PSICOPEDAGOGIA NO ENSINO SUPERIOR: Contribuições para o

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FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
PSICOPEDAGOGIA NO ENSINO SUPERIOR:
Contribuições para o Desenvolvimento de
Aprendizagens Significativas
Suelem Almeida Pinto
Orientadora: Profª. Marileuza Fernandes
João Pessoa, Junho de 2012
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PSICOPEDAGOGIA NO ENSINO SUPERIOR:
Contribuições para o Desenvolvimento de
Aprendizagens Significativas
Suelem Almeida Pinto*
RESUMO
Este artigo tem o objetivo de analisar as possibilidades de atuação do
Psicopedagogo no Ensino Superior, com o intuito de contribuir para o
desenvolvimento de aprendizagens significativas e consequentemente com o
sucesso acadêmico e profissional dos discentes. Para desenvolvê-lo, adotamos
como metodologia a pesquisa bibliográfica, partindo da apresentação de algumas
peculiaridades da Educação Superior no Brasil, passando pela identificação de
condições para o desenvolvimento de aprendizagens significativas e finalizando com
possíveis contribuições da Psicopedagogia neste nível de ensino. A pesquisa
evidencia que o atendimento Psicopedagógico bem conduzido permite identificar,
avaliar e mediar os problemas que possam ocorrer no processo ensino
aprendizagem; criar estratégias para o exercício da autonomia; propor sugestões
para adequações em termos de acessibilidade e currículo visando à inclusão de
Pessoas com Necessidades Especiais que frequentam a Instituição; minimizando o
insucesso e a evasão acadêmica, dentre outras contribuições que justificam a
importância da atuação deste profissional na Educação Superior.
PALAVRAS-CHAVE:
Ensino Superior, Aprendizagens significativas, Psicopedagogia.
* Mestre em Gestão de Marketing pelo IPAM – Lisboa/PT. Pós-graduanda em Psicopedagogia pela
FIP – Paraíba/BR. Graduada em Administração pela FESP – Paraíba/BR. Professora Universitária e
Consultora. E-mail: [email protected].
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente vivemos num cenário indiscutivelmente diferente, onde o conhecimento
está apoiado no acesso instantâneo às informações, que podem ser acessadas em
qualquer lugar, a qualquer hora. Com a nova configuração da sociedade, o acúmulo
de saberes e conhecimentos adquiridos ao longo dos anos acadêmicos não é mais
suficiente para a interação com este novo paradigma. Fazem-se necessários o
desenvolvimento de competências e habilidades que mobilizem e articulem os
conhecimentos construídos em sala de aula com a realidade do mercado de trabalho
e do cotidiano em geral. De outra forma, não será possível enfrentar as incertezas
que cercam o futuro, neste mundo tão competitivo e sem fronteiras.
Neste cenário, constamos a importância de conceber uma educação profissional de
excelência. No entanto, o Ensino Superior brasileiro, especialmente o Ensino
Superior Privado apresenta inúmeras deficiências. A massificação e mercantilização
da Educação Superior demonstra fomentar vários aspectos negativos, incluindo a
prevalência do ensino tradicional nas suas estruturas, o que incita o insucesso na
formação e a falta de autonomia dos discentes, percebida como fator crítico no
mercado de trabalho.
Diante desta perspectiva, este artigo tem o objetivo de analisar a atuação do
Psicopedagogo na Educação Superior a fim de verificarmos as possibilidades de seu
trabalho neste nível de ensino, com vistas a contribuir para o desenvolvimento de
aprendizagens significativas e consequentemente com o sucesso acadêmico e
profissional
dos
alunos,
minimizando
alguns
entraves
relacionados
ao
desenvolvimento cognitivo que eles porventura possam apresentar.
Para tanto, adotamos como metodologia a pesquisa bibliográfica, desenvolvendo
uma abordagem qualitativa que permitiu analisar informações publicadas sobre o
tema até o momento da redação final deste artigo. Partimos da investigação sobre
algumas peculiaridades da Educação Superior no Brasil, passando pela identificação
de condições para o desenvolvimento de aprendizagens significativas e finalizando
com possíveis contribuições da Psicopedagogia no Ensino Superior.
O interesse pelo tema surgiu de uma demanda identificada no próprio ambiente de
trabalho. Aliando a vivência na docência do Ensino Superior com os conhecimentos
adquiridos no Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia, pretendemos justificar
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a necessidade de inserção deste profissional na Educação Superior com a finalidade
de responder às necessidades de apoio ao processo de ensino aprendizagem neste
nível educacional.
2. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
O Ensino Superior enfrenta nos dias de hoje transformações e influências do mundo
capitalista, do fenômeno chamado “Globalização”, e dos novos direcionamentos que
as políticas públicas de educação vêm tomando. Grande parte dos alunos recebidos
na Educação Superior, especialmente na Educação Superior Privada, apresenta
inúmeras dificuldades, seja por questões relativas aos conhecimentos construídos
na Educação Básica, seja por situação econômica ou por outros motivos que
possam ter relação com o cognitivo, o social e até mesmo com o emocional e
afetivo.
A Educação Superior também lida muitas vezes com professores extremamente
qualificados em titulação e formação em suas áreas de conhecimento, mas que não
apresentam formação pedagógica adequada para lidar com um corpo discente
diversificado e cada vez mais carente de apoio, quando se apresentam limitados em
sua autonomia de aprendizagem.
Além disso, o cenário capitalista atual traz problemas como os baixos salários dos
docentes que se traduzem, muitas vezes, na redução do comprometimento com o
processo ensino aprendizagem; alunos trabalhadores, que chegam exaustos a noite
na
sala
de
aula;
programas
pedagógicos
desadaptados,
desorganização
administrativa, apoio bibliográfico deficitário, entre outros. (QUINTANA, 2004).
A conscientização dos problemas de aprendizagem por parte dos professores
depende do tipo de Instituição onde esteja trabalhando. Cada universidade imprime
seu perfil. De acordo com Quintana (2004, p.3):
Temos os centros universitários, onde a pesquisa científica e o
desenvolvimento são essenciais. Aqui os professores estão
preocupados e comprometidos com os processos de ensino, e
possuem suporte e assessoria dentro da própria instituição, para
lidar com os problemas de aprendizagem. Por outro lado temos as
faculdades,
descompromissadas
com
a
pesquisa
e
o
desenvolvimento, visando lucro e quantidade de alunos. Aqui o
professor não está preocupado com a aprendizagem dos seus
alunos. Temos o império da transmissão indiscriminada de
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informações. Não existe a construção de conhecimentos e do saber
científico. Existe apenas, a repetição dos conteúdos expostos.
Todavia, não podemos deixar de referir que isto não é regra, pois já existem
faculdades comprometidas com a pesquisa e o desenvolvimento. No entanto, temos
de nos precaver quanto aos riscos de um possível crescimento desordenado de
Instituições de Ensino Superior Privadas.
Nos anos 90, as políticas públicas, especialmente as políticas educacionais, foram
redefinidas, resultando na aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. A Lei nº 9.394 de 1996 apresenta em seu Capítulo IV um conjunto de
princípios que regem a Educação Superior no Brasil, direcionado, de um lado, pelos
processos de descentralização e flexibilização e, de outro, por novas formas de
controle e padronização por meio de processos avaliativos.
Em 2004, com a publicação da Lei nº 10.861 que institui o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior - SINAES - diversos instrumentos e parâmetros
foram normatizados a fim de promover a melhoria da qualidade da Educação
Superior no Brasil, a orientação de expansão da sua oferta, o aumento permanente
de sua eficácia institucional, de sua efetividade acadêmica e social e, especialmente
do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais. O SINAES
reúne informações do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), das
Avaliações Institucionais (AVALIES) e dos Cursos de Graduação (ACG). As
informações obtidas são utilizadas para orientação institucional de estabelecimentos
de Ensino Superior e para embasar políticas públicas. Os dados também são úteis
para a sociedade, especialmente aos estudantes, como referência quanto às
condições de cursos e instituições. (SINAES, 2004).
Neste contexto, as atividades de uma Instituição de Ensino Superior brasileira terão
qualidade, desde que tornem realidade as finalidades propostas no artigo 43 da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 para a Educação Superior,
entre as quais, estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico
e do pensamento reflexivo. (CASTRO, 2011).
A vivência no setor privado nos mostra que ainda há muito a ser feito para que
grande
parte
das
Instituições
brasileiras
tornem
reais
estas
finalidades.
Especificamente, as Instituições também enfrentam outro desafio: a nova lei de
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Inclusão obriga-as a acolher todos os indivíduos, inclusive aqueles que apresentam
“dificuldades de aprendizagem”, sem diferenças. No entanto, o preconceito ainda é
grande. Quintana (2004, p.3) afirma que:
Nem os alunos, nem os professores estão preparados para isto.
Estamos acostumados a classificar, a separar, a marginalizar.
Carregamos o peso do pensamento neoliberalista. O governo edita
as leis. Muito bonito, na teoria. Mas na prática isto é difícil.
A Educação Superior clama por ajuda e por este motivo, pretendemos explorar as
possíveis contribuições da Psicopedagogia neste ambiente, a fim de justificar a
importância do trabalho do Psicopedagogo na otimização do processo ensino
aprendizagem.
3. BUSCANDO CONDIÇÕES PARA APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS
A pergunta “como aprendemos” continua questionando desde muito tempo, os
paradigmas educativos tradicionais e promovendo uma série de mudanças nos
processos e práticas educativas, em todo o mundo.
O aluno aprende, não simplesmente por ser exposto a toda forma de conhecimento,
mas quando este entende que os fatos apreendidos são considerados relevantes
para o seu crescimento como pessoa, ou seja, somente quando os seus
pensamentos, sentimentos e comportamentos se modificam profundamente em
consequência do que aprendeu, Rogers denominou este processo como
aprendizagem significativa. (ROGERS, 1988).
A aprendizagem significativa é mais do que uma acumulação de fatos. É uma
aprendizagem que provoca uma mudança, quer seja no comportamento do sujeito,
na direção futura que propôs ou nas suas ações e personalidade. É uma
aprendizagem intensa, que não se restringe a um acréscimo de informações, mas
que se adentra intensamente em todos os elementos da sua vivência. (ROGERS,
1988).
Existem vários tipos de aprendizagem, mas deve-se procurar incentivar a
aprendizagem significativa sendo esta, por definição, uma aprendizagem integral e
relacionada com o contexto social do aprendiz. A partir deste ponto de vista, o
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aprender envolve a produção de mudanças nos conceitos prévios e tal
aprendizagem serve para continuar aprendendo. (AUSUBEL, 1978).
A construção das aprendizagens significativas implica a conexão ou vinculação do
que o aluno sabe com os conhecimentos novos, quer dizer, o antigo com o novo. A
clássica repetição para aprender deve ser deixada de fora na medida do possível.
Nesse sentido, sugere-se que os alunos realizem aprendizagens significativas por si
próprios, o que é o mesmo que aprendam o aprender. Assim, garantem-se a
compreensão e a facilitação de novas aprendizagens. De acordo com Ausubel
(1978), para haver aprendizagem significativa são necessárias duas condições:
a) o educando precisa ter uma disposição para aprender: se o educando quiser
memorizar a atividade arbitrariamente e literalmente, então a aprendizagem será
mecânica;
b) o conteúdo a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo, ou seja, ele
tem que ser lógica e psicologicamente significativo: o significado lógico depende
somente da natureza do conteúdo, e o significado psicológico é uma experiência que
cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos que têm
significado ou não para si próprio.
Segundo a teoria de Ausubel, a aprendizagem significativa apresenta três vantagens
essenciais: Em primeiro lugar, o conhecimento que se adquire de maneira
significativa é retido e lembrado por mais tempo. Em segundo, aumenta a
capacidade de aprender outros conteúdos de uma maneira mais fácil, mesmo se a
informação original for esquecida. E, em terceiro, uma vez esquecida, facilita a
aprendizagem seguinte – a “reaprendizagem”. (AUSUBEL, 1978). Estas vantagens
demonstram ser valiosas para a Educação Superior, tendo em vista a necessidade
de desenvolver a autonomia dos discentes neste nível de ensino. Maluf (2008, p.2)
afirma que:
Aprendizagem significativa na Instituição de Ensino Superior
pressupõe troca de informações, disponibilidade para resolver
problemas e aprender assuntos novos, articulação entre o que se
sabe e o que se está aprendendo. E pressupõe que os
conhecimentos vão ganhando sentido quando são experimentados
em contextos reais, na interação com as práticas sociais.
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Esta afirmação justifica plenamente a importância de buscar condições para
desenvolver aprendizagens significativas. Nesta linha de pensamento Rubinstein
(1999, p.37) entende que:
Para poder compreender o mundo que nos cerca, devemos ser
capazes de comparar e relacionar eventos, transcender o presente,
reportar-nos ao futuro e ao passado, levantar hipóteses, enfim,
acionar toda uma gama de operações mentais e cognitivas.
O que é sugerido é a participação ativa do aluno na aquisição de conhecimentos, de
maneira que eles não sejam uma repetição ou cópia dos conteúdos formulados pelo
professor ou pelo livro, mas uma reelaboração pessoal. Esta perspectiva demonstra
ser adequada, haja vista vivermos num mundo repleto de incertezas e mudanças
repentinas, onde a necessidade de buscar novas soluções e continuar aprendendo
constantemente é incontestável.
Diante do exposto, convém referir que não podemos separar os processos de
aprendizagem dos processos de ensino. Os dois são interdependentes na medida
em que a forma que planejamos o ensino é decisiva para que o aluno possa
construir aprendizagens significativas. Na perspectiva do conceito construtivista, o
ensino não consiste em transmitir conhecimentos acabados aos alunos; o que é
necessário é oferecer ajuda para que cada aluno consiga construir as aprendizagens
básicas estabelecidas no currículo escolar. (Piaget apud Carrara, 2004).
Neste sentido, a função docente é desenhar e organizar experiências educativas
utilizando o princípio da centralidade do estudante como sujeito ativo da
aprendizagem. O educador atua como mediador entre o aluno e os conteúdos que
este precisa aprender, ajustando o apoio pedagógico e respeitando os ritmos de
aprendizagem de cada um.
O ensino não é um conjunto de receitas que se pode aplicar a todos os alunos e
situações uniformemente; pelo contrário, é uma atividade dinâmica dentro do qual
intervêm múltiplos fatores que impedem prever de antemão o que vai acontecer nas
aulas. Este fato obriga o professor a refletir e revisar constantemente a sua prática
pedagógica, a fim de identificar os fatores estratégicos a serem utilizados para
promover a aprendizagem significativa de todos os alunos. (CARRARA, 2004).
Segundo Maluf (2008, p.3):
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Quando a Instituição for capaz de ter em conta o capital cognitivo e
sócio-cultural de cada educando como vertente fundamental da
gestão e desenvolvimento curricular, quando for capaz de esbater os
conhecimentos
meramente
acadêmicos
e
estereotipados,
privilegiando saberes da vida e preparadores para a mesma, então
certamente estará a fundamentar conhecimentos significativos, a
potencializar transferências que tornarão as aprendizagens cada vez
mais significativas; estará, numa palavra, a minimizar o insucesso.
Estará, em outra palavra, maximizando o sucesso.
Conhecimentos e informações obsoletas cuja única finalidade é uma memorização
sem significado devem deixar de fazer parte da proposta de trabalho do educador e
serem amplamente substituídas por conhecimentos verdadeiramente significativos
para a vida do aluno, para sua formação integral, holística. (MALUF, 2008).
Portanto, visando uma educação profissional de excelência, o Ensino Superior deve
buscar condições que favoreçam a aprendizagem significativa dos discentes. Neste
sentido, a literatura aponta para possíveis contribuições da Psicopedagogia, uma
vez que o trabalho psicopedagógico, permite promover espaços de escuta e reflexão
sobre o processo ensino aprendizagem, minimizando inclusive, alguns entraves
relacionados ao desenvolvimento cognitivo que os discentes porventura apresentem.
A seguir, abordaremos algumas contribuições da Psicopedagogia que corroboram
esta visão.
4. PSICOPEDAGOGIA: CONTRIBUIÇÕES NO ENSINO SUPERIOR
A busca por uma educação de excelência no Ensino Superior pressupõe, além de
investimentos na infraestrutura, biblioteca e laboratórios, investimentos na formação
docente e ações direcionadas ao desenvolvimento do processo de aprendizagem
dos alunos, campo de ação do psicopedagogo. (CASTRO, 2011).
Durante muito tempo pensou-se que a problemática do insucesso escolar fosse uma
questão exclusiva da Educação Básica, como a Psicopedagogia vinha estudando.
No entanto, a literatura aponta para uma necessidade de mudança de pontos de
vista, ao relatar a presença das dificuldades de aprendizagem em todos os níveis
educacionais. De acordo com Almeida e Silva (2005, p.46):
A literatura indica a ação psicopedagógica voltada primordialmente
para a etapa da infância, o que é desejável considerando-se uma
abordagem preventiva. Porém, pouco se tem avançado na criação
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de propostas alternativas de intervenção para adolescentes e adultos
jovens, pessoas que, de alguma forma, conseguiram prosseguir em
sua carreira acadêmica, apesar dos obstáculos encontrados no
percurso, mas que em determinado momento sentem-se incapazes
de continuar sem auxílio.
Segundo Castro (2011) há a ideia de que o educando chega à Educação
Superior com autonomia que o torna capaz de enfrentar os desafios surgidos
na academia. Todavia, essa concepção, não pode ser a norteadora de uma
visão Psicopedagógica no âmbito acadêmico, visto que nesse nível de ensino,
os discentes também apresentam demandas específicas relacionadas aos
vínculos com a aprendizagem, com os docentes e com os colegas de classe.
De acordo com Quintana (2004, p.4) “as universidades teriam que ter obrigação de
ter um Psicopedagogo. Mas a grande maioria delas, desconhece a Psicopedagogia.”
Castro (2011, p.8) esclarece:
A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e de atuação
voltado para a compreensão do processo de aprendizagem humana.
Procura identificar os problemas que possam ocorrer neste processo,
a fim de auxiliar o sujeito em sua superação. Considera que todo ser
humano, para aprender, põe em jogo três estruturas, a saber: o
organismo, o corpo, a estrutura cognitiva e a estrutura dramática ou
desejante. É preciso que as instituições educacionais, nos diversos
níveis de ensino, possuam um profissional com competência para
atuar junto aos professores e aos alunos mediando os problemas
que possam vir a ocorrer na situação de ensino/aprendizagem.
Contudo, apesar de demonstrarem estar preocupadas com o processo ensino
aprendizagem e o desenvolvimento dos seus alunos, a grande maioria das
Instituições de Ensino Superior ainda não apostou num projeto desta natureza.
Infelizmente, muitas instituições ainda desconhecem as reais funções de um
Psicopedagogo Institucional. A fim de esclarecê-las, Quintana (2004, p.4) refere que:
Um psicopedagogo institucional (não docente) teria como funções:
atuar com os professores, grupos, equipes, diretores, administrando
ansiedades e conflitos relacionados com a atividade ensino
aprendizagem; identificando sintomas e dificuldades; organizando
projetos de prevenção e desenvolvimento; clareando tarefas e
papéis; criando estratégias para o exercício da autonomia; fazendo a
mediação entre grupos, subgrupos; transformando queixas em
pensamento transformador e reconstrutivo; criando espaços de
escuta; fazendo encaminhamentos de estruturação significativa,
sempre tendo como meta principal o processo ensino aprendizagem.
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O Psicopedagogo é capaz de procurar identificar e avaliar os obstáculos na
construção do conhecimento do estudante no ensino superior, utilizando meios para
que
os
mesmos
criem
e
utilizem
estratégias
de
aprendizagem
visando
aprendizagem significativa e um melhor desempenho acadêmico e nas diferentes
situações do cotidiano. (MALUF, 2008). Tal como vimos, o desenvolvimento de
aprendizagens significativas deve ser estimulado por diversos motivos, dentre eles
por fomentar o desenvolvimento da autonomia, a troca de experiências, o espírito
reflexivo e a disponibilidade para resolver problemas e aprender novos assuntos;
aspectos tão valorizados pelo atual mercado de trabalho.
Rosane de Fátima Ferrari, responsável pelo NEAP - Núcleo de Atendimento
Psicopedagógico e pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico a Acadêmicos da
URI - Campus de Frederico Westphalen – RS, em seu artigo Investigação
Psicopedagógica das Dificuldades de Aprendizagem no Ensino Superior, apresenta
alguns elementos que podem interferir positiva ou negativamente na aprendizagem
dos discentes do Ensino Superior. Dentre tais elementos a autora coloca (1) a
motivação que o acadêmico tem para estudar, (2) a estrutura de personalidade do
acadêmico, (3) a adaptabilidade ao mundo universitário, (4) a ação de relacionar
teoria e prática, (5) a relação professor-aluno, (6) as condições socioeconômicas do
acadêmico e (7) a opção pelo curso. Elementos esses que, segundo a autora,
devem fazer parte do arcabouço conceitual e pragmático das atividades
psicopedagógicas das Instituições de Ensino Superior, no intuito de maximizar a
captação e construção do conhecimento e da aprendizagem, aumentando as
chances de sucesso acadêmico e profissional dos discentes. (FERRARI, 2005).
A partir da lei Nº 10 861, de 2004, que institui o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES), ficou estabelecido, em seu Artigo 3º, a forma de
avaliação das Instituições de Educação Superior, a qual terá por objetivo identificar o
perfil e o significado da atuação de tais instituições, por meio de suas atividades,
cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões
institucionais, dentre elas, obrigatoriamente, as políticas de atendimento aos
estudantes.
Nos instrumentos de avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira - INEP/MEC, já encontramos a pontuação quatro e
12
cinco, na dimensão apoio ao discente, para instituições que oferecem serviço de
apoio Psicopedagógico. Trata-se de mais uma prova do reconhecimento atribuído à
importância da atuação deste profissional.
Acredita-se também que o apoio Psicopedagógico poderá contribuir, por meio das
melhorias do potencial de aprendizagem dos discentes, com o desempenho dos
mesmos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), que tem o
objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos
conteúdos programáticos, suas habilidades e competências.
Entretanto, numa Instituição de Ensino Superior, o Psicopedagogo também está
sujeito a encontrar resistências por parte dos docentes, pois o atendimento
psicopedagógico vai sempre exigir reflexão sobre a ação do docente. Neste sentido,
é fundamental obter apoio por parte dos ensinantes que deverão compreender a
importância de tornar viva a disciplina a ser ensinada, aproveitando a riqueza das
experiências de vida dos acadêmicos a fim de promover um ambiente propício às
aprendizagens significativas. (MALUF, 2008).
Apesar de ser uma iniciativa recente e embrionária, já constatamos a
disponibilização de atendimento de Psicopedagógico em algumas Instituições de
Ensino Superior brasileiras. A Universidade de Cruz Alta do Rio Grande do Sul é um
exemplo disso. Esta instituição dispõe de um Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE)
que tem como objetivos específicos: (1) Identificar que cursos da universidade as
Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs) freqüentam e que adaptações de
acessibilidade e de currículo foram feitas para a inclusão, propondo a estes
sugestões e as adequações necessárias; (2) Promover espaços de discussões,
diálogo e esclarecimentos com os professores e funcionários de toda a universidade
sobre a inclusão das pessoas com necessidades especiais e desenvolver oficinas,
palestras e discussões sobre a inclusão e acessibilidade de todos no espaço
universidade; (3) Acompanhar o processo de ensino aprendizagem dos educandos
com necessidades especiais da universidade através de encontros semanais ou
quinzenais,
com vistas a assegurar o sucesso escolar, oferecendo apoio
pedagógico, psicopedagógico, recursos humanos e materiais para o processo
ensino aprendizagem das mesmas; (4) Realizar atendimento psicopedagógico aos
acadêmicos com dificuldades de aprendizagem; (5) Oportunizar, ao acadêmico, um
espaço de apoio, escuta e reflexão individual e/ou coletiva; (6) Incentivar o
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desenvolvimento da pessoa humana através da utilização de seus próprios recursos
e potencialidades; (7) Promover a integração no processo de ensino-aprendizagem
entre docentes/acadêmicos e acadêmicos/acadêmicos; (8) Organizar grupos de
estudos e acompanhamento de casos específicos de dificuldades de aprendizagem;
(9) Realizar e incentivar a produção de conhecimento a partir da realização de
pesquisa. (http://www.unicruz.edu.br/nae/objetivos.php).
De acordo com o site do NAE, para perseguir esses objetivos, a metodologia das
ações a serem desenvolvidas, envolverá, conforme a natureza da situação a ser
mediada: (1) Sessões individuais de mediação psicopedagógica; (2) Sessões
coletivas de mediação psicopedagógica; (3) Oficinas temáticas, conforme a
demanda dos indivíduos e/ou grupos; (4) Realização de eventos, tais como
seminários, encontros vivenciais, palestras que contribuam para o desenvolvimento
acadêmico, pessoal e profissional. (5) Realização de pesquisa como forma de
levantamento
de
dados
sobre
questões
pertinentes
a
vida
acadêmica.
(http://www.unicruz.edu.br/nae/metodologia.php).
Diante do exposto, a literatura mostra que uma mediação psicopedagógica bem
conduzida,
oportuniza
melhores
condições
para
o
desenvolvimento
de
aprendizagens significativas pelas pessoas com necessidades especiais e/ou com
dificuldades de aprendizagem. Além de oferecer assessoria aos professores dos
alunos em atendimento para melhor acompanhar e avaliar a sua aprendizagem,
visando minimizar a evasão acadêmica e fomentar as possibilidades de sucesso
acadêmico e profissional dos discentes. Indicadores que evidenciam a importância
do trabalho Psicopedagógico, justificando a necessidade de inserção deste
profissional na Educação Superior.
5. CONCLUSÃO
A partir da pesquisa bibliográfica realizada, tendo em vista as necessidades atuais
no âmbito da Educação Superior brasileira se faz necessária uma intervenção
Psicopedagógica que ofereça apoio adequado aos discentes, docentes e demais
colaboradores que atuam neste nível de ensino.
A literatura destaca inúmeras dificuldades encontradas no Ensino Superior, dentre
elas podemos evidenciar os baixos salários dos docentes; alunos trabalhadores que
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chegam exaustos na sala de aula; programas pedagógicos desadaptados; apoio
bibliográfico deficitário; dificuldade de promover a inclusão de Pessoas com
Necessidades Especiais, entre outras.
Diante deste cenário, estudamos as possibilidades de atuação da Psicopedagogia
na Educação Superior com vistas a minimizar o insucesso acadêmico e fomentar o
desenvolvimento de aprendizagens significativas. Concluímos que a Psicopedagogia
poderá contribuir com o sucesso acadêmico e profissional dos discentes, na medida
em que procura identificar, avaliar e mediar os problemas que possam ocorrer no
processo ensino aprendizagem; criar estratégias para o exercício da autonomia;
criar espaços de apoio e reflexão individual e/ou coletiva; transformar queixas em
pensamento transformador e reconstrutivo; incentivar a produção do conhecimento;
propor sugestões para adequações em termos de acessibilidade e currículo visando
inclusão de PNEs que frequentam a instituição; dentre outras contribuições.
Em contrapartida às contribuições que uma medicação psicopedagógica bem
conduzida poderá oferecer, pesquisas relatam que a maioria das Instituições de
Ensino Superior brasileiras não dispõe de um setor de Psicopedagogia para atender
as necessidades dos discentes. Fato que justifica a importância de desenvolver
outros estudos nesta área do conhecimento, ainda considerada embrionária,
especialmente, no âmbito da Educação Superior.
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