Título: O prazer é o princípio e fim último da felicidade Autor: Epicuro Ano: - Páginas: 03 Obs: - De Epicuro a Meneceu: Saudações Quem é jovem não espere para fazer filosofia; quem é velho não se canse disso. Com efeito, ninguém é imaturo ou superado em relação à saúde da alma. Quem diz que ainda não é hora de fazer filosofia, ou que a hora já passou, parece-se com quem diz, em relação à felici-dade, que ainda não é o momento dela, ou que ele já passou. Por isso, tanto o jovem como o velho devem fazer filosofia; um para que, embora envelhecendo, permaneça sempre jovem de bens por causa do passado, o outro para que se sinta jovem e velho ao mesmo tempo, para que não tema o futuro. É preciso, portanto, meditar sobre tudo o que leva à felicidade, porque, na verdade, tendo-a, temos tudo, se não a temos, tudo fazemos para possuí-la. As coisas que sempre acon-selhei a ti coloque-as em prática, e medite sobre elas. Considere-as como os princípios neces-sários para uma vida feliz. Os deuses existem de fato e o conhecimento que deles se tem é evidente. Eles, porém, não são como a maioria os crê, pois não continuam coerentemente a considerá-los como os concebem. Ímpio não é quem nega os deuses como a maioria os quer, e sim aquele que atribui aos deuses as opiniões que deles tem a maioria. Com efeito, as opiniões da maioria sobre os deuses não são prolepses, mas opiniões enganozas. Os deuses, com efeito, entregues con-tinuamente às suas virtudes, são queridos por todos os seus semelhantes, mas rejeitam como estranho tudo o que não é semelhante a eles. Habitue-se a considerar que para nós a morte é nada. Assim, todo bem e todo mal resi-de na sensação, e a morte é a privação desta. Por isso, a noção correta de que a morte é nada para nós, torna alegre o fato de que a vida seja concluída com a morte, não lhe concedendo um tempo infinito, e sim lhe subtraindo o desejo da imortalidade. Não há nada de terrível na vida para quem tenha compreendido bem que não há nada de terrível no fato de não viver mais. Por isso, é tolo quem diz temer a morte, não porque trará dor ao momento em que ela se apresentar a nós, mas porque nos faz sofrer na sua espera; com efeito, tolamente pode causar sofrimento na espera, ao mesmo tempo em que não faz sofrer com sua presença. Portanto, o mal que nos faz ter arrepios, ou seja, a morte, é nada para nós, a partir do momento que, quando vivemos, a morte não existe. E quando, ao contrário, existe a morte, nós não existimos mais. A morte, portanto, não se refere a nós, nem quando estamos vivos, nem quando estamos mortos, porque para os vivos ela não existe, e os mortos, ao contrário, não existem mais. Os outros, por sua vez, fogem por vezes da morte como do pior dos males, outras vezes a procuram como alívio das desgraças da vida. O sábio, ao invés, nem rejeita a vida, nem teme o não viver mais; com efeito, a vida não lhe é molesta, e ele também não crê que a morte seja um mal. Assim como para o alimento, ele não se serve dele em abundância, mas escolhe o melhor; também não procura gozar o tempo mais longo, mas o melhor. 1 Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br Título: O prazer é o princípio e fim último da felicidade Autor: Epicuro Ano: - Páginas: 03 Obs: - É por isso que nós dizemos que o prazer é o princípio e fim último da vida feliz. Nós sabemos que ele é o nosso bem primeiro e congênito; dele partimos em qualquer ação de es-colha e de rejeição, e a ele nos reportamos ao julgarmos todo bem como base nas afeições assumidas como norma. E como este é o bem primeiro e congênito, nem todos os prazeres são por nós escolhi-dos. Pode até mesmo acontecer que muitos desejos sejam abandonados, quando seguidos de enfados maiores que o prazer. E consideramos muitas dores preferíveis aos prazeres quando um prazer maior advém por termos suportado a dor por longo tempo. Portanto, todos os prazeres que, pela sua natureza, nos são inerentes são um bem. Porém, nem todos os prazeres devem ser aceitos; assim como todas as dores são um mal, mas nem todas o são a ponto de serem evitadas. Com base no cálculo, e considerando a utilidade e o dano, é preciso julgar todas estas coisas. Às vezes sentimos que o bem é para nós um mal, e vice-versa. Consideramos um grande bem a independência em relação aos desejos, não com o es-copo de gozar apenas um pouco, mas porque se não temos o muito, nos possa bastar o pouco, corretamente convictos de que melhor goza da abundância quem menos sente a sua necessi-dade. Que tudo o que é requerido por natureza é facilmente obtenível, e tudo o que, ao contrá-rio, é vão, dificilmente se adquires. Os alimentos frugais produzem um prazer idêntico ao de uma farta mesa, quando eliminarmos a dor da necessidade, e que pão e água oferecem o má-ximo dos prazeres para quem os necessita. Acostumar-se aos alimentos simples é um bem para a saúde, torna o homem esclarecido sobre as exigências da vida, e os livra da influência dos maus desejos. Portanto, quando dizemos que o prazer é o bem completo e perfeito, não nos referimos aos prazeres dos dissolutos ou dos crápulas, como acreditam alguns que não conhecem, ou não partilham, ou mal interpretam a nossa doutrina. É simplesmente não ter dor no corpo ou inquietação na alma. Posto que não fazem uma vida feliz nem os banquetes e as festas contí-nuas, nem desfrutar de jovens ou mulheres, nem tudo o que nos oferece uma mesa farta. É sim o cálculo judicioso que devemos ter ao procurar as causas de cada ato de escolha ou recu-sa. Aquela que nos afasta das falsas opiniões das quais nascem as maiores inquietações de espírito. De todas essas coisas, o principio e o bem supremo é a prudência; por esse motivo, tão apreciável quanto à filosofia é a prudência. Desta se origina todas as outras virtudes, que ensi-na que não pode existir vida feliz sem que ela seja também sábia, bela e justa, e tampouco que ela seja também sábia, bela e justa sem ser feliz. De fato, as virtudes são inerentes à vida feliz, e esta é inseparável das virtudes. (EPICURO, 1997 [253 a.C.], p. 19-28) 2 Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br Título: O prazer é o princípio e fim último da felicidade Autor: Epicuro Ano: - Páginas: 03 Obs: - Necessidades Epicuro distingue três tipos de necessidades relativas ao desejo e a vida feliz: 1ª Necessidades naturais e essências: São necessidades essências ao humano, e que sempre devem ser saciadas. Exemplos disso são a fome, a sede, e o sono. São necessidades biológicas do corpo, e caso não sejam satisfeitas levam a morte. 2ª Necessidades naturais e não essenciais: São necessidades naturais que independente de sua realização não traz risco a vida. Estas necessidades devem ser buscadas com moderação, ou nunca em determinados casos. Como exemplo temos comer bem e comer muito, beber uma boa bebida e se embriagar, ou ainda exceder-se nas práticas sexuais. 3ª Necessidades não naturais: Por não serem naturais, estas necessidades não são essenciais. Possuem uma natureza artificial, e conseqüentemente causam danos ao homem. Por isso, para Epicuro elas nunca devem ser buscadas. Entre elas encontram-se o desejo de glória, sucesso, riqueza, preocupação com a beleza, etc. Bibliografia: EPICURO, Carta sobre a felicidade (a Meneceu). São Paulo: Ed. UNESP, 1997 NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. São Paulo: Editora Globo, 2005. 3 Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br