encontra na presença de Deus, só, com a sua culpa, o seu arrependimento e a sua confiança.
Ninguém pode arrepender-se em seu lugar ou pode pedir perdão em seu nome. Tudo se passa só entre o
homem e Deus.
Mas, ao mesmo tempo, é inegável a dimensão social deste Sacramento, no qual é toda a Igreja
— a militante, a padecente e a triunfante no Céu — que intervém em auxílio do penitente e o acolhe de
novo no seu seio. É por esta razão que Jesus disse que ―haverá maior júbilo no céu por um só pecador
17
18
Lumen Gentium, 11.
Cf. Reconciliatio et Penitentia, 16.
11
que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento‖ (Lc 15,
7).
O sacramento da penitência tem, portanto, dois aspectos complementares: a dimensão pessoal e
a dimensão eclesial. O mesmo vale para o fruto deste sacramento:
O fruto mais precioso do perdão, obtido pelo sacramento da Penitência, consiste na
reconciliação com Deus, a qual se verifica no segredo do coração do pecador perdoado e reconciliado.
Contudo, tal reconciliação com Deus tem como conseqüência, por assim dizer, outras reconciliações,
que vão remediar outras tantas rupturas, causadas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se
consigo próprio no íntimo mais profundo do próprio ser, onde recupera a paz e a harmonia interior;
reconcilia-se com os irmãos, por ele de alguma maneira agredidos e lesados; reconcilia-se com a Igreja;
e reconcilia-se com toda a criação.
Todos os confessionários são, portanto, um espaço privilegiado e abençoado, do qual, pelo
efeito salutar do sacramento da penitência, surge não somente um homem reconciliado e renovado, mas
também um mundo reconciliado e renovado!19
6. A Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Reconciliação, e nossa missão
reconciliadora
Refletimos sobre o papel que a Igreja tem na reconciliação da humanidade com Deus e dos
homens entre si. Vimos que a Igreja, para ser o sinal e instrumento de reconciliação, deve ser ela
mesma uma Igreja reconciliada e unida no amor de Cristo. No entanto, a Igreja somos todos nós.
Somos nós que devemos ser esta comunidade dos discípulos que é reconciliada e unida no amor de
Cristo para poder ser portadora de reconciliação para outros.
Quando uma pessoa vive no estado de pecado, não poderá irradiar a paz e o amor de Cristo, se
ela mesma não os tem no coração. Ou se um cristão não apreciasse o dom do perdão dos seus pecados,
como poderia ele levar outros à reconciliação com Deus ?
6.1. Só a pessoa reconciliada pode ser instrumento de reconciliação para os outros
19
Cf. Reconciliatio et Penitentia, 31.
12
Cada um de nós, para poder ser instrumento de reconciliação para os outros, deve ser primeiro
uma pessoa reconciliada com Deus. Somos chamados continuamente a nos convertermos e a acolher
sempre de novo o grande dom da reconciliação na nossa vida. Este dom nos é oferecido antes de tudo
no sacramento da penitência. Por conseguinte, deveríamos procurar a confissão sacramental com
freqüência.
Depois, deveríamos procurar aprofundar a nossa união com Cristo pela oração e pela
participação regular na Santa Missa que é a fonte de toda a reconciliação, cujo fruto mais excelente é a
comunhão eucarística com nosso Senhor e, nele, com nossos irmãos.
A Virgem Imaculada nos pode ajudar para vivermos sempre na união com Deus e com nossos
irmãos, pois, graças à sua Imaculada Conceição, Ela nunca viveu na inimizade com Deus. Foi no seu
Coração Imaculado que ―se operou a reconciliação de Deus com a humanidade..., se realizou a obra da
reconciliação, porque ela recebeu de Deus a plenitude da graça, em virtude do sacrifício redentor de
Cristo20
6.2. A nossa contribuição para a reconciliação dentro da comunidade da Igreja e no
mundo ao nosso redor
É verdade que o ministério da reconciliação no sentido sacramental não é confiado senão aos
ministros ordenados segundo a missão específica que o próprio Senhor lhes conferiu para o bem de
toda a Igreja. Todavia também os leigos desempenham um importante ministério de reconciliação em
benefício de seus irmãos. Eles fazem parte da Igreja como ―comunidade sacerdotal‖ que ―procura levar
os pecadores à conversão pela caridade, pelo exemplo e pela oração.‖21
Eis dois caminhos nos quais os leigos podem e devem cooperar na missão da Igreja de ser
instrumento de reconciliação:
Em primeiro lugar, o exemplo vivido da caridade fraterna e do perdão recíproco que todo
cristão deve procurar dar na sua vida. Os homens de hoje não podem ser convencidos só pelo anúncio
do dom da reconciliação, mas precisam ver exemplos vivos, mesmo heróicos de reconciliação e perdão.
Basta pensar no exemplo do nosso próprio Senhor que morrendo na Cruz perdoou os seus inimigos
intercedendo por eles: ―Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!‖ Ou, o exemplo tão
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João Paulo II, Audiência geral de 7 de Decembro de 1983, n.2: Insegnamenti, V, 2 (1984), 16-18.
Lumen Gentium, 11.
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eloqüente da Santa Maria Goretti e do servo de Deus, o Papa João Paulo II que estavam prontos a
perdoar os seus próprios assassinos.
Em segundo lugar, a oração pela qual a comunidade da Igreja assiste os pecadores a se
reconciliarem com Deus. Nesta oração pela conversão dos pecadores estamos unidos e assistidos pela
Bem-aventurada Virgem Maria e pelos Santos que intercedem por nós e nos sustentam no esforço de
conversão. Especialmente na reza do terço unimo-nos com a intercessão maternal da Virgem Maria
implorando-a: ―Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte.
Amém.‖
CONCLUSÃO
A reconciliação é dom de DEUS e missão da Igreja. Foi na tarde do Domingo da Páscoa
que Jesus confiou à sua Igreja a missão e o poder de reconciliar os homens com Deus.
Cristo confiou à Igreja a Sua própria missão. ―Como o Pai me enviou, assim Eu vos envio a
vós!‖ (Jo 20, 21). Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele veio precisamente para
nos libertar dos pecados. Durante a sua vida aqui na terra Ele já tinha perdoado os pecados de homens e
mulheres em vista do seu sacrifício redentor. Ele tinha dado a prova de que, como Filho de Deus e
Redentor do mundo, tem a autoridade e o poder de perdoar os pecados aqui na terra. No Domingo da
Páscoa Jesus transfere esta autoridade e este poder aos seus Apóstolos, isto é, à sua Igreja. E, deste
modo, Ele a constituiu ministra e medianeira da reconciliação da humanidade com Deus.
O pecado tem uma dimensão vertical de ser ofensa a Deus e, ao mesmo tempo, uma dimensão
horizontal de prejudicar a comunidade da Igreja e, em certo sentido, o mundo inteiro. Uma vez que não
se podem separar estas duas dimensões do pecado, também a reconciliação deve ter uma dupla
dimensão. A reconciliação com Deus deve ser ao mesmo tempo reconciliação com a Igreja e, em certo
sentido, com toda a criação, cuja harmonia foi violada pelo pecado.
A Igreja é mediadora da reconciliação porque Jesus lhe conferiu a missão e o poder de perdoar
os pecados. Sem dúvida o poder de perdoar é de Deus, e a remissão dos pecados é a obra do Espírito
Santo: todavia, o lugar estabelecido por Deus onde se obtém o perdão dos pecados é a Igreja como
comunidade de salvação. O perdão é, portanto, pedido a Deus, e concedido por Deus, mas não
independentemente da Igreja, fundada por Jesus Cristo para a salvação de todos.
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O fruto mais precioso do perdão, obtido pelo sacramento da Penitência, consiste na
reconciliação com Deus, a qual se verifica no segredo do coração do pecador perdoado e reconciliado.
A reconciliação com Deus tem como conseqüência, outras reconciliações, que vão remediar outras
tantas rupturas causadas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se consigo próprio no íntimo
mais profundo do próprio ser, onde recupera a paz e a harmonia interior; reconcilia-se com os irmãos,
por ele de alguma maneira agredidos e lesados; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a
criação.
A Virgem Imaculada nos pode ajudar para vivermos sempre na união com Deus e com nossos
irmãos, pois, graças à sua Imaculada Conceição, Ela nunca viveu na inimizade com Deus.
Abstract
The world appears increasingly divided and torn apart. Although today we can communicate with the
world through modern means of communication, even though we know and see via satellite what is
happening in the other corner of the world, yet we do not live in a world that is united but full of
divisions and conflicts. The root of all these conflicts and divisions does not come from outside, but is
within the human heart. It is, in final analysis, the rejection of God's love, a broken relationship with
God, or in other words: a reality of sin. Men of good will have the desire for a united world, for a
peaceful and harmonious relationship with others. How can we overcome divisions, how can we
resolve conflicts? Man, himself, is unable to restore his broken relationship with God from whom he
separated because of sin. Therefore, God's initiative is decisive here. He has sent his Son to reconcile
us with God through his sacrifice on the cross. The greeting of the Risen Lord is the greeting of peace.
Christ announces, therefore, the gift of the forgiveness of sins and consequently the reconciliation
between God and man and of men among themselves. This reconciliation is possible through the
Church by means of the sacrament of reconciliation.
Keywords: division, sin, reconciliation, peace; Church.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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______. Carta Encíclica Redemptor Hominis.
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______. Audiência geral , 1 de Junho de 1983; Osservatore Romano 5-VI-1983, p. 1
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______. Audiência geral de 7 de Decembro de 1983, n.2: Insegnamenti, V, 2 (1984), 16-18.
SANTO AGOSTINHO. Sermo 96, 8.
STELLA, Isaac della, Sermo 11, (In dominica III post Epiphania, I): PL 194, 1729.
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