RESUMO (Composição, estrutura e efeitos de bordas lineares na comunidade arbustiva-arbórea de um remanescente urbano de Mata Atlântica no sudeste do Brasil). A fragmentação é uma das principais ameaças à biodiversidade, por ampliar efeitos de borda e afetar padrões e processos ecológicos. Porém, bordas lineares podem apresentar características diferenciadas daquelas de fragmentos. O PARNA Tijuca, cercado pela cidade do Rio de Janeiro e recortado por estradas pavimentadas, é uma das maiores florestas urbanas do mundo. Foram avaliados indicadores microclimáticos, florísticos, fitossociológicos, de diversidade, grupos sucessionais, síndromes de dispersão, similaridade regional e de estrutura física do componente arbustivo-arbóreo associados a estradas que recortam o setor “A” do parque. A temperatura do ar, umidade relativa do ar e luminosidade foram registradas em dois ciclos anuais. Em diferentes locais foram estabelecidos perfis perpendiculares às estradas, das margens para o interior da floresta, com parcelas de 10 m2 nas distâncias: 0-10 m, 30-40 m, 60-70 m e 90-100 m, totalizando 0,28 ha. Foram coletados os indivíduos com DAP ≥ 2,5 cm sendo definidos a ocorrência, grau de raridade, grupo sucessional e síndrome de dispersão das espécies. A distribuição espacial, densidade e aspectos reprodutivos de Pychotria nuda Cham. & Schltdl. (Rubiaceae), foram obtidas em nove perfis de 100 m, perpendiculares às estradas, no formato supracitado. As estradas apresentaram microclima distinto da floresta, entretanto, não foram detectadas diferenças para temperatura e umidade relativa do ar das estradas para o interior da floresta. Foram amostrados 986 indivíduos distribuídos em 40 famílias, 90 gêneros e 200 espécies. As dez espécies mais abundantes corresponderam a 5% do total e 51% dos indivíduos. Os índices de diversidade e equabilidade foram: H' = 4,129 e J = 0,779. A densidade total foi 3.523 indivíduos/ha e a área basal total 49,1 m2/ha. A mediana das alturas totais foi 7,5 m (interquartis entre 5,0 e 11,0 m) e a média 10,5 m (± 5,4). A mediana dos DAP foi 5,3 cm (interquartis entre 3,5 e 10,7 cm) e a média 12,2 cm (± 11,2). O percentil das 10% maiores árvores foi 16,0 m de altura e 20,6 cm de DAP. Foi registrado um alto percentual de espécies com um indivíduo na amostragem (54,7%). P. nuda apresentou distribuição agregada pelo índice de Morisita (n = 847; IM > 1). A densidade populacional sob influência de clareiras atingiu 5,4 ind/m2 e nos trechos mais distantes das estradas foi 0,55 ind/m². Indivíduos estéreis foram mais abundantes que os férteis a 90-100 m. A ausência de gradiente sugere que as bordas lineares analisadas possam apresentar características diferenciadas daquelas de fragmentos florestais situados em matrizes distintas. A pequena largura das estradas e o relevo acidentado acarretam na minimização das diferenças microclimáticas e na ausência de gradientes perceptíveis. Os indicadores biológicos apontam que a área estudada encontra-se em estágio sucessional avançado, e comparativamente, em bom estado de conservação, o que contraria a noção disseminada de uma floresta mais antropizada que outros trechos similares de Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro. Aparentemente, os aspectos estruturais e reprodutivos de P. nuda não estão sendo afetados significativamente pelos efeitos de borda das estradas. Apesar de não terem sido observados padrões claros de efeitos de borda na estrutura física da vegetação, alguns indicadores sugerem a existência dos mesmos, incidindo mais acentuadamente nos primeiros metros após as margens das estradas. Palavras-chave: ecologia de estradas, floresta urbana, Parque Nacional da Tijuca, microclima, Psychotria.