SOCIEDADE, ESCOLA E REPRODUÇÃO SOCIAL: ISTVAN

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SOCIEDADE, ESCOLA E REPRODUÇÃO SOCIAL: ISTVAN
MÉSZÁROS E A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL.
ALMEIDA, José Luciano Ferreira de 1 - SEED PR
PARRA, Silvia2 - SEED PR
Grupo de Trabalho - Cultura, Currículo e Saberes.
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O objetivo dessa comunicação é analisar o papel da educação escolar, formação docente e
sua adequação aos propósitos da reprodução do capital. Nesse sentido busca-se a partir da
reflexão de Istvan Mészáros o suporte teórico necessário para refletir a educação para além
do capital. Ao mesmo tempo remete-se para a função da educação escolar no interior desse
processo histórico, levando-se em consideração que o capital é uma construção histórica que
atende a uma determinada lógica social que contempla as relações de poder e de dominação.
Pensar a educação escolar como mecanismo de superação do capital tal qual ele se efetivou
historicamente, requer considerar os elementos sociais, políticos e históricos que determinam
o trabalho educativo contemporâneo. Ao mesmo tempo deve-se considerar a dimensão da
formação docente a partir dos saberes constituídos para o desenvolvimento da prática docente.
O mundo do trabalho capitalista é determinante para a constituição desses saberes que
envolvem a formação docente, nesse sentido deve-se considerar que ao estabelecer uma
relação entre essa formação e reprodução social é fundamental compreender o papel
histórico da própria educação escolar. Os mecanismos que levam a educação escolar a se
tornar um processo de reprodução das relações sociais dominantes se constituem a partir do
próprio mundo do trabalho capitalista. Nesse caso, a relação entre formação docente e
trabalho é inerente ao próprio processo de uma educação transformadora, ou para além do
capital que significa estabelecer uma formação docente com base em saberes que pensem a
sociedade e a educação a partir de uma perspectiva critica de sociedade. Nesse sentido há que
se superar os mecanismos que produzem e reproduzem as relações de dominação e de poder.
Palavras-chave: Educação. Reprodução social. Capital. Sociedade. Saberes escolares.
1
Mestre e Especialista em Educação: Universidade Federal do Paraná. Professor da Rede Estadual de Educação
do Paraná (SEED). Professor do Ensino Superior e Pós graduação em Educação - E-mail:
[email protected].
2
Mestre e Especialista em Educação: Universidade Federal do Paraná. Professora da Rede Estadual de Educação
do Paraná (SEED). Professora do Ensino Superior e Pós graduação em Educação - E-mail:
[email protected].
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Introdução
O centro dessa comunicação é discutir a partir do pensamento reflexivo de István
Mészáros o processo de reprodução escolar, formação docente e a educação para além do
capital. O papel da educação escolar nesse sentido ganha destaque por meio de uma relação
pedagógica na qual a ausência da critica e de possibilidades de transformação tornam-se cada
vez mais presentes. Ao mesmo tempo tem-se uma redução da teorização sobre a relação entre
educação escolar e transformação social.
O termo transformação social não envolve qualquer novidade intrínseca.
Normalmente, implica uma noção subjacente sobre o modo como a sociedade e a
cultura se transformam em resposta a factores como o crescimento económico, a
guerra, ou convulsões políticas. (CASTLES, 2002,p.125)
Busca-se a partir dos referenciais teóricos levantar questões, reflexões, discussões e
compreender o nexo entre formação docente, saberes, reprodução do capital e mundo do
trabalho. A presença da centralidade do mundo do trabalho nesse aspecto é fundamental para
sustentar a defesa de uma concepção e de um pensamento critico para uma educação para
além do capital. “O capital é a força econômica da sociedade burguesa que tudo domina.
Constitui necessariamente o ponto de partida e o ponto de chegada e deve ser explicado antes
da propriedade fundiária.” (MARX, 2011, p.257)
Ao mesmo tempo deve-se considerar que a educação escolar encontra-se sob uma
dupla dimensão: a primeira refere-se a compreendê-la como um mecanismo histórico de
reprodução social, ou seja, ela atende a manutenção de uma realidade social que envolve
processos de dominação e perpetuação das relações de poder, sob a hegemonia de uma classe
social, nesse caso a burguesia. Por outro lado, a segunda dimensão refere-se a compreendê-la
como um mecanismo histórico de transformação social, ou seja, ela pode desencadear uma
mudança social a partir da critica e negação das relações sociais dominantes e ao próprio
movimento e lógica do capital.
A educação escolar nesse contexto no qual as contradições são inerentes ao
desenvolvimento do trabalho educativo, e mesmo da formação docente deve ser tomada como
um elemento politico, na medida em que ela mesma tem por função e natureza a manutenção
das relações de poder e do predomínio do capital sobre o trabalho.
A vida em sociedade necessita dos indivíduos a produção e apropriação
de
conhecimentos e saberes, e esses conhecimentos por meio do processo histórico é repassado
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por meio da educação escolar. Cabe à educação desencadear esse complexo mecanismo de
entendimento sobre a natureza e sobre a sociedade, ao mesmo tempo cabe a ela promover a
produção de conhecimentos e saberes que constituem a base de desenvolvimento dos grupos
sociais.
Nesse aspecto o conhecimento tem uma função fundamental para o desenvolvimento
da formação docente e para e educação escolar, deve-se considerar que o caráter de uma
prática educativa progressista possui como pressuposto um trabalho educativo voltado para a
transformação social.
Por outro lado, na educação escolar contemporânea a importância dos saberes
docentes na perspectiva da transformação social é reduzida, a formação docente passa a ser
um mecanismo de precarização da educação escolar e do trabalho educativo. O contexto de
um mundo do trabalho permeado pelo processo neoliberal e pela globalização faz-se
presente, deve-se considerar a necessidade de se refletir sobre essa relação, sob o risco de
perder-se a capacidade critica de compreender os saberes que constituem a educação escolar.
No contexto atual, com as políticas neoliberais, o conhecimento passou a ser foco
de grande atenção em razão da sua importância para o desenvolvimento econômico,
no entanto, com a diminuição da responsabilidade do Estado com a educação, a
profissão, também, tende a ser cada vez mais desvalorizada. (ENS, R. T.; GISI, M.
L.; EYNG, A. M. 2011, p.312)
A desvalorização da formação docente e sua profissionalização recai sobre os próprios
saberes escolares, repõe-se nesse sentido a natureza de uma educação escolar cuja perspectiva
histórica se constitui como mecanismo de reprodução de um contexto social cujo principal
objetivo consiste em reproduzir as formas de manutenção e acumulação do capital. O papel do
capital nesse sentido tem o proposito de ampliação das relações de dominação e de poder que
são inerentes ao mundo do trabalho capitalista.
Os saberes docentes e escolares estão nesse caso submetidos a uma lógica do capital
que não possibilita uma ampliação das possibilidades de transformação histórica da sociedade
capitalista, constituindo-se em agencia de reprodução dos valores e representações produzidas
pelo grupo social hegemônico. Nesse aspecto a formação docente aliada a um saber que é
constituído a partir da reprodução social, aparece como uma dimensão na qual a ausência de
critica é parte constituinte desses saberes.
A educação para além do capital requer a compreensão de um mundo do trabalho no
qual as relações históricas de produção têm por objetivo, a manutenção da ampliação e
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acumulação do capital sem levar em consideração os processos internos e as contradições
sociais que sustentam um amplo mecanismo de dominação e poder.
Ao considerarmos que a educação é para a vida, como afirma Mészáros (2005), isso
quer dizer que deve-se superar a alienação.
Alienação é um conceito eminentemente histórico. Se o homem é alienado, ele deve
ser alienado com relação a alguma coisa, como resultado de certas causas – o jogo
mútuo dos acontecimentos e circunstâncias com relação ao homem como sujeito
dessa alienação – que se manifestam num contexto histórico. (MÉSZÁROS, 2006,
p.40)
Nesse caso a educação escolar para o mercado reproduz a lógica do capital, ou seja,
volta-se para a manutenção das relações sociais de poder e dominação. O capital assim tornase um processo que desumaniza, na medida em que promove e inculca um saber escolar que
fundamenta-se na individualização e na competição. Esses mecanismos que compõem a
lógica do mercado são a base para o desenvolvimento e a produção de um contexto no qual o
poder se institui como elemento central do trabalho educativo.
A critica à sociedade capitalista e ao Estado no qual a própria reprodução compõe a
sua estrutura, expressa o contexto que constitui a educação escolar e os saberes que
fundamentam a formação docente. Esses saberes docentes podem ser considerados como
conhecimentos que não promovem o desenvolvimento de uma conscientização sobre a
natureza do trabalho educativo.
Nesse sentido o objetivo dessa comunicação é o de promover e retomar a necessidade
de constituição de uma reflexão critica sobre a formação docente e seus saberes na
perspectiva de uma educação escolar para além do capital, ou seja, para além das relações de
dominação, de poder e mesmo de exclusão social. A relação entre educação escolar e a
reprodução social envolve nesse aspecto a dimensão e o desenvolvimento dos saberes
escolares, na direção de que a formação docente em si mesma reproduz o caráter e a lógica de
uma sociedade na qual a própria centralidade do mundo do trabalho capitalista saiu de cena e
ocupa um espaço reduzido enquanto mecanismo e objeto de reflexão.
A educação escolar e a questão da reprodução social e saberes docentes: algumas
considerações
A formação docente numa perspectiva critica depende em larga medida dos saberes
que se constituem a partir de uma perspectiva histórica, politica e social. O trabalho docente é
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um mecanismo fundamental para compreender-se a dimensão da reprodução social e a
ausência do elemento reflexivo, ao mesmo tempo há que se considerar a dimensão
conservadora da relação pedagógica. O papel da formação docente nesse sentido é inerente ao
desenvolvimento do trabalho educativo.
A docência e seus agentes ficam nisso subordinados à esfera da produção porque sua
missão primeira é preparar os filhos dos trabalhadores para o mercado de trabalho. O
tempo de aprender não tem valor em si mesmo, é simplesmente uma preparação para
a “verdadeira vida”, ou seja, o trabalho produtivo, ao passo que, comparativamente a
escolarização é dispendiosa, improdutiva ou, quando muito, reprodutiva. (TARDIF,
2005, p.17)
É nesse contexto que os saberes docentes encontram uma relação intelectual com a
educação escolar, ou seja, a partir de uma lógica que sustenta-se na reprodução social do
capitalismo. O mecanismo da reprodução traduz a permanência das relações de poder e de
dominação na perspectiva de uma educação escolar que permita a apropriação de saberes
escolares que conserva e não transforma.
Complexifica-se assim a possibilidade de se desenvolver uma prática reflexiva e
crítica na formação e na construção de saberes docentes. Há uma espécie de impedimento que
se perpetua a partir da própria constituição da educação escolar que na lógica do mundo do
trabalho capitalista é marcada pela reprodução.
Há nesse mecanismo de reprodução a manutenção de um contexto que se reduz a
manutenção da desigualdade diante do processo escolar. A desigualdade é um mecanismo
central na constituição da reprodução social. “Mas não é suficiente enunciar o fato da
desigualdade diante da escola, é necessário descrever os mecanismos objetivos que
determinam a eliminação continua das crianças desfavorecidas.” (BOURDIEU, 2007, p.4)
A educação no contexto da reprodução social tem como perspectiva o
desenvolvimento e manutenção de uma lógica que contextualiza o mecanismo das
desigualdades e da seleção escolar. A questão fundamental que se coloca diante desse
quadro está no aspecto da formação docente, no sentido de que os saberes não são suficientes
para transformar, para ir além do capital.
Ao mesmo tempo há que se refletir sobre os saberes docentes na construção e
elaboração de uma critica ao processo de desigualdade que a própria educação escolar
legitima. Deve-se considerar que a reprodução confirma a manutenção de um contexto no
qual a desigualdade é a base dessa cultura escolar.
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Nesse sentido os saberes docentes são imprescindíveis para a própria reprodução ou
para a transformação desse contexto. A ausência ou o estabelecimento da critica histórica à
reprodução são fundamentais para se pensar a própria formação docente, nesse aspecto o
próprio trabalho educativo torna-se uma pratica docente na qual está permeada pela
perspectiva de redução ou mesmo de ausência da crítica.
A superação de uma educação escolar pautada pela reprodução está na
contextualização histórica da educação escolar. Há que se constituir um mecanismo ou uma
prática reflexiva a partir da própria superação da reprodução social. Na estruturação da
sociedade capitalista o desenvolvimento das forças produtivas ocorrem de forma que se
estabelece um mecanismo que é fundamental para a consolidação do poder do capital sobre o
trabalho. O papel da alienação ocupa um espaço central nesse mecanismo, ou seja, a
reprodução social do poder consolida-se a partir da ausência de uma construção intelectual
teórica critica que promova uma formação e um saber docente pautada pela lógica
transformadora.
Educação escolar e formação docente para além do capital : o papel da reprodução e
alienação
A formação docente como uma pratica transformadora deve ser compreendida no
contexto da sociedade capitalista, ao mesmo tempo assinala-se que essa mesma prática inserese no contexto das contradições sociais. Enfatiza-se a necessidade da mudança como um
processo de constituição de uma nova realidade, “uma mudança que nos leve para além do
capital, no sentido genuíno e educacionalmente viável do termo.” (MÉSZÁROS, 2005, p.25)
Por outro lado, não há transformação da educação sem uma correspondente
transformação do contexto social, elas estão interligados. A lógica do capital se impõe sobre
a realidade social na qual a educação escolar se institui; nesse sentido transformar a realidade
educacional requer significativamente romper com essa mesma lógica.
Há que se considerar nesse aspecto a dimensão da formação docente num contexto da
reprodução social, ou seja, se essa formação não contempla uma mudança e uma
transformação, ela está inserida na manutenção das condições de conservação do capital e
suas formas de reprodução de um contexto social hegemônico.
Ao mesmo tempo é fundamental considerar as bases que sustentam uma formação, a
definição de um método que dê sustentação a uma determinada concepção de sociedade deve
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ser considerada e mesmo observada. A constituição dos saberes escolares nesse caso pode ser
considerada como reflexo desse mecanismo de sustentação das relações de reprodução de um
contexto social que é hegemônico.
De um modo geral deve-se observar o contexto contemporâneo do mundo do trabalho
capitalista, de forma que esse contexto é determinante para a lógica da reprodução presente na
formação docente. Ao se conhecer o contexto no qual a formação docente se desenvolve e se
realiza, a possibilidade de desenvolver-se uma reflexão critica torna-se ampliada.
O capital não é uma coisa, mas um processo em que
enviado em busca de mais dinheiro (...) Até mesmo o
capitalista, por exemplo quando usa as receitas
infraestruturas que estimulem o crescimento e gerem
(HARVEY, 2011, p.41)
o dinheiro é perpetuamente
estado pode atuar como um
fiscais para investir em
mais receitas em impostos.
A presença dessa lógica na formação docente materializa os mecanismos de
reprodução de um contexto social no qual se insere a educação escolar. Advoga-se nesse
sentido, a elaboração de um quadro critico sobre esse processo, haja vista a presença de um
caráter histórico que reproduz as relações de poder e de dominação. Há que se configurar uma
formação docente que observe criticamente essa dimensão, que por si só é politica por
excelência.
A formulação da critica deve ser compreendida como uma manifestação de que a
educação escolar constitui-se como um importante mecanismo para a transformação social,
politica, econômica e cultural. Estabelecer um nexo entre educação critica e transformação
social deve ser compreendido como um recurso no qual os saberes docentes são fundamentais
para a materialização desse processo.
A educação escolar critica se caracteriza pela ênfase na dimensão politica e histórica
do trabalho educativo, nesse caso há que se compreender que o mundo do trabalho capitalista
apresenta limites diante da perspectiva de uma sociedade na qual as relações de poder e de
dominação se constituem como mecanismos que exigem a transformação social.
Esse conceito de educação como produção do humano histórico não pode ser
desvinculado de sua dimensão politica. A politica se faz presente como realidade
inerente à espécie humana porque não é sequer imaginável que o homem, em sua
condição histórica, como produtor de sua própria humanidade, possa existir
isoladamente. O homem só consegue produzir sua realidade material relacionandose com outros homens, por meio da divisão social do trabalho. (PARO, 2011, p.2627)
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Retoma-se a relação da educação com a dimensão da politica, nesse aspecto o mundo
do trabalho ocupa também uma dimensão fundamental nesse processo. Ao mesmo tempo
destaca-se a formação docente como um processo inerente à condição contemporânea da
educação escolar.
Coloca-se nesse aspecto a formação docente como imprescindível para a elaboração
de um contexto no qual a superação de uma educação na qual seja possível pensar e
materializar a sua transformação. Há que se reconhecer que diante de um mundo do trabalho
capitalista contemporâneo, a formação docente e a construção de seus saberes passa por uma
crise estrutural.
A crise na área de formação dos professores não é só uma crise econômica,
organizacional ou de estrutura curricular. É uma crise de finalidade formativa de
metodologia para desenvolver esta formação, reestabelecendo a relação de
comunicação e de trabalho com as instancias externas nas quais os formandos vão
atuar, ou seja, as escolas em sua cotidiana concretude. (GATTI, 2011, p.156)
O contexto social no qual a formação docente se materializa é determinante para a
compreensão da natureza desse processo. Torna-se fundamental assinalar que ao inserir a
formação docente a partir da perspectiva de para além do capital, significa compreender seu
alcance e objetivo. Deve-se compreender a educação como um mecanismo para a superação
da alienação, ou seja, como uma forma para mudar as condições nas quais o real estado das
coisas retorne à consciência do individuo.
Há nesse sentido a presença do caráter da transformação social, ela permanece como
um meio fundamental para a construção de uma educação escolar que leve em consideração
as contradições sociais presentes na formação docente. Visa atender as condições nas quais a
sociedade em geral busca pensar a educação escolar como meio para a inserção do individuo
num mundo do trabalho capitalista.
Vivemos sob condições de uma desumanizante alienação e de uma subversão
fetichista do real estado de coisas dentro da consciência (muitas vezes caracterizada
como “reificação”) porque o capital não pode exercer suas funções sociais
metabólicas de ampla reprodução de nenhum outro modo. Mudar essas condições
exige uma intervenção consciente em todos os domínios e em todos os níveis da
nossa existência individual e social. (MÉSZAROS, 2005, p. 59)
No que se refere a formação docente há que se considerar também que a alienação é
um mecanismo que está presente como uma dimensão inerente da e para a reprodução do
capital. O eixo central dessa questão está no fato de que os saberes constituintes na formação
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docente não possibilitam a produção de uma critica a esse mesmo processo de reprodução. Há
que se considerar a necessidade de se estabelecer um mecanismo que possibilite a partir da
formação a elaboração de um quadro critico que permita superar essa alienação.
Nesse sentido pensar uma formação docente num contexto histórico significa
compreendê-la a partir das suas condições materiais de existência, ou seja, do mundo do
trabalho e suas contradições. Torna-se necessário vislumbrar o quanto a formação docente
insere-se no contexto da alienação, não como um exercício especulativo sobre suas
possibilidades, mas o quanto essa alienação estabelece uma prática e um saber docente
eminentemente marcado pela reprodução e pela conservação de um contexto no qual as
relações sociais de dominação e de poder se enraízam-se no interior da sociedade.
A alienação assim adquire uma condição de base para a reprodução e ao mesmo tempo
impedir a superação de uma educação para além do capital, na medida em que não possibilita
o desenvolvimento de uma saber docente critico e histórico. A ausência da critica e da
reflexão histórica é um dos principais mecanismos para a reprodução escolar, ou seja, tem-se
a constituição e a perpetuação de uma condição na qual a formação docente institui-se como
acrítica. Dessa foma o processo de emancipação humana torna-se um aspecto que deve ser
considerado como um contraponto ao mecanismo de alienação e submissão da educação
escolar ao capital.
A emancipacao humana é objetivo de uma educacao escolar para além do capital, por
outro lado, reconhece-se que no atual estágio de desenvolvimento da sociedade capitalista, ela
tem se apresentado como um instrumento que legitima os valores, saberes e interesses das
classes dominantes.
Ao invés de tornar-se um mecanisno de emancipacao humana, a educacao escolar
promove uma especie de perpetuacao da reproducao social da lógica capitalista. Isso decorre
da necessidade que possui o capital para socializar determinados principios que insejam a
reproducao. A reproducao assim, decorre da capacidade que o capital tem para reduzir ou não
permitir a realizacao da emancipacao da forca de trabalho.
O mecanismo da alienacao se sobrepoe ao mecanismo da emancipacao, nesse sentido,
a educacao escolar adquire uma funcao central diante da impossibilidade de superar a
reproducao. Assim como o trabalho, também a educacao está subordinada ao capital, dessa
forma a educacao funciona como um instrumento de internalizacao do contexto do capital que
explora o trabalho. Como ocorre com o trabalho, a educacao compartilha a alienacao como
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um mecanismo imprescindivel para a reproducao social, a emancipacao assim, somente é
possivel a partir da compreensao de que o processo educativo está inserido e articulado a um
quadro social mais amplo da sociedade capitalista.
As contradições e os processos que estruturam as relações de poder e dominação são
decorrentes de um contexto histórico que possui como lógica a própria reprodução do capital
em detrimento do trabalho.
Portanto, seria realmente um absurdo esperar uma formulação de um ideal
educacional, do ponto de vista da ordem feudal em vigor, que considerasse a
hipótese da dominação dos servos, como classe, sobre os senhores da bem
estabelecida classe dominante. (MÉSZÁROS, 2005, p.26)
Há que se considerar que o desenvolvimento histórico da sociedade capitalista tem na
educação escolar uma importante participação para a estruturação do mundo do trabalho, a
incorporação do conhecimento cientifico à técnica foi um processo imprescindível para a
expansão do capital. Ao mesmo tempo deve-se considerar que é na educação escolar que temse a qualificação e profissionalização para o trabalho, nesse sentido o capital necessita de uma
mão de obra que atenda aos designíos e exigências da lógica expansiva da sociedade
capitalista.
Considerações Finais
Pensar uma educação para além do capital requer desenvolver uma lógica critica na
perspectiva da superação do capitalismo, ao mesmo tempo essa concepção significa que no
campo da educação escolar a transformação é inerente ao trabalho educativo.
No que se refere a formação docente e ao desenvolvimento dos saberes a constituição
de uma critica é fundamental para a superação de uma educação escolar que reproduz as
condições sociais que produzem as desigualdades sociais.
A educação escolar enquanto reprodução tem por objetivo estabelecer a manutenção
das condições estruturais de acumulação e ampliação do capital, ao mesmo tempo busca-se
perpetuar as relações de dominação e de poder a partir de uma classe social hegemônica.
É nessa perspectiva que a necessidade da critica histórica faz-se necessária, a
superação das condições atuais da educação escolar contemporânea estabelece um impasse no
que se refere ao desenvolvimento de processo de autonomia e de democratização da educação
escolar.
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A produção da autonomia e da promoção de uma igualdade das condições
educacionais necessita de uma reflexão critica sobre a própria lógica de constituição do
capital, nesse sentido as relações de dominação promovem as desigualdades no âmbito da
educação escolar.
Faz-se necessário ao refletir numa educação para além do capital estabelece um nexo
entre o processo histórico de legitimação da desigualdade educacional e a critica sobre a
formação docente e a construção dos saberes docentes que legitimam a reprodução social por
meio da educação escolar.
A legitimação por meio da educação escolar dos processos de manutenção das
relações de poder e de dominação formam o contexto no qual a reprodução ganha destaque na
elaboração de um processo de manutenção de saberes docentes que se desconstituem
enquanto capacidade critica e reflexiva.
A contribuição de Mészáros nesse sentido, deve-se ao fato de que o referido autor
busca de forma radical refletir a lógica do capital a partir do que ele chama de metabolismo do
capital. A educação escolar nesse sentido contribui de forma determinante para a manutenção
e reprodução desse metabolismo.
Uma educação para além do capital envolve a necessidade de transformação social, de
uma superação das relações de poder e de dominação que compõem a sociedade capitalista, e
nesse contexto a própria educação escolar tem uma função determinante para a reprodução de
uma sociedade cuja existência está fundada na expansão de um capitalismo cada vez mais
metabólico, ou seja, ele interage sob várias formas e perspectivas.
Deve-se resgatar e retomar o carater criativo e emancipatório do trabalho educativo,
nesse sentido há que se considerar conforme Mészáros (2005) a possibilidade de uma
educacao que promova uma ruptura com a lógica do capital. Propoe-se uma educacao escolar
que coloque e privilegie o ser humano como referencia em detrimento de uma educacao
centrada no mercado. Nesse sentido promove-se uma reproducao da base de valores e saberes
que perpetuam uma concepcao de trabalho e sociedade mercantil.
Uma educacao para alem do capital supoe ainda uma transformacao radical na
sociedade na qual há uma hegemonia de classe, nesse sentido a educacao escolar tem como
principio conscientizar e não apenas transferir conhecimentos.
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REFERENCIAS
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